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Capítulo 2 Paulo Lobo

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Capítulo 2
Obrigações em geral
- Paulo Lôbo
Direito das obrigações
O direito das obrigações compreende as relações jurídicas de direito privado, de caráter pessoal, nas quais o titular do direito (credor) possa exigir o cumprimento do dever correlato de prestar, respondendo o sujeito do dever (devedor) com seu patrimônio. É direito relativo, a que corresponde o dever relativo. As relações negociais e a responsabilidade pelos danos imputáveis são as principais causas das obrigações.
Arts. 233 a 420
É o direito das obrigações o principal elemento comum das estruturas fundamentais dos direitos nacionais enquadráveis no grande sistema jurídico romano-germânico. O direito das obrigações elaborado no século XIX, calcado no Direito romano e aperfeiçoado, pelos pandectistas, concorreu para o desenvolvimento econômico, mas legitimou abusos, ao favorecer a prepotência das pessoas economicamente fortes.
Os denominados direitos absolutos, por serem oponíveis a todos e não a pessoa determinada, geram obrigações imputáveis a todos de não os violarem, distinguindo-se das obrigações em sentido estrito, relativas a determinadas pessoas. Porém, a violação a direito absoluto faz nascer direito relativo a prestação determinada, caindo sob a incidência do direito das obrigações.
A doutrina tradicionalmente destaca como singularidade do direito das obrigações o fato de cuidar de relações jurídicas temporárias ou transitórias, cuja satisfação leva à extinção. Em contrapartida, as relações jurídicas de direito real seriam permanentes, enquanto o domínio ou direito real limitado permanecer sob o mesmo titular. Do mesmo modo, há relações jurídicas perpétuas, irradiadas dos direitos da personalidade, que existem enquanto existir o titular, cujos efeitos persistem para além da morte.
A justificação do direito das obrigações descansa na possibilidade de um conceito estrutural uniforme das “relações obrigacionais”, mas que não corresponde aos diferentes acontecimentos vitais, especialmente o tráfico jurídico e os danos imputáveis.
As normas jurídicas estabelecidas nos arts. 233 a 420 do Código Civil aplicam-se a todas as relações jurídicas obrigacionais, assim como às negociais às extranegociais, de natureza civil ou empresarial, previstas no referido Código ou na legislação especial.
O direito do consumidor regula as obrigações contratuais e de responsabilidade civil mais comuns de cada cidadão no seu cotidiano, para satisfação de suas necessidades corriqueiras de produtos e serviços.
As normas de proteção do consumidor, de responsabilidade dos fornecedores de produtos e serviços e as que regulavam as condições gerais dos contratos foram incorporadas ao CC da Alemanha, mediante reformas, apontando para um direito civil geral e social para abraçar a proteção dos mais fracos, vulneráveis, dos consumidores.
Mudança: substituição das tradicionais hipóteses de violação contratual para a de violação do dever conjunto de deveres gerias que o sistema jurídico estabelece para cumprimento tanto do devedor quanto do credor.
Pressuposição da inferioridade de um dos contratantes novo direito das obrigações
Conceito e pressupostos das obrigações
Obrigação = relação jurídica entre duas ou mais pessoas, em que uma delas (credor) pode exigir da outra (devedor) uma prestação. Vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.
Direito dever
Objeto: prestação.
	Quando o direito pode ser exercido, tem-se a pretensão do credor, a que corresponde a obrigação do devedor de fazer, de não fazer ou de dar.
Sem pretensão pode haver dever/dívida, mas não obrigação em sentido estrito.
Obrigação (estrito) é apenas o dever ou dívida que podem ser exigidos pelo credor. Pode haver dívidas que ainda não sejam exigíveis, não se convertendo em obrigações, porque não surgiu a pretensão.
Nenhuma coisa entra diretamente no mundo jurídico como objeto de obrigação.
Distinção entre dívida e obrigação
Dívida antecede a obrigação.
	Não há obrigação sem dívida. Nem sempre são simultâneas.
Dívida – pessoal.
	No sentido estrito de obrigação, o credor a ela não é vinculado, mas o devedor. Na relação jurídica, o credor está como sujeito ativo, que pode exigir a prestação, e a fortiori a obrigação.
	O credor tem pretensão contra o devedor – pode exigir a prestação que está na obrigação. Se há inadimplemento, nasce a ação.
Execução forçada
A pretensão resistida pelo devedor só pode ser exercida com a tutela jurídica estatal ou jurisdicional, mediante ação, com o fito de obter-se a execução forçada.
O credor expõe seu direito, indica a pretensão e a ação e pede que o Estado promova a execução forçada da obrigação, segundo a legislação processual aplicável.
A ação é mais que a pretensão, pois o credor age postulando a condenação do devedor para executar a prestação prometida, ou para indenizar perdas e danos, além da extinção da obrigação.
Qual a relação da obrigação com a pretensão?
Execução forçada – tem o fito de coagir o devedor a cumprir a prestação. Apenas é possível quando o crédito possa ser satisfeito em seu conteúdo congênito ou integral. Não se exerce nos créditos transformados pelo inadimplemento da obrigação em direito e pretensão à reparação dos prejuízos verificados. Ocorrem situações em que a execução é inviável. A lei pode prever hipóteses de execuções específicas, que se aproximam daquilo que o devedor deveria fazer e não fez.
CPC – se o devedor não cumprir a obrigação assumida de concluir um contrato, o credor pode obter uma sentença que produza o mesmo resultado do contrato que deveria ter sido firmado, ou todos os efeitos da declaração não emitida.
Asteintes – multas cominatórias impostas pelo juiz para coagir o devedor a cumprir as obrigações assumidas, na forma da legislação processual.
Não se pode dizer que a pessoa do devedor é objeto da obrigação, pois a prisão até pagar é forma de constrição, não de execução.
Dívida e responsabilidade
Dívida da responsabilidade – devedor, pela obrigação, pode responder com seu patrimônio ou parte dele. É a teoria dualista da obrigação.
Responsabilidade patrimonial ≈ garantia
	O débito ou dever é correlativo do direito do credor. 
	Crédito e débito
	Responsabilidade
	Pessoal
	Patrimonial
	O patrimônio do devedor responde pela dívida. A responsabilidade patrimonial alcança, em princípio, todo o patrimônio, salvo os bens impenhoráveis e os que correspondem ao chamado patrimônio mínimo necessário à existência da pessoa. A responsabilidade pode ser limitada.
Não há vínculo do credor com o patrimônio do devedor – vínculo só há entre pessoas.
	Quando se fala de responsabilidade do patrimônio, significa que o Estado pode retirar dele o quanto baste para a satisfação da dívida.
	A equivalência entre débito e responsabilidade não é automática, pois o patrimônio disponível ou penhorável pode não ser suficiente para responder ao montante da dívida, reduzindo-se proporcionalmente a garantia esperada pelo credor.
	A responsabilidade não surge apenas quando se manifesta adimplemento insatisfatório ou recusa de adimplir. Obrigação pode exigir o adimplemento (débito) ou perdas e danos (responsabilidade).
	Por outro lado, em determinadas obrigações, a responsabilidade patrimonial desloca-se da pessoa do devedor, transfere-se para o patrimônio de outra pessoa responsabilidade transobjetiva (sem dívida)
	Mediante convenção das partes, pode ocorrer que a responsabilidade patrimonial, na execução forçada, seja de terceiro. O patrimônio de terceiro responde no lugar do patrimônio do devedor. (sem dívida)
Dualismo débito-responsabilidade: não pode ser encarado de modo absoluto. Responsabilidade consequência do débito:
Um só débito pode corresponder a uma pluralidade de responsabilidades, e a sujeição do responsável limita-se a parte de seu patrimônio;
Há débito sem responsabilidade, na obrigação natural;
Há responsabilidade sem débito próprio nas garantias reais, como penhor e hipoteca, oferecidas por terceiro;
Nafiança o fiador é responsável, sem débito atual, nascendo a responsabilidade antes do débito;
Na obrigação imperfeita, garantida por terceiro, há débito sem responsabilidade própria.
A responsabilidade patrimonial não é imprescindível para caracterizar-se a obrigação.
	As obrigações naturais são juridicamente existentes, porque há crédito e débito, mas são destituídas de pretensão, ou seja, inexigíveis. Mas, se a prestação for adimplida, o crédito será satisfeito. A inexigibilidade da obrigação torna inexigível a responsabilidade patrimonial.
O papel da causa nas obrigações
Em princípio, todas as obrigações têm uma causa, entendida como fim ou função econômico-social. Há obrigações, no entanto, em que a causa é abstraída.
Causa = porquê da obrigação, aquilo que a explica; pode ser entendida em dois significados distintos, o primeiro como causa eficiente, isto é, fato gerador da obrigação; o segundo como causa final; isto é, fim perseguido pelos que se vinculam. Função que o ato jurídico tende a realizar. É de ser vista no ato; é elemento que garante a individualidade.
Negócio jurídico pode já nascer abstrato.
	A inexistência de causa pressuposta acarreta nulidade por falta de causa e, quando a hipótese for de causa final, ineficácia superveniente.
Obrigações de meio e obrigações de resultado
Obrigações de meio: algumas obrigações teriam como causa final a atividade em si, independentemente do resultado obtido, concentrando-se na prestação de agir com diligência, boa-fé, e de acordo com o que determinem a técnica e a ciência que devam ser empregadas. Exceções. Três casos:
Contratos de vigilância, que não podem garantir a ausência de roubos;
Obrigações relativas a um serviço a efetuar ou fornecer;
Contratos que tendem a um fim de realização incerta, dependente de certa álea ou da atuação pessoal do devedor.
Obrigações de resultado: outras obrigações teriam como causa final o resultado esperado, para o que a atividade empregada seria simples meio necessário para alcança-lo. Constituem a regra. De dar e restituir, reparar, enviar, transportar, segurança, não fazer, fazer.
	É da natureza de qualquer obrigação negocial a finalidade, o fim a que se destina, que nada mais é que o resultado pretendido. O resultado é o interesse do credor.
	Toda obrigação tem por objeto um resultado. A despreocupação com o resultado, nas obrigações de meio, reformula totalmente o fator de distribuição da responsabilidade somente a deveres de prudência e diligência.

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