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ESCOLA FRANCESA A Escola Francesa surgiu em 1960, no Centro de Estudos de Comunicação de Massas (CECMAS) dentro da Escola Prática de Alto Estudos, em que os teóricos Georges Friedmann, Edgard Morin e Roland Barthes participaram e criaram a revista Communications. Por esse grupo reflexivo passaram também Julia Kristeva e Christian Metz. A Escola Francesa deu-se quando intelectuais, sociólogos, filósofos e teóricos de diversas áreas passaram a partilhar alguns pontos de vista sobre a comunicação e a sociedade, participaram de grupos de estudos e de pesquisas e fundaram revistas. Foram muitos grupos diferentes que geraram oposições, divergências, visões de mundo e ideologias opostas, utopias e teorias distintas. Nunca houve uma Escola Francesa de reflexão sobre a comunicação diz o docente Juremir Machado da Silva (PUC-RS) em seu artigo O pensamento contemporâneo francês sobre a comunicação. In: Teorias da Comunicação (2008). A escola francesa parte de dois eixos, diz Silva: 1) A corrente estruturalista (derivada da Escola de Frankfurt); 2) A corrente culturalista. Esses intelectuais franceses estavam preocupados com os temas: a) Cultura de massa; b) Indústria cultural; c) Mídia; d) Comunicação. Os franceses nunca fecharam questões sobre o campo da comunicação propriamente dito, diz Silva. A França, nessa época, estava mergulhada no pós-estruturalismo e na desconstrução, mesmo assim, a comunicação era bastante estudada e disputada por outras disciplinas, tais como: sociologia, antropologia, filosofia, lingüística e ciências políticas. Muitos são os nomes dos teóricos que fazem parte da chamada Escola Francesa, alguns deles são: Pierre Bourdieu Georges Friedmann Edgar Morin Guy Debord Paul Virílio Michel Maffesoli Jean Baudrillard Lucien Sfez Jacques Derrida Dominique Wolton Pierre Levy Regis Debray Claude Levi-Strauss Roland Barthes Michel Foucault Gilles Deleuze Serge Hamili Henri Lefebvre Jean-François Lyotard Na concepção francesa, um teórico intelectual deve: a) Ser especialista; b) Pertencer a um campo; c) Participar das questões de esfera pública. I. Da Semiologia ao pós-moderno Para Silva, a problemática mais específica da Escola Francesa encontra-se na classificação das perspectivas comunicacionais divididas em três eixos, a saber: 1) Comunicação como fenômeno de dominação; 2) Comunicação como fenômeno extremo; 3) Comunicação como vínculo social complexo. No que se refere aos estudos culturais capazes de englobar o fenômeno da comunicação, é Roland Barthes, no campo da semiologia (estudo de todos os sistemas de signos) que “abrindo canteiro de ensaios”, como diz Silva, cria pistas, alça voos e produz contradições. Em seu livro Mitologias, a legitimação dos mitos modernos da mídia, Barthes reconhece a nova fábrica de mitos sem os reduzir a uma mera manipulação da consciência. Edgard Morin em O Espírito do Tempo também elabora estudos sobre a comunicação. Para Mauro Wolf (1995), citado por Silva, esses estudos formam a safra das Teorias Culturológicas. Para Silva, nesses estudos, há mais perspectiva de um novo imaginário cultural do que estudos focados na mídia e na comunicação. Com Morin, por exemplo, os estudos da comunicação enveredaram-se para uma perspectiva "complexa e imaginal: motor e movido de uma sociedade de imagem", conclui o professor. Nos anos 60, os estudos sobre comunicação têm Guy Debord, o inseminador mais radical de todos os tempos e, mais tarde um pouco, Baudrillard como um dos analistas menos artificiais. Debord com sua sociedade do espetáculo inaugura uma perspectiva em que a imagem supera o sujeito. Na mesma época, nomes e obras de valor eram publicados por pesquisadores italianos, são eles: Umberto Eco, Paolo Fabbri, Gianfranco Bettetini e Francesco Casetti. Eco esteve no Brasil e lecionou na USP. As obras que marcaram a Escola Francesa e a Europa são: • A sociedade do Espetáculo de Guy Debord • A antropologia Estrutural de Claude Levi Strauss • O Curso de lingüística Geral de Ferdinand de Saussure • Apocalípticos e Integrados de Umberto Eco; • Système de la mode e Mytologies de Barthes; • Lire Le Capital de Louis Althusser; • As palavras e as coisas e Vigiar e Punir de Foucault. • Posicion contre le technocrates de Henri Lefebvre • O Espírito do Tempo de Morin • Sobre a televisão de Bourdieu Silva salienta sobre a importância das pesquisas de Foucault, Debord e Baudrillard que disseminam signos sobre a comunicação. Debord radiografou a sociedade do espetáculo (visão de mundo, relação entre pessoas) e Baudrillard dissecou a sociedade de consumo, as maiorias silenciosas e as estratégias fatais. A França, hoje, ainda, é dividida em dois grupos: a) Aqueles que acreditam no bom uso futuro da mídia (Bourdieu, Sfez e Virilo); b) Aqueles que consideram a mídia um fenômeno extremo, irredutível à lógica da utilidade social (Baudrillard). 2. Da espiral ao vínculo Para Silva, no tempo de Barthes acreditava-se que se pudesse tirar o homem do torpor ministrado pela mídia; e Baudrillard acreditava que a massa neutralizava os mídia pela indiferença. Baudrillard anunciava a morte do bom uso da TV e esse anúncio, ainda, ressoa na França, diz o professor da PUCRS. Régis Debray em sua obra Mediologie desloca a discussão para o médium.. Sfez persiste numa linha virulenta, denunciando o tautismo do destinatário. Virilio inverte os pilares da crítica tradicional aos mídia: a geração do isolamento, a lógica provoca a aceleração total e comprime o tempo, suprime o espaço e elimina a distância, assim não haveria mais privacidade nem mistério. Eis a novíssima sociedade: desprovida de mistério e obscena. Morin reconhece a força estimuladora de imaginários dos meios de comunicação, mas estabelece sistemas de influência recíproca: a mídia alimenta-se do mundo que é alimentado pela mídia; o imaginário move os homens que inventam os imaginários; o espírito do tempo dinamiza o tempo do espírito. Pierre Lévy tornou-se o porta voz das tecnologias enquanto Dominique Wolton e Sfez atacam o discurso excessivo e a utopia tecnológica. Lévy viu nas redes um-todos por um processo comunicacional todos-todos. Segundo ele, o sujeito, o autor e, até mesmo o emissor, morreram. Nesse sentido, a comunicação sai do estigma da manipulação para entrar na utopia da mediação. Para Virilio, a modalidade pós-moderna é de encarceramento do ser na ilusão coletiva: eis que tudo é "interatividade" (modo tecnológico de participação no imaginário do outro). Maffesoli, mesmo antes da explosão da internet, tratava do estar-junto como efervescência coletiva, uma espécie de tribalismo; esse coletivismo tinha uma função lúdica. Para ele, a imagem funciona como um totem em torno do qual comungam os espectadores. Para Maffesoli, a internet ajuda no encantamento do mundo já começado em outros domínios e que pode ser rotulado de pós-moderno: estilo de vida que une antigo e tecnológico. Para Baudrillard, não apenas o emissor e o receptor morreram, mas também o interlocutor, pois não há troca, toda tentativa de contato é difração. Para Sfez o emissor ainda existe, mas é um emissor-receptor-interlocutor lobotomizado. Para Lévy, o ciberespaço é a utopia (não-lugar) onde a comunicação se libera da identidade e realiza-se por identificação transitória. Para Silva, esses estudos resumem-se em herdeiros de Frankfurt interessados na indústria cultural e na cultura de massa. Já Bourdieu disseca, por um viés um tanto maniqueísta, o imaginário da indústria cultural da consciência, contido nas personagens de Disney. Para ele, há a circularidade da informação, pois a mídia fala dela mesmo, pauta-se em outras mídias; a mídia saiu do acontecimento e virou personalidade. Hoje, mídia é personalidade! A Escola Francesa é uma coletânea de fragmentos, de obras e inserções, recortes e cruzamentos transdisciplinares em que sociólogos, filósofos, antropólogos e psicólogos, por linhas diversas e distintas, criarampostulados e teorias. Os franceses pensaram mais a comunicação como intelectuais do que como cientistas, pesquisadores e especialistas, conclui Silva.
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