Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 273 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS YURI LEITE ELOY MEDICINA – P8 – 2011.1 GERIATRIA REFERÊNCIAS 1. Material baseado nas aulas ministradas pela Professora Januária Medeiros na FAMENE durante o período letivo de 2011.1. 2. PERRACINI, M. R. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 274 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. GERIATRIA INTRODUÇÃO À GERIATRIA (Professora Januria Medeiros de Queiroga) Medicina geritrica ou Geriatria o ramo da medicina que foca o estudo, a preveno e o tratamento de doenas e da incapacidade em idades avanadas. O termo deve ser distinto de gerontologia, que o estudo do envelhecimento em si. Geriatras so mdicos especializados no cuidado com o idoso e tm a sua formao varivel em diferentes pa ses, mas geralmente esta passa por uma formao generalista (medicina interna, medicina de fam lia, etc.) e a seguir so treinados nos aspectos espec ficos da sade do idoso. O estudo da Geriatria se faz importante diante dos dados epidemiolgicos atuais, que mostram um evelhecimento generalizado da populao mundial, uma vez que esta faixa etria caracterizada por comportamento e patologias diferenciadas, o que faz com que a abordagem para com o paciente idoso deve ser diferenciada. CONSIDERAES GERAIS As pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica), ao longo dos anos, vm demonstrando um aumento considervel do nmero de pacientes idosos. Isso se deve particularmente aos seguintes motivos: (1) as fam lias esto tendo menos filhos e, com isso, proporcionalmente, os idosos ficam em maior nmero; (2) o aumento da expectativa de vida, com melhorias da sade pblica e pol ticas de preveno; (3) descoberta dos antibiticos e vrios outros medicamentos; (4) intensificao dos cuidados com a sade do homem; etc. Diante disso, foi necessrio criar uma especialidade mdica que se responsabilizasse com a sade do idoso, j que, essa parcela da populao vem crescendo e est predisposta a uma srie de doenas. Com isso, foi criada a Geriatria – especialidade mdica que tem como principal objetivo se preocupar com a sade do idoso (acima de 60 anos de idade), preocupando-se com o diagnstico, tratamento e preven o das principais doen as que acometem essa faixa etria. Entretanto, antes da criao da Geriatria, criou-se a Gerontologia (Gero – Velhice; logia – estudo). Podemos definir a Gerontologia como todo e qualquer profissional que estude a “velhice”, ou seja, no se restringe somente ao mdico, estando incluindo tambm, o fisioterapeuta, psiclogo, enfermeira. OBS1: Termos adicionais: Senescência: envelhecimento normal Senilidade: envelhecimento patolgico Gerontologia: estudo do envelhecimento HISTRICO 1903 – Elie Metchnikoff (Frana) 1909 – Ignatz Nascher (EUA) Sculo XX – surgimento de grande nmero de estudos com interesse no envelhecimento devido ao aumento de idosos Criao da Sociedade Americana de Geriatria – 1942 Criao da Sociedade Brasileira de Geriatria – 1961 Criao da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – 1968 Primeiro servio universitrio: 1975 – Universidade Catlica do RS Primeira residncia mdica: 1975 - Servio de Geriatria do HC- SP Disciplina obrigatria na faculdade: 1992 – Universidade de So Paulo ENVELHECIMENTO O envelhecimento pode ser explicado por dois conceitos distintos: (1) conceito simplista: o processo pelo qual o jovem se transforma em idoso; (2) conceito biolgico: so fenmenos que levam reduo da capacidade de adaptao a sobrecargas funcionais. Portanto, o envelhecimento pode ser definido como uma srie mudanas morfofuncionais ao longo da vida que comprometem a capacidade de resposta dos indiv duos ao estresse ambiental e a manuteno da homeostasia. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 275 Consiste em um processo dinâmico e progressivo com mudanças morfológicas, funcionais, bioquímicas, psicológicas, que determinam uma perda da capacidade de adaptação do individuo ao meio ambiente, causando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte. (Papaleo 1996). Outros autores definem envelhecimento como a redução da capacidade de adaptação homeostática, perante situações de sobrecarga funcional do organismo (Confort 1979). Ou mesmo, consiste na última etapa da vida. Em termos mais simples, o envelhecimento é um fato inevitável, que acontece com a maioria das coisas, inerente à passagem do tempo. O processo de envelhecimento ocorre devido a atuação de fatores internos e externos. Os fatores internos são aqueles inevitáveis, ou seja, são decorrentes das mudanças fisiológicas do organismo, tais como: Mecanismos de morte, regeneração e divisão celular Reações bioquímicas Oxidação. Os fatores externos são aqueles que influenciam e aceleram o processo de envelhecimento, e podem ser modificados quando se atua sobre mudanças comportamentais. Entre os principais, temos: Mudanças térmicas Água Radiação solar Traumatismos Microorganismos Insetos Alimentação Como foi dito, o envelhecimento depende de vários fatores que estão divididos em externos e internos. Esses fatores atuam em uma base genética e determinam o processo de envelhecimento do organismo. O processo de envelhecimento é determinado por uma série de alterações funcionais, celulares e moleculares. Isso determina uma perda da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático, predispondo o organismo à uma maior incidência de doenças. Com relação a isso, quanto mais um paciente é exposto a processos patológicos, mais se intensifica o processo de envelhecimento; daí a importância da realização de uma política preventiva, especialmente em relação a doenças crônicas como hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes. PARTICULARIDADES DO ENVELHECIMENTO Deve-se salientar que o envelhecimento é um processo constitucional de cada indivíduo e o processo de intensificação se deve a atuação, ao longo da vida, dos fatores internos e externos citados anteriormente. Sobre isso, podemos observar um paciente tabagista, alcoolista, hipertenso e diabético com 45 anos que, fisiologicamente, é mais velho que um paciente de 70 anos sem qualquer co-morbidade. Desta forma, devemos salientar que o envelhecimento não ocorre de forma igualitária em todos os sistemas do organismo. Obviamente um paciente tabagista terá um envelhecimento do sistema cardiopulmonar mais rápido que os demais. Da mesma forma um alcoolista terá um processo degenerativo do TGI e hepático mais intenso que o pulmonar, por exemplo. CONDIÇÕES FUNDAMENTAIS NAS MUDANÇAS DO ENVELHECIMENTO Podemos associar o processo de envelhecimento a mudanças inerentes ao tempo e que devem obedecer aos seguintes critérios: Devem ser deletérias: reduzir a funcionalidade. Devem ser progressivas: estabelecer gradualmente. Devem ser intrínsecas: o ambiente tem forte influência sobre o aparecimento e velocidade dessas mudanças, apesar de não ser a sua causa. Devem ser universais: dentro de uma mesma espécie. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 276 SENESCÊNCIA VERSUS SENILIDADE Senescência, eugeria ou envelhecimento primário: constitui um grupo de alterações fisiológicas já esperadas para o organismo, resultado do processo de envelhecimento e que é inevitavelmente inerente a uma certa idade, o que inclui as seguintes alterações: Distúrbios Visuais Surdez Fraqueza Muscular Marcha lenta Senilidade, patogeria ou envelhecimento secundário: alterações produzidas pelas doenças que podem acometer o idoso. Longevidade: tempo transcorrido entre a vida e a morte. OBJETIVOS DA GERIATRIA Manutenção da Saúde em idades avançadas Manutenção da funcionalidade Prevenção de doenças Detecção e tratamento precoce Promover o máximo grau de independência Cuidado e apoio durante doenças terminais Tratamentos seguros EPIDEMIOLOGIA Atualmente, a ONU considera que a humanidade vive uma Era do Envelhecimento, que teve início em 1975, quando se observou a necessidade de ter uma abordagem mais adequada do idosos, assim como, uma especialidade médica voltada para essa população, estendendo até 2025, em que acredita-se ter o maior número de idosos já registrados. De acordo com a ONU, a vida média da população em geral ao longo da História ocorreu da seguinte forma: Período Greco Romano:18 a 25 anos Secúlo XVII Europa: 28 a 30 anos Secúlo XVIII Europa: 30 a 45 anos Secúlo. XX França (1900): 52 anos Secúlo XXI Europa (2000): 70 anos Com isso, percebe-se um maior crescimento da população idosa com relação às demais. Segundo dados do IBGE, estima-se que a população idosa Brasileira esteja em torno de 15 milhões, desde o último censo de 2000, representando 9% da população. Em 2020 estima-se que essa porcentagem esteja em torno de 18%. Podemos dizer que a causa base para todo esse processo de expansão da população idosa, se deve aos seguintes fatores: Alta fecundidade no passado (décadas de 50 e 60); Redução de mortalidade; Lançamento de políticas de saúde pública (saneamento, vacinas); Avanço tecnológico. Além disso, percebeu-se que as mulheres têm uma expectativa de vida mais elevada a que dos homens, especialmente com os cuidados que a mesma possui ao longo de sua vida, por exemplo, consultas frequentes ao ginecologista, não envolvimento com violência etc. Esse fato gera uma maior demanda na saúde pública, uma vez que, viver mais, não quer dizer viver melhor: este grupo é mais acometido por patologias debilitantes (físicas e/ou mentais). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 277 PERSPECTIVAS FUTURAS ESTADO CONJUGAL Homens Casados: 79,1% Separados: 5,6 % Vivos: 11,7% Solteiro: 3,6 % Mulheres Casados: 40,5% Separados: 7 % Vivos: 45,3% Solteiro: 7,1 % Tais dados mostram que o homem, assim que se separa, tende a procurar uma nova parceira; j a mulher, uma vez viva, tende a permanecer solteira. PRINCIPAIS PROBLEMAS Gastos da previdncia – aposentadorias e penses Utilizao de servios pblicos, como os Hospitais (maior tempo de internao) Grande aumento de idosos Baixo n vel scio econmico Baixo n vel educacional Alta prevalncia de doenas crnicas e incapacitantes PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTALIDADE Doenas do aparelho circulatrio: IAM, AVC Doenas do aparelho respiratrio: DPOC, Pneumonia Neoplasias Doenas endcrinas: Diabetes CONSIDERAES FINAIS Como concluso, podemos dizer que o envelhecimento nada mais que uma fase da vida do ser humano caracterizada por uma srie de mudanas mentais e f sicas. Diante dessa perda da capacidade funcional orgnica e maior predisposio a doenas, a atuao da Geriatria no se restringe somente ao idoso, mas tambm em outras faixas etrias, com intuito de promover um envelhecimento saudvel para tais pessoas. Entre as principais medidas temos: Prevenção Primária: Estilo de vida, Nutrio, Exerc cio, Repouso, Vacinas, Controle da obesidade, Tabagismo. Prevenção Secundária: Preveno de doenas e complicaes cardiovasculares, cncer (prstata, mama tero, pulmo) distrbios Metablicos e nutrio Prevenção Terciária: Prevenir recidivas de quadros j existentes ou tratados e seu impacto na qualidade de vida, reeducao de estilo de vida e preveno. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 278 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. GERIATRIA AVALIAÇÃO CLÍNICA DO IDOSO (Professora Januária Medeiros de Queiroga) A avaliação clínica do idoso difere das outras especialidades, pois ela não se restringe somente a realização de um exame voltada para um grupo de patologias específicas; na Geriatria, espera-se realizar uma avaliação completa da função orgânica e ainda avaliação do estado mental do paciente. Além disso, é importante salientar que a avaliação clínica do paciente idoso deve ser multidisciplinar, envolvendo diversos outros profissionais da saúde tais como: Psicólogos, Fisioterapêutas, Terapeuta Ocupacional, Fonoaudiólogos. Com isso, podemos dizer que a avaliação completa do Idoso é feita através da abordagem de uma equipe multidisciplinar, tendo como intenção avaliar todas as funções físicas e mentais desse paciente. A forma com que o médico geriatra faz a avaliação desses pacientes é denominada de Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), que se diferencia das demais abordagens semiológicas por ser complementada por Escalas de Avaliação voltadas para o idoso. Em resumo, a AGA consiste, basicamente, na análise dos seguintes parâmetros: I. Anamnese II. Exame físico III. Escalas de Avaliação: complementam a anamnese Finalidades: diagnosticar patologias utilizando como base critérios pré-estabelecidos na literatura. Avaliar as funções: Física Cognitiva Emocional Social ANAMNESE A anamnese não difere dos conceitos básicos da semiologia médica e, portanto, é composta pelos seguintes tópicos: 1. Identificação: Nome; Idade; Sexo; Estado civil; Naturalidade. 2. Queixa principal (QP) e duração: é a principal queixa que levou o paciente a procurar o médico. 3. História da doença atual (HDA): é a parte principal da anamnese e costuma ser a chave-mestra para se chegar ao diagnóstico de certas patologias. Neste momento, devemos determinar o início do sintoma (época, modo, causa desencadeante), duração, características do sintoma na época em que teve início (caráter do sintoma; localização corporal e irradiação; intensidade; fatores desencadeantes, de piora ou de melhora; relação da queixa com funções do organismo), evolução, repercussões do problema sobre a vida do paciente, relação com outras queixas, situação do sintoma no momento atual; etc. 4. Interrogatório sistemático: constitui um complemento da história da doença atual. Permite levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. Também ajuda a confirmar ou afastar possibilidades diagnósticas sugeridas pelos sintomas presentes. Sugere-se a sistematização proposta a seguir: Sintomas gerais; Cabeça e pescoço; Tórax; Sistema gastrintestinal; Sistema genitourinário; Sistema hemolinfopoiético; Sistema endócrino e metabólico; Sistema musculoesquelético; Sistema nervoso; Exame psíquico e avaliação das condições emocionais. 5. Antecedentes pessoais fisiológicos Antecedentes de quedas no último ano Independência para atividades de vida diária (AVD): banho, alimentação, deambulação; Queixa de solidão; Antecedente de viuvez Aposentadoria 6. Antecedentes Pessoais Patológicos Doenças da Infância (embora geralmente não se lembram). Doenças apresentadas na vida adulta Cirurgias Hospitalizações: época, diagnóstico Medicações atuais e passadas Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 279 7. Antecedentes Familiares Histria de Demncia na fam lia Hipertenso Diabetes Depresso 8. Hábitos e costumes Tabagismo Alcoolismo Dependncia de drogas ou frmacos OBS1: Na HDA geritrica percebe-seuma dificuldade maior para se estabelecer uma cronologia correta da doena atual, uma vez que, na maioria das vezes, os pacientes tm uma tendncia de fugir da queixa principal, correlacionando com histrias paralelas muitas vezes sem importncia cl nica. Entretanto, nos pacientes idosos, esse fato tem grande importncia, pois geralmente pode indicar distrbios mentais, ou algumas vezes, a “dor” pode ser somente um motivo para ateno. EXAME FSICO GERAL A avaliao do estado geral do paciente, da hidratao, dos sinais de insuficincia de rgos ou sistemas fundamental para a correta interpretao das patologias na faixa etria idosa. Durante o exame f sico geral do paciente idoso, devemos proceder, pelo menos, com a avaliao cardiovascular, respiratria, abdominal e neurolgica. Os dados obtidos ao exame f sico devem ser complementadas com os achados as escalas. ESCALAS DE AVALIA O Essas escalas so utilizadas principalmente para realizao de pesquisas cient ficas, ou ainda, para avaliao se o idoso necessita ou no de um cuidador. Alm disso, elas podem servir como critrios diagnsticos de certas patologias. Dessa forma, podemos dizer que as escalas de avaliao tm como inteno principal avaliar a capacidade funcional do idoso. As duas escalas de avaliao geral mais utilizadas so as de Katz e Barthel. O ndice de Katz, por exemplo, foi utilizado para avaliao das AVDs relacionadas com os cuidados pessoais. composto por 06 atividades bsicas: banho, vestir-se, higiene pessoal, transferncia, continncia e alimentao. Uma pontuao 6 indica que o idoso independente, ou seja, possui habilidade para desempenhar tarefas cotidianas. Uma pontuao 4 indica uma dependncia parcial, podendo o idoso requerer ou no aux lio. Uma pontuao igual ou inferior a 2 implica na necessidade de assistncia, indicando uma dependncia importante. Outras escalas mais espec ficas so utilizadas na geriatria com o intuito de diagnosticar certas condies de anlise subjetiva, como a depresso, a demncia de Alzheimer, a demncia vascular, alm do Mini Exame do Estado Mental, que consiste em um teste neurolgico e de cognio bastante simples, tanto na sua aplicao quanto na sua interpretao. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 280 ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA (YESAVAGE) É uma escala de fácil aplicação, podendo ser executada em cerca de 5 a 15 minutos, sendo ela aplicada pelo médico e direcionada ao paciente. Ela consta de 30 perguntas com respostas de Sim ou Não. As perguntas devem ser respondidas de acordo com os acontecimentos da última semana. De acordo com os resultados, podemos interpretá-los da seguinte forma: Normal: 5 (±4) Leve: 14 (±6). Intensa: 23 (±5). MINI EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM) O MEEM consiste em um teste padronizado que pode ser utilizado durante a anamnese para uma avaliação um pouco mais profunda do paciente. É um teste bastante simples, tanto na sua aplicação quanto na sua interpretação. O Miniexame do Estado Mental, frequentemente usado para quantificar a função cognitiva, é limitado pela falta de um elemento de linguagem verdadeiro e pela incapacidade de teste para a maioria das disfunções do lobo frontal, por exemplo. Além disto, o nível de escolaridade, evidentemente, interfere nos resultados do exame, sendo sempre o bom senso levado em consideração. Tem, portanto, como intenção avaliar o estado mental do paciente, baseando-se na realização de perguntas e testes pré-determinados. O total possível é de 30 pontos; dizemos que o paciente está dentro do padrão de normalidade quando possui uma pontuação entre 24 a 30 pontos e anormal com pontuação inferior a 24, devendo-se assim iniciar uma investigação mais específica. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 281 Esta escala tem, entretanto, algumas limitaes, como o nível de escolaridade, o que pode variar a pontuao obtida mesmo na ausncia de patologias espec ficas. Desta forma, atualmente, faz-se algumas correes quanto aos seus pontos de corte. Observe: Total de 30 pontos poss veis 26 – 30: normal Pontuação < 25: investigar Limitaes: Correo do ponto de corte segundo o n vel de escolaridade: - 13 pontos para analfabetos - 18 pontos para indiv duos entre 1-7 anos - 26 pontos para indiv duos com 8 ou mais anos Tem baixa sensibilidade para pacientes com dficits discretos Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 282 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. GERIATRIA DEPRESSÃO (Professora Januária Medeiros de Queiroga) A depresso constitui a enfermidade mental mais frequente no idoso, comprometendo intensamente sua qualidade de vida, sendo considerada um fator de risco para processos demenciais. uma condio que coloca em risco a vida, sobretudo daqueles que tm alguma doena crnico-degenerativa ou incapacitante, pois h uma influncia rec proca na evoluo cl nica do paciente. As estratgias de tratamento mais utilizadas so psicoterapia, interveno medicamentosa e exerc cio f sico. A atividade f sica, quando regular e bem planejada, contribui para a minimizao do sofrimento ps quico do idoso deprimido, alm de oferecer oportunidade de envolvimento psicossocial, elevao da auto-estima, implementao das funes cognitivas, com sa da do quadro depressivo e menores taxas de reca da. Uma das vantagens do exerc cio f sico o efeito positivo tambm na preveno e tratamento de outros agravos comuns nas pessoas idosas. Prope-se que as administraes municipais organizem programas de atividade f sica, alm da incluso exerc cios f sicos nas programaes dos Grupos de Terceira Idade. De forma mais espec fica, podemos conceituar a depresso como um transtorno da área afetiva de natureza multifatorial. No idoso pode se manifestar de vrias formas: Queixas vagas de cansao ou fadiga Queixas de doenas ou distrbios mltiplo, vagos e sem associao fisiopatolgica comum Esquecimento Alterao do sono Exacerbao de uma doena de base Tristeza profunda EPIDEMIOLOGIA Atualmente, a depresso consiste na quarta causa de incapacitao em n vel mundial. Em 2020: a OMS prev que Transtorno Depressivo ser a segunda maior causa de falta ao trabalho e uma das mais importantes do ponto de vista epidemiolgico (depois de doenas do corao, cncer e acidentes de trnsito) No idoso: sintomas depressivos 17-30 %, depresso maior em 1 a 3%. Jovem Idoso: menos idias suicidas, mais perda de peso Frequentemente no diagnosticada FATORES DE RISCO As causas de depresso no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genticos, eventos vitais (como luto e abandono) e doenas incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depresso no idoso frequentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de doenas cl nicas graves. Enfermidades crnicas e incapacitantes constituem fatores de risco para depresso. Sentimentos de frustrao perante os anseios de vida no realizados e a prpria histria do sujeito marcada por perdas progressivas - do companheiro, dos laos afetivos e da capacidade de trabalho - bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausncia de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que visa apenas os recursos m nimos de sobrevivncia, so fatores que comprometem a qualidade de vida e predispem o idoso ao desenvolvimento de depresso. Dentre as causas que foram citadas anteriormente, devemos dar destaque s polipatologias que acometem os pacientes idosos,tais como: osteoporose, fraqueza muscular, etc. Essas patologias levam a uma limitao funcional que, dependendo da gravidade pode se tornar muito intensa a ponto de deprimir severamente o idoso. Como foi dito a respeito dos conceitos de envelhecimento, o idoso sofre uma perda funcional gradativa, que organicamente caracterizada por uma reduo do nmero de neurnios e neurotransmissores tais como: serotonina (conhecido como “neurotransmissor da felicidade”) e noraepinefrina. Alm disso, ocorre uma alterao do ciclo sono-vig lia. Esse fato importante, pois, geralmente os idosos atingem apenas um sono “leve”, e no o sono REM como esperado. Alm disso, h uma reduo drstica das horas de sono, enquanto um jovem dorme em torno de 8 a 9 horas, o idoso est em torno de 3 a 4 horas. Outra condio importante a sensao da proximidade da morte, especialmente com a morte de parentes da mesma faixa etria, tais como: falecimento de irmos, primos, viuvez etc. Outras situaes psicossociais j foram citadas, e as que merecem destaque so: menor renda, desamparo, Institucionalizao, solido. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 283 DIAGNSTICO CLÍNICO O diagnstico da depresso passa por vrias etapas: anamnese detalhada, com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquitrico minucioso, exame cl nico geral, avaliao neurolgica, identificao de efeitos adversos de medicamentos, exames laboratoriais e de neuroimagem. Estes so procedimentos preciosos para o diagnstico da depresso, interveno psicofarmacolgica e prognstica, especialmente em funo da maior prevalncia de comorbidades e do maior risco de morte. Em pacientes idosos, alm dos sintomas comuns, a depresso costuma ser acompanhada por queixas somticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, humor disfrico, tendncia autodepreciativa, alterao do sono e do apetite, ideao paranide e pensamento recorrente de suic dio (cabe lembrar que nos pacientes idosos deprimidos o risco de suic dio duas vezes maior do que nos no-deprimidos). De acordo com o que foi dito a respeito dos sinais e sintomas de depresso, conclui-se que podem ser extremamente at picos no idoso. Por isso destacamos alguns sintomas que devem levantar a suspeita de depresso no idoso. Com isso, temos: Cansao e Desnimo; Observar as queixas e o modo de vestir: H descuido com a aparncia? Higiene? Indiferena? Voz arrastada? Pode haver somatizao: Dores, dispnia, esquecimento Taquicardia, palpitao Tonturas, vertigem ESCALAS DE AVALIAÇÃO As principais escalas utilizadas para avaliao cl nica da Depresso so as que seguem: Escala de Depresso de Hamilton Inventrio de Depresso de Beck Escala de Depresso Geritrica Escala da Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV (DSM – IV) As escalas de depresso desempenham um importante papel para o diagnstico de depresso no idoso, uma vez que, os sinais e sintomas cl nicos so at picos, podendo ou no haver somatizao. Com isso, podemos dizer que elas constituem elementos importantes para o diagnstico, evoluo (acompanhamento cl nico) e ainda eficcia da terapia. DSM - IV Uma forma simples e prtica de e estabelecer o diagnstico de depresso no idoso feita com a tabela dada pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV (DSM – IV). Alm do diagnstico a tabela permite fazer um acompanhamento cl nico do paciente. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 284 Na tabela a seguir, observa-se diversos sinais cl nicos de depresso, enumerados de 1 a 9. Para que seja estabelecida a depresso o paciente deve ter pelo menos 5 desses critrios, desde que, estejam presentes, por pelo menos 2 semanas, um dos seguintes sintomas: “humor deprimido” e/ou “perda de interesse ou prazer”. importante salientar que esses sintomas no tm nenhuma importncia cl nica naqueles pacientes com patologias de base, em uso de medicamentos depressores do SNC ou situaes de luto (consideradas at 2 – 3 meses aps bito de um ente querido). Alm disso, os sinais e sintomas devem obrigatoriamente ocasionar um sofrimento ao idoso. Escala de depressão de Hamilton. uma escala que faz uma avaliao completa do paciente, entretanto, tem o inconveniente de ser muito extensa e demorada, e ainda, possui questionamentos que invadem a vida pessoal do paciente, podendo suscitar decepes e choros (por esta razo, no muito utilizada na prtica cl nica). Tem sua importncia na possibilidade de graduar a intensidade da depresso (em leve, moderada, grave e muito grave). feita pelo mdico, que deve interrogar o paciente. Ela consiste em 21 itens com uma pontuao de 0 a 50 pontos. Os resultados obtidos podem ser: Normal: < 7 Depresso leve: 8-13 Depresso moderada: 14-18 Depresso grave: 19-22 Depresso muito grave: acima de 23 Escala de Hamilton 1. Humor Deprimido (Tristeza, desesperança, desamparo, inutilidade) – 0. Ausente. – 1.Sentimentos relatados apenas ao ser inquirido. – 2.Sentimentos relatados espontaneamente com palavras. – 3.Comunica os sentimentos no com palavras, isto , com a expresso facial, a postura, a voz e a tendncia ao choro. – 4. Sentimentos deduzidos da comunicao verbal e no-verbal do paciente. 2. Sentimentos de culpa – 0. Ausente – 1. Auto-recriminao; sente que decepcionou os outros. – 2. Idias de culpa ou ruminao sobre erros passados ou ms aes. – 3. A doena atual um castigo. – 4. Ouve vozes de acusao ou denncia e/ou tem alucinaes visuais ameaadoras. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 285 3. Suicídio – 0. Ausente. – 1. Sente que a vida não vale a pena. – 2. Desejaria estar morto ou pensa na probabilidade de sua própria morte. – 3. Idéias ou gestos suicidas. – 4.Tentativa de suicídio ( qualquer tentativa séria, marcar 4). 4. Insônia inicial – 0. Sem dificuldades para conciliar o sono. – 1. Queixa-se de dificuldade ocasional para conciliar o sono, isto é, mais de meia hora. – 2. Queixa-se de dificuldade para conciliar o sono todas as noites. 5. Insônia intermediária – 0. Sem dificuldades. – 1. O paciente se queixa de inquietude e perturbação durante a noite. – 2. Acorda à noite - qualquer saída da cama marcar 2( exceto p/ urinar). 6. Insônia tardia – 0. Sem dificuldades. – 1. Acorda de madrugada, mas volta a dormir – 2. Incapaz de voltar a conciliar o sono se deixar a cama. 7. Trabalho e atividades – 0. Sem dificuldades. – 1. Pensamento e sentimentos de incapacidade, fadiga ou fraqueza relacionada a atividades, trabalho ou passatempos. – 2. Perda de interesse por atividades (passatempos ou trabalho) quer diretamente relatada pelo paciente, quer indiretamente por desatenção, indecisão e vacilação (sente que precisa esforçar-se para o trabalho ou atividade). – 3. Diminuição do tempo gasto em atividades ou queda de produtividade. No hospital, marcar 3 se o paciente não passar ao menos 3 horas por dia em atividades externas (trabalho hospitalar ou passatempo). – 4. Parou de trabalhar devido à doença atual. No hospital, marcar 4 se o paciente não se ocupar com outras atividades, além de pequenas tarefas do leito, ou for incapaz de realizá-las sem ajuda. 8. Retardo (lentidão de idéias e fala; dificuldade de concentração; atividade motora diminuída) – 0. Pensamento e fala normais. – 1. Leve retardo à entrevista. – 2. Retardo óbvio à entrevista. – 3. Entrevista difícil. – 4. Estupor completo. 9. Agitação – 0. Nenhuma. – 1. Inquietude. – 2. Brinca com as mãos, com os cabelos,etc. – 3. Mexe-se, não consegue sentar quieto. – 4. Torce as mãos, rói as unhas,puxa os cabelos, morde os lábios. 10. Ansiedade psíquica – 0.Sem dificuldade. – 1. Tensão e irritabilidade subjetivas. – 2. Preocupação com trivialidades. – 3. Atitude apreensiva aparente no rosto ou na fala. – 4. Medos expressos sem serem inquiridos. 11. Ansiedade somática – Concomitantes fisiológicos de ansiedade, tais como: gastrointestinais: boca seca, flatulência, indisgestão, diarréia, cólicas, eructação; Cardiovasculares: palpitações, cefaléia; Respiratórios: hiperventilação, suspiros; Freqüência urinária; Sudorese – 0. Ausente : – 1. Leve – 2. Moderada – 3. Grave – 4. Incapacitante 12. Sintomas somáticos gastrintestinais – 0. Nenhum – 1. Perda de apetite, mas alimenta-se voluntariamente. Sensações de peso no abdome – 2. Dificuldade de comer se não insistirem. Solicita ou exige laxativos ou medicações para os intestinos ou para sintomas digestivos. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 286 13. Sintomas somáticos em geral – 0. Nenhum – 1. Peso nos membros, nas costas ou na cabeça. Dores nas costas, cefaléia, mialgias. – Perda de energia e cansaço. – 2. Qualquer sintoma bem caracterizado e nítido, marcar 2. 14. Sintomas genitais – Sintomas como: perda da libido, distúrbios menstruais – 0. Ausentes – 1. Leves – 2. Intensos 15. Hipocondria – 0. Ausente – 1. Auto-observação aumentada (com relação ao corpo) – 2. Preocupação com a saúde – 3. Queixas freqüentes, pedidos de ajuda,etc. – 4. Idéias delirantes hipocondríacas. 16. Perda de peso (Marcar A ou B) – A - Quando avaliada pela história clínica 0. Sem perda de peso. 1. Provável perda de peso associada à moléstia atual. 2. Perda de peso definida ( de acordo com o paciente) 3. Não avaliada. – B - Avaliada semanalmente pelo psiquiatra responsável, quando são medidas alterações reais de peso 0. Menos de 0,5 Kg de perda por semana. 1. Mais de 0,5 Kg de perda por semana. 2. Mais de 1 Kg de perda por semana. 3. Não avaliada 17. Consciência – 0. Reconhece que está deprimido e doente. – 1. Reconhece a doença mas atribui-lhe a causa à má alimentação, ao clima, ao excesso de trabalho, a vírus, à necessidade de repouso, etc. – 2. Nega estar doente. 18. Variação diurna – A - Observar se os sintomas são piores pela manhã ou à tarde. Caso NÃO haja variação, marcar "nenhuma". 0. Nenhuma 1. Pior de manhã. 2. Pior à tarde. – B - Quando presente, marcar a gravidade da variação. Marcar "nenhuma" caso NÃO haja variação. 0. Nenhuma. 1. Leve 2. Grave 19. Despersonalização e perda de noção de realidade – Tais como: sensações de irrealidade, idéias niilistas – 0. Ausente – 1. Leve. – 2. Moderadas. – 3. Graves. – 4. Incapacitantes. 20. Sintomas paranóides – 0. Nenhum. – 1. Desconfiança. – 2. Idéias de referência. – 3. Delírio de referência e perseguição. 21. Sintomas obsessivos e compulsivos – 0. Nenhum. – 1. Leves. – 2. Graves. Somar os pontos obtidos em todos os ítens – CONTAGEM TOTAL: ____ (0-50) Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 287 INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK A escala de depressão de Beck é mais bem aplicada clinicamente, uma vez que ela é preenchida pelo próprio paciente e ainda garante uma graduação da depressão. Consiste em 21 afirmações cada uma com uma pontuação de 0 a 3 pontos. Sem diagnóstico prévio: > 15: humor alterado > 20: depressão Se já diagnosticado como depressivo: < 10: sem depressão 10 - 18: depressão leve a moderada 19 - 29: depressão moderada a grave 30 - 63: depressão grave ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA A escala de depressão geriátrica (reduzida) consiste em 15 questionamentos bastante práticos, que devem ser dirigidos ao paciente. Para atribuir os resultados, devemos somar 1 ponto para cada resposta igual a dos parêntesis e 0 (zero) para cada resposta diferente. Quanto a interpretação dos resultados, temos: Total < 5 pontos: aparentemente normal. Total > 5 pontos: suspeita de depressão. Por ser resumida, tem muita boa aplicabilidade, muito embora não seja capaz de fornecer dados objetivos quanto a graduação do estado de depressão. Portanto, sua utilização serve como um ponto de corte: se mostrar resultados normais, definimos que o paciente é normal; se mostrar alterada, devemos utilizar a Escala de Depressão de Beck (ou a de Hamilton). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 288 DEPRESS O MEDICAMENTOSA Algumas das seguintes medicações podem causar depressão, e a sua remoção ou substituição pode ser fundamental para o tratamento do quadro depressivo: Diuréticos Propanolol Metildopa Bloqueadores dos Canais Ca+ Digitálicos Hipoglicemiantes Cimetidina Haldol Clorpromazina Benzodiazepínicos (por isso, o Diazepam e o Rivotril não devem ser utilizados como anti-depressivos) Morfina Meperidina Agentes quimioterápicos Corticóides TRATAMENTO MEDICAMENTOSO O tratamento da depressão no idoso tem por finalidade reduzir o sofrimento psíquico causado por esta enfermidade, diminuir o risco de suicídio, melhorar o estado geral do paciente e garantir uma melhor qualidade de vida. Inicialmente, há a necessidade da identificação de fatores que estariam desencadeando o surgimento de um processo depressivo, ou mesmo, agravando uma depressão já existente. Assim, é pertinente verificar se o paciente possui alguma doença clínica que esteja relacionada com a depressão e observar se o uso de algum medicamento (antiinflamatório, anti-hipertensivo, remédio para insônia, etc.) não estaria levando ao surgimento de sintomas depressivos. A seguir, convém investigar aspectos de natureza psicológica e psicossocial, como lutos, isolamento social, abandono e outros fatores que tendem a desencadear sintomas depressivos. O sucesso do tratamento está baseado em três pilares principais: Diagnosticar e tratar precocemente a depressão Afastar fatores desencadeantes Associar psicoterapia, se possível Base farmacológica: aumentar serotonina (5HT), noredrenalina (NA), dopamina (DO). A escolha do tratamento irá depender do quadro clínico individual de cada paciente. De um modo geral, podemos lançar mão de iMAO, como a Selegilina. Para pacientes com critérios clínicos selecionados (como dor crônica, enxaquecas, etc.), podemos lançar mão de Antidepressivos Tricíclicos, como a Amitriptilina ou a Nortriptilina (mas que devem ser evitadas, devido aos seus efeitos colaterais). A Sertralina (um inibidor seletivo da recaptação da serotonina) pode ser utilizada como droga de primeira escolha; se esta não mostrar bons resultados, podemos optar pelo uso de inibidores da recaptação da noradrenalina e serotonina (como a Venlafaxina), que são drogas bastante eficazes, porém mais caras. INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (iMAO) Estes fármacos inibem a enzima monoamina oxidase (MAO), responsável por metabolizar monoaminas como a noradrenalina, dopamina e serotonina. Uma vez inibida, ocorre aumento das concentrações sinápticas destas e condicionando maior excitação dos neurónios que possuem receptores para estes mediadores. Os IMAOs causam uma inibição irreversível e não-seletiva, pois bloqueiam a ação dos dois subtipos da enzima (MAO-A e MAO-B). Esta característica confere-lhes uma longa duração de ação, mas está também relacionada com os seus efeitos adversos, uma vez que a inibição não-seletiva (e irreversível) leva à acumulação e consequente toxicidade de vários dos subtratos da MAO, sobretudo a serotonina. Por este motivo, é muitas vezes necessária a instituição de uma dieta alimentar específica para reduzir o consumo de substratos da enzima. Indicações. Com base em observações clínicas,o aumento da quantidade de mediadores na fenda sináptica está relacionado com a melhoria de sintomas depressivos, embora o mecanismo subjacente não seja perfeitamente claro. A resposta parece residir nas alterações no número e afinidade dos receptores, devidas ao aumento da concentração de mediadores, o que explica também a demora (mais de uma semana) entre o início da terapêutica e a manifestação dos efeitos. Foram as primeiras drogas utilizadas para o tratamento da depressão e seu uso passou a ser utilizado para pacientes depressivos depois que observou-se uma melhora no humor de pacientes com parkinson tratados com estas drogas. Quanto as opções, temos: Tranilcipromina 10mg: pode aumentar os riscos de HAS Moclobemida (MAO-A) 100mg: pode causar alteração do sono Selegilina (Deprian®) (MAO-B): droga de escolha para pacientes que apresentam depressão e Parkinson. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS São medicamentos relacionados a uma excelente resposta ao tratamento dos pacientes com depressão; entretanto, possuem muitos efeitos colaterais. Devido a isso, seu uso para o tratamento da depressão é extremamente restrito, utilizados para pacientes com critérios individualizados. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 289 Eles bloqueiam os transportadores membranares dos neurnios pr-sinapticos que recolhem monoaminas neurotransmissoras do exterior (ou seja, da sinapse) e portanto maximizam a durao da sua ao nos neurnios ps- sinpticos, ao permitir que atuem na biofase durante mais tempo. A maioria dos tric clicos bloqueia os transportadores de noradrenalina, dopamina e serotonina. Indicações. Alm de sua utilizao na depresso, eles podem ser utilizados nas seguites situaes: depresso associada a transtornos ansiosos (pnico e transtorno compulsivo obsessivo), bulimia, dor crnica, etc. Estima-se que 80% dos pacientes que utilizam essa classe de droga ficam curados da depresso. Os principais representantes dessa classe de drogas so: Amitriptilina (Amytril; Neurotrypt) 25-300mg - iniciar com 10mg Nortriptilina 10-150mg - menos efeitos colaterais e pode ser uma opo para Amitriptilina Imipramina - 10mg OBS1: Deve-se informar ao paciente que pode haver um relaxamento muscular inicial nas primeiras 2 semanas de uso. Essa informao importante, pois com esse efeito, o paciente pode pensar que houve uma piora do seu quadro depressivo. Efeitos Colaterais. Bloqueios receptores colinérgicos Muscarínicos (efeitos anti-colinérgicos): Boca seca Constipao, reteno urinria Presso ocular - glaucoma Confuso mental, dficit cognitivo Taquicardia Ganho de peso Bloqueio receptor H1e H2: Sonolncia, sedao, fadiga Tonturas, hipotenso com risco de queda Inibição da enzima ATPase Na/K: retardo da conduo ventricular OBS2: Devido a esses efeitos colaterais, esta classe de medicamentos no deve ser utilizada como primeira escolha para tratamento de depresso nos idosos; mas apenas para casos bem selecionados. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DA SEROTONINA (ISRS) Os ISRSs aumentam a concentrao extracelular do neurotransmissor serotonina (5-HT) ao inibir a sua recaptao pelo neurnio pr-sinptico, aumentando o n vel de serotonina dispon vel para se ligar ao receptor ps- sinptico. O grau de seletividade para outros transportadores de monoaminas (como a dopamina ou noradrenalina) varivel, embora a afinidade seja de forma geral muito baixa. Indicações. Podem ser consideradas como as drogas de primeira escolha para o tratamento da depressão nos idosos. Os principais representantes dessa classe so: Sertralina (Zoloft; Tolrest) 25-100mg Fluoxetina (Prozac, conhecida como a “p lula da felicidade”; Daforin) 10-80mg Paroxetina (Aropax) 20-60mg: pode ser utilizada para pacientes com depresso ansiosa ou depresso associada insnia, uma vez que ela responsvel por apresentar um efeito benzodiazepínico-like. Citalopram (Cipramil) 20-60mg Escitalopram 10mg Efeitos Colaterais. Possuem poucos efeitos quando comparados com outras classes de drogas. Entretanto alguns pacientes ainda podem relatar: alteraes do TGI, insnia, cefalia, tremores e ansiedade. INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DA NORADRENALINA E SEROTONINA (SNRI) Os inibidores seletivos da recaptao da serotonina e da noradrenalina (IRSN ou SNRI) so frmacos relativamente recentes, utilizados no tratamento da depresso. Tal como os inibidores seletivos de recaptao de serotonina (ISRS), no possuem ao agonista sobre os receptores; a sua ao farmacolgica limita-se a impedir a Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 290 recaptação de serotonina e noradrenalina, possuindo por isso um perfil farmacológico mais seguro e com uma potência semelhante dos antidepressivos tricíclicos, porém com menos efeitos adversos. Indicações. Esses medicamentos são utilizados quando o paciente possui uma depressão mais grave, em que percebe-se uma ameaça a própria vida, ou seja, tendências suicidas. Portanto, podemos utilizar IRSN em situações em que o médico quer resultados mais rápidos quando não houve resposta ao tratamento com os inibodres seletivos da serotonina. Os principais representantes dessa classe de medicamentos são: Venlafaxina 37,5-225mg/dia Duloxetina 60/120mg/dia Efeitos Colaterais. Náuseas Insônia Cefaléia Anorexia Elevação de PA INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO / ANTAGONISTAS DA SEROTONINA-2 Possui uma fraca inibição da recaptação de 5HT, mas com um forte antagonismo de receptores pós-sinápticos. É uma medicação excelente principalmente para aqueles pacientes que associada a depressão possui um quadro de insônia, pois possui como principal efeito colateral a sedação. Os principais representantes são: Trazodona (Donarem® 150mg) Nefazodona (Serzone® 100mg/ 12/12 hrs) TRATAMENTO N O-FARMACOLGICO Deve sempre ser associado com o tratamento farmacológico. Os seguintes pontos devem ser orientados para o paciente: Prática regular de exercícios físicos Alimentação balanceada, Rotina para o horário de sono Redução ou a eliminação da ingestão de cafeína e de álcool Psicoterapia Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 291 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. GERIATRIA DEMÊNCIA DE ALZHEIMER (Professora Januária Medeiros de Queiroga) Demncia pode ser compreendida como uma s ndrome caracterizada pela presena de decl nio cognitivo persistente que interfere com as atividades sociais ou profissionais do indiv duo e que independe de alteraes do n vel de conscincia. O principal tipo de demncia a doena de Alzheimer. A demência de Alzheimer (DA) uma afeco neurodegenerativa progressiva e irrevers vel de aparecimento insidioso, que acarreta perda de memria e diversos distrbios cognitivos. Em outras palavras, uma doena degenerativa do crebro caracterizada por uma perda das faculdades cognitivas superiores, manifestando-se, inicialmente, por alteraes da memria episdica. Estes dfices amnsicos agravam-se com a progresso da doena, e so posteriormente acompanhados por dfices visuo-espaciais e de linguagem. No h, entretanto, alterao da conscincia; mas sim, incapacitao progressiva para atividades da vida diria (AVD). vlido ressaltar que a DA uma realidade comum na cl nica geritrica, o que justifica a importncia do diagnstico precoce desta entidade, no intuito de melhorar a qualidade de vida do indiv duo, uma vez que as drogas dispon veis atualmente no revertem o quadro, mas apenas estabilizam a progresso e impedem a piora da demncia. CONSIDERAES GERAIS A base histopatolgica da doena foi descrita pela primeira vez pelo neuropatologistaalemo Alois Alzheimer em 1909, que verificou a existncia juntamente com placas senis (hoje identificadas como agregados de prote na beta- amilide), de emaranhados neurofibrilares (hoje associados a mutao da prote na tau, no interior dos neurotbulos). Atribui-se a Emil Kraepelin a denominao da doena, depois de combinar os resultados histolgicos com a descrio cl nica. Cerca de 60% de todas as demncias representada pela DA (15% delas compreendida pela demncia vascular, objeto de estudo do prximo cap tulo; a demncia mista considerada uma associao entre Alzheimer e a vascular). A DA , portanto, a causa mais comum de demncia, sendo considerada de in cio precoce quando ocorre antes dos 65 anos e de in cio tardio quando ocorre aps 65 -70 anos. A DA desenvolve-se lentamente ao longo dos anos (a DA precoce apresenta progresso mais rpida) e, geralmente, est associada ao comprometimento generalizado das funes cognitivas. DADOS EPIDEMIOLGICOS A doena de Alzheimer a principal causa de demncia, acometendo, com maior incidncia (30-40%), indiv duos acima de 85 anos; menos de 1% dos casos ocorre antes dos 65 anos. A partir desta idade, a incidncia cresce demasiadamente: 5 a 10% dos casos ocorre aos 65 anos e 30 a 40% com 85 anos ou mais. Nota-se que o Alzheimer mais comum nas mulheres, podendo ser explicada, em parte, pela maior expectativa de vida feminina. Atualmente, existem, pelo menos, trs obstculos que dificultam o diagnstico e tratamento da DA: Ausncia de teste diagnstico que possa ser aceito como "padro-ouro" (apenas a bipsia cerebral post-mortem pode garantir o quadro de demncia). Interferncia dos atuais critrios diagnsticos utilizados (DSM-III-R, do DSM-IV ou do CID-10) Dificuldade na utilizao de testes neuropsicolgicos validados em outros pa ses que podem ter acurcia muito diferente, dependendo de fatores culturais e sociais. FATORES DE RISCO A etiologia da doena de Alzheimer no totalmente conhecida. Atribuem-se mltiplas causas, sugerem etiologia multifatorial relacionada aos fatores de risco. Os principais fatores relatados so: idade (ocorre principalmente aps 64 anos, em 6 a 10%); histria familiar (os riscos aumentam em 3,5x se h parente de primeiro grau); gentica (mutaes nos cromossomos 21,14,1 so descritas na literatura); ambientais, como TCE (devido maior deposio de prote nas β-amilide, como ocorre em pugilistas) e baixo n vel educacional (questiona-se a baixa reserva neuronal associada); vasculares (aterosclerose, ICO, HAS); sexo Feminino (devido baixo n vel educacional que era mais associado a este sexo e/ou uma maior longevidade e expectativa de vida deste grupo sexual). A idade o fator primordial para demncias, de um modo geral. Entretanto, no se sabe ao certo qual a causa principal da DA. Por esta razo, defende-se que a associao entre vrios fatores de risco aumentam a probabilidade de o paciente vir a cursar com DA; muito embora, alguns pacientes podem apresentar DA mas sem relatar fatores predisponentes. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 292 Alguns estudos demonstram a base gentica da doena de Alzheimer. Para alguns pesquisadores, a DA uma doena autossmica dominante e, com isto, o risco dobrado para os familiares de 1 grau de pacientes com Alzheimer. Em resumo, os vrios fatores de risco para doena de Alzheimer so: Idade Histria familiar de DA Gentica Ambientais Nutricionais Metablicos Estilo de vida Infecciosos Traumticos (TCE) Txicos Scio econmico-culturais ALTERAES PATOLGICAS DO ALZHEIMER O aspecto anatomopatolgico do Alzheimer bastante t pico: atrofia do crtex cerebral dos lobos frontal, temporal e parietal. No exame histopatolgico, podemos evidenciar placas senis e emaranhados neurofibrilares. As placas senis representam a deposio excessiva de Prote na β-amilide no crebro, que txica para sinapses e neurnios adjacentes; so inerentes destruio das membranas sinpticas e morte celular. A prote na β-amilide formada a partir da clivagem anormal da PPA (no crebro normal): Placas amilóides (senis): tambm conhecidas como placas neur ticas, so leses compostas por degenerao neuronal, reao celular glial e depsitos extracelulares de amorfos de prote na β-amilide. Emaranhados neurofibrilares: so filamentos intracelulares de uma forma fosforilada de uma prote na associada microtbulos (Tau). FISIOPATOLOGIA O mecanismo fisiopatolgico bioqu mico do Alzheimer o seguinte: ocorrer uma reduo de 50-90% da atividade da colina acetiltransferase no crtex e no hipocampo devido ao acometimento dos neurnios colinrgicos destas regies por fatores histopatolgicos. Os neurotransmissores espec ficos (acetilcolina) so gradativamente perdidos, diminuindo a conexo entre o ncleo basal de Meynert e o crtex cerebral, havendo ainda a presena dos corpsculos de hirano. Tais conexes seriam importantes para um funcionamento normal do metabolismo cerebral. Pela sequncia de estruturas que mais sofrem repercusses com a depleo de acetilcolina, temos: hipocampo, temporal, parietal, frontal e occipital. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 293 MANIFESTAES CLNICAS As manifestações clínicas principais relacionadas com a doença de Alzheimer podem ser resumidas a: depressão; delírios; comprometimento psicótico; agitações; alucinações; etc. De um modo geral, podemos dividi-los em sintomas cognitivos e não-cognitivos. SINTOMAS COGNITIVOS Transtornos de memória: incapacidade de memorizar dados novos. Alterações na linguagem (afasia): incapacidade de nomear objetos (anomia), mutismo. Alteração na motricidade (apraxia): dificuldade na realização de atividades motoras. Ex. incapacidade em pentear os cabelos. Alteração na cognição (agnosia): dificuldade no reconhecimento de objetos. Ex: incapacidade em reconhecer ou identificar um objeto com olhos fechados, utilizando outros sentidos. Alteração na capacidade de execução de tarefas. Ex: incapacidade em iniciar o alfabeto ou uma contagem regressiva. SINTOMAS NÃO-COGNITIVOS Depressão (13-21%) Sintomas psicóticos Delírios (28-46%) relacionados a roubos, envenenamentos, infidelidades, etc. Alucinações (17-34%) auditivas e visuais Agressividade física (11-51%) Agressividade verbal (10-56%) Incontinência urinária (26-40%) Transtornos do sono (41,8%) Transtornos da conduta alimentar (84,7%) Modificações do estado de ânimo Apatia (72%) Ex.: sem motivação Agitação (60%) Irritabilidade (42%) Ex.: sem paciência Desinibição (36%) Euforia (38%) Ex.: ri com facilidade Incapacitação funcional em graus variados (a depender da intensidade da demência) DIAGNSTICO De fato, o diagnóstico da demência de Alzheimer é eminentemente clínico. Entretanto, a única certeza do diagnóstico se faz por meio da autópsia cerebral post mortem. Os exames complementares são importantes para realizar diagnóstico diferencial com outras patologias semelhantes. História clínica: devemos avaliar justamente os relatos comuns feitos por acompanhantes, como vimos a propósito da descrição da síndrome clínica. Sinais de esquecimento e confusão que se iniciam banalmente, mas que se tornam cada vez mais frequentes, devem nos deixar atento para um possível quadro demencial. Portanto, não só devemos questionar dados ao paciente, como também devemos coletar dados da família e do cuidador. Exame neurológico: a partir do momento que o diagnóstico do Alzheimer é dado por meio clínico, devemos realizar um exame neurológico criterioso, no intuito de avaliar as funções corticais superiores e o estado mental. Para isso, podemoslançar mão dos seguintes métodos: Miniexame do Estado Mental (Folstein e colaboradores, 1975); Teste do relógio; Teste de fluência verbal. Exames complementares: o Laboratório: Hemograma, U, C, Na, K, Ca; Função tireoidiana e hepática; Sorologia para sífilis e HIV; Deficiência de vitamina B12, Dosagem de ácido fólico. o Imagem: TC e RNM de Crânio, SPECT. o Opcionais: EEG, LCR. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 294 EXAME NEUROLÓGICO Miniexame do Estado Mental (Folstein e colaboradores, 1975). Consiste em um teste padronizado que pode ser utilizado durante a anamnese para uma avaliao um pouco mais aprofundada do paciente. um teste bastante simples, tanto na sua aplicao quanto na sua interpretao. O Miniexame do Estado Mental, frequentemente usado para quantificar a funo cognitiva, limitado pela falta de um elemento de linguagem verdadeiro e pela incapacidade de teste para a maioria das disfunes do lobo frontal, por exemplo. Alm disto, o n vel de escolaridade, evidentemente, interfere nos resultados do exame, sendo sempre o bom senso levado em considerao. Desta forma, temos: Total de 30 pontos poss veis 26 – 30: normal Pontuao < 25: investigar Limitaes: Correo do ponto de corte segundo o n vel de escolaridade: 13 pontos para analfabetos; 18 pontos para indiv duos entre 1-7 anos; 26 pontos para indiv duos com 8 anos ou mais. Tem baixa sensibilidade para pacientes com dficits discretos Miniexame do Estado Mental (Folstein, Folstein e McHugh, 1975) Nome: Idade: Escolaridade (em anos): Data: ORIENTAO (10 Pontos). Pergunte pela data. Em seguida, pergunte as partes omitidas. Pergunte se o paciente sabe onde est. 1 – Dia da semana 6 – Local onde se encontra 2 – Dia do ms 7 – Endereo (ou como chegou ao local do exame) 3 – Ms 8 – Qual andar ou setor 4 – Ano 9 – Cidade 5 – Hora aproximada 10 – Estado RETENO OU REGISTRO DE DADOS (3 Pontos). Diga o nome de trs objetos, claramente, durante cerca de um segundo cada palavra, e pea para ele repetir aps ter ouvido trs. A pontuao dada pela primeira repetio. - Vaso, Carro, Tijolo. ATENO E CLCULO (5 Pontos). Pea para o paciente subtrair mentalmente 7 de 100, sucessivamente. Corrija quando estiver errado. Pare aps cinco resultados e atribua um ponto para cada acerto. Ex: - 100 – 7= 93 – 7= 86 – 7= 79 – 7= 72 – 7 = 65. MEMRIA (3 Pontos) Solicite ao paciente que repita os nomes dos trs objetos mostrados para ele durante o teste de reteno feito a pouco. LINGUAGEM (9 Pontos) - Nomear uma caneta e um relgio (2 pontos) - Repetir: “Nem aqui, nem ali, nem l” (1 ponto) - Solicite o paciente para obedecer a seguinte ordem: “Pegue o papel com a sua mo direita, dobre ao meio e coloque no cho” (3 pontos). - Escreva em um pedao de papel a seguinte frase, pea para o paciente ler e obedecer: “Feche os olhos” (1 ponto). - Solicite que o paciente escreva uma frase (1 ponto). - Habilidade construtiva: solicite que paciente copie um desenho geomtrico (1 ponto). TOTAL: (Mximo para alfabetizados: 30 pontos; Ponto de corte para analfabetos ou com baixa escolaridade: 18 pontos). Teste do relógio: O examinador desenha um relgio comum, analgico, e pede ao paciente para compor as horas ao longo do c rculo. O paciente com Alzheimer tende a ter dificuldades para realizao deste ato, comprovando o comprometimento da funo executiva. Este teste pode estar alterado logo nas fases iniciais. Teste de fluência verbal: para avaliar a presena de eventuais afasias, gnosias de objeto ou anomia, de fato. Os dficits de linguagem trazem outro obstculo importante em um exame cognitivo detalhado ou para o Mini exame mental. Podemos apresentar algumas imagens familiares para o paciente e sugerir que ele identifique ou as memorize. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 295 EXAMES COMPLEMENTARES No que diz respeito aos exames de imagem, a maioria deles (TC, RNM) são inespecíficos. Tais exames podem mostrar sinais de atrofia cerebral, mas que podem ocorrer também em pacientes normais, que não portam a doença. Na maioria das vezes, a RNM evidencia uma atrofia hipocampal que pode ser fisiológica ou não. Obviamente, ao longo dos anos, a atrofia cortical determinará uma diminuição do hipocampo, com hidrocefalia compensatória. Os exames de imagem se tornam importantes quando associamos a eles os dados obtidos da história clínica: a presença de uma imagem sugerindo atrofia cortical associada a uma clínica compatível com demência, praticamente fecha a nossa hipótese. Ainda mais quando a atrofia aumenta, em exames subsequentes. RNM em sequência de aquisição T2 mostrando uma área inespecífica de atrofia cerebral que pode ser bastante sugestivo de Alzheimer ao ser associado a um quadro clínico clássico desta demência. O PET-Scan (TC por emissão de prótons) fornece ótimos dados referentes a análise do metabolismo cerebral e, quanto melhor a sua resolução, maior sua sensibilidade. Entretanto, é um exame de alto custo, sendo mais utilizado em centros de pesquisa. O cérebro de um paciente portador de Alzheimer se mostra com captação diminuída do metabólito da glicose, quando comparado ao de um paciente normal. O SPECT-TC (TC por emissão de fóton único) é um exame mais acessível atualmente, quando comparado ao PET-Scan, muito embora não tenha a mesma sensibilidade deste exame. Ele pode ser útil quando avaliamos o fluxo sanguíneo cerebral, em que se pode mostrar diminuição do fluxo nas regiões frontal e têmporo-parietais. Na imagem ao lado, observamos hipoperfusão em córtex temporal, o que pode sugerir a demência. Em resumo, os achados típicos nos exames complementares são: LCR normal; Eletroencefalograma (EEG) inespecífico, mas podendo apresentar uma lentificação generalizada; TC e RNM sem alterações específicas, porém, podemos evidenciar atrofia cerebral em cortes coronais. A principal função da análise da diminuição do volume do lobo temporal está restrita nas ocasiões de precocidade de atrofia cortical, isto é, quando esta se manifesta ainda durante a vida adulta. Isso porque a senilidade evolui com graus de atrofia cortical e aumento do volume ventricular compensatório, fazendo com que estes testes percam ainda mais a sua especificidade. Caso a atrofia seja precoce, poderíamos indicar quadro demencial. OBS1: De uma forma geral, podemos considerar três modalidades de diagnóstico de Alzheimer: Diagnóstico definido: apenas obtido por meio da autópsia. Diagnóstico provável: paciente que apresenta sinais evidentes de Alzheimer, mas que não apresenta associação com qualquer outra doença, como o Parkinson, por exemplo. Diagnóstico possível: paciente com quadro clínico de Alzheimer e que apresenta associação a outra doença. Classicamente, as principais doenças associadas são: Parkinson, doenças vasculares cerebrais prévias, paralisia supra-nuclear progressiva (que também cursa com sinais extra-piramidais). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 296 ESTGIOS CLNICOS DA DEMNCIA DE ALZHEIMER A avaliao do estgio cl nico do paciente com Alzheimer pode determinar a real eficcia do tratamento a ser institu do. Estgio da Demncia Caractersticas Estgio inicial (demncia leve) No estgio inicial/leve das demncias o paciente pode: Realizar atividades rotineiras Percorrer trajetos muitoutilizados ou curtos, sem ajuda Executar tarefas instrumentais mais simples (telefonar) Desempenhar atividades bsicas da vida diria Parecer normal em um contato inicial No estgio inicial das demncias, o paciente tem dificuldade em: Recordar onde colocou objetos Percorrer novos trajetos Recordar o nome das pessoas a quem foi apresentado recentemente Tirar proveito do que l Planejar (Ex.: realizar pequenos consertos) Estgio moderado No estgio moderado das demncias o paciente tem dificuldade em: Escolher roupas Lembrar o nome de familiares prximos (Ex.: netos) Mas pode realizar as atividades de vida diria (AVD). Com a progresso desta fase, pode haver dificuldade em: Lembrar nome dos filhos e cnjuge Tomar banho ou vestir-se sem ajuda Estgio avanado No estgio avanado, o paciente: Tem vocabulrio restrito, progredindo para perda da capacidade de expresso Est incontinente No se alimenta s, ou necessita de sonda Eventualmente perde a capacidade de deambular e, at mesmo, sentar TRATAMENTO O tratamento da demncia de Alzheimer , de fato, sintomtico e no curvel. As principais metas deste tratamento so, na verdade: Melhorar qualidade de vida do paciente; Melhorar o seu desempenho funcional; Promover autonomia. Para isso, devemos lanar mo de quatro abordagens: 1. Teraputica espec fica, que tem como objetivo reverter processos patofisiolgicos que conduzem morte neuronal e demncia; 2. Abordagem profiltica, que visa a retardar o in cio da demncia ou prevenir decl nio cognitivo adicional, 3. Tratamento sintomtico, que visa restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente, as capacidades cognitivas, as habilidades funcionais e o comportamento dos pacientes portadores de demncia; 4. Teraputica complementar, que busca o tratamento das manifestaes no-cognitivas da demncia, tais como depresso, psicose, agitao psicomotora, agressividade e distrbio do sono. TRATAMENTO FARMACOLGICO Tracrina (Tacrinal ), 30mg, 4x/dia: foi a primeira droga a ser utilizada (Anvisa, 1994), mas que no mais atualmente; isso porque uma droga com pouca tolerabilidade, muitos efeitos colaterais hepticos e dif cil adeso, principalmente devido a sua dose de administrao (4x ao dia durante toda a vida). Donepezil (Aricept ; Eranzs ), 5 - 10mg/dia: um anticolinestersico que diminui a hidrlise da Acetilcolina por inibir a ao da acetilcolinesterase (AChE). uma droga com maior tolerabilidade, menos efeitos colaterais e de fcil administrao (dose nica diria). Entretanto, uma droga de meia-vida muito longa. Rivastigmina (Prometax ; Exelon ), 3mg, 2x/dia: tambm um anticolinestersico que atua inibindo a ao da acetilcolinesterase (AChE) e da butirilcolinesterase (BuChE), aumetando os n veis de acetilcolina de forma sinrgica nos neurnios do SNC e diminuir a toxicidade provocada pelas prote nas β-amilide. Por esta razo, considerada como droga de primeira linha. Podemos iniciar com comprimidos de 1,5mg duas vezes ao dia (3mg/dia). A cada duas semanas, a dose pode ser aumentada em 1,5mg at que se chegue a uma dose mxima de 6mg duas vezes ao dia (12mg/dia). Tem meia-vida de 5 horas, aproximadamente. Apresenta efeitos colaterais gastro-intestinais (nuseas, vmitos, etc.), o que pode indicar a interrupo do seu uso. Nos ltimos anos, foi lanado Exelon em adesivo (patch), garantindo a administrao de doses teraputicas plenas e com menos efeitos colaterais. Galantamina (Reminyl ), 8 – 16mg, 1x/dia: um inibidor da colinesterase implantado a pouco tempo no mercado farmacutico. Pode ser uma boa opo para pacientes que no apresentaram boas respostas a Rivastigmina, que apresentaram efeitos colaterais intensos ou que apresentam demncia de Alzheimer associada a demncia vascular. Portanto, pode ser a droga de primeira linha para pacientes hipertensos e diabticos. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 297 Memantina (Ebix®; Alois®), 10mg 2x/dia: é um antagonista do receptor de N-metil-D-Aspartato, utilizada para prevenir a atividade aumentada do glutamato no Alzheimer, o que é prejudicial. Deve ser utilizada em casos de DA moderados e graves, de forma isolada ou em associação. Principais efeitos adversos: fraqueza e cefaléia (5%). TRATAMENTO COMPORTAMENTAL A depender do distúrbio associado que o paciente com DA apresente, podemos lançar mão de outras classes de medicamentos que atuem nestas co-morbidades, como por exemplo: Antidepressivos, para pacientes que apresentam quadros depressivos que comprometam seu convívio social. Devemos optar por drogas com poucos efeitos anticolinérgicos (evitar, portanto, os anti-depressivos tricíclicos) Drogas psicotrópicas, para pacientes que experimentam alucinação e delírios. Anti-psicóticos (como a Risperidona), neurolépticos ou benzodiazepínicos para pacientes com insônia e quadros de vagar noturno. TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO Fisioterapia Fonoterapia Psicologia e terapia ocupacional Nutrição Cuidados da enfermagem Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 298 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. GERIATRIA DEMÊNCIA VASCULAR (Professora Januária Medeiros de Queiroga) A demência vascular (DV) consiste na segunda maior causa de demência (15%), estando seu mecanismo de ação relacionado a uma queda do fluxo sanguíneo cerebral como consequência da arterioesclerose. Com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, da incidência de doenças cardiovasculares, como diabetes e hipertensão, acredita-se que a incidência de DV venha a aumentar. Por definição, a DV refere-se a qualquer demência na qual a principal causa foi uma doença vascular encefálica. No Brasil é o segundo tipo mais comum de demência, sendo a primeira por Alzheimer. Cerca de 30% dos idosos com mais de 85 anos, sendo mais comum em homens. O termo DV tem conotações amplas, referindo-se a qualquer demência causada por doença cerebrovascular. É mais comumente utilizado para descrever os efeitos de grandes lesões tromboembólicas (demência por múltiplos infartos), mas inclui também os estados lacunares, os quadros causados por lesões únicas em territórios nobres (tálamo, giro angular), demências associadas a alterações crônicas da circulação cerebral, lesões extensas da substância branca (doença de Binswanger, leucoaraiose associada a demência), angiopatia amilóide e demências por AVC hemorrágicos. FATORES DE RISCO Sexo masculino Idade avançada Raça não-branca História prévia de Insuficiência coronariana (ICO), Hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), AVCI ou AIT, hiperlipidemia, tabagismo, etc. ETIOLOGIA Dentre as principais causas estão: Múltiplas lesões por embolia cerebral (AVC isquêmico) Única lesão em territórios estratégicos (como tálamo ou giro angular esquerdo) Síndrome lacunar Alterações crônicas da circulação cerebral Lesões extensas da substância branca (como por doença de Binswanger ou Leucoaraiose) Angiopatia amilóide cerebral (AAC) AVC hemorrágico DIAGNSTICO O diagnóstico da demência vascular pode ser estabelecido através de três vertentes: Quadro clínico + Fatores risco Neuroimagem Escalas DIAGNÓSTICO CLÍNICO O diagnóstico clínico de DV é sugerido na presença de uma tríade: Fatores clássicos de risco cerebrovascular Manifestações clínicas de episódios cerebrovasculares prévios Existência do próprio quadro demencial. A demência por múltiplos infartos caracteristicamente apresenta-se como evento agudo seguido de curso flutuante ou que progride em escada. NEUROIMAGEM Diferentemente da demência de Alzheimer, a DV pode ser revelada por dados mais objetivos em exames neurológicospor imagem, na forma de leucomicroangiopatias e áreas de infarto cerebral na TC e na RM; presença de placas de ateroma no Doppler de carótidas; etc. A tendência atual é, de fato, valorizar aspectos de neuroimagem, avaliação neuropsicológica extensa e achados de necropsia, na tentativa de definir melhor os mecanismos vasculares de comprometimento da função cognitiva. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 299 RM mostrando reas de mltiplos infartos lacunares compat veis com leucomicroangiopatias ou leucoaraiose (achados caracter sticos da demncia de Binswanger, um tipo de DV). ESCALAS Ao longo das ltimas dcadas, foram feitas diversas tentativas de padronizar os achados cl nicos da DV sob a forma de critrios diagnsticos ou escalas de probabilidade. Entretanto, em estudos epidemiolgicos provenientes de diversos centros, um percentual muito variado de casos de demncia classificado como tendo origem vascular. As explicaes para esta discrepncia provavelmente mltipla. Cerca de 11 escalas e conjuntos de critrios diagnsticos so dispon veis para o diagnstico da DV. Escalas como a de Hachinski ou a de Loeb e Gandolfo utilizam dados de anamnese e achados cl nicos, eventualmente achados em exames de neuroimagem, e sugerem maior ou menor probabilidade de origem vascular em casos individuais. A escala de Hachinski leva em considerao parmetros eminentemente cl nicos; j a escala de Loeb e Gandolf consiste em uma alterao mais recente da primeira escala, baseando-se em critrios cl nicos e em dados tomogrficos. Ambas as escalas se baseiam em pontuaes que sugerem o diagnstico de DV ou o descarta, podendo sugerir diagnstico de Alzheimer. Quanto s caracter sticas apresentadas por tais escalas, algumas merecem certas consideraes. A deteriorao em escada, por exemplo, consiste em uma forma de comprometimento das funes congnitivas que no acontece de forma linear – como no Alzheimer – mas que piora de forma gradativa, a depender do nmero de eventos vasculares que se somam ao quadro. TESTES NEUROPSICOLÓGICOS Outros testes neuropsicolgicos podem auxiliar no diagnstico da demncia, tais como: Mini-exame do estado mental (MEEM) Teste da fluncia verbal Teste de memria de 4 palavras Teste de desenho do cubo Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 300 SUBTIPOS DA DEMNCIA VASCULAR De forma sumária, os principais subtipos de demência vascular podem ser resumidos em: Demência vascular cortical (por Múltiplos Infartos): é causada por eventos vasculares de maior magnitude, sendo as principais causas: ateromatose grandes artérias (carótidas e cerebrais) e embolias (cardíacas). O quadro clínico tem início súbito, apresentando distúrbios de cognição e afasia, além de alterações neurológicas focais. Demência vascular subcortical: é causada por ateromatose de pequenos vasos ou por uma hipoperfusão cerebral generalizada. Apresenta um quadro clínico mais silencioso, que pode acontecer ao longo do envelhecimento do indivíduo mas se manifestar apenas nas suas últimas décadas de vida. Clinicamente, caracteriza-se por sinais neurológicos focais (hemiparesia motora; disartria; distúrbios de marcha, urinários; labilidade emocional) associados a degeneração cognitiva. A DV subcortical pode ser ainda subdividida em dois grupos: o Demência por infartos lacunares: são causadas por alterações em pequenas arteríolas (as quais formam lacunas vasculares pequenas, com menos de 15 mm). Os pequenos ramos mais comumente ocluídos são: artérias perfurantes lenticuloestriadas, artérias talamoestriadas, pequenas artérias pontinas, ramos medulares longos, etc. O quadro clínico é heterogêneo, a depender do foco vascular acometido. o Demência de Binswanger: também conhecida como leucoencefalopatia subcortical, caracteriza-se pelo comprometimento da substância branca da região frontal, principalmente. Seu diagnóstico é estabelecido através da TC ou da RNM, exames pelos quais pode ser observado o padrão conhecido como leucoaraiose difusa, caracterizada por hipodensidades subcorticais à TC. TRATAMENTO DA DEMNCIA VASCULAR Os objetivos do tratamento do paciente com DV envolve diversos níveis de cuidado: Retardar a progressão da doença Atuar nos fatores de risco: prevenção primária (tratar diabetes e hipertensão, suspender o tabagismo, etc.) da demência e prevenção secundária (prevenção de novas lesões cerebrovasculares) Melhora sintomática: uso de Galantamina (Reminyl®), droga bastante utilizada quando se tem associação entre demência de Alzheimer e DV; drogas anti-agregantes plaquetárias; drogas para tratar diabetes e hipertensão; etc. Uso de drogas para ativação cortical (Piritinol; Hydergine) e neuroprotetores (Pentoxifilina). Outros: Estruturação do ambiente, Déficits específicos, Cuidados à família. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 301 Portanto, podemos resumir o tratamento da DV a, praticamente, cuidados gerais para com o paciente com demncia, controle dos fatores de risco, anti-agregao plaquetria e, na presea de alteraes cognitivas importantes, associar o uso de Galantamina (anti-colinestersico). Os objetivos do tratamento dos fatores de risco para DV com relao a fase da doena esto resumidos na seguinte tabela: Estágios Fatores de risco à prevenir I - “Crebro em risco” para AVC e decl nio cognitivo HAS, DM, hiperlipidemia, Tabagismo, alcoolismo, ICC, Fibrilao atrial (FA) II – Sinais precoces de decl nio cognitivo e/ou achados de neuroimagem Preveno dos fatores de risco Antiagregantes plaquetrios: AAS 100mg 1x Anticoagulantes Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – GERIATRIA – MEDICINA P8 – 2011.1 302 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. GERIATRIA DELIRIUM (Professora Januária Medeiros de Queiroga) Conceitua-se o delirium como uma alteração da consciência (diminuição da percepção do ambiente) por um déficit de atenção (incapacidade para mantê-la, focá-la ou alterá-la), alteração na percepção de estímulos fornecidos pelo meio ou pela presença de alterações cognitivas (esquecimentos, desorientação têmporo-espacial, distúrbio da linguagem), que não podem ser atribuídos a demência (em fase inicial ou em curso) ou a qualquer outra causa mais clara. Normalmente, há alterações no sensório: por exemplo, ilusões e/ou alucinações visuais. Comumente, seu início é agudo e seu curso é flutuante, variando muito ao longo do dia. Por fim, há necessidade da presença de uma evidência de causa física. Em outras palavras, o delirium é conceituado como um estado confusional agudo que acomete o paciente idoso, especialmente aqueles com algum tipo de demência. É uma condição relativamente comum nos idosos e que possui uma alta mortalidade. OBS1: O delirium deve ser encarado como uma urgência clínica, uma vez que pode caracterizar a única forma de apresentação de doença física importante no idoso EPIDEMIOLOGIA Corresponde a 14 - 24% das internações clínicas Na hospitalização: 6% - 56% já possuem quadro de delirium Pós-operatório: 10% - 52% dos casos Mais frequente: idoso, Pós-operatório e UTI Não é diagnosticado em: 32-67% dos casos Mortalidade hospitalar em torno de 10-65% FATORES PREDISPONENTES Declínio cognitivo ou demência Doença subjacente severa Comorbidades: SNC ou outras Prejuízo funcional Idade avançada Desidratação Desnutrição Prejuízo visual e auditivo FISIOPATOLOGIA Fisiopatologicamente, o delirium pode ser conceituado como uma síndrome cerebral orgânica sem etiologia específica (o que pode se atribuir a ela uma etiologia multifatorial), que cursa, basicamente, com alterações
Compartilhar