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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO SOLO SOLOS AFETADOSPOR SAIS E SEU MANEJO Prof. Fernando F. Ferreyra Hernandez Dr. MS. em Solos e Nutrição de Plantas. Departamento de Ciências do Solo – CCA/UFC. Fortaleza/2008 ii ÍNDICE Pág. 1 Introdução ................................................................................ 3 2 Distribuição dos solos afetados por sais.................................... 4 2.1 No mundo e na América............................................................ 4 2.2 No Brasil .................................................................................... 5 3 Formação dos solos afetados por sais...................................... 6 3.1 Penetração de águas marinhas:................................................ 6 3.2 Ascensão capilar de águas freáticas ......................................... 7 3.3 Acúmulo de sais das águas de irrigação .................................. 7 4 Fontes de Sais ......................................................................... 8 4.1 Águas das chuvas ...................................................................... 8 4.2 Intemperismo dos minerais ........................................................ 9 4.3 Sais fósseis ............................................................................... 10 4.4 Atividades do homem ................................................................ 10 5 Classificação e Características dos Solos Afetados por Sais ... 10 5.1 Características usadas na identificação de solos afetados por sais. .......................................................................................... 10 5.2 Classificação dos Solos Afetados por Sais ............................. 11 5.3 Problemas de Solos Afetados por Sais e da Qualidade da Água de Irrigação. .................................................................... 13 6 Recuperação de Solos Afetados por Sais ................................. 14 6.1 Recuperação de Solos Salinos ................................................. 14 6.2 Recuperação de Solos Sódicos e Salino sódicos .................... 14 7. Práticas de Manejo para Controle dos Problemas de Solos Afetados por Sais e Qualidade de Água .................................... 16 7,1 Controle da Salinidade .............................................................. 16 7.2 Controle da Infiltração ................................................................ 21 7,3 Controle da toxicidade ............................................................... 23 8 Bibliografia .................................................................. 25 1. INTRODUÇÃO Em determinadas condições de posição do relevo, condições climáticas e de cultivo, com certa freqüência pode acontecer acúmulo de sais nos solo dando lugar a formação dos solos salinos e sódicos, também denominados de solos afetados por sais. Nestes solos, o estresse provocado pelo excesso de sais cria problemas no desenvolvimento das culturas, reduzindo a produção, podendo em casos severos, chegar a zero pela morte da cultura. Os problemas de salinidade são mais freqüentes em regiões áridas e semi-áridas onde a precipitação é menor que a evaporação o que ocasiona acúmulo de sais, principalmente em condições de má drenagem. Impactos Dos Solos Afetados Por Sais 1- Baixa produção agrícola 2- Aumento da erosão do solo causada pela água e pelo vento, devido a alta dispersão dos solos e diminuição da tensão de ruptura de agregados 3- Aumento das inundações pelo “runoff”, devido ao decréscimo da permeabilidade do solo 4- Baixa recarga das águas subterrâneas. 5- Mudanças nas formas de vida aquática de águas correntes para águas estacionadas. 6- Desbalanço ecológico devido a mudanças de cobertura de plantas mesófitas para halófitas e de plantas arbóreas para arbustivas 7- Condições insalubres para a população, devido a: 1) efeitos tóxicos de elementos como: F, B e Se, e 2) freqüentes focos de malária e outras doenças. 8- Baixo retorno econômico devido ao alto custo de cultivo, baixos rendimentos e baixa qualidade dos produtos. 4 9- Alto custo de manutenção e curto período de vida dos prédios, estradas, maquinaria agrícola, tubulações, etc., os quais podem ser corroídos pelo alto teor de sais e efeitos específicos do sódio e outros elementos devido ao decréscimo da permeabilidade do solo 2. Distribuição dos solos afetados por sais 2.1. No Mundo e na América. Tabela 1. Estimativa dos solos afetados por sais no mundo (Massoud, 1974). CONTINENTE ÀREA (há x 10-3) América do Norte 15.755 América Central e México 1.965 América do Sul 129.163 África 80.436 Ásia Central e Norte 211.448 Sul da Asia 19,983 Austrália 357.568 Europa 50.749 Total 932.185 Tabela 2. Estimativa da distribuição de solos afetados por sais na América do Sul (Massoud 1974). PAIS SALINO/ SOLONCHAKS SÓDICO/ SOLONETZ ÁREA TOTAL ..............................ha.10-3.................................. Argentina 32.473 53.139 85.612 Bolívia 5.233 716 5.949 Brasil 4.141 362 4.503 5 Chile 5.000 3.642 8.642 Colombia 907 907 Equador 387 387 Paraguai 20.008 1.879 21.902 Peru 21 21 Venezuela 1240 1.240 Total 69.410 59.753 129.163 2.2. No Brasil. Tabela 3. Solos Afetados por Sais em sete estados do Nordeste segundo o SNLCS (Pereira, 1983) Distribuição de solos afetados por sais em áreas irrigadas Perímetro Irrigado de São Gonçalo (PB): 1224 ha : - 24% solos sódicos - 4% solos salino-sódicos (Millar e Cordeiro, 1978) ) Perímetro Irrigado de Morada Nova (CE) ESTADO SOLO CE RN PB PE AL SE BA ................................. Km 2 ......................................... Planossolo Solódico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 35.095 Solonetz Solodizado 8.434 4.064 2.679 2.654 393 1.013 5.132 Solonchack Sonétzico 450 837 - - - - - Halomórfico 18 - - - - - - Outros 1.465 - -- - - - - Total 23.257 8.591 3.713 7.819 3.883 3.631 40.227 % 15,5 16,2 6,6 8,0 14,0 16,5 9,4 6 513 ha Setor K: - 13,7% de solos sódicos - 9,7 % de solos salino-sódicos - 2,3 de solos salinos (Coelho, 1983 Margem direita do Rio Cabugi (Afonso Bezerra-RN) 44 ha : - 3,03 % de solos sódicos - 16,67 de solos salino-sódicos - 9,07% de solos salinos (Matheus et al., 2004). Tabela 4 Superfície agrícola útil implantada, em operação, desativada e salinizada em seis Estados do Nordeste sob responsabilidade DNOCS. (Situação em 30/04/1991) 3 Formação dos solos afetados por sais 3.1. Penetração de águas marinhas: Em algumas áreas ou regiões próximas ao litoral a penetração da água do mar com as marés e a evaporação repetitiva pode ser responsável pelo acúmulo de sais no solo. Estes processos são comuns nos deltas dos rios (mangues). ÁREA IRRIGADA (ha) ESTADO (PROJETOS) IMPLANTADA OPERAÇÃO DESATIVADA SALINIZADA PI (4) 3.064 2.874 260 92 CE (11) 11.281 9.508 1.773 564 RN (3) 1.215 812 403 61 PB (3) 2.934 2.776 158 627 PE (5) 4.574 4.460 114 371 BA (3) 3.652 3.092 560 339 TOTAL (29) 27.138 23.870 3.268 2.024 7 3.2. Ascensão capilar de águas freáticas:quando o lençol freático se encontra próximo da superfície do solo, comumente em depressões, á água pode subir por capilaridade (ascensão capilar) para a superfície do solo ou também por diferençaa de nível (vasos comunicantes). Na superfície a água evapora e os sais se vão acumulando ate atingir concentrações prejudiciais para as plantas (figura 1). Figura 1 Influencia da Localização no acúmulo de sais em clima Semi-Árido 3.3. Acúmulo de sais das águas de irrigação: As águas de irrigação possuem sais dissolvidos. Quando a irrigação não é conduzida de forma adequada, ou seja, não se adiciona uma lâmina de água extra, alem da lâmina de irrigação necessária para satisfazer a demanda da evapotranspiração das culturas, para lixiviação dos sais solúveis fora da zona radicular, os sais podem acumular-se chegando a concentrações prejudiciais para as plantas (figura 2). EVAPORAÇÃO DEPÓSITO DE SAIS ASCENSÃO CAPILAR BARREIRA DE FLUXO LENÇOL FREATICO FLUXO DE ÁGUA SUBTERRÁNEA 8 Figura 2 Salinização por irrigação inadequada. 4 Fontes de Sais 4.1. Águas das chuvas: Os sais presentes nos oceanos tem como fontes primárias os sais derivados do intemperismo dos minerais da crosta terrestre e hoje constituem a maior fonte individual de sais para as regiões áridas e semi-áridas. O mecanismo de redistribuição dos sais dos oceanos ocorre quando gotículas de água dispersa dos oceanos e as turbulências produzem aerossoles na atmosfera ou suspendem cristais de sais ou gotículas altamente salinas. Essas pequenas partículas de sais altamente higroscópica servem TRANSPIRAÇÃO EVAPORAÇÃO ACÚMULO DE SAIS ZONA RADICULAR 9 como núcleos de condensação para a formação de novas gotas de chuva ou flocos de neve. A concentração de sais na atmosfera permanece relativamente constante durante os 50-150 Km de distancia do litoral. As quantidades de sais removidas variam durante a mesma chuva. Nos primeiros 5mm, comumente são removidos a maior percentagem de sais suspensos na atmosfera baixa. A composição e concentração dos sais na atmosfera variam a medida que as massas de ar se movimentam para o interior dos continentes. A concentração de Cl- e Na+ e a relação Cl- a Na+ nas chuvas comumente diminuem, quando aumenta a distancia do mar, devido a adição de sais de fontes terrestres. (Ca2+ e SO4 2- aumentam). No interior da maioria dos continentes o Cl- varia de 3 a 6 mg.L-1 e o SO4 2- de 5-10 mg.L-1. Nas regiões costeiras são freqüentes chuvas com 20 a 50 mg.L-1 de Cl-, e valores tão altos como 200 a 400 mg.L-1 na vizinhança de vulcões ativos. Essas pequenas partículas de sais altamente higroscópicas, podem ser removidas como partículas secas, entre as tormentas, em forma líquida ou gotas de chuva durante as tormentas. 4.2. Intemperismo dos minerais: a presença de minerais primários pouco intemperizados, principalmente em regiões áridas e semi-áridas, constituem importantes fontes de nutrientes para as plantas, entretanto também podem constituir uma fonte de sais que podem acumular-se e afetar adversamente o desenvolvimento das plantas. Diversos estudos tem mostrado, em regiões áridas e semi-áridas, que a concentração salina da solução do solo pode aumentar entre 3 a 5 mmolcL -1, quando está em contato por períodos relativamente longos com minerais primários pouco intemperizados. A quantidade dos sais solubilizados é altamente dependente dos níveis de CO2 presentes na fase gasosa em equilíbrio. Assim na parte extrema da zona radicular em solos com alta umidade a pressão parcial do CO2 pode chegar a ser maior que 10%, pelo consumo de O2 e liberação de CO2 durante o processo de respiração do solo. 10 4.3. Sais fósseis: O acúmulo de sais no solo também pode envolver sais fosseis, ou seja sais de depósitos acumulados em outras eras geológicas ou de soluções retidas na formação de sedimentos marinhos. Sua liberação pode ocorrer de forma natural ou através das atividades do homem. Um exemplo de sais fósseis encontramos na Chapada do Apodi, onde os solos tem como material de origem, calcário da formação Jandaira, do Cretáceo (frequentemente são encontrados , peixes petrificados, restos de conchas de moluscos e artrópodes, sugerindo que foi fundo de mar). No interior existem cavernas com água salina que está sendo extraída com poços profundos e usada para irrigação. 4.4. Atividades do homem: O homem constrói açudes e transporta grandes volumes de água para usar em perímetros irrigados. Toda água possui sais dissolvidos e seu uso de forma inadequada pode aumentar a salinização dos solos. Por outro lado, a adição de água extra através das irrigações, em alguns locais pode elevar o lençol freático, levando-o para próximo da superfície aumentando o risco de salinização. 5 Classificação e Características dos Solos Afetados por Sais 5.1. Características usadas na identificação de solos afetados por sais. 1) Concentração de Sais Dissolvidos Totais - SDT: determinada por evaporação até secagem de amostras de água previamente filtradas, pesando- se a quantidade de sais remanescentes. Método demorado. 2) Condutividade Elétrica – CE25 o C: é uma medida da capacidade de uma água de conduzir a corrente elétrica, a qual cresce de maneira diretamente proporcional ao conteúdo total de sais dissolvidos. Esta característica é a mais comumente utilizada para avaliar a salinidade, pela rapidez e simplicidade de sua medida. As unidades utilizadas são: mmhos/cm ou dS/m. A CE apresenta as seguintes relações com outras características: TDS (mg l-1) = CEa (dS m-1) x 640 (0,1 < CEa <5,0) 11 TDS (mg l-1) = CEa (dS m-1) x 800 (CEa > 5,0) Força iônica (mol L-1) = CEa x 0,127 Pressão Osmótica (kPa) = CEa x 0,4. 10-2 (3 < CEa < 30) 3) Percentagem de sódio trocável - PST (%) PST Na trocável x 100/ cátions trocáveis 4) Relação de adsorção de sódio – RAS: calculada pela fórmula Na+ RAS = -------------------------- [(Ca2+ + Mg2+)/2] 1/2 Onde: Na+ = Sódio solúvel, mmolc l -1 Ca2+ = cálcio solúvel, mmolc l -1 Mg2+ = magnésio solúvel, mmolc l -1 A RAS se utiliza para estimar a percentagem de sódio trocável do solo (PST), devido a sua determinação ser mais simples. 5.2. Classificação dos Solos Afetados por Sais Tabela 5: Classificação dos solos afetados por sais CLASSE DE SOLO CE PST pH dS/m Normal <4 <15 <8,5 Salino >4 <15 <8,5 Sódico <4 >15 >8,5 Salino-Sódico >4 > 15 >8,5 12 a) Solos Salinos - Apresentam altos teores de sais solúveis (CE > 4 dS/m) e relativamente baixos teores de sódio trocável (PST < 15 ou RAS < 13). - Ânions predominantes Cl - SO4 = e em menor quantidade HCO3 - e NO3 - . - Cátions predominantes: Ca2+ e Mg2+ e em menor proporção Na+ e K+. - Podem ou não apresentar precipitados: CaSO4.H2O, CaCO3 e MgCO3. - Apresentam pH inferior a 8,4 e podem encontrar-se floculados (alta permeabilidade). - Correspondem aos solos “Solonchack” (classificação russa) e “alkali branco” (literatura inicial anglo-americana). b) Solos Sódicos - Apresentam baixos teores de sais solúveis (CE < 4 dS/m) e elevados teoresde sódio trocável (PST > 15 ou RAS > 13). - O pH é superior a 8,4 (exceção dos solos sódicos degradados onde o pH pode ser inferior a 7,0).A hidrólise do Na trocável forma NaOH, que reage com o CO2 dissolvido e o pH pode chegar a 10. - Geralmente apresentam condutividade hidráulica e permeabilidade baixas (altos teores de sódio trocável dispersam os colóides, os quais, obstruem os poros). - O horizonte superficial, geralmente é de coloração escura (solubilização da matéria orgânica e deposição na superfície por evaporação). - Correspondem ao solos “Solonetz” (classificação russa) e aos “alkalis pretos” (literatura anglo-americana). 13 c) Solos Salino-Sódicos - Apresentam alta concentração de sais solúveis, como nos solos salinos (CE >4 dS/m) e alto sódio trocável, como nos solos sódicos ( PST >15 ou RAS > 13). - O pH é inferior a 8,4 (excesso de sais evita que o sódio trocável se hidrolíse). - Mantêm o estado de floculação dos colóides e conservam a permeabilidade relativamente alta. - Quando o excesso de sais é lavado, as propriedades destes solos passam a ser as dos solos sódicos, o pH se eleva e as partículas coloidais se dispersam restringindo fortemente sua permeabilidade. 5.3. Problemas de Solos Afetados por Sais e da Qualidade da Água de Irrigação. 1) Problemas de salinidade Os sais do solo e da água reduzem a disponibilidade da água para as plantas, a tal ponto que afetam os rendimentos. 2) Problemas de iInfiltração da água (sodicidade) Teores relativamente altos de sódio, ou baixos de cálcio no solo e água, reduzem a velocidade com que a água de irrigação atravessa a superfície do solo. Esta redução pode alcançar tal magnitude, que as raízes das plantas não recebam suficiente água entre as irrigações. 3) Toxicidade de íons específicos Certos íons (sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, acumulam-se nas plantas em concentrações suficientemente altas para causar danos e reduzir os rendimentos das culturas sensíveis. 4) Outros problemas Os excessos de nutrientes reduzem os rendimentos das culturas e/ou sua qualidade. As manchas nas frutas ou na folhagem prejudicam a 14 comercialização dos produtos. A corrosão excessiva dos equipamentos aumenta os custos de manutenção e reparos. 6 Recuperação de Solos Afetados por Sais A recuperação se realiza quando os solos estão fortemente afetados por sais e seu cultivo é antieconômico de maneira a reincorporar esses solos para o processo produtivo. Na recuperação de solos afetados por sais, são empregadas diversas práticas relativas ao manejo do solo, da água e da cultura. Entre elas, duas são consideradas fundamentais: a lavagem dos sais e a aplicação de melhoradores químicos, por atuar diretamente na eliminação ou correção dos problemas desses solos, para com as plantas. As demais práticas ou técnicas utilizadas (aração, subsolagem, aplicação de resíduos orgânicos, etc.) são consideradas auxiliares por atuar indiretamente sobre algumas propriedades do solo, que facilitam a recuperação. No processo de recuperação, comumente são utilizadas várias dessas técnicas de forma simultânea ou sucessiva. 6.1 Recuperação de Solos Salinos Consiste da lavagem do solo para eliminar o excesso de sais. A quantidade de água usada na lavagem varia com o método de irrigação utilizado (inundação contínua, inundação intermitente, aspersão, etc..), por isso, é necessário o monitoramento dos sais durante a lavagem. Entretanto, para o método de inundação contínua, uma regra prática indica que aproximadamente 80% dos sais solúveis são lixiviados quando passa pelo perfil do solo uma lâmina de água com a profundidade que se deseja corrigir. Problemas: - má drenagem externa e interna - falta de água de boa qualidade, - fatores econômicos, principalmente custo da água. 6.2 Recuperação de Solos Sódicos e Salino sódicos Consiste da subst i tu ição do sód io t rocável por out ro cát ion (gera lmente o cá lc io) mediante a ap l icação de corre t ivos seguida de lavagem para e l iminar o sód io . 15 A quant idade de corre t ivo pode ser ca lcu lado pe la fórmula: NG = (PSTi – PSTf) .CTC.86.h.Ds/100 Onde: NG = necessidade de gesso (kg ha - 1 ) (PSTi) = percentagem de saturação de sód io in ic ia l . PSTf = percentagem de saturação de sód io f ina l (dese jada) 86 = peso equiva lente do gesso h = profundidade do so lo a ser corr ig ida; Ds = densidade do so lo (g cm - 3 ) Corretivos: - sais solúveis de cálcio (CaSO4.2H2O e CaCl2), - sais de cálcio de baixa solubilidade (CaCO3) - ácidos e substâncias que produzem ácidos (H2SO4 e S). Reações: a) Aplicação de gesso: 2XNa + CaSO4 CaX2 + 2Na + + SO4 2- b) Aplicação de S e ácido sulfúrico S + 3O2 SO3 SO3 + H2O H2SO4 H2SO4 + CaCO3. CaSO4. + CO2 + H2O 2XNa + CaSO4 CaX2 + 2Na + + SO4 2- 16 7. Práticas de Manejo para Controle dos Problemas de Solos Afetados por Sais e Qualidade de Água São diversas as práticas relacionadas com o manejo do solo da água e da cultura que podem ser usadas para recuperação e controle dos problemas causados pela qualidade da água e solos afetados por sais. Deve-se salientar que o emprego dessas práticas ou técnicas podem ser de forma simultânea ou sucessivas. 7.1. Controle da Salinidade 1) Drenagem: A drenagem é um fator crítico para que a lixiviação dos sais seja efetiva. A drenagem inadequada, natural ou construída artificialmente pode inviabilizar a lavagem, que contrariamente pode resultar numa elevação do lençol freático e consequentemente aumentar a salinização do solo e reduzir a aeração. Diversas observações de campo indicam que para prevenir os efeitos adversos sobre os rendimentos para as culturas de sorgo, milho, algodão, repolho, etc., é necessário que o lençol freático esteja entre 0,6 e 1,0 m de profundidade. Para manter o lençol a 1,0 m, geralmente recomenda-se a instalação do sistema de drenagem entre 1,0 e 1,5 m de profundidade. 2) Lixiviação: consiste na eliminação dos sais solúveis através da passagem de certa quantidade de água que arrasta consigo os sais solúveis. Pode-se realizar a lavagem de sais com duas finalidades: a) reduzir a alta salinidade inicial do solo ate níveis toleráveis pelas culturas, denominada Lavagem de recuperação; b) Impedir a resalinização de solos recuperados ou prevenir a salinização de solos irrigados não afetados, comumente chamada de lavagem de manutenção. 3) Emprego de culturas tolerantes: as culturas se diferenciam em sua capacidade de resposta a salinidade. Algumas possuem maior capacidade de adaptação osmótica do que outras, permitindo-lhe absorver maior quantidade de água mesmo em condições salinas. A tolerância à salinidade de algumas culturas pode alcançar de 8 a 10 vezes a tolerância de outras. A amplitude 17 dessa tolerância permite maior uso das águas de salinidade moderada e aumenta a faixa aceitável de águas salinas consideradas adequadas para irrigação. Na figura 2, são indicados os limites de tolerância relativa de salinidade das culturas e na tabela 6, valores do potencial de produção para algumas culturas em função da salinidade do solo ou da água. Figura 3. Limites de tolerância relativa a salinidade das culturas. 18 Tabela 6. Tolerância a salinidade de culturas selecionadas e seu rendimento potencial em função da salinidadeda água ou do solo. 19 4) Preparo do solo a) Nivelamento do solo: Permite uma melhor distribuição da água de irrigação. A água comumente se acumula nas partes baixas acarretando alagamento e problemas de drenagem ou ao, contrário, a água não alcança os pontos altos aonde se desloca por capilaridade e ao evaporar-se na superfície concentra os sais. b) Aração profunda e subsolagem: em alguns casos, camadas de argila e areia endurecida “hardpan” dificultam a irrigação e a lixiviação dos sais. 20 Para melhora da penetração da água, essas camadas podem ser quebradas por meio de arações profundas e subsolagem, que podem atingir de 30 a 60 cm ou mais de profundidade. Os efeitos destas práticas comumente são temporários (1 a 5 anos). 5) Práticas de cultivo. a) Programa de irrigação: o controle da salinidade deve considerar o aumento das frequências das irrigações, irrigações fora de época, irrigações de pre-semeadura, de maneira a reduzir a salinidade e evitar o estresse por falta de água durante as irrigações. b) Forma de semeadura: para compensar o efeito da salinidade sobre a germinação alguns agricultores aumentam o número de sementes para aumentar a população de plantas. Quando a irrigação é por sulcos, as sementes devem ser colocadas na parte que menos acumula sais (no fundo ou no lado do sulco ou no lado do camalhão, nunca no centro do camalhão). Também pode-se empregar sulcos inclinados, plantio em fileira dupla, irrigar sulcos alternados, etc., colocando-se as sementes nas partes em que se acumulam menos sais. c) Fertilização: os adubos minerais são sais, motivo pelo qual as sementes não devem ser colocadas em contato com ele. Na fase inicial, as plantas são sensíveis a salinidade e necessitam pouco adubo. O resto do adubo deve ser fracionado o maior número de vezes possível. Considera-se que o aumento da adubação, além do necessário, não aumenta a tolerância das plantas à salinidade. 6) Métodos de irrigação: Nos métodos de irrigação por inundação e aspersão a água é distribuída uniformemente por toda a superfície e no perfil de salinidade os sais se acumulam na parte inferior da zona radicular. A quantidade de sais acumulada depende da fração de lixiviação. Em sistemas de irrigação localizada, a água é aplicada até com freqüência de um dia, de maneira que permita manter o bulbo úmido próxima da capacidade de campo. Para controle da salinidade, as irrigações devem manter o fluxo vertical de água e sais. Nestes sistemas, os sais se acumulam na superfície do solo e na periferia do bulbo úmido pelo que as primeiras 21 chuvas redistribuem os sais e podem provocar danos as plantas; por isso é recomendável manter a irrigação no período inicial das chuvas. No sistema de irrigação por sulcos, os sais se acumulam na parte superior do camalhão. Neste caso pode-se variar a forma do sulco e local de colocação das sementes para atenuar em parte o efeito da salinidade. 7) Misturas ou substituições das águas A substituição da água de irrigação por outra de qualidade superior é uma solução simples, entretanto é uma medida de difícil implementação devido a que raramente uma propriedade possui mais de uma fonte de água e de quantidades suficiente. Uma alternativa mais viável é a misturas de águas, que embora não diminua os sais, pode aumentar o volume de água de irrigação disponível e aumentar a área de cultivo. A qualidade final da água obtida na mistura pode ser estimada pela fórmula: Cf = (Ca.Qa/Qt) + Cb.Qb/Qt) Onde: Cf = concentração final da mistura, ds/m Ca = concentração da água dS/m Cb = concentração na água , dS/m Qa = quantidade da água a, percentagem Qb = quantidade da água b, percentagem Qf = quantidade de água final 7.2. Controle da Infiltração 1) Aplicação de corretivos; A aplicação de corretivos ao solo ou na água de irrigação pode melhorar a infiltração afetada pelo baixo teor de sais ou pelo alto valor da RAS da água. A adição de corretivos na água de irrigação é mais eficaz quando o problema de infiltração se deve a baixa salinidade da água (CE, 0,2 dSm-1) e quando a RAS é alta numa água de baixa a moderada salinidade (CE<1 dSm- 1). 22 O gesso é o corretivo mais comumente utilizado. Sua velocidade de dissolução varia com o tamanho de partículas ou área superficial. O gesso finamente moído (partículas ,0,25mm) é considerado de boa qualidade. 2) Misturas de águas A infiltração da água no solo, pode aumentar diminuindo a RAS da água ou aumentando a salinidade para águas com uma mesma RAS. A mistura de águas é uma prática pouco comum, entretanto seu uso em alguns casos permite aumentar a área sob cultivo. 3) Lavras a) cultivos antes de cada irrigação: as lavras superficiais comumente são usadas para controlar ervas daninhas e conseguir aeração do solo. Esta prática também favorece a penetração da água, ao aumentar a rugosidade do terreno e retardar seu deslocamento, aumentando, assim o tempo de infiltração. b) aração profunda: permite maior penetração da água durante as primeiras irrigações, depois das quais o solo volta a sua condição inicial. As arações profundas são praticadas antes do plantio ou durante o período de repouso em plantas perenes, para não danificar asraízes. Embora os benefícios sejam temporários, a maior penetração de água promove maiores rendimentos. 4) Resíduos orgânicos: Os resíduos de culturas ou de outro tipo de resíduos orgânicos, quando são colocados na superfície do solo ou são incorporados na camada superficial do solo, melhoram a penetração de água nos solos sódicos e nos irrigados com água de elevada RAS. O efeito dos resíduos é temporário, pelo que requerem incorporações antes de cada período de cultivo. Os resíduos mais eficazes são os que não se decompõem com rapidez e mantêm a porosidade mediante rachaduras e vazios. Assim, resíduos fibrosos como casca de arroz, serragem, palha de arroz, trigo, milho, etc., melhoram a infiltração, enquanto que, resíduos não fibrosos como os de 23 legumes e hortaliças não produzem mudança alguma. Para que a aplicação de resíduos seja efetiva, é necessário a aplicação de grandes volumes (10 a 30 % da camada superficial). 4) Manejo da irrigação a) frequência das irrigações: As irrigações frequentes mantel o nível de umidade elevado na zona radicular e reduzem a possibilidade de que ocorra estado de escassez de água na planta. b) irrigação pré-plantio: é uma prática eficaz em solos de infiltração lenta, e em alguns solos é a única forma de suprir de água camadas inferiores da zona radicular. c) duração da irrigação: a prolongação do tempo de irrigação e redução da vazão podem melhorar a infiltração da água no solo. Entretanto, necessita cuidadoso controle da irrigação para evitar problemas de aeração, alagamento, drenagem e escoamento excessivo. d) substituição de sistemas de irrigação: a substituição de sistemas de irrigação por superfície por outros como aspersão convencional em solos arenosos, microaspersão ou gotejo pode melhorar o manejo da irrigação. 7.3. Controle da toxicidade 1) Lixiviação: A lavagem dos íons cloreto, sódio e boro podem ser lixiviados para reduzir seu potencial de toxicidade. A facilidade de lavagem, desses íons, normalmente sege a ordem: Cl > Na > B. Para a eliminação dos cloretos pode- se seguir a mesma fórmula usada para eliminar o excesso de sais solúveis, adaptada as concentrações de cloretos. Cla NLCl = ------------------5ClES – Cla NLCL = Lixiviação mínima ou necessidade de lavagem. 24 Cla = Concentração de cloreto na água, mmol l -1l ClES = Concentração de cloreto no extrato de saturação, mmol l -1l Para o caso do sódio, necessita-se uma fração de lixiviação de 0,3 ou maior quando a RAS da água é superior a 9, pelo que as vezes é preferível aplicar corretivos. O boro é mais difícil de lixiviar que o cloreto e o sódio, requerendo uma necessidade de lavagem três vezes superior a dos cloretos e sais em geral. 2) Seleção de culturas Uma maneira de solucionar o problema de toxicidade é a substituição da cultura por outra mais tolerante. As tolerâncias aproximadas a toxicidades de íons para algumas culturas são fornecidas em tabelas, entretanto deve-se salientar que a tolerância das culturas pode ser afetada pelo clima, manejo da irrigação, fase de desenvolvimento e época de maturação. 3) Práticas de cultivo As práticas de cultivo que favorecem o bom manejo da irrigação, certamente favorecem o controle dos efeitos de ions tóxicos. Entre essas práticas encontram-se: nivelamento, modificação do perfil, drenagem superficial, etc. No caso de toxicidade de boro, alguns agricultores aplicam uma dose extra de nitrogênio para favorecer o crescimento vegetativo e contrabalancear o efeito do íon toxico. Em algumas culturas forrageiras os cortes se fazem mais frequentes para evitar que o boro se acumule a níveis toxicos. Quando o efeito é do sódio podem ser aplicados corretivos ao solo ou a água de irrigação (alto RAS). 5) Misturas ou substituições de água A mistura de águas de distintas qualidades pode aumentar o volume de água disponível para irrigação e melhorar a qualidade da mesma. 25 8 Bibliografia AYERS, R.S. & WESTCOT, D. W. A qualidade da água na agricultura. Estudos FAO:Irrigação e Drenagem, 29 Revisado1. Tradução de: Ghyi, H. R.; Medeiros, J. F. de & Damasceno, F.A.V. Campina Grande, UFPB,1991. 218p. BRESLER,E.; B.L. McNEAL & d. L. CARTER Saline and Sodic Soil, Principles- Dynamic-Modeling. Springer- Verlag Berlin Heidelberg, germany (Advqanced Series in Agricultural Sciences 10). 1982, 236p. CHHABRA, R. Soil Salinity and whater quality. A.A. Balkema Publishers, USA. 284p. GHEYI, H. R.; QUEIROZ, j. e. & MEDEIROS , J. F. 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