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Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED Departamento de História Disciplina: Pré História Geral e do Brasil Semestre: 2012/1 Profa:Luisa Tombini Wittmann Nome dos Alunos: Arielle Rosa Rodrigues, Jhenifer Gallo, Maiara Ferreira, Marina Luiz e Mariana Vogt Data: 23 de maio de 2012 Madu Gaspar Professora do Museu Nacional/UFRJ Doutora em arqueologia pela USP Pós – doutora pela Universidade do Arizona Madu Gaspar Origem da palavra. Etimologia: Tupi Tamba significa conchas e ki significa amontoado. Tamba+ ki = Sambaqui O que são sambaquis? São elevações de forma arredondada que , em alguns casos, chegam a 30 metros de altura Construídos basicamente de restos faunísticos como conchas, ossos de peixe e mamíferos Apresentam inúmeros artefatos (pedras, ossos, marcas de estacas e manchas de fogueira). Destaque para as conchas de berbigão 1º - Considerado um fenômeno natural, tal como os concheiros 2º - Local de descarte de restos de cozinha de bandos coletores 3º (hoje) – Resultado de ordenado trabalho social que tinha entre os objetivos a construção de um grande marco paisagístico. Caracterização de uma sociedade mais complexa do que se havia proposto na década de 80 Divergências Concheiro no Rio Grande do Sul. Breve história da pesquisa em sambaqui 1870 – 1930: Grande número de pesquisa acerca dos achados de Lagoa Santa (MG), sambaquis no sul do país e culturas do baixo Amazonas; início de duas linhas de pesquisa(naturalista e artificialista) para esclarecer as origens dos sambaquis. Explicações sobre a origem dos sambaquis: “Naturalistas”: Recuo do mar e ação dos ventos exercida sobre as conchas lançadas à praia “Artificiais”: Resultado da ação antrópica “Corrente mista”: combinação entre elementos naturais e humanos Até 1950: Trabalhos pontuais que não permitiam saber o porquê da ocupação litorânea 1950: começam as pesquisas arqueológicas denominadas de “modernas”; vinda de pesquisadores estrangeiros; compreensão da ocupação litorânea; proteção dos sambaquis. 1960: Fortalecimento das instituições de pesquisa; sem diferenças significativas entre arqueólogos “amadores” e “profissionais” Luís de Castro Faria, antropólogo, em 1950. Disponível em <http://centrodememoria.cnpq.br/publicacoes3.html> Acesso 21 de maio de 2012. Visão pioneira de Ricardo Krone (1908) “ Para ele, os sambaquis antigos estavam mais afastados da costa atual, neles predominavam as ostras, ao passo que os mais modernos situavam-se próximos do litoral, sendo compostos basicamente de conchas de berbigão. Krone propôs, assim, de maneira pioneira, que a linha da costa não era estável e sugeriu que os sítios poderiam auxiliar no estabelecimento da variação do nível do mar” (Gaspar, 2000, p.15)” 13 1965: arqueologia passa por uma significativa renovação; criação de Programa Nacional de Pesquisa(Propana) coordenado por Clifford Evans e Betty Meggers 1973: criação da Missão Franco-Brasileira coordenada por Anette Laming - Emperaire Final de 1980: estabelecimento de mudança culturais ao longo do tempo Programa Nacional de Pesquisa (Pronapa) Apoiado pelo Smithisonian Institution e Pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN) estando ativo até 1970 Objetivo principal: Visão geral da ocupação do território nacional Criação de uma sequência cronológica da ocupação do território brasileiro. Atenção especial para sítios cerâmicos Missão Franco - Brasileira Criada através de um convênio entre o Centre National de la Recerche Scientifique, Museu Nacional e a Universidade Federal de Minas Gerais Concentrou-se na região da Lagoa Santa, dando preferência ao estudo dos antigos caçadores e as pinturas e gravuras feitas nas cavernas e paredões Deu ênfase a um estudo sistemático de regiões de Minas Gerais e posteriormente do Piauí. Em 1975, Missão Franco-Brasileira, comandada pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire encontrou crânio humano na região de Lagoa Santa. Sobre os sambaquis, não ocorram pesquisas significativas, por isso: “ O esquema interpretativo sustentava que as diferentes camadas que integravam os sambaquis eram os restos de sucessivos episódios de ocupação por parte de bandos coletores nômades e que os moluscos eram a base de sua dieta alimentar.” (GASPAR, 2000, p.22) Diferenças presentes nos artefatos e composição da fauna que integram os sambaquis foram consideradas evidências da diversidade cultural relacionadas às camadas de ocupação Pesquisas isoladas estudavam a ordenação espacial de estruturas internas do sítios Primeira vertente “artificialista” considera os sambaquis “a lata de lixo da pré-história” No começo contavam-se conchas e osso e depois procuraram estabelecer uma correlação entre os restos faunísticos e a quantidade de alimentos que eles representavam Abandono do impacto visual causado pelas conchas. Foco: estabelecimento da dieta alimentar dos sambaquis Até início de 1990: sambaquis vistos como bando de coletores de moluscos e que com as alterações ambientais (mudança do nível do mar e/ou esgotamento dos bancos de moluscos) modificaram sua base econômica e se tornaram, predominantemente, pescadores Hoje: Sambaquis não são mais concebidos como um bando de caçadores de moluscos e, sim, como uma sociedade complexa em vários aspectos, como o social. Rompimento da caracterização dos sambaquis em termos “primitivos” Pouca pesquisa sobre as relações econômicas, unidades de produção e relações de trocas Fotografia de peças de cerâmica encontradas em um sambaqui do litoral de Jaguaruna. Segunda vertente “artificialista”: sambaquis como espécie de monumento Sítios são considerados marcos paisagísticos onde constam importantes referências espaciais. Pesquisa-se também as regras de construção, o tempo envolvido e o número de pessoas necessárias entre outros aspectos. Retomada da corrente “mista”: começo das investigações sobre os processos de formação natural que resultaram na feição atual dos sambaquis Após o abandono do sítio pelo grupo que o construiu, é possível que o local tenha passado por inúmeros processos naturais e culturais, os quais determinaram as feições atuais Logo, percebe-se que estudar sambaquis é um projeto de longa duração e que envolve muita complexidade A renovação que passa a arqueologia brasileira tem reflexos na maneira de abordar os sambaquis. A Ocupação do litoral brasileiro A pesca ou a coleta de moluscos é um indício de que esse grupo já estava habituado a exploração das águas e que teria desenvolvido seu modo de vida há muito tempo Por volta de 7 mil anos AP o mar no litoral brasileiro estava recuado e esse ambiente,hoje coberto pelas águas,pode ter sido o local de moradia dos primeiros sambaquieiros. Três hipóteses acerca da ocupação do litoral brasileiro 1º - Os sítios mais antigos forma construídos por uma população que já explorava o ambiente aquático 2º - essa população veio de um ambiente semelhante ao da costa brasileira 3º - Ou desenvolveu seu modo de vida no litoral há muito tempo Tipo de ocupação Locais preferidos para edificação dos sítios: pontos de interseção ambiental próximos do mar, da lagoa, do canal, do manguezal,da restinga, da floresta;em pequenas elevações como cordões litorâneos,topo de dunas ou meia encosta de morros. Para garantir o abastecimento do grupo,estabeleciam seus assentamentos em locais estratégicos onde pudessem obter alimentos todos os dias e durante o ano inteiro A posição central dos sambaquis em relação aos recursos,a inexistência de hiatos na estratigrafia dos sítios e as particularidades do ambientes litorâneos indicam trata-se de um grupo sedentário e que se mantinha por longos períodos em seu territórios. Tempo de ocupação Segundo os dados,alguns sambaquis funcionaram por mias de cem anos, ininterruptamente.Outros estiveram ativos durante mais de mil anos “É ,de fato,surpreendente que um sambaquiestivesse ativo durante mais de mil anos;todavia os dados são incontestáveis.” Missão arqueológica internacional estuda em detalhes o processo de formação do sambaqui. Foto: Paulo De Blasis. Tecnologia, arte e domínio do mar Grande intimidade com o mar Embarcações para idas e vindas entre o continente e as ilhas Provavelmente existiam armadilhas para pesca e redes de arrasto Eficiente arsenal tecnológico para a captura de pescado, além de contar com objetos para triturar e moer alimentos Os vegetais tem baixa preservação nos sambaquis Esses grupos exploravam o entorno dos sítios Exímios na técnica do polimento Local aonde os sambaquis poliam Destreza em lidar com as pedras Oficinas de polimento: locais para preparação de lâminas de machado Zoólitos: esculturas de pedra e osso André Prous identificou dois conjuntos de peças segundo suas principais categorias estilísticas: esculturas geométricas e objetos variados que incluem representações naturalistas de animais. A cavidade na parte ventral das esculturas leva a pensar que estão referidas ao domínio e da fertilidade Animais marinhos são abundantemente representados Sambaquis próximos, moradores vizinhos Evidenciou uma cultura material produzida por pessoas que circulavam entre os sítios Com a analise de distribuição espacial dos sítios e o estudo dos recursos faunísticos indicaram que os assentamentos estavam próximos e ocorria a sobreposição de áreas de captação de recursos Exploração conjunta do ambiente 46 A ocupação da área se deu através de concentrações de sítios e não através de sítios isolados Dois tipos de interação são sugeridos: relações rotineiras e relações esporádicas Possibilidade de comunicação visual Existem duas categorias de sítios: os grandes (6m de espessura) e os pequenos (não ultrapassam 2m) O tamanho destes podem depender de dois fatores: o tempo do assentamento ou o numero de pessoas envolvidas em sua construção Estudo das camadas estratigráficas Atividade nos sambaquis e indícios de mudança social Estudo de diferentes sambaquis pequenos e grandes região sul e sudeste Principais semelhanças entre eles: espaço de atividades rotineiras de um grupo de pescadores e local de sepultamento dos membros As dimensões também variam de região para região. Na região de SC alguns sítios cumpriam determinadas funções, como local para sepultamento. No RJ, há uma associação no espaço de moradia e o local de sepultamento. Outra diferença entre os sambaquis, é o indicio de mudança social. Por volta de 1.900 anos AP, o hábito de juntar conchas cessou. Resultando dessa mudança de costume uma matriz sedimentar de cor preta, rica em matéria orgânica, no topo de alguns sambaquis. Estando ainda em estudo. Essas mudanças sociais são aspectos regionais ou temporais. São também decorrentes da interação social com outras culturas. Esse contato pode explicar a desestruturação da sociedade sambaquieira. Uma das características marcantes dos sambaquis de Santa Catarina, era acumular restos faunísticos e construir sítios monumentais. Ritual funerário O tratamento dado aos mortos em Jabuticabeira II, era feito de forma especifica seguindo um ritual (corpos em posição fetal, covas pequenas e ovaladas, objetos pessoais acompanhavam o morto, o fogo fazia parte do sepultamento) A queima da madeira para que os outros sambaquis pudessem ver, através da fumaça, que estava acontecendo essa cerimônia. Mesmo seguindo um padrão, os sepultamentos não eram idênticos. Essas diferenças mostram que houve tratamento especial para certos indivíduos. Podendo se referir á existência de desigualdade social. Vaso encontrado junto ao sepultado Organização social: bando, tribo ou chefia? A organização social trata da organização das pessoas, do acesso diferenciado a bens e informações, da composição, do tamanho e dos limites dos grupos humanos" (GASPAR, 2000, p.71) Bando: sociedade pouco numerosa, liderança individualizada, sem poder institucionalizado, e a divisão do trabalho baseia-se na idade e no sexo. Tribo: maior que bando, baseia-se na agricultura e na domesticação de animais, grupo sedentário, ligados por laços de parentesco, entre outros. Chefia: Hierarquizadas, liderança é herdada, pode institucionalizado e a sociedade tende a ser mais diferenciada. Estado: população estratificada em distintas classes econômicas, autoridade legal se apoia na burocracia ou no poder militar. É difícil definir a que tipo de sociedade se encaixam os sambaquis. Podemos ter como elemento definidor, o número de pessoas envolvidas e o tipo de ocupação, mas as definições melhores formuladas centram-se na organização social, na política ou na relação com os recursos. Pelas especificidades de alguns sítios, as dimensões de alguns assentamentos e o tratamento diferenciados aos mortos, supõe-se que existia uma hierarquia social. É uma sociedade complexa que incluía na trama social um número significativo de pessoas, não eram um bando de simples coletores de moluscos, mas também não tinham uma liderança institucionalizada, mas é preciso tentar entender esse sistema sociocultural. Sambaqui central Figueirinha I, Jaguaruna Sambaqui Figueirinha II <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui> , acesso: 22/05/12 http://ccatorze.blogspot.com.br/2011/04/sambaqui-arqueologia-do-litoral.html > , acesso: 22/05/12 http://www.lagoasanta.com.br/homem/pintura_rupestres.htm> , acesso: 22/05/12 http://www.museunacional.ufrj.br/MuseuNacional/AntropoBio/CRANIOLUZIA.htm > , acesso: 22/05/12 GASPAR, madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Bibliografia
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