Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NUPAUB – Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras – USP Center for Research on Human Population and Wetlands in Brazil – USP PPaarraa uummaa aaqqüüiiccuullttuurraa ssuusstteennttáávveell ddoo BBrraassiill AANNTTÔÔNNIIOO CCAARRLLOOSS DDIIEEGGUUEESS Banco Mundial / FAO Artigos n.º 3 São Paulo 2006 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO A aqüicultura comercial foi introduzida na década 1950, com a introdução de espécies exóticas tais como carpa, tilápia, e truta que começaram a ser cultivadas sobretudo em tanques de pequenas propriedades. Em alguns estados do sul do Brasil, a partir dos anos 1970 surgiram experiências de consorciamento entre algumas dessas espécies e a produção de aves e suínos que se beneficiaram dos canais de comercialização por cooperativas do setor agropecuário. Também na década de 70 começaram os experimentos de cultivo de camarão de água doce, ostras e moluscos por pequenos produtores. Nos anos subseqüentes, expandiu-se no Brasil a pesca esportiva em tanques destinados aos “pesque e pague”, nas periferias das grandes cidades que incentivaram a produção de alevinos e jovens que posteriormente eram transferidos aos tanques de produção. (Aguirre et alii, 1989) Finalmente, em meados dos anos 90, se iniciou a carcinocultura baseada no Penaeus vanamei, já anteriormente produzidos em outros países da América Latina. Com os problemas encontrados em grandes países produtores, como o Equador, capitais e pacotes tecnológicos foram transferidos ao Nordeste Brasileiro, onde esse cultivo se expandiu aumentando sobretudo a produção dirigida ao mercado externo. Este relatório tem por objetivo apresentar os fatores e processos limitantes ao desenvolvimento da aqüicultura sustentável no Brasil, apesar de seu grande potencial e da expansão recente da carcinocultura de exportação. Grande parte da produção aqüícola brasileira é realizada por pequenos produtores que podem desempenhar um papel fundamental na segurança alimentar, na geração de emprego e renda e no desenvolvimento de uma aqüicultura sustentável tanto ecológica quanto socialmente. A proposta básica deste trabalho é analisar o potencial e as perspectivas de uma aqüicultura familiar sustentável a partir de estudos de caso que mostram a importância dessa organização social da produção no Brasil 11.. PPOOTTEENNCCIIAALL AAQQÜÜÍÍCCOOLLAA NNOO BBRRAASSIILL O Brasil, com mais de 8.5 milhões de quilômetros quadrados, tem uma das maiores reservas hídricas mundiais, com cerca de 12% da água doce disponível no planeta. A maior disponibilidade de corpos de água se situam na região Norte e Centro Oeste que concentra cerca de 89% do potencial de águas superficiais do país.Na região Centro Oeste existe uma das maiores áreas úmidas do mundo - o Pantanal-, com cerca de 140.000 km2, que poderia conter alguns projetos de aqüicultura com espécies nativas, desde que respeitadas as condições ambientais. ( Ver mapa 1, em anexo ) Na região Norte e Centro-Oeste região, no entanto, vive somente 14.5% da população brasileira, apresentando cerca de 9,2% da demanda hídrica nacional. Já os 11% restantes do potencial hídrico do Brasil encontram-se nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste, onde se localizam 85,5% da população e 90,8% da demanda de água do Brasil. (ANA: Avaliação das Águas do Brasil, 2002). Existem no país cerca de 5 milhões de hectares de represas e lagos, sobretudo na região Norte apresentando um grande potencial tanto de pesca em rios e lagos quanto de aqüicultura de água doce. Dessa constatação resulta que, apesar do potencial de aqüicultura de água doce ser muito grande na Região Norte, a reduzida população, a falta de infraestrutura para comercio e transporte dos produtos aqüícolas são obstáculos consideráveis à. expansão dessa atividade na região. Além disso, nessa região existe uma pesca importante em água doce, com grande potencial de aumento dentro de um sistema adequado de manejo. Por outro lado, algumas espécies nativas já estão sendo cultivadas em outras regiões do país. Somente em represas hidrelétricas existiam cerca de 5,3 milhões de hectares de área inundada, parte dos quais podem ser usados para aqüicultura de água doce. (Borghetti, J. R. 2000). Grande parte dessas represas localiza-se na Bacia Amazônica, na Bacia do Rio Paraná (Sul-Centro Oeste) e do Rio São Francisco (Nordeste). Na Amazônia, a aqüicultura de água doce ainda é incipiente, mas existe um grande potencial tanto para o manejo da pesca quanto para a aqüicultura nos inúmeros lagos de água doce do Médio Amazonas, sobretudo naqueles em que existem acordos de pesca e manejo pesqueiro realizados entre o IBAMA e as comunidades ribeirinhas desses lagos. Na Região Nordeste,existe nessa região um grande número de açudes particulares (estimados em mais de 20.000, segundo SEAP - Overview, 2005) dos quais 620 construídos em parceria com o DNOCS, armazenando cerca de 1,5 bilhões de metros cúbicos de água. Um potencial considerável para a expansão da aqüicultura reside nas grandes áreas de projetos de irrigação que podem consorciar produção agrícola e aqüícola. Em 2001 havia 3.113 milhões de hectares de áreas irrigadas para a agricultura e um potencial de 14,6 milhões de hectares disponíveis para agricultura irrigada. Existe, portanto um grande potencial para a aqüicultura de água doce e somente uma pequena parte é hoje explorada. O país também dispõe de uma extensa faixa costeira de 8.400 quilômetros constituída por praias, estuários, lagunas, recifes de coral, além de uma das maiores áreas de mangue. O potencial aqüícola na área costeira também é considerável desde que sejam respeitados os limitantes de ordem ecológica e social. Existem, por exemplo, mais de 25.000 kms de mangue que são considerados pela legislação ambiental como Áreas de Proteção Permanente e que portanto não podem ser usados para atividades comerciais. Nessas áreas costeiras concentram- se mais de 700.000 pescadores artesanais e extratores de moluscos que usam tradicionalmente esses espaços e que podem ser prejudicados por uma expansão não controlada da aqüicultura. De acordo com estudos preliminares da SEBRAE/RJ só no litoral do Rio de Janeiro foram identificados 64.800 hectares de áreas propícias à implantação de cultivos de moluscos. Além disso junto à SEAP existem solicitações de cultivo de ostras, camarões, vieiras e mexilhões cobrindo uma área de 1.404 toneladas, propondo gerar cerca de 36.000 empregos. Além do potencial em área propícia, o Brasil também dispõe, sobretudo no Norte e Nordeste condições climáticas ideais (temperatura da água, salinidade, etc.) para o cultivo. A taxa de crescimento do mexilhão, por exemplo (8 meses) é muito superior aos outros países e a do camarão Vanamei permite várias safras por ano. A ABCC-Associação Brasileira de Criadores de Camarão estima que, no litoral nordestino, em áreas adjacentes a manguezais, salinas e viveiros de peixes desativados existam cerca de 300.000 hectares propícios à expansão da carcinocultura.(site www.abccam.com.br) 22.. SSIITTUUAAÇÇÃÃOO AATTUUAALL O Brasil é hoje (2004)-o segundo produtor aqüícola da América Latina, com cerca de 270.000 toneladas ano, mas bem abaixo do Chile que tem uma produção superior a 600.000 toneladas ano. A produção aqüícola brasileira começou a crescer mais rapidamente depois de 1995 com o aumento da carcinocultura, apesar da aqüicultura comercial ter demonstrado um crescimento constante, sobretudo a partir da década de 2.000. Deve-se ressaltar, no entanto, que parte desse aumento pode ser creditada à melhoria dasestatísticas coletadas pelo IBAMA e Secretaria Nacional de Pesca e Aqüicultura. 2.1. A produção A produção aqüícola, em 2003, representou cerca de 28.0% da produção total de pescado no Brasil,(comparados com cerca de 30% a nível mundial) tendo crescido anualmente em cerca de 3-4% nos últimos anos. A produção extrativa (marítima e continental) tem se estabilizado em tomo de 700.00.000 toneladas. Pelos dados de 2004 (IBAMA, 2005) houve um pequeno crescimento percentual da pesca extrativa e uma pequena redução percentual da aqüicultura causada pela diminuição da produção do camarão P. vanamei. A aqüicultura tem desempenhado um papel cada vez mais importante na produção de peixes, crustáceos e moluscos no Brasil, conforme pode se ver na tabela abaixo: PESCA AQÜICULTURA Marinha Continental Total % 1997 644.585,0 88.0 10.180,0 77.493,5 87.673,5 12.0 732.258,5 1999 603.941,5 81.1 26.513,5 114.142,5 140.656,0 18.9 744.597,5 2001 730.377,5 77.7 52.532,0 156.532,5 209.378,5 22.3 939.756,0 2003 712.144 71.9 103.120,0 175.000,0 278.128,0 28.1 990.272 2004 746.216 73.5 88.967,0 179.737,5 269.697,0 26.5 1.015,913 Fonte: MMA/IBAMA Estatística da Pesca 2001 Esse aumento da participação da aqüicultura tanto continental quanto marítima deve-se, em grande parte à quase estagnação das capturas extrativas e a investimentos maiores em estruturas produtivas sobretudo nas de cultivo de camarão (carcinocultura) para exportação. 2.1.1. A aqüicultura continental A aqüicultura continental de água doce tem apresentado um crescimento continuo nos últimos anos passando de cerca de 77.500 toneladas em 1997 para cerca de 179.734 toneladas em 2004 ou seja, um aumento de mais de 100% no período. Em 2004 a Região Sul era responsável por 32,7% da produção, seguida pelo Nordeste, com 21,6%, pelo Sudeste com 16.9% tendo o Norte uma participação inferior a 1% do total da aqüicultura continental. (IBAMA, 2005) As espécies exóticas representaram, em 2004 mais de 60% da produção aqüícola de água doce, destacando-se a tilápia (Oreochromis niloticus, Tilapia rendalli) com 69.078 toneladas, seguida pela carpa (Cyprinus carpio, Ctenopharyngodon idella, Hypophthalmichthys molitrix e Aristichtlys nobilis),com uma produção de 45.169 toneladas.O estado com maior produção da tilápia é o Ceará, seguido pelo Paraná e Bahia. Já o Rio Grande do Sul é o maior produtor de carpa, seguido por Santa Catarina e São Paulo. Em Santa Catarina, predomina a pequena propriedade rural, onde produtores de suínos e avicultores consorciam essas atividades com a criação extensiva de carpas e tilápias. Nelas se aproveitam os desejos da suinocultura e por esse consorciamento se obtém uma redução de 50% no custo de produção de carpa. Além disso, consorcia-se a aqüicultura com a rizicultura, obtendo-se, além da produção de carpas uma melhoria na produção de arroz. (Aguirre et alii, 1989) Ainda nos Estados do Sul e Sudeste, parte do crescimento da produção de alevinos e da aqüicultura extensiva de peixes deve-se à grande expansão de tanques dedicados a “pesque e pague”, locais de pesca esportiva. (Castagnolli, 1996) As espécies nativas da Amazônia e Pantanal apresentaram um crescimento constante nos últimos anos cerca de 30% da produção nacional, destacando-se o tambaqui (Colos soma macropomum), com 25.272 toneladas, o pacu (Piaractus mesopotomicus) com cerca de 8.946 toneladas e o piau com 2.472 toneladas (2004). O maior produtor de tambaqui é o Estado do Amazonas, de pacu e piau é o Mato Grosso. O camarão de água doce (Macobrachium rosembergii) é cultivado em 20 estados, em cerca de 600 fazendas com uma produção de 400 toneladas, concentradas nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Este último Estado produz 50% de todo o camarão de água doce do Brasil. Também há uma produção crescente de peixes ornamentais, sobretudo nos Estados de Minas Gerais e São Paulo (SEAP-Overview 2004) 2.1.2. A aqüicultura marinha a) A Carcinocultura. A aqüicultura de água salgada e salobra foi a que apresentou o maior crescimento dos últimos anos e a espécie responsável por esse crescimento foi o Litopenaeus vannamei., colocando o Brasil como o sexto maior produtor no mundo. Em 2003 o cultivo de camarão atingiu 90.190 toneladas tendo diminuído cerca de 16% em 2004, quando a produção foi de 75.904 toneladas.(ABCC, 2005). As causas dessa redução são diversas, mas sobressaem a ação anti-dumping movida, nos Estados Unidos pela Southern Shrimp Alliance, problemas sanitários e de enfermidades, em particular a infecção causada pelo vírus IMNV que apareceu no Brasil no último trimestre de 2003, espalhando- se sobretudo no Nordeste. Essa infecção causou grande mortandade nas fazendas contaminadas (SEAP-overview, 2005). Um outro fator importante na queda da renda das exportações foi a continua desvalorização do dólar americano que perdeu quase um quarto de seu valor frente À moeda local nos últimos dois anos. Em razão desses fatores, os carcinocultores cuja atividade está entre as mais lucrativas da economia brasileira entraram em crise, agravada pela redução recente das importações pela União Européia em razão do uso excessivo de antibióticos. (FAO, 2004). Também em razão da crise muitas fazendas fecharam suas portas e demitiram seus funcionários. Em 2004 a região com maior produção e área cultivada foi a do Nordeste, com 883 fazendas (88,6% do total) com 15.039 hectares cultivados (90.6% do total) e uma produção de 70.694 toneladas (ou 93,1%) do total, concentrados principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte (381 produtores), Ceará (191 produtores). Pernambuco (98 produtores). b) Mitilicultura e ostreicultura. Em Santa Catarina originou-se a mitilicultura comercial, existindo mais de 1.000 produtores de mexilhão e ostras, organizados em associações e cooperativas. A mitilicultura estas e expandindo em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde algumas fazendas já apresentam 100 toneladas de mexilhão por hectare. Também existem produtores individuais e cooperativas de produção de ostra em São Paulo. No Maranhão se produzem moluscos desde 1999, pelo sistema longlline. O Ceará conta com 70 marisqueiros produzindo ostras. Em Pernambuco o cultivo de ostras em estuários registrou uma produção de 7.500 dúzias, havendo uma previsão de 33.000 dúzias. No Espírito Santo 14 municípios litorâneos produzem mexilhão. c) Cultivo de algas: Também existem cultivos da alga Graciaria, nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, onde existem cerca de 6.300 hectares de áreas propícias para essa atividade. (SEAP-Overview, 2005) d) Piscicultura marinha: existem poucas experiências de piscicultura marinha, sendo que as pesquisas se concentram na tainha (Mugil Platanus), no robalo (Centropomus parallelus), linguado (Paralichthys orbignianus) e peixe rei (Odontesthes argentinensis). (Streit, D et alii, 2002) 2.2. Sistemas de produção e informação: a) Tecnologia Na aqüicultura continental, há uma tendência de intensificação das práticas de cultivo com o uso de jaulas instaladas em reservatórios e tanques, sendo a tilapia e tambaqui as espécies mais cultivadas por esse processo. Também em estados do Sul, particularmente em Santa Catarina há o consorciamento entre a criação de porcos e carpas, obtendo-se uma produção de 2 toneladas/há/ano de carpa ou tilápia do Nilo. Na aqüicultura marítima, o camarão vanamei é cultivado em tanques na área costeira e a produtividade média passou de 1.015 quilos em 1997 para 5.458 quilos em 2003, decaindo para 4.473 kg/hectare em 2004, em razão dos fatores analisados anteriormente. No Rio Grande do Sul e Santa Catarinaexiste o cultivo do camarão-rosa nativo, utilizando uma tecnologia acessível ao produtor. Produção de alevinos e pós-larvas de camarão Um dos fatores técnicos limitantes em alguns cultivos, como o de moluscos e alguns crustáceos é a limitada capacidade de produção de pós-larvas. Por outro lado, existem experiências exitosas de produção e fornecimento de alevinos para aqüicultores e cooperativas, como a da Universidade Federal de Santa Catarina/Epagri que será relatada posteriormente. Já para o camarão Vanamei parece não haver esse fator limitante, pois as pós-larvas são produzidas em laboratórios, em grande parte, privados. Em aqüicultura de água doce, existe a produção de alevinos seja por laboratórios ou criadores privados seja por órgãos públicos, como a CODEVASF, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco que produz mais de 20 milhões de alevinos/ano destinados à estocagem e piscicultura nos reservatórios do Rio São Francisco. Há também a produção de alevinos e pós-larvas de camarão por laboratórios privados na região sul do país, totalizando cerca de 10 milhões de alevinos/ano. (Borghetti, J.R.2000) No setor de rações e alimentos para o cultivo, o Brasil produz cerca de 270.000 toneladas de ração para peixes em 2005 em 10 grandes industriais e um grande número de pequenas fábricas. Grande parte dessa produção se destina ao cultivo de camarão. O volume de ração importado é insignificante. Treinamento e extensão aqüícola. Um outro fator limitante são os serviços de extensão aqüícola, existentes somente em raros estados, uma vez que a maioria das instituições governamentais de extensão tanto agrícola quanto pesqueira/aqüícola ligadas ao sistema Emater foram desativadas na década de 1980.Em alguns raros estados, sobretudo os do Sul do Brasil algumas dessas instituições ainda permaneceram atuantes e tem desempenhado um papel importante na difusão de tecnologias e treinamento de aqüicultores. O Estado de Santa Catarina, onde existem muitos aqüicultores organizados funciona uma empresa estadual de extensão (Epagri) bastante ativa junto aos produtores. Mais recentemente, na falta desses serviços governamentais de extensão, algumas ONGs tem desempenhado esse papel, tendo contribuído para a organização de produtores aqüícolas tanto no litoral quanto no meio rural. Sistema de informação aqüícola As informações sobre aqüicultura ainda são insuficientes e fragmentadas, apesar de ter havido uma melhoria considerável das estatísticas organizadas pelo IBAMA, a partir de 1995 e pela SEAP. Essa melhoria foi promovida, em grande parte pela contribuição dos centros regionais especializados de gestão dos recursos pesqueiros, sob a Coordenação Geral de Gestão dos Recursos Pesqueiros do IBAMA, em Brasília e de outras instituições universitárias e de pesquisa. No caso da aqüicultura, existem séries estatísticas sobre produção por espécie e estado da Federação, tanto na maricultura de água doce quanto salgada/salobra. Os dados sobre carcinocultura têm sido coletados pela ABCC. Faltam, no entanto, dados sobre a mão- de-obra empregada, renda gerada, áreas ocupadas por tipo de cultivo, comércio e consumo de produtos da aqüicultura (com exceção daqueles que são exportados). 2.3. Financiamento à Aqüicultura O financiamento às atividades aqüícolas conta com um conjunto de programas e linhas de crédito governamentais, com juros baixos, instituído tanto pela SEAP quanto por outros ministérios como o da Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, em geral para agricultores, pescadores e aqüicultores familiares. A maioria das linhas de crédito está associada a programas específicos do Governo Federal recentemente instituídos e os recursos são, no geral, operados por bancos oficiais (BNDES, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, por Fundos Constitucionais de Financiamento da Região Norte, Nordeste e Centro-Oeste, etc.).Para a Região Norte e Nordeste existem o Fundo Pro-Aqua que financiam projetos de aqüicultura, cooperativas em empresas e o PROGER para unidades de piscicultura em assentamentos de reforma agrária. PRONAF (Programa de apoio à pequena produção familiar) é o maior programa governamental nacional, abrangendo todas as regiões do país, de apoio à produção familiar tanto agrícola quanto pesqueira e aqüícola. Existem subprogramas destinados a produtores de baixa renda, em diversos níveis. O Pronaf financia tanto projetos familiares como empresariais e cooperativas e o valor da dotação financeira depende de cada subprograma. Não se dispõe de informação sobre o número de aqüicultores financiados por programa, mas as alternativas de financiamento da aqüicultura são hoje muito maiores que as do passado. No entanto os aqüicultores de baixa renda têm dificuldade de acesso a esses financiamentos, apesar dos juros baixos, por vários motivos entre os quais, necessidade de apresentar garantias, obstáculos encontrados na apresentação de projetos para serem aprovados; desconhecimento dos procedimentos legais, em virtude, em parte do baixo nível de instrução, riscos de não pagamento das parcelas tendo-se em vista as dificuldades de comercialização do produto, entre outros. Dificuldades da mesma ordem encontram as pequenas cooperativas, associações de aqüicultores e colônias de pescadores. Um setor que parece ter-se utilizado dessas vantagens de financiamento é o dos carcinocultores voltados para a exportação, particularmente de pequeno e médio porte que também nos últimos anos tem tido dificuldade em honrar seus compromissos bancários em virtude da baixa do preço do camarão no mercado internacional e das enfermidades anteriormente mencionadas que tem atingido as fazendas de carcinocultura. (Site: Presidência.org.br/SEAP) 2.4. Comercialização nacional e mercado externo Mercado interno O Brasil tem cerca de 179 milhões de habitantes (2004), uma população urbana que atinge mais de 80%e um consumo crescente de proteína animal. A média nacional de consumo de pescado é de cerca de 7kg/hab/ano,(metade da média mundial) mas chega a 30 kg/hab/ano na Amazônia, 25 kg/hab/ano em Brasília, 20 kg/hab/ano em São Paulo e l6.4/hab/ano no Rio de Janeiro (SEAP-Overview, 2005). O baixo consumo médio de pescado no Brasil está relacionado principalmente com seu alto preço de mercado, comparado com outras fontes de proteína animal,como a carne de boi, de porco e de frango,mais baratas que o peixe. Assim o consumo de carne de boi é de 37.1 kg/hab/ano e a de frango é de 3 l.2kg/hab/ano. Por outro lado, os custos de produção da aqüicultura já são hoje, em média, mais baixos que os da pesca extrativa o que pode tomar mais acessíveis esses produtos à população. Hoje, a produção da aqüicultura equivale a 5% do total de proteína animal no país. A SEAP tem envidado esforços de estímulo ao consumo de pescado através do Programa de Melhoria nos entrepostos de pesca e da Semana do Peixe, em colaboração com a Associação Brasileira de Supermercados.(ABRAS). Segundo informações da ABRAS a venda de produtos pesqueiros aumentou em 23% entre 2002 e 2003. Comercio Exterior Em 2001, segundo dados do Ministério de Industria e Comércio, organizados pela SEAP (2004 e 2005) o Brasil exportou US$ 283,5; em 2002, cerca de US$ 352,4 milhões; em 2003 cerca de US$ 427; e em foram exportados US$436,3 milhões, equivalente a 107.015 mil toneladas o que revela uma curva ascendente que superou o déficit que até então era importado. (IBAMA, 2005) No que se refere a produtos de aqüicultura os dados mostram que quase a metade das exportações brasileiras são de camarão P.vanamei que foram de 40.000 toneladas em 2002, no valorde US$ 175.5 milhões; 60.872 toneladas em 2003, no valor de US$ 244,8 milhões. Já em 2004 verificou-se um decréscimo na exportação, passando a 54.478 mil toneladas no valor de US$ 219,3 milhões. (IBAMA, 2005). Em 2005 continuou a se verificar uma diminuição importante do volume e do valor exportado de P. vananmei que atingiu 149.247 milhões de dólares dos quais 87,0% foram para a Europa e somente 7,37% para os USA. Entre os peixes cultivados somente há referência à tilapia que dobrou o valor exportado entre 2003 e 2004 passando de US$ 225.5 para US$ 460,1 mil. (IBAMA, 2005) 33.. EEMMPPRREEGGOO EE RREENNDDAA Calcula-se que cerca de 100,000 pessoas estão ocupadas em atividades de aqüicultura continental e marinha, ainda que grande parte delas tem aí um emprego parcial, combinado com outras atividades, sobretudo agrícolas e outras exercem essa atividade para a subsistência familiar. (SEAP- Overview, 2005) O único censo das pessoas empregadas na aqüicultura foi realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2000 e se baseia no produtor que assinala a aqüicultura como atividade principal, deixando provavelmente de fora um grande número de produtores que tem na aqüicultura uma atividade somente complementar. O Censo do IBGE registrou 19.277 aqüicultores que tem no cultivo de organismos aquáticos sua atividade principal e são assim distribuídos Regiões Número Percentagem Norte: 1.135 6.0% Nordeste 8.211 43.0% Sudeste 4.979 26.0% Sul 3.239 17.0% Centro-Oeste 1.713 9.0% Fonte:IBGE, Censo 2000 Ainda segundo o IBGE o estado com maior número de aqüicultores é a Bahia, com 2.520 aqüicultores, seguido pelo Rio Grande do Norte e Ceará. No Sudeste é o Estado de São Paulo que apresenta o maior número de aqüicultores, seguido de Minas Gerais. No Sul, o Paraná ocupa o primeiro lugar (1551) seguido de Santa Catarina. No Sudeste, o primeiro lugar em número de aqüicultores é Goiás com 917 aqüicultores e no Norte é Tocantins, com 320 aqüicultores. Constata-se pelos dados acima que o Nordeste é que a mais concentra aqüicultores, ainda que esta região tenha a maior porcentagem de pessoas empregadas na carcinocultura. No entanto, a aqüicultura já representa uma alternativa importante de renda para os produtores de tilápia em estados do Nordeste como o Ceará e nos estados do sul, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul onde há uma concentração de produtores de moluscos e carpa, respectivamente. A ABCC calcula que a carcinocultura cria 3.75 empregos diretos e indiretos por hectare, totalizando cerca de 50.000 empregos, sobretudo no Nordeste. Esse número, no entanto, parece ser questionável, pois dados do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) somente havia 0.7 empregos por hectare nessa atividade Pesquisas de campo realizadas pelo IDEMAQ, no Rio Grande do Norte (Sales, 2003) indicam que a média de emprego gerado pela aqüicultura não ultrapassa 0.9 empregados por hectare. Segundo dados da ABCC (2004), dos 997 produtores cadastrados cerca de 712 (ou 71,4%) são considerados pequenos produtores (até 50 hectares) produzindo 15,2% do total; 233 ou 31,4%) são médios proprietários (de 50 a 100 hectares) produzindo 30,7% do total cultivado e 52 (ou 5,2%) são grandes proprietários (mais de 100 hectares) produzindo 54,2% do total. (site www.abcc.com.br) Em Santa Catarina, onde se concentra 97% da produção de mexilhões há cerca de 15.000 pessoas empregadas direta ou indiretamente no setor. Grande parte desses produtores eram pescadores artesanais que se reconverteram à aqüicultura quando a pesca começou a declinar a partir dos anos 1980. Há por outro lado uma expansão gradativa de pequenos projetos governamentais, particulares e organizados por ONGs e associações locais baseados em aqüicultura marítima, como está ocorrendo no litoral de São Paulo e Rio de Janeiro e que oferecem uma fonte de trabalho e renda para pescadores artesanais cuja produção extrativa tem diminuído consideravelmente nos últimos anos. Não existem estudos sobre renda auferida pelos produtores, mas estudo realizado no Rio Grande do Norte mostra (Sales, 2003) que em alguns locais a renda auferida pela aqüicultura de pequeno porte é bem mais elevada que aquela dos pescadores artesanais. 44.. IIMMPPAACCTTOOSS AAMMBBIIEENNTTAAIISS DDAASS AATTIIVVIIDDAADDEESS HHUUMMAANNAASS SSOOBBRREE OOSS AAMMBBIIEENNTTEESS AAQQUUÁÁTTIICCOOSS A aqüicultura é uma atividade que exige água de boa qualidade, mas nas últimas décadas muitos habitats propícios à aqüicultura estão sendo degradados. Em algumas regiões costeiras, como a baía de Florianópolis (SC), atividades de mitilicultura e ostreicultura já são ameaçadas pela poluição marinha, sobretudo nos meses de verão quando a poluição urbana é maior pelo aumento da população de turistas. É impossível, no âmbito deste relatório, analisar os impactos das atividades humanas sobre os ambientes aquáticos que se acentuaram, a partir da década de 1970 com o intenso crescimento econômico, baseado na agroindústria de exportação e agricultura irrigada, no aumento do parque industrial implantado sobretudo nas áreas costeiras, na expansão urbana, na mineração e desmatamento intensivo, na construção de hidrelétricas cada vez maiores, no aumento da sobrepesca, da produção de papel e celulose e, na última década, na grande expansão da monocultura da soja e de outros grãos na Amazônia Esses processos resultaram em altos níveis de degradação ambiental e poluição das águas, assoreamento de lagos e lagunas, aumento do teor de metais pesados e mercúrio tanto em águas costeiras quanto interiores, salinização de áreas irrigadas, ocupação desordenada de ambientes costeiros. Também é verdade que nesse período o Estado desenvolveu mecanismos de planejamento e de controle ambiental, como a exigência de estudos e relatórios e impactos ambientais, de audiências públicas para a apresentação e aprovação de projetos impactantes. Por outro lado, foi implantada uma rede de instituições ambientais, de áreas protegidas de diversas categorias e legislação cada vez mais aperfeiçoada, ainda que a fiscalização e monitoramento ainda sejam frágeis e inadequados em muitas regiões. Aumentou também o controle da sociedade civil (Ongs, grupos indígenas e de populações tradicionais) sobre grandes projetos. No que se refere à aqüicultura, algumas atividades como a carcinocultura tem apresentado impactos negativos sobre o meio- ambiente costeiro em particular nas regiões Norte e Nordeste onde os grupos de pressão da sociedade civil são mais frágeis e os lobbies empresariais são mais fortes, conseguindo apoios na área governamental. No entanto, também na região sul os efeitos da degradação ambiental são importantes como é o caso do parque ostreícola e de mitilicultura de Santa Catarina que sofre os impactos negativos da grande expansão urbana e turística sobretudo nos meses do verão. 55.. AAPPOOIIOO IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAALL EE LLEEGGAALL ÀÀ AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA 5.1. Instituições Governamentais Federais a) SEAP Secretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca: Pela primeira vez no Brasil a pesca e aqüicultura estão representadas a nível ministerial, com a criação, em 2003 da Secretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca Na SEAP existe uma Diretoria de Desenvolvimento da Aqüicultura (DIDAQ), dentro da qual estão a Coordenação Geral de Maricultura e a Coordenação da Aqüicultura Continental. A SEAP tem hoje representações regionais e estaduais que transmitem e coordenam nos Estados os planos da SEAP. Em 2005 o orçamento federal para aqüicultura era de 15,1milhões de reais, mas teve uma redução de mais de 50% em função de reduções orçamentais federais. - CONAPE: Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca: órgão consultivo da SEAP formado por representantes governamentais, de representação de pescadores, aqüicultores e industriais de pesca tem a função de assessorar a SEAP na construção de políticas públicas para a pesca e aqüicultura - Conferências de Pesca e Aqüicultura: A SEAP organizou duas conferências nacionais de consulta sobre a pesca e aqüicultura em 2003 e 2005. Essas conferências são precedidas de conferencias estaduais das quais são levadas propostas para as conferências nacionais. Essas conferências têm grande participação de representantes de pescadores e pequenos aqüicultores, mas participação reduzida das associações de aqüicultores, sobretudo da carcinocultura. Estas últimas são criticadas por terem participação reduzida nas conferencias e por exercerem pressão direta sobre a SEAP além de terem lobbies estaduais e regionais importantes no Congresso Nacional e Assembléias Legislativas Estaduais, sobretudo dos Estados do Nordeste. A política da SEAP tem sido de apoio às atividades de aqüicultura, privilegiando aquelas voltadas à exportação, como a carcinocultura. Em muitos casos a SEAP é vista como aliada dos carcinocultores, sendo criticada por associações de pescadores artesanais e organizações não-governamentais ambientalistas em virtude da conversão de extensas áreas de mangue em fazendas, com grandes impactos ambientais e sociais. Estrutura jurídica Um dos obstáculos ao desenvolvimento da aqüicultura, sobretudo a costeira e marítima reside na desarticulação entre os órgãos responsáveis pelo estímulo à produção, principalmente a SEAP e os órgãos licenciadores, de maneira especial o IBAMA.Além disso, inúmeros outros órgãos públicos precisam ser consultados (ANA, Marinha, etc.) o que torna complexo o processo de licenciamento, uma vez que a maioria das áreas onde se instalam os parques aqüícolas costeiros é de propriedade da União. Por outro lado, esses órgãos recebem um número grande de pedidos de licenciamento e tendo-se em vista os impactos negativos sobre o ambiente costeiro, denunciados por órgãos como o Ministério Público, as entidades licenciadoras são analisar detalhadamente cada pedido. O número reduzido de analistas ambientais dessas instituições também dificulta a análise. Há casos conhecidos e denunciados pelo Ministério Público e da Advocacia pública, em alguns estados nordestinos em que técnicos e funcionários de órgãos licenciadores fazem os estudos necessários para a obtenção da licença, o que é proibido por lei. A legislação brasileira anterior à criação da SEAP tem poucos artigos referentes à aqüicultura, o que tem sido um grave entrave ao desenvolvimento e regulamentação das atividades aqüícolas. A SEAP instituiu um Grupo de Trabalho para rever a legislação vigente e elaborar um novo Código de Aqüicultura que ainda não foi promulgado. Mesmo depois da criação da SEAP, órgão responsável pelo estimulo ao desenvolvimento das atividades aqüícolas e pesqueiras, continuaram os conflitos entre essa secretaria e o IBAMA, responsável pela preservação do ambiente costeiro. O processo de licenciamento,a cargo do IBAMA é considerado longo demais pelos aqüicultores, pois exige analise detalhada dos impactos ambientais, além da autorização de uso do espaço costeiro, a ser fornecido pelo Serviço de Patrimônio da União, vinculado ao Ministério de Planejamento. Existem hoje (2005, SEAP- Overview) cerca de 714 processos de projetos de aqui cultura, sobretudo de carcinocultura sendo analisados pelos órgãos oficiais cujos proponentes aguardam uma decisão final que pode levar meses. Estima-se que uma grande maioria das fazendas de carcinocultura (cerca de 60 a 80 porcento do total) esteja funcionando e produzindo sem a autorização final legal. Pela instrução normativa interministerial de 28 de maio de 2004, a SEAP, em acordo com diversos ministérios tentou disciplinar o processo de solicitação de implantação de projetos e fazendas aqüícolas. Por essa instrução, o Escritório Estadual da SEAP inicia o processo concedendo o Registro de Aqüicultor ao interessado, recebendo o projeto do interessado e encaminhando às várias instâncias: à Agência Nacional das Águas que concede outorga de direito de uso dos recursos hídricos: ao IBAMA, a licença ambiental e ao Serviço de Patrimônio da União- SPU, a concessão do espaço costeiro para o projeto. É importante se lembrar que, no Brasil, as áreas próprias para aqüicultura são, em grande parte, propriedade da União. b) Ministério do Meio-Ambiente - Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente (IBAMA) do Ministério do Meio-Ambiente, do qual foram retiradas algumas funções e passadas à Secretaria de Aqüicultura e Pesca tem a função de licenciar, juntamente com órgãos ambientais estaduais as fazendas de cultivo. O Ministério do Meio-Ambiente/IBAMA tem um papel fundamental a desempenhar no desenvolvimento da aqüicultura pois coordenam dois programas fundamentais para o gerenciamento e planejamento do uso dos espaços costeiros e continentais: O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro/ zoneamento ecológico-econômico e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC que serão analisados posteriormente. c) CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, instância máxima de regulamentação ambiental no Brasil, criou, junto com instancias governamentais, ONGs e institutos de pesquisa um Grupo de Trabalho sobre licenciamento da atividade de carcinocultura que resultou na resolução CONAMA n. 312, de outubro de 2002 que disciplina o licenciamento da atividade, possibilitando a exploração econômica com a preservação ambiental. A resolução 312 do CONAMA afirma que as instalações de carcinocultura devem obedecer ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e ao Zoneamento Ecológico Econômico. A resolução exige licenciamento ambiental, com apresentação de Estudos de Impacto Ambiental para as fazendas maiores de 50 hectares, devendo elas deixarem um mínimo de 20% da área para a preservação integral. Uma vez cumpridas as exigências legais a licença de funcionamento é fornecida pelo IBAMA ou pelo órgão estadual de meio-ambiente que também são responsáveis pelo monitoramento das operações. Além dessa resolução, já em 1986 o CONAMA, através da resolução 20 estabelece padrões de qualidade da água doces, salobras e salinas, assegurando os diversos tipos de uso mais adequado a cada um. d) ANA- Agência Nacional de Águas. A legislação sobre o uso da água tem se aperfeiçoado no Brasil, em anos recentes, com a criação da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) em 1995, junto ao Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Essa Secretaria elaborou a Política Nacional de Recursos Hídricos, promulgada pela lei n. 9.433 em 1997 que consolida a gestão desses recursos sobretudo através da criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Em 2.000 foi criada a Agência Nacional de Águas a quem compete a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Compete à ANA a outorga dos direitos de uso dos recursos aquáticos e nesse sentido é mais um órgão oficial importante a ser consultado quando da aprovação de projetos de aqüicultura (ANA, 2002). 5.2. Órgãos governamentais Estaduais Em vários estados existem institutos de pesca ou instituições semelhantes e órgãos ambientais estaduais e municipais que promovem, dão autorizações e fiscalizam as atividades de aqüicultura. Em muitos casos, esses órgãos estaduais sofrem uma pressão maior por parte da aqüicultores e suas associações para liberarem áreas de cultivo.5.3. Instituições e programas de pesquisa Instituições de pesquisa tanto federais quanto estaduais tem longa tradição de pesquisa sobre a aqüicultura no Brasil. Existem 89 instituições de pesquisa envolvidas, sendo 32 delas situadas no Sudeste, 23 no sul, 21 no Nordeste e 5 no Centro-Oeste . Essas instituições oferecem 16 cursos de nível médio, 42 cursos de graduação, 28 cursos de especialização, 27 cursos de mestrado e 13 programas de doutorado no setor. Dentre essas instituições destacam-se os cursos de engenharia de pesca (e aqüicultura) onde é formado o pessoal técnico empregado nas fazendas de carcinocultura, particularmente no Nordeste. Existem, no entanto, algumas universidades, como a Federal de Santa Catarina que tem programas de extensão em aqüicultura e laboratórios bem equipados que fornecem juvenis e pós-larvas para as fazendas e projetos de aqüicultura. 5.4. Instituições privadas No Brasil, existem mais de 80 associações de pequenos aqüicultores, mas com fraca articulação fora do nível local/municipal e com pouca capacidade de expressar seus interesses regional ou nacionalmente. (SEAP- Overview, 2005). Existem, no entanto, algumas poucas associações ligadas à aqüicultura comercial e de exportação que tem capacidade de influenciar políticas públicas para o setor. Entre elas estão: a) Associação Brasileira de Criadores de Camarão - ABCC que tem maior acesso a instituições públicas, como a SEAP e maior capacidade de lobby com membros do poder legislativo tanto federal quanto estadual. A ABCC congrega 10 associações regionais e atua principalmente no apoio à exportação e defesa do setor em discussões internacionais, como a defesa feita junto às autoridades norte- americanas que impuseram medidas anti- dumping a várias empresas brasileiras exportadoras de camarão. Além da ABCC existem outras associações ligadas à aqüicultura: ABRACOA: Associação Brasileira de Organismos Aquáticos, formada em 1982 e a AQUABIO: Associação Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, formada em 2002 sobretudo por técnicos e pesquisadores para fornecer subsídios técnicos e científicos aos aqui cultores. 5.5. Principais Programas ligados à aqüicultura 5.5.1. Da SEAP: Programa de Desenvolvimento local da Maricultura: PLDM A instrução normativa da SEAP,de 3 de fevereiro de 2006 instituiu os comitês estaduais e locais de aqüicultura - PLDM- com a finalidade de integrar as ações dos diversos ministérios e instituições públicas e privadas que atuam na área. Uma das funções desses comitês é demarcar as áreas para os parques aqüícolas e para o exercício da pesca artesanal. Cada comitê será gerido por um comitê gestor, coordenado pela SEAP e constituído por órgãos governamentais, representantes de aqüicultores e pescadores, Organizações não- governamentais e instituições de pesquisa. A instrução normativa enfatiza a necessidade de articulação da definição das áreas aqüícolas com os planos de gerenciamento costeiro e zoneamento ecológico econômico para disciplinar o uso do solo em áreas costeiras, evitando-se sua degradação.As solicitações de instalação de projetos e fazendas aqüícolas deverão ser feitas prioritariamente nas áreas reservadas para essas atividades: os parques aqüícolas estaduais e municipais. Os dois primeiros comitês PLDM foram criados em Pernambuco e Alagoas. Programa de melhoria das condições sanitárias que deve ser iniciado este ano visa estabelecer controle sanitário e bacteriológico para a produção de moluscos, a começar pelo Estado de Santa /Catarina, maior produtor de ostras e mexilhões do Brasil. 5.5.2. Programas do Ministério do Meio- Ambiente/IBAMA de relevância para a aqüicultura. Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro O ordenamento territorial costeiro é considerado fundamental para resolver os conflitos entre as diversas atividades econômicas existentes no litoral O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro foi implantado pela lei 7.661 de maio de 1988 e prevê o zoneamento de usos e atividades da zona costeira, dando prioridade de conservação e proteção aos recursos naturais renováveis e não renováveis,aos sítios ecológicos de relevância cultura e unidades de proteção, bem como a monumentos que integram o patrimônio historio e paisagístico do litoral. Pelo decreto n. 5.300, de 7 de dezembro de 2004, o Presidente da Republica regulamentou a lei n.7661 de maio de 1988, dispondo sobre regras de uso e ocupação da zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima. Esse decreto estabelece as bases para a formulação de políticas, planos e programas federais, estaduais e municipais e constitui, sem dúvida, um avanço sobre a situação anterior. Os instrumentos mais importantes são os Planos Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro que serão instituídos por lei, onde devem estar definidos o sistema de gestão costeiro e seus instrumentos, as infrações e penalidades previstas em leis.As competências são distribuídas entre o Ministério do Meio-Ambiente, o IBAMA e os Poderes Públicos Estaduais e Municipais. Entre as varias regras de uso e ocupação da zona costeira está o artigo 5 onde se afirma que a aprovação de financiamento com recursos da União e fontes externas para empreendimentos, incluindo a aqüicultura ficará condicionada à sua compatibilidade com as normas e diretrizes do planejamento territorial do Estado e Municípios; qualquer desmatamento, quando previsto em lei, será compensado pela averbação de uma área equivalente; os bancos de moluscos e formações coralíneas e rochosas serão identificados e delimitados; será garantido o acesso público ao mar. Além disso, o decreto define os limites, objetivos e competências para a gestão da orla marítima. Ficam estabelecidas diversas classes de espaços litorâneos, dos mais preservados aos mais intensamente utilizados por atividades humanas. As atividades de maricultura estão incluídas na classe B, entendidas como atividades compatíveis com a conservação das características e funções ambientais. O litoral do Nordeste, onde se encontram as fazendas de aqüicultura foi considerada uma área prioritária para a implementação do Decreto 5.300, implicando uma maior atenção do poder público para essas áreas. Nenhum dos estados do Nordeste aprovou ainda uma lei estadual de gerenciamento costeiro. Propostas de zoneamento costeiro existem nos estados do Maranhão, do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba (parte do litoral), Alagoas, Sergipe. No estado da Bahia já existe o zoneamento e um anteprojeto de Lei do Plano Estadual do Gerenciamento Costeiro. Por enquanto, a nosso conhecimento, somente a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, aprovou uma lei estadual de gerenciamento costeiro em setembro de 2005 que deverá disciplinar o desenvolvimento e a preservação ambiental e deverá ser um instrumento importante para regulamentar as fazendas aqüícolas do litoral catarinense. Programa de Áreas protegidas marinhas de uso sustentável e aqüicultura As áreas protegidas marinhas e costeiras que cobrem uma superfície cada vez maior do litoral brasileiro podem ser considerados instrumentos importantes para a gestão dos espaços litorâneos. Além de parques nacionais marinhos, onde não é permitida a presença humana, as unidades de conservação de uso sustentável são categorias que podem ajudar a disciplinar o uso do espaço costeiro, reservando a pescadores e aquicultores espaços e acessos aos recursos naturais garantidos pela legislação. O Brasil é pioneiro na América Latina na criação de áreas protegidas de uso sustentável na região costeira/oceânica, regulamentadas pelo Sistema Nacionalde Áreas Protegidas-APAs. São elas: as reservas extrativistas, as reservas de desenvolvimento sustentável e as áreas de proteção ambiental. Ao contrario das áreas protegidas de proteção integral (parques nacionais, estações ecológicas, etc.) as áreas de uso sustentável pressupõe a presença de populações tradicionais (pescadores artesanais, pequenos aqüicultores, entre outros).( Ver mapa 2, em anexo) Essas áreas cobrem hoje milhares de hectares em águas estuarinas e costeiras e a tendência é de crescimento rápido. Nas áreas costeiras de uso sustentável já existem projetos de pesca e aqüicultura com a finalidade de aumentar a renda dessas populações e garantir, ao mesmo tempo, a sustentabilidade dos recursos naturais marinhos. Os projetos de maricultura (mexilhões, ostras) e de manejo pesqueiro são promissores para as populações tradicionais pois essas reservas têm limites territoriais reconhecidos por lei, de uso exclusivo de uma associação local e planos de manejo. Compete ao CNPT Conselho Nacional de Populações Tradicionais, órgão ligado ao IBAMA a implantação das Reservas Extrativistas e de Desenvolvimento Sustentável. Nas águas continentais, as experiências mais promissoras são as dos Acordos de Pesca em lagos fluviais da Amazônia, garantidos por regulamentos aprovados pelo IBAMA. Os Acordos de Pesca são regulamentados pela normativa número 29/03/IBAMA. Este instrumento tem o objetivo de definir as regras de acesso e de uso dos recursos pesqueiros numa determinada região, elaborados pela própria comunidade e demais usuários. Os acordos são realizados entre pescadores locais e os de fora, entre pescadores artesanais e industriais, em geral na região Amazônica. Vários desses acordos estão em funcionamento em lagos do Médio Amazonas Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX marinhas) Reservas extrativistas marinhas são unidades de conservação de uso sustentável destinadas à conservação dos recursos marinhos e à melhoria das condições de vida das comunidades associadas a essa unidade.. As RESEXs são áreas de domínio público, concedida às populações tradicionais, necessitando, portanto, de desapropriação de áreas particulares. São regidas por um Conselho Deliberativo que tem a primeira função de aprovar o Plano de Manejo. Já foram criadas cerca de 9 cerca de reservas extrativistas marinhas sendo 2 no Pará, 1 no Piauí/Maranhão, 1 no Ceará; 2 na Bahia, 1 no Rio de Janeiro, 1 em Santa Catarina e 1 em São Paulo. Algumas delas são de grande extensão territorial, como a de Cabo Frio (RJ) com 56.000 ha, a de Ponta do Corumbau (Bahia, com 38.000 hectares) (Site IBAMA, 2006) Outras 30 novas reservas extrativistas marinhas estão sendo analisadas pelo CNPT e há cerca de 160 novos pedidos de criação aguardando estudos e pareceres técnicos. (Ver Mapa 2, em anexo) Reservas de Desenvolvimento Sustentável- RDS São unidades de conservação de uso sustentável destinadas à conservação dos recursos e à melhoria das condições de vida das comunidades tradicionais. As RDSs são definidas no art. 20 do SNUC como: "uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica Deverá ser regida por um Conselho Deliberativo, sendo também necessária a aprovação do Plano de Manejo, que "definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos" (parágrafo 6°). Existe, até agora, RDS criada na Ponta do Tubarão, Galinhos-Guamaré (Rio Grande do Norte): importante pólo de pesca artesanal (sardinha e peixe voador), onde a RDS foi criada como uma reação dos pescadores à carcinicultura, ao turismo convencional e ao petróleo. Na Amazônia existe um número crescente de RDS sendo criadas no Estado do Amazonas, onde existe também a RDS de Mamirauá que adquiriu grande experiência em manejo comunitário de recursos pesqueiros. APAs- Áreas de Proteção ambiental São unidades de conservação de uso sustentável destinadas a resolver conflitos de uso. O artigo 15 do SNUC define APA como ''uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais."As APAs são constituídas de terras públicas e privadas, devendo dispor de um Conselho" presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei" (parágrafo 5°). Existem mais de uma dezena de APAS no litoral brasileiro, muitas delas ocupando extensos espaços costeiros ocupados por diferentes tipos de atividades humanas e unidades de conservação. Cada APA tem um conselho gestor formado pela administração (IBAMA), órgãos de meio-ambiente estaduais e municipais, Organizações não-governamentais e representantes de associações locais. A legislação indica que qualquer projeto que possa ter impacto significativo sobre o meio-ambiente deve apresentar um estudo de impacto ambiental. Pela sua amplitude e pelo seu tipo de regulamentação, a APA pode ser um instrumento importante nos planos de zoneamento ecológico/econômico do litoral. Existem hoje propostas de legislação para se proibir fazendas de carcinocultura nas unidades de conservação de uso sustentável, incluindo nas Áreas de Proteção Ambiental.( Ver mapa 2 em anexo) Existem APAs de grande extensão territorial, estendendo-se por centenas de quilômetros como é o caso da APA do Arquipélago do Marajó, no Pará, a APA das Reentrâncias Maranhenses, e dos Pequenos Lençóis, que cobrem quase todo o litoral do Estado do Maranhão, a APA da Costa dos Corais que abrange grande parte do litoral Pernambuco (413.563 hectares), A APA de Cairuçu, no litoral do Rio de Janeiro ; as APAs de Guaraqueçaba e de Guaratuba que se estendem por grande arte do litoral paranaense e a APA da Baleia Franca que cobre grande parte do litoral catarinense. Além delas, existe um grande número de Áreas de Proteção ambiental espalhadas pelo litoral brasileiro e que configuram um grande potencial de planejamento e gerenciamento costeiro. Fóruns de pesca ou do litoral São instrumentos não regulamentados que surgem da própria organização da comunidade e sua necessidade de discutir seus problemas e buscar suas soluções. Em não existindo uma regulamentação, ele pode ocorrer de várias formas, com variados participantes, desde a própria comunidade como também agentes de governos municipais, estaduais e federais e/ou ONGs. Em geral os Fóruns são espaços de debate estimulados por entidades não-governamentais, e governamentais, empresários sindicatos, igrejas, e outras associações, para solucionar conflitos decorrentes dos diversos tipos de pesca, atividades turísticas e de gestão territorial. Existem experiências de fóruns no Ceará, na Lagoa dos Patos (RGS), na lagoa de Ibiraquera (Santa Catarina) podem ser consideradas instâncias importantes para a solução de conflitos entre diversas atividades e usuários bem como para planos de zoneamento econômico-ecológico em páreas costeiras. ( Ver mapa 2 em anexo) 5.5.3. Programas de empresas privadas Algumas entidades de aqüicultura, entre as quais cooperativas e a AssociaçãoBrasileira de Criadores de Camarão-ABCC, estão desenvolvendo um sistema de certificação visando a melhoria do sistema de gestão dos empreendimentos, incluindo a produção de pós-larvas, rastreabilidade, controle do produto, preservação ambiental e segurança no trabalho. Além disso, a ABCC elaborou um manual de Uso das Boas Práticas de Fabricação da ração de camarão cultivado, envolvendo a compra de ingredientes, seu armazenamento, processamento, armazenamento e transporte. (www.abccam.com.br) 5.5.4. Instrumentos internacionais A Agenda 21 e o Código de Pesca Responsável Tanto a Agenda 21 quanto o Código de Pesca Responsáveis estão sendo considerados como instrumentos importantes de gestão dos recursos aquáticos no Brasil e cada vez mais incorporados em programas tanto governamentais quanto de ONGs e Associações locais. 66.. AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA,, SSEEGGUURRAANNÇÇAA AALLIIMMEENNTTAARR,, PPOOBBRREEZZAA EE RREENNDDAA.. No Brasil, o potencial de aumento da pesca marítima é reduzido e os efeitos da sobrepesca em áreas costeiras e da degradação ambiental fazem com que a renda dos pescadores artesanais decresça a cada ano. A esses fatores ambientais constata-se que a falta de emprego nessas áreas atrai um número cada vez maior de pessoas sem qualificação profissional para atividades extrativas (coletas de moluscos), aumentando a pressão sobre os recursos naturais, os conflitos com os pescadores profissionais e causando uma diminuição de renda ainda maior. No entanto, deve-se constatar que apesar do pouco apoio dos governos, a pesca artesanal representa mais de 50% da produção de produtos da pesca, e em algumas regiões como o Nordeste, a importância dessa pesca é ainda maior que nos estados do Sul e Sudeste, tanto em número de pessoas empregadas quando na contribuição para a segurança alimentar. É conhecido que, sobretudo no Nordeste, as regiões estuarinas e costeiras garantem às populações locais uma fonte de proteína mais segura que as regiões rurais, muitas vezes castigadas pela seca e pela desertificação. Nesse sentido, as atividades que reduzem as áreas tradicionais de pesca ou dificultam o acesso aos locais de trabalho, como a expansão urbana indiscriminada, a expansão das monoculturas, como a da cana- de-açúcar, a destruição de habitas importantes como o mangue, a carcinocultura de exportação e a degradação ambiental são processos que afetam negativamente a segurança alimentar das comunidades costeiras, sobretudo as mais pobres. Entre os grupos sociais mais afetados estão as mulheres, sobretudo as do Nordeste, que vivem do extrativismo, sobretudo de moluscos que garantem a alimentação em períodos em que a pesca é fraca e também uma complementação de renda familiar. Estados do Nordeste, como a Bahia em que mais se expande a carcinocultura são aqueles em que as mulheres têm maior peso para a segurança alimentar. Uma questão frequentemente discutida é a contribuição da carcinocultura para o aumento do nível de emprego. No caso da carcinocultura, a ABCC calcula que essa atividade gera cerca de 3,75 empregos por hectare o que somaria cerca de 56.000 empregos somente no Nordeste que conta hoje com 15.039 hectares de tanques. Como ser verá a seguir, outros estudos mostram que o número de empregos permanentes gerados são muito menores que os indicados pela ABCC. Como inexistem estudos mais amplos sobre a renda gerada pela carcinocultura, além do obtido pelas exportações, passamos a expor, resumidamente, um estudo de caso realizado no estuário do rio Curimatau, litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, o maior produtor de camarão cultivado do Brasil (Sales, 2003). Esse estudo do IDEMA (Instituto de Desenvolvimento econômico e meio-ambiente do Rio Grande do Norte), revela que no município de Canguaretama que concentra o maior número de fazendas do estuário, existiam em 2003 (Sales, 2003) cerca de 41 empreendimentos ocupando 989 hectares. Desse total, 63% eram pequenos empreendimentos com média de 5 hectares de área, empregando 127 empregados, ou seja 0,89 pessoas por há. Cerca de 11 (27%) empreendimentos eram considerados médios, ocupando uma área média de 28 hectares cada um e empregando 0,9 trabalhador por hectare. Além disso havia 4 grandes fazendas (10%), ocupando uma área média de 135 hectares ocupando 0,65 pessoas por hectare. (Sales, 2003) Por esse estudo constata-se que a maioria dos empreendimentos é de pequeno porte (63%), ocupando cerca de 18,0% da área e que os grandes empreendimentos, apesar de representarem cerca de 10% do total, são responsáveis por quase 55% da área de cultivo.Estes últimos empregam menos trabalhadores por hectare que os pequenos e médios empreendimentos. Tomando-se a média de 0.8 empregos por hectare, haveria hoje cerca de 12.000 novos empregos criados pela carcinocultura e não 56.000 como divulgado pela ABCC O estudo também revela que cerca de 90% dos empreendimentos não tinham autorização legal de funcionamento, proporção que pode ser mais elevada quando se acrescenta num número desconhecido de criadores totalmente clandestinos que não constavam do cadastro do IDEMA. Um outro dado relevante é que a quase totalidade da produção se dirige para a exportação.(Sales, 2003) Um outro dado relevante revelado pelo estudo é que 35% das pessoas são analfabetas, 65% dos chefes de família tem rendimentos inferiores ao salário mínimo (306 reais mensais) e que 20% do total desses chefes de família não tem rendimento monetário. A maior parte dos chefes de famílias são pescadores e coletores de moluscos, e alguns poucos trabalham em outras atividades, como cultivo e processamento de cana de açúcar e lavouras de subsistência. Nesse contexto, as fazendas de carcinocultura oferecem uma alternativa de emprego e renda, empregando mais de 750 pessoas somente no município de Canguaretama. No entanto, segundo declarações de pescadores locais, a renda obtida com a pesca é ainda duas vezes maior que os salários pagos pelas fazendas de carcinocultura. No entanto, a pesca e a coleta de moluscos estão decadentes na área, entre outras razões pela restrição cada vez maior aos locais de pesca advinda da expansão da monocultura da cana-de-açúcar e das fazendas de carcinocultura que ocupam o mangue e áreas vizinhas. A degradação causada por essas atividades teria causado, segundo moradores, por um incidente ocorrido em 1999 que dizimou os estoques de caranguejo do manguezal do rio Curimataú, considerado como o principal pólo de produção desse molusco. Os impactos ambientais decorrentes de processos anteriormente descritos são sentidos como a causa principal da degradação ambiental na região, assinalada por 38% dos entrevistados pela pesquisa (Sales 2003) A saúde da população é precária, agravada, segundo autoridades municipais de Canguaretama por problemas alérgicos e intoxicação de trabalhadores que manipulavam insumos utilizados nas fazendas de camarão. Entre os produtos usados aí estavam o meta- bissulfito de sódio e um biocida organo- fosforado usado tanto no cultivo da cana-de- açúcar quanto na limpeza dos viveiros. (Sales, 2003) Para as autoridades municipais, ainda que a produção de camarão seja isenta de impostos e pouco contribua diretamente para as finanças do município e que tenha impactos negativos sobre a pesca e o turismo, é uma fonte geradora de empregos. Dada a crescente importância da carcinocultura, particularmente nos estados pobres do Nordeste, estudos sócio/econômicos e ambientais deveriam ser realizados para avaliar não somente a renda e os empregos gerados mas as externalidades geradas por essas atividades que inviabilizam, em muitoscasos, a pesca artesanal, a coleta de crustáceos e moluscos pela degradação sobretudo do mangues e dos estuários, reduzem o potencial de atividades turísticas e trazem problemas de saúde para a população. Finalmente, alguns comentários sobre a carcinocultura familiar, proposta por alguns como uma estratégia para o aumento da renda e emprego das camadas mais pobres da população. Calcula-se que uma proporção importante dos aqüicultores é de pequenos produtores, que possuem até 5 hectares de tanques. (ABCC considera pequeno empreendimento aquele que tem até 50 hectares). Um estudo realizado (Flores, M. Ação integrada: carcinocultura familiar, 2004) indica que o custo de produção para um aqüicultor de cerca de 5 há é de 13.500 reais por hectare. O custo de produção para 5 hectares seria de 71.500 reais e a receita media seria de 127.200,00 reais, proporcionando um lucro de 55.600,00 reais por ano ou 4.637 reais por mês. Flores afirma então que com esse nível de receitas e despesas dificilmente esses pequenos produtores (!) poderiam se enquadrar na categoria de agricultores familiares e ter acesso às fontes de financiamento existentes para essa categoria. Seria importante se realizar estudos para entender como esses chamados pequenos empreendedores com uma renda média mensal de 4.637 reais (ou 3.700 dólares americanos) conseguem manter uma atividade tão lucrativa como a carcinocultura considerada de pequena escala (1). Não existem informações sobre número de aqüicultores empregados nas atividades de criação de moluscos na zona costeira nem sobre a renda gerada. Há indicações, no entanto, que a grande maioria deles é de pequenos produtores, muitos pescadores que dividem seu tempo entre a pesca e o cuidado de sua criação. Em Santa Catarina, o pólo mais importante no Brasil de malacultura e ostreicultura a quase totalidade é formada de pequenos produtores, muitos advindos da pesca artesanal. Em muitos casos, como no citado acima, existem organizações de produtores e cooperativas responsáveis pela distribuição e comercialização do produto a nível local e regional. A produção aqüícola de água doce brasileira é duas vezes maior que a marinha e grande parte dela é realizada em tanques e represas existentes propriedades agrícolas pequenas e médias.Também aí não se dispõem de informações sobre número de empregos e renda. 77.. EESSTTUUDDOOSS DDEE CCAASSOO SSOOBBRREE EEXXPPEERRIIÊÊNNCCIIAASS PPIIOONNEEIIRRAASS EEMM AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA FFAAMMIILLIIAARR Nessa seção serão analisadas algumas experiências sob forma de estudos de caso, a partir das quais podem ser retiradas lições importantes para o desenvolvimento de uma aqüicultura sustentável no Brasil. Os locais dessas experiências são mostrados no Mapa 1, em anexo. 7.1. O Caso do surgimento da maricultura em Santa Catarina: a colaboração entre instituições de pesquisa, de extensão e associações de aqüicultores. Desde 1990 está em curso uma experiência inovadora no Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil envolvendo laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina, serviço de extensão aqüícola (EPAGRI) e associações de aqüicultores. Essa cooperação é feita no quadro de um Estado de grande experiência pesqueira (o segundo maior desembarque industrial de pescado do Brasil), mas que desde os anos 1980 enfrenta grave crise na pesca artesanal em virtude, principalmente do escasseamento dos recursos pesqueiros costeiros. Muitos pescadores artes anais deixaram a atividade e foram se incorporando à aqüicultura (mexilhão, ostra, camarão) que conta também com grande mercado, incluindo a grande população de turistas e veranistas que procuram o lazer nas apreciadas praias do litoral. Esse estado, por outro lado, é conhecido pela grande importância da pequena produção familiar na agricultura e no consorciamento entre rizicultura e criação de peixes de água doce. O litoral de Santa Catarina, com 600 km de extensão é recortado por um grande número de baías, manguezais e estuários propícios à aqüicultura marítima. Desde o início da década de 1970, a Universidade de Santa Catarina iniciou atividades de pesquisa em aqüicultura costeira (cultivo de tainhas) mas ainda que essa experiência não tenha dado resultados práticos, serviu para agrupar um grupo de pesquisadores da Universidade e do então órgão de extensão pesqueira, a Acarpesc, que posteriormente foi transformado em EPAGRI. O resultado dessa cooperação resultou no estabelecimento de um curso de Mestrado em Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, um dos pioneiros do Brasil e que deu prioridade aos aspectos práticos de solução de problemas dos aqüicultores. Tanto a universidade quanto o Epagri constituíram equipes interdisciplinares e conseguiram a cooperação de universidades canadenses, que ajudaram na melhoria dos laboratórios. As espécies escolhidas são de grande importância para os produtores locais: o camarão Penaeus paulensis e P schmnitti, o mexilhão Perna Perna, a vieira Nodipecten e a ostra japonesa, Cassostrea gigas. (Andreatta, E. 2000) O cultivo de mexilhões As primeiras tentativas de cultivo foram realizadas na década de 1980, quando pesquisadores da Universidade e da EPAGRI iniciaram, junto com os pescadores locais pequenas unidades de produção. No inicio houve dificuldades de adaptação ao cultivo por parte dos pescadores, mas com o resultado das primeiras colheitas logo perceberam o potencial de criação de emprego e renda e a possibilidade de não precisar migrar para outras regiões como acontecia no passado. Em 2.000, a produção já atingia 5.000 toneladas, com o envolvimento de 600 pescadores/aqüicultores. Hoje existem mais de 1.000 malacultores, 18 associações e 4 cooperativas distribuídos em vários municípios litorâneos. A produção de mexilhões de Santa Catarina é a maior do país, atingindo quase 10.000 toneladas. (Andreatta, E, 2000) O cultivo de ostras Em 1985 iniciaram-se os primeiros cultivos junto aos pescadores, com a importação e sementes da Cassostrea gigas. A Universidade implantou um moderno laboratório de produção de sementes que são distribuídas aos produtores. Os resultados foram muito positivos e hoje a produção de ostras atinge 2.500 toneladas, a maior do Brasil, comercializada também em outros centros consumidores como São Paulo e Rio de Janeiro. O problema maior que esses aqüicultores estão enfrentando é a preocupante mortalidade que ocorre nos meses quentes do verão, a expansão pouco planificada das fazendas de ostra, em grande parte de propriedade de pequenos produtores e deterioração da qualidade da água, sobretudo no verão quanto é grande a afluência de turistas nacionais e estrangeiros.(Andreatta, 2000) Cultivo de camarões marinhos A Universidade iniciou em 1984 as pesquisas de reprodução do camarão rosa, nativo (Penaeus paulensis) de alto valor de mercado e sem muitos dos problemas que afetam a produção do camarão P. vanamei, espécie exótica largamente cultivada no Nordeste. Nos últimos 10 anos os pesquisadores dominaram a reprodução em cativeiro, iniciando o repovoamento de lagoas costeiros e fornecendo pós-larvas a aqüicultores que começaram a cultivá-lo em sistema semi- intensivo. A produtividade nesse sistema é de 1.200 kg/há/ano, com custos de produção entre 2,50 e 4,50 reais/kg de camarão. O custo de implantação dos cultivos (por volta de 10.000 reais por hectare, as dificuldades encontradas na liberação de áreas pelos órgãos ambientais e dificuldades de gestão estão entre os principais problemas a serem resolvidos). Já o programa de repovoamento a partir de pós- larvas tem apresentado êxitos,uma vez que as taxas de recaptura em lagoas costeiras povoadas chega a 30%. Um dos problemas encontrados é que os pescadores não esperam o camarão atingir o peso médio de 12 gramas para capturá-lo, necessitando-se a implantação de programas de organização e educação dos pescadores para que a pesca seja sustentável sob o ponto de vista econômico, social e ecológico. (Andreatta, 2000) Além disso, a Universidade mantém um programa de implementação da Agenda 21 em lagunas costeiras do Estado, com projetos de organização dos pescadores para obter um maior beneficio do repovoamento feito, sobretudo na lagoa de Ibiraquera. O programa acima descrito é pioneiro pois conseguiu reunir e integrar aspectos fundamentais que podem fazer com que a aqüicultura familiar tenha sucesso: a pesquisa, a extensão e a intervenção na cadeia produtiva e comercialização dos produtos. Houve um esforço de cooperação entre a pesquisa, a extensão e a organização dos pescadores, enfrentando-se não somente os problemas técnicos, mas também sociais, culturais e de comercialização. Um dos aspectos mais importantes foi a transformação gradativa de pescadores artes anais em aqüicultores, processo complexo num país com experiências incipientes em produção aqüícola. Em alguns casos, os pescadores combinam as atividades extrativas de pesca com as de aqüicultura, em outros eles passam a viver exclusivamente das áreas de cultivo que, em geral, estão situadas em frente às suas residências. O fato de a região receber um grande número de turistas causa problemas de qualidade da água sobretudo no verão, gerando conflitos de uso do espaço litorâneo, mas por outro lado, são grandes consumidores de ostras e mexilhões, o que tem contribuído para o aumento da renda dos aqüicultores. Já existe a necessidade sentida por atores e órgãos ambientais de um gerenciamento costeiro que possa harmonizar os diversos usos da zona costeira,sobretudo a pesca artesanal, a aqüicultura, os esportes náuticos e o turismo. A lei estadual de gerenciamento costeiro foi aprovada em 2006, estabelecendo-se parâmetros de ocupação para as diversas atividades econômicas. 7.2. A Reserva Extrativista do Mandira (Cananéia-SP) e a ostreicultura. Em inícios dos anos 90 foram criadas as primeiras reservas extrativistas no Acre- Amazônia, como resultado da luta dos seringueiros pelo controle de seus seringais, ameaçados pelos fazendeiros que destruíam a mata. Em 1992, esse modelo foi entendido às populações extrativistas litorâneas que vivem da pesca e do extrativismo de moluscos, com a criação da Resex Marinha de Pirajubaé, em Santa Catarina, numa área de 1.400 hectares, beneficiando 600 extrativistas que viviam da coleta de moluscos e que hoje contam com um plano de manejo afim de garantir a sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Esse modelo está sendo adotado por um número crescente de comunidades de pescadores, extrativistas e aqüicultores para resolver problemas de conflitos de uso, como a pesca industrial, a urbanização desordenada e mesmo, hoje, a carcinocultura empresarial de grande porte. Uma das facilidades em sua implantação é o fato do espaço físico de corpos litorâneos d'água serem de domínio da União e portanto, não requerem desapropriação, como ocorre com as reservas extrativistas florestais da Amazônia. As Reservas Extrativistas Marinhas, bem como as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Áreas de Proteção Ambiental são unidades de conservação de uso sustentável e de uso múltiplo, tendo um grande potencial de contribuição ao gerenciamento costeiro e à solução de conflitos em áreas costeiras. Elas têm áreas definidas e garantidas por lei, pois constam da lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação em 2001. A Reserva Extrativista Marinha do Mandira O processo de criação dessa reserva foi iniciado em 1993, com um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (Nupaub) que fizeram um estudo sobre as comunidades de pescadores e extrativistas do município de Cananéia que viviam da coleta de ostra de mangue (Cassostrea brasiliana). Naquele período a produção anual era de aproximadamente 70.000 dúzias, extraídas com o corte da raiz de mangue, atividade proibida pela legislação. A produção era vendida a comerciantes a um preço baixo e em péssimas condições sanitárias. A comunidade escolhida para o projeto foi a do Mandira, onde vivem famílias de quilombolas (descendentes de escravo), por apresentarem uma sólida organização social, baseada em famílias extensas. Em 1994-1995 foram feitos os laudos antropológicos e biológicos exigidos pela legislação e foi formalizada a Associação dos Moradores do Mandira que solicitou ao governo a aprovação da reserva. Na espera da aprovação, outros parceiros entraram no projeto, sobretudo a organização não- governamental local - Gaia e a Fundação florestal do Governo do Estado de São Paulo. Foram então feitos experimentos de manejo de ostra não mais no mangue mas em estruturas fundeadas no corpo do estuário e que se revelaram muito positivos, pois as ostras atingiam o tamanho comercial em 4 meses, muito mais rápido que as existentes em estado natural no mangue. A cada família foi alocado um número suficiente de estruturas para que pudessem ter uma renda adequada para as necessidades de seus membros. Em 1997, com verbas federais e de empresas privadas foi organizada a Cooperativa dos Ostreicultores de Cananéia, a Cooperostra que construiu sua sede em Cananéia, com uma estação depuradora exigida para se obter o registro de comercialização. A Cooperostra reúne hoje membros de várias comunidades, além dos pioneiros do Mandira a quem cabe a gestão da Cooperativa e comercializa as ostras em várias cidades do Estado de São Paulo. A renda e a auto-estima desses pequenos produtores cresceu e a Cooperostra ganhou um premio internacional da Iniciativa Tropical (Unesco), na reunião de Johanesburgo. (2002) A Reserva Extrativista do Mandira foi reconhecida oficialmente pelo Governo Federal em 2002, contando hoje com um plano de negócios que visa a expansão da cooperativa para a rede de supermercados na cidade de São Paulo e com um Programa de Certificação que busca garantir a qualidade sanitária das ostras comercializadas. Essa experiência tem vários pontos positivos: é considerado um projeto piloto na região mais pobre do Estado de São Paulo e uma das mais carentes do Brasil, com índices baixos de Desenvolvimento Econômico e Social. O ponto mais forte do projeto foi a sólida organização social dos produtores e a cooperação estreita entre a comunidade local, a universidade, as ONGs, órgãos governamentais e empresas privadas. O grande desafio foi transformar simples extrativistas, oriundos de uma camada social marginalizada - os negros quilombolas, em produtores organizados que até então não tinham nenhuma experiência de gestão administrativa e de comercialização da produção através de uma cooperativa. Eles participaram ativamente do desenvolvimento de um plano de negócios que incluiu a melhoria da qualidade ambiental e sanitária do produto, o respeito à legislação ambiental, a comercialização da produção através de veículos da própria cooperativa, a busca de novos mercados nas áreas urbanas. A comunidade dos Mandira, além da produção de ostras, passou a desenvolver outras atividades produtivas para as mulheres, formação profissional para os jovens e atividades turísticas. (Sales, R e Maldonado, 2000) 7.3. A carcinocultura do P. vanamei no Nordeste : uma experiência com pro blemas sérios de sustentabilidade O crescimento da carcinocultura empresarial no Brasil é surpreendente pois introduzida no Brasil
Compartilhar