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aquicultura sustentavel

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NUPAUB – Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas 
Úmidas Brasileiras – USP 
Center for Research on Human Population and Wetlands in Brazil – USP 
 
 
 
 
 
 
PPaarraa uummaa aaqqüüiiccuullttuurraa ssuusstteennttáávveell 
ddoo BBrraassiill 
 
 
 
AANNTTÔÔNNIIOO CCAARRLLOOSS DDIIEEGGUUEESS 
 
 
Banco Mundial / FAO 
 
 
 
 
 
 
Artigos n.º 3 
 
São Paulo 
2006 
 
 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 
 
A aqüicultura comercial foi introduzida na década 1950, com a introdução de espécies exóticas 
tais como carpa, tilápia, e truta que começaram a ser cultivadas sobretudo em tanques de pequenas 
propriedades. Em alguns estados do sul do Brasil, a partir dos anos 1970 surgiram experiências de 
consorciamento entre algumas dessas espécies e a produção de aves e suínos que se beneficiaram dos 
canais de comercialização por cooperativas do setor agropecuário. 
Também na década de 70 começaram os experimentos de cultivo de camarão de água doce, 
ostras e moluscos por pequenos produtores. Nos anos subseqüentes, expandiu-se no Brasil a pesca 
esportiva em tanques destinados aos “pesque e pague”, nas periferias das grandes cidades que 
incentivaram a produção de alevinos e jovens que posteriormente eram transferidos aos tanques de 
produção. (Aguirre et alii, 1989) 
Finalmente, em meados dos anos 90, se iniciou a carcinocultura baseada no Penaeus vanamei, já 
anteriormente produzidos em outros países da América Latina. Com os problemas encontrados em 
grandes países produtores, como o Equador, capitais e pacotes tecnológicos foram transferidos ao 
Nordeste Brasileiro, onde esse cultivo se expandiu aumentando sobretudo a produção dirigida ao 
mercado externo. 
Este relatório tem por objetivo apresentar os fatores e processos limitantes ao desenvolvimento 
da aqüicultura sustentável no Brasil, apesar de seu grande potencial e da expansão recente da 
carcinocultura de exportação. Grande parte da produção aqüícola brasileira é realizada por pequenos 
produtores que podem desempenhar um papel fundamental na segurança alimentar, na geração de 
emprego e renda e no desenvolvimento de uma aqüicultura sustentável tanto ecológica quanto 
socialmente. 
A proposta básica deste trabalho é analisar o potencial e as perspectivas de uma aqüicultura 
familiar sustentável a partir de estudos de caso que mostram a importância dessa organização social da 
produção no Brasil 
 
11.. PPOOTTEENNCCIIAALL AAQQÜÜÍÍCCOOLLAA NNOO BBRRAASSIILL 
O Brasil, com mais de 8.5 milhões de 
quilômetros quadrados, tem uma das maiores 
reservas hídricas mundiais, com cerca de 12% 
da água doce disponível no planeta. A maior 
disponibilidade de corpos de água se situam na 
região Norte e Centro Oeste que concentra 
cerca de 89% do potencial de águas superficiais 
do país.Na região Centro Oeste existe uma das 
maiores áreas úmidas do mundo - o Pantanal-, 
com cerca de 140.000 km2, que poderia conter 
alguns projetos de aqüicultura com espécies 
nativas, desde que respeitadas as condições 
ambientais. ( Ver mapa 1, em anexo ) 
Na região Norte e Centro-Oeste região, 
no entanto, vive somente 14.5% da população 
brasileira, apresentando cerca de 9,2% da 
demanda hídrica nacional. Já os 11% restantes 
do potencial hídrico do Brasil encontram-se nas 
regiões Nordeste, Sul e Sudeste, onde se 
localizam 85,5% da população e 90,8% da 
demanda de água do Brasil. (ANA: Avaliação 
das Águas do Brasil, 2002). 
Existem no país cerca de 5 milhões de 
hectares de represas e lagos, sobretudo na 
região Norte apresentando um grande potencial 
tanto de pesca em rios e lagos quanto de 
aqüicultura de água doce. 
Dessa constatação resulta que, apesar 
do potencial de aqüicultura de água doce ser 
muito grande na Região Norte, a reduzida 
população, a falta de infraestrutura para 
comercio e transporte dos produtos aqüícolas 
são obstáculos consideráveis à. expansão dessa 
atividade na região. Além disso, nessa região 
existe uma pesca importante em água doce, 
com grande potencial de aumento dentro de 
um sistema adequado de manejo. Por outro 
lado, algumas espécies nativas já estão sendo 
cultivadas em outras regiões do país. 
Somente em represas hidrelétricas 
 
existiam cerca de 5,3 milhões de hectares de 
área inundada, parte dos quais podem ser 
usados para aqüicultura de água doce. 
(Borghetti, J. R. 2000). Grande parte dessas 
represas localiza-se na Bacia Amazônica, na 
Bacia do Rio Paraná (Sul-Centro Oeste) e do 
Rio São Francisco (Nordeste). 
Na Amazônia, a aqüicultura de água 
doce ainda é incipiente, mas existe um grande 
potencial tanto para o manejo da pesca quanto 
para a aqüicultura nos inúmeros lagos de água 
doce do Médio Amazonas, sobretudo naqueles 
em que existem acordos de pesca e manejo 
pesqueiro realizados entre o IBAMA e as 
comunidades ribeirinhas desses lagos. 
Na Região Nordeste,existe nessa região 
um grande número de açudes particulares 
(estimados em mais de 20.000, segundo SEAP - 
Overview, 2005) dos quais 620 construídos em 
parceria com o DNOCS, armazenando cerca de 
1,5 bilhões de metros cúbicos de água. 
Um potencial considerável para a 
expansão da aqüicultura reside nas grandes 
áreas de projetos de irrigação que podem 
consorciar produção agrícola e aqüícola. Em 
2001 havia 3.113 milhões de hectares de áreas 
irrigadas para a agricultura e um potencial de 
14,6 milhões de hectares disponíveis para 
agricultura irrigada. 
Existe, portanto um grande potencial 
para a aqüicultura de água doce e somente uma 
pequena parte é hoje explorada. 
O país também dispõe de uma extensa 
faixa costeira de 8.400 quilômetros constituída 
por praias, estuários, lagunas, recifes de coral, 
além de uma das maiores áreas de mangue. O 
potencial aqüícola na área costeira também é 
considerável desde que sejam respeitados os 
limitantes de ordem ecológica e social. Existem, 
por exemplo, mais de 25.000 kms de mangue 
que são considerados pela legislação ambiental 
como Áreas de Proteção Permanente e que 
portanto não podem ser usados para atividades 
comerciais. Nessas áreas costeiras concentram-
se mais de 700.000 pescadores artesanais e 
extratores de moluscos que usam 
tradicionalmente esses espaços e que podem ser 
prejudicados por uma expansão não controlada 
da aqüicultura. 
De acordo com estudos preliminares da 
SEBRAE/RJ só no litoral do Rio de Janeiro 
foram identificados 64.800 hectares de áreas 
propícias à implantação de cultivos de 
moluscos. Além disso junto à SEAP existem 
solicitações de cultivo de ostras, camarões, 
vieiras e mexilhões cobrindo uma área de 1.404 
toneladas, propondo gerar cerca de 36.000 
empregos. 
Além do potencial em área propícia, o 
Brasil também dispõe, sobretudo no Norte e 
Nordeste condições climáticas ideais 
(temperatura da água, salinidade, etc.) para o 
cultivo. A taxa de crescimento do mexilhão, por 
exemplo (8 meses) é muito superior aos outros 
países e a do camarão Vanamei permite várias 
safras por ano. 
A ABCC-Associação Brasileira de 
Criadores de Camarão estima que, no litoral 
nordestino, em áreas adjacentes a manguezais, 
salinas e viveiros de peixes desativados existam 
cerca de 300.000 hectares propícios à expansão 
da carcinocultura.(site www.abccam.com.br) 
 
 
 
22.. SSIITTUUAAÇÇÃÃOO AATTUUAALL 
O Brasil é hoje (2004)-o segundo 
produtor aqüícola da América Latina, com 
cerca de 270.000 toneladas ano, mas bem 
abaixo do Chile que tem uma produção 
superior a 600.000 toneladas ano. A produção 
aqüícola brasileira começou a crescer mais 
rapidamente depois de 1995 com o aumento da 
carcinocultura, apesar da aqüicultura comercial 
ter demonstrado um crescimento constante, 
sobretudo a partir da década de 2.000. Deve-se 
ressaltar, no entanto, que parte desse aumento 
pode ser creditada à melhoria dasestatísticas 
coletadas pelo IBAMA e Secretaria Nacional de 
Pesca e Aqüicultura. 
 
2.1. A produção 
A produção aqüícola, em 2003, 
representou cerca de 28.0% da produção total 
de pescado no Brasil,(comparados com cerca 
de 30% a nível mundial) tendo crescido 
 
anualmente em cerca de 3-4% nos últimos 
anos. A produção extrativa (marítima e 
continental) tem se estabilizado em tomo de 
700.00.000 toneladas. Pelos dados de 2004 
(IBAMA, 2005) houve um pequeno 
crescimento percentual da pesca extrativa e 
uma pequena redução percentual da aqüicultura 
causada pela diminuição da produção do 
camarão P. vanamei. 
A aqüicultura tem desempenhado um 
papel cada vez mais importante na produção de 
peixes, crustáceos e moluscos no Brasil, 
conforme pode se ver na tabela abaixo:
 
PESCA AQÜICULTURA 
 Marinha Continental Total % 
1997 644.585,0 88.0 10.180,0 77.493,5 87.673,5 12.0 732.258,5 
1999 603.941,5 81.1 26.513,5 114.142,5 140.656,0 18.9 744.597,5 
2001 730.377,5 77.7 52.532,0 156.532,5 209.378,5 22.3 939.756,0 
2003 712.144 71.9 103.120,0 175.000,0 278.128,0 28.1 990.272 
2004 746.216 73.5 88.967,0 179.737,5 269.697,0 26.5 1.015,913 
Fonte: MMA/IBAMA Estatística da Pesca 2001 
 
Esse aumento da participação da 
aqüicultura tanto continental quanto marítima 
deve-se, em grande parte à quase estagnação 
das capturas extrativas e a investimentos 
maiores em estruturas produtivas sobretudo nas 
de cultivo de camarão (carcinocultura) para 
exportação. 
 
2.1.1. A aqüicultura continental 
A aqüicultura continental de água doce tem 
apresentado um crescimento continuo nos 
últimos anos passando de cerca de 77.500 
toneladas em 1997 para cerca de 179.734 
toneladas em 2004 ou seja, um aumento de 
mais de 100% no período. Em 2004 a Região 
Sul era responsável por 32,7% da produção, 
seguida pelo Nordeste, com 21,6%, pelo 
Sudeste com 16.9% tendo o Norte uma 
participação inferior a 1% do total da 
aqüicultura continental. (IBAMA, 2005) 
As espécies exóticas representaram, em 
2004 mais de 60% da produção aqüícola de 
água doce, destacando-se a tilápia 
(Oreochromis niloticus, Tilapia rendalli) com 
69.078 toneladas, seguida pela carpa (Cyprinus 
carpio, Ctenopharyngodon idella, 
Hypophthalmichthys molitrix e Aristichtlys 
nobilis),com uma produção de 45.169 
toneladas.O estado com maior produção da 
tilápia é o Ceará, seguido pelo Paraná e Bahia. 
Já o Rio Grande do Sul é o maior produtor de 
carpa, seguido por Santa Catarina e São Paulo. 
Em Santa Catarina, predomina a 
pequena propriedade rural, onde produtores de 
suínos e avicultores consorciam essas atividades 
com a criação extensiva de carpas e tilápias. 
Nelas se aproveitam os desejos da suinocultura 
e por esse consorciamento se obtém uma 
redução de 50% no custo de produção de 
carpa. Além disso, consorcia-se a aqüicultura 
com a rizicultura, obtendo-se, além da 
produção de carpas uma melhoria na produção 
de arroz. (Aguirre et alii, 1989) 
Ainda nos Estados do Sul e Sudeste, 
parte do crescimento da produção de alevinos e 
da aqüicultura extensiva de peixes deve-se à 
grande expansão de tanques dedicados a 
“pesque e pague”, locais de pesca esportiva. 
(Castagnolli, 1996) 
As espécies nativas da Amazônia e 
Pantanal apresentaram um crescimento 
constante nos últimos anos cerca de 30% da 
produção nacional, destacando-se o tambaqui 
(Colos soma macropomum), com 25.272 
toneladas, o pacu (Piaractus mesopotomicus) 
com cerca de 8.946 toneladas e o piau com 
2.472 toneladas (2004). O maior produtor de 
tambaqui é o Estado do Amazonas, de pacu e 
piau é o Mato Grosso. 
O camarão de água doce 
(Macobrachium rosembergii) é cultivado em 20 
estados, em cerca de 600 fazendas com uma 
produção de 400 toneladas, concentradas nos 
Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. 
Este último Estado produz 50% de todo o 
camarão de água doce do Brasil. 
 
Também há uma produção crescente de 
peixes ornamentais, sobretudo nos Estados de 
Minas Gerais e São Paulo (SEAP-Overview 
2004) 
 
2.1.2. A aqüicultura marinha 
a) A Carcinocultura. A aqüicultura de 
água salgada e salobra foi a que apresentou o 
maior crescimento dos últimos anos e a espécie 
responsável por esse crescimento foi o 
Litopenaeus vannamei., colocando o Brasil 
como o sexto maior produtor no mundo. Em 
2003 o cultivo de camarão atingiu 90.190 
toneladas tendo diminuído cerca de 16% em 
2004, quando a produção foi de 75.904 
toneladas.(ABCC, 2005). As causas dessa 
redução são diversas, mas sobressaem a ação 
anti-dumping movida, nos Estados Unidos pela 
Southern Shrimp Alliance, problemas sanitários 
e de enfermidades, em particular a infecção 
causada pelo vírus IMNV que apareceu no 
Brasil no último trimestre de 2003, espalhando-
se sobretudo no Nordeste. Essa infecção 
causou grande mortandade nas fazendas 
contaminadas (SEAP-overview, 2005). Um 
outro fator importante na queda da renda das 
exportações foi a continua desvalorização do 
dólar americano que perdeu quase um quarto 
de seu valor frente À moeda local nos últimos 
dois anos. Em razão desses fatores, os 
carcinocultores cuja atividade está entre as mais 
lucrativas da economia brasileira entraram em 
crise, agravada pela redução recente das 
importações pela União Européia em razão do 
uso excessivo de antibióticos. (FAO, 2004). 
Também em razão da crise muitas fazendas 
fecharam suas portas e demitiram seus 
funcionários. 
Em 2004 a região com maior produção 
e área cultivada foi a do Nordeste, com 883 
fazendas (88,6% do total) com 15.039 hectares 
cultivados (90.6% do total) e uma produção de 
70.694 toneladas (ou 93,1%) do total, 
concentrados principalmente nos Estados do 
Rio Grande do Norte (381 produtores), Ceará 
(191 produtores). Pernambuco (98 produtores). 
b) Mitilicultura e ostreicultura. Em 
Santa Catarina originou-se a mitilicultura 
comercial, existindo mais de 1.000 produtores 
de mexilhão e ostras, organizados em 
associações e cooperativas. 
A mitilicultura estas e expandindo em 
estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde 
algumas fazendas já apresentam 100 toneladas 
de mexilhão por hectare. Também existem 
produtores individuais e cooperativas de 
produção de ostra em São Paulo. 
No Maranhão se produzem moluscos 
desde 1999, pelo sistema longlline. O Ceará 
conta com 70 marisqueiros produzindo ostras. 
Em Pernambuco o cultivo de ostras em 
estuários registrou uma produção de 7.500 
dúzias, havendo uma previsão de 33.000 dúzias. 
No Espírito Santo 14 municípios litorâneos 
produzem mexilhão. 
c) Cultivo de algas: Também existem 
cultivos da alga Graciaria, nos estados do Ceará, 
Rio Grande do Norte, onde existem cerca de 
6.300 hectares de áreas propícias para essa 
atividade. (SEAP-Overview, 2005) 
d) Piscicultura marinha: existem 
poucas experiências de piscicultura marinha, 
sendo que as pesquisas se concentram na tainha 
(Mugil Platanus), no robalo (Centropomus 
parallelus), linguado (Paralichthys orbignianus) 
e peixe rei (Odontesthes argentinensis). (Streit, 
D et alii, 2002) 
 
2.2. Sistemas de produção e informação: 
a) Tecnologia 
Na aqüicultura continental, há uma 
tendência de intensificação das práticas de 
cultivo com o uso de jaulas instaladas em 
reservatórios e tanques, sendo a tilapia e 
tambaqui as espécies mais cultivadas por esse 
processo. 
Também em estados do Sul, 
particularmente em Santa Catarina há o 
consorciamento entre a criação de porcos e 
carpas, obtendo-se uma produção de 2 
toneladas/há/ano de carpa ou tilápia do Nilo. 
Na aqüicultura marítima, o camarão 
vanamei é cultivado em tanques na área costeira 
e a produtividade média passou de 1.015 quilos 
em 1997 para 5.458 quilos em 2003, decaindo 
para 4.473 kg/hectare em 2004, em razão dos 
fatores analisados anteriormente. 
No Rio Grande do Sul e Santa Catarinaexiste o cultivo do camarão-rosa nativo, 
utilizando uma tecnologia acessível ao 
produtor. 
 
 
Produção de alevinos e pós-larvas de camarão 
Um dos fatores técnicos limitantes em 
alguns cultivos, como o de moluscos e alguns 
crustáceos é a limitada capacidade de produção 
de pós-larvas. Por outro lado, existem 
experiências exitosas de produção e 
fornecimento de alevinos para aqüicultores e 
cooperativas, como a da Universidade Federal 
de Santa Catarina/Epagri que será relatada 
posteriormente. Já para o camarão Vanamei 
parece não haver esse fator limitante, pois as 
pós-larvas são produzidas em laboratórios, em 
grande parte, privados. 
Em aqüicultura de água doce, existe a 
produção de alevinos seja por laboratórios ou 
criadores privados seja por órgãos públicos, 
como a CODEVASF, Companhia de 
Desenvolvimento do Vale do São Francisco 
que produz mais de 20 milhões de alevinos/ano 
destinados à estocagem e piscicultura nos 
reservatórios do Rio São Francisco. 
Há também a produção de alevinos e 
pós-larvas de camarão por laboratórios 
privados na região sul do país, totalizando cerca 
de 10 milhões de alevinos/ano. (Borghetti, 
J.R.2000) 
No setor de rações e alimentos para o 
cultivo, o Brasil produz cerca de 270.000 
toneladas de ração para peixes em 2005 em 10 
grandes industriais e um grande número de 
pequenas fábricas. Grande parte dessa 
produção se destina ao cultivo de camarão. O 
volume de ração importado é insignificante. 
 
Treinamento e extensão aqüícola. 
Um outro fator limitante são os 
serviços de extensão aqüícola, existentes 
somente em raros estados, uma vez que a 
maioria das instituições governamentais de 
extensão tanto agrícola quanto 
pesqueira/aqüícola ligadas ao sistema Emater 
foram desativadas na década de 1980.Em 
alguns raros estados, sobretudo os do Sul do 
Brasil algumas dessas instituições ainda 
permaneceram atuantes e tem desempenhado 
um papel importante na difusão de tecnologias 
e treinamento de aqüicultores. O Estado de 
Santa Catarina, onde existem muitos 
aqüicultores organizados funciona uma 
empresa estadual de extensão (Epagri) bastante 
ativa junto aos produtores. Mais recentemente, 
na falta desses serviços governamentais de 
extensão, algumas ONGs tem desempenhado 
esse papel, tendo contribuído para a 
organização de produtores aqüícolas tanto no 
litoral quanto no meio rural. 
 
Sistema de informação aqüícola 
As informações sobre aqüicultura ainda 
são insuficientes e fragmentadas, apesar de ter 
havido uma melhoria considerável das 
estatísticas organizadas pelo IBAMA, a partir 
de 1995 e pela SEAP. Essa melhoria foi 
promovida, em grande parte pela contribuição 
dos centros regionais especializados de gestão 
dos recursos pesqueiros, sob a Coordenação 
Geral de Gestão dos Recursos Pesqueiros do 
IBAMA, em Brasília e de outras instituições 
universitárias e de pesquisa. 
No caso da aqüicultura, existem séries 
estatísticas sobre produção por espécie e estado 
da Federação, tanto na maricultura de água 
doce quanto salgada/salobra. Os dados sobre 
carcinocultura têm sido coletados pela ABCC. 
Faltam, no entanto, dados sobre a mão-
de-obra empregada, renda gerada, áreas 
ocupadas por tipo de cultivo, comércio e 
consumo de produtos da aqüicultura (com 
exceção daqueles que são exportados). 
 
2.3. Financiamento à Aqüicultura 
O financiamento às atividades aqüícolas 
conta com um conjunto de programas e linhas 
de crédito governamentais, com juros baixos, 
instituído tanto pela SEAP quanto por outros 
ministérios como o da Reforma Agrária e 
Desenvolvimento Rural, em geral para 
agricultores, pescadores e aqüicultores 
familiares. 
A maioria das linhas de crédito está 
associada a programas específicos do Governo 
Federal recentemente instituídos e os recursos 
são, no geral, operados por bancos oficiais 
(BNDES, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, 
por Fundos Constitucionais de Financiamento 
da Região Norte, Nordeste e Centro-Oeste, 
etc.).Para a Região Norte e Nordeste existem o 
Fundo Pro-Aqua que financiam projetos de 
aqüicultura, cooperativas em empresas e o 
PROGER para unidades de piscicultura em 
assentamentos de reforma agrária. 
PRONAF (Programa de apoio à 
 
pequena produção familiar) é o maior programa 
governamental nacional, abrangendo todas as 
regiões do país, de apoio à produção familiar 
tanto agrícola quanto pesqueira e aqüícola. 
Existem subprogramas destinados a produtores 
de baixa renda, em diversos níveis. O Pronaf 
financia tanto projetos familiares como 
empresariais e cooperativas e o valor da 
dotação financeira depende de cada 
subprograma. 
Não se dispõe de informação sobre o 
número de aqüicultores financiados por 
programa, mas as alternativas de financiamento 
da aqüicultura são hoje muito maiores que as 
do passado. No entanto os aqüicultores de 
baixa renda têm dificuldade de acesso a esses 
financiamentos, apesar dos juros baixos, por 
vários motivos entre os quais, necessidade de 
apresentar garantias, obstáculos encontrados na 
apresentação de projetos para serem aprovados; 
desconhecimento dos procedimentos legais, em 
virtude, em parte do baixo nível de instrução, 
riscos de não pagamento das parcelas tendo-se 
em vista as dificuldades de comercialização do 
produto, entre outros. Dificuldades da mesma 
ordem encontram as pequenas cooperativas, 
associações de aqüicultores e colônias de 
pescadores. Um setor que parece ter-se 
utilizado dessas vantagens de financiamento é o 
dos carcinocultores voltados para a exportação, 
particularmente de pequeno e médio porte que 
também nos últimos anos tem tido dificuldade 
em honrar seus compromissos bancários em 
virtude da baixa do preço do camarão no 
mercado internacional e das enfermidades 
anteriormente mencionadas que tem atingido as 
fazendas de carcinocultura. (Site: 
Presidência.org.br/SEAP) 
 
2.4. Comercialização nacional e mercado 
externo 
 
Mercado interno 
O Brasil tem cerca de 179 milhões de 
habitantes (2004), uma população urbana que 
atinge mais de 80%e um consumo crescente de 
proteína animal. A média nacional de consumo 
de pescado é de cerca de 7kg/hab/ano,(metade 
da média mundial) mas chega a 30 kg/hab/ano 
na Amazônia, 25 kg/hab/ano em Brasília, 20 
kg/hab/ano em São Paulo e l6.4/hab/ano no 
Rio de Janeiro (SEAP-Overview, 2005). O 
baixo consumo médio de pescado no Brasil 
está relacionado principalmente com seu alto 
preço de mercado, comparado com outras 
fontes de proteína animal,como a carne de boi, 
de porco e de frango,mais baratas que o peixe. 
Assim o consumo de carne de boi é de 37.1 
kg/hab/ano e a de frango é de 3 
l.2kg/hab/ano. 
Por outro lado, os custos de produção 
da aqüicultura já são hoje, em média, mais 
baixos que os da pesca extrativa o que pode 
tomar mais acessíveis esses produtos à 
população. Hoje, a produção da aqüicultura 
equivale a 5% do total de proteína animal no 
país. 
A SEAP tem envidado esforços de 
estímulo ao consumo de pescado através do 
Programa de Melhoria nos entrepostos de 
pesca e da Semana do Peixe, em colaboração 
com a Associação Brasileira de 
Supermercados.(ABRAS). Segundo 
informações da ABRAS a venda de produtos 
pesqueiros aumentou em 23% entre 2002 e 
2003. 
 
Comercio Exterior 
Em 2001, segundo dados do Ministério 
de Industria e Comércio, organizados pela 
SEAP (2004 e 2005) o Brasil exportou US$ 
283,5; em 2002, cerca de US$ 352,4 milhões; 
em 2003 cerca de US$ 427; e em foram 
exportados US$436,3 milhões, equivalente a 
107.015 mil toneladas o que revela uma curva 
ascendente que superou o déficit que até então 
era importado. (IBAMA, 2005) 
No que se refere a produtos de 
aqüicultura os dados mostram que quase a 
metade das exportações brasileiras são de 
camarão P.vanamei que foram de 40.000 
toneladas em 2002, no valorde US$ 175.5 
milhões; 60.872 toneladas em 2003, no valor de 
US$ 244,8 milhões. Já em 2004 verificou-se um 
decréscimo na exportação, passando a 54.478 
mil toneladas no valor de US$ 219,3 milhões. 
(IBAMA, 2005). 
Em 2005 continuou a se verificar uma 
diminuição importante do volume e do valor 
exportado de P. vananmei que atingiu 149.247 
milhões de dólares dos quais 87,0% foram para 
a Europa e somente 7,37% para os USA. 
 
Entre os peixes cultivados somente há 
referência à tilapia que dobrou o valor 
exportado entre 2003 e 2004 passando de US$ 
225.5 para US$ 460,1 mil. (IBAMA, 2005)
 
33.. EEMMPPRREEGGOO EE RREENNDDAA 
Calcula-se que cerca de 100,000 pessoas 
estão ocupadas em atividades de aqüicultura 
continental e marinha, ainda que grande parte 
delas tem aí um emprego parcial, combinado 
com outras atividades, sobretudo agrícolas e 
outras exercem essa atividade para a 
subsistência familiar. (SEAP- Overview, 2005) 
O único censo das pessoas empregadas 
na aqüicultura foi realizado pelo IBGE 
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 
em 2000 e se baseia no produtor que assinala a 
aqüicultura como atividade principal, deixando 
provavelmente de fora um grande número de 
produtores que tem na aqüicultura uma 
atividade somente complementar. 
O Censo do IBGE registrou 19.277 
aqüicultores que tem no cultivo de organismos 
aquáticos sua atividade principal e são assim 
distribuídos 
 
Regiões Número Percentagem 
Norte: 1.135 6.0% 
Nordeste 8.211 43.0% 
Sudeste 4.979 26.0% 
Sul 3.239 17.0% 
Centro-Oeste 1.713 9.0% 
Fonte:IBGE, Censo 2000 
 
Ainda segundo o IBGE o estado com 
maior número de aqüicultores é a Bahia, com 
2.520 aqüicultores, seguido pelo Rio Grande do 
Norte e Ceará. No Sudeste é o Estado de São 
Paulo que apresenta o maior número de 
aqüicultores, seguido de Minas Gerais. No Sul, 
o Paraná ocupa o primeiro lugar (1551) seguido 
de Santa Catarina. No Sudeste, o primeiro lugar 
em número de aqüicultores é Goiás com 917 
aqüicultores e no Norte é Tocantins, com 320 
aqüicultores. 
Constata-se pelos dados acima que o 
Nordeste é que a mais concentra aqüicultores, 
ainda que esta região tenha a maior 
porcentagem de pessoas empregadas na 
carcinocultura. No entanto, a aqüicultura já 
representa uma alternativa importante de renda 
para os produtores de tilápia em estados do 
Nordeste como o Ceará e nos estados do sul, 
como Santa Catarina e Rio Grande do Sul onde 
há uma concentração de produtores de 
moluscos e carpa, respectivamente. 
A ABCC calcula que a carcinocultura 
cria 3.75 empregos diretos e indiretos por 
hectare, totalizando cerca de 50.000 empregos, 
sobretudo no Nordeste. Esse número, no 
entanto, parece ser questionável, pois dados do 
Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) 
somente havia 0.7 empregos por hectare nessa 
atividade Pesquisas de campo realizadas pelo 
IDEMAQ, no Rio Grande do Norte (Sales, 
2003) indicam que a média de emprego gerado 
pela aqüicultura não ultrapassa 0.9 empregados 
por hectare. 
Segundo dados da ABCC (2004), dos 
997 produtores cadastrados cerca de 712 (ou 
71,4%) são considerados pequenos produtores 
(até 50 hectares) produzindo 15,2% do total; 
233 ou 31,4%) são médios proprietários (de 50 
a 100 hectares) produzindo 30,7% do total 
cultivado e 52 (ou 5,2%) são grandes 
proprietários (mais de 100 hectares) 
produzindo 54,2% do total. (site 
www.abcc.com.br) 
Em Santa Catarina, onde se concentra 
97% da produção de mexilhões há cerca de 
15.000 pessoas empregadas direta ou 
indiretamente no setor. Grande parte desses 
produtores eram pescadores artesanais que se 
reconverteram à aqüicultura quando a pesca 
começou a declinar a partir dos anos 1980. Há 
por outro lado uma expansão gradativa de 
pequenos projetos governamentais, particulares 
e organizados por ONGs e associações locais 
baseados em aqüicultura marítima, como está 
ocorrendo no litoral de São Paulo e Rio de 
Janeiro e que oferecem uma fonte de trabalho e 
renda para pescadores artesanais cuja produção 
extrativa tem diminuído consideravelmente nos 
últimos anos. 
 
Não existem estudos sobre renda 
auferida pelos produtores, mas estudo realizado 
no Rio Grande do Norte mostra (Sales, 2003) 
que em alguns locais a renda auferida pela 
aqüicultura de pequeno porte é bem mais 
elevada que aquela dos pescadores artesanais. 
 
 
 
44.. IIMMPPAACCTTOOSS AAMMBBIIEENNTTAAIISS DDAASS AATTIIVVIIDDAADDEESS 
HHUUMMAANNAASS SSOOBBRREE OOSS AAMMBBIIEENNTTEESS AAQQUUÁÁTTIICCOOSS
 
 
A aqüicultura é uma atividade que exige 
água de boa qualidade, mas nas últimas décadas 
muitos habitats propícios à aqüicultura estão 
sendo degradados. Em algumas regiões 
costeiras, como a baía de Florianópolis (SC), 
atividades de mitilicultura e ostreicultura já são 
ameaçadas pela poluição marinha, sobretudo 
nos meses de verão quando a poluição urbana é 
maior pelo aumento da população de turistas. 
É impossível, no âmbito deste relatório, 
analisar os impactos das atividades humanas 
sobre os ambientes aquáticos que se 
acentuaram, a partir da década de 1970 com o 
intenso crescimento econômico, baseado na 
agroindústria de exportação e agricultura 
irrigada, no aumento do parque industrial 
implantado sobretudo nas áreas costeiras, na 
expansão urbana, na mineração e 
desmatamento intensivo, na construção de 
hidrelétricas cada vez maiores, no aumento da 
sobrepesca, da produção de papel e celulose e, 
na última década, na grande expansão da 
monocultura da soja e de outros grãos na 
Amazônia 
Esses processos resultaram em altos 
níveis de degradação ambiental e poluição das 
águas, assoreamento de lagos e lagunas, 
aumento do teor de metais pesados e mercúrio 
tanto em águas costeiras quanto interiores, 
salinização de áreas irrigadas, ocupação 
desordenada de ambientes costeiros. 
Também é verdade que nesse período o 
Estado desenvolveu mecanismos de 
planejamento e de controle ambiental, como a 
exigência de estudos e relatórios e impactos 
ambientais, de audiências públicas para a 
apresentação e aprovação de projetos 
impactantes. Por outro lado, foi implantada 
uma rede de instituições ambientais, de áreas 
protegidas de diversas categorias e legislação 
cada vez mais aperfeiçoada, ainda que a 
fiscalização e monitoramento ainda sejam 
frágeis e inadequados em muitas regiões. 
Aumentou também o controle da sociedade 
civil (Ongs, grupos indígenas e de populações 
tradicionais) sobre grandes projetos. 
No que se refere à aqüicultura, algumas 
atividades como a carcinocultura tem 
apresentado impactos negativos sobre o meio-
ambiente costeiro em particular nas regiões 
Norte e Nordeste onde os grupos de pressão da 
sociedade civil são mais frágeis e os lobbies 
empresariais são mais fortes, conseguindo 
apoios na área governamental. No entanto, 
também na região sul os efeitos da degradação 
ambiental são importantes como é o caso do 
parque ostreícola e de mitilicultura de Santa 
Catarina que sofre os impactos negativos da 
grande expansão urbana e turística sobretudo 
nos meses do verão. 
 
 
 
55.. AAPPOOIIOO IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAALL EE LLEEGGAALL ÀÀ 
AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA 
5.1. Instituições Governamentais Federais 
a) SEAP Secretaria Nacional de 
Aqüicultura e Pesca: Pela primeira vez no Brasil 
a pesca e aqüicultura estão representadas a nível 
ministerial, com a criação, em 2003 da 
Secretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca Na 
SEAP existe uma Diretoria de 
Desenvolvimento da Aqüicultura (DIDAQ), 
 
dentro da qual estão a Coordenação Geral de 
Maricultura e a Coordenação da Aqüicultura 
Continental. A SEAP tem hoje representações 
regionais e estaduais que transmitem e 
coordenam nos Estados os planos da SEAP. 
Em 2005 o orçamento federal para 
aqüicultura era de 15,1milhões de reais, mas 
teve uma redução de mais de 50% em função 
de reduções orçamentais federais. 
- CONAPE: Conselho Nacional de 
Aqüicultura e Pesca: órgão consultivo da SEAP 
formado por representantes governamentais, de 
representação de pescadores, aqüicultores e 
industriais de pesca tem a função de assessorar 
a SEAP na construção de políticas públicas 
para a pesca e aqüicultura 
- Conferências de Pesca e Aqüicultura: A 
SEAP organizou duas conferências nacionais 
de consulta sobre a pesca e aqüicultura em 2003 
e 2005. Essas conferências são precedidas de 
conferencias estaduais das quais são levadas 
propostas para as conferências nacionais. Essas 
conferências têm grande participação de 
representantes de pescadores e pequenos 
aqüicultores, mas participação reduzida das 
associações de aqüicultores, sobretudo da 
carcinocultura. Estas últimas são criticadas por 
terem participação reduzida nas conferencias e 
por exercerem pressão direta sobre a SEAP 
além de terem lobbies estaduais e regionais 
importantes no Congresso Nacional e 
Assembléias Legislativas Estaduais, sobretudo 
dos Estados do Nordeste. 
A política da SEAP tem sido de apoio 
às atividades de aqüicultura, privilegiando 
aquelas voltadas à exportação, como a 
carcinocultura. Em muitos casos a SEAP é vista 
como aliada dos carcinocultores, sendo 
criticada por associações de pescadores 
artesanais e organizações não-governamentais 
ambientalistas em virtude da conversão de 
extensas áreas de mangue em fazendas, com 
grandes impactos ambientais e sociais. 
 
Estrutura jurídica 
Um dos obstáculos ao desenvolvimento 
da aqüicultura, sobretudo a costeira e marítima 
reside na desarticulação entre os órgãos 
responsáveis pelo estímulo à produção, 
principalmente a SEAP e os órgãos 
licenciadores, de maneira especial o 
IBAMA.Além disso, inúmeros outros órgãos 
públicos precisam ser consultados (ANA, 
Marinha, etc.) o que torna complexo o processo 
de licenciamento, uma vez que a maioria das 
áreas onde se instalam os parques aqüícolas 
costeiros é de propriedade da União. Por outro 
lado, esses órgãos recebem um número grande 
de pedidos de licenciamento e tendo-se em 
vista os impactos negativos sobre o ambiente 
costeiro, denunciados por órgãos como o 
Ministério Público, as entidades licenciadoras 
são analisar detalhadamente cada pedido. O 
número reduzido de analistas ambientais dessas 
instituições também dificulta a análise. Há casos 
conhecidos e denunciados pelo Ministério 
Público e da Advocacia pública, em alguns 
estados nordestinos em que técnicos e 
funcionários de órgãos licenciadores fazem os 
estudos necessários para a obtenção da licença, 
o que é proibido por lei. 
A legislação brasileira anterior à criação 
da SEAP tem poucos artigos referentes à 
aqüicultura, o que tem sido um grave entrave ao 
desenvolvimento e regulamentação das 
atividades aqüícolas. A SEAP instituiu um 
Grupo de Trabalho para rever a legislação 
vigente e elaborar um novo Código de 
Aqüicultura que ainda não foi promulgado. 
Mesmo depois da criação da SEAP, 
órgão responsável pelo estimulo ao 
desenvolvimento das atividades aqüícolas e 
pesqueiras, continuaram os conflitos entre essa 
secretaria e o IBAMA, responsável pela 
preservação do ambiente costeiro. O processo 
de licenciamento,a cargo do IBAMA é 
considerado longo demais pelos aqüicultores, 
pois exige analise detalhada dos impactos 
ambientais, além da autorização de uso do 
espaço costeiro, a ser fornecido pelo Serviço de 
Patrimônio da União, vinculado ao Ministério 
de Planejamento. Existem hoje (2005, SEAP-
Overview) cerca de 714 processos de projetos 
de aqui cultura, sobretudo de carcinocultura 
sendo analisados pelos órgãos oficiais cujos 
proponentes aguardam uma decisão final que 
pode levar meses. Estima-se que uma grande 
maioria das fazendas de carcinocultura (cerca 
de 60 a 80 porcento do total) esteja 
funcionando e produzindo sem a autorização 
final legal. 
 
Pela instrução normativa 
interministerial de 28 de maio de 2004, a SEAP, 
em acordo com diversos ministérios tentou 
disciplinar o processo de solicitação de 
implantação de projetos e fazendas aqüícolas. 
Por essa instrução, o Escritório Estadual da 
SEAP inicia o processo concedendo o Registro 
de Aqüicultor ao interessado, recebendo o 
projeto do interessado e encaminhando às 
várias instâncias: à Agência Nacional das Águas 
que concede outorga de direito de uso dos 
recursos hídricos: ao IBAMA, a licença 
ambiental e ao Serviço de Patrimônio da União-
SPU, a concessão do espaço costeiro para o 
projeto. É importante se lembrar que, no Brasil, 
as áreas próprias para aqüicultura são, em 
grande parte, propriedade da União. 
 
b) Ministério do Meio-Ambiente - Instituto 
Brasileiro do Meio-Ambiente (IBAMA) do 
Ministério do Meio-Ambiente, do qual foram 
retiradas algumas funções e passadas à 
Secretaria de Aqüicultura e Pesca tem a função 
de licenciar, juntamente com órgãos ambientais 
estaduais as fazendas de cultivo. O Ministério 
do Meio-Ambiente/IBAMA tem um papel 
fundamental a desempenhar no 
desenvolvimento da aqüicultura pois 
coordenam dois programas fundamentais para 
o gerenciamento e planejamento do uso dos 
espaços costeiros e continentais: O Plano 
Nacional de Gerenciamento Costeiro/ 
zoneamento ecológico-econômico e o Sistema 
Nacional de Unidades de Conservação-SNUC 
que serão analisados posteriormente. 
c) CONAMA - Conselho Nacional do Meio 
Ambiente, instância máxima de regulamentação 
ambiental no Brasil, criou, junto com instancias 
governamentais, ONGs e institutos de pesquisa 
um Grupo de Trabalho sobre licenciamento da 
atividade de carcinocultura que resultou na 
resolução CONAMA n. 312, de outubro de 
2002 que disciplina o licenciamento da 
atividade, possibilitando a exploração 
econômica com a preservação ambiental. A 
resolução 312 do CONAMA afirma que as 
instalações de carcinocultura devem obedecer 
ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro 
e ao Zoneamento Ecológico Econômico. A 
resolução exige licenciamento ambiental, com 
apresentação de Estudos de Impacto Ambiental 
para as fazendas maiores de 50 hectares, 
devendo elas deixarem um mínimo de 20% da 
área para a preservação integral. Uma vez 
cumpridas as exigências legais a licença de 
funcionamento é fornecida pelo IBAMA ou 
pelo órgão estadual de meio-ambiente que 
também são responsáveis pelo monitoramento 
das operações. 
Além dessa resolução, já em 1986 o 
CONAMA, através da resolução 20 estabelece 
padrões de qualidade da água doces, salobras e 
salinas, assegurando os diversos tipos de uso 
mais adequado a cada um. 
d) ANA- Agência Nacional de Águas. A 
legislação sobre o uso da água tem se 
aperfeiçoado no Brasil, em anos recentes, com 
a criação da Secretaria de Recursos Hídricos 
(SRH) em 1995, junto ao Ministério do Meio 
Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia 
Legal. Essa Secretaria elaborou a Política 
Nacional de Recursos Hídricos, promulgada 
pela lei n. 9.433 em 1997 que consolida a gestão 
desses recursos sobretudo através da criação 
dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Em 2.000 
foi criada a Agência Nacional de Águas a quem 
compete a implementação da Política Nacional 
de Recursos Hídricos. Compete à ANA a 
outorga dos direitos de uso dos recursos 
aquáticos e nesse sentido é mais um órgão 
oficial importante a ser consultado quando da 
aprovação de projetos de aqüicultura (ANA, 
2002). 
 
5.2. Órgãos governamentais Estaduais 
Em vários estados existem institutos de 
pesca ou instituições semelhantes e órgãos 
ambientais estaduais e municipais que 
promovem, dão autorizações e fiscalizam as 
atividades de aqüicultura. Em muitos casos, 
esses órgãos estaduais sofrem uma pressão 
maior por parte da aqüicultores e suas 
associações para liberarem áreas de cultivo.5.3. Instituições e programas de pesquisa 
Instituições de pesquisa tanto federais 
quanto estaduais tem longa tradição de pesquisa 
sobre a aqüicultura no Brasil. Existem 89 
instituições de pesquisa envolvidas, sendo 32 
delas situadas no Sudeste, 23 no sul, 21 no 
Nordeste e 5 no Centro-Oeste . Essas 
instituições oferecem 16 cursos de nível médio, 
 
42 cursos de graduação, 28 cursos de 
especialização, 27 cursos de mestrado e 13 
programas de doutorado no setor. Dentre essas 
instituições destacam-se os cursos de 
engenharia de pesca (e aqüicultura) onde é 
formado o pessoal técnico empregado nas 
fazendas de carcinocultura, particularmente no 
Nordeste. 
Existem, no entanto, algumas 
universidades, como a Federal de Santa 
Catarina que tem programas de extensão em 
aqüicultura e laboratórios bem equipados que 
fornecem juvenis e pós-larvas para as fazendas 
e projetos de aqüicultura. 
 
5.4. Instituições privadas 
No Brasil, existem mais de 80 
associações de pequenos aqüicultores, mas com 
fraca articulação fora do nível local/municipal e 
com pouca capacidade de expressar seus 
interesses regional ou nacionalmente. (SEAP- 
Overview, 2005). Existem, no entanto, algumas 
poucas associações ligadas à aqüicultura 
comercial e de exportação que tem capacidade 
de influenciar políticas públicas para o setor. 
Entre elas estão: a) Associação Brasileira de 
Criadores de Camarão - ABCC que tem maior 
acesso a instituições públicas, como a SEAP e 
maior capacidade de lobby com membros do 
poder legislativo tanto federal quanto estadual. 
A ABCC congrega 10 associações regionais e 
atua principalmente no apoio à exportação e 
defesa do setor em discussões internacionais, 
como a defesa feita junto às autoridades norte-
americanas que impuseram medidas anti-
dumping a várias empresas brasileiras 
exportadoras de camarão. Além da ABCC 
existem outras associações ligadas à aqüicultura: 
ABRACOA: Associação Brasileira de 
Organismos Aquáticos, formada em 1982 e a 
AQUABIO: Associação Brasileira de 
Aqüicultura e Biologia Aquática, formada em 
2002 sobretudo por técnicos e pesquisadores 
para fornecer subsídios técnicos e científicos 
aos aqui cultores. 
 
5.5. Principais Programas ligados à 
aqüicultura 
 
5.5.1. Da SEAP: Programa de Desenvolvimento local 
da Maricultura: PLDM 
 
A instrução normativa da SEAP,de 3 de 
fevereiro de 2006 instituiu os comitês estaduais 
e locais de aqüicultura - PLDM- com a 
finalidade de integrar as ações dos diversos 
ministérios e instituições públicas e privadas 
que atuam na área. Uma das funções desses 
comitês é demarcar as áreas para os parques 
aqüícolas e para o exercício da pesca artesanal. 
Cada comitê será gerido por um comitê 
gestor, coordenado pela SEAP e constituído 
por órgãos governamentais, representantes de 
aqüicultores e pescadores, Organizações não-
governamentais e instituições de pesquisa. A 
instrução normativa enfatiza a necessidade de 
articulação da definição das áreas aqüícolas com 
os planos de gerenciamento costeiro e 
zoneamento ecológico econômico para 
disciplinar o uso do solo em áreas costeiras, 
evitando-se sua degradação.As solicitações de 
instalação de projetos e fazendas aqüícolas 
deverão ser feitas prioritariamente nas áreas 
reservadas para essas atividades: os parques 
aqüícolas estaduais e municipais. Os dois 
primeiros comitês PLDM foram criados em 
Pernambuco e Alagoas. 
 
Programa de melhoria das condições sanitárias 
que deve ser iniciado este ano visa estabelecer 
controle sanitário e bacteriológico para a 
produção de moluscos, a começar pelo Estado 
de Santa /Catarina, maior produtor de ostras e 
mexilhões do Brasil. 
 
5.5.2. Programas do Ministério do Meio-
Ambiente/IBAMA de relevância para a aqüicultura. 
 
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro 
O ordenamento territorial costeiro é 
considerado fundamental para resolver os 
conflitos entre as diversas atividades 
econômicas existentes no litoral 
O Plano Nacional de Gerenciamento 
Costeiro foi implantado pela lei 7.661 de maio 
de 1988 e prevê o zoneamento de usos e 
atividades da zona costeira, dando prioridade de 
conservação e proteção aos recursos naturais 
renováveis e não renováveis,aos sítios 
ecológicos de relevância cultura e unidades de 
proteção, bem como a monumentos que 
 
integram o patrimônio historio e paisagístico do 
litoral. 
Pelo decreto n. 5.300, de 7 de dezembro 
de 2004, o Presidente da Republica 
regulamentou a lei n.7661 de maio de 1988, 
dispondo sobre regras de uso e ocupação da 
zona costeira e estabelece critérios de gestão da 
orla marítima. Esse decreto estabelece as bases 
para a formulação de políticas, planos e 
programas federais, estaduais e municipais e 
constitui, sem dúvida, um avanço sobre a 
situação anterior. 
Os instrumentos mais importantes são 
os Planos Estaduais e Municipais de 
Gerenciamento Costeiro que serão instituídos 
por lei, onde devem estar definidos o sistema 
de gestão costeiro e seus instrumentos, as 
infrações e penalidades previstas em leis.As 
competências são distribuídas entre o 
Ministério do Meio-Ambiente, o IBAMA e os 
Poderes Públicos Estaduais e Municipais. 
Entre as varias regras de uso e ocupação 
da zona costeira está o artigo 5 onde se afirma 
que a aprovação de financiamento com 
recursos da União e fontes externas para 
empreendimentos, incluindo a aqüicultura 
ficará condicionada à sua compatibilidade com 
as normas e diretrizes do planejamento 
territorial do Estado e Municípios; qualquer 
desmatamento, quando previsto em lei, será 
compensado pela averbação de uma área 
equivalente; os bancos de moluscos e 
formações coralíneas e rochosas serão 
identificados e delimitados; será garantido o 
acesso público ao mar. Além disso, o decreto 
define os limites, objetivos e competências para 
a gestão da orla marítima. Ficam estabelecidas 
diversas classes de espaços litorâneos, dos mais 
preservados aos mais intensamente utilizados 
por atividades humanas. As atividades de 
maricultura estão incluídas na classe B, 
entendidas como atividades compatíveis com a 
conservação das características e funções 
ambientais. 
O litoral do Nordeste, onde se 
encontram as fazendas de aqüicultura foi 
considerada uma área prioritária para a 
implementação do Decreto 5.300, implicando 
uma maior atenção do poder público para essas 
áreas. Nenhum dos estados do Nordeste 
aprovou ainda uma lei estadual de 
gerenciamento costeiro. Propostas de 
zoneamento costeiro existem nos estados do 
Maranhão, do Ceará, do Rio Grande do Norte, 
da Paraíba (parte do litoral), Alagoas, Sergipe. 
No estado da Bahia já existe o zoneamento e 
um anteprojeto de Lei do Plano Estadual do 
Gerenciamento Costeiro. 
 
 Por enquanto, a nosso conhecimento, 
somente a Assembléia Legislativa do Estado de 
Santa Catarina, aprovou uma lei estadual de 
gerenciamento costeiro em setembro de 2005 
que deverá disciplinar o desenvolvimento e a 
preservação ambiental e deverá ser um 
instrumento importante para regulamentar as 
fazendas aqüícolas do litoral catarinense. 
 
Programa de Áreas protegidas marinhas de 
uso sustentável e aqüicultura 
As áreas protegidas marinhas e costeiras 
que cobrem uma superfície cada vez maior do 
litoral brasileiro podem ser considerados 
instrumentos importantes para a gestão dos 
espaços litorâneos. Além de parques nacionais 
marinhos, onde não é permitida a presença 
humana, as unidades de conservação de uso 
sustentável são categorias que podem ajudar a 
disciplinar o uso do espaço costeiro, reservando 
a pescadores e aquicultores espaços e acessos 
aos recursos naturais garantidos pela legislação. 
O Brasil é pioneiro na América Latina 
na criação de áreas protegidas de uso 
sustentável na região costeira/oceânica, 
regulamentadas pelo Sistema Nacionalde Áreas 
Protegidas-APAs. São elas: as reservas 
extrativistas, as reservas de desenvolvimento 
sustentável e as áreas de proteção ambiental. 
Ao contrario das áreas protegidas de proteção 
integral (parques nacionais, estações ecológicas, 
etc.) as áreas de uso sustentável pressupõe a 
presença de populações tradicionais 
(pescadores artesanais, pequenos aqüicultores, 
entre outros).( Ver mapa 2, em anexo) 
Essas áreas cobrem hoje milhares de 
hectares em águas estuarinas e costeiras e a 
tendência é de crescimento rápido. Nas áreas 
costeiras de uso sustentável já existem projetos 
de pesca e aqüicultura com a finalidade de 
aumentar a renda dessas populações e garantir, 
ao mesmo tempo, a sustentabilidade dos 
recursos naturais marinhos. Os projetos de 
 
maricultura (mexilhões, ostras) e de manejo 
pesqueiro são promissores para as populações 
tradicionais pois essas reservas têm limites 
territoriais reconhecidos por lei, de uso 
exclusivo de uma associação local e planos de 
manejo. Compete ao CNPT Conselho Nacional 
de Populações Tradicionais, órgão ligado ao 
IBAMA a implantação das Reservas 
Extrativistas e de Desenvolvimento 
Sustentável. 
Nas águas continentais, as experiências 
mais promissoras são as dos Acordos de Pesca 
em lagos fluviais da Amazônia, garantidos por 
regulamentos aprovados pelo IBAMA. 
Os Acordos de Pesca são 
regulamentados pela normativa número 
29/03/IBAMA. Este instrumento tem o 
objetivo de definir as regras de acesso e de uso 
dos recursos pesqueiros numa determinada 
região, elaborados pela própria comunidade e 
demais usuários. Os acordos são realizados 
entre pescadores locais e os de fora, entre 
pescadores artesanais e industriais, em geral na 
região Amazônica. Vários desses acordos estão 
em funcionamento em lagos do Médio 
Amazonas 
 
Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX 
marinhas) 
Reservas extrativistas marinhas são 
unidades de conservação de uso sustentável 
destinadas à conservação dos recursos 
marinhos e à melhoria das condições de vida 
das comunidades associadas a essa unidade.. As 
RESEXs são áreas de domínio público, 
concedida às populações tradicionais, 
necessitando, portanto, de desapropriação de 
áreas particulares. São regidas por um Conselho 
Deliberativo que tem a primeira função de 
aprovar o Plano de Manejo. 
Já foram criadas cerca de 9 cerca de 
reservas extrativistas marinhas sendo 2 no Pará, 
1 no Piauí/Maranhão, 1 no Ceará; 2 na Bahia, 1 
no Rio de Janeiro, 1 em Santa Catarina e 1 em 
São Paulo. Algumas delas são de grande 
extensão territorial, como a de Cabo Frio (RJ) 
com 56.000 ha, a de Ponta do Corumbau 
(Bahia, com 38.000 hectares) (Site IBAMA, 
2006) 
Outras 30 novas reservas extrativistas 
marinhas estão sendo analisadas pelo CNPT e 
há cerca de 160 novos pedidos de criação 
aguardando estudos e pareceres técnicos. (Ver 
Mapa 2, em anexo) 
Reservas de Desenvolvimento Sustentável-
RDS 
São unidades de conservação de uso 
sustentável destinadas à conservação dos 
recursos e à melhoria das condições de vida das 
comunidades tradicionais. As RDSs são 
definidas no art. 20 do SNUC como: "uma área 
natural que abriga populações tradicionais, cuja 
existência baseia-se em sistemas sustentáveis de 
exploração dos recursos naturais, desenvolvidos 
ao longo de gerações e adaptados às condições 
ecológicas locais e que desempenham um papel 
fundamental na proteção da natureza e na 
manutenção da diversidade biológica Deverá 
ser regida por um Conselho Deliberativo, 
sendo também necessária a aprovação do Plano 
de Manejo, que "definirá as zonas de proteção 
integral, de uso sustentável e de amortecimento 
e corredores ecológicos" (parágrafo 6°). 
Existe, até agora, RDS criada na Ponta 
do Tubarão, Galinhos-Guamaré (Rio Grande 
do Norte): importante pólo de pesca artesanal 
(sardinha e peixe voador), onde a RDS foi 
criada como uma reação dos pescadores à 
carcinicultura, ao turismo convencional e ao 
petróleo. Na Amazônia existe um número 
crescente de RDS sendo criadas no Estado do 
Amazonas, onde existe também a RDS de 
Mamirauá que adquiriu grande experiência em 
manejo comunitário de recursos pesqueiros. 
 
APAs- Áreas de Proteção ambiental 
São unidades de conservação de uso 
sustentável destinadas a resolver conflitos de 
uso. O artigo 15 do SNUC define APA como 
''uma área em geral extensa, com um certo grau 
de ocupação humana, dotada de atributos 
abióticos, bióticos, estéticos ou culturais 
especialmente importantes para a qualidade de 
vida e o bem-estar das populações humanas, e 
tem como objetivos básicos proteger a 
diversidade biológica, disciplinar o processo de 
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso 
dos recursos naturais."As APAs são 
constituídas de terras públicas e privadas, 
devendo dispor de um Conselho" presidido 
pelo órgão responsável por sua administração e 
constituído por representantes dos órgãos 
 
públicos, de organizações da sociedade civil e 
da população residente, conforme se dispuser 
no regulamento desta Lei" (parágrafo 5°). 
Existem mais de uma dezena de APAS 
no litoral brasileiro, muitas delas ocupando 
extensos espaços costeiros ocupados por 
diferentes tipos de atividades humanas e 
unidades de conservação. Cada APA tem um 
conselho gestor formado pela administração 
(IBAMA), órgãos de meio-ambiente estaduais e 
municipais, Organizações não-governamentais 
e representantes de associações locais. A 
legislação indica que qualquer projeto que possa 
ter impacto significativo sobre o meio-ambiente 
deve apresentar um estudo de impacto 
ambiental. Pela sua amplitude e pelo seu tipo de 
regulamentação, a APA pode ser um 
instrumento importante nos planos de 
zoneamento ecológico/econômico do litoral. 
Existem hoje propostas de legislação para se 
proibir fazendas de carcinocultura nas unidades 
de conservação de uso sustentável, incluindo 
nas Áreas de Proteção Ambiental.( Ver mapa 2 
em anexo) 
Existem APAs de grande extensão 
territorial, estendendo-se por centenas de 
quilômetros como é o caso da APA do 
Arquipélago do Marajó, no Pará, a APA das 
Reentrâncias Maranhenses, e dos Pequenos 
Lençóis, que cobrem quase todo o litoral do 
Estado do Maranhão, a APA da Costa dos 
Corais que abrange grande parte do litoral 
Pernambuco (413.563 hectares), A APA de 
Cairuçu, no litoral do Rio de Janeiro ; as APAs 
de Guaraqueçaba e de Guaratuba que se 
estendem por grande arte do litoral paranaense 
e a APA da Baleia Franca que cobre grande 
parte do litoral catarinense. Além delas, existe 
um grande número de Áreas de Proteção 
ambiental espalhadas pelo litoral brasileiro e 
que configuram um grande potencial de 
planejamento e gerenciamento costeiro. 
 
Fóruns de pesca ou do litoral 
São instrumentos não regulamentados 
que surgem da própria organização da 
comunidade e sua necessidade de discutir seus 
problemas e buscar suas soluções. Em não 
existindo uma regulamentação, ele pode ocorrer 
de várias formas, com variados participantes, 
desde a própria comunidade como também 
agentes de governos municipais, estaduais e 
federais e/ou ONGs. Em geral os Fóruns são 
espaços de debate estimulados por entidades 
não-governamentais, e governamentais, 
empresários sindicatos, igrejas, e outras 
associações, para solucionar conflitos 
decorrentes dos diversos tipos de pesca, 
atividades turísticas e de gestão territorial. 
Existem experiências de fóruns no Ceará, na 
Lagoa dos Patos (RGS), na lagoa de Ibiraquera 
(Santa Catarina) podem ser consideradas 
instâncias importantes para a solução de 
conflitos entre diversas atividades e usuários 
bem como para planos de zoneamento 
econômico-ecológico em páreas costeiras. ( Ver 
mapa 2 em anexo) 
 
5.5.3. Programas de empresas privadas 
Algumas entidades de aqüicultura, entre 
as quais cooperativas e a AssociaçãoBrasileira 
de Criadores de Camarão-ABCC, estão 
desenvolvendo um sistema de certificação 
visando a melhoria do sistema de gestão dos 
empreendimentos, incluindo a produção de 
pós-larvas, rastreabilidade, controle do produto, 
preservação ambiental e segurança no trabalho. 
Além disso, a ABCC elaborou um manual de 
Uso das Boas Práticas de Fabricação da ração 
de camarão cultivado, envolvendo a compra de 
ingredientes, seu armazenamento, 
processamento, armazenamento e transporte. 
(www.abccam.com.br) 
 
5.5.4. Instrumentos internacionais 
 
A Agenda 21 e o Código de Pesca 
Responsável 
Tanto a Agenda 21 quanto o Código de 
Pesca Responsáveis estão sendo considerados 
como instrumentos importantes de gestão dos 
recursos aquáticos no Brasil e cada vez mais 
incorporados em programas tanto 
governamentais quanto de ONGs e 
Associações locais. 
 
 
 
 
66.. AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA,, SSEEGGUURRAANNÇÇAA AALLIIMMEENNTTAARR,, 
PPOOBBRREEZZAA EE RREENNDDAA.. 
No Brasil, o potencial de aumento da 
pesca marítima é reduzido e os efeitos da 
sobrepesca em áreas costeiras e da degradação 
ambiental fazem com que a renda dos 
pescadores artesanais decresça a cada ano. A 
esses fatores ambientais constata-se que a falta 
de emprego nessas áreas atrai um número cada 
vez maior de pessoas sem qualificação 
profissional para atividades extrativas (coletas 
de moluscos), aumentando a pressão sobre os 
recursos naturais, os conflitos com os 
pescadores profissionais e causando uma 
diminuição de renda ainda maior. No entanto, 
deve-se constatar que apesar do pouco apoio 
dos governos, a pesca artesanal representa mais 
de 50% da produção de produtos da pesca, e 
em algumas regiões como o Nordeste, a 
importância dessa pesca é ainda maior que nos 
estados do Sul e Sudeste, tanto em número de 
pessoas empregadas quando na contribuição 
para a segurança alimentar. É conhecido que, 
sobretudo no Nordeste, as regiões estuarinas e 
costeiras garantem às populações locais uma 
fonte de proteína mais segura que as regiões 
rurais, muitas vezes castigadas pela seca e pela 
desertificação. 
Nesse sentido, as atividades que 
reduzem as áreas tradicionais de pesca ou 
dificultam o acesso aos locais de trabalho, 
como a expansão urbana indiscriminada, a 
expansão das monoculturas, como a da cana-
de-açúcar, a destruição de habitas importantes 
como o mangue, a carcinocultura de exportação 
e a degradação ambiental são processos que 
afetam negativamente a segurança alimentar das 
comunidades costeiras, sobretudo as mais 
pobres. 
Entre os grupos sociais mais afetados 
estão as mulheres, sobretudo as do Nordeste, 
que vivem do extrativismo, sobretudo de 
moluscos que garantem a alimentação em 
períodos em que a pesca é fraca e também uma 
complementação de renda familiar. Estados do 
Nordeste, como a Bahia em que mais se 
expande a carcinocultura são aqueles em que as 
mulheres têm maior peso para a segurança 
alimentar. 
Uma questão frequentemente discutida 
é a contribuição da carcinocultura para o 
aumento do nível de emprego. No caso da 
carcinocultura, a ABCC calcula que essa 
atividade gera cerca de 3,75 empregos por 
hectare o que somaria cerca de 56.000 
empregos somente no Nordeste que conta hoje 
com 15.039 hectares de tanques. 
 Como ser verá a seguir, outros estudos 
mostram que o número de empregos 
permanentes gerados são muito menores que 
os indicados pela ABCC. Como inexistem 
estudos mais amplos sobre a renda gerada pela 
carcinocultura, além do obtido pelas 
exportações, passamos a expor, resumidamente, 
um estudo de caso realizado no estuário do rio 
Curimatau, litoral sul do estado do Rio Grande 
do Norte, o maior produtor de camarão 
cultivado do Brasil (Sales, 2003). 
Esse estudo do IDEMA (Instituto de 
Desenvolvimento econômico e meio-ambiente 
do Rio Grande do Norte), revela que no 
município de Canguaretama que concentra o 
maior número de fazendas do estuário, existiam 
em 2003 (Sales, 2003) cerca de 41 
empreendimentos ocupando 989 hectares. 
Desse total, 63% eram pequenos 
empreendimentos com média de 5 hectares de 
área, empregando 127 empregados, ou seja 0,89 
pessoas por há. Cerca de 11 (27%) 
empreendimentos eram considerados médios, 
ocupando uma área média de 28 hectares cada 
um e empregando 0,9 trabalhador por hectare. 
Além disso havia 4 grandes fazendas (10%), 
ocupando uma área média de 135 hectares 
ocupando 0,65 pessoas por hectare. (Sales, 
2003) 
Por esse estudo constata-se que a 
maioria dos empreendimentos é de pequeno 
porte (63%), ocupando cerca de 18,0% da área 
e que os grandes empreendimentos, apesar de 
representarem cerca de 10% do total, são 
responsáveis por quase 55% da área de 
 
cultivo.Estes últimos empregam menos 
trabalhadores por hectare que os pequenos e 
médios empreendimentos. 
Tomando-se a média de 0.8 empregos 
por hectare, haveria hoje cerca de 12.000 novos 
empregos criados pela carcinocultura e não 
56.000 como divulgado pela ABCC 
O estudo também revela que cerca de 
90% dos empreendimentos não tinham 
autorização legal de funcionamento, proporção 
que pode ser mais elevada quando se acrescenta 
num número desconhecido de criadores 
totalmente clandestinos que não constavam do 
cadastro do IDEMA. Um outro dado relevante 
é que a quase totalidade da produção se dirige 
para a exportação.(Sales, 2003) 
Um outro dado relevante revelado pelo 
estudo é que 35% das pessoas são analfabetas, 
65% dos chefes de família tem rendimentos 
inferiores ao salário mínimo (306 reais mensais) 
e que 20% do total desses chefes de família não 
tem rendimento monetário. A maior parte dos 
chefes de famílias são pescadores e coletores de 
moluscos, e alguns poucos trabalham em outras 
atividades, como cultivo e processamento de 
cana de açúcar e lavouras de subsistência. Nesse 
contexto, as fazendas de carcinocultura 
oferecem uma alternativa de emprego e renda, 
empregando mais de 750 pessoas somente no 
município de Canguaretama. No entanto, 
segundo declarações de pescadores locais, a 
renda obtida com a pesca é ainda duas vezes 
maior que os salários pagos pelas fazendas de 
carcinocultura. No entanto, a pesca e a coleta 
de moluscos estão decadentes na área, entre 
outras razões pela restrição cada vez maior aos 
locais de pesca advinda da expansão da 
monocultura da cana-de-açúcar e das fazendas 
de carcinocultura que ocupam o mangue e áreas 
vizinhas. A degradação causada por essas 
atividades teria causado, segundo moradores, 
por um incidente ocorrido em 1999 que 
dizimou os estoques de caranguejo do 
manguezal do rio Curimataú, considerado 
como o principal pólo de produção desse 
molusco. 
Os impactos ambientais decorrentes de 
processos anteriormente descritos são sentidos 
como a causa principal da degradação 
ambiental na região, assinalada por 38% dos 
entrevistados pela pesquisa (Sales 2003) 
A saúde da população é precária, 
agravada, segundo autoridades municipais de 
Canguaretama por problemas alérgicos e 
intoxicação de trabalhadores que manipulavam 
insumos utilizados nas fazendas de camarão. 
Entre os produtos usados aí estavam o meta-
bissulfito de sódio e um biocida organo-
fosforado usado tanto no cultivo da cana-de-
açúcar quanto na limpeza dos viveiros. (Sales, 
2003) 
Para as autoridades municipais, ainda 
que a produção de camarão seja isenta de 
impostos e pouco contribua diretamente para 
as finanças do município e que tenha impactos 
negativos sobre a pesca e o turismo, é uma 
fonte geradora de empregos. Dada a crescente 
importância da carcinocultura, particularmente 
nos estados pobres do Nordeste, estudos 
sócio/econômicos e ambientais deveriam ser 
realizados para avaliar não somente a renda e os 
empregos gerados mas as externalidades 
geradas por essas atividades que inviabilizam, 
em muitoscasos, a pesca artesanal, a coleta de 
crustáceos e moluscos pela degradação 
sobretudo do mangues e dos estuários, 
reduzem o potencial de atividades turísticas e 
trazem problemas de saúde para a população. 
Finalmente, alguns comentários sobre a 
carcinocultura familiar, proposta por alguns 
como uma estratégia para o aumento da renda e 
emprego das camadas mais pobres da 
população. Calcula-se que uma proporção 
importante dos aqüicultores é de pequenos 
produtores, que possuem até 5 hectares de 
tanques. (ABCC considera pequeno 
empreendimento aquele que tem até 50 
hectares). Um estudo realizado (Flores, M. Ação 
integrada: carcinocultura familiar, 2004) indica que o 
custo de produção para um aqüicultor de cerca 
de 5 há é de 13.500 reais por hectare. O custo 
de produção para 5 hectares seria de 71.500 
reais e a receita media seria de 127.200,00 reais, 
proporcionando um lucro de 55.600,00 reais 
por ano ou 4.637 reais por mês. 
Flores afirma então que com esse nível 
de receitas e despesas dificilmente esses 
pequenos produtores (!) poderiam se enquadrar 
na categoria de agricultores familiares e ter 
acesso às fontes de financiamento existentes 
para essa categoria. Seria importante se realizar 
estudos para entender como esses chamados 
 
pequenos empreendedores com uma renda 
média mensal de 4.637 reais (ou 3.700 dólares 
americanos) conseguem manter uma atividade 
tão lucrativa como a carcinocultura considerada 
de pequena escala (1). 
Não existem informações sobre número 
de aqüicultores empregados nas atividades de 
criação de moluscos na zona costeira nem 
sobre a renda gerada. Há indicações, no 
entanto, que a grande maioria deles é de 
pequenos produtores, muitos pescadores que 
dividem seu tempo entre a pesca e o cuidado de 
sua criação. Em Santa Catarina, o pólo mais 
importante no Brasil de malacultura e 
ostreicultura a quase totalidade é formada de 
pequenos produtores, muitos advindos da 
pesca artesanal. Em muitos casos, como no 
citado acima, existem organizações de 
produtores e cooperativas responsáveis pela 
distribuição e comercialização do produto a 
nível local e regional. 
 
A produção aqüícola de água doce 
brasileira é duas vezes maior que a marinha e 
grande parte dela é realizada em tanques e 
represas existentes propriedades agrícolas 
pequenas e médias.Também aí não se dispõem 
de informações sobre número de empregos e 
renda. 
 
 
 
77.. EESSTTUUDDOOSS DDEE CCAASSOO SSOOBBRREE EEXXPPEERRIIÊÊNNCCIIAASS 
PPIIOONNEEIIRRAASS EEMM AAQQÜÜIICCUULLTTUURRAA FFAAMMIILLIIAARR 
 
 
 
Nessa seção serão analisadas algumas 
experiências sob forma de estudos de caso, a 
partir das quais podem ser retiradas lições 
importantes para o desenvolvimento de uma 
aqüicultura sustentável no Brasil. Os locais 
dessas experiências são mostrados no Mapa 1, 
em anexo. 
 
7.1. O Caso do surgimento da maricultura em 
Santa Catarina: a colaboração entre instituições de 
pesquisa, de extensão e associações de aqüicultores. 
Desde 1990 está em curso uma 
experiência inovadora no Estado de Santa 
Catarina, no sul do Brasil envolvendo 
laboratórios da Universidade Federal de Santa 
Catarina, serviço de extensão aqüícola 
(EPAGRI) e associações de aqüicultores. 
Essa cooperação é feita no quadro de 
um Estado de grande experiência pesqueira (o 
segundo maior desembarque industrial de 
pescado do Brasil), mas que desde os anos 1980 
enfrenta grave crise na pesca artesanal em 
virtude, principalmente do escasseamento dos 
recursos pesqueiros costeiros. Muitos 
pescadores artes anais deixaram a atividade e 
foram se incorporando à aqüicultura (mexilhão, 
ostra, camarão) que conta também com grande 
mercado, incluindo a grande população de 
turistas e veranistas que procuram o lazer nas 
apreciadas praias do litoral. Esse estado, por 
outro lado, é conhecido pela grande 
importância da pequena produção familiar na 
agricultura e no consorciamento entre 
rizicultura e criação de peixes de água doce. 
O litoral de Santa Catarina, com 600 km 
de extensão é recortado por um grande número 
de baías, manguezais e estuários propícios à 
aqüicultura marítima. Desde o início da década 
de 1970, a Universidade de Santa Catarina 
iniciou atividades de pesquisa em aqüicultura 
costeira (cultivo de tainhas) mas ainda que essa 
experiência não tenha dado resultados práticos, 
serviu para agrupar um grupo de pesquisadores 
da Universidade e do então órgão de extensão 
pesqueira, a Acarpesc, que posteriormente foi 
transformado em EPAGRI. O resultado dessa 
cooperação resultou no estabelecimento de um 
curso de Mestrado em Aqüicultura da 
Universidade Federal de Santa Catarina, um dos 
pioneiros do Brasil e que deu prioridade aos 
aspectos práticos de solução de problemas dos 
aqüicultores. Tanto a universidade quanto o 
Epagri constituíram equipes interdisciplinares e 
conseguiram a cooperação de universidades 
canadenses, que ajudaram na melhoria dos 
laboratórios. 
As espécies escolhidas são de grande 
importância para os produtores locais: o 
camarão Penaeus paulensis e P schmnitti, o 
 
mexilhão Perna Perna, a vieira Nodipecten e a 
ostra japonesa, Cassostrea gigas. (Andreatta, E. 
2000) 
 
O cultivo de mexilhões 
As primeiras tentativas de cultivo foram 
realizadas na década de 1980, quando 
pesquisadores da Universidade e da EPAGRI 
iniciaram, junto com os pescadores locais 
pequenas unidades de produção. No inicio 
houve dificuldades de adaptação ao cultivo por 
parte dos pescadores, mas com o resultado das 
primeiras colheitas logo perceberam o potencial 
de criação de emprego e renda e a possibilidade 
de não precisar migrar para outras regiões 
como acontecia no passado. Em 2.000, a 
produção já atingia 5.000 toneladas, com o 
envolvimento de 600 pescadores/aqüicultores. 
Hoje existem mais de 1.000 malacultores, 18 
associações e 4 cooperativas distribuídos em 
vários municípios litorâneos. A produção de 
mexilhões de Santa Catarina é a maior do país, 
atingindo quase 10.000 toneladas. (Andreatta, 
E, 2000) 
 
O cultivo de ostras 
Em 1985 iniciaram-se os primeiros 
cultivos junto aos pescadores, com a 
importação e sementes da Cassostrea gigas. A 
Universidade implantou um moderno 
laboratório de produção de sementes que são 
distribuídas aos produtores. Os resultados 
foram muito positivos e hoje a produção de 
ostras atinge 2.500 toneladas, a maior do Brasil, 
comercializada também em outros centros 
consumidores como São Paulo e Rio de 
Janeiro. O problema maior que esses 
aqüicultores estão enfrentando é a preocupante 
mortalidade que ocorre nos meses quentes do 
verão, a expansão pouco planificada das 
fazendas de ostra, em grande parte de 
propriedade de pequenos produtores e 
deterioração da qualidade da água, sobretudo 
no verão quanto é grande a afluência de turistas 
nacionais e estrangeiros.(Andreatta, 2000) 
 
Cultivo de camarões marinhos 
A Universidade iniciou em 1984 as 
pesquisas de reprodução do camarão rosa, 
nativo (Penaeus paulensis) de alto valor de 
mercado e sem muitos dos problemas que 
afetam a produção do camarão P. vanamei, 
espécie exótica largamente cultivada no 
Nordeste. Nos últimos 10 anos os 
pesquisadores dominaram a reprodução em 
cativeiro, iniciando o repovoamento de lagoas 
costeiros e fornecendo pós-larvas a aqüicultores 
que começaram a cultivá-lo em sistema semi-
intensivo. A produtividade nesse sistema é de 
1.200 kg/há/ano, com custos de produção 
entre 2,50 e 4,50 reais/kg de camarão. O custo 
de implantação dos cultivos (por volta de 
10.000 reais por hectare, as dificuldades 
encontradas na liberação de áreas pelos órgãos 
ambientais e dificuldades de gestão estão entre 
os principais problemas a serem resolvidos). Já 
o programa de repovoamento a partir de pós-
larvas tem apresentado êxitos,uma vez que as 
taxas de recaptura em lagoas costeiras povoadas 
chega a 30%. Um dos problemas encontrados é 
que os pescadores não esperam o camarão 
atingir o peso médio de 12 gramas para 
capturá-lo, necessitando-se a implantação de 
programas de organização e educação dos 
pescadores para que a pesca seja sustentável 
sob o ponto de vista econômico, social e 
ecológico. (Andreatta, 2000) 
Além disso, a Universidade mantém um 
programa de implementação da Agenda 21 em 
lagunas costeiras do Estado, com projetos de 
organização dos pescadores para obter um 
maior beneficio do repovoamento feito, 
sobretudo na lagoa de Ibiraquera. 
O programa acima descrito é pioneiro 
pois conseguiu reunir e integrar aspectos 
fundamentais que podem fazer com que a 
aqüicultura familiar tenha sucesso: a pesquisa, a 
extensão e a intervenção na cadeia produtiva e 
comercialização dos produtos. Houve um 
esforço de cooperação entre a pesquisa, a 
extensão e a organização dos pescadores, 
enfrentando-se não somente os problemas 
técnicos, mas também sociais, culturais e de 
comercialização. 
Um dos aspectos mais importantes foi a 
transformação gradativa de pescadores artes 
anais em aqüicultores, processo complexo num 
país com experiências incipientes em produção 
aqüícola. Em alguns casos, os pescadores 
combinam as atividades extrativas de pesca 
com as de aqüicultura, em outros eles passam a 
viver exclusivamente das áreas de cultivo que, 
 
em geral, estão situadas em frente às suas 
residências. O fato de a região receber um 
grande número de turistas causa problemas de 
qualidade da água sobretudo no verão, gerando 
conflitos de uso do espaço litorâneo, mas por 
outro lado, são grandes consumidores de ostras 
e mexilhões, o que tem contribuído para o 
aumento da renda dos aqüicultores. Já existe a 
necessidade sentida por atores e órgãos 
ambientais de um gerenciamento costeiro que 
possa harmonizar os diversos usos da zona 
costeira,sobretudo a pesca artesanal, a 
aqüicultura, os esportes náuticos e o turismo. A 
lei estadual de gerenciamento costeiro foi 
aprovada em 2006, estabelecendo-se 
parâmetros de ocupação para as diversas 
atividades econômicas. 
 
7.2. A Reserva Extrativista do Mandira 
(Cananéia-SP) e a ostreicultura. 
Em inícios dos anos 90 foram criadas as 
primeiras reservas extrativistas no Acre-
Amazônia, como resultado da luta dos 
seringueiros pelo controle de seus seringais, 
ameaçados pelos fazendeiros que destruíam a 
mata. Em 1992, esse modelo foi entendido às 
populações extrativistas litorâneas que vivem da 
pesca e do extrativismo de moluscos, com a 
criação da Resex Marinha de Pirajubaé, em 
Santa Catarina, numa área de 1.400 hectares, 
beneficiando 600 extrativistas que viviam da 
coleta de moluscos e que hoje contam com um 
plano de manejo afim de garantir a 
sustentabilidade no uso dos recursos naturais. 
Esse modelo está sendo adotado por 
um número crescente de comunidades de 
pescadores, extrativistas e aqüicultores para 
resolver problemas de conflitos de uso, como a 
pesca industrial, a urbanização desordenada e 
mesmo, hoje, a carcinocultura empresarial de 
grande porte. Uma das facilidades em sua 
implantação é o fato do espaço físico de corpos 
litorâneos d'água serem de domínio da União e 
portanto, não requerem desapropriação, como 
ocorre com as reservas extrativistas florestais da 
Amazônia. 
As Reservas Extrativistas Marinhas, 
bem como as Reservas de Desenvolvimento 
Sustentável e as Áreas de Proteção Ambiental 
são unidades de conservação de uso sustentável 
e de uso múltiplo, tendo um grande potencial 
de contribuição ao gerenciamento costeiro e à 
solução de conflitos em áreas costeiras. Elas 
têm áreas definidas e garantidas por lei, pois 
constam da lei que criou o Sistema Nacional de 
Unidades de Conservação em 2001. 
 
A Reserva Extrativista Marinha do 
Mandira 
O processo de criação dessa reserva foi 
iniciado em 1993, com um grupo de 
pesquisadores da Universidade de São Paulo 
(Nupaub) que fizeram um estudo sobre as 
comunidades de pescadores e extrativistas do 
município de Cananéia que viviam da coleta de 
ostra de mangue (Cassostrea brasiliana). Naquele 
período a produção anual era de 
aproximadamente 70.000 dúzias, extraídas com 
o corte da raiz de mangue, atividade proibida 
pela legislação. A produção era vendida a 
comerciantes a um preço baixo e em péssimas 
condições sanitárias. A comunidade escolhida 
para o projeto foi a do Mandira, onde vivem 
famílias de quilombolas (descendentes de 
escravo), por apresentarem uma sólida 
organização social, baseada em famílias 
extensas. Em 1994-1995 foram feitos os laudos 
antropológicos e biológicos exigidos pela 
legislação e foi formalizada a Associação dos 
Moradores do Mandira que solicitou ao 
governo a aprovação da reserva. Na espera da 
aprovação, outros parceiros entraram no 
projeto, sobretudo a organização não-
governamental local - Gaia e a Fundação 
florestal do Governo do Estado de São Paulo. 
Foram então feitos experimentos de manejo de 
ostra não mais no mangue mas em estruturas 
fundeadas no corpo do estuário e que se 
revelaram muito positivos, pois as ostras 
atingiam o tamanho comercial em 4 meses, 
muito mais rápido que as existentes em estado 
natural no mangue. A cada família foi alocado 
um número suficiente de estruturas para que 
pudessem ter uma renda adequada para as 
necessidades de seus membros. 
Em 1997, com verbas federais e de 
empresas privadas foi organizada a Cooperativa 
dos Ostreicultores de Cananéia, a Cooperostra 
que construiu sua sede em Cananéia, com uma 
estação depuradora exigida para se obter o 
registro de comercialização. A Cooperostra 
reúne hoje membros de várias comunidades, 
 
além dos pioneiros do Mandira a quem cabe a 
gestão da Cooperativa e comercializa as ostras 
em várias cidades do Estado de São Paulo. A 
renda e a auto-estima desses pequenos 
produtores cresceu e a Cooperostra ganhou um 
premio internacional da Iniciativa Tropical 
(Unesco), na reunião de Johanesburgo. (2002) 
A Reserva Extrativista do Mandira foi 
reconhecida oficialmente pelo Governo Federal 
em 2002, contando hoje com um plano de 
negócios que visa a expansão da cooperativa 
para a rede de supermercados na cidade de São 
Paulo e com um Programa de Certificação que 
busca garantir a qualidade sanitária das ostras 
comercializadas. 
Essa experiência tem vários pontos 
positivos: é considerado um projeto piloto na 
região mais pobre do Estado de São Paulo e 
uma das mais carentes do Brasil, com índices 
baixos de Desenvolvimento Econômico e 
Social. O ponto mais forte do projeto foi a 
sólida organização social dos produtores e a 
cooperação estreita entre a comunidade local, a 
universidade, as ONGs, órgãos governamentais 
e empresas privadas. O grande desafio foi 
transformar simples extrativistas, oriundos de 
uma camada social marginalizada - os negros 
quilombolas, em produtores organizados que 
até então não tinham nenhuma experiência de 
gestão administrativa e de comercialização da 
produção através de uma cooperativa. Eles 
participaram ativamente do desenvolvimento 
de um plano de negócios que incluiu a melhoria 
da qualidade ambiental e sanitária do produto, o 
respeito à legislação ambiental, a 
comercialização da produção através de 
veículos da própria cooperativa, a busca de 
novos mercados nas áreas urbanas. A 
comunidade dos Mandira, além da produção de 
ostras, passou a desenvolver outras atividades 
produtivas para as mulheres, formação 
profissional para os jovens e atividades 
turísticas. (Sales, R e Maldonado, 2000) 
 
7.3. A carcinocultura do P. vanamei no 
Nordeste : uma experiência com pro blemas sérios de 
sustentabilidade 
O crescimento da carcinocultura 
empresarial no Brasil é surpreendente pois 
introduzida no Brasil

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