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Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto AULA 1 1. Primavera Árabe 1.1. Introdução Em dezembro de 2010 um jovem tunisiano, desempregado, ateou fogo ao próprio corpo como manifestação contra as condições de vida no país. Ele não sabia, mas aquele ato desesperado, que culminou com a sua própria morte, foi o início do que viria a ser chamado mais tarde de Primavera Árabe. Protestos se espalharam por toda a Tunísia, o que levou o então presidente Zine el- AbdineBen Ali a fugir para a Arábia Saudita apenas dez dias depois. Ben Ali estava no poder da Tunísia desde novembro de 1987. Inspirados no aparente sucesso dos protestos na Tunísia, os egípcios também foram às ruas. A saída do presidente Hosni Mubarak, que estava no poder há 30 anos, demoraria um pouco mais. Enfraquecido, ele renunciou dezoito dias depois após o início das manifestações populares, concentradas na praça Tahrir (ou Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 72 SUMÁRIO PÁGINA 1. Primavera Árabe 1 2. Síria 9 3. Egito 16 4. Líbia 24 5. Palestina 26 6. China 32 7. Questões comentadas 36 8. Lista de Questões 58 9. Gabarito 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto praça da Libertação, em árabe), no Cairo, capital do Egito. Mais tarde, Mubarak seria internado e, mesmo em uma cama hospitalar, seria levado a julgamento e condenado. Esta decisão, no entanto, no início de 2013, foi anulada pela Corte Suprema do Egito e um novo julgamento iniciou-se em maio de 2013, mas ainda não fora encerrado – tendo sido novamente adiado em julho de 2013. Mubarak segue preso, mas sem sentença definitiva. Não podemos nos esquecer de que o mundo árabe fora historicamente marcado pelo predomínio de regimes autocráticos, ou seja, regimes de governo nos quais uma só pessoa ou um só partido concentra e detém todo o poder. Dessa forma, praticamente não havia espaço para a participação popular na política e a contestação/oposição foi, e ainda é, reprimida de maneira coercitiva e muito violenta. Quem é que nunca se impressionou com os inúmeros casos de violência ocorridos no mundo árabe? A mídia nos “bombardeia” diariamente com inúmeros desses casos. Além de enfrentar os governos ditatoriais, os povos árabes sofrem também com altas taxas de desemprego e alto custo de vida, que se agravaram desde o início da crise mundial. Mesmo nos países cuja economia é mais forte, como a Arábia Saudita, a sociedade sofre com o custo altíssimo de vida. Outro problema que aumentou os protestos é a falta de liberdade religiosa, sobretudo para as minorias como, por exemplo, os cristãos da região. Uma observação: embora os cristãos da região sofram enquanto minoria, na Síria a situação é um pouco diferente. Nesse país, os cristão apoiam o regime de Bashar al Assad, em razão das práticas laicas Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto do governo, bem como por causa da construção histórica do modo pelo qual se dá a sustentação política do regime de Bashar al Assad. O início da chamada Primavera Árabe trouxe, para o mundo árabe, momentos de esperança e euforia. A queda de Ben Ali na Tunísia foi um marco histórico; pois, pela primeira vez, um ditador na região foi retirado do poder pelas forças do povo. Depois a renúncia de Mubarak, no Egito, incendiou ainda mais os protestos na região. Acontece que a Primavera Árabe tomou rumos diferentes em cada um dos países – o que torna esse evento muito mais complexo de ser compreendido. Os governos aumentaram a repressão aos movimentos populares, provocando conflitos armados e mesmo intervenções militares externas. Em 2011, as quedas de Muammar Kadafi, na Líbia, e de Ali Abdullah Saleh, no Iêmen, se deram em um contexto de sangrentos conflitos entre as forças militares do governo, e as parcelas governistas da população, contra as forças populares de oposição, normalmente identificados pelo nome de rebeldes. O problema atual é que esses conflitos instauraram uma enorme instabilidade política na região, demonstrando que a simples deposição de velhos governos autocráticos não é suficiente para a instauração de novos modelos democráticos, que sejam capazes de atender às demandas da população. Ou seja, o processo de mudança de um regime ditatorial para um democrático não se dá de forma automática. Outro problema comum a esses países é que em todos eles há a divisão da sociedade em diversos grupos conflitantes. Esses grupos são diferenciados historicamente por razões religiosas, políticas, econômicas e étnicas. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Devemos entender, pessoal, que a Primavera Árabe não se trata de um fato isolado no tempo e no espaço. Na realidade, a Primavera Árabe se trata de um processo dinâmico que ainda está em curso – e que, na verdade, não sabemos onde irá desembocar. Esse processo tem dado sinais de ser um tanto que frágil, pois as relações entre os Estados árabes e a sociedade civil são bastante conflituosas. Apesar disso, em alguns países já começam a surgir instituições democráticas. O pesquisador da Universidade de Stanford, Hicham Ben Abdallah Alaoui, especialista no mundo árabe, lembra, em artigo publicado na revista Le Monde Diplomatique, de janeiro de 2013, que a institucionalização da democracia implica em uma convergência da vida política, basicamente, em torno de três fatores: Constituição, Parlamento e eleições. Quando esses fatores são estáveis e rígidos, os governos geralmente ficam protegidos dos grupos mais extremistas e radicais – típicos da região. O eminente professor ressalta que instituições democráticas fortalecidas afastam ainda os grupos reacionários e o autoritarismo. Na Tunísia, na Líbia e no Egito o processo de democratização está em curso também de forma instável. Nesses países houve eleições que, por sua vez, foram marcadas por um pluralismo que jamais haveria nos tempos de ditadura. Na Tunísia, país cuja população é mais escolarizada do que nos demais países da região, a Assembléia Constituinte está a finalizar a elaboração da nova Constituição. Segundo Alaoui, nesse país a crise possui duas dimensões: a passividade do novo governo diante da violência Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto salafista e a demora na realização de reformas econômicas, principalmente nas áreas mais pobres do país. Não nos esqueçamos de que boa parte do mundo árabe enfrenta problemas econômicos e sociais. Na Tunísia, os salafistas fundaram o partido da Frente da Reforma, em maio de 2012, e lideraram diversos protestos, incluindo importantes protestos na cidade de Sidi Bouzid. Os salafistas se notabilizaram ainda por ataques repetidos contra símbolos da nova liberdade de expressão tunisiana, saqueando galerias e impedindo músicos e outros artistas de se apresentarem. Vejam a que pontoo radicalismo salafista chegou: proibiram músicos e artistas de se apresentarem. Os salafistas passaram décadas na penumbra, sufocados por ditaduras laicas. Assim que caíram os regimes de Egito, Tunísia e Líbia, vieram à tona dispostos a recuperar o tempo perdido. Os movimentos salafistas são grupos sunitas que pregam uma visão purista e populista do Islã. O envolvimento nos ataques contra as missões diplomáticas americanas no Cairo e em Benghazi colocou- os em xeque, transformou-os numa ameaça – também para o Ocidente. E expôs contradições: eles participam da vida política, ao contrário, por exemplo, da al-Qaeda. Em geral, preferem as urnas e não as armas. Mas o ardor com o qual defendem suas visões religiosas ultraconservadoras deixa brechas à ação de uma minoria que, como Osama bin Laden, acredita que vale tudo para alcançar seus objetivos. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto No Egito, os salafistas saíram da obscuridade e criaram partidos, conquistando 25% dos assentos no Parlamento - ficando em segundo lugar, perdendo apenas para a Irmandade Muçulmana (partido do presidente eleito Mursi, que acabou sendo deposto por forças militares em junho de 2013). A influência dos salafistas é cada vez mais forte na rebelião da Síria. Na Líbia, o desempenho salafista nas urnas foi fraco: 17 das 200 cadeiras do Parlamento. Mas ataques recentes aos escritórios da Cruz Vermelha e do consulado britânico em Benghazi já enviavam um sinal de alerta e um desafio ao governo de Trípoli: ali ainda se busca uma verdadeira face política ao Islã. Os salafistas são uma parte do espectro islamista que está evoluindo rapidamente. Hoje alguns islâmicos são mais prejudiciais para os interesses e valores ocidentais do que outros, de modo que os salafistas são os mais avessos aos direitos das mulheres e das minorias na região. Os salafistas são mais rigorosos na restrição da vida pessoal e política do indivíduo do que os partidos islâmicos mais modernos que conquistaram votos no Egito, Tunísia e Marrocos. Para muitos árabes, a palavra de ordem é a justiça, tanto econômica quanto política e social. Já para os salafistas, tudo tem a ver com uma espécie de virtude religiosa e de comportamento, que seria inflexível e imposta. Dessa maneira, podemos dizer que os salafistas fazem um fervoroso julgamento de valores a partir de uma ótica radical islâmica. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Os salafistas vêm aprofundando as divisões entre muçulmanos xiitas e sunitas e desafiam o "Crescente Xiita", termo cunhado pelo rei Abdullah da Jordânia em 2004, durante a guerra no Iraque, para definir um arco de influência que vai do Irã dominado pelos xiitas aos seus aliados no Iraque, Síria e Líbano. Dessa maneira, os salafistas têm se apresentando como um complexo e crescente problema para o Ocidente. Seus objetivos são mais antiocidentais do que qualquer outro partido islâmico. Procuram empurrar tanto secularistas como outros islâmicos para um passado nem sempre virtuoso. Uma observação: o secularismo, pessoal, é um princípio da separação entre instituições governamentais e as pessoas que devem representar o Estado a partir de instituições religiosas e dignitários religiosos. Em certo sentido, o secularismo pode afirmar o direito de ser livre do ensinamento religioso, bem como o direito à liberdade da imposição governamental de uma religião sobre o povo dentro de um estado que é laico. Em outro sentido, refere-se à visão de que as atividades humanas e as decisões, especialmente as políticas, devem ser imparciais em relação à influência religiosa. Na Líbia, a ordem política que nasceu nos escombros do regime de Muamar Kadafi está fragilizada em razão da existência conflituosa entre diversos grupos armados. A deposição de Kadafi não foi suficiente para aplacar os ânimos dos diversos grupos rivais. No Egito, a eleição presidencial foi ganha pelo candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi. Morsi tentou afirmar o poder civil acima dos militares – claro que enfrentando forte resistência destes, mas não teve êxito, sendo deposto. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Outro destaque da Primavera Árabe é que, em boa medida, foi a juventude mobilizada, formada majoritariamente por jovens urbanos, saídos das classes médias e em grande parte não pertencentes a grupos islamitas, que esteve a frente dos protestos e do movimento revolucionário, utilizando-se intensamente de redes sociais da internet para organizar e divulgar os protestos. Entretanto, atualmente, essa juventude tem se encontrado marginalizada no processo contínuo da Primavera Árabe. A visão mais secular e democrática dos jovens fracassou em construir uma frente política coerente quando os regimes autoritários foram derrubados. De outra maneira, os islamitas souberam aproveitar o vácuo gerado pelo fim desses regimes. Acontece que a juventude tem se mostrado relutante em entrar na disputa eleitoral. Percebam duas coisas distintas: os jovens foram extremamentes importantes nos protestos, porém eles não têm se mostrado tão participantes na arena “formal” da política (partidos políticos e instituições). Portanto, pessoal, podemos dizer que a Primavera Árabe, que inicialmente teve ressonância apenas local, com manifestações pró- democracia na Tunísia, transformou-se em um processo de escala regional, alatrando-se pelo mundo árabe, e mesmo internacional, com a participação de organismos internacionais e países ocidentais, levando a um conjunto de exigências e valores para além das fronteiras daqueles países. Ampliado pelas redes sociais, e também pela mídia tradicional, esse movimento retira parte de sua fundamentação do conceito de unidade pan-árabe e de participação popular. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto O pan-arabismo é um movimento político tendente a reunir os países de língua árabe e de civilização árabe numa grande comunidade de interesses. É um movimento para unificação entre as populações e nações árabes do Oriente Médio, possuindo estreita vinculação com o nacionalismo árabe. Pessoal, eu sei que esse tema é extremamente complexo e confuso – pois possui muitas variáveis. São muitos grupos, etnias e países – situações que tornam difícil nosso aprendizado. Por se tratar de uma realidade bastante distante de nós, irei colocar agora os principais tópicos da Primavera Árabe, em termos de concurso público, para que tenhamos um estudo mais completo e mais claro. Até aqui dei apenas uma pincelada no panorama geral, destacando fatos e o processo. Agora vamos ver situações mais específicas. Fiquem atentos, sobretudo, em relação à Síria. 2. Síria Atualmente, na Síria ocorre o maior conflito no mundo árabe. A crise síria é uma importante ameaça ao regime ditatorial dos Al- Assad (uma família quedetém o poder na Síria desde os anos 70). O país é hoje governado por Bashar al-Assad, mas foi seu pai, Hafiz al-Assad, quem deu um golpe em 1970, tomando para si o controle estatal da Síria. Nesse momento, foi estabelecido um complexo e pragmático sistema de alianças com os militares, a fim de garantir a manutenção dos Al-Assad no poder. Os Al-Assad são um clã alauíta, que representam, aproximadamente, 10% da população síria. Os alauítas são, portanto, uma minoria dentro dos xiitas. Complicou? Então vamos com calma. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto No mundo árabe destacam-se duas principais correntes dentro da religião islâmica: os sunitas e os xiitas – que divergem basicamente por possuírem diferentes interpretações sobre a sucessão do profeta Maomé. Os xiitas são mais identificados politicamente como radicais, enquanto os sunitas são reconhecidamente mais moderados. Assim, os xiitas e os sunitas são duas correntes da religião islâmica, mas não as únicas, que se diferenciam em relação ao entendimento sobre o profeta Maomé e sua descendência. Enquanto os sunitas consideram os sucessores diretos do profeta Muhammad Maomé, os xiitas não concordam, pois, para eles, o sucessor deveria ser Ali, genro do profeta. Por sua vez, os alauítas formam um ramo minoritário dentro dos xiitas e é a esse ramo que pertence o clã Al-Assad. A doutrina alauíta - uma variante heterodoxa do xiismo - foi elaborada no Iraque no século IX por Mohammad ben Nusseir, discípulo do 10º imã Ali Hadi, que entrou em dissidência com os outros grupos. Assim como os xiitas, que veneram Ali, primo e genro do profeta Maomé, os alauítas o idolatram. Para eles, Maomé não é mais do que um véu que esconde "a essência" encarnada por Ali. O terceiro personagem desta trindade é Salman Pak, um companheiro de Maomé considerado a "porta" do conhecimento. Seus seguidores acreditam na reencarnação, em geral carecem de mesquitas, ignoram o jejum e a peregrinação a Meca, toleram o álcool e suas mulheres não utilizam véu. Celebram as festas muçulmanas e também as cristãs. A minoria alauíta é considerada herética e mesmo como não-muçulmana por diversas correntes sunitas. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Na década de 1920, a França estabeleceu a Síria como seu protetorado - uma espécie de colônia moderna. Na tentativa de enfraquecer a unidade árabe no Oriente Médio, tentou instaurar microestados na região, que seriam autogovernados por diferentes grupos étnicos, inclusive as minorias alauíta, cristã e drusa. A preocupação da França era a de evitar o fortalecimento da maioria sunita em um país tão diverso em termos étnicos e religiosos. Ainda assim, as minorias se mantiveram relativamente sufocadas politicamente até a década de 1960, quando dois golpes de estado finalmente colocaram os alauítas no poder. Sob o império Otomano, os únicos alauítas tolerados nas cidades eram os empregados domésticos. Até o início do século, a maior parte deles era de montanheses que serviam à burguesia sunita. Só nos anos 1950 é que parte deles passou a integrar academias militares e na década de 1970, aderindo à ideologia pan-arabista e laica do partido Baath - atualmente no poder. Em 1971, o alauíta Hafiz al-Assad - pai do atual governante, Bashar al-Assad - se tornou presidente, permanecendo como tal por longos 30 anos. Desde então, os alauítas, que representam apenas cerca de 10% dos quase 23 milhões de sírios, passaram a privilegiar outras minorias, fortalecendo sua relação com os cristãos ortodoxos (10% da população) e os drusos (3%) e ofuscando a importância dos sunitas, majoritários (74%) - o que despertou a ira destes. Com o passar do tempo, as minorias se tornaram mais ricas, ganharam um papel de relevância nas forças armadas e ocuparam postos importantes no estado – enfraquecendo a maioria sunita. Aos poucos, foi sedimentada uma imensa rede de favorecimentos, que Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto funcionou ao longo das últimas décadas apesar da insatisfação da maioria. Até que esse sistema se transformou em uma verdadeira ditadura, levando os sunitas ao limite da tolerância. Temendo uma revolta sunita, os Assad se armaram com um sistema "antigolpe de estado", com ênfase no Exército e nos serviços secretos. Foi criado um aparato de segurança para controlar a população, o Mukhabarat (Agência de Inteligência, em árabe). No país, há diferentes agências de inteligência que vigiam umas às outras, o que dificulta a formação de um golpe de estado. Além disso, os serviços secretos estão sempre de olho em forças de oposição, ainda que incipientes. Recentemente, com a repressão violenta do regime alauíta contra os opositores, a luta se tornou identitária: cada um luta por sua própria preservação e existência. Para se manter no poder, Assad se apoia em alianças internacionais: as potências orientais se negam a condenar o regime apesar da crescente pressão internacional. Do ponto de vista político, para a Rússia e a China, a Síria é como o último bastião de resistência à influência dos Estados Unidos no Oriente Médio. Por priorizar o comércio com as potências orientais em detrimento das ocidentais, o governo sírio se tornou um contraponto estratégico na região. Vejam bem, não estou dizendo que o governo sírio é bom ou mau – o que estou colocando é que, como sempre, há sempre interesses geopolíticos e econômicos por de trás dos panos. “Há certo grau de oportunismo político por parte das elites políticas dentro da própria Síria e das potências orientais que apoiam o país. Se a briga fosse apenas em torno das etnias e Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto religiões, provavelmente a Rússia e a China não iriam vetar as punições aprovadas por outros países da comunidade internacional. Para eles, a disputa é política: entre ocidentais e orientais”, explica Zahreddine – um analista de política internacional. Lembro-lhes de que Rússia e China tentam ampliar sua influência política e econômica na região. Enquanto isso, aqueles que aprovam uma intervenção ocidental têm motivações que não são apenas humanitárias, mas estratégicas - como enfraquecer o Irã na região. Além disso, Bashar al-Assad tem se utilizado de uma governança identificada com o laicismo, o que vem possibilitando o convívio com os demais grupos religiosos. Apesar de disputar com a Síria o posto de grande liderança antiamericana e anti-israelense no Oriente Médio, o Irã teme que a Turquia participe de uma campanha encabeçada pelos EUA, juntamente com a Arábia Saudita, o Catar e outros países, para derrubar Assad e isolar ainda mais os iranianos na região. O fim do regime de Assad abriria espaço para a ação liderada pelos Estados Unidos com o objetivo de diminuir consideravelmentea influência geopolítica do Irã. O atual governo de Damasco parece a única esperança para os aiatolás iranianos manterem essa influência. Além dos iranianos, o Hezbollah libanês também é um aliado local da Síria. O grupo recebeu apoio durante sua criação e agora - já praticamente independente - serve como apoio terrorista. Enquanto uma solução política se mostra distante, a União Europeia e os Estados Unidos se encontram diante do dilema de negociar com uma Síria cada vez mais orientada pela aliança com o Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Irã (outro país que se mostra radical quanto à influência ocidental, sobretudo a norte-americana, na região). Quando Bashar al Assad assumiu o governo em 2000, havia uma grande expectativa de que ocorreria o início de um processo de abertura política, já que ele estudou na Inglaterra e teria uma visão de mundo mais aberta do que a de seu pai. Contudo, essa expectativa não se confirmou. Com as revoluções da Tunísia e do Egito, a Síria viu os protestos ganharem as ruas em março de 2011. Desde então, Bashar al-Assad envia tropas militares para reprimir as manifestações e acusa os manifestantes de terrorismo. Com a violenta repressão do governo, parte da população pega em armas a fim de derrubar a ditadura dos al-Assad e, nesse movimento, os rebeldes sírios têm conseguido o apoio de governos no exterior. Com a criação do Exército Livre da Síria (ELS), por um ex-coronel desertor do Exército de Bashar al-Assad, no fim de 2011, a rebelião armada consolidou-se. Vários soldados do Exército de al-Assad também desertaram e, assim como milhares de ativistas, passaram a integrar o ELS. É claro que, diante de tais circunstâncias, o governo ampliou sua repressão e, inclusive, tornou-a mais violenta. O governo sírio de Bashar al-Assad forma com o Irã e com o grupo radical Hezbollah, do Líbano, o chamado “arco xiita”, que possui na forte oposição a Israel e na disputa com os sunitas pela hegemonia no Oriente Médio seus principais objetivos. Os Estados Unidos e a União Europeia apoiam Israel e as monarquias sunitas, enquanto China e, principalmente, Rússia apoiam a Síria. A Rússia tenta ampliar sua influência na região e, inclusive, possui uma base Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto naval na região do Mar Mediterrâneo, cultivando fortes laços com o governo sírio. Por sua vez, Estados Unidos, União Europeia e Liga Árabe – cujo comando é da Arábia Saudita e do Catar – não chegaram a um consenso em relação a realização ou não de uma intervenção militar na Síria. Resta, por enquanto, a esses atores políticos o pedido de renúncia de Bashar al-Assad e a decretação de sanções econômicas à Síria. No Conselho de Segurança da ONU, os três atores políticos supracitados fazem forte pressão para que seja aprovada uma resolução de condenação ao regime sírio e o embargo internacional. Acontece que o texto foi barrado no Conselho, em razão dos vetos da Rússia e da China. Ressalto que a Rússia é o principal vendedor de armas para o regime de Bashar al-Assad e os carregamentos russos continuam a chegar pelos portos sírios, apesar das críticas internacionais. Por outro lado, os rebeldes contam cada vez mais com o apoio da Turquia, que oferece apoio e abrigo em seu território para o ELS e para os refugiados sírios. Se de um lado a Rússia fornece armas para as tropas de al-Assad, de outro a Turquia vem fornecendo cada vez maiores quantidade de armas e munições para as tropas do ELS. Arábia Saudita e Catar também fornecem armas para o ELS. Essa situação tem agravado a relação da Síria com a Turquia, acirrando os ânimos dos países vizinhos desde junho de 2012, quando a Síria abateu um caça turco sobre o Mediterrâneo. A Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Turquia ameaçou mandar forças militares para o Sul de seu território para confrontar as tropas sírias. De outra maneira, as potências ocidentais ainda relutam em armar a oposição síria, isso porque ela se encontra extremamente fragmentada e sem um comando central. A oposição síria basicamente é formada por dois grupos que não atuam em coordenação com o movimento armado: o Conselho Nacional Sírio e o Conselho da Coordenação Nacional - dois grupos que divergentes em diversas questões políticas. Já o braço armado da oposição fica mesmo por conta do ELS, formado por desertores do Exército e por membros de diversas milícias, sem um comando único. Um relatório da ONU classificou a guerra civil na Síria de “violência interconfessional”, pois essa se dá basicamente entre a minoria alauíta e a maioria sunita. Interconfessional significa “aquilo que se dá entre duas ou mais seitas religiosas”. Trago esse conceito para nossa aula a fim de que não sejamos pegos de surpresa na hora prova. Esta dimensão do conflito é hoje evidente no plano regional, com o regime xiita iraniano apoiando Damasco, enquanto o principal poder sunita da região, a Arábia Saudita, se coloca ao lado da oposição – conforme já conversamos. 3. Egito Com a queda do presidente da Tunísia, Zine El-Abidine Ben Ali – o que ocorreu após inflamadas manifestações populares e protestos contra o governo ditatorial que já durava 23 anos -, os egípcios iniciaram, em de janeiro de 2011, um forte movimento de Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto manifestações e protestos populares contra o presidente ditador Mohammed Hosni Mubarak, que já estava há 30 anos no poder do Egito. Vários fatores contribuíram para a insurreição popular no Egito, como o reavivamento de conflitos religiosos no país após a morte de 21 cristãos na explosão de uma igreja na cidade de Alexandria. Os egípcios também reivindicavam o fim da ditadura de 30 anos e desejavam a transição do governo para a democracia, ou seja, a abertura política e a participação popular. A sociedade egípcia estava subjugada à força política e à repressão militar exercida pelo governo Mubarak. Somavam-se a isso, como importantes motivos que levaram às manifestações populares egípcias, altos índices de desemprego, o autoritarismo do regime, os altos índices de corrupção, a violência policial, a falta de moradia, a censura à liberdade de expressão, as precárias condições de vida e o baixo salário mínimo. A insurreição visava à derrubada do ditador Hosni Mubarak, que era um aliado histórico dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, como a Inglaterra e a França. Mubarak havia anunciado que deixaria o poder somente a partir das eleições para sucessão presidencial. Com isso, a população se rebelou e continuou o movimento pela deposição do ditador - fato que somente veio a acontecer em 11 de fevereiro de 2011. Antes da renúncia de Mubarak, o então ditador pretendia concorrer às eleições presidenciais previstas para setembro de 2011 Prof. Rodrigo Barretowww.estrategiaconcursos.com.br 17 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto ou colocar seu filho como sucessor. Contudo, essas manifestações populares evitaram que os planos de Mubarak fossem colocados em prática, já que a principal exigência dos manifestantes era a retirada imediata de Mubarak, bem como seus possíveis sucessores, do poder. Ainda em janeiro de 2011, houve uma grande manifestação no Egito, chamada de “Dia da revolta”, na qual milhares de pessoas foram às ruas reivindicando direitos em diversas cidades do país, como Cairo e Alexandria. Os manifestantes tiveram a preocupação de articular e organizar as manifestações pela internet, o que aliás é uma característica marcante da Primavera Árabe. Com isso houve uma grande e veloz difusão das informações propagadas pelos manifestantes. Após quatro dias de conflitos, nos quais o governo usou de violenta repressão, os serviços de internet e celular do país foram cortados a fim de que se evitasse a comunicação entre os manifestantes; além disso, o governo tentava impedir a veiculação de notícias sobre mortes de civis. As nações ocidentais que viam no Egito um aliado na conflituosa região tentaram intervir no conflito. Os Estados Unidos solicitaram ao Egito uma ‘transição democrática’; da mesma forma Inglaterra e França queriam que o governo egípcio atendesse às reivindicações populares. Após duas semanas de conflito, o presidente Hosni Maburak renunciou ao governo, deixando um saldo de mais de 42 pessoas mortas e cerca de 3000 feridos. Os militares assumiram o poder, anunciando a instalação de uma junta militar provisória no governo Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto egípcio até as eleições para presidente do país, o que deveria se dar em setembro de 2011. Posteriormente, Mubarak foi julgado e condenado. Acontece que no início de 2013, a justiça egípcia definiu que o ex-presidente Hosni Mubarak deve ser julgado novamente, em decisão que possivelmente reabrirá as feridas recentes do país e aumenta a volatilidade social e política. O juiz Ahmed Ali Abdel Rahman anunciou que "a corte aceitou o recurso dos réus e determina um novo julgamento". Simpatizantes de Mubarak logo comemoraram a decisão, mas seu desfecho é incerto até mesmo para o ex-presidente; isso porque, com o julgamento voltando ao início, Mubarak voltará a ser julgado por acusações mais sérias envolvendo seu regime, além de acusações de corrupção, pelas quais foi absolvido em junho de 2012. À época de sua condenação, muitos críticos do regime consideraram sua pena muito branda, fazendo com que até o novo presidente egípcio, o islâmico Mohammed Morsi, levantasse a bandeira de um novo julgamento. Além disso, o novo julgamento de Mubarak pode influenciar as campanhas para as eleições parlamentares egípcias de abril de 2013. Na análise do New York Times, isso pode fortalecer candidatos islâmicos, que tentarão capitalizar sobre a "punição branda" dada ao ex-presidente na sentença inicial. No dia 28 de novembro do mesmo ano foi realizada a 1ª etapa das eleições parlamentares. Milhões de pessoas foram às urnas, a grande maioria votando pela primeira vez na vida. Os resultados finais se efetivaram somente no mês de janeiro de 2012, depois de realizadas outras etapas do processo eleitoral. Lembro que, durante esse processo, coube à junta militar governar o país. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto O primeiro presidente eleito democraticamente na história do Egito, Mohamed Morsi, assumiu o governo do país em 30 de junho de 2012. Dessa maneira, ele substituiu Hosni Mubarak, deposto em 2011 – como vimos. Morsi inicialmente prometeu um "novo Egito" e, para isso, prometeu fazer a economia do país deslanchar e Morsi foi candidato pelo partido Irmandade Muçulmana. Ele estava sendo observado de perto pelos militares que governaram o Egito desde a queda de Mubarak. Contudo, a expectativa de que a eleição de Morsi daria continuidade à Primavera Árabe e ampliaria a democracia no país não se confirmou totalmente. A decisão do presidente do Egito, Mohammed Morsi, em novembro de 2012, de aprovar um decreto que ampliava seus poderes levou muitos analistas a criticarem o mandatário egípcio e o acusarem de "matar" a revolução que estava em curso no país. De acordo com especialistas, ao aprovar a medida que impedia que qualquer pessoa desafiasse seus decretos, leis e decisões, o presidente Morsi "traiu os ideais da Primavera Árabe" e poderia se transformar em um novo ditador, como o era Mubarak. A medida de Morsi gerou um conflito entre os poderes Executivo e Judiciário no país. Juízes do Conselho Superior de Magistratura do Egito acusaram o presidente de praticar um "ataque sem precedentes" contra o Poder Judiciário. Foi quando diversas manifestações tomaram conta das ruas das principais cidades do país, incluindo a capital, Cairo. Em um só fim de semana após o decreto, confrontos entre opositores e simpatizantes de Morsi provocaram a morte de uma pessoa e deixaram cerca de 60 feridas. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Segundo o cientista político Hassan Nihan, em entrevista ao site Terra, em ocasião da aprovação do referido decreto, "foi difícil para alguém imaginar o presidente Morsi fazer o que ele fez. Mas a realidade é que agora o presidente está acima de todas as autoridades. E todas as leis, decretos e declarações não podem ser canceladas por qualquer corpo governamental ou político". Porém, segundo Morsi, seus poderes presidenciais seriam limitados a "assuntos soberanos" e de proteção das instituições egípcias. Ele disse também que o decreto seria mantido para "proteger a revolução", apesar de várias lideranças da oposição, entre eles o Nobel da Paz, Mohamed El Baradei, organizações de ativistas de direitos humanos e democracia terem protestado para que o decreto fosse cancelado. Imediatamente manifestações anti-Morsi aconteceram no Cairo, Alexandria, Suez, Minya e outroas cidades ao longo do delta do Nilo. Na praça Tahrir, berço da revolução e protestos contra Mubarak, comícios contra o presidente continuaram. A Irmandade Muçulmana, partido de Morsi, por sua vez, organizou manifestações em apoio ao presidente. Em julho de 2013, o Exército do Egito depôs o presidente democraticamente eleito do país, Mohammed Morsi. A Constituição foi suspensa e o chefe da Suprema Corte de Justiça do Egito, Adli Mahmud Mansour, tomou posse nesta quinta-feira como presidente interino do país. O comandante-geral das Forças Armadas do Egito, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou em um anúncio transmitido pela TV que a Constituição havia sido suspensa e que o presidente da Suprema Corte Constitucional assumirá poderes presidenciais, na Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 72Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto prática derrubando o presidente Mohammed Morsi. De acordo com o general Sisi, o líder da Suprema Corte, Adli Mansour, irá comandar um governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. A mais alta autoridade islâmica do país, o grã-xeque de Al-Azhar, o líder da Igreja Copta, bem como o principal nome da oposição, Mohammed ElBaradei, se pronunciaram todos após o general, dando seu aval para a deposição. A oposição pública a Morsi vinha crescendo desde novembro de 2012, conforme vimos. A fim de garantir que a Assembleia Constituinte, dominada por seus aliados muçulmanos da Irmandade Muçulmana, poderia concluir a elaboração da nova Constituição do país, ele expediu um decreto concedendo a si mesmo amplos poderes. Após dias de protestos da oposição, ele concordou em limitar o alcance dos poderes que havia se concedido. Mas houve novos protestos ao final do mês quando a Assembleia Constituinte aprovou às pressas uma versão da Constituição - a despeito de um boicote por parte de liberais, secularistas e da Igreja Copta. No final de abril, ativistas de oposição montaram o movimento de protesto Tamarod (Rebelde). Seu objetivo central era coletar assinaturas para uma petição que se queixava do fracasso de Morsi em restaurar a segurança no país, bem como sua capacidade de restaurar a economia. E pedia a realização de novas eleições. O grupo também organizou grandes protestos de massa para a data de um ano da posse de Morsi. No dia 30 de junho de 2013, milhões de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades no Egito. Os protestos levaram os militares a advertir o presidente Morsi no dia 1º de julho que iriam intervir e impor o seu próprio caminho, caso ele não atendesse às demandas populares dentro de 48 horas e pusesse fim à crise política. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Com a aproximação do ultimato, Morsi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito. Ele avisou que qualquer iniciativa para depô-lo à força poderia lançar o país no caos. "O povo me deu poder, o povo me escolheu por meio de uma eleição livre e justa", afirmou. "Legitimidade é a única maneira de proteger nosso país e de prevenir um banho de sangue, de passar para uma nova fase". O general Sisi afirmou que Constituição de 2012, foi alvo de fortes críticas, havia sido "temporariamente suspensa" e que um painel de especialistas e representantes de todos os movimentos iria considerar fazer emendas à Constituição. Mas não especificou se um referendo seria realizado para ratificar as mudanças. O presidente da Suprema Corte Constitucional, o juiz Adli Mansour, tomaria posse "por um período transitório até que um novo presidente seja eleito". Seria formado, ainda, um governo tecnocrático com plenos poderes para administrar a transição. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares ou mesmo se eles terão um papel específico. Ele também prometeu "não excluir ninguém ou nenhum movimento" e pediu medidas para "dar poder aos jovens e integrá-los às instituições do estado". Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto 4. Líbia A primeira eleição na Líbia, que aconteceu em julho de 2012, após mais de quarenta anos de ditadura do Muamar Kadafi, foi marcada por protestos envolvendo homens armados, incêndios em postos de votação e até o cancelamento do pleito em duas cidades do leste do país, região que concentra grupos separatistas interessados na independência da região. As autoridades consideraram, apesar dos problemas, que a adesão dos eleitores foi razoável. A votação, que estava prevista inicialmente para 19 de junho de 2012, foi adiada por diversas razões técnicas e logísticas, segundo a comissão eleitoral líbia. Dos seis milhões de habitantes, 2,7 milhões estavam inscritos para votar. Muitos fizeram isso pela primeira vez. A última ocasião em que os líbios haviam ido às urnas em uma eleição nacional foi em 1965 – e ainda assim, partidos políticos não eram permitidos. Lembro que Kadafi entrou no poder em 1969. A revolta que retirou Kadafi – o mais antigo ditador do mundo árabe - do poder foi um dos momentos de maior destaque da Primavera Árabe. Durante vários meses, as forças de Kadafi resistiram aos avanços dos rebeldes e aos bombardeios da OTAN. A declaração de libertação líbia só viria a ocorrer em agosto de 2011, quando o ditador foi morto pelas forças rebeldes. O Conselho Nacional de Transição (CNT), que liderava a oposição, assumiu o governo em seguida, até que um novo governo fosse eleito. Em agosto, o CNT entregou o poder à Assembleia eleita. Com a eleição, Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto a Assembleia passou a ser integrada principalmente pela Aliança das Forças Nacionais (AFN), coalizão de mais de 40 pequenos partidos liberais liderada pelos artífices da revolta contra Kadafi, com 39 cadeiras, e pelo Partido da Justiça e Construção (PJC), derivado dos Irmãos Muçulmanos, com 17 cadeiras. Com 6,5 milhões de habitantes, a Líbia se divide em três grandes regiões, controladas por clãs familiares que estabelecem núcleos próprios de poder, assim como culturas e reivindicações distintas. Para as autoridades líbias, um dos principais desafios é obter o consenso unificando os desejos e as demandas desses clãs. A Líbia é um país multicultural, criado a partir das colonizações grega, romana e egípcia. O país mescla ainda a cultura dos povos nômades que lá estavam quando chegaram os estrangeiros. Até os dias atuais os resquícios dos séculos anteriores estão presentes no cotidiano dos líbios, que oficialmente falam árabe, mas mantêm numerosos dialetos. A Líbia é dona da 9ª maior reserva de petróleo do mundo e da 25ª reserva de gás natural. O país também registra um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 100 bilhões (dados de 2008 a 2010). Só com o Brasil há uma carteira de projetos e negócios estimada em US$ 5,8 bilhões. Porém, em meio a dados positivos da economia, os líbios vivem dificuldades concretas no seu dia a dia. Dependentes de comércio exterior para alimentos e produtos básicos de subsistência, eles sofrem também com as limitações causadas por anos de isolamento e conflitos. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto 5. Palestina e Israel O conflito entre palestinos e israelenses dura mais de seis décadas e se agravou de tal forma que, atualmente, os dois lados não concordamsequer em se reunir para discutir um acordo. Em abril de 2012, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, enviou uma carta ao primeiro-ministro israelense, reiterando as condições para que os palestinos retomassem as negociações sobre a paz. Entre essas condições está a interrupção de construções nos assentamentos judaicos erguidos na Cisjordânia e na parte oriental de Jerusalém – territórios palestinos ocupados por Israel desde 1967. Em resposta, o primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, afirmou que não aceitaria nenhuma condição prévia para negociação – prolongando os impasses. Ainda em abril de 2012, Netanyahu autorizou, pela primeira vez em vinte anos, o início da construção de outros assentamentos na Cisjordânia. Mesmo o presidente norte-americano, Barack Obama, afirmou que a construção desses assentamentos não é boa para a paz. O atual conflito entre palestinos e israelenses foi deflagrado pela proposta da ONU em 1947 de criar dois Estados na região da Palestina. A partir de então, o mapa da região foi redesenhado várias vezes por uma sucessão de guerras. No dia seguinte à fundação do Estado de Israel, em maio de 1948, eclodiu a primeira guerra entre árabes e judeus. Com a vitória israelense no ano seguinte, o território previsto pelo plano de partilha da ONU para formar o Estado Árabe da Palestina foi retalhado: diversas áreas foram anexadas por Israel, a Cisjordânia foi incorporada à Jordânia e a Faixa de Gaza ficou sob responsabilidade do Egito. A guerra Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto deixou um saldo de cerca de 700 mil palestinos refugiados e representou uma grande derrota para os países árabes da região. A crescente tensão nas fronteiras entre Israel, Síria, Egito e Jordânia a partir dos anos 60, culminou na Guerra dos Seis Dias. Em junho de 1967, Israel triplicou seu território em menos de uma semana. Ocupou os territórios árabes da Palestina, além da Península do Sinai, até então área pertencente ao Egito, e as Colinas de Golã, fronteira com a Síria. Em 1978, os israelenses se retiraram da Península do Sinai, mas até hoje continuam ocupando as demais regiões anexadas em 1967. Em 1993, o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o líder da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, assinaram um acordo de paz em Oslo, segundo o qual Israel passava a reconhecer a soberania da Autoridade Palestina sobre alguns territórios autônomos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O processo de paz, contudo, sofreu um forte retrocesso com o assassinato de Rabin em 1995 e foi definitivamente abandonado em 2000, quando palestinos e israelenses retomaram os conflitos mais hostis. Com o estancamento do processo de paz, em 2000, num momento em que os países estavam discutindo o futuro do Estado Palestino, os conflitos se tornaram mais gravosos. O processo já tratava de questões complexas como a devolução aos palestinos da Cisjordânia, a situação de Jerusalém e a questão dos refugiados. O impasse nas negociações levou a um levante palestino, conhecido com a “segunda intifada”. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto O primeiro-ministro israelense Ariel Sharon (2001-2006) esfriou ainda mais as negociações de paz, consolidando o domínio israelense sobre a Cisjordânia. Após lançar uma violenta ofensiva militar contra os palestinos em 2002, Sharon determinou a construção de muros de concreto e de cercas na Cisjordânia, a fim de separar a população israelense da árabe. O muro aumentou a segregação entre palestinos e israelenses, limitando a circulação de pessoas e mercadorias na região. Além disso, essas construções permitiram que Israel controlasse áreas que, conforme o acordo de Oslo, deveriam ser entregues aos palestinos. Em 2005, Ariel Sharon executou um plano de retirada de todos os oito mil colonos israelenses da Faixa de Gaza, bem como as tropas que os protegiam. O plano também previa que Israel continuaria a controlar o espaço aéreo de Gaza, seu mar territorial e todas as passagens de fronteira – o que acabou isolando a região. A situação na Faixa de Gaza começou a se deteriorar depois que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, obtendo 76 das 132 cadeiras do Parlamento Palestino, em janeiro de 2006. No entanto, as profundas divergências políticas entre o presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Nacional Palestina, pertencente ao Fatah, e o primeiro-ministro, Ismail Haniyeh, do Hamas, resultaram em violentos confrontos entre militantes das duas facções rivais na Faixa de Gaza, em 2006 e no início de 2007, com um grande número de mortos e feridos. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Dois eventos na política internacional impactaram a relação entre Palestina e Israel: a eleição do presidente norte-americano Barack Obama e a Primavera Árabe. Em maio de 2011, Obama fez um pronunciamento histórico no qual defendeu um Estado palestino desmilitarizado ao lado de Israel, com base nas fronteiras definidas em 1967. Obama ressaltou que qualquer mudança deveria ser acordada entre os dois lados e que poderia haver uma troca de territórios baseando-se nas fronteiras de 1967. Contudo, o primeiro-ministro israelense logo rejeitou a ideia do presidente norte-americano. Segundo Netanyahu, considerar as fronteiras de 1967 é uma ideia indefensável, por deixar fora de Israel mais de 120 assentamentos na Cisjordânia, onde moram mais de 330 mil judeus. Com o impasse gerado, o palestino Abbas solicitou em setembro de 2011 a entrada da Palestina como membro observador (sem direito a voto) da Organização das Nações Unidas. O gesto foi condenado pelos Estados Unidos e por Israel. Apesar disso, a ONU atendeu à solicitação palestina. A Palestina ainda conseguiu aderir à UNESCO, que passou, assim, a ser a primeira agência da ONU integrada pela Palestina. No início de 2013, milhares de palestinos participaram de uma rara manifestação em Gaza do movimento Fatah, do presidente palestino, Mahmoud Abbas, à medida que diminuem as tensões com os rivais do Hamas, que governam o enclave desde 2007. "Logo nós iremos recuperar nossa unidade", disse Abbas em um discurso televisionado para os milhares de manifestantes que marcharam em Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Gaza. Assim, a tendência é que a cisão entre os grupos Fatah e Hamas diminua nos próximos meses. Um longo hiato nas negociações de paz entre o governo palestino de Abbas e Israel aproximaram as diferenças ideológicas entre as duas principais facções palestinas. A solidariedade aumentou desde o ataque de Israel a Gaza em novembro de 2012, na qual o Hamas, apesar de agredido, declarou vitória contra o Estado judaico. A manifestação marcou os 48 anos desde a fundaçãodo Fatah para comandar os palestinos na luta contra Israel. Seu antigo líder, Yasser Arafat, assinou um acordo de paz provisório em 1993, que ganhou para os palestinos uma determinação para se autogovernarem. O movimento radical Hamas, que não reconhece o direito de existência de Israel, rejeitou o acordo e venceu a eleição parlamentar palestina de 2006. O Hamas formou uma turbulenta coalizão com o Fatah, até sua separação violenta um ano mais tarde. Embora afastado do Ocidente, o Hamas se sente amparado pelos ganhos eleitorais de movimentos políticos islâmicos no vizinho Egito e em outros países da região - confiança que pode ser vista pelo fato de a manifestação do Fatah ter sido autorizada pelo Hamas. O Egito já tentava há muito tempo negociar a reconciliação entre Hamas e Fatah, mas os esforços anteriores fracassaram por questões de partilha de poder, controle de armas e até que ponto Israel e outras potências aceitariam uma administração palestina Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto incluindo o Hamas. Porém, os dois grupos parecem estar caminhando gradativamente para uma unidade nacional. No fim de 2012 e início de 2013, os conflitos entre palestinos e israelenses se intensificaram na região da Cisjordânia. Israel chegou a aumentar as detenções de suspeitos palestinos para tentar evitar que estes confrontos localizados se tornem uma terceira Intifada. Enquanto isso, Israel segue construindo novos assentamentos – o que vem sendo condenado pela comunidade internacional. A partir de 2013, Obama passou a demonstrar mais claramente sua posição em relação ao conflito, inclusive visitando a região e reunindo-se com os líderes palestino e israelense. A visita à região é uma tentativa de fortalecimento dos laços entre Estados Unidos e Israel, além de uma tentativa de abrandar as tensões na região. Acontece que tanto Abbas quanto Netanyahu impõem condições para retomar as negociações. Abbas exige o congelamento dos assentamentos israelenses no território palestino e Israel quer manter a política de expansão das colônias. Para Obama, "nem a ocupação nem a expulsão são a resposta". Em Ramallah, ao lado do líder palestino, o americano criticou os assentamentos judaicos e disse que as colônias representavam um impasse na causa da paz. Mas também criticou a política de Abbas. Segundo Obama, a expansão das ocupações não deveria impedir as negociações. Posteriormente, em uma entrevista coletiva, Obama disse não estar em posição de pedir o Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto congelamento da expansão dos assentamentos israelenses dentro de território palestino. 6. China Após a enorme expansão econômica que a China obteve nos últimos trinta anos, quando o PIB chinês cresceu em média 10% ao ano, o ano de 2012 decepcionou e 2013 deverá repetir a decepção do ano anterior. Maior exportadora do mundo, a economia chinesa mostrou significativa queda nas vendas externas e redução na atividade industrial, refletindo o momento de dificuldades econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos. Nos últimos 30 anos, a economia chinesa passou de um sistema de planejamento centralizado e, em grande parte, fechado ao comércio internacional, para uma economia mais orientada ao mercado, com um setor privado em acelerado crescimento. A renda per capita da China tem crescido cerca de 8% ao ano em média nos últimos 30 anos. Porém, este rápido crescimento econômico trouxe grandes desigualdades na distribuição de renda. A renda per capita do país está classificada como mediana a baixa, se comparada com os padrões mundiais. Apesar da diminuição no ritmo de crescimento chinês, essa situação não chega a ameaçar contundentemente o país. O maior problema, na verdade, está relacionado com o tamanho alcançado pela economia do país e a sua integração às demais economias do planeta. Atualmente, os chineses correspondem a aproximadamente Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto 10% do PIB mundial e a diminuição do crescimento de sua economia importa o desaquecimento do mercado mundial. Em 2011, a China ultrapassou o Japão e se tornou a segunda maior economia do mundo. Assim, como segunda maior economia do mundo, a desaceleração de sua economia consequentemente enfraquece a economia dos demais países. Nos últimos 30 anos, a China deixou de ser um país periférico para se tornar protagonista na economia mundial. Ao se tornar protagonista durante o século XXI, a China retomou um papel que já fora seu, em uma longa história, iniciada há quase quatro mil anos. O contato com o Ocidente começou com o fim da Idade Média. A partir dos anos XIX, os europeus, buscando ampliar seus mercados, aumentaram seu contato com os chineses – que tentavam resistir por meio de um forte e centralizador governo. Essa situação gerou duas guerras entre chineses e europeus: a Guerra do Ópio (1839-1842) e Guerra dos Boxers (1898-1900). Nesses dois eventos, os chineses acabaram derrotados e essa situação levou à necessidade de fazer concessões econômicas aos europeus. Assim, o fracassado contato com o Ocidente levou à queda da dinastia Qing, em 1912, e à divisão da república em dois grupos principais: o Partido Nacionalista e o Partido Comunista Chinês. Esses partidos tinham uma posição comum no que se refere à situação de dominação externa, mas eram conflitantes sobre os assuntos internos. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Mesmo com o enfraquecimento dos países imperialistas ao fim da Primeira Guerra Mundial, a China não resistiria aos interesses econômicos estrangeiros, principalmente dos japoneses e britânicos. Com isso, os membros do Partido Nacionalista (Kuomintang) enfrentaram o descontentamento dos militares e do Partido Comunista Chinês, que fora criado com nítida influência da Revolução Russa. Em 1925, o governo chinês foi assumido por Chiang Kai-shek, iniciando um intenso movimento contra os líderes comunistas. Nesse momento, os comunistas foram obrigados a recuar politicamente e, a partir daí, estabeleceram um projeto revolucionário que pudesse transformar a China. Em 1934, sob a liderança de Mao Tsé-tung, os camponeses foram mobilizados para realizarem a chamada “Longa Marcha”, que pretendia impor a distribuição de terras e a luta às forças imperialistas. Após a Segunda Guerra Mundial e a derrota dos japoneses, o governo de Chiang Kai-shek tentou novamente realizar uma perseguição aos comunistas. Entretanto, por ter sido considerado aliado do imperialismo estrangeiro, o governo chinês foi sendo gradativamente derrotado pelos exércitos do Partido Comunista Chinês. Invadindo a cidade de Pequim em janeiro de 1949, o exército revolucionário impôs a criaçãoda República Popular da China. Sob a liderança de Mao Tsé-tung, os chineses reorganizaram o país sob a orientação das ideias comunistas. O novo governo traçou um plano econômico cuja pretensão era impulsionar a agricultura e Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto a indústria. Ao mesmo tempo as tropas comunistas impuseram uma violenta perseguição contra todos aqueles que não aderiram às políticas revolucionárias. No plano político internacional, os chineses optaram pela formação de um Estado socialista independente da orientação soviética. Com a morte de Mao, em 1976, o caminho para o processo de abertura econômica do país, estava aberto. Foi então que o governo chinês criou as chamadas Zonas Econômicas Especiais, que permitiram a entrada de empresas multinacionais e a produção de produtos direcionados ao mercado externo. As empresas internacionais eram atraídas por incentivos fiscais e por uma mão de obra extremamente abundante, disciplinada e barata. Tal modelo de desenvolvimento é conhecido como socialismo de mercado, pois combina características do comunismo, como o controle de setores considerados estratégicos pelo governo, com características do capitalismo, como a abertura às empresas estrangeiras e a possibilidade de propriedade privada em alguns casos. Com a entrada do país na economia de mercado e o vertiginoso aumento nas exportações, o país viu sua economia ser fortemente impulsionada, levando ao mundo inteiro os produtos “made in China”. Assim, a China acumulou consideráveis reservas financeiras, que em 2012 chegaram ao patamar de 3 trilhões de dólares. Essa situação possibilitou que a China mantivesse sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, fazendo com que os produtos chineses permanecessem muito baratos para exportação e Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto tornassem o país extremamente competitivo frente aos demais países. 7. Questões comentadas 1) (CESPE - 2012 - IBAMA - Técnico Administrativo) O conflito na Síria inaugurou o processo histórico conhecido como Primavera Árabe. Na verdade, a Primavera Árabe iniciou-se na Tunísia, quando um jovem desempregado ateou fogo ao seu próprio corpo, dando início a uma onda de protestos. Questão errada. 2) (CESPE - 2012 - IBAMA - Técnico Administrativo) Kofi Annan, ex-secretário geral da ONU, é o atual mediador da Liga Árabe e também da ONU para os conflitos na Síria, entre o regime do presidente Bashar al-Assad e os rebeldes que querem destituí-lo do poder. Essa questão é bastante difícil pela especificidade e difícil de um professor prever que tal abordagem cairia. De qualquer forma, a questão está errada; pois, quando a questão caiu Kofi Annan já havia deixado a mediação da Liga Árabe. Ele deixou a mediação em agosto de 2012. Annan, que ocupava o cargo especial desde 23 de fevereiro, havia proposto um cessar-fogo entre o regime do presidente Bashar al Assad e rebeldes que tentam derrubar o governo, mas os atos de violência, de lado a lado, continuaram apesar de seus esforços. Annan afirmou que apresentou sua renúncia porque não recebeu todo o apoio que a causa merecia. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Questão errada. 3) (CESPE - 2012 - MPE-PI - Cargos de Nível Médio - Conhecimentos básicos para o cargo 11) Na Tunísia, país onde se iniciaram as revoltas, o partido islâmico foi o vencedor das primeiras eleições realizadas no país, alcançando a maioria absoluta dos votos, controlando, assim, sozinho, o parlamento e o governo nacional. Pessoal, mesmo que vocês não soubessem exatamente a resposta, me respondam uma coisa: vocês acham que um partido ganharia sozinho o controle do parlamento? Não, em regra não ocorre isso. Essa já seria uma tendência na resposta de vocês. Mas sejamos mais precisos. O partido islâmico moderado Ennahda venceu as primeiras eleições democráticas da Tunísia após os protestos da Primavera Árabe. Os resultados finais da eleição confirmaram que o partido conseguiu mais de 41% dos votos (não é maioria absoluta, portanto) e assegurou pelo menos 90 cadeiras no parlamento, que tem 217 membros (não estando sozinho). Questão errada. 4) (CESPE - 2012 - MPE-PI - Cargos de Nível Médio - Conhecimentos básicos para o cargo 11) A queda da ditadura de Hosni Mubarak no Egito não significou o fim de conflitos entre muçulmanos e cristãos coptas, minoria religiosa que sofre frequentes ataques. O fim dos governos na região árabe não tem colocado, de maneira geral, fim aos conflitos. No Egito, os cristãos coptas (copta Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 37 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto significa egípcio) vem realmente sofrendo com os ataques de radicais muçulmanos. Esses ataques fazem parte de um contexto mais amplo de perseguição milenar sofrida por essa minoria na região. Embora, em um momento de protestos contra Mubarak, tenha havido uma trégua e mesmo uma certa união entre esses dois grupos, após a queda do ditador os conflitos se intensificaram. Questão correta. 5) (CESPE - 2012 - MPE-PI - Cargos de Nível Médio - Conhecimentos básicos para o cargo 11) Há fortes indícios de que o antigo líder líbio, Muhammar Kadhafi, tenha sido executado sumariamente pelos rebeldes pouco após a sua captura. Vejam a notícia do site Brasil de Fato no fim de 2011: “O Conselho Nacional de Transição (CNT) informou que Muamar Kadafi, ao ser capturado, foi assassinado durante a tomada de sua cidade natal, Sirte, no norte da Líbia. Os oposicionistas iniciaram uma ofensiva contra a cidade na manhã desta quinta-feira. Sirte era o último foco de resistência das forças aliadas a Kadafi. As primeiras informações davam conta que de que o presidente deposto havia sido baleado nas pernas enquanto tentava fugir. Mas depois houve a confirmação de sua morte”. Questão correta. 6) (CESPE - 2012 - MPE-PI - Cargos de Nível Médio - Conhecimentos básicos para o cargo 11) No Egito, o antigo presidente Hosni Mubarak, após deixar o poder, foi levado a julgamento, sob a acusação de ser responsável pela morte de ativistas que protestaram contra seu regime. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Mubarak foi levado ao julgamento assim que deixou o poder. Ele foi acusado de corrupção e conspiração para assassinar manifestantes antes e durante a revolução que culminou com o fim do seu regime de 30 anos em fevereiro deste ano. Além de Mubarak, o ex-ministro do Interior Habib el-Adly e outros seis oficiais da polícia também serão acusados de assassinato e tentativa de assassinato relacionados aos 850 manifestantesmortos durante a onda de protestos contra o regime, segundo informou a promotoria. Ao fim do julgamento, o Tribunal Penal do Cairo considerou o ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak, culpado de implicação no massacre de manifestantes durante a revolta de janeiro de 2011, que terminou na sua renúncia, e o condenou à prisão perpétua. Questão certa. 7) (CESPE - 2012 - TRE-RJ - Técnico Judiciário - Área Administrativa) O governo de Bashar Assad, como o de seu pai, legitimava-se politicamente em uma ideologia de nacionalismo pan-árabe e de oposição a Israel. Apesar do verbo no passado transmitir a sensação de que o governo de Bashar Assad não se legitima mais por essas razões, a questão foi dada como correta. De fato, os Assad se identificam com o pan-arabismo e com a ferrenha oposição a Israel e às potências ocidentais. Questão certa. 8) (CESPE - 2012 - TRE-RJ - Técnico Judiciário - Área Administrativa) Um dos aliados do governo sírio é a Rússia, grande fornecedora de armas para esse governo. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Exatamente. Vimos que a Rússia é a principal fornecedora de armas à Síria. Questão certa. 9) (CESPE - 2012 - TRE-RJ - Técnico Judiciário - Operação de Computador) Ao contrário de outros países da região, a Síria é uma ditadura militar cujo governante-mor, Bashar Assad, foi o responsável pela introdução da sharia, a lei islâmica, razão pela qual foi instaurada a revolta das minorias religiosas do país. Lembram que eu disse que o governo Sírio tem se utilizado do laicismo? Então, ele o faz para evitar um conflito entre os diversos grupos religiosos. Na verdade, é a oposição islamita que pretende implantar a Sharia na Síria. Outro fato, nesse contexto, é o crescente deslocamento de membro da Al Qaeda para esse país a fim de implementarem a Sharia. Observação: a Sharia é uma espécie de sistema legal, na qual os mandamentos islâmicos se sobrepõem ao direito, não havendo separação entre as leis de Deus e as leis dos homens. Questão errada. 10) (CESPE - 2012 - TRE-RJ - Técnico Judiciário - Operação de Computador) A crise política da Síria é movida basicamente por questões religiosas, muito em virtude de a Síria ser o único país árabe cuja maioria da população é cristã. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 40 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto Na verdade, os cristãos não são uma minoria na Síria – país predominantemente islâmico. Questão errada. 11) (CESPE - 2012 - STJ - Analista Judiciário - Área Judiciária - Conhecimentos Básicos) Devido à participação da China na economia mundial e ao fato de esse país ser o principal parceiro comercial do Brasil na atualidade, uma redução do crescimento chinês tende a significar menor potencial de expansão da economia brasileira. Exatamente. Com uma economia mundial extremamente integrada, a queda no crescimento de uma potência diminui significamente a possibilidade de expansão dos países parceiros. Não se esqueçam de que a China é hoje a principal parceira comercial do Brasil. Questão certa. 12) (CESPE - 2012 - STJ - Analista Judiciário - Área Judiciária - Conhecimentos Básicos) A reação do mercado financeiro mundial ao anúncio chinês, mencionada no texto, evidencia uma das principais características da economia globalizada dos dias de hoje, a interdependência e conexão imediata entre os fatos econômico-financeiros e os diversos agentes que atuam nesse âmbito, mundialmente. Certamente, não é?! A interdependência e a citada conexão são características da globalização. Questão certa. Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 41 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto 13) (CEFET-BA - 2010 - EBAL - Bibliotecário Documentalista) O nome BRIC foi criado pelo economista americano Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, para designar a) os países mais ricos do mundo e a Federação Russa, embora esta tenha perdido relevância no momento atual. b) os quatro principais países emergentes do mundo, cuja estimativa é que se tornem a maior força econômica do planeta. c) os países membros da OMC que fizeram parte ativamente as decisões da Rodada de Doha. d) as nações que formam o G-4 cujas alianças são sempre focadas em interesses comuns. e) os países membros do G-20 que, juntos, respondem por cerca de 90% do PIB mundial. Questão para revisar a aula anterior. Como vimos, o BRIC é usado para designar as 4 principais forças emergentes do planeta. Letra “b”, portanto. 14) (CESPE - 2012 - TJ-AL - Auxiliar Judiciário - Conhecimentos Básicos) A Primavera Árabe caracterizou-se por uma série de manifestações e revoltas populares contra os regimes políticos ditatoriais de países do norte da África e Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 42 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto do Oriente Médio. Acerca desse processo político e de suas consequências, assinale a opção correta. a) Na Tunísia, os protestos se transformaram em uma guerra civil não declarada que já causou a morte de milhares de pessoas. b) Em Israel, a maioria da população árabe busca, por meio de uma nova Intifada, ou revolta popular, igualdade de direitos. c) Na Líbia, deflagrou-se uma guerra civil que se encerrou com a destituição do general Muammar Kaddafi do poder e a divisão do território do país entre os diversos grupos rebeldes. d) Na Síria, as manifestações populares resultaram na convocação de eleições livres e democráticas no 1.º semestre de 2012. e) No Egito, as eleições populares foram vencidas pelo candidato da Irmandade Muçulmana, uma organização política de inspiração religiosa. Pessoal, conforme conversamos, houve eleições, no Egito, que foram vencidas por Morsi, candidato da Irmandade Muçulmana. Essa assertiva está realmente certa. Sobre a letra “c”, houve, na Líbia, uma guerra civil, que inclusive levou a mais de 50 mil mortos e o território foi realmente dividido entre grupos rebeldes. Qual é o Prof. Rodrigo Barreto www.estrategiaconcursos.com.br 43 de 72 Atualidades para Polícia Civil – DF (Escrivão) Teoria e Questões Prof. Rodrigo Barreto erro então? O erro está em dizer que a guerra civil se encerrou com a deposição de Kadafi, pois, na verdade, a guerra continua entre os diversos grupos rebeldes que disputam o poder. Resposta: letra “e”. 15) (CESPE - 2011 - CBM-DF - Todos os Cargos - Conhecimentos Básicos - adaptada) O governo chinês vem ampliando o processo de distensão política iniciado após a morte de Mao Zedong, algo que já se manifesta com a redução dos espaços de atuação do partido comunista chinês. Pessoal, na verdade não há um processo de “distensão” política na China, nem mesmo redução dos espaços de atuação do partido comunista. Questão errada. 16) (CESPE - 2011 - CBM-DF - Todos os Cargos - Conhecimentos Básicos) Ao longo das duas últimas
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