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Relatório 1 - Estágio em Patologia

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Peterson Vinicius Elias da Silva 15/0064021
Relatório do Estágio em Patologia – 14/03/2017
	A primeira atividade do estágio foi iniciada por volta de 10h30. Após uma breve apresentação das instalações da Anatomia Patológica, os residentes se prepararam para realizar uma biópsia na sala de Macroscopia. 
Enquanto o R1 se preparava, a R2 nos explicou um pouco da dinâmica da sala. Ela mostrou algumas peças ósseas de costelas e explicou parte do processo de preparação do material, como a descalcificação da peça com ácido nítrico (HNO3) a 10%, para manter a arquitetura histológica do tecido, e também o banho em água corrente durante duas horas, para tirar o resto do ácido do material.
Ao chegar a peça, lemos o prontuário da paciente. Era de uma mulher grávida, terceira gestação, diagnosticada com mola hidatiforme. Houve sangramentos, ela foi submetida a uma histerectomia subtotal (retirada das tubas uterinas e do corpo do útero, preservando o colo) e o útero foi mandado para a Patologia para análise.
A mola hidatiforme (MH) é uma complicação incomum da gravidez, faz parte do grupo das doenças trofoblásticas gestacionais (DTG) e pode ser subdividida em mola completa (MHC) e mola parcial (MHP) [1]. A MH é causada basicamente por anomalias genéticas dos gametas ou por fecundação dupla de um ovócito. No caso da MHC, ocorre fecundação dupla de um ovócito sem núcleo ativo, formando em 90% das vezes um zigoto 46, XX e 10% das vezes 46, XY, ambos com dissomia uniparental paterna [1]. Na MHP, geralmente ocorre uma triploidia (69, XXX; 69, XXY e 69, XYY[2]), também com o material genético extra vindo do pai, por fecundação de um ovócito geneticamente normal por dois espermatozoides normais ou por um espermatozoide diploide [1]. Ambas as molas possuem comportamentos proliferativos benignos, mas ambas também mostram alguma possibilidade de evolução para o espectro maligno da DTG [2], que inclui o coriocarcinoma, a neoplasia trofoblástica gestacional e o tumor trofoblástico de leito placentário [1].
Os médicos nos deram uma descrição bem breve do que é a MH e logo foi iniciada a biópsia. Primeiramente, foi feito um corte coronal do corpo do útero, de forma a separar duas partes aproximadamente iguais, então foi feito outro corte da mesma forma que o anterior, porém para separar uma peça com uma espessura de cerca de 1 cm apenas. As peças foram pesadas juntas e então posicionadas para serem fotografadas.
Os residentes começaram então a trabalhar nas peças cortadas, acompanhamos mais de perto o trabalho do R1. O trabalho foi basicamente fazer cortes grandes para descrever macroscopicamente a peça, e cortes pequenos para colocar nos cassetes, que posteriormente se tornarão lâminas para análise microscópica.
A peça de útero, à primeira impressão, estava muito aumentada em relação ao considerado normal, apresentava externamente uma coloração heterogênea, que variava de acastanhada à enegrecida e superfície lisa. Internamente, o que chamava mais atenção era uma substância de coloração homogênea, avermelhada escurecida, preenchendo toda a luz da cavidade uterina. Essa substância possuía consistência heterogênea, variando de gelatinosa superiormente, até bem firme inferiormente, próximo ao istmo do útero. Apresentava também um miométrio muito espessado em relação ao normal.
Foram realizados vários cortes transversais de cerca de 1 cm de espessura por toda a peça, deixando-a como um “pão de fôrma”. Nesses cortes foram verificadas pequenas lesões de aspecto puntiforme com cor semelhante à da substância previamente descrita. As tubas uterinas direita e esquerda também foram cortadas e analisadas, porém, não se reparou nenhuma alteração a primeiro momento.
Para todas as peças, foram preparados cassetes com pequenas amostras, de forma que cada peça tinha um número de cassetes igual ao tamanho de sua maior dimensão em centímetros arredondado para cima. Ao final do procedimento, haviam cerca de 40 cassetes, que foram colocados em um vidro com formol. Todas as peças foram então devolvidas aos seus respectivos recipientes, que foram devidamente fechados e a biópsia foi terminada.
Foi uma experiência bem interessante e me deu um aprendizado de muitas áreas ao mesmo tempo. Serviu para relembrar alguns processos de preparação e conservação de peças que posteriormente vão gerar lâminas. Relembrei também um pouco da anatomia das peças da biópsia, ouvi pela primeira vez algo sobre a MH, que me incitou certa curiosidade em descobrir mais sobre essa doença, e, durante a pesquisa, consegui relembrar alguns conceitos mais aplicados de genética e embriologia. Enfim, esse dia no estágio me proporcionou um aprendizado prático e também serviu para consolidar alguns conceitos já esquecidos. Minha expectativa é que as próximas experiências sejam tão proveitosas quanto essa.
Referências bibliográficas:
Andrade JM. Mola hidatiforme e doença trofoblástica gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2009; 31(2):94-101.
Ferraz L, Lozoya C, Lopez PF, Moraes V, Amim-Júnior J, Rezende-Filho J, Braga A. Mola hidatiforme parcial recorrente evoluindo para neoplasia trofoblástica gestacional. Femina. 2015; 43(1):45-52.

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