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Das várias formas de Responsabilidade Civil Módulo II Responsabilidade por Fato de Terceiros Responsabilidade indireta; Art. 932 e 933 do CC/02; Pessoas que respondem a esse título terão sempre concorrido para o dano por falta de cuidado ou vigilância. Sérgio Cavalieri Filho (2004, p. 187): “Em apertada síntese, a responsabilidade pelo fato de outrem constitui-se pela infração do dever de vigilância. Não se trata, em outras palavras, de responsabilidade por fato alheio, mas por fato próprio decorrente do dever de vigilância. Por isso, alguns autores preferem falar em responsabilidade por infração dos deveres de vigilância, em lugar de responsabilidade pelo fato de outrem.” Culpa in eligendo ou in vigilando Responsabilidade indireta: Não se baseia mais na culpa. Responsabilidade objetiva CC/02. A incidência dos institutos se dá apenas em razão da apuração da responsabilidade em sentença. Desnecessária a demonstração pela vítima (inversão do ônus da prova). Responsabilidades a apurar do causador do dano; e da pessoa também encarregada de indenizar. (Silvio de Salvo Venosa) Responsabilidade por Fato de Terceiros Pais (Art. 932, I); Tutores e curadores (Art. 932, II); Empregadores e comitentes (Art.932, III); Os que participam gratuitamente de produtos do crime (Art. 932, V); Responsabilidade dos Pais Presunção relativa de culpa (iuris tantum) Responsabilidade objetiva. Requisitos (VENOSA, 2005, p. 81): a menoridade; e o fato dos filhos estarem sob o poder ou autoridade e companhia dos pais. Base da culpa do genitor que será ao mesmo tempo in vigilando e in omittendo. Responsabilidade dos Pais EMANCIPAÇÃO: solidariedade entre os pais e o menor causador do dano. Posição externada pelo STF em diversos julgamentos e no Enunciado 41 do Conselho da Justiça Federal: “Enunciado 41 – A única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do artigo 5º, parágrafo único, inciso I do Código Civil.” Emancipação - Responsabilidade Demais hipóteses de emancipação Menor emancipado é responsável direto. Patrimônio do menor Art. 928 do CC/02 – inovação! Os pais respondem primeiro com o seu patrimônio. Patrimônio dos pais = insuficiência Atinge-se o patrimônio do incapaz. Exceção: Apenas não terá lugar a indenização com bens do incapaz, se privar este do necessário para sua subsistência e das pessoas que dele dependem (parágrafo único, artigo 928 do CC/02). ** PERGUNTA: O pai ou mãe que não esteja com os filhos menores sob sua autoridade imediata ou sob sua companhia, em razão de separação de fato ou divórcio, responde pelos atos por eles praticados? Resposta: Não há consenso na doutrina sob a questão. Cavalieri Filho (2014) responde quem tem a guarda. ** PERGUNTA: Em caso do filho menor não emancipado residir em outra localidade (estudos, p. ex.), como fica a responsabilidade dos pais? Mesmo que os filhos vivam em outra localidade, mas sob as expensas dos pais, estão sob o pátrio poder, gerando responsabilização dos pais pelos atos que praticarem. ** PERGUNTA: Os pais possuem direito de regresso contra o filho? Não. Fundamento: Dever de guarda (vigilância) decorrente do poder familiar. Regra do Art. 934 do Código Civil. A Responsabilidade Civil de Tutores e Curadores TUTOR: representante legal do menor que não possui os genitores em razão de falecimento destes, ou foram declarados ausentes ou perderam o poder familiar (art. 1728). CURADOR: representante legal do maior incapaz. Tutela e curatela são encargos e múnus público. Responsabilidade – Tutor/Curador Assenta-se sobre os mesmos princípios da responsabilidade dos pais. Diferença: possibilidade de ação regressiva. Responsabilidade do incapaz Código Civil, art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único: a indenização prevista deverá ser equitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependam. Princípio da dignidade da pessoa humana. Enunciados do Conselho da Justiça Federal Responsabilidade de incapazes e de seus responsáveis legais Enunciados do CJF -Pais/Tutores/Curadores: Enunciado 39 – A impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no artigo 928, traduz um dever de indenização equitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como consequência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade. Enunciado 40: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira SUBSIDIÁRIA ou excepcionalmente como DEVEDOR PRINCIPAL, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-educativas ali previstas.” Medida socioeducativa: Art. 116 do ECA “Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.” Responsabilidade do Empregador ou Comitente pelos Atos dos Empregados, Serviçais ou Prepostos Responsabilidade do Empregador Art. 932, inciso III do Código Civil. Responsabilidade objetiva do empregador. Fundamento: Teoria do risco. Ação regressiva = responsabilidade subjetiva. Ação Regressiva - Empregador Demonstração da culpa lato sensu. A indenização suportada pelo empregador ou comitente somente poderá ser objeto de ação regressiva em face do empregado ou preposto se estes tiverem causado dano com DOLO OU CULPA, conforme Enunciado 44 do Conselho da Justiça Federal. Enunciado 44 do CJF Sobre o artigo 934 – “Na hipótese do artigo 934, o empregador e o comitente somente poderão agir regressivamente contra o empregado ou preposto se estes tiverem causado dano com dolo ou culpa”. Teoria do órgão Na responsabilidade do empregador vigora a teoria do órgão. Teoria do órgão: a pessoa jurídica é responsável pelos danos praticados por seus empregados ou prepostos, independentemente de lei que defina sua responsabilidade. (Venosa, 2005, p. 79) Responsabilidade civil da pessoa jurídica Donos de hotéis e hospedarias (Art. 932, IV); Estabelecimentos de ensino; Pessoas jurídicas em geral. Responsabilidade da PJ Considerações importantes (VENOSA, 2005, p. 105): “As pessoas jurídicas de direito privado respondem pelos atos culposos de seus empregados e prepostos, bem como de seus órgãos, diretores, conselheiros, administradores etc. Subsiste a responsabilidade solidária: a vítima pode acionar a pessoa jurídica ou o empregado”; “No campo do direito do consumidor, a pessoa jurídica responde de forma objetiva, independentemente da culpa de seus empregados”. Teoria do órgão: “A responsabilidade das pessoas jurídicas será considerada direta, na teoria organicista, e decorrerá da regra geral, que não distingue pessoa natural e pessoa jurídica” (VENOSA). A responsabilidade dos donos de hotéis (e congêneres) e estabelecimentos de ensino Hotéis e congêneres Fundamento: Contrato (hóspede/hospedeiro). Responsabilidade quanto a origem: contratual. Responsabilidade Objetiva. Exceção: hospedagem gratuita (Subjetiva). Cláusula de não-indenizar: sótem validade se livremente negociada entre as partes. Entretanto, em sede de direito do consumidor esta cláusula é ineficaz. (VENOSA, p. 93) Hotéis e congêneres Obrigação de indenizar cessa: - art. 650 CC/02 - para hospedeiros (excludente de responsabilidade): Art. 650. Cessa, nos casos do artigo antecedente (contrato de depósito), a responsabilidade dos hospedeiros, se provarem que os fatos prejudiciais aos viajantes ou hóspedes não podiam ter sido evitados. (Caso fortuito e força maior) Hotéis e congêneres Responsabilidade pelos atos praticados pelo hóspede com relação à terceiros: Requer comprovação da culpa do agente causador do dano ; Responsabilidade subjetiva. Estabelecimentos de ensino Aluno no estabelecimento de ensino – É de responsabilidade do estabelecimento: garantir incolumidade física do educando; Responsável por atos ilícitos do educando, praticados por este a terceiros ou a outro educando. Dever vigilância e incolumidade do estabelecimento de educação. Estabelecimentos de ensino Teoria moderna Responsabilidade objetiva por relação consumerista. Excludente de responsabilidade: comprovação de caso fortuito ou força maior. Responsabilidade dos que participam dos produtos de determinado crime Produtos do crime As pessoas que gratuitamente participarem nos produtos do crime, respondem solidariamente pela quantia concorrente com a qual obtiveram proveito (Art. 932, V, CC/02). Respaldo legal: Art. 884, CC/02 Actio in rem verso – Ação de enriquecimento ilícito Fundamento: vedação do enriquecimento injusto. Objetivo da ação: reequilibrar o patrimônio. Responsabilidade pelo fato da coisa Responsabilidade pelo fato da coisa. Art. 937 e 938 do CC/02; Responsabilidade Objetiva; Art. 937: responsabilidade do dono ou construtor do edifício: Obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa. Base: dever jurídico de segurança. Fato da coisa Art. 938: coisas lançadas em lugar indevido (effesis et dejectis). RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. FUNDAMENTO: “O perigo decorrente da queda ou lançamento em lugar indevido (qualquer lugar propício a acarretar dano) de coisas líquidas (effusis) ou sólidas (dejectum) implica na responsabilização daquele que as lançou ou permitiu que elas caíssem. O risco é a característica desencadeadora da responsabilidade objetiva.” (ROSSI, 2009, p. 39). *** PERGUNTA: Se a coisa foi lançada em local indevido por um condômino não identificado, como ficará a responsabilização? Resp.: Posição majoritária da doutrina¹ Todo o condomínio será responsável pelos danos. Não se excluirá qualquer condômino. Ao final, se restar comprovado quem foi o condômino que causou o dano, pode o condomínio exercer direito de regresso. (¹Flávio Tartuce, Nelson Nery Jr., Rosa Maria Andrade Nery e Sérgio Cavalieri Filho) Responsabilidade por fato de animal Responsabilidade pelo fato de animal. Responsabilidade Extracontratual e Objetiva. Decorre do dever de guarda e vigilância. É imputada em desfavor daquele que tem a guarda do animal no momento do evento danoso, pouco importando se seu proprietário, ou não. Fato de animal Art. 936, CC/2002: Excludentes: culpa da vítima ou força maior. Somente elas são capazes de romper o liame entre a conduta e o dano. Fato de animal Serviço público prestado por concessionária de serviço público (art. 37 §6º c/c art. 175 da CF/88): No caso de eventos danosos oriundos de acidentes causados por animal nas vias de rodagem administradas sob esse regime, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor (art. 14 c/c art. 22); Cabe à vitima demonstrar o DANO em razão da presença do animal na pista, como é a regra da responsabilidade civil do tipo objetiva. O Direito de ação regressiva ~ pontos importantes ~ Direito de Ação Regressiva Ocorre na Responsabilidade por fato de terceiro (Regra geral). Previsão legal: Art. 934 do CC/02; Fundamento: evitar o enriquecimento sem causa; retorno ao status quo ante; Exceção à ação de regresso: Ascendente que paga por ato de descente, absoluta ou relativamente incapaz, pois essa responsabilidade decorre do pátrio poder (poder familiar). Responsabilidade por abuso de direito Abuso de direito Art. 187 do CC/02. O que é o abuso de direito? “É o ato praticado com base em uma permissão legal, ou seja, não viola a lei, mas atinge o fim social a que ela se dirige. Se praticando um ato, o agente violar direito de outrem, deverá ressarci-lo do prejuízo” (DINIZ, 2007, p.37). Abuso de direito - surgimento A responsabilidade por abuso de direito não surgiu com o Código Civil de 2002. Outros dispositivos do ordenamento: Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990): consagrou como ato ilícito as cláusulas e práticas abusivas (art. 39 CDC) e a publicidade abusiva (art. 37, §2° do CDC). Lei de Locação (8.245/91): ato abusivo do locador quando dá destinação diversa ao bem locado. Este ato abusivo enseja o pedido de retomada (art. 44, II e par. Único c/c art. 47, I) CPC: há dispositivo expresso a coibir a prática de defesa manifestamente protelatória, inclusive com aplicação de sanção (art. 273, II c/c art. 18 do CPC). Abuso de direito Caracterização: “O abuso do direito, em nosso sistema jurídico, caracteriza-se no momento em que, podendo o direito ser exercido de várias maneiras, o agente opta por aquela que é prejudicial à vítima, sendo irrelevante qualquer verificação acerca da efetiva intenção do agente, na medida em que a responsabilidade civil, neste aspecto, é objetiva” (ROSSI, 2009, p. 15). Abuso de direito Desnecessidade de prova do dano (posição minoritária da doutrina): “Diferentemente do ato ilícito, que exige a prova do dano para ser caracterizado, o abuso de direito é aferível objetivamente e pode não existir dano e existir ato abusivo”. (Guilherme Fernandes Neto apud Nelson Nery Jr. 2002, p. 110) Abuso de direito Enunciado nº 37 CJF: trata do abuso de direito e deve nortear a aplicabilidade do artigo 187 do Código Civil: “A responsabilidade civil decorrente do abuso de direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”. Assim, para os tribunais a responsabilidade por abuso de direito é objetiva, apesar da discordância de alguns estudiosos. Abuso de direito Conclusões: 1 - O abuso de direito pode decorrer de violação comissiva ou omissiva, ou mesmo bastando que o não agir seja uma prática abusiva, excedendo os limites econômicos, sociais, a boa-fé os bons costumes. 2 - A teoria do abuso do direito opõe-se à existência de direitos absolutos.
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