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Contrato de Transporte 1 Contrato de Transporte Prof. Me. Luciano de Souza Siqueira Contrato de Transporte 2 Sumário Generalidades Históricas .............................................................................. 3 Disposições Gerais ........................................................................................ 3 Do Transporte Coletivo. ............................................................................... 4 Conceito e Caracteres. ................................................................................. 4 Do Transporte de Pessoas. ........................................................................... 5 Caracteres do Contrato. ............................................................................... 7 Transporte Cumulativo de Pessoas. ............................................................ 8 Transporte de Pessoas – Obrigações e Direitos dos Passageiros. ............... 8 Das Responsabilidades do Transportador. .................................................. 9 Noções Sobre Bagagem .............................................................................. 10 Direito de Retenção da Bagagem ............................................................... 11 Do Transporte de Cargas em Geral ............................................................ 11 Apresentação ................................................................................................... 11 A Atividade Transporte de Cargas em Território Nacional. ........................ 12 Do Transporte Rodoviário de Cargas. ......................................................... 12 Do Transporte de Coisas. ........................................................................... 13 Obrigações do Transportador e Entrega da Coisa. .................................... 14 A Exclusão da Responsabilidade do Transportador ................................... 14 Transporte Marítimo e Fluvial de Cargas .................................................. 16 Breve Introdução ao Direito Marítimo. ............................................................... 16 Direito Marítimo – Escorço histórico .......................................................... 16 Objeto e Natureza Jurídica ......................................................................... 17 Normas referentes às embarcações- transporte marítimo ........................ 18 Do Contrato de Transporte Aéreo .............................................................. 19 Do Contrato de Transporte Aéreo. Conceito ............................................... 20 Da Classificação do Contrato de Transporte Aéreo ................................... 21 Do Contrato de Transporte Aéreo de Coisas ou Mercadorias ..................... 22 Dos Direitos e Deveres do Transportador Aéreo de Carga ........................ 22 Dos Direitos e Deveres do Remetente ........................................................ 23 Do Contrato de Transporte Aéreo de Pessoas. Peculiaridades .................. 23 Dos Direitos e Deveres das Companhias Aéreas – Especificação. .............. 24 Dos Direitos e Deveres dos Passageiros – Especificações. ........................ 25 Do Contrato de Transporte Aéreo de Bagagem. Aspectos Gerais. ............. 26 Da Responsabilidade Civil das Companhias Aéreas ................................... 27 Da Limitação da Indenização ..................................................................... 27 Contrato de Transporte 3 Da Responsabilidade por Danos em Serviços Aéreos Gratuitos ................. 28 Do Descumprimento do Contrato de Transporte Aéreo ............................. 28 Do Descumprimento do Contrato de Transporte Aéreo – Da Preterição de Passageiros. .............................................................................................. 29 A Extinção do Contrato .................................................................................... 29 O Transporte Ferroviário de Coisas e a Responsabilidade Civil do Transportador ............................................................................................. 30 Referências ................................................................................................. 31 Contrato de Transporte 4 Generalidades Históricas O transporte é fator atual da maior importância na di- nâmica social, pois dá suporte ao mundo dos negócios e a circulação de pessoas, favorecendo a movimentação das riquezas e tornando viável a execução de muitos outros contratos. Pelo transporte de pessoas é que houve a a possibili- dade de integração cultural e política entre os povos, de modo que o, o avanço da tecnologia nos transportes, pos- sibilitando a maior rapidez e eficácia na suas condutas, também obrigou ao aperfeiçoamento do contrato. O contrato de transporte de pessoas e de mercadorias é uma das inovações do Código Civil de 2002. Anterior- mente a edição desta lei, esse contrato não se encontrava sistematizado, mas disperso em diversos textos, fazendo com que houvesse certa lacuma legislativa, fato que pro- porcionou a produção de uma fecunda jurisprudência. O Código Comercial, especificamente dos artigos 99 a 118, dispos apenas sobre os Condutores de Gêneros e Co- missários de Transportes, enquanto o Código Civil de 1916 não cuidou do contrato. Tais deficiências da legislação é justificado porque os modernos meios de transporte são uma conquista das pri- meiras décadas do século XX e, o interesse do direito, para regulamentação de fatos sociais seja naturalmente atrasa- do em relação a aqueles. Trata-se de um instituto complexo, pois abrange seg- mentos distintos, tais como: transporte terrestre (rodoviá- rio e ferroviário); o transporte aquático (marítimo, fluvial, lacustre); e o transporte aeronáutico. Além destes, há outras especificidades com regras pe- culiares que não se limitam apenas ao direito civil, tais como o transporte urbano, intermunicipal, interestadual e as internacionais, as quais se sujeita ao Direito Internacio- nal Público. Entre as modalidades de transporte, foi o marítimo que alcançou, primeiramente, o desenvolvimento, graças ao empenho dos fenícios, na antiguidade. Também há discus- sões que na mesma época povos nórdicos também reali- zavam esse tipo de transporte, contudo, sem grandes re- gistros arqueológicos ou documentários, razão pela qual, a história, neste ponto é incompleta. A medida que a navegação marítima passou a ser pra- ticada por outros povos, comecaram a surgir as normas reguladoras. O Código de Hamurabi (no século XXIII a.C.) e o de Manu (secúlo XIII a.C.) já possuiam regras sobre o transporte marítimo. O contrato de transporte marítimo é também chama- do de fretamento. A historia do transporte aeronáutico é bem mais recente, pois a primeira experiência com êxito, realizou-se em 19 de outubro de 1901, quando o brasileiro Alberto de Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em Paris, em um dirigível que construíra,denominado 14 Bis. A partir do aperfeiçoamento extraordinário deste inven- to, é que se iniciou o transporte de coisas e de pessoas no espaco. Em 1911, na cidade de Paris, fundou-se o Comite fu- ridique International de L’Aviation, com a finalidade de preparar um Código Internacional do Ar. Em nosso Pais, o primeiro regulamento sobre a navegagação aérea data de 22 de julho de 1925 (Decreto n° 16.983/25) e o nosso Código Brasileiro do Ar, instituido pelo Decreto-Lei n° 483, de 8 de junho de 1938, foi substituido pelo atual, criado pelo Decreto-Lei n° 32, de 18 de novembro de 1966. Disposições Gerais Quando se fala em contratos, estamos falando de um acordode vontades entre de duas ou mais pessoas. Nas palavras de Washington de Barros Monteiro, o contrato é o resultado do encontro das vontades dos contratantes e produz seus efeitos jurídicos – cria, modifica ou extingue direitos ou obrigações – em função dessa convergência. Contrato de Transporte 5 O contrato é a mais comum e a mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo jurídico. É praticamente impossível imaginarmos uma sociedade sem contratos, sem acordo de vontades, sem obrigações recíprocas. E é por este motivo que o Direito dos Contratos é uma das mais importantes matérias no ramo do Direito Civil. Os contratos de transporte de pessoas e de coisas possuem regras distintas, embora haja urn denominador comum, dai o Código Civil agrupar a matéria em três se- ções: Disposições Gerais; Do Transporte de Pessoas; Do Transporte de Coisas, fruto da ideia tirada do Código Civil italiano. Na prática, quase sempre os contratos de transporte se caracterizam como de adesão, onde não há a possibilidade de discussão ou debate sobre seu conteúdo, mas adesão as cláusulas impostas unilateralmente pelo transportador. Do Transporte Coletivo. Dada a sua relevância do ponto de vista econômico e de segurança, o transporte coletivo é objeto de autoriza- ção, concessão ou permissão pelos Estados e Municipios. A Constituição Federal, pelo artigo 175, estabelece que a prestação de serviços públicos deve ser feita por con- cessão ou permissão, mas sempre mediante processo de licitatório. No artigo 21, XII, a Constituição Federal se refere tam- bém a autorização. Trata-se de um ato unilateral, discri- cionário, pelo qual a administração faculta uma atividade, geralmente em caráter precário. A legislação ordinária, formada principalmente pelas Leis nº 8.987/95, 9.074/95 e 9.791/99, cuida dos aspectos administrativos, sem prejuízo, todavia, da incidência das regras do Código Civil. O transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasi- leiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limi- tes de Estado ou Território é da competência exclusiva da União, prevista no artigo 21, XII, alíneas d e e, da Magna Carta. O transporte coletivo urbano é atribuição dos Municí- pios, que podem explorá-lo diretamente ou não (art. 30, V, CF). Aos Estados-membros, que detém competência rema- nescente em relação a União e Municípios (conforme arti- go 25, § 1°, CF), cabe o transporte intermunicipal. Também a legislação especial existente, bem como os tratados e convenções internacionais pertinentes aos con- tratos de transporte, continuam em vigor. No Brasil, a legislação ordinária situa-se em igual ní- vel hierárquico as convenções e tratados internacionais, devendo prevalecer os critérios da Lei de Introdução ao Código Civil, pertinentes a revogação (especificamente em seu artigo 20). O transporte interestadual e internacional de pessoas e regulado pelo Decreto n° 2.521, de 20.3.1998, secundado pela Resolução n° 18, de 23.5.2002, da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). O Código de Defesa do Consumidor, pelo artigo 22, apresenta disposição pertinente aos serviços públicos em geral, exigindo a sua adequação, eficiência, segurança e, quanto aos essenciais, a sua continuidade. Conceito e Caracteres. Temos como definição jurídica do contrato de trans- porte, quando alguém, denominado condutor ou trans- portador, obriga-se perante o passageiro ou expedidor a conduzir pessoa ou coisa de um lugar para outro, por determinado meio, com segurança e zelo, mediante re- muneração. Contrato de Transporte 6 Importante denominarmos as partes envolvidas no contrato: Quando o transporte se refere a pessoa, o obri- gado é designado por condutor e a contraparte, passagei- ro ou viajante; em se tratando de transporte de coisa, as partes são chamadas, respectivamente, por transportador e expedidor ou remetente. No transporte de coisa, o destinatário não é parte, mas terceiro beneficiário do contrato. Nem todo transporte praticado no exercicio de uma profissão constitui contrato de transporte. As vezes cons- titui uma simples etapa na execução de um contrato de compra e venda, quando o vendedor se obriga a entregar a coisa adquirida. Não há influência o meio utilizado no transporte, mas, quando indicado no contrato, deverá ser observado. O Código Civil, ao definir o contrato pelo artigo 730, nao se refere ao meio de transporte, pelo que as partes tem liberdade em sua escolha. Se o transporte for de coi- sa, não haverá descaracterização do contrato se o trans- portador efetuar a entrega pessoalmente, seja caminhan- do ou valendo-se de um outro contrato de transporte em que figurara como passageiro. O importante é que observe o prazo de entrega e tome os cuidados devidos. . No transporte de coisa, a tradição é ato de execução. Excepcionalmente, em relação ao transporte urbano de pessoas, não se exige a capacidade de fato do passageiro, tanto que é comum as criancas subirem nos coletivos, pa- gar as passagens e serem conduzidas ao local de destino. Em relação aos transportes intermunicipal, interestadual e internacional, em relação aos menores, é necessário a autorização expresso dos pais para que se realize. No contrato, ambas as partes assumem obrigações, daí a característica da bilateralidade. A principal do transpor- tador é a de conduzir a pessoa ou a coisa, incólume, de um lugar para outro, enquanto a da contraparte consiste no pagamento do valor contratado. Se o transporte se faz gratuitamente, por amizade ou cortesia, não se aplicam as regras do Codigo Civil. Esta é a disposição do caput do artigo 736 que, em seu parágrafo único, desconsidera gratuidade quando o transportador, embora sem remuneracao, aufere vantagens indiretas. Depreende-se, pois, da análise deste artigo, que o con- trato é oneroso. Diz-se que é comutativo, pois as obriga- ções de ambas as partes são previamente conhecidas e há equilíbrio entre o quinhão que se dá e o que se recebe. O contrato é de resultado, dado que a obrigação assumida pelo transportador é a de conduzir a pessoa ou a coisa a determinado lugar e só ocorre adimplemento quando a pessoa ou a coisa é levada, incólume, ao lugar de destino. Não basta, assim, o esforco do transportador, para o cumprirnento do contrato; é indispensável que o transpor- te se realize. Do Transporte de Pessoas. O contrato de transporte de pessoas requer algumas peculiaridades, lembrando os conceitos apresentados em aulas anteriores, segundo Silvio de Salvo Venosa, é um negócio jurídico pelo qual um sujeito assume a obrigação de entregar coisa em algum local ou percorrer um itinerá- rio a algum lugar para uma pessoa. Já a eminente Profa. Maria Helena Diniz, em sua obra destaca a observação de que o antigo Código Civil (1916) não contemplava em seu texto. Isso se deve em razão de ter sido o projeto elaborado por Clóvis Beviláqua na últi- ma década de 1800, quando o transporte coletivo estava começando a obter o seu deslinde. Enquanto o projeto do Código Civil Brasileiro tramitava no Congresso por qua- se vinte anos, o transporte coletivo foi se desenvolvendo, fazendo-se necessária a elaboração de uma lei que o re- gulamentasse. E nesse ínterim para suprir as necessidades entre o antigo e o novo Código Civil surge então o Decreto nº. 2.681/1912, para aplicação por analogia, mais conhe- cido como Lei das Estradas de Ferro, que disciplinou o contrato de transporte em seus artigos 734 a 756, incor- Contrato de Transporte7 porando o texto da Lei das Estradas de Ferro e as posições e entendimentos dominantes traçados pela doutrina e pela jurisprudência nos quase cem anos de sua vigência. “O contrato de transporte, apesar de ser um dos negócios jurídicos mais usuais, não foi re- gulamentado pelo Código Civil de 1916, e muito escassamente disciplinava o Código Comercial, referindo-se apenas nos arts. 99 a 118 aos con- dutores de gêneros e comissários de transporte” (DINIZ, p. 467, 2007). O transporte de pessoas é aquele pelo qual o trans- portador se obriga a trasladar o passageiro até o desti- no objetivado. São partes no contrato o transportador e o passageiro. Essa é a modalidade de contrato mais utilizado no coti- diano de uma pessoa. Alguns trabalhadores pactuam esse contrato, ainda que sem conhecimento, pelo menos qua- tro vezes ao dia. Exemplo clássico é o transporte coletivo urbano. O passageiro, mediante bilhete de passagem, contrata com o transportador o seu deslocamento para o lugar de seu destino. Esse bilhete poderá ser nominal, como ocorre com as passagens para transporte aéreo, ou ao portador, como acontece quando compramos uma passagem interestadual rodoviária. Vale lembrar que no caso de passagem rodovi- ária intermunicipal, as empresas exigem o preenchimento de documento contendo o nome e dados documentais do passageiro, o que não torna o bilhete um titulo nominal, haja vista que esse preenchimento é valido apenas a titulo de identificação e controlo dos passageiros. Do contrato nasce uma relação obrigacional entre os entes envolvidos. No contrato de transporte de pessoas não seria de outra forma, portanto as partes envolvidas, passageiro, transportar possuem uma relação jurídico nes- ta seara obrigacional/pessoal, de resultado. Obrigação de resultado é aquela que o sujeito passivo não somente utiliza todos os seus meios, técnicas e co- nhecimentos necessários para a obtenção do resultado, como também se responsabiliza caso este seja diverso do esperado. Sendo assim, o devedor (sujeito passivo) só fi- cará isento da obrigação quando alcançar o resultado al- mejado. O melhor exemplo é o contrato de empreitada em que o construtor entrega a obra na plenitude, ou seja, uma casa deve possuir todos seus caracteres do projeto e per- manece rígida e hígida quanto a sua estrutura, ou seja, não venha a desabar em meros ventos ou balanços, a so- lidez é o esperado, trata-se, então, de resultado esperado. No contrato de transporte vemos da mesma forma, pois temos os contratos de empresas de transportes, que têm por fim transportar a pessoa de um lugar para o outro seguindo certo itinerário. A relação o credor (sujeito ativo) e devedor (sujeito passivo) se instala, devendo o transportar levar a pessoas (passageiro) ao local de destino. É certo que há outras decorrências, inclusive na esfera da responsabilidade civil, mas é tema que veremos em aula oportuna no curso. Itinerário significa definição de trajeto a ser percorri- do, ou seja, o acordado entre a pessoa ou o transporte, mas nos transportes públicos há apenas uma adesão ao itinerário já importo pelo poder público, diante da sua su- premacia. Pessoas capazes podem celebrar contratos, mas os in- capazes e demais com capacidade reduzida como se apre- sentam. Para que um contrato seja considerado válido, neces- sário é que as partes contratantes possuam capacidade jurídica (Artigo 104 do Código Civil). Contrato de Transporte 8 Nos ensinamentos do Min. Ruy Rosado de Aguiar, “sen- do consensual, o contrato de transporte pressupõe o acor- do de vontades. Acontece que, no transporte de pessoas, especialmen- te no contrato de transporte urbano, em que não se faz nenhum tipo de exigência com relação à idade para o ingresso dos passageiros, o contrato pode ser celebrado com pessoas incapazes. “Uma criança, qualquer que seja a sua idade, no momento que ingressa no ônibus ou no trem, ainda que sozinha e desacompanhada de outros, está celebrando, nesse momento, um contrato de transporte”. Por isso, diz-se que há dispensa do elemento vontade na celebração do contrato. Basta que o interessado pratique a conduta socialmen- te adequada, para que se tenha o contrato como celebra- do. São relações contratuais de fato que se estabelecem, ainda quando a pessoa seja incapaz. O Estatuto da Criança e do Adolescente tem regras a respeito do transporte de pessoas menores de idade e ali está dito quando se pode admitir a viagem de um menor desacompanhado, e as formalidades exigidas. Lei nº 8.060, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 83 - Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. § 1º - A autorização mão será exigida quando: a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; b) a criança estiver acompanhada: 1)de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco; (2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável. 2º - A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável. Conceder autorização válida por dois anos. Art. 84 - Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Pelo texto acima, verificamos que certos limites legais para contratar transporte de pessoas, as limitação quan- to a capacidade referem-se precipuamente no dever de cuidado com crianças e adolescentes, além da aparente vontade dos demais que desejam celebrar o contrato. Caracteres do Contrato. Continuando o comando da aula anterior, em suas duas modalidades, o contrato é não formal, podendo as partes convencionar oralmente ou por escrito para que se aper- feiçoe. O bilhete de passagem, no transporte de pessoa e o conhecimento de frete, no de coisa, apenas constituem prova da existência do contrato, mas não o contrato em si. Aquele bilhete, todavia, nem sempre é tirado no ato do pagamento, conforme se dá atualmente nos ônibus de transporte municipal em que as pessoas passam por uma roleta. Pelo conhecimento de frete, prova-se também o recebimento da coisa pelo transportador. Eles possuem as seguintes características: 1 – Bilateral ou Sinalagmático – pois gera obrigações para ambas as partes; 2 – Consensual – porque se aperfeiçoa com simples acordo de vontades; Contrato de Transporte 9 3 – Oneroso – porque as partes buscam vantagens re- cíprocas, o destino para a coisa ou para o passageiro e preço para o transportador; 4 – Típico – porque previsto no CC de 2002; 5 – De duração – pois sua execução não se limita em um só ato ou instantaneamente, necessitando sempre de um lapso temporal para ser cumprido; 6 – Comutativo – porque as partes conhecem as obri- gações respectivas de início, não dependendo de evento futuro ou incerto; 7 – Não solene – porque não depende de forma pres- crita para ser concluído. O transporte coletivo, via de regra, é de adesão, pois o itinerário e o preço são previamente fixados pelo poder público, agora, inclusive com a obrigatoriedade de uma quantia mínima de passagens por viajem de forma gratui- ta para idosos. Tratando-se de transporte particular, as partes combi- nam previamentetodos os dados essenciais a formação do contrato. Transporte Cumulativo de Pessoas. É costume, especialmente no transporte de coisa, quando o local do destino é muito distante, o serviço de condução ser partilhado por dois ou mais transportadores. E o que se denomina por transporte cumulativo, multi- modal ou intermodal, previsto nos artigos 733 e 756 do Código Civil. Normalmente se empregam as expressões cumulativo ou combinado quando o transporte é de pessoa e modal ou intermodal, quando de coisa. Importante destacar que a multioperação do serviço deve ser do prévio conhecimento do passageiro ou do ex- pedidor. Embora a lei não seja explícita, dá a entender que a cumulatividade deve ser objeto do contrato, quando usa a expressão, no caput do artigo 733: “Nos contratos de transporte cumulativo...”. Não seria razoável se o interessado, havendo escolhido intuitu personae o transportador, pessoa física on jurídica, fosse surpreendido, no curso da viagem, pela mudanca do condutor. Firmado o contrato, cada transportador se responsabiliza pelos danos causados a pessoas e coisas no trajeto que lhe foi confiado. Caso haja substituição de transportador, durante o percurso, o substituto será res- ponsavel solidariamente. Se houver dano causado por atraso ou interrupção, independentemente do culpado, to- dos os transportadores serão responsáveis solidariamente. Nao importa se em vários trechos o horário foi cumprido, pois determina a Lei Civil que o dano “será determinado em razão da totalidade do percurso”, não cabendo, em nosso entender, assim, o cálculo de proporcionalidade re- dutiva, para efeito de diminuição do valor devido. Não obstante o preceito do artigo 733, aplicável aos dois tipos de transporte, o legislador houve por bem inserir outra disposição, no artigo 756, especifica para o trans- porte de coisa.Por esta regra, estabelece a solidariedade passiva entre os diversos transportadores por danos cau- sados, havendo, apenas a indenização do remetente, o direito de regresso em relação ao culpado. Se mais de um transportador der causa, estes, ao final, ressarcirão aos que pagaram proporcionalmente aos tre- chos em que os danos ocorreram. Transporte de Pessoas – Obrigações e Direitos dos Passageiros. Ao dispor sobre a matéria assunto desta aula, o Código Civil não distingue as diversas modalidades de transporte, porém não revoga a legislacao especial, salvo onde hou- ver conflito de disposições. Argumentam que as regras do Código Civil são mais voltadas para o transporte coletivo, mas que não afasta a sua aplicabilidade nos contratos de transportes particular. Ao lado de uma gama de direitos, o passageiro possui algumas obrigações. Contrato de Transporte 10 Além do pagamento, cumpre-lhe seguir as instruções do transportador, observando o horário de partida e de eventuais intervalos durante o percurso, bem como o seu lugar de assento. Deve também apresentar-se em con- dições de higiene e de saúde, pois caso contrário, o seu acesso ao meio de transporte poderá ser negado, a vista do artigo 739. O passageiro que se apresenta visivelmente alterado por embriaguez enquadra-se no dispositivo, pois tempo- rariamente se encontra privado de saúde física e mental. Afora tais hipóteses o transportador não poderá recusar passageiros. Também durante todo o tempo do transporte, o passa- geiro deverá portar-se dentro dos padrões de respeito e de moralidade, também se sujeitando aos princípios de boa- -fé objetiva. Deverá observar os regulamentos e manter- -se convenientemente em todo o percurso, abstendo-se de causar danos ao veículo ou de qualquer ato prejudicial aos demais passageiros e a normalidade do transporte. Acreditamos que, nesta ótica seria conduta irregular, por exemplo, fazer algazarras, perturbando a tranquilidade. Se o transporte possui natureza particular, como os de excursão, as exigências serão as mesmas, cabendo ao próprio grupo o autocontrole, respeitadas as normas de moralidade e de seguranca. Já na esfera de seus direitos, o passageiro possui o direito de ser conduzido, incólume, ao local do destino, observados os horários preestabelecidos de saída e chega- da, o itinerário, além dos requisitos de higiene, seguranca e bem-estar. Qualquer convenção em especial, como a de forneci- mento de refeições, habituais no transporte aéreo, deve ser igualmente cumprida, sob pena de caracterizar inadim- plemento e sujeitar o infrator as sanções cabíveis. Referin- do-se especificamente aos horários e itinerários a serem cumpridos sob pena de responsabilidade por perdas e da- nos, o artigo0 737 ressalva as ocorrências por motivo de força maior. Exceção ao princípio da pacta sunt servanda, a lei per- mite ao passageiro a resiIição unilateral do contrato, ga- rantindo-lhe o direito de devolução do pagamento, desde que a comunicação ao transportador se faça em tempo há- bil a revenda da passagem. Em caso de desistência duran- te o percurso, haverá o direito de restituição, proporcional ao trajeto restante, caso o transportador tenha admitido outro passageiro em substituição e caso isso seja possível. Igual direito haverá, na hipótese de o passageiro faltar ao embarque e ser substituído por terceiro. Neste caso, se a substituição se deu apenas com parte do percurso, a restituição se limitará ao quantum recebido pelo transpor- tador. Em todos os casos de restituicao, a título de multa compensatória, poderá ser efetuado o desconto de cinco por cento sobre o valor respectivo. Tal disposição está in- serta no artigo 740 e seus parágrafos. O direito a ser conduzido ao local do destino prevalece, ainda que fatores adversos provoquem a interrupção no transporte, inclusive os imprevisíveis e os alheios a vonta- de do transportador. A este caberá as medidas necessárias a continuação do serviço, providenciando, a sua custa, ou- tro veiculo de igual ou superior categoria, podendo optar por diversa modalidade de transporte, mediante anuência do passageiro. As despesas por conta de hospedagem e alimentação correrão por conta do transportador. Das Responsabilidades do Transportador. A responsabilidade no transporte gratuito (a famosa carona) é extracontratual ou aquiliana, não sendo regu- lada pelas disposições afetas ao contrato de transporte. Importante destacar que não se considera gratuito o transporte quando o condutor obtem vantagens indiretas, como na hipótese de o passageiro ser cliente do transpor- tador e a viagem ser a negócio. Sobre o transporte gratui- to, o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula nº 145: Contrato de Transporte 11 “No transporte desinteressado, de simples corte- sia, o transportador só será civilmente responsá- vel por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” Não se pode negar que no transporte gratuito exista de uma relação jurídica formada pelo consentimento e, dada a sua natureza, trata-se efetivamente de contrato atípi- co de transporte, não alcançando pelas regras do Código Civil, pois o transportador assume responsabilidades que itrapassarn as simples regras de trato social ou convencio- nalismos. O artigo 734 consagra a teoria objetiva da responsabili- dade quanto aos danos causados ao passageiro e sua ba- gagem. Excluem-se os provocados por força maior, como a tempestade, a árvore caída na estrada. O transportador também não responderá nos casos de exclusiva culpa do passageiro, embora o artigo 734 não faça tal objeção. Se positivada a culpa tanto do transportador quanto do passageiro, denominada culpa concorrente,caberá ao juiz, ao proceder ao cálculo da indenização, excluir um percentual equivalente a contribuição da vítima na forma- ção da causa. O direito a indenização independe da prova de culpa, cabendo ao passageiro demonstrar apenas a extensão de suas perdas e danos. Ao transportador caberá, se for o caso, a prova da força maior ou a culpa exclusiva do pas- sageiro. Pelo artigo 735, a obrigação do transportador se es- tende aos danos causados por terceiro. Ocorrendo esta hipótese, indenizado o passageiro, poderá ser praticado o direito de regresso, cabendo ao transportador provar a culpa de terceiro. O artigo 734 proibe a cláusula contratual excludente da responsabilidade, considerando-a nula. No ato do contrato, poderá o transportador exigir a de- claração de valor da bagagem, para efeito de eventual res- sarcimento. Anteriormente, a norma juridica orientadora da responsabilidade do transportador constava do Decreto Legislativo n° 2.681, de 07.12.1912, que em seu artigo 10 referia-se apenas as estradas de ferro e que, por interpre- tação estendeu-se as várias modalidades de transporte. O Decreto Legislativo encontra-se revogado, pois o Có- digo Civil de 2002 regulou inteiramente a matéria versada. Acreditamos que qualquer entendimento em contrário não tenha a menor juridicidade. Noções Sobre Bagagem Bagagem é item de suma importância para o conhe- cimento do contrato de transporte, pois são os pertences dos passageiros que estão em suas mãos e o conjunto que irá para o compartimento de cargas do avião, ônibus, porta-malas ou outro compartimento que não na cabina do passageiro. Entende-se como bens de viajante os bens, novos ou usados, que um viajante porta consigo, no mesmo meio de transporte em que viaje, não acobertado por conheci- mento de transporte, ou ainda aquele que, em função de sua viagem, chegue ao País ou dele saia, por meio de uma empresa transportadora, como remessa postal, encomen- da expressa, encomenda aérea ou qualquer outro meio de transporte, amparado por conhecimento de carga ou documento equivalente. Os bens de viajante, para que se enquadrem no concei- to de bagagem devem ser, necessariamente, destinados a uso ou consumo pessoal do viajante, em compatibilidade com as circunstâncias de sua viagem, inclusive aqueles para presentear, ou destinados a sua atividade profissional e não podem permitir a presunção de importação ou ex- portação para fins comerciais ou industriais, devido a sua quantidade, natureza ou variedade. Alguns bens, embora não incluídos no conceito acima, recebem o mesmo tratamento tributário dispensado à ba- gagem quando pertencentes a viajantes em situações es- peciais. Assim, como exemplo, atendidas determinadas condi- ções, seria considerada bagagem, a mobília da residência Contrato de Transporte 12 de um viajante que esteja se transferindo definitivamente para o Brasil. Segundo o que se depreende da legislação específica, são considerados como bagagem, por exemplo: roupas e outros artigos de vestuário; artigos de higiene, beleza ou maquiagem; calçados; livros, folhetos e periódicos; ferra- mentas, máquinas, aparelhos e instrumentos necessários ao exercício de sua profissão, artes entre outros. Trata-se de conceito amplo que em lide poderá receber a sua devida contestação, mas e o indicado da norma que em tese se resolve pela atuação do agente, em processo administrativo ou até se necessário demanda judicial. Direito de Retenção da Bagagem Efetuado o transporte, caso o bilhete da passagem não tenha sido pago, caberá ao transportador o direito de retenção da bagagem do passageiro e de outros objetos pessoais, ressalvada a hipótese de pagamento parcelado. Fundamental, para o exercício deste direito, é que a bagagem e outros objetos pessoais estejam sob a guarda do transportador. A Lei Civil não diz isto, mas tal conclusão advém do próprio conceito de jus retentionis. Assim, a maleta, sacolas e embrulhos, colocados pelo próprio passageiro no interior do veículo, não podem ser retidos, pois não se acham em poder do transportador, mas junto à pessoa conduzida, sob a vigilância e fiscali- zação desta. Diferente é o caso das malas despachadas, que são entregues ao transportador. Embora haja controvérsias de toda ordem em relação ao direito de retenção, este se define como uma faculdade, concedida pela lei ao credor, de conservar em seu poder a coisa alheia, que detenha le- gitimamente, além do momento em que a deveria restituir se o seu proprietário até o momento do pagamento. Do Transporte de Cargas em Geral Apresentação O transporte de cargas é o principal componente dos sistemas logísticos das empresas. Sua importância pode ser medida por meio de, pelo menos, três indicadores fi- nanceiros: custo, faturamento e lucro. O transporte repre- senta, em média, 64% dos custos logísticos, 4,3% do fa- turamento, e em alguns casos, mais que o dobro do lucro. Com relação às nações com razoável grau de industrializa- ção, diversos estudos e pesquisas apontam que os gastos com transporte oscilam ao redor de 6% do PIB. Tanto no âmbito das políticas públicas de investimento em infraestrutura quanto no âmbito gerencial de empresas privadas e estatais, a principal decisão relativa ao trans- porte de cargas é a escolha dos modais de transporte. São quatro as formas de transporte de cargas: rodovi- ário, ferroviário, aquaviário e aéreo. Cada uma possui estrutura de custos e características operacionais específicas que os tornam mais adequados para determinados tipos de produtos e de operações. O Código Civil disciplina o transporte de cargas, desta- cando-se que o transportador poderá exigir que o reme- tente lhe entregue, devidamente assinada, a relação dis- criminada das coisas a serem transportadas. Em ocorrendo informação inexata ou falsa descrição no documento, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer. Outro aspecto a ser ressaltado está relacionado com as obrigações do transportador, ou seja, este conduzirá a carga ao seu destino, tomando todas as cautelas necessá- rias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto. A responsabilidade do transportador se limita ao valor constante do conhecimento e começa no momento em que ele, ou seus prepostos recebem a coisa Contrato de Transporte 13 e termina quando é entregue ao destinatário ou deposita- da em juízo, se aquele não for encontrado. A Atividade Transporte de Cargas em Território Nacional. Considera-se transporte nacional ou doméstico aquele em que o ponto de embarque e destino da mercadoria estão situados em território brasileiro e, por transporte in- ternacional, aquele em que o ponto de embarque e des- tino da mercadoria estão situados em países diferentes, segundo o disposto na Lei nº 6.288, de 11.12.1975. Conforme mencionado na Lei nº 6.813/75, a explora- ção do transporte rodoviário de cargas, especificamente, é privativo de transportadores autônomos brasileiros, ou equiparados a estes por lei ou convenção e de pessoas jurídicas que atendam os seguintes requisitos: A) tenham sede no Brasil; B) pelo menos 4/5 (quatro quintos) do capital social, com direito a voto, pertencentes a brasileiros; C) direção e administração confiada exclusivamente a brasileiros. Essa norma dispõe que, havendo sócio estrangeiro na composição societária da pessoa jurídica, será obrigato- riamente constituída sob a forma de sociedade anônima, sendo que o capital social será representado por ações nominativas. Tratando-se de transportadores autônomos,a Lei nº 7.290, de 19.12.1984, define que se considera transpor- tador rodoviário autônomo de bens a pessoa física, pro- prietário ou coproprietário de um só veículo, sem vínculo empregatício, devidamente cadastrado em órgão discipli- nar competente, que, com seu veículo, contrate serviço de transporte a frete, de carga, em caráter eventual ou con- tinuado, com a empresa de transporte rodoviário de bens, ou diretamente com o usuário desse serviço. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com base na Lei nº 10.233, de 05.06.2001 (artigo 14-A e artigo 26, IV), através da Resolução nº 437, de 17.03.2004, institui o Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga - RNTRC e dispõe sobre a inscrição no mencio- nado registro. Segundo essa resolução, o exercício da atividade de transporte rodoviário de cargas, por conta de terceiros e mediante remuneração, depende de prévia inscrição do transportador no RNTRC, sendo que a inscrição o habilita- rá ao exercício da atividade nas seguintes categorias: I) Empresa de Transporte de Cargas - ETC; II) Cooperativa de Transporte de Cargas - CTC; III) Transportador Autônomo de Cargas - TAC. Do Transporte Rodoviário de Cargas. Transporte Rodoviário é o realizado em estradas de ro- dagem, com utilização de veículos como caminhões e car- retas. Ele pode ser em território nacional ou internacional, inclusive utilizando estradas de vários países na mesma viagem. Trata-se de contrato onde figuram o contratante, de- nominado remetente; o contrato, denominado de trans- portador; e o destinatário, que é a pessoa que receberá a mercadoria. Neste caso as questões jurídicas permanecem como norte a obrigação de resultado, ou seja, o deve de en- tregar a encomenda, intacta e sem danos, sendo que há algumas discussões sobre a embalagem que veremos em outra aula, mas cabendo ao transportador o dever de en- trega. O transporte rodoviário é bastante recomendado para o transporte de mercadorias de alto valor agregado ou perecível. Este modo perde em muito sua competitividade para produtos agrícolas a granel, visto que seu valor é muito baixo, onde acaba encarecendo o seu custo final. Contrato de Transporte 14 Ante a total supremacia no transporte de cargas no módulo rodoviário no Brasil, há por decorrência maior quantidade de lides sobre esse tipo de contrato. Nesta forma, o espaço no veículo pode ser fretado em sua totalidade (carga completa) ou apenas frações de sua totalidade (carga fracionada). O fracionamento do espaço de carga do veículo possibilita a diversificação de embar- cadores num mesmo embarque, diluindo desta forma, o custo entre os clientes na fração de sua utilização. Há também a figura do transportador de cargas autô- nomo. É o transportador autônomo de cargas, em que a própria definição legal deixou pouca margem para uma eventual discussão de vinculo empregatício, já que a pres- tação dos serviços é eventual, isto é, esporádica e sem exclusividade. Assim, a prestação de serviços realizada para vários contratantes, sem fixação numa empresa, não costuma caracterizar relação de emprego. O artigo 1º da Lei nº 7.290, de 19 de dezembro de 1984, estabelece que transportador rodoviário autônomo é “a pessoa física, proprietário ou coproprietário de um só veículo, sem vínculo empregatício, devidamente cadastra- do em órgão disciplinar competente, que, com seu veículo, contrate serviço de transporte a frete, de carga ou de pas- sageiro, em caráter eventual ou continuado, com empresa de transporte rodoviário de bens, ou diretamente com os usuários desse serviço”. Além desta modalidade, há outras em que o contrato possui outras peculiaridades na sua constituição, que é o transporte de cargas marítimo e aéreo, disciplina que con- versaremos em aulas adiante. Do Transporte de Coisas. Para o transporte de coisas a lei prevê uma formaliza- ção, que devera ser observada no início de execução do contrato, para a maior garantia e segurança das partes. Assim, ao entregar o objeto a ser transportado, o re- metente deverá especificar a sua natureza, valor, peso, quantidade, além do nome e endereço do destinatário. A finalidade é a de impedir a troca dos objetos e permitir o cabal cumprimento do contrato, efetuando-se a entrega da coisa a quem for devida (artigo 743). O transportador poderá exigir uma declaração, em duas vias, na qual conste a relação discriminada das coisas a serem transportadas. Caso a declaração seja incorreta ou falsa, advindo dai prejuízo para o transportador, a este caberá o ajuizamento de ação indenizatória, cujo prazo decadencial é de cento e vinte dias (artigo 745). Ao receber o objeto, compete ao transportador a emis- são do conhecimento, no qual deverão constar os dados que o identifiquem, observando-se as normas constantes em legislação especial. Ao conhecimento, o transportador deverá anexar uma das cópias da declaração recebida, autenticando-a (artigo 744). Não estando o objeto a ser transportado devidamen- te acondicionado, tornando-se passível de deterioração, o transportador poderá recusá-lo. Se, por sua natureza, o objeto for capaz de colocar em risco a saúde das pes- soas ou causar danos diversos, obrigatoriamente deverá rejeitar o seu transporte, pois não possui disponibilidade quanto aos valores ameaçados, salvo em relação ao seu próprio veículo (artigo 746). Se a coisa envolver algum tipo de ilicito, como tráfico de drogas ou animais irregularmente em cativeiro, além de recusar o transporte, haverá de denunciar o fato as autoridades competentes. Quaisquer outros objetos que tenham o seu transporte ou comercializaeao proibidos nao poderao ser recebidos pelo transportador. Igualmente os que não forem acom- panhados da documentação exigida pelo ordenamento jurídico. Uma vez firmado o contrato, apenas ao remetente é cabivel a desistência. O direito poderá ser exercitado até o momento da entrega ao destinatário, quando então a coi- sa deverá ser devolvida ao remetente ou, se este preferir, Contrato de Transporte 15 ser encaminhada para outra pessoa. Exercitado o direito por qualquer uma dessas modalidades, o remetente ficará sujeito a despesas adicionais e, se for o caso, a indeniza- ção por perdas e danos (artigo 748). Obrigações do Transportador e Entrega da Coisa. Inicia-se a obrigação do transportador com o recebi- mento do objeto, o qual deverá ser trasladado, incólume e no tempo estipulado, ao lugar de destino. A conduta, pós-chegada, poderá ser: a) o transportador simplesmente aguarda a presença do destinatário; b) emite aviso para a retirada do objeto; c) entrega a coisa no endereço apontado pelo reme- tente. A responsabilidade do transportador, que se limita ao valor constante no conhecimento, termina no momento em que o objeto é entregue ou depositado em juizo, caso o destinatário não seja encontrado ou haja dúvida quanto a sua identificação. Se a coisa for daquelas que se deterioram, cumpre ao transportador efetuar a venda depositando a importância apurada em juízo. O recebimento da coisa deve ser feito pelo destinatário ou a quem apresentar o conhecimento endossado. No ato de entrega, a coisa deve devidamente conferida, para efei- to de verificação de seu estado e, em caso de se constatar alguma avaria, a reclamação deve ser feita no momento, sob pena de decadência dos direitos. Quanto as avarias que não se percebem a primeira vis- ta, o direito de ação permanece por dez dias, conforme artigo 754 do Código Civil. Por motivos diversos, podem faltar ao transportadoras condições necessárias ao transporte ou a continuação do percurso iniciado. Ocorrendo uma destas hipóteses, o transportador solicitará instruções ao remetente, a fim de cumprir a obrigação de zelar pela coisa, evitando a sua perda total ou parcial. Afora os casos de forca major, o transportador responderá por perdas e danos, advindos do perecimento ou deterioração do objeto. Caso o remetente não atenda ao pedido e o problema perdure, mas sem cul- pa do transportador, este efetuará o depósito judicial, seja da coisa diretamente ou do produto de sua venda. Se o impedimento for imputável ao transportador, este poderá depositar a coisa por sua conta e risco, mas so- mente poderá aliená-la se perecível. Na hipótese de a coisa ficar depositada, durante o perí- odo de impedimento, em armazém do transportador, este continuará responsável por sua custódia e conservação, cabendo-lhe, todavia, uma remuneração na forma ajusta- da ou segundo os valores usualmente praticados no res- pectivo sistema de transporte. Em relacdo, ainda, ao objeto colocado em armazém do transportador em decorrência do contrato de transporte, aplicam-se, no que couber, as normas afetas ao contrato de depósito. A Exclusão da Responsabilidade do Transportador Em uma primeira análise, o artigo 734 do Código Civil parece fornecer a idéia de que apenas a força maior pode elidir a responsabilidade de indenizar, ficando de fora as demais excludentes do nexo causal: Art. 734. O transportador responde pelos danos cau- sados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula exclu- dente da responsabilidade. O Código Civil disciplinou a responsabilidade do trans- portador em mais de um artigo, sendo o artigo 738 e pará- grafo único, que se refere à culpa da própria vítima. Contrato de Transporte 16 Muito embora não mencionadas expressamente, de- vem ser admitidas as excludentes da culpa exclusiva da vítima e do fato exclusivo de terceiro, em razão dessas causas também excluírem o nexo causal. O fato do le- gislador não mencionar o caso fortuito juntamente com a força maior, diferentemente do que ocorre nos demais dispositivos do Código, revela uma intenção do legislador de considerar como excludentes da responsabilidade do transportador somente os acontecimentos naturais, e não os fatos decorrentes da conduta humana. Surge nesse momento a necessidade de explicitar o que vem a ser, o fortuito interno e o fortuito externo, en- tendimento determinante para se afastar ou não a respon- sabilidade do transportador. O fortuito interno é o fato imprevisível e inevitável que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo transportador. É ligado à pessoa, à coisa ou à empresa do agente. Pode-se citar como exemplo o estouro de um pneu do veículo, a quebra da barra de direção, ou o mal súbito do motorista. Mesmo sendo acontecimentos impre- visíveis, estão ligados ao negócio explorado pelo transpor- tador, razão pela qual o fortuito interno não o exonera do dever de indenizar. Já o fortuito externo se caracteriza também por ser um fato imprevisível e inevitável, porém é alheio à organiza- ção do negócio do transportador. São fatos da natureza tais como as enchentes, os raios, terremotos. Sendo de- nominado por alguns como força maior. Apenas o fortuito externo, ou força maior, tem o condão de excluir a respon- sabilidade do transportador. Também a culpa exclusiva da vítima exclui a respon- sabilidade do transportador. Ela é afastada em razão de que a pessoa a dar causa ao evento danoso é o próprio passageiro, e não o transportador. A culpa exclusiva do passageiro pode ser facilmente ve- rificada nos chamados casos de surfismo ferroviário, onde o passageiro, podendo viajar no interior do trem, opta por viajar no teto. A jurisprudência inclusive já se manifestou nesse sentido: Recebendo o fato, como desenharam as instân- cias ordinárias, hei que a vítima, exibicionista, ao viajar no teto do vagão do comboio ferroviário, o fez assumindo o risco de infortúnio. É o caso de sua exclusiva culpa. (STJ – REsp 35.103-4 Rel. Min. Fontes de Alen- car) Como dito em aulas anteriores é necessário dizer que o passageiro deve manter uma conduta adequada às regras do transporte, sujeitando-se às normas estabelecidas pelo transportador. O Código Civil estabelece tal obrigação no artigo 738, caput: Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar- -se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. É possível, também, vislumbrar a culpa concorrente do passageiro e seus efeitos, na previsão do parágrafo único do artigo 738. Há ainda o fato exclusivo de terceiro, como excludente da responsabilidade do transportador. Por terceiro deve- -se entender alguém estranho ao binômio transportador e passageiro; qualquer pessoa que não guarde nenhum vínculo jurídico com o transportador, de modo a torná-lo responsável pelos seus atos, direta ou indiretamente Assim, além de não fazer parte da relação transporta- dor/passageiro, também não pode, o terceiro, estar vincu- lado de alguma forma ao transportador, como o motorista assim está, através de um vínculo de emprego, por exem- plo. Contrato de Transporte 17 Transporte Marítimo e Fluvial de Cargas Breve Introdução ao Direito Marítimo. Uma vez que mais da metade da terra é composta por água é cerca de 75 % da população mundial reside próxi- mo ao litoral, rios ou lagos, o transporte por via aquática advém desde os primórdios da humanidade, sendo rele- vante para o descobrimento de novas terras e integração mundial até os dias atuais, com o grande avanço da tecno- logia, das embarcações e lógico redundando em questões de ordem jurídica ante a sua relevância. O desenvolvimento deste modo de transporte, propor- cionou a diminuição dos custos e das comunicações e, consequentemente, o aumento da circulação de pessoas, capitais e mercadorias entre as civilizações. O transporte marítimo, por sua vez, tem sido o mais antigo e a maior via pela qual se transportam as merca- dorias que ligam os vários países, aproximando pessoas e culturas dos mais diversos cantos do mundo.À época se dizia que “A hegemonia do mundo é a hegemonia do mar”. Não há país que disponha de litoral e não identifique in- teresses pelo mar. Estes, resultantes dos anseios, necessi- dades, possibilidades e cultura de um povo, materializam- -se no que se convencionou chamar de política marítima de um país. Nesse quadro, falta ao nosso país uma política jurídica voltada para a difusão do Direito Marítimo, a fim de dar segurança aos atores que atuam nesse meio, daí a rele- vância dessa aula, tão pouco difundida. É grande base da economia e por consequência a ques- tões jurídicas não se limitando aos contratos marítimos internacionais, mas em uma gama de relações complexas de pouco estudo por parte das academias. Em relação ao nosso estudo nessas aulas, faremos uma ligeira incursão ao direito marítimo. Direito Marítimo – Escorço histórico O Direito Marítimo e o Direito da Navegação são anti- gos e ligados à própria história da humanidade, produto das várias civilizações que se lançaram ao mar, vez que foi esse o meio usado pelos povos antigos na busca das suas grandes conquistas. Ao longo dos tempos, diversas regras se inserem no objeto do direito marítimo, dentre elas o Códigode Ha- murabi, que estabeleceu norma sobre construção naval, fretamento de navios a vela e a remo, responsabilidade do fretador, abalroamento e indenização pelo causador dos danos. Como era uma civilização que se desenvolveu nas bacias dos rios Eufrates e Tigre, acreditasse que a nave- gação fluvial se prolongou ao Golfo Pérsico, de modo que, pode-se sustentar que o direito marítimo também abran- gesse a navegação fluvial, embora não haja referência a rios. Outro código, o de Manu, dos hindus (século XIII a.C), continha normas de câmbio marítimo. No Direito Romano, há pouca referência ao Direito Ma- rítimo, embora tenham praticado um comércio marítimo muito ativo, eles não conheceram ou fizeram pouco uso das regras marítimas usadas pelos navegadores do Orien- te. Já os gregos fizeram uso dos costumes que haviam na Ilha de Rhodes, bem como do nauticum foenus, que nada mais era do que um contrato de dinheiro a risco ou de câmbio marítimo. Este contrato regulava que aquele emprestava dinheiro só seria restituído no caso de sucesso da expedição marítima e, em face dos seus riscos, seria o primeiro esboço da idéia de seguro. Com exemplo disso temos a passagem narrada no Di- gesto (D. 14-2-29), em que Eudemon de Nicomédia, ha- vendo naufragado, queixava-se ao Imperador Antonino de que fora saqueado pelos habitantes das Ilhas Cícladas, e Contrato de Transporte 18 que o Imperador respondeu que era o senhor do mundo, mas que o mar estava sujeito às Leis de Rhodes, de acor- do com as quais deveriam ser julgados os negócios liga- dos ao comércio marítimo, exceto se fossem contrários às leis romanas. É difícil concluir que os romanos enviassem àquela ilha os seus processos para julgamento, mas como as Ilhas Cícladas pertenciam à Província Insularum, que tinha Rhodes como capital, o caso apresentado por Eude- mon deveria ser julgado segundo a lei do lugar, ou seja, segundo as Leis de Rhodes e não de outro lugar. O direito romano somente forneceu poucas regras for- mais e até mesmo suas técnicas não tiveram grande influ- ência na formação do direito marítimo, o que foi agravado após as invasões e até as Cruzadas, com o desapareci- mento do comércio marítimo. Mais adiante na história, Dom Manuel queria melhorar a vida do seu povo, tendo a Escola de Sagres, de Portu- gal, dado grande contribuição à navegação marítima e as descobertas, em face da sua política de encontrar uma sa- ída marítima para as Índias, contornando a África e enfra- quecendo o poder do Islã, abrindo acesso para as grande navegações e das expansão do mundo, inclusive com o descobrimento do Brasil em 1.500. Esse país, ao empregar a genialidade dos seus conhecimentos náuticos, colabora- va para mudar o curso da história mundial. Em relação aos seguros marítimos, pode-se mencionar o Guidon de la Mer, feito em Rouen no século XVI, como o primeiro código de regras detalhadas sobre seguro maríti- mo e que detalhava as regras segundo o porto ou cidade. Deve-se ressaltar uma particularidade desse período inicial do direito marítimo referente às diferenças entre regras e usos, vez que esses eram seguidos pela boa von- tade e opinião pública, enquanto as regras eram feitas e impostas por uma autoridade. Posteriormente, na França, o Código Comercial de 1.808, ou Código de Napoleão, muito influenciou o direito marítimo brasileiro vez que continha um Livro, o de nú- mero II, consagrado ao Comércio Marítimo (artigos 190 a 426), que foi em parte copiado da Ordenança de 1681. Esse código, que foi a reprodução do direito do século XVII defasou-se pouco a pouco, vez que as condições de explo- ração haviam mudado. Assim, o Código deixou várias leis em vigor, tal como o Ato de 1.793, sobre a nacionalidade dos navios, que vigorou ainda por muito tempo. No Brasil, durante muito tempo a legislação vigente foi consubstanciada nas Ordenações do Reino de Portugal (Afonsinas, Manoelinas e Filipinas). A maior parte do período colonial brasileiro foi regida pelas Ordenações Filipinas, impressas em 1603, no Reina- do de Filipe II de Portugal. Com a independência em 1822, setores do citado código continuavam a vigorar, enquantos leis nacionais não o substituíssem, tendo a sua aplicação atenuada pela outorga da Constituição Imperial de 1824, Códigos Criminal e de Processo, de 1830 e 1832, e Comer- cial de 1850. Vale ressaltar, que o Código Comercial, promulgado pela Lei nº 556, de 25 de junho de 1850, passou a re- gulamentar na sua Parte Segunda, o comércio marítimo, o qual foi mantida pelo Código Civil de 2002, no seu art. 2.045, embora a maior parte da legislação marítima bra- sileira esteja esparsa em diversas leis. A parte do Código Comercial Brasileiro de 1850, não revogada pelo Código Civil de 2002, regulamenta o Direito Marítimo nos artigos 457 a 796. Objeto e Natureza Jurídica O Direito Marítimo é o ramo do direito que tem como objeto o conjunto de regras jurídicas relativas à navega- ção aquaviária, englobando-se os transportes marítimos, fluviais e lacustres. Assim, o Direito Marítimo abrange o conjunto de nor- mas que regulam a navegação, o comércio marítimo, os contratos de transportes de mercadorias e pessoas, por via marítima, fluvial e lacustre, os direitos, deveres e obri- gações do armador, dos capitães e demais interessados Contrato de Transporte 19 nos serviços de navegação privada, bem como a situação dos navios a seu serviço. No Brasil, na prática do Direito Marítimo, apesar de far- ta legislação a respeito, configuradora de todo um corpo jurídico regulando o seu objeto, observava-se um certo preconceito em nomeá-lo como disciplina autônoma do Direito, mesmo quando suas regras eram aplicadas nas petições, arrazoados e sentenças envolvendo contratos e disputas do comércio exterior e na fiscalização e seguran- ça do transporte aquaviário. Nesse contexto, o legislador constituinte originário co- locou no patamar que lhe é devido, em face do art. 22, I, da Carta Magna, de desparecendo a polêmica sobre a sua existência ou autonomia. Cabe discorrer também sobre Direito da Navegação, pois em face da divisão entre direito público e direito pri- vado, típica do direito romano-germânico e tendo em vista a confusão entre Direito da Navegação e Direito Marítimo, sustenta-se que esse é de natureza mista, enquanto o Di- reito da Navegação, que pode ser aérea e marítima, de natureza pública, pois prevalecem as normas de direito público interno e internacional, como a universalidade, a supremacia do interesse público, a origem costumeira (jus cogens), a imutabilidade e a irretroatividade, além da ge- neralidade das normas de ordem pública. A maioria dessas normas é elaborada pela IMO (Inter- national Maritime Organization) e no Brasil aplicadas pela Diretoria de Portos e Costas (DPC), subordinada ao Co- mando da Marinha e Ministério da Defesa, regulamentan- do o tráfego e visando a segurança da navegação, como por exemplo, as normas de sinalização náutica, e os regu- lamentos internos e internacionais para o tráfego aquaviá- rio, seja nos portos, rios, vias navegáveis e alto-mar. O Direito Marítimo, por ser mais abrangente, há normas de ordem pública e privada, aplicando-se os preceitos do Direito da Navegação acrescidas dos institutos do direito privado, especialmente do Direito Comercial e Direito Civil, dentre as quais a onerosidade, a simplicidade, a mutabili- dade, a igualdade das partes, em caso de não ser relação de consumo e a codificação. Normas referentes às embarcações- transporte marítimo O Código Comercial Brasileiro, vigenteem grande par- te desde 25 de junho de 1850, apresenta as disposições sobre comércio marítimo no que concerne as regulações sobre o uso de embarcações. Nesta aula demonstraremos alguns de suma impor- tância, mas que nas graduações em Direito pelo país não são objeto de estudo para aquele que deseja conhecer as questões que envolvem contratos em geral, contratos de seguros, matéria extremamente pertinente no momento e é óbvio, os contratos de transporte aquaviários. Sobre embarcações a norma apresenta liberdade para a construção, mas seus registros são certos e feitos no Tribunal do Comércio, hoje Capitania dos Portos de cada região. Toda embarcação brasileira destinada à navega- ção do alto-mar, com exceção somente das que se empregarem exclusivamente nas pescarias das costas, deve ser registrada no Tribunal do Comércio do domicílio do seu proprietário osten- sivo ou armador (art. 484), e sem constar do registro não será admitida a despacho. O registro é matéria formal, idêntico ao que ocorre na lavratura de registro pelo Oficial de Registro de Imóveis e recebe a solenidade do ato e demais requisitos indicado pela norma típica e demais legislações: Art. 461. O registro 1. a declaração do lugar onde a embarcação foi construída, o nome do construtor, e a qualidade das madeiras principais; 2. as dimensões da embarcação em palmos e polegadas, e a sua capacidade em toneladas, Contrato de Transporte 20 comprovadas por certidão de arqueação com referência à sua data; 3. a armação de que usa, e quantas cobertas tem; 4. o dia em que foi lançada ao mar; 5. o nome de cada um dos donos ou com partes, e os seus respectivos domicílios; 6. menção especificada do quinhão de cada comparte, se for de mais de um proprietário, e a época da sua respectiva aquisição, com referência à natureza e data do titulo, que deverá acompanhar a petição para o registro, o nome da embarcação registrada e do seu proprietário ostensivo ou Na esteira na legislação notarial, o ato registral marí- timo também segue o titular, ou seja, as alterações são anotadas, inclusive a mudança do Capitão: Art. 464. Todas as vezes que qualquer embarcação mudar de proprietário ou de nome, será o seu registro apresentado no Tribunal do Comércio respectivo para as competentes anotações. Art. 465. Sempre que a embarcação mudar de capitão, será esta alteração anotada no registro, pela autoridade que tiver a seu cargo a matrícula dos navios, no porto onde a mudança tiver lugar. Do Contrato de Transporte Aéreo O motivo que nos leva a estudar esse assunto é a invenção criada por dos maiores brasileiros de todos os tempos, o genial Alberto Santos Dumont. A proflagar sua invenção, o 14 BIS, como o primeiro avião da história a so- brevoar com sua própria propulsão, ele desencadeou uma corrida pela tecnologia e pelo desenvolvimento humano, com reflexos sociais, comerciais e bélicos. O contrato de transporte aéreo, pela sua relevância no contexto do exercício da liberdade de locomoção, servindo de suporte para a realização dos demais atos da vida civil, possui características próprias, essenciais para o bom fun- cionamento da aviação. Não é possível imaginarmos uma sociedade sem con- tratos, sem acordo de vontades, sem obrigações recípro- cas. O Código Civil de 2002 trouxe 22 modalidades de con- tratos, possibilitando ainda aos contratantes a criação de novos e inéditos contratos, desde que respeitadas as dis- posições legais. Entre as principais e mais utilizadas modalidades de contratos, encontramos o Contrato de Transporte, dispos- to nos Artigos 730 a 756 do Código Civil. Dá um enorme leque de modalidades de negócios jurídicos quando se fala em Contrato de Transporte, tais como os contratos de transporte terrestre, aéreo e marítimo. Com a necessidade da população mundial em se des- locar – ir e vir – da forma mais rápida e no menor tempo possível, não restam dúvidas de que o transporte aéreo é hoje uns dos meios de locomoção mais utilizados e mais procurados do mundo. Em nosso país, em face do desenvolvimento da econo- mia nos últimos anos, bem como o barateamento do preço das passagens aéreas, esse tipo de locomoção passou a ser demasiadamente difundido. Ainda com a proximidade de dois grandes eventos, a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, espera-se que esse tipo de mobilidade humana e de mercadorias, seja, ainda mais desenvolvida. Desta forma, a cada dia o Contrato de Transporte Aé- reo vem se tornando mais necessário para o bom funcio- namento da aviação. E é exatamente esta modalidade de contrato, interes- sante e complexa, que, devido ao seu constante uso e aperfeiçoamento, vem chamando a atenção dos juristas em todos os cantos do mundo. É por este motivo que hoje, mais do que nunca, se for- mulam e se aperfeiçoam os contratos de transporte aéreo, Contrato de Transporte 21 a fim de garantir aos consumidores e às empresas o bom funcionamento desse tipo de transporte em nosso país, sem esquecer que o contrato visa suprir um dos direitos fundamentais do indivíduo, qual seja, a locomoção – ir e vir. Do Contrato de Transporte Aéreo. Conceito O Contrato de Transporte é um gênero, do qual o Con- trato de Transporte Aéreo é uma de suas espécies, sendo conceituado como aquele em que o transportador se obri- ga a deslocar, por meio de aeronave, mediante pagamen- to, passageiro, bagagem, carga ou mala postal. Em sua caracterização jurídica predomina de modo ma- nifesto a prestação a cargo do transportador, que oferece ao passageiro ou expedidor uma conjunção de forças eco- nômicas para executar o translado de pessoas ou coisas do ponto de partida ao ponto de destino. Quanto às modalidades do transporte aéreo, conforme disposto na Portaria nº 676/GC5 da ANAC – Agência Na- cional de Aviação Civil, temos o transporte de pessoas, de coisas e de carga. A diferença entre espécies de contratos que interes- sam para o ponto de vista dos diversos sistemas jurídicos verifica-se na divisão entre o transporte aéreo doméstico, do internacional. Em se tratando de transporte doméstico, está regula- mentado pelas disposições legislativas do País, no caso, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/86), em especial pelos artigos 222 e seguintes e sua legislação complementar. Porém, no transporte internacional, não existe um re- gime jurídico único, sendo que a Convenção de Varsóvia a que regulamenta o transporte que, segundo a estipulação das partes, o ponto de partida e de destino estejam situ- ados em território de duas altas partes contratantes, ou mesmo no de uma só, desde que haja alguma escala pre- vista em qualquer outro Estado, signatário da Convenção. Deve-se ter em conta que a lei internacional aplicável a determinado contrato de transporte é a lei comum conven- cionada pelos Estados contratantes envolvidos. Além dessas normas, no que tange ao contrato de transporte aéreo doméstico, temos outros importantes dispositivos que regem esta matéria, como a Portaria 676/GC5 da ANAC, que trata sobre as condições gerais de transporte e os contratos particulares das companhias aéreas nacionais. Ademais, por se tratar de relação de consumo, o Códi- go de Defesa do Consumidor é perfeitamente aplicável no contrato de transporte aéreo, ante a presença dos atores previstos nos artigos 2º e 3º da referida Lei. O Estado é parte fundamental neste tipo de transporte, seja com a criação de leis, portarias e medidas, seja com a manutenção do tráfego aéreo, dos aeroportos e das com- panhias aéreas.O Ministério da Defesa é responsável pelo controle do tráfego aéreo nacional, a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, responsável por toda a administração da aviação civil no Brasil, e a INFRAERO – Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária, responsável pela criação e manutenção dos aeroportos brasileiros, todas estas es- tatais. A administração de alguns aeroportos, recentemen- te, foi atribuída à iniciativa privada. Da Classificação do Contrato de Transporte Aéreo O Contrato de Transporte Aéreo pode ser classificado como bilateral, oneroso, cumulativo, formal, principal ou acessório, típico, consensual, de adesão, autorizado, intui- tu personae e de resultado. 1 - Da Bilateralidade Contrato de Transporte 22 O Contrato de Transporte Aéreo é considerado como bilateral, eis que gera obrigações para ambas as partes. A contratada tem como obrigação entregar o passageiro ou a carga em seu destino final com segurança e integra- lidade. Por outro lado, o contratante deve pagar por este serviço. 2 – Da Onerosidade O Contrato de Transporte Aéreo também é oneroso, eis que o contratante/passageiro deve pagar pelo serviço prestado pela companhia aérea. Porém, há alguns casos em que esta modalidade de contrato é gratuita, consoante o que permite o artigo 256, § 2º, do Código Brasileiro de Aeronáutica. 3 – Da Comulatividade O Contrato de Transporte Aéreo é sempre comulativo, pois dele nascem obrigações mais ou menos equivalentes para as duas partes contratantes. A do transportador, de prestar o serviço de transporte contratado, e a do usuário/ passageiro, de pagar o valor da tarifa correspondente, ou seja, o preço da passagem. 4 – Da Formalidade Pode-se dizer que o Contrato de Transporte Aéreo é formal, pois tem suas condições expressas em lei, no bi- lhete de passagem ou no conhecimento aéreo. 5 – Da Principalidade e da Acessoriedade O Contrato de Transporte Aéreo pode ser tanto princi- pal como acessório. Pode-se dizer que é principal quando se fala do passageiro ou da carga, eis que não depende de nenhuma outra condição para existir. A acessoriedade ocorre no caso de bagagem acompanhada, eis que esta apenas reforça a existência do principal, como nos casos em que o passageiro viaja levando consigo a sua baga- gem, que também se torna de responsabilidade da com- panhia aérea. 6 – Da Tipicidade É um contrato típico, pois previsto em lei, ou seja, em outras palavras, os contratos típicos são aqueles em que os direitos e obrigações dos contratantes estão, em parte, pelo menos, disciplinados na lei, por normas cogentes ou supletivas. Esses direitos e obrigações, portanto, não se esgotam nas cláusulas do instrumento contratual assinado pelas partes. 7 – Do Consensualismo O Contrato de Transporte Aéreo é um contrato consen- sual, ou seja, pode ser celebrado por simples manifestação e aceitação da proposta, independentemente da entrega da coisa e da observância de determinada forma. São tam- bém chamados de contratos não solenes. 8 – Da Adesão A maioria dos contratos não resulta de amplas negocia- ções entre os sujeitos. O usual é a declaração de vontade de uma das partes limitar-se à adesão às clausulas fixadas unilateralmente pela outra. É assim que ocorre no Contra- to de Transporte Aéreo, aonde a contratada/companhia aérea fixa as cláusulas e o contratante/passageiro não tem como alterá-las. 9 – Da Autorização Diz-se que o Contrato de Transporte Aéreo é autori- zado, eis que tem regras especiais impostas pelo Poder Público. 10 – Do “Intuitu Personae” Geralmente o Contrato de Transporte Aéreo é pessoal e intransferível, pois se fundamenta na exigência legal da individualização da pessoa a ser transportada. 11 – Do Resultado O Contrato de Transporte Aéreo é uma modalidade de contrato de resultado, e não de meio, eis que a contra- Contrato de Transporte 23 tada/companhia aérea se obriga a alcançar um objetivo certo e determinado, qual seja, cumprir o contrato inte- gralmente, entregando o passageiro ou a bagagem em seu destino final com segurança e integridade. Do Contrato de Transporte Aéreo de Coisas ou Mercadorias Mais comumente chamado de transporte de carga, o transporte aéreo de coisas ou mercadorias é umas das principais fontes de renda das companhias aéreas, visto que a cada dia que passa, as empresas necessitam de mais agilidade na entrega de suas mercadorias e é através do transporte aéreo que podem enviar seus produtos para qualquer canto do mundo em menos de 24 horas. O transporte aéreo de coisas ou mercadorias está regi- do pelos artigos 743 a 756 do Código Civil, bem como pe- los artigos 235 a 245 do Código Brasileiro de Aeronáutica. Apenas bens corpóreos e materializados, com expres- são econômica, poderão ser objeto desse tipo de contra- to. Note-se, aliás, que o legislador, levando em conta a materialidade da coisa, através do Artigo 743 do Código Civil, exige que a mesma seja individualizada, bem como o destinatário, para evitar, com isso, a frustração da entrega. O artigo 235 do Código Brasileiro de Aeronáutica ex- pressa que no contrato de transporte aéreo de carga, será emitido o respectivo conhecimento, também chamado de air way bill, ou seja, nada mais é que um bilhete contendo a descrição da mercadoria a ser transportada, bem como o seu remetente e o seu destinatário. É a materialização do contrato de transporte aéreo de carga. Vale ressaltar que, nos exatos termos do artigo 239 do Código Brasileiro de Aeronáutica, o expedidor do conhe- cimento de carga responde pela exatidão das indicações e declarações constantes do conhecimento aéreo e pelo dano que, em consequência de suas declarações ou indi- cações irregulares, inexatas ou incompletas, vier a sofrer o transportador ou qualquer outra pessoa. De acordo com o artigo 245 do Código Brasileiro de Aeronáutica, a execução do contrato de transporte aéreo de carga inicia-se com o recebimento e persiste durante o período em que se encontra sob a responsabilidade do transportador, seja em aeródromo, a bordo da aeronave ou em qualquer outro lugar, no caso de aterrissagem for- çada, até a entrega final. Dos Direitos e Deveres do Transportador Aéreo de Carga Ante a ausência de dispositivo legal neste sentido, a doutrina é bastante divergente sobre quais seriam todos os direitos e deveres do transportador aéreo de carga. O Código Civil, bem como o Código Brasileiro de Aero- náutica, elencam apenas dois direitos e deveres do trans- portador de carga, quais sejam, a emissão do conheci- mento de transporte e a recusa de carga cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos ou que esteja desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou re- gulamentos. Todos os outros direitos e deveres, comuns a todos os tipos de transporte – aéreo, terrestre, marítimo e ferrovi- ário, foram sendo elencados através de construção dou- trinária. Segundo Pablo Stolze Gagliano, são direitos e deveres do transportador de carga: a) receber a coisa a ser transportada, no dia, hora, local e pelo modo convencionados; b) empregar total diligência no transporte da mercado- ria posta sob a sua custódia; c) seguir o itinerário ajustado, ressalvadas as hipóteses de caso fortuito e força maior; d) entregar a mercadoria ao destinatário da mesma, mediante apresentação do respectivo documento compro- batório de sua qualidade de recebedor, ou seja, o conheci- mento de transporte; Contrato de Transporte 24 e) respeito às normas legais em vigor no sentido de so- mente expedir mercadorias de trânsito admitido
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