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EDITORIAL Revista Online quadrimestral da Sociedade Brasileira de Eubiose - Ano I – Nº 1 –fevereiro a maio de 2012 Acompanhando o notório processo de evolução dos meios de comunicação, nossa instituição não poderia, jamais, ficar à margem da história. O avassalador progresso tecnológico atual exige que a comunicação seja imediata, precisa e pontual, portanto, a Revista Dhâranâ Online surge como fruto desse processo, não abrindo mão da Tradição de quase nove décadas de história, porém adequando-se à modernidade dos dias atuais. O lançamento da Revista Dhâranâ Online não suprime a publicação da edição impressa. Ambas serão direcionadas para um público externo, utilizando-se de uma linguagem moderna, não mística, com uma formatação que busca o padrão das revistas culturais e científicas. O primeiro número da Revista Dhâranâ – órgão oficial de divulgação da SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose – circulou em agosto de 1925, um ano depois da fundação da instituição, então, de mesmo nome. Na apresentação de sua primeira edição são definidos os principais objetivos da publicação que perduram até hoje: (...) “Dhâranâ” já divulgou o seu manifesto ao povo brasileiro, definindo a sua razão de ser como uma Sociedade Mental e Espiritualista, de onde surgem deveres, cujo programa, irá sendo desenvolvido de acordo e à medida que ele for sendo revelado pelos seus Augustos e Veneráveis Dirigentes. “Dhâranâ” apareceu, portanto, como uma obra prática, destinada a cumprir os altos ensinamentos de todas as Religiões que pregam o Amor, a Luz e a Paz. “Dhâranâ” veio para conciliar os dogmas científicos com os aspectos religiosos esparsos pelo mundo, estabelecendo a harmonia do coração e da mente, pelo diapasão espiritual do sol sustenido, misteriosa vibração que competiu ao Brasil, na orquestra mística do concerto universal. “Dhâranâ” surgiu, em suma, para congregar e construir, para aspirar e vivificar, para proteger e segurar a Vida e o Caráter, a Sabedoria Profana e a Sagrada, únicos tesouros eternos que recebemos como precioso legado das mãos da Providência. “Dhâranâ” deseja estimular nos homens adormecidos, a força poderosa do Pensamento, por demonstrações práticas, reduzindo os célebres milagres às simples proporções de fenômenos naturais, satisfazendo assim à Ciência, sem escandalizar a Religião. (...) Eis que, 87 anos depois, Dhâranâ Online mantém os mesmos compromissos e amplia seus objetivos, abrindo espaço editorial para que os discípulos e, também, quaisquer outras pessoas afinadas com os ensinamentos dos fundadores de Dhâranâ – Sociedade Mental e Espiritualista, que depois tornou-se Sociedade Teosófica Brasileira e, desde 1969, Sociedade Brasileira de Eubiose, possam produzir novos saberes. Partindo da hipótese de que os diferentes discursos humanos – das ciências, das tecnologias, das artes, das filosofias, das místicas, das religiões, enfim, uma variada gama da produção cultural, não esgota nem diz tudo sobre o real, Dhâranâ Online abre a seus colaboradores, a partir destes diferentes conhecimentos, a possibilidade de um mais além, que possa ajudar, além da interpretação do mundo objetivo, a antecipar o futuro grandioso da humanidade já revelado em vários textos considerados sagrados. Em outras palavras, Dhâranâ Online será mais um instrumento engajado no trabalho essencial de humanizar o sagrado e sacralizar o humano. SUMÁRIO 3 DHÂRÂNÂ Henrique José de Souza Grande é o erro daqueles que confundem , o Espírito ou Inteligência (Nous) com a Alma (Psyké). Não menos os que confundem a Alma com o corpo (Soma). Da união do Espírito com a Alma nasce a Razão; da união da Alma com o Corpo nasce a Paixão. 5 CONEXÕES NUM MUNDO EM (R) EVOLUÇÃO Marcelo Wolf Esta pintura é um belo exemplo do conceito de espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que é externalizado pela mente humana, e que se traduz no mundo concreto através de quatro grandes frentes principais: Filosofia, Artes, Ciência e Religião. E são elas que, como anunciadores ou archotes do Fogo Divino, iluminam o caminho dos homens e propiciam a criação das miríades de possibilidades no mundo material. 10 A CULTURA, O SUBLIME E A EU- BIOSE Laudelino Santos Neto Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime, cultura e eubiose é refletir sobre as condições individual, grupal e institucional do estar-no-mundo para em seguida se inserir conscientemente no Pramantha e ter condições melhores e maiores de ser-no-mundo. 20 EUBIOSE: CONSCIÊNCIA DA NA- TUREZA E NATUREZA DA CONS- CIÊNCIA Alberto Vieira da Silva Os chacras em número de sete, como os astros ou planetas, como o espectro solar etc., não são mais do que “as forças sutis da natureza”. Para conhecê-los e manejá-los é preciso ser um Adepto. – Prof. Henrique José de Souza. 15 A LENDA DO FAROL: OS SETE SABERES DE UM EDUCADOR Dirceu Moreira “Jamais haveria evolução se o Verbo se manifestasse proferindo sempre as mesmas palavras”. Professor Henrique José de Souza. O educador como porta voz do conhecimento deverá estar atento para não cair na mesmice, pois, o mesmo conteúdo de hoje, talvez tenha que ser dado de forma diferente noutra ocasião. Podemos chamar a isso de educação continuada e inovadora. 18 A LIDERANÇA NO TERCEIRO MI- LÊNIO Silvio Piantino “Reconstruir é o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os costumes; reconstruir o lar, a escola, o caráter, para que o cérebro se transmute ao lado do coração. Só assim a humanidade se tornará digna do estado de consciência exigido pela Nova Civilização”. JHS Grande é o erro daqueles que confundem , o Espírito ou Inteligência (Nous) com a Alma (Psyké). Não menos os que confundem a Alma com o corpo (Soma). Da união do Espírito com a Alma nasce a Razão; da união da Alma com o Corpo nasce a Paixão. Desses três elementos, a Terra deu o corpo; a Lua, a alma, e o Sol, o Espírito. Por isso que, todo Homem justo, consciente de todas essas verdades, é, ao mesmo tempo, durante a sua vida física, um habitante da Terra, da Lua e do Sol". – Plutarco (De Ísis e Osíris). YOGA, dizem os clássicos do Ocultismo, "é uma filosofia ou sistema que tem por fim dar àquele que a pratica, o poder de se abster de comer e de respirar durante considerável tempo, e processo, ainda, de se tornar insensível a todas a impressões exteriores". Para nós, aquele que pratica Yoga visando tais poderes é apenas um Faquir e não um Yogi. Tal maneira de definir o termo Yoga tem provocado tantas perturbações entre os pretendentes à Vereda da Iniciação, como o próprio termo “Deus”, através de lutas religiosas entre os que se extasiam diante de definições, que não podem, de modo algum, expressar, com precisão e clareza, tudo quanto pertence ao mundo subjetivo. Ademais, no que diz respeito à Yoga, logo se manifesta o desejo egoísta de sobrepujar os demais, de ser enfim, um homem completamente diferente dos outros, sem falar nos perigos que de tal prática procedem, quase sempre em detrimento do próximo. Nesse caso, Magia Negra e não Magia Branca ou Aquela que praticam os Seres Superiores, como Guias ou Instrutores dessa pobre Humanidade acorrentada nas férreas cadeias da Ignorância, qual Prometeu ‘amarguradamente infeliz”, como diria Junqueiro, na sua mítica montanha, que é o Cáucaso, que tanto vale pelo “cárcere carnal” ou “pote de argila” bíblico. Yoga, querendo dizer “união”, nada mais é do que a adoção deste ou daquele sistema por parte de quem, de fato, só tenha a preocupação de se UNIR, ao seu Eu ou Consciência Imortal, na razão do que diz Paulo, em Efesus, III, 16,117: "Todoser bom pode falar ao Cristo em seu Homem Interno": Cristo ou Consciência Universal, tanto vale. Das inúmeras espécies de Yoga que se conhecem, sobressaem as que se conjugam com os três DHÂRANÂ Henrique José de Souza (Fundador da atual Sociedade Brasileira de Eubiose) corpos de que o homem se compõe, aparte opiniões até hoje divulgadas, por serem completamente errôneas. Referimo-nos a Hatha-Yoga, “como ciência do bem estar físico”, desde que tal corpo é o sustentáculo da alma e do espírito. "Mens sana in corpore sano". A seguir, Gnana-Yoga e não Raja, como querem outros, porquanto o mesmo termo Gnana ou Jnana, tem por étimo Jim ou Jina, que de ser um habitante do Astral, ipso-fato, relaciona-se com a Alma ou Psiké. Donde o termo: poderes psíquicos. O mesmo termo Espiritismo, usualmente empregado, é errôneo por suas práticas envolverem única e exclusivamente o mundo astral. Nesse caso, ANIMISMO OU PSIQUISMO. Finalmente, Raja-Yoga (União real, régia ciência etc.) ou do Mental, como sede do Espírito desde que acima dele se acham as consciências Búdica e Átmica que, a bem dizer, são Portas abertas ao Tabernáculo Divino. No corpo humano, a hipófise tem que ver com a Alma, enquanto a epífise ("sobrenatural") com o Espírito. Por tudo isso, dizer-se que “tal união com o Todo (pela prática da verdadeira Yoga) é feita por três caminhos”, que a mesma Vedanta denomina de: Karma ou ação para o físico; Bhakti ou “devoção” (a mística da Fraternidade Humana, como o maior de todos os Ideais) e Jnana ou do conhecimento, visão espiritual, sabedoria, Gnose etc. Todo e qualquer processo de livrar o Ego das ilusões do mundo terreno com o fim de uni-lo à Consciência Universal, é uma YOGA. Na de Patanjali, como a mais importante de todas existem oito graus ou estados: 1. YAMA: restrição, controle de si mesmo; 2. NI-YAMA: observações religiosas, ou antes, alicerçamento do caráter; 3. ASANA: posição especial para a meditação, embora que esteja incluída nos bailados iniciáticos, tanto do velho Egito como da índia e posteriormente, na Grécia (“mistérios eleusinos” etc.) e hoje, de modo velado, na arte coreográfica, em geral. Tais “asanas” ou posições, sempre debaixo de um certo ritmo, traduziam, muitas vezes, toda a história de um deus do Panteon do País, quando não, mensagens desses mesmos deuses ao Templo onde eram praticados semelhantes rituais. Haja vista, os bailados exigidos no começo de nossa Fevereiro - Maio/2012 03 Obra, todos eles expressando mensagens e divulgações de remoto passado, em referência aos fundadores da mesma Obra; 4. PRANAYAMA: retenção do hálito para controle de todas as funções orgânicas (a mesma medicina atual já aconselha essa prática nas crises “simpaticotônicas” etc. em relação com o lado solar, do mesmo modo que as vagotônicas, com o lunar. E a prova é que as duas narinas estão classificadas nas antigas escrituras orientais, como: Ida ou lunar (a esquerda) e Píngala ou solar (a direita). Quando a respiração flui por ambas as narinas, recebe o nome de Sushumna (respiração andrógina, dizemos nós ou equilibrante etc.). Este é o momento mais apropriado para semelhante YOGA, principalmente se levada a efeito em PADMASANA (Padma, loto e Asana, posição. Nesse caso, "posição do loto”, ou seja: de pernas cruzadas, como se vê nas imagens do Buda etc.) 5. PRATY AHARA: o poder de afastar o mental das sensações físicas; 6. DHÂRANÂ: “a intensa e perfeita concentração da mente em determinado objeto interno, com abstração completa do mundo dos sentidos”. Em síntese: o sumo controle do pensamento; 7. DHYANA: Meditação, contemplação abstrata ou afastamento do mundo dos sentidos, melhor dito, estado de "isolamento completo". Constituí uma das "seis Paramitas” budistas. E a prova é que, em um dos mantrans (hinos) do começo de nossa Obra – o mesmo que nos foi enviado do Oriente – figuram estas palavras: "Dhyâna, tuas portas de oiro nos livram da deusa Mayá (“ilusão dos sentidos”); 8. SAMADHI (ou Samyâma): estado de meditação obtido pela concentração, no qual o Adepto se torna consciente de seu Mental Superior, o que tanto vale, por se tornar Um com o Todo, a Consciência Universal etc. A mesma “posição do Buda” não significa outra coisa. Por isso, traz os olhos cerrados (visão para dentro ou espiritual), orelhas enormes, que muitos criticam sem saber que é apenas um símbolo; na razão daquele que além de CLARIVIDENTE é CLARIAUDIENTE. As pernas cruzadas ou na posição já apontada como de Padmasana, sendo as mãos unidas e os dedos curvos, formando a última letra do alfabeto sânscrito, ou Aquele que alcançou o Fim de sua evolução terrena: o Nirvana etc. E quanto ao ponto ou sinal que traz na fronte (“olho de Shiva", como se chama na Índia, “ureus mágico”, no Egito, como prova a “serpente que se vê na fronte do faraós”), em relação à mesma visão espiritual. E assim por diante. Por todas essas razões e outras mais ainda, a nossa Escola Iniciática ter sido fundada com nome "DHÂRANÂ", e seu órgão oficial o conservar até hoje como uma homenagem àquela época. DHÂRANÂ serviu, pois, de “sumo controle do Pensamento”, para que, Dhyâna abrisse suas "Portas de Oiro" a Samadhi, além do mais, através de desconcertantes fenômenos psíquicos, que o vulgo denomina erroneamente de “milagres”. E logo chegando o domínio do Mental (Dhyâna ligada a Samadhi, ou antes. Budhi e Atmã, como 6º e 7º princípios teosóficos, para a formação da Tríade Superior), a própria Lei lhe exigir o de SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA*, além de excelso e significativo lema, que é: SPES MESSIS IN SEMINE, ou “a esperança da colheita está na SEMENTE”. E isso porque, todos quantos forem atraídos para as suas fileiras, desde já representam os arautos dessa civilização de elite que fará seu surto nesta parte do Globo, e para a qual foi a mesma S. T. B. criada. Assim, o mesmo leitor; ao manusear as iniciáticas páginas de seu órgão oficial, embora que não o saiba, pratica um rápido estado de "Dhâranâ", por ter de abandonar o “mundo dos sentidos”, sob pena de não poder compreender o que, por “baixo da letra que mata”, refulge, como um Novo Sol, a iluminar-lhe a Consciência, o “Espírito que vivifica”. Vitam impendere Vero! Dhâranâ nº 119 a 122 – Janeiro a Dezembro de 1944 – Ano XIX * (Hoje Sociedade Brasileira de Eubiose) Fevereiro - Maio/2012 04 Na parte alta da cidade de Praga, na República Tcheca, há um mosteiro muito aprazível, um dos pontos turísticos da cidade. O Monastério de Strahov abriga uma sala de grande magnitude, chamada “Salão Filosófico”, uma espécie de biblioteca, com um grande acervo sobre o pensamento humano. Mas o que chama a atenção dos que visitam essa sala é um afresco que toma todo o seu teto, criado pelo pintor vienense Franz Anton Maulbertsch, entre os anos de 1776 e 1778. O nome dessa obra é “A Evolução Espiritual da Humanidade”. Nela vemos uma clara junção entre ciência, filosofia e religião. A Divina Providência, colocada no centro do afresco, está cercada por representações de vícios e virtudes. Motivos do Antigo Testamento, como os Dez Mandamentos de Moisés e a Arca da Aliança, fazem frente ao desenvolvimento da civilização grega, desde seu período mítico até os filósofos Sócrates, Diógenes e Demócrito, passando por Alexandre “o Grande”. A evolução da ciência está representada por Esculápio, Pitágoras e Sócrates na prisão. Tudo transcorre até o desenvolvimento do Cristianismo. Essa pintura é um belo exemplo do conceito de espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que é externalizado pela mente humana, e que se traduz no mundo concreto através de quatro grandes frentes principais: Filosofia, Artes, Ciência e Religião. E são elas que, como anunciadores ou archotes do Fogo Divino, iluminam ocaminho dos homens e propiciam a criação de miríades de possibilidades no mundo material e suas infinitas ramificações, como a política, o comércio, o entretenimento, etc., tendo como objetivo último o aprimoramento, a evolução do ser humano. O espiritual expressa uma tendência arquetípica, manifestada no CONEXÕES NUM MUNDO EM (R)EVOLUÇÃO Marcelo José Wolf mundo concreto, paulatinamente, no dia a dia. Ao longo dos séculos, a civilização ocidental, sem o perceber, passou a dissociar o espiritual do material, criando uma polaridade entre ambos, que, na verdade, não existe. Nesse ponto, as culturas ditas “primitivas” e, também, os povos antigos tratam essas duas facetas de uma forma bem mais natural, sem apresentar essa dissociação. Mas pior que isso foi a redução da espiritualidade em religião, fenômeno, que, na maioria das vezes, não exprime adequadamente sua verdadeira função, descrita na acepção do termo: re-ligar ou tornar a ligar o homem à sua essência imortal. No ano de 2011, vimos muita coisa acontecer no nosso planeta, algumas inéditas, outras seguindo um processo que vem se desenrolando nos últimos anos. A mais notável e surpreendente é a Primavera Árabe. O inegável é que estamos passando por transformações sociais, culturais, econômicas e políticas, que estão redesenhando a face do mundo, do poder e da vida dos seres humanos. E, se tomarmos como corolário o fato de que o espiritual nunca está dissociado do material, e que este é uma expressão concreta das tendências imanadas do primeiro, fica a pergunta: por quais caminhos a humanidade está trilhando sua marcha? Espiritualmente, há uma tendência a ser seguida em sua evolução? Podemos antever os seus caminhos futuros? CONSTATAÇÃO NO MUNDO Apontamos aqui alguns fatos significativos que vêm ocorrendo no mundo e que estão redesenhando o cenário da vida humana em nosso planeta. Através desses fatos, vamos tentando deixar mais claro um pano de fundo, um leitmotiv, ou um padrão, em vigência nesse terceiro milênio. Após esses exemplos concretos, vamos propor uma ideia para tentar responder à questão sobre qual a tendência espiritual de nossos dias. A partir de 1989, avançamos em passos de gigante para o que conhecemos como Globalização: países perdem suas fronteiras econômicas, culturais, monetárias, para fazerem parte de grandes blocos. Ninguém mais vive isoladamente; nenhuma nação vive sozinha. Todos realizam intercâmbios econômicos, culturais, políticos, etc. INTRODUÇÃO Fevereiro - Maio/2012 05 A popularização da Internet, também, foi uma das grandes propulsoras dessa globalização. A Internet conecta a todos. Promoveu uma grande revolução na forma de produzir conhecimento, de comprar, de se conhecer pessoas, de obter-se informação, de organizar movimentos e de formar opiniões. Graças a ela, as distâncias encurtaram, e o mundo tornou-se uma aldeia global. Com a popularização da Internet, o termo “ciber” passou a ter relevância na vida das pessoas. Tudo que é ciber mudou nossa forma de atuar no mundo: Cibercultura, ciberespaço, ciberterrorismo, ciberativismo, etc. Um dos filósofos e escritores mais influentes nessa área é Pierre Levy, com muitas publicações sobre o assunto, mostrando a importância desse novo paradigma nos dias presentes e vindouros. Nas redes sociais da Internet, a exemplo do Facebook, há uma comunicação entre pessoas do mundo todo. E, muitas vezes, elas se organizam para criar grupos específicos ou reivindicar melhorias e mudanças em determinados setores da vida coletiva. Possibilitaram que opiniões individuais tivessem um peso considerável na formação da opinião global, contribuindo com a criação do que chamamos de uma consciência coletiva. O coletivo passa a ter uma grande importância frente ao individual. Essa consciência coletiva tem seus efeitos no mundo. Estamos assistindo a uma onda de manifestações e protestos no Oriente Médio e no Norte da África, denominada Primavera Árabe, contra os regimes autoritários que lá imperam e que são calcados na repressão e na censura. Impulsionadas pelas redes sociais, essas manifestações clamam por uma maior liberdade política, intelectual e, até mesmo, econômica. Cada vez mais caminhamos para o fim dos governos autoritários onde poucos ditam as regras a ser seguidas por todos. As regras passam a ser elaboradas coletivamente, de uma forma mais democrática. O Capitalismo vive uma grande crise, e vemos vários protestos em Wall Street, na Europa e em todo o mundo, formando uma campanha contra a desigualdade econômica e a concentração de riquezas nas mãos de pouquíssimos. Centenas de pessoas acampam no parque Zuccotti, perto do centro financeiro de Nova York, demonstrando o descontentamento com os rumos da economia e com empréstimos milionários a grandes empresas, em detrimento da população em geral. Outras formas de ganho de capital estão nascendo. Muitas tentativas de cooperação e trabalho coletivo despontam no mundo. A mais popular é a produção de software livre. Um bom exemplo disso é o sistema operacional Linux; outro, a enciclopédia Wikipédia, na qual há uma produção conjunta do saber. Hoje em dia, o conhecimento, como acúmulo de informação, não é mais um privilégio nem o diferencial de ninguém. Para isso existe o Google! Com poucos cliques na Internet, você pode descobrir o significado de quase tudo. Como usar essas informações e produzir algo que supra uma demanda, ou como fazer a diferença frente a uma situação passou a ser o foco principal da questão. Para isso é preciso saber como encontrar a informação correta e elaborá-la corretamente. E isso requer uma versatilidade mental e uma boa dose de intuição. Diante da socialização do conhecimento promovida pela Internet, um aspecto passou a ser essencial para o bom desempenho de tarefas: a criatividade. Qualquer profissional, para desenvolver-se (e muitas vezes, apenas, para manter-se no mercado de trabalho), precisa muito mais do que fazer bem feito o que lhe compete. Precisa responder, instantaneamente, às mais diversas demandas e situações inesperadas que podem ocorrer. E, para isso, mais do que conhecimento, é necessário se ter “jogo de cintura”, no dito popular, ou, em outras palavras, criatividade e outras formas de inteligência, como a emocional. Pouco se falava em sustentabilidade e preocupação com o meio ambiente há algumas décadas. Hoje, esse tema entrou em todas as pautas da vida humana, desde política e econômica até cultural e comportamental. O homem passa a olhar de uma forma diferente para a natureza, o planeta e seus recursos naturais. Com o aumento das demandas em nossas vidas, o homem passou a ter uma maior preocupação com sua vida interior. Vemos uma busca crescente por terapias alternativas, autoconhecimento, psicologia, autoajuda, espiritualidade, meditação, etc. Basta darmos uma olhada na sessão de livros mais vendidos ou verificar a procura por palestras de autoajuda. Isso é um reflexo de Fevereiro - Maio/2012 06 que o homem está, cada vez mais, tentando aprimorar sua qualidade de vida. A agitação da vida moderna o empurra para buscar, dentro de si mesmo, um caminho mais satisfatório com seus anseios e desejos íntimos. Em consequência dessa maior busca interior, passamos a viver uma espécie de “neorrenascimento” no qual, novamente, o homem ocupa o centro do universo, dessa vez não culturalmente, mas sim espiritualmente. Enquanto alguns movimentos religiosos crescem e ganham importância, muitas pessoas estão abandonando as práticas religiosas institucionalizadas e tradicionais, devido a não mais preencherem seus anseios íntimos de satisfação e significação da vida. Cada vez há menos espaço para guias ou gurus espirituais, que mostrem “o” caminho a ser seguido. As pessoaspercebem que cada um precisa construir e descobrir seu próprio e individual caminho interior. PROPOSIÇÃO DE UMA TESE Diante dos fatos a que vimos assistindo e de que vimos participando no mundo, voltemos à questão original e mote deste artigo: qual a tendência espiritual a ser vivida pela humanidade nesse terceiro milênio? Lançamos aqui uma hipótese que, longe de ser uma verdade absoluta, tenta, apenas, ser o pontapé inicial para reflexões individuais por parte de todos que estão lendo este texto. Ela é a união de conceitos, propostos pelas mais diversas correntes filosóficas e espirituais, com a verificação do que lemos diariamente nos jornais e do que vivemos no nosso dia a dia. A hipótese é a de que vivemos numa época em que, cada vez mais, caminhamos para a Conectividade entre tudo e todos, resultando na divinização do humano. Antes de franzirem o sobrolho e acharem que o autor vive numa redoma de vidro frente a todos os problemas, barbáries e injustiças, vistas no mundo, três ressalvas são necessárias: Tendência espiritual é aquilo que inspira a 1. humanidade, que a direciona e que vai se tornando real gradativamente, muitas vezes de forma imperceptível, e não o que já está realizado, conquistado e pleno. A própria palavra já o diz: tendência; Todo processo de evolução é gradativo, longo, feito 2. passo a passo, na maioria das vezes sem rupturas drásticas e radicais, e, sempre, passando por melhorias e ajustes. Não nasce pronto, perfeito e imutável, vai se aperfeiçoando ao longo do caminho; Num projeto, a ideia está perfeita. Quando passa 3. para a execução real, ele, sempre, apresenta imperfeições, pois isso é inerente à polaridade da vida e é, praticamente, impossível termos a perfeição no mundo manifestado. Mas o que se entende por conectividade para a divinização do humano? O ser humano tem, cada vez mais, a possibilidade de estabelecer conexões (ou relações) de todos os tipos. Num mundo globalizado e digital, é difícil se viver sozinho ou isolado. Essas conexões promovem a troca, a partilha, o intercâmbio de diversas formas, nas quais um lado não apenas deixa algo de si para outro, mas também o transforma um pouco. Essa é a base de todo relacionamento afetivo, de amizades, de comércio, de partilhas. Água parada apodrece, diz o dito popular. Num caldeamento racial, a troca de material genético é indispensável para a melhoria da espécie. Toda troca implica uma transformação. Essas conexões promovem em cada indivíduo um aprimoramento e um crescimento, auxiliando na principal conexão em termos individuais: a ligação entre o ego inferior e mortal e sua individualidade imortal, conhecido nas tradições como o despertar espiritual, a vivenciação plena do arquétipo do “Self”, da psicologia analítica, a paz interior de você estar conectado com você mesmo, com sua verdadeira essência. Essa ideia é antiqüíssima, e todo culto, verdadeiramente, religioso tem essa proposta em seu âmago. E o homem, cada vez mais, busca o Divino dentro de si mesmo, não mais em templos, profetas ou tradutores do saber divino. Busca, em si mesmo, aquilo que o ligará com algo superior e transcendental. Fazendo isso, está despertando, internamente, todo o potencial divino que possui, e realizando o milagre da humanização do divino, para que, através da vivência do divino no humano, possa ocorrer a divinização do humano. Muitos filósofos apontam essa como uma das metas do homem. Ludwig Feuerbach, em 1843, no seu “Princípios da Filosofia do Futuro”, escreveu que “a tarefa dos tempos modernos foi a realização e a humanização de Deus - a transformação e a resolução da teologia na antropologia”. Marcel Gauchet, com sua ideia de “individualização do crer”, propôs que “a crença diz respeito a um ato de adesão estritamente pessoal, fora da Fevereiro - Maio/2012 07 existência comunitária, ou mesmo contra ela”. Segundo Luc Ferry, a humanização do divino se dá com a laicidade, iniciada na Europa com o Iluminismo, reforçada com o Positivismo e consagrada com a revolução tecnológica e científica. Disso decorre uma divinização do humano, ligada ao nascimento da família e do amor modernos, responsáveis pela solidificação de laços sociais fundamentais para a emancipação do homem, não mais governado pela tradição ou por obrigações, mas, sim, pelo sentimento e pela afinidade. Novamente, frisamos ser essa uma tendência para a qual caminhamos, não a situação vigente atual! E A NOSSA TAREFA INDIVIDUAL NESSE PROJETO? Diante de várias tendências coletivas que operam no mundo, fica a pergunta: e o homem individualmente? Como se processam essas tendências no homem individual? O homem é o ponto focal onde se concentram, hoje, as esperanças de evolução do plano arquetipal do Eterno, da Divindade. A evolução global da humanidade depende da evolução individual de cada homem. Ele passa a ser peça chave na evolução do cosmos, pois é um pontífice, um construtor de pontes, aquele que liga o passado animal ao futuro divino. O primeiro passo dessa grande jornada é a transformação do homem, para que possa conectar- se ao seu ser mais íntimo, ao seu Deus Interior, ao arquétipo do “Self”, segundo a terminologia junguiana. A realização da Eucaristia, ou a união do Eu finito com o Cristo Interno, é o passo primordial para a elevação da humanidade. O homem passa a ser o verdadeiro Templo da “religião” do futuro, pois, em seu íntimo, localiza-se o “Sanctum Sanctorum”, onde vibra a chama viva da Consciência Humana ou seu Princípio Crístico ou Atmã. Através do autoconhecimento, vamos descortinar o caminho que nos levará à nossa verdadeira essência. Então, passaremos a viver nossa verdadeira individualidade, nossa verdadeira vida, nossos mais reais anseios e propósitos, em sintonia com a nossa Mônada, Tríade Superior ou o Espírito no homem. Nesse momento, estaremos conectados com o sentido da vida, o que, junto com a alegria, é inerente a essa nova forma de vida. E, consequentemente, passamos a ser um dínamo irradiador de espiritualidade, amor e sabedoria para a face da Terra. Um pré-requisito para isso é a conexão das mentes, a concreta, lógica e racional, com a abstrata, criativa e intuitiva. Esse padrão tem como maior exemplo o cérebro humano. Este faz, naturalmente, uma sinergia entre seu lado esquerdo (racional, analítico) e o direito (sintético, intuitivo, criativo). Hoje, a humanidade, ainda, tem um baixo uso de todo o potencial cerebral, principalmente, de seu hemisfério direito. Quanto mais esse supramental, ou Mental completo, bafejado pela plena intuição, desenvolve-se, mais o coração passa a agir, despertando as chamas do amor verdadeiro, o Amor Universal. Quando o homem vence as provas evolucionais e atinge um patamar mais alto de consciência, passa a agir com o coração em sintonia com a mente, num perfeito equilíbrio entre ambos. Estamos adentrando a tão propalada “Era de Aquário”. A humanidade inicia uma nova era astrológica. Muito foi dito, muito foi especulado e, também, muito foi iludido a respeito dessa fase, como se todos os problemas sumissem num passe de mágica, e um mundo perfeito surgisse para os homens. Será uma nova etapa de experiências, com seus prós e contras, acertos e erros. Mas será uma Era marcada pela fraternidade universal através da união dos povos, da superação das diferenças, da convivência fraterna. Daremos mais um passo rumo à visão uraniana de mundo, sintetizada no ideal da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade, Fraternidade. A bondade e o conhecimento passam a ser a verdadeira religião, com a união entre ciência e tradição, formando uma terceira via, hoje, já aventada por alguns pensadores do mundo e denominada de “Metaciência” (Basarab Nicolescu) e de “Metarrealismo” (Jean Guitton).Fevereiro - Maio/2012 08 Assim, conectado com sua essência interior, o homem, também, conecta-se com a Terra e com a natureza; passa a se integrar de forma holística ao meio que o cerca. Esse sentimento de união com o Todo desperta o verdadeiro sentido de Humanidade, pois aí, efetivamente, ele se sente encaixado e fazendo parte de uma família global, de um todo maior, que tem uma função definida dentro de um todo maior ainda, do qual ele faz parte. E, como consequência natural disso, brota em si a Compaixão e o Amor Universal. Seus atos não são mais individuais, mas pautados dentro dos atos da hierarquia. Não por obrigação, mas pelo sentimento de amor, que une todos os seus membros, como uma grande família cósmica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Procurou-se, neste texto, fazer reflexões sobre indícios, caminhos e horizontes, que mostrem a conectividade como um apanágio em nossas vidas, e como ela nos conduz para um patamar superior, divinizando o homem. Sem dúvida alguma, o homem caminha, cada vez mais, para aquilo que chamamos de “a Era das Conexões”, onde as partes se conectam para formar algo muito maior que a simples soma delas. Como última reflexão, cabe, aqui, lembrar o sentido do termo conexão. Segundo o dicionário Houaiss, conectividade significa a capacidade ou possibilidade de operar em um ambiente de rede. Conectivo é o que une uma coisa à outra, e conectar é unir, ligar. Quando nos conectamos a algo, não perdemos nossa identidade para nos tornar outra coisa, mas sim passamos a comungar com algo maior, como um computador, que mantém suas características e amplia-as ao se conectar numa rede. Expandimos nossas capacidades e, graças a isso, podemos fazer muito mais coisas. Passamos a “operar em rede”, ou a sermos parte de algo maior. Como nos disse Pierre Weil, “o homem passa a ser o elo entre o invisível (abstrato) e o visível (órgãos sensoriais)”. Passamos a ser muito mais do que simples homens, tornamo-nos algo maior, mais completo e mais sublime: tornamo-nos partes da grande família humana na Terra. REFERÊNCIAS FEUERBACH, Ludwig. 1. Princípios da Filosofia do Futuro. Lusosofia Press, 2008. FERRY, Luc; GAUCHET, 2. Marcel. Depois da Religião. Difel (Brasil), 2008. FERRY, Luc. 3. O Homem Deus. Difel (Brasil), 2007. LÉVY, Pierre. 4. Filosofia world: o mercado, o ciberespaço, a consciência. Instituto Piaget, 2000. WEIL, Pierre. 5. Rumo à nova transdisciplinaridade. Summus Editora, 1993. Fevereiro - Maio/2012 09 A articulação dos conceitos de sublime, cultura e eubiose é importante para entendermos o trabalho da SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose e, por analogia e extensão, de outras instituições iniciáticas. As abordagens que expressaremos neste texto, visam a nos tirar de uma região de conforto contemplativo, algumas vezes, provocado não por uma beatitude pós-sabedoria, mas sim, por um encadeamento de platitudes, que podem transformar o processo iniciático num manual de autoajuda politicamente correto. Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime, cultura e eubiose é refletir sobre as condições individual, grupal e institucional do estar-no-mundo, para em seguida, inserir- se, conscientemente, no Pramantha e ter condições melhores e maiores de ser-no-mundo. Não é uma jornada fácil e confortável. Significa nos livrarmos, paulatinamente, de identificações maiávicas que, apesar de essenciais para a constituição da nossa anterior e atual subjetividade, devem ser deixadas para trás. Ao mesmo tempo, temos que inventar novas e nelas focar, num trabalho de facilitação da travessia para o Quinto Sistema de Evolução. Paradoxalmente, o ingrediente mais difícil de introduzir nesse labor alquímico é a alegria. O sofrimento desnecessário, ainda, é um forte estruturante de nossas existências. A Etimologia do Termo Cultura No Ocidente, o termo “cultura” origina-se do latim “culturae”, que quer dizer cultivar, cuidar, e está ligado, inicialmente, ao trabalho agrícola. Mas, com o passar do tempo, amplia seu significado, abrangendo, então, o sentido de dois vocábulos gregos: o primeiro é Geórgia, que quer dizer a cultura do campo, as lides, relativas à agricultura. O outro é mathemata, significando conhecimentos adquiridos, o acervo de saber de um indivíduo, de uma sociedade. Na Idade Média, há uma mudança na utilização das palavras. “Colere” vai, paulatinamente, caindo em desuso, e dois novos vocábulos começam a aparecer, num reflexo das mudanças sociais, que surgem para expressar a ideia de “cultura – humanitas” e “civitas”, pondo em A CULTURA, O SUBLIME E A EUBIOSE Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime, cultura e eubiose é refletir sobre as condições individual, grupal e institucional do estar-no-mundo para, em seguida, inserir-se, conscientemente, no Pramantha e ter condições melhores e maiores de ser-no-mundo. cena a noção do homem educado, culto, inserido numa ordem racional e politicamente construída. Na Inglaterra, berço das transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas, que marcam o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, começa a surgir, no início do século XVIII, o termo “cultivation” para expressar as noções de cultura, então, vista como um desenvolvimento subjetivo e harmonioso do espírito humano e, também, das suas diversas faculdades. No mesmo século XVIII, aparece, na Alemanha, a palavra “kultur”, no sentido de refinamento espiritual, enobrecimento de toda uma sociedade, e, praticamente, todos os outros significados, hoje, atribuídos à “cultura”, em sua extensão social e coletiva. Existe, ainda, outro valor semântico de cultura, voltado ao cultuar dos Deuses, rememorar os eventos e fatos importantes da vida, das gerações, dos antepassados. É uma espécie de atualização dos mitos no momento presente, fazendo, com isso, uma espécie de renovação dos compromissos do cotidiano, do presente com um passado muitas vezes idealizado. Laudelino Santos Neto Fevereiro - Maio/2012 10 A Concepção Clássica de Cultura A concepção clássica de cultura, abarcando visões da antropologia, economia, política, sociologia, que começa a partir do século XVIII com o termo kultur, na Alemanha, de uma forma ou de outra, ainda, permanece majoritária nos tempos atuais. É a que se organiza a partir de uma estrutura binária em que cultura se opõe à natureza, ou, se preferirem, cultura x natureza. Por esse raciocínio, em determinado momento de sua evolução, o antropóide se desvia, entra em conflito com a natureza em geral e com a sua específica. Torna-se, então, um “inadaptado”. Karl Marx usa, para tal, a expressão alemã “mängel wesen”. Literalmente, o primeiro termo significa “falta”, e o segundo, “ente”, “existência”. Quer dizer que, em determinado momento da evolução do homem, ele se torna um ser, um ente, em que falta alguma coisa, por isso mesmo, não conformado, inteiramente, à natureza. Por lhe faltar uma conexão completa com a natureza, ao contrário de outros mamíferos e animais em geral, o homem é, então, capaz de se produzir separadamente da natureza, quer dizer, produzir-se como um ser. Com isso, também, é capaz de produzir seu próprio mundo, dissociado da natureza, de todo o resto. Isso tem profundas implicações, porque produzir-se a si próprio e seu próprio mundo significa, outrossim, a capacidade de apropriar-se do mundo bem como, de si mesmo. Talvez, nessa falta, nessa ausência, esteja o primeiro passo da criação da Hierarquia Jiva... e da caminhada para o Quinto Sistema de Evolução... E como é próprio do Humano a caminho do Divino, surgem as primeiras contradições, os primeiros paradoxos. Um deles é que a cultura, sempre, busca a universalidade, mas carrega, no seu interior, a diversidade, a especificidade. Ao deixar odeterminismo animal da natureza, o homem “em falta” cria os fenômenos culturais e passa, ao mesmo tempo, a tecer sua própria história. A Concepção Contemporânea de Cultura A concepção contemporânea de cultura – entendam-se contemporâneos, os últimos 50 anos – aproxima-se muito do conceito de civilização. Os dois praticamente se misturam, e é impossível pensar um sem o outro. Pode-se, então, conceber a cultura/civilização como um complexo de conhecimentos, crenças, artes, moral, hábitos, costumes e capacidades, adquiridos pelos homens como membros de uma sociedade. Para citar, apenas, um dos intelectuais contemporâneos, que pensaram de forma inovadora a cultura, sublinho o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos fundadores do estruturalismo, que vê a cultura como um sistema de signos. Para ele, toda cultura pode ser considerada um conjunto de sistemas simbólicos, em que se situam, como mais importantes, a linguagem, as relações econômicas, a arte, a ciência, as relações matrimoniais – em torno das quais se organizam os parentescos – e a religião. É importante salientar que o fundador da antropologia cultural, Claude Lévi-Strauss, concebeu suas teorias após estudar a cultura dos índios bororos, quando de uma estada no Brasil, nos anos 30, época em que foi professor da recém-inaugurada Faculdade de Letras e Artes, embrião da futura USP – Universidade de São Paulo. Como um pequeno exercício para compreendermos melhor o trabalho dos atuais Dianis Planetários e sua repercussão na Face da Terra, trocaremos a palavra cultura pelo termo Pramantha. Com isso, veremos que a concepção estruturalista de Lévi-Strauss vale para os dois, possibilitando-nos afirmar que, no interior do Pramantha, os sistemas simbólicos se organizam em rede, sem qualquer hegemonia de uma Linha em relação à Outra. Devemos, então, respeito e veneração a todas elas, inclusive para aqueles aspectos que se apresentam com linguagens materialistas e ateias. Fevereiro - Maio/2012 11 A Desconstrução Pós-Moderna Mas nem tudo são flores na época contemporânea. O “destruens et construens” permanece como uma lei universal. As finalidades místicas, religiosas ou cívicas das manifestações culturais, praticamente, desvaneceram- se, principalmente das obras de arte. Foram substituídas por uma espécie de esteticismo puro, que se basta a si mesmo, e pela chamada comunicação de massa, cada vez mais estruturada como espetáculo. O historiador inglês Arnold Toymbee, usa pela primeira vez, a expressão pós-moderno para indicar essa nova vaga de desconstrução dos cânones estabelecidos. Os valores da Renascença e do Iluminismo do século XVIII, tais como o predomínio da razão, a liberdade política, os progressos científicos e tecnológicos, o desenvolvimento social e a ampliação da igualdade foram postos em questão. O pós-moderno coloca as manifestações culturais como obras do acaso e da indeterminação (influência da física quântica), da irracionalidade e do relativismo. E a grande contradição desse pós-modernismo é que foi construída uma sociedade, ao mesmo tempo, de massa e individualista. Outros encaram pontos positivos na sociedade pós-moderna, que ao invés de abolir o racionalismo e o humanismo, revisitam-nos com novos instrumentos teóricos e práticos. Isso ocorre, hoje, principalmente, na arquitetura e na indústria da moda. Ao mesmo tempo, já se fala numa nova “episteme” (conjunto de conhecimentos de determinado momento histórico) ocidental se organizando, em que o princípio de autoridade centralizadora é substituído por uma mescla de indeterminação, pluralismo, ecletismo, aleatoriedade, paródia e ceticismo em face das antigas criações espirituais e dos comportamentos tradicionais de grupo. Nesse cadinho de transformações surge, entre outras, uma nova classe dirigente, o gestor ou “decisor”, os novos executivos de empresas, os altos funcionários de órgãos governamentais e, também, das organizações não- governamentais, das universidades, etc. A Sublimação como Processo Fundador da Cultura A sublimação é uma palavra que Freud foi buscar na química, na antiga alquimia, e, talvez, até no conceito de sublime, de Aristóteles, para explicar o processo em que a pulsão de vida, sexual, é desviada e transformada em produtos culturais – tanto artísticos como científicos e tecnológicos. A questão da sublimação é tão importante, que, sem ela, não poderia existir o que se conhece hoje como civilização. Sublime é aquilo que é elevado, grandioso, que está acima de tudo e de todos. Na Grécia Antiga, principalmente em Aristóteles, o sublime é o tipo de conhecimento que ultrapassa a razão humana, a lógica, e só é percebido por uma espécie de elevação espiritual, divina. Como decorrência dessa linha de pensamento, os alquimistas chamavam de sublimação a transformação do chumbo em ouro. Em química, até hoje, sublimação é a transformação do estado sólido, diretamente, em estado gasoso. Um aspecto curioso do processo sublimatório é que ele opera com duas grandes inovações. Na primeira, consegue desviar a energia da pulsão do seu destino natural para a criação de novos fatos culturais e científicos, de toda e qualquer monta. Na segunda, fura o bloqueio dos universos da cultura, de tudo que está aceito e consolidado, e imprime a marca individual do criador. Sendo muito singular, a criação carrega em si um “quantum” de desafio e revolta contra o estabelecido, numa espécie de anarquia visionária. Em sentido contrário, uma situação extrema de império absoluto de conceitos universais, não há espaço para as manifestações individuais, consequentemente, é impossível haver sublimação. Por isso mesmo, a maneira mais rápida de se cair na barbárie é impor, de forma ditatorial, modos de pensar e agir. Todo ditador está a serviço da pulsão de morte. A sublimação, também, pode ser entendida como a aplicação, a transferência, o deslocamento da energia para outro campo, para outro local, em que são possíveis realizações socialmente mais úteis, mais valiosas. Com Sublime é aquilo que é elevado, grandioso, que está acima de tudo e de todos. Fevereiro - Maio/2012 12 isso, a sublimação tem tudo a ver com as forças ligadas à vida, à evolução e age, também, como um inibidor das forças de destruição, que começam, sempre, com um discurso voltado à extinção da diferença, do individual, que a pretexto da volta à paz e à harmonia, leva- nos ao silêncio terrível do fim da vida, do inorgânico. Sublimação, Alegria e Prazer Além de contribuir para o melhor entendimento dos processos criativos, através do conceito de sublimação, resgatado por Freud da química, a psicanálise foi mais além em apontar sua origem, muito diferente do existente em termos de senso comum. O nascimento da cultura e da civilização teve um custo para o antropóide. Ele se tornou menos animal e mais humano com o sacrifício da realização de parte dos seus instintos. Mas ao contrário do que pensam muitas pessoas, sublimação não tem nada a ver com recalcamento e repressão. Estas são essenciais para o viver em sociedade, para as organizações humanas funcionarem. Podemos dizer que se relacionam com o princípio de realidade, com as condicionantes e determinantes da estruturação do ego, da personalidade. Mas a conformação à sociedade, à socialização, para a qual o sujeito paga o preço da alienação da sua singularidade, não gera o objeto oriundo da sublimação, o novo, o inusitado, o sinalizador do Quinto Sistema de Evolução. As questões ligadas à cultura e à civilização, como tudo que é complexo, têm suas contradições e ambiguidades. Uma dessas é a repressão ser origem da cultura e, ao mesmo tempo, seu desenvolvimento dependerde seu oposto, a sublimação. Sublimação é algo mais além, e sua origem está no chamado princípio de prazer, na alegria de criar, de transformar o mundo pela concepção de um novo objeto, ou conceito nunca antes pensado. Sublimar não é reprimir, não é recalcar. Vive, em ledo engano, quem reprime suas energias, que podem se transformar em objetos singulares, artísticos, científicos, tecnológicos, imaginando que se está sublimando e, com isso, chegando mais perto do divino. Sublimar é a grande saída humana para a explosão de vida de origem universal. Sublimar não é reprimir, não é recalcar. Vive, em ledo engano, quem reprime suas energias, que podem se transformar em objetos singulares, artísticos, científicos, tecnológicos, imaginando que se está sublimando e, com isso, chegando mais perto do divino. Sublimar é a grande saída humana para a explosão de vida de origem universal. Em Carta-Revelação de 1º de agosto de 1951, JHS cita um livro que se encontra na Secção 7, códice 17, da Biblioteca de Duat, intitulado Sublimatum – Le Coeur et La Croix, escrito pelo Jesuíta e grande pensador Rosa-Cruz – e, também, Adepto - Louis Lerov, que se apresentou sob o pseudônimo de Giuliano Benfica. Essa obra é de grande transcendência mística e revela os mais profundos aspectos espirituais da sublimação. A Eubiose como Método de Transmissão/Invenção Nascida na transição do Quarto para o Quinto Sistema de Evolução, a Eubiose deve ser vista e operada através de vários vetores. Escolhemos, para esse trabalho, os relativos à transmissão do conhecimento e da invenção de uma nova cultura, de uma nova civilização, como estratégia para antecipar 3005. A primeira questão que se nos apresenta é: transmitir o que? Uma das respostas possíveis está na própria história da Sociedade Brasileira de Eubiose. Transmitir a Tradição Iniciática das Idades. Mas, no contexto do século XXI, com todos os avanços do conhecimento humano, propiciados pela presença dos Dhianis Planetários, devemos ultrapassar o método e o conteúdo puramente teosófico. Como fazer? Essa é a próxima questão que se apresenta. A cultura contemporânea nos dá indicadores Fevereiro - Maio/2012 13 seguros. Devemos revisitar os conhecimentos seculares e fecundá-los com as novas descobertas e, num movimento dialético, também, sermos fecundados por aquilo que eles possuem de essenciais. Isso implica dar nova vida ao sagrado, trazê-lo ao nosso cotidiano para uma transformação recíproca. Pressupõe não uma simples adoração de textos sagrados, mas uma interpretação hermenêutica do passado à luz do saber atual. Ou seja, temos que conhecer, sistematizar e organizar tanto o passado como o presente. Mas, até o momento, nesse item, estamos tratando de informação, conhecimento, administração de dados. Ou seja, como as redes de transmissão se organizam no interior da sociedade e, também, em nossas estruturas cognitivas. Mas o processo iniciático, apesar de não poder prescindir do conhecimento, é algo mais profundo. Ele visa, em última análise, à utilização de uma linguagem eubiótica bem contemporânea, a inserção consciente do discípulo no Pramantha, a transformar o atual estado de consciência humana em andrógina, profética, integrada com os construtores do Quinto Sistema de Evolução. A SBE, no século XXI, deverá, então, levar em conta as novas questões relativas à transmissão e, também, repensar o processo de iniciação, que não pode ser mais focado numa volta à Idade de Ouro idealizada, mas sim, na contribuição humana para a construção do Quinto Sistema de Evolução. A nossa proposta é estender o presente em direção ao futuro e ao passado. Deste último já abordamos alguns aspectos, como a revisitação do antigo com as ferramentas contemporâneas para aprimorar o processo de transmissão do conhecimento. Para o futuro, para 3005, para o Quinto Sistema de Evolução, é impossível a revisitação. Mas o processo, estruturalmente, pode ser o mesmo. A partir do passado transformado e do presente eubiótico trabalhado, podemos imaginar, inventar o futuro. E essa invenção, necessariamente, terá, como primeiro ponto de partida, criar ambiências para que a sublimação aconteça em sua plenitude, numa vertente psicodinâmica, como denominavam os professores Sebastião Vieira Vidal e Margarida Estrela, saudosos orientadores dos jovens da SBE na segunda metade do século passado. O segundo é trabalhar os conteúdos revelados pelo seu fundador, Henrique José de Souza, e transformá-los, dentre outras coisas, em matrizes operacionais de ação. Essa invenção cotidiana se transformará, então, num novo processo iniciático, que se estrutura num compartilhamento de novos estados de consciência, surgidos não da mera sacralização de discursos passados, mas de experiências, de trabalhos concretos. E aqui aparece mais uma contradição, mais uma ambiguidade: a consciência abstrata é construída a partir do trabalho concreto, que passa a ter valor iniciático, se coadunado com a inserção consciente no Pramantha. Mas o processo iniciático, apesar de não poder prescindir do conhecimento, é algo mais profundo. Ele visa, em última análise, à utilização de uma linguagem eubiótica bem contemporânea, a inserção consciente do discípulo no Pramantha, a transformar o atual estado de consciência humana em andrógina, profética, integrada com os construtores do Quinto Sistema de Evolução. Fevereiro - Maio/2012 14 A busca pelo conhecimento, sempre, foi e será a única forma de o ser humano sair da prisão do apedeutismo, que tanto o torna dependente e manipulado por aqueles que, possuindo tal conhecimento, esquecem-se da Lei que os rege. Tal Lei não permite, jamais, que esse conhecimento seja segregado de muitos em detrimento de uma minoria. O preço disso será inexoravelmente caro, pois se constitui em crime de lesa-humanidade, ofendendo ao próprio Criador que o disponibiliza a todos, indistintamente, a fim de que não aconteça o que disse o grande baiano Rui Barbosa: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência”. Para que isso não aconteça, esperamos que se profetizem as palavras de outro baiano, Castro Alves: “Oh! Bendito aquele que semeia livros... |livros à mão cheia... | E manda o povo pensar! | O livro caindo n’alma | É germe - que faz a palma, | É chuva - que faz o mar”. Eu complemento dizendo que livros são os faróis do conhecimento iluminando as mentes e os corações dos homens como bênção divina. Para falar desse mal apedêutico, que acomete uma grande parcela de pessoas inscientes na humanidade, contarei o fato através de uma lenda criada, especialmente, para este caso. Certa vez, no interior do sertão baiano, vivia um desses ermitões habitando no alto de uma pequena montanha; todas as noites, punha-se a observar e contar estrelas. Ele ouvira dizer, pela boca de um sábio, que vivia não muito distante dali, que as estrelas poderiam lhe revelar grandes segredos da vida e “enrique-SER” seus conhecimentos. Seguindo as palavras daquele mestre, ele grudou seu olhar no céu todas as noites e, somente, depois de muito tempo de perseverança, subindo e descendo a montanha durante anos seguidos, deu-se a primeira revelação de um conhecimento. Foi um momento mágico, pois, de uma pequenina estrela perdida na imensidão do cosmo, lançou- se um facho de luz que, como um farol, iluminou e projetou algumas palavras escritas na pedra à sua frente, onde ele pôde ler: “esta é a pedra do conhecimento, ligado à arte de transformar o mais insano e vil metal em ouro, utilizada pelos antigos alquimistas”. Tome muito cuidado, porque nada disso acontecerá sem a sua transformação interior, afinal,todos esses conhecimentos, somente, serão sabedoria depois de tê-los colocados em prática, caso contrário, não passarão de um livro cujas páginas foram arrancadas. Passaram-se muitas luas para que o ermitão pudesse vivenciar e iniciar sua jornada interior; como peregrino, vagou por muitos caminhos. De retorno ao alto da montanha, contemplou, novamente, o céu, sendo que a segunda estrela escolhida, também, exigiu dele muito tempo de reflexão, mas, quando se distraiu com todas aquelas possibilidades de miríades de estrelas, o fato se repetiu. O farol ilumina, novamente, a pedra na qual costumava sentar-se. Então, pôde ler: “esta é a segunda pedra, que traz o conhecimento sobre todas as artes, que inspiraram os grandes seres a iluminarem esse planeta através da música, pintura, canto, dança (artes em geral). Seja cauteloso para não deturpar sua essência, principalmente, se o caminho da primeira estrela não tiver sido percorrido com êxito, para conduzi-la à sua autotransformação. Assim, a magia da arte voltar- se-á contra você. Nunca é demais avisar o que os grandes A LENDA DO FAROL Os Sete Saberes de um Educador “Jamais haveria evolução se o Verbo se manifestasse proferindo, sempre, as mesmas palavras.” (Professor Henrique José de Souza.) O educador, como porta-voz do conhecimento, deverá estar atento para não cair na mesmice, pois o mesmo conteúdo de hoje, talvez, tenha que ser dado de forma diferente em outra ocasião. Podemos chamar a isso de educação continuada e inovadora. Dirceu Moreira Fevereiro - Maio/2012 15 Mestres, sempre, recomendaram: olhos e ouvidos alerta, porque a lei de polaridade espreita por todos os lados, e tudo tem seu oposto. Todo ser humano leva, em si, imanente, a tendência e a força para transformar-se em algo superior; jamais se esqueça dessa lei de evolução, para que não desqualifique as pessoas. A quem encontrar pelo caminho cumprimente-o dizendo NAMASTÊ: O Deus que habita em mim, saúda o Deus que habita em você. Eis aí a síntese dos relacionamentos”. Conta-se que, tempos depois, o ermitão produziu muitas obras de artes e, só depois de um tanto de luas, retornou ao seu lugar de origem. No seu terceiro encontro, no alto da montanha, chovia muito, mas ali ele permaneceu e, só no terceiro dia consecutivo, deu-se a projeção do farol de luz trazendo-lhe outra tônica do conhecimento: “Preste atenção, esta é sua terceira revelação: para que as duas anteriores sejam vivenciadas por você, será preciso que atue no mundo de forma ética, estética e politicamente correta”. Nessa altura dos acontecimentos, o ermitão começou a perceber que, a cada passo, as coisas ficariam mais difíceis, porém, também, sabia que, para “enrique-Ser”, era preciso ter a riqueza não só do ouro, mas também do saber SER. O tempo passou depressa, e a quarta revelação lhe veio de súbito quando descia da montanha. E, quando menos esperava, observou novamente um clarão. Voltou, então, a sentar na pedra, e assim foi registrado: “existe uma lei da sublime mecânica celeste que se projeta em todas as coisas; o homem a denomina de ciências exatas. Ela tem inspirado, nos seres humanos, grandes possibilidades de descobertas e força impulsionadora da tônica do progresso tecnológico. Antes que possa retornar ao seu refúgio, como nosso tempo é curto, peço que nada tente fazer sem antes compreender o que lhe ensinará a 5ª estrela, que vem trazendo o dom acumulado ao longo de gerações, contido na literatura, através de livros dos mais diferentes conhecimentos, registrados pelo tempo afora. Procure ler muito para que possa cumprir o que lhe trouxe a 4ª estrela, e tudo que produzir o faça com ética e com estética da sublime arte do bem viver, assim, estará transformando a si mesmo, alquimicamente”. Foram tantas as luas que se passaram, que nem mesmo o relógio do Sol poderia registrar o desaparecimento do ermitão e, muito menos, o que ele fez em sua caminhada pelo mundo. Num lindo dia, daqueles em que o verde cobria todo o semiárido baiano, o alto da montanha estava, ainda, mais lindo para recebê-lo. Ao cair da noite, pôde vislumbrar que havia cinco estrelas cintilantes, que se destacavam no céu. Ali sentado, recebeu sua sexta revelação, e uma estrela projetou, novamente, aquele farol de luz esplendoroso, possibilitando-lhe que, naquele instante, pudesse ler a seguinte mensagem: “sou a essência que lhe trago o dom de aprender a pensar, com isso, poderá, novamente, “re-ligar- se” ao Criador, não a confundindo com a religião comum: Eu sou a filosofia e a teogonia, teosofia que dá ao homem as possibilidades de acessar sua consciência superior, conhecer o céu e a terra e seus mistérios (cosmogênese e antropogênese). Com isso, poderá mergulhar para dentro de si e tornar- se mais criativo. Junto comigo, trago uma das minhas irmãs, a 7ª estrela, que lhe revelará a arte da cura por um ramo do conhecimento, ainda, pouco praticado pelos homens – a medicina teúrgica (palavra de origem grega, que significa Obra, Magia Divina)”. O ermitão ficou, completamente, em êxtase, no entanto percebeu que todo seu aprendizado não fazia sentido algum isoladamente. Sua visão, ainda, era fragmentada com um monte de disciplinas, que não se conectavam, não interagiam umas com as outras. Novamente, a presença de “Cronos”, o deus do tempo, fez um único dia da vida do ermitão ser uma eternidade e o atormenta tanto, que ele retornou à montanha e pos-se a pedir, incessantemente, que as estrelas lhe dessem a chave do conhecimento secreto, para resolver tal enigma. Maquiavel Fevereiro - Maio/2012 16 Neste dia, de tanto suplicar (e a súplica de um sertanejo sábio tem o poder de uma medicina teúrgica), fez jus a seu pedido, caso semelhante ao que acontecera a Esculápio de Epidauro, que renasceu das cinzas, ou, mesmo, ao estalo de Vieira (padre Antônio Vieira). Eis a revelação provinda da 8ª estrela: “eu sou o poder sintetizador, unificador e integrador de todas as revelações que você recebeu das sete estrelas, minhas projeções. Para que possa “enrique-SER”, ou seja, aplicar o conhecimento recebido, deverá vivenciar a metáfora: um por todos e todos por um, não a luta pelo poder, mas a luta pelo dever. Daqui pra frente, a jornada é sua, e lembre-se sempre: a quem muito for dado, muito lhe será cobrado”. Conta-se que, depois de muito tempo, o ermitão casou-se e teve oito filhos, e os batizou com o nome dos sete ramos do conhecimento da Árvore da Vida, que lhe fora revelado. Tornou-se um grande pensador e, hoje, caminha pelo mundo, ensinando seu método de aprendizagem denominado de “o farol do conhecimento”, divulgando que todos os saberes são analógicos. Embora de conteúdos diferentes, encontramos, nesses saberes, semelhanças, inclusive, contendo o bem, o bom e o belo, para serem integrados de forma eclética e, sincreticamente, aplicados no dia a dia de cada um. Sem dúvida alguma, trata-se de uma visão sistêmica, integral e holística, na qual as múltiplas disciplinas, quaisquer que sejam, interagem de forma multidisciplinar, inter e transdisciplinar. O farol do conhecimento é móvel e, como tal, gira 360 graus, iluminando a escuridão provocada pelo apedeutismo, que tanto atrasa o desenvolvimento do ser humano. A educação é o farol do conhecimento, cujo potencial vai além do farol de Alexandria. A educação não tem fronteira, é a fonte de toda Criação, e os limites, a ela impostos, são produtos da ganância dos homens, para dominar os povos. Esse conhecimento é incorruptível e volta, sempre, ao seio dos homens, como fez Prometeu ao nos entregar as chamas desse fogo (Este prometeu e cumpriu). A educação é o farol do conhecimento; os educadores, suas cores e luzes; e as sete estrelas são suasmúltiplas disciplinas. Cada escola possui um farol do conhecimento, réplica perfeita daquele contido nas estrelas. Todas as escolas possuem a mesma essência, e nenhum educador pode arrogar o direito de dizer que a sua, ou seu método, é melhor do que o outro, e, sim, compartilhar suas experiências e qualificar o que os outros estão fazendo. Assim como o ermitão era conhecido como Glorioso, o mesmo significado para o nome Euclídes, assim, também, todos os educadores são gloriosos, e suas ferramentas são os diversos ramos do conhecimento, verdadeiras Cunhas, capazes de erguer, remover e transformar os maiores pesos da ignorância do ser humano. Educação, família e sociedade é uma tríade perfeita à medida que cada uma delas cumpra seu verdadeiro papel. Que a família o faça através do amor, a escola pela inteligência e a sociedade pelo trabalho. Amor sem sabedoria cria protecionismo sem os devidos limites. São Mestres e pais bonzinhos, não justos. A inteligência sem amor torna o homem distante e frio em seus relacionamentos, mas, também, amor e sabedoria sem o trabalho (ação) não gera, absolutamente, nada; é como um livro fechado e trancado numa biblioteca. Escola, família e sociedade constituem o palco da vida onde se desenrolam os saberes, sintetizados pelas revelações das estrelas; em suas interrelações, é que se dá a harmonia tão desejada de todos os educadores, para que a educação não seja mais o bode expiatório de toda sociedade, porque nosso país é como disse Jorge Amado: “Eu sou muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paísinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário”. Antonio Conselheiro disse, por volta de 1900: “Há de chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo”. Primeira tradução: é o fim, a morte pela transformação do ser humano, através das estrelas do conhecimento, citado na lenda, tendo à frente a educação como farol a iluminar o grande espetáculo da criação Divina, mas, também, pode ser o aviso, há tempos, anunciado pelos grandes sábios. Ou mudamos pelo amor, ou pela dor, mas mudamos. Essa lenda é uma homenagem a todos os educadores baianos e a todos os educadores brasileiros, que, com dignidade, fazem da educação seu principal baluarte. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, disse Euclídes da Cunha. Os educadores, além de fortes, são, também, persistentes e sábios, para que possam transformar pequenas estrelas em grandes Sóis. Há uma condição “sine qua non”, para que tudo isso possa acontecer, que se encerra na frase do Prof. Henrique José de Souza: “O homem não é sábio porque sabe, ele é sábio porque ama. Em essência, esse amor é pleno de sabedoria”. Fevereiro - Maio/2012 17 A LIDERANÇA NO TERCEIRO MILÊNIO “Reconstruir é o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os costumes; reconstruir o lar, a escola, o caráter, para que o cérebro se transmute ao lado do coração. Só assim a humanidade se tornará digna do estado de consciência exigido pela nova civilização.” (Professor Henrique José de Souza.) É imperioso que esse brado da reconstrução encontre eco na mente e no coração de cada membro da Sociedade Brasileira de Eubiose e de cada cidadão do mundo, sintonizado com os ditames da Era de “Aquarius”. Urge que cada um desses assuma a liderança de uma parcela da humanidade, de forma a satisfazer as exigências transformacionais do novo Ciclo. Entendemos, no entanto, que essa liderança deva se mostrar hábil e eficiente, encontrando-se, necessariamente, embasada em técnicas e conceitos testados e validados através dos tempos. Percebemos, ainda, que a reconstrução do homem, do pensamento, da moral, dos costumes, do lar, da escola, e do caráter passa, necessariamente, pela estreita vereda da significação, do autogerenciamento e do autoconhecimento. Assim, iniciamos uma série de artigos que apontam como objetivo abordagens e tendências históricas da liderança, fomentando o relacionamento de Liderança com Significação, Autogerenciamento e Autoconhecimento, de modo a se tornarem cenários inseparáveis. Nesse trajeto, reforçaremos a conceituação de liderança como um estado dinâmico no domínio espaço-tempo. Tomando como ponto de partida a abordagem dos traços, dos estilos e dos contextos, ultrapassaremos os conjuntos situacionais e o enfoque servil até aportarmos na tão almejada Liderança Transformacional. Compartilharemos, entre outras, as ideias e propostas de Bernard Bass, Joseph Host, Maslow, Holander Fieder, até alcançarmos James C. Hunter, que definiu Liderança como a “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando ao bem comum, inspirando confiança por meio da força do caráter”. E, assim, preparamos o caminho para Viktor Frankl, que colocou liderança como um “Relacionamento de estímulo mútuo que eleva os seguidores à condição de líderes de si mesmos”. Intentamos, com todo esse desenvolvimento, alcançar o marco sem retorno, onde, unicamente, o irrestrito autoconhecimento pode nos permitir continuar e alcançar a verdadeira liderança, que tem como base o encontro pleno consigo mesmo. INTRODUÇÃO A procura da liderança é constante e viva em todos os setores da sociedade. No entanto, a incapacidade de preencher a riqueza de atributos e comportamentos, desejados àqueles que se propõem à posição de líderes, resulta na falta de liderança capaz e eficaz, nos governos, nas indústrias, nas empresas, nas religiões, nos esportes, na educação, bem como nas demais formas de organização humana. A liderança tornou-se quase uma obsessão. Os livros se amontoam nas prateleiras das livrarias e, a cada mês, mais e mais títulos são acrescentados. Hoje, 02 de dezembro de 2011, digitando “leadership”, no Google, em 26 segundos, fomos brindados com, aproximadamente, 123 milhões de referências!!! Bernard Bass e Ralph Stogdill (1990) catalogaram 7.000 estudos sobre liderança. Penner (2001) pressupõe que esse número já deveria ter ultrapassado a casa dos 12.000 estudos. E estamos aqui falando de trabalhos que introduzem ou propõem algo de novo nesse assunto, ou seja, não são, apenas, coletâneas ou releituras do já realizado. É fato que o evento da liderança existe desde o início dos tempos. O homem é um ser, essencialmente, social. Assim, desde o alvorecer das civilizações, sempre, buscou formatos organizacionais, que visassem a fins específicos, fossem grupais ou individuais. Sabemos que toda ação demanda esforços e, também, que maior probabilidade de êxito teríamos se lográssemos construir e manter estruturas grupais coesas e, uniformemente, direcionadas. Em qualquer grupo, formal ou informal, cada indivíduo desempenha um papel particular e uma função conjunta. Em qualquer aliança, sempre, aflorará, alguém cujo desempenho e posição são essenciais ao êxito do grupo como um todo. Está, assim, caracterizada a liderança como um elemento natural e espontâneo da função de influenciar outros para se atingir objetivos comuns. Toda literatura, sempre, orbita na figura dos heróis, personagens de caracteres especiais, que conduzem outros a metas específicas. Seres que atuam como espelho, caminho e meio, para valores oportunos na situação em apreço. Ou, em outras palavras, líderes. Silvio Piantino Fevereiro - Maio/2012 18 Uma pesquisa literária remontando à Grécia antiga, representada por “A República” de Platão, pela “Odisseia” e pela “Ilíada” de Homero, ou ao extremo Oriente, com sua epopéia MahaBharata, passando pelos livros do Antigo Testamento e de todas as outras religiões, irrefutavelmente, comprova essa afirmação. O que dizer de seres mitológicos como Ulisses, Arjuna, Krisnha, Rama, Abraão, Zoroastro, Tupã e outros mais? A históriahumana está, também, repleta desses personagens. Quem nunca se inspirou em Gandhi, Júlio César, Aknaton, Marco Polo, Joana d´Arc, Alexandre, o Grande, Dalai Lama ou Churchill? Apesar de tão vasto manancial teórico, poucos assuntos são tão controversos quanto este, não havendo, até agora, um modelo de liderança universalmente aceito, independente da época, posição geográfica ou situação avaliada. Cada nova abordagem critica aspectos e reforça partes das anteriores. É como se cada proponente acrescentasse uma pedra ao edifício conceitual da liderança, contribuindo, assim, com seu quinhão para a conclusão do todo. Fiedler, assim, expressou-se sobre esse tema: “Um estilo de liderança não é, em si mesmo, melhor ou pior do que outro, nem, tampouco, existe um tipo de comportamento em liderança apropriado para todas as condições. Dessa forma, quase todo mundo poderia ser capaz de ter sucesso como líder em algumas situações e quase todo mundo está apto a falhar em outras” (FIEDLER, 1967, p.115). Bernard Bass (1990) afirma, textualmente, que “Existem quase tantas definições de liderança quantas pessoas que tentaram definir o conceito”. Já Joseph Rost (1993) vai ainda mais longe, afirmando, com um senso de humor ímpar, que “Os eruditos não sabem o que eles estão estudando, e os praticantes não sabem o que eles estão fazendo”. Sabemos que tudo, na vida, evolui, o mesmo, necessariamente, devendo se aplicar à liderança. Acreditamos que, nesse terceiro milênio, deveríamos alcançar patamares relacionais mais elevados, objetivando um processo transformacional de si e do outro. Acreditamos que não nos sustenta mais o mero atendimento de metas e objetivos. Ao final do processo há de existir, com igual ênfase, evolução e engrandecimento humano. Somos, assim, atraídos pela questão: Qual o caminho a ser trilhado pelo líder no processo transformacional de si mesmo e de sua equipe? Aqui chegamos ao objetivo geral deste trabalho, como sendo a identificação de uma postura de Liderança, que prime pela transformação holística, grupal e individual, baseada no tripé: Significação, Autogerenciamento e Autoconhecimento. Como objetivos específicos, poderíamos detalhar os seguintes tópicos: Conceituar e caracterizar a liderança;I. Apresentar modelos básicos utilizados através dos II. tempos, reforçando a sua linha evolucional; Diferenciar Líder e Gestor;III. Conceituar liderança como um estado dinâmico no IV. domínio espaço/tempo; Demonstrar a importância da significação na V. motivação individual; Demonstrar a importância do autogerenciamento no VI. convívio das pessoas; Demonstrar a importância do autoconhecimento, VII. como identificação das limitações e potencialidades, tanto de si como dos outros. Cremos se explicar a escolha desse tema no diferencial que uma liderança adequada, sempre, apresentou em todos os aspectos da vida humana, tanto no âmbito profissional como no pessoal. Acreditamos, assim, que todo esforço, no sentido de lançar mais um pouco de luz em tão complexo como relevante tema, seria mais que plenamente justificável. De forma a atingirmos nosso intento, valemo-nos da Metodologia Bibliográfica, Exploratória, baseando- nos em pesquisas em sites de instituições e organizações especializadas nesse assunto. Os artigos e publicações foram selecionados com base em autores renomados e considerados como autoridades nesse assunto. Entre tais: Bernard Bass, Joseph Host, Maslow, Holander Fieder, Yukl, James C. Hunter e Victor Frankl. REFERÊNCIAS BASS, Bernard M. Bass, Ruth Bass. The Bass handbook of leadership: theory, research, and managerial applications, 1990. FIEDLER, F. (1967). A theory of leadership effectiveness. New York: McGraw-Hill PENNER, David S. Revisão Literária Sobre Liderança. 2001. Disponível em <http://www.unisa.br/cbel/ artigos04/09_david_penner.pdf>. Acesso em 25 de agosto de 2010. ROST, Joseph C. Leadership for the Twenty-First Century, 1993. Fevereiro - Maio/2012 19 As grandes transformações: sinais e indícios A interação entre o ser humano e a Natureza vem de tempos imemoriais. A partir do momento em que os homens romperam o elo original, que os ligava às forças naturais e às demais criaturas, destacando-se destas através do intelecto, essa mesma interação passou a gerar uma importante produção artística, literária, filosófica, religiosa e, mais recentemente, científica. Através da diversidade humana, essa relação adquiriu, ao longo dos tempos e das civilizações, aspectos muito diversos, que ora proporcionaram uma harmonia e proximidade, ora geraram alheamento e até desarmonia, como é o caso de nossa civilização, essencialmente, urbana e industrial, completamente divorciada da “Máquina do Mundo”, na cosmovisão renascentista de Luís de Camões em Os Lusíadas. Assim fala a deusa Tétis a Vasco da Gama no alto de uma montanha da Ilha dos Amores, para onde havia sido conduzido para contemplar a harmonia universal: "Vês aqui a grande Máquina do Mundo, etérea e elemental, que fabricada assim foi do Saber, alto e profundo, que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo globo e sua superfície tão limada, é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende, que a tanto o engenho humano não se estende".1 Com efeito, segundo diversos estudos realizados nos últimos anos por comissões de especialistas criadas pela ONU, governos e entidades privadas para análise das questões ambientais – onde a par das biológicas se encontram, também, as climáticas – o resgate de uma relação equilibrada, harmoniosa, de toda atividade humana com a Natureza ou meio ambiente já não é opção: é uma necessidade e uma obrigação de todos, de modo a evitar ou, pelo menos, minimizar catástrofes ambientais e, inevitavelmente, sociais. Já a caminho da tão esperada Conferência Mundial das Nações Unidas Rio+20 (Junho 2012), todos os estudos realizados desde a conferência original revelam, de modo conclusivo, os danos da ação humana sobre o meio ambiente perpetrados nas últimas décadas, numa escala que está se aproximando, perigosamente, do limite irreversível dos chamados serviços naturais. Será que nossa civilização, essencialmente, urbana se encontra tão afastada assim, da Natureza e de uma relação harmônica entre o ser humano e o meio ambiente? EUBIOSE: Consciência da Natureza e Natureza da Consciência “Os chacras em número de sete, como os astros ou planetas, como o espectro solar, etc., não são mais do que “as forças sutis da natureza”. Para conhecê-los e manejá-los é preciso ser um Adepto.” (Prof. Henrique José de Souza.) – questionarão alguns. O próprio termo “civilização” – originado do latino “civile” (conjunto organizado de indivíduos ou “cives” vivendo sob leis comuns), agrupados normalmente em uma “urbs” (cidade) – fala, claramente, sobre essa perspectiva herdada da Antiguidade, que o Cristianismo, no Ocidente, perpetuou até hoje: o centro conceitual do mundo humano não é a Natureza com o Homem dentro dela; pelo contrário situa-se num polo oposto dela, fora dela, um “Deus ex machina”, mais com perfil de imperador tirano, sentado num trono urbano e isolado da realidade humana e natural por elevadas muralhas. Não é sem razão que Fernando Pessoa, em um de seus ensaios, sob o raro heterônimo “António Mora”, escreveu: “A Igreja Católica não deriva, não descende do Império Romano. A Igreja Católica é o Império Romano.” 2 Por outro lado, mesmo abstraindo as emissões nocivas de origem urbana e industrial e o acúmulo de lixo nos lugares mais inesperados, existe algo que denuncia, desde logo, esse afastamento: o fato de se considerar, com toda a naturalidade, o ser humano por um lado, e a Natureza por outro, não será revelador sobre o grau de fragmentação conceitual das sociedades
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