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Prévia do material em texto

Mario Alencastro 
 MAÇONARIA E PÓS-MODERNIDADE 
INTERFACES, NOVOS DISCURSOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
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2 
 
© Mario Alencastro 

 
Sumário 
 
Apresentação ................................................................................................................................ 3 
Capítulo 1 – A era da comunicação, do conhecimento e da informação ..................................... 5 
1.1 Uma sociedade em rede ..................................................................................................... 6 
1.2 Comunidades virtuais .......................................................................................................... 7 
1.3 A nova Caverna de Platão? .................................................................................................. 8 
1.4 A Maçonaria na Internet ..................................................................................................... 9 
Capítulo 2 – O pensamento pós-moderno e a Maçonaria .......................................................... 13 
2.1 A condição pós-moderna .................................................................................................. 14 
2.2 Desdobramentos ............................................................................................................... 15 
2.3 Maçonaria, tradição e contemporaneidade ..................................................................... 20 
Capítulo 3 – A vida em Loja ......................................................................................................... 21 
3.1 A Loja ................................................................................................................................. 22 
3.2 Comportamento em Loja .................................................................................................. 24 
3.3 Organização dos trabalhos ................................................................................................ 27 
3.4 A prática ritualística........................................................................................................... 28 
Capítulo 4 – Interfaces, novos discursos, desafios e perspectivas .............................................. 34 
4.1 Universalidade maçônica .................................................................................................. 34 
4.2 O grande “Cisma” .............................................................................................................. 36 
4.3 Teoria da dupla tradição ................................................................................................... 40 
4.4 Igualdade de gênero .......................................................................................................... 41 
4.4 Portadores de deficiência na Maçonaria .......................................................................... 45 
Para concluir ................................................................................................................................ 46 
Referências .................................................................................................................................. 48 
Sobre o autor ............................................................................................................................... 52 
 
 
3 
 
© Mario Alencastro 

 
Apresentação 
 
A Maçonaria é uma instituição muito antiga. Herdeira das tradições dos 
Maçons operativos da Idade Média foi em 1717, com a fundação da Grande Loja 
de Londres e Westminster, que ela se apresentou oficialmente na condição de 
especulativa, embora já se tenha notícias de Lojas especulativas bem antes 
deste período. 
 Do alto de seus 300 anos de existência, a Maçonaria ainda hoje exerce 
um enorme poder de atração, congregando em suas fileiras indivíduos dos mais 
diferentes segmentos sociais que buscam, pelo aperfeiçoamento do caráter, se 
transformarem em pessoas melhores. 
 Apesar de todo o seu passado glorioso e ainda figurar no rol das 
organizações que se destacam no cenário mundial, a Maçonaria, tal como várias 
outras instituições tradicionais, tem pela frente o desafio de conviver com as 
turbulências trazidas com o advento da pós-modernidade. De que forma uma 
organização tão rica em tradições e alicerçada sobre sólidos princípios morais, 
dará conta de singrar os mares tormentosos destes tempos pós-modernos, nos 
quais tudo é posto em xeque, das instituições às crenças? Como lidar como o 
novo, sem abrir mão de seus princípios e propósitos? 
 Sabe-se que enfrentar desafios não é algo desconhecido para a 
Maçonaria, organização que por séculos sempre soube encontrar soluções de 
continuidade e florescer. Tal situação foi o fator motivador para a elaboração 
deste pequeno texto, uma modesta contribuição que disponibilizo para o público 
maçônico. Trata-se de uma discussão em torno de velhas e novas ideias e que 
se dá em torno dos desafios que a Maçonaria tem pela frente neste século XXI, 
uma época marcada pela velocidade vertiginosa dos acontecimentos. 
 A linha condutora de toda a nossa argumentação é a dialética, no sentido 
de “caminho entre as ideias”, um método de diálogo que se dá a partir da 
contraposição e contradição de ideias que conduzem a outras ideias. Na filosofia 
antiga e medieval era sinônimo de lógica ou arte da argumentação e fazendo 
parte chamadas artes liberais do Trívio (lógica, gramática e retórica) e Quadrívio 
(aritmética, música, geometria e astronomia) que certamente faziam parte da 
formação de um mestre construtor. 
4 
 
© Mario Alencastro 

 
 Buscou-se aqui o sentido originário do termo, que para muitos encontra-
se em Heráclito de Éfeso, segundo o qual, nada seria permanente, não podendo 
um indivíduo banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio (ou 
a pessoa) já teria se modificado. Em outras palavras, as mudanças são a 
essência da existência. 
 Sócrates via no diálogo, um método essencial para o conhecimento das 
coisas e de si mesmo. A dialética socrática permite, pelo diálogo, a proposição 
de uma tese, sua crítica (antítese) e construção de uma síntese, uma descoberta 
em comum, ao termo da controvérsia. 
 O maçom é um indivíduo livre e de bons costumes. Não se refere aqui à 
liberdade física ou a capacidade de não ser escravo dos vícios, mas sim a 
liberdade de pensamento, a capacidade de se tornar um livre pensador. Nesse 
sentido a dialética como método de discussão é fundamental, pois, mediante sua 
prática, é possível com liberdade de pensamento, com tolerância e sem 
preconceitos, discutir qualquer assunto, por mais polêmico que seja. 
 O texto se organiza em quatro partes. As duas primeiras são uma espécie 
de contextualização. No primeiro capítulo são apresentadas as principais 
características de um mundo globalizado e alicerçado nas tecnologias de 
comunicação e informação. Em seguida, no Capítulo 2, discute-se o advento da 
pós-modernidade e seus desdobramentos nos campos filosófico, político e até 
religiosos, dos quais a Maçonaria não pode ficar alheia. 
 A vida em Loja é abordada no terceiro capítulo. Aspectos relacionados à 
organização dos trabalhos, às relações interpessoais e a importância da prática 
ritualística são ali apresentados como fatores capazes de enriquecer as sessões 
e contribuir para a permanência dos obreiros nas oficinas maçônicas. 
 Temas polêmicos são tratados na quarta parte do texto. Coloca-se então 
em perspectiva o Landmark 18, na restrição que impõem às mulheres e 
deficientes físicos no que diz respeito ao seu ingresso na Maçonaria. A discutida 
pretensão de universalidade maçônica também é analisada de forma crítica 
nesse último capítulo. 
 Por fim, o autor gostaria de chamar a atenção para o fato de que, mais 
importante do que o texto em si, são as notas de rodapé. Utilizamos o sistema 
de citação numéricopois limpa o texto e permite um acesso mais rápido às fontes 
utilizadas, a nosso ver a maior contribuição do trabalho. 
5 
 
© Mario Alencastro 

 
Capítulo 1 – A era da comunicação, do conhecimento e da 
informação 
 
Não há mais limites para o alcance da informação. Tal assertiva parece 
exagerada, mas a emergência de um novo paradigma tecnológico, com bits 
armazenados em computadores de alta performance e circulando em altíssima 
velocidade em redes telemáticas, faz com que expresse a mais pura realidade. 
 O fato é que se ampliaram os recursos comunicacionais. Desde a década 
de 1980, desenvolve-se de forma crescente e contínua, um complexo conjunto 
de recursos tecnológicos interligados entre si que, por meio da união das funções 
de hardware, software e telecomunicações, proporciona a integração de vários 
modos de comunicação numa rede interativa que permite o fluxo ultrarrápido e 
contínuo de dados, sons, imagens e textos que cruzam o planeta 
instantaneamente. 
 Dessa forma, são superadas as limitações de espaço e tempo, abrindo-
se assim, múltiplas possibilidades de comunicação que estão revolucionando 
praticamente todos os processos de interação humana. Obviamente os maçons, 
habitantes que são desta “aldeia global”1, sofrem, direta ou indiretamente, os 
efeitos dessa revolução informacional. 
 Proliferam na Internet sites sobre Maçonaria e inúmeros periódicos online 
sobre o tema, alguns de discutível credibilidade, encontram-se disponíveis na 
rede. Tal fenômeno representaria uma oportunidade de divulgação dos ideais da 
Ordem, ou uma ameaça às suas tradições, discretamente preservados no 
decorrer de séculos? Como separar o joio do trigo, ou seja, selecionar as 
informações verídicas das improcedentes, neste labirinto global da informação 
disponível em rede? São questões como estas que nortearão o presente 
capítulo. 
 
 
 
1 Aldeia global é um termo criado na década de 1960 pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan. 
Ele tinha o objetivo de indicar que as novas tecnologias eletrônicas tendem a encurtar distâncias e o 
progresso tecnológico tende a reduzir todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia: um 
mundo em que todos estariam, de certa forma, interligados. Cf. MCLUHAN, Marshall. A galáxia de 
Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo, Editora Nacional, Editora da USP, 1972. 
6 
 
© Mario Alencastro 

 
1.1 Uma sociedade em rede 
 
 O universo comunicacional convencional, com ênfase no rádio e na 
televisão, vem, paulatinamente, perdendo terreno para um outro modelo, que 
pode ser chamado de multimídia interativa, no qual intercalam-se diversas 
linguagens (visual, radiofônica, televisiva, cinematográfica e videográfica) que se 
apresentam de forma não sequencial, por meio de uma estrutura tecnológica que 
permite a combinação de som, texto e imagens difundidas em tempo real. Tal 
estrutura midiática permite uma intensa interatividade entre os agentes, pela 
profusão dos meios de comunicação e pela simultaneidade das mensagens2. 
 Assim, é possível concluir que já está ocorrendo a migração de um modo 
de comunicação em massa ao estilo broadcasting, no qual se transmite ou 
difunde determinada informação a muitos receptores ao mesmo tempo, como se 
faz no rádio e televisão, para os meios digitais e das redes, que permitem a 
interatividade e a colaboração. 
 As TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) proporcionam 
recursos que permitem ouvir, ler, gravar, voltar, seguir adiante, selecionar, tratar 
e enviar qualquer tipo de mensagem para qualquer lugar e a qualquer tempo. 
Assim, os usuários deixam de ser passivos telespectadores e assumem a 
condição de sujeitos operativos no processo. 
 São tantas (e aceleradas) transformações no campo comunicacional, 
materializadas na passagem de uma cultura baseada na escrita para a cultura 
da multimídia, que o momento atual é semelhante ao que aconteceu na Grécia 
por volta de 500 a.C., quando os gregos passaram a valer-se do alfabeto e que, 
no intervalo de apenas duas gerações, migraram de uma cultura eminentemente 
oral para uma cultura baseada na escrita.3 
 Não é exagero afirmar que as sociedades hodiernas se caracterizam, seja 
na vida social como na esfera política, como sociedades da informação, nas 
quais o local e o global estão conectados just in time, o que permite uma nova 
forma de relacionamento humano, pois, com a eliminação das barreiras de 
espaço e tempo, é possível relacionar-se face a face e em tempo real com 
 
2 SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998. p.29-30. 
3 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v. 1. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. 
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012.p.414 
7 
 
© Mario Alencastro 

 
pessoas geograficamente distantes. Ademais, um evento que aconteça do outro 
lado do planeta, imediatamente vira notícia para todos os continentes. Isso faz 
com que os fatos locais sejam penetrados e moldados por influências sociais 
distantes a eles, o que contribui para uma transformação da ordem social, na 
qual valores tradicionais, quando confrontados com outros, sejam colocados em 
xeque4. 
 
1.2 Comunidades virtuais 
 
 Os poderosos recursos de interatividade disponíveis neste imenso 
sistema global de redes de computadores interligadas, conhecido como Internet, 
permitem aos indivíduos construírem seus próprios sistemas de comunicação, 
dando origem a um fenômeno conhecido como Comunidades Virtuais, nova 
forma de comunidade que reúne as pessoas on-line ao redor de valores e 
interesses em comum. 
 Uma Comunidade Virtual é definida como um grupo de pessoas que 
interagem entre si, aprendendo com o trabalho das outras e proporcionando 
recursos de conhecimento e informação ao grupo, em relação a temas sobre os 
quais há acordo de interesse mútuo. Cada integrante de uma comunidade virtual 
é um elemento ativo que contribui para evolução do grupo, superando a condição 
de mero expectador.5 
 As Comunidades Virtuais, compostas por indivíduos online conectados 
por valores, objetivos e interesses em comum, alojam-se em espaços sociais 
conhecidos como Redes Sociais. Ali, mediante relacionamentos horizontais e 
não hierárquicos entre os participantes, além do compartilhamento de textos, 
fotografias, músicas e filmes, são desenvolvidos projetos cooperativos de grande 
escala como a Wikipédia (a enciclopédia de código aberto) e até redes de 
ativismo social/político/religioso.6 
 
4 GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual 
Paulista, 1991. p. 28. 
5 HUNTER, B. Learning in the Virtual Community Depends upon Changes in Local Communities. In: 
RENNINGER, K. A.; SHUMAR, W. Building virtual communities. Learning and change in cyberspace. New 
York: Cambridge University Press, 2002. p. 96. 
6 CASTELLS, op. cit., p. xiii. 
8 
 
© Mario Alencastro 

 
 Atualmente, Redes Sociais como o Facebook, atraem pessoas das mais 
diversas faixas etárias e níveis sociais, ampliando a sua sociabilidade. As 
comunidades on-line estão se tornaram um elemento fundamental da vida 
cotidiana que continua a crescer por toda a parte e interatividade que 
proporcionam é um desafio para todos os agentes envolvidos com os processos 
de comunicação. 
 
1.3 A nova Caverna de Platão? 
 
 Embora se acredite que essa nova dimensão da comunicação poderia 
permitir o compartilhamento de conhecimento e que isso possibilitaria 
importantes perspectivas e possibilidades para a vida em sociedade, nem tudo 
são flores, pois, a despeito do imenso manancial de informações que podem ser 
obtidas na Internet, há também muito material inconsistente e de procedência 
duvidosa.Sob este aspecto, talvez seja útil revisitar a Alegoria da Caverna, 
concebida pelo filósofo grego Platão e apresentada no Livro VII da República7. 
Em linha gerais, trata-se de uma parábola que relata uma história de seres 
humanos que permanecem no interior de uma caverna, na qual nasceram e 
cresceram. Todos estão de costas para a entrada e, como estão acorrentados, 
não podem se mover e apenas enxergam a parede do fundo da caverna. Atrás 
dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma pequena parede, por 
detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens 
e outras coisas viventes". 
 Tal mecanismo faz com que as sombras dos objetos carregados sejam 
projetadas na parede do fundo da caverna, a única coisa que os prisioneiros 
conseguem enxergar. Os sons provenientes do lado de fora, associados às 
imagens projetadas, fazem com que os prisioneiros confundam as sombras 
(simulacros) com a realidade. 
 É interessante a imagem criada por Platão, pois ao remeter à questão do 
discernimento entre o que é real e o fictício, faz lembrar que os meios de 
 
7 Cf. PLATÃO. República. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2002. 
9 
 
© Mario Alencastro 

 
comunicação, dentre eles a Internet, estão repletos de informações que 
mascaram a realidade. 
 A respeito deste mascaramento da realidade e da proliferação de 
informações que a distorcem ou criam ficções que corrompem a concretude dos 
fatos, cabe chamar a atenção para uma espécie de “Cultura do Simulacro”, na 
qual a representação da realidade (os simulacros) difundida pela mídia tem mais 
força do que a própria realidade. Em outras palavras, as simulações malfeitas do 
real são mais atraentes ao espectador do que o próprio objeto que reproduzem.8 
 Há muito a informação ultrapassou a barreira da verdade, sendo que, em 
muitos casos, sua veracidade “repousa sobre a credibilidade instantânea”9, o 
verdadeiro se justifica pelo fato de que se pretende ser representado em tempo 
real, o que não exclui toda sorte de manipulações que vão desde a escolha do 
que se quer apresentar, às manipulações grosseiras. Nem sempre a velocidade 
do hiperespaço midiático permite aprofundamento e reflexão. 
 Cabe ao maçom pesquisador ser imune à “pós-verdade”, um neologismo 
criado para descrever como a opinião pública é influenciada por algo que, com 
aparência de verdade, passa a ser mais importante do que a própria verdade. A 
pós-verdade, que se constrói a partir da superposição das versões em relação 
aos fatos em si, é notadamente presente nas propagandas políticas e em 
diversas formas de proselitismo ideológico.10 
 
1.4 A Maçonaria na Internet 
 
 A Internet é, sem dúvida, um dos principais meios para o acesso às 
informações do cotidiano. O uso crescente de dispositivos móveis, tais como os 
smartphones, contribuem para manter as pessoas informadas em tempo real. A 
Maçonaria não fica fora desta realidade. Basta uma ligeira pesquisa em qualquer 
mecanismo de busca na rede, usando descritores como “Maçonaria” e “Maçom”, 
para se ter como resposta milhões de resultados. Diante desse volume de 
informações, o que fazer para garantir a qualidade do material pesquisado? 
 
8 BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa, Relógio d’Água editores, 1991. 
9 BAUDRILLARD, Jean. Tela total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre: Editora 
Sulina, 1999. p. 59. 
10 LLORENTE, José Antônio. A era da pós-verdade: realidade versus percepção. Revista UNO, São Paulo, 
nº 27, 2017.p. 9. 
10 
 
© Mario Alencastro 

 
 Ao se levar em conta o fato de que se a Internet torna acessível todo tipo 
de material literário maçônico que se possa imaginar, cabe questionar qual seria 
o comportamento adequado diante de tal realidade. 11 
 É certo que entre os maçons não há um consenso em relação a Internet, 
que, para os conservadores, é o retrato da decadência da Maçonaria, visto que 
promove, por sua ampla disponibilização, uma banalização da tradição e dos 
ensinamentos maçônicos.12 
 Nunca é demais lembrar que, apesar de conservadora em seus princípios, 
a Maçonaria nunca se tornou arcaica e nem deixou de evoluir com a passagem 
do tempo, sempre se adaptando às mudanças que ocorreram com o progresso 
das sociedades. Por conseguinte, não se furtará a lidar de forma sábia com o 
advento das novas tecnologias de comunicação e informação.13 
 Nesse contexto, um debate muito interessante envolve a comparação 
entre livros e blogs, visto que ambos disponibilizam informação maçônica para 
quem quiser ter acesso. Os livros podem ser encontrados nas livrarias, portanto, 
acessíveis a quem estiver disposto a comprar. Já os blogs representam literatura 
maçônica gratuita e de fácil acessibilidade para os irmãos. 
 Tanto o autor de livros quanto o “blogueiro” fazem a mesma coisa: 
escrevem. Se é assim, como aferir a qualidade do material? No caso dos livros 
as editoras funcionam como “filtros de qualidade”, garantindo um conteúdo mais 
consistente e impedindo assim, que “aberrações” sejam publicadas. No caso dos 
blogs não há como garantir este filtro, sendo que a triagem fica a cargo do leitor.14 
 O fato é que existem riscos e oportunidades quando se trata do uso da 
Internet na Maçonaria. No que diz respeito às oportunidades, pode-se alegar que 
os trabalhos postados na rede, além de não acarretarem custos, ainda 
possibilitam aos profanos, pela identificação com os princípios maçônicos, uma 
maior aproximação com a Maçonaria, o que poderia representar num acréscimo 
qualitativo em seus quadros. 
 
11 ISMAIL, Kennyo. Debatendo tabus maçônicos. Londrina: Ed. Maçônica “A Trolha”, 2016. 
12 Ibid., p. 73. 
13 RAIMUNDO, Nuno. A Maçonaria e as novas tecnologias de informação e comunicação (2016). In: A 
partir pedra. Blogue sobre Maçonaria escrito por mestres da Loja Mestre Affonso Domingues. Disponível 
em: <https://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2016/05/a-maconaria-e-as-novas-tecnologias-de.html>. 
Acesso em: 04 dez. 2017. 
14 ISMAIL, op. cit, p. 74-75. 
11 
 
© Mario Alencastro 

 
 Ademais, a Internet possibilita uma excelente oportunidade de acesso a 
material maçônico de qualidade para quem se encontra longe dos grandes 
centros urbanos e também para os mais jovens, sempre mais afeitos à uma 
crescente cultura digital, na qual a leitura eletrônica vem ganhando espaço. 
 Os riscos são bem conhecidos. Vão desde a divulgação de material 
maçônico que não deveria ser exposto publicamente, até a divulgação de 
conteúdo inverídico, impreciso, fantasioso, e mesmo difamatório, conduzindo o 
leitor menos preparado a formar uma imagem distorcida acerca da Maçonaria. 
O que fazer para ser prever em relação aos riscos? 
 Algumas ações podem ser muito úteis para se identificar a veracidade de 
um conteúdo. Procurar identificar quem é o autor da informação é o primeiro 
passo. Verificar se ele tem credibilidade no meio maçônico e se a origem do 
conteúdo é reconhecida, são medidas de precaução indispensáveis. Outro ponto 
importante é saber se o conteúdo expressa apenas uma opinião pessoal ou se 
está balizado por alguma instituição que tenha credibilidade.15 
 Para concluir, cabe chamar a atenção para o aparecimento de lojas online, 
como no caso da Internet Lodge nº 965916 jurisdicionada à Grande Loja 
Provincial de East Lancashire (GLUI) e a Lodge Ireland 200017 que integra a 
Grande Loja de Maçons Antigos, Livres e Aceitos da Irlanda. Interessante notar 
que já consta do List of Lodges Masonic 2018, a Castle Island Virtual nº 190, que 
funciona sob os auspícios da Loja de Manitoba (Canadá) 18. 
 Em tais lojas online, os irmãos reúnem-se virtualmente a partir de qualquer 
lugar onde estão localizados. As reuniões têm abertura e encerramento 
ritualísticoe a Sessão da Loja é conduzida da mesma maneira que numa loja 
presencial. Geralmente promovem quatro encontros presenciais ao ano e as 
demais atividades são conduzidas valendo-se dos mais variados recursos 
disponíveis na Internet, tais como e-mails, chats e fóruns. As lojas online ainda 
 
15 Biblioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo. Como checar informações na internet. 
Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/internet-e-tecnologia/como-checar-
informacoes-na-internet.php>. Acesso em 29 jan. 2018. 
16 Internet Lodge nº 9659. Disponível em: <http://internet.lodge.org.uk>. Acesso em 04 fev. 2018. 
17 Lodge Ireland 2000. Disponível em <https://www.ireland2000.org/>. Acesso em 04 fev. 2018. 
18 MORAIS, Cassiano Teixeira de. Evasão maçônica. Causas e consequências. 2.ed. Brasília: Ed. DMC, 
2017. p. 104. 
12 
 
© Mario Alencastro 

 
são uma incógnita. Se vingarão ou serão apenas exóticas exceções, somente o 
tempo trará a resposta. 
 
 
 
 
13 
 
© Mario Alencastro 

 
Capítulo 2 – O pensamento pós-moderno e a Maçonaria 
 
 Vive-se hoje em “tempos líquidos”, nos quais nada foi feito para durar. São 
tempos pós-modernos, nos quais a transitoriedade prevalece sobre os valores 
tradicionais que até então davam sustentação às sociedades ocidentais.19 
 A incredulidade em relação às metanarrativas é a marca da condição pós-
moderna.20 Entende-se por metanarrativa, uma narrativa de nível superior capaz 
de explicar todo o conhecimento existente ou de representar uma verdade 
absoluta sobre o universo. Representam visões totalizantes da história, capazes 
de prescrever regras de conduta política e ética para toda a humanidade. A Bíblia 
e o Alcorão são exemplos de metanarrativas universalmente conhecidas. Da 
mesma forma, as ideologias iluministas e marxistas também representam 
metanarrativas. 
 As grandes narrativas estão em crise, em vias de desaparecer, 
carregando com elas também as narrativas religiosas, que entram em declínio 
juntamente com concepções filosóficas, utopias gerais e projetos históricos com 
pretensões totalizantes. A consequência é que tudo que é sólido parece se 
dissolver no ar e que a humanidade caminha sobre areia movediça.21 
 No que diz respeito à Maçonaria, algumas questões podem ser 
levantadas. Que atitude ela deve adotar em relação à contemporaneidade? Deve 
se tornar um reduto de conservadorismo, resistindo às mudanças do tempo, ou 
deve estar em constante processo de construção, renovação e adaptação à pós-
modernidade? É o que será discutido a seguir. 
 
 
 
 
 
 
19 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001 
20 LYOTARD, Jean-François. O Pós-Moderno. 4.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993. p.24. 
21 Tudo que é Sólido Desmancha no Ar é a obra mais conhecida do autor estadunidense Marshall Berman, 
configurando-se numa história crítica da modernidade e contendo análises críticas de vários autores e 
suas épocas - desde o Fausto de Goethe, passando pelo 'Manifesto' de Marx e Engels e pelos poemas em 
prosa de Baudelaire. 
14 
 
© Mario Alencastro 

 
2.1 A condição pós-moderna 
 
 A condição pós-moderna22 materializa-se na necessidade de superação 
da modernidade, de seus valores e princípios. Grosso modo, é possível elencar 
alguns aspectos que caracterizam o pensamento pós-moderno: 
 
• As ideias tradicionais deixam de ser referências válidas (colapso das 
grandes narrativas e utopias). 
• Desencanto social em relação à religião, à política e à ciência. 
• Interesse pelo alternativo. 
• Subjetividade, multiculturalismo e pluralidade. 
 
 Cabe ressaltar que nem todos os autores optaram pelo termo “pós-
moderno”. Não obstante, apesar de usarem terminologias diferenciadas, não 
escapam de apresentar a época atual como marcada pela subjetividade e 
incertezas. A expressão “tempos hipermodernos”, por exemplo, é utilizada para 
definir uma época na qual, ocorre a intensificação do tripé da modernidade, ou 
seja, a exaltação do mercado, o individualismo e a escalada técnico-científica.23 
 O conceito de “modernidade líquida” também seria adequado para definir 
o tempo presente. A metáfora do “líquido” ou da fluidez serve para ilustrar o 
principal aspecto do estado dessas mudanças. Um líquido sofre constante 
mudança e não conserva sua forma por muito tempo. As formas de vida 
contemporânea se assemelham aos líquidos pela vulnerabilidade e fluidez, 
incapazes de manter a mesma identidade por muito tempo, o que reforça um 
estado temporário e frágil das relações sociais e dos laços humanos. Essas 
mudanças de perspectivas aconteceram em um ritmo intenso e vertiginoso a 
partir da segunda metade do século XX. Com as tecnologias, o tempo se 
 
22 Entende-se por Modernidade o período, influenciado pelo Iluminismo, em que o homem passa a se 
reconhecer como um ser autônomo, autossuficiente e universal, e a se mover pela crença de que, por 
meio da razão, se pode atuar sobre a natureza e a sociedade. Já a pós-modernidade teve início a partir 
dos anos de 1960. As raízes da discussão encontram-se na crise cultural que se faz sentir principalmente 
a partir do pós-guerra. O desencanto que se instala na cultura é acompanhado da crise de conceitos 
fundamentais ao pensamento moderno, tais como verdade, razão e progresso. Cf. CHEVITARESE, L. “As 
razões da pós-modernidade”. In: Análogos. Anais da I SAFPUC, Rio de janeiro: Boolink. 
23 Cf. LIPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004. 
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sobrepõe ao espaço. Podemos nos movimentar sem sair do lugar. O tempo 
líquido permite o instantâneo e o temporário.24 
 Se, no período que precedeu a pós-modernidade, que poderíamos 
intitular de “modernidade sólida”, os conceitos, ideias e estruturas sociais eram 
mais rígidos e inflexíveis e o mundo tinha mais certezas, o que conferia aos 
indivíduos uma certa estabilidade, apesar de sustentada por graus variados de 
autoritarismo, na modernidade líquida tudo se volatiza e passa-se a viver num 
“mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma 
imprevisível”.25 
 Outra abordagem interessante é a concepção de “sociedade de risco”, na 
qual se associa o processo de industrialização à produção de riscos, dado que, 
uma das principais consequências do desenvolvimento científico industrial é a 
exposição da humanidade a riscos e inúmeras modalidades de contaminação 
nunca observadas anteriormente, constituindo-se, portanto, em ameaças para 
os habitantes e para o meio ambiente. Tais riscos abrangem um amplo espectro 
que vai desde a instabilidade dos mercados às catástrofes ambientais e 
terrorismo. O problema é ainda maior porque os riscos gerados hoje não se 
limitam à população atual, uma vez que as gerações futuras também serão 
afetadas de forma até mais grave.26 
 
2.2 Desdobramentos 
 
 Apesar da dificuldade de se estabelecer marcos conceituais para explicar 
o momento presente, é possível identificar alguns desdobramentos significativos 
e que acarretarão em impacto nas atividades maçônicas. Um primeiro ponto a 
ser discutido é o niilismo. 
 Para se entender o niilismo, cabe recorrer ao filósofo Friedrich Nietzsche, 
quando ele, na voz do seu homem louco, teria anunciado a “morte de Deus”. 
 
[...] Para onde foi Deus? gritou ele, já lhes direi! Nós o matamos –, 
vocês e eu. Somos todos os seus assassinos! [...] O mais forte e mais 
sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos 
 
24 Cf. BAUMAN, op. cit. p.9 
25 BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 
2004. p. 7 
26 Cf. BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade.São Paulo: Ed. 34, 2011. 
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punhais – quem nos limpará deste sangue? Com que água poderíamos 
nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos que 
inventar? A grandeza deste ato não é demasiado grande para nós? 
Não deveríamos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos 
dele?27 
 
 A metáfora da morte de Deus significa o enfraquecimento da tradição 
metafísico-teológica cristã e de todas as certezas que ela comportava. Também 
simboliza o vazio espiritual que marcou o homem ocidental desde o momento 
em que as referências tradicionais, os ideais suprassensíveis e os valores 
supremos foram suprimidos. A precariedade da vida moral e as incertezas 
axiológicas do homem contemporâneo têm, no niilismo, sua gênese. 
 O termo niilismo está associado à ausência de metas e com a falta de 
respostas à pergunta ‘para quê?’. Nietzsche concebeu o niilismo como uma 
espécie de inibição, de bloqueio ao ato de progredir, de lançar-se 
agressivamente à frente. Essa forma passiva de niilismo expressa o 
desdobramento da decadência quando a força do espírito humano se 
apresentou cansada e esgotada.28 
 Um individualismo exacerbado acompanha o niilismo. Com o 
enfraquecimento das grandes doutrinas totalizantes, dentre elas os princípios 
iluministas de emancipação humana, presentes no lema de Liberdade, Igualdade 
e Fraternidade, tão familiares aos maçons, prevalece o individualismo, a atitude 
que privilegia o indivíduo em relação à comunidade. 
 O que se tem é a depreciação do ideal de abnegação em prol da 
satisfação das aspirações imediatas, à paixão pelo ego, à felicidade intimista e 
materialista. Tal movimento não representa um triunfo da individualidade em face 
das restrições que lhe são impostas, mas, sim, da realização de indivíduos 
estranhos às disciplinas, às regras, aos constrangimentos diversos, às 
uniformizações. A característica do individualismo contemporâneo é o 
narcisismo e a explosão hedonista, muito mais que a conquista da liberdade. 
Privilegiam-se agora as escolhas privadas e individuais.29 
 
27 NIETZSCHE, Friedrich W. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Parte 125. p.147-148. 
28 GIACOIA Jr., Oswaldo. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000. p.64-65. 
29 LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Barueri, SP: 
Manole, 2005. p. xviii-xix. 
 
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 Com o um enfraquecimento das doutrinas e sistemas unitários, bem como 
dos grandes discursos de legitimação do real, o pensamento filosófico 
contemporâneo denuncia o fato de que as referências tradicionais estão 
desaparecendo e está difícil estabelecer quais seriam os fundamentos possíveis 
de uma teoria ética pertinente à realidade que ora se apresenta. Estão 
enfraquecidas as bases habituais que antes serviam de sustentação à filosofia 
moral. A crise dos fundamentos que caracterizam o universo contemporâneo, 
crise notória na ciência, na filosofia ou mesmo no direito, afeta particularmente o 
campo ético. 
 Assim, no que tange à ética, o que prevalece é o relativismo, segundo o 
qual não há princípios morais universalmente válidos, pois, os princípios morais 
são válidos segundo uma cultura ou segundo escolhas individuais; embora o 
comportamento moral acompanhe o ser humano desde os seus primórdios, a 
moral muda e se desenvolve com a mudança e o desenvolvimento das diversas 
sociedades concretas. Isso pode ser comprovado pela substituição de certas 
normas e princípios por outros, de certos valores morais e de certas virtudes por 
outras.30 
 Com a profusão de interpretações acerca do ato moral, confunde-se a 
consciência ética do indivíduo e, por conseguinte, com o modo como ele dá 
resposta à normatividade social. Desta forma, fica à cargo do Direito, na 
condição de que “representa apenas o mínimo de Moral declarado obrigatório 
para que a sociedade possa sobreviver”31 a organização do comportamento 
moral dos indivíduos na sociedade. Uma vez que, nem todos podem, ou querem 
realizar de forma espontânea as obrigações morais, situação que se agrava com 
o relativismo, torna-se “indispensável armar de força certos preceitos éticos, para 
que a sociedade não soçobre”32. Com isto tem-se a judicialização da ética. 
 Outro ponto de interesse é o que se pode chamar de império da 
tecnociência, o imenso desenvolvimento científico e tecnológico que exerce 
profunda influência na vida das pessoas. A respeito disso, é possível afirmar que 
“os desenvolvimentos da ciência, da técnica, da indústria, da economia, que 
 
30 VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. p.229 
31 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.42 
32 Ibid., p.42. 
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doravante propulsionam a nave espacial Terra, não são regulados nem pela 
política nem pela ética nem pelo pensamento”.33 
 Ressalte-se o fato de que, a ação humana tecnologicamente 
potencializada pode danificar irreversivelmente a natureza e o próprio homem. 
Surge assim uma nova dimensão para a responsabilidade, que seja capaz de 
interagir com essa nova ordem de grandeza, em termos de consequências 
futuras para a ação humana.34 
 Tudo conduz a uma crise socioambiental sem precedentes, uma situação 
que perdura desde as últimas décadas do século XX. Crise que afeta todos os 
aspectos da vida humana – saúde, relações sociais, economia, tecnologia e 
política. Uma crise de dimensões morais, intelectuais e espirituais, em tal escala 
que, pela primeira vez na história, a humanidade está sendo obrigada a se 
defrontar com a real ameaça de sua extinção e de toda a vida no planeta. 35 
 De fato, o desenvolvimento tecnológico e científico abriu possibilidades 
para um melhor conhecimento da natureza e melhores condições de vida 
humana, mas também está pondo em risco a sobrevivência da Terra, pois o 
avanço acelerado da sociedade urbana e industrial tem provocado graves 
impactos no meio ambiente. Os sinais de perigo são evidentes: a poluição do ar, 
das águas e do solo, o desmatamento, o agravamento do efeito estufa 
(aquecimento do planeta), a extinção de espécies da fauna e flora, as alterações 
climáticas, desertificação, chuva ácida, destruição da camada de ozônio e a 
escassez dos recursos hídricos, são apenas alguns exemplos de problemas 
contemporâneos, cuja solução exige grandes investimentos e mobilização em 
escala mundial. 
 É a concretização da Sociedade de Risco, na qual, “a geração mais 
tecnologicamente equipada da história humana, é aquela mais assombrada por 
sentimento de insegurança e desamparo”. 36 
 
33 MORIN, Edgar. Rumo ao abismo: ensaio sobre o destino da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil, 2001. p.7. 
34 JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de 
Janeiro: Contraponto : Ed. PUC-Rio, 2006. 
35 CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 
2012. p.21 
36 BAUMAN, Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2003.p. 132 
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 Ainda, quando se analisa os desdobramentos do pensamento pós-
moderno, há de se considerar a questão do consumismo desenfreado e seus 
impactos na vida em sociedade, o que é um fator de extrema preocupação para 
aqueles que trabalham em prol de uma sociedade mais justa e perfeita. 
 Os norte-americanos, por exemplo, consomem 88kg de recursos naturais 
por dia. Se todos vivessem assim, a Terra só comportaria 1/5 da população atual, 
o que per si, já mostra a insustentabilidade de um modelo econômico centrado 
no consumismo.37 
 O consumismoé um veículo de narcisismos, por meio dos seus estímulos 
estéticos, morais, sociais; e aparece como o grande fundamentalismo do nosso 
tempo, porque alcança e envolve toda gente. Por isso, o entendimento do que é 
o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, ambos fundados no 
mesmo sistema da ideologia.38 
 Interessante notar que mesmo dentre os integrantes da intelligentsia 
capitalista, já existem críticas ao consumismo exacerbado, que estimula o débito 
elevado do consumidor e conduz a uma economia cada vez mais impulsionada 
pelas finanças do que pelos produtos. Tal situação dá sustentação a um modelo 
que permite que os políticos e os interesses comerciais colaborem para 
subverter os interesses econômicos da maioria dos cidadãos.39 
 Não se pode esquecer o fato de que, o atual modelo de desenvolvimento 
(produção e consumo de massa) além de causar impactos irreversíveis ao 
ambiente e à saúde das pessoas, ainda não conseguiu propor soluções para a 
pobreza sempre persistente. Sabe-se que cerca de 5 bilhões das mais de 7 
bilhões de pessoas que habitam a Terra são pobres ou extremamente pobres. 
Passam fome, não têm acesso à e nem aos serviços de saúde.40 
 A Maçonaria, organização que historicamente sempre esteve atenta ao 
clima intelectual e cultural do mundo, o “espírito da época”, não deve se omitir 
 
37 Governo do Estado de São Paulo – Secretaria do Meio Ambiente. Cadernos de educação ambiental: 
consumo sustentável. Disponível em: <http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/cea/2014/11/10-CONSUMO-
SUSTENT%C3%81VEL.pdf>. Acesso em 28 mar 2018. 
38 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 11. ed. 
Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 49. 
39 KOTLER, Philip. Capitalismo em confronto: soluções reais para os problemas de um sistema 
econômico. Rio de Janeiro: Best Business, 2015.p.22-23. 
40 Ibid. p. 30-31. 
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diante de dos desafios trazidos pela pós-modernidade e nem evitar o embate 
que se apresenta entre a tradição e o pensamento pós-moderno. 
 
2.3 Maçonaria, tradição e contemporaneidade 
 
 A evasão maçônica, ou seja, a redução do número de maçons no mundo 
e a consequente diminuição de sua influência é um fato de que não pode passar 
desapercebido. Salvo algumas exceções, os números são preocupantes. A 
Grande Loja Unida da Inglaterra, talvez a potência maçônica mais antiga do 
mundo, que no século passado contava com cerca de 550 mil membros, 
atualmente conta com aproximadamente 220 mil maçons. Situação semelhante 
acontece nos Estados Unidos, a maior nação maçônica do mundo, que viu o 
número de maçons cair de 4.600 para 1.300 milhões.41 
 Poderíamos citar várias possíveis razões para esse “esvaziamento”, mas 
o que interessa no momento são suas possíveis relações com o mundo pós-
moderno, sempre a colocar em xeque as tradições. Aliás, e é bom ressaltar, não 
se trata de algo que acontece apenas no seio da Maçonaria, pois, as Igrejas na 
Europa estão passando pela mesma situação. 
 Segundo reportagem do The Wall Street Journal, por conta da 
secularização que se expande na Europa, muitas igrejas estão literalmente 
fechando as portas, muitas se transformando em museus, espaços culturais e 
até mesmo bares. A situação da Holanda é emblemática, pois, nos próximos dez 
anos, cerca de 65% das igrejas do país vão ser desativadas por falta de fiéis. A 
Igreja Católica terá de fechar as portas de mil templos e a protestante, 700. A 
Igreja da Inglaterra fecha cerca de 20 igrejas por ano. Quase 200 igrejas 
dinamarquesas foram consideradas inviáveis ou subutilizadas. Já a Igreja 
Católica Romana na Alemanha fechou cerca de 515 igrejas nos últimos dez 
anos.42 
 A crise de valores das sociedades pós-modernas na qual prevalecem o 
relativismo moral e a desconfiança em relação a tudo que diz respeito à tradição, 
 
41 Cf. MORAIS, op. cit., p. 69-73. 
42 BENDAVID, Naftali. Europa coloca suas igrejas vazias à venda. The Wall Street Journal. Jan. 7, 2015. 
Disponível em: <https://www.wsj.com/articles/europa-coloca-suas-igrejas-vazias-a-venda-
1420607030>. Acesso em 28 mar 2018. 
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assim como o advento de indivíduos que têm dificuldades em assumir 
compromissos e que fazem do consumismo e do imediatismo o objetivo de suas 
vidas, podem ser fatores determinantes para esse cenário tão desanimador. 
 Diante dos riscos que ora se apresentam à tradição qual o caminho a ser 
seguido? Caberá “a cada maçom, isolada ou coletivamente, manter os ‘freios’ 
impostos pela tradição”43 ou “torna-se evidente a necessidade da ordem 
maçônica reavaliar seu projeto existencial, adaptando-o velozmente às 
condições naturais da vida moderna”? 44 
 Trata-se de uma encruzilhada. Entretanto, enfrentar dificuldades e 
encontrar soluções não é novidade para a Maçonaria, pois sempre fizeram parte 
da história da organização. A manutenção da integridade da Maçonaria, bem 
como de seu protagonismo no mundo, são desafios que vêm sendo vencidos 
desde antes de 1717, ano da fundação da Grande Loja de Londres e 
Westminster. 
 Mudanças são necessárias para que a Maçonaria jamais perca seu 
caráter de instituição progressista. No entanto, não se pode perder de vista de 
que nem todo arcaísmo é um mal em si, muito menos que toda novidade sempre 
represente um progresso. O momento exige ousadia, mas também prudência. 
Prudência, grego phronésis e do latim prudentia, é a sabedoria na deliberação, 
decisão e ação. É ela que determinará o que é necessário escolher e o que é 
necessário evitar.45 
 
 
 
43 CAMINO, R. da. A maçonaria e o terceiro milênio: objetos e objetivos da maçonaria. São Paulo: 
Madras, 2005. p. 16. 
44 TRAUTWEIN, B. Novos rumos à maçonaria. Londrina: Ed. Maçônica “A Trolha”, 1999. p. 32 
45 Sobre o conceito de Prudência (phronesis) ver JAPIASSÚ, Hílton; MARCONDES, Danilo. Dicionário 
básico de filosofia. Rio e Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. p. 193. 
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Capítulo 3 – A vida em Loja 
 
 Por tudo que foi apresentado até agora, uma pergunta se faz obrigatória: 
“Como tornar a Maçonaria mais interessante para os seus membros, como levá-
los a preferirem os trabalhos em Loja, num mundo cheio de novas atrações, 
Internet, cinema, desporto de massas?”.46 
 Está aí mais um grande desafio, do qual nenhum maçom pode se eximir. 
Reuniões burocráticas, repetitivas e sem conteúdo, quase sempre omissas em 
relação a temas relevantes e que dizem respeito à atualidade, podem contribuir 
para a desmotivação em relação aos trabalhos em Loja. Da mesma forma, 
posturas autoritárias e dogmatismos de toda natureza, assim como problemas 
de relacionamento interpessoal contribuem para o esvaziamento das oficinas 
maçônicas. Antes de discutirmos esses fatores, cabe compreender o 
significado do termo “Loja”. 
 
3.1 A Loja 
 
 Presente dos termos neolatinos loggia (italiano), loge (francês), logia 
(espanhol), lodge (inglês) e loja (português), deriva do latim locus – lugar, local, 
sítio, posição. A palavra Loja tem relação com as guildas medievais, sendo que, 
num documento de 1292, a palavra foi utilizada para designar o local de trabalho, 
ou a oficina dos artesãos. Também pode ser entendida como o alojamento 
destes. Seria o local onde os pedreiros guardavam suas ferramentas de trabalho, 
faziam suas reuniões e descansavam e, principalmente, estreitavam seus laços 
de fraternidade.47 
 A Loja sem dúvida alguma é um agregado sociológico, um grupamento de 
pessoas que se unem a partir de elementos compartilhados, ideias em comum 
e visões semelhantes a respeito do mundo. Agregados sociológicos ou 
 
46 OLIVEIRA, Cipriano. Maçonaria: passado, presentee futuro. Londrina: Ed. Maçônica “A Trolha”, 2011. 
p.47. 
47 Em Maçonaria, Loja é reunião de maçons, enquanto que o Templo é o local onde são realizadas as 
sessões maçônicas. Sobre o conceito de Loja ver CASTELLANI, José. Dicionário de termos maçônicos. 
2.ed. Londrina: Editora Maçônica “A TROLHA”, 1995. p. 10102-103. Ver também CASTRO FILHO, Plínio 
Barroso de. Dicionário enciclopédico maçônico do Rito Escocês Antigo e Aceito. 10 ed. Curitiba: Eureka 
Editora, 2014. p. 275. 
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organizações sociais existem desde o momento em que o ser humano passou a 
viver em sociedade. Têm como características a presença de indivíduos que 
possuem objetivos, interesses e valores compartilhados. Geralmente são 
estabelecidos em busca de determinadas finalidades como, por exemplo, 
estudar ou discutir certos temas ou simplesmente compartilhar experiências. 
 Desta forma, é lícito inferir que a Loja também funciona como uma 
Comunidade de Prática, visto que seus membros se unem em torno de tópicos 
e interesses comuns a todos. Numa Comunidade de Prática os indivíduos 
trabalham juntos com o objetivo de encontrar meios de melhorar o que fazem, 
com base no aprendizado diário e por meio da interação regular. 
 Grosso modo, uma Comunidade de Prática se constrói sobre as seguintes 
bases: (a) “empreendimento conjunto”, no qual são traçados objetivos comuns, 
acordos entre os membros, responsabilidades e ritmos; (b) “engajamento 
mútuo”, o que envolve os relacionamentos, as ações conjuntas e a manutenção 
da comunidade e; (c) “repertório compartilhado” que são os elementos históricos, 
as ferramentas, os discursos, eventos e conceitos que dão corpo à 
comunidade.48 
 A Loja também é uma família, pois, “ao reunir homens de segmentos 
distintos, recriando-os como irmãos, a instituição maçônica pode reinventar, 
simbolicamente e em escalas menores, uma família”49 Este conceito de família 
aparece com muita força no Salmo 133, presente em muitos ritos maçônicos. 
 
Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. 
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a 
barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. 
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de 
Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.50 
 
Na essência a Loja deveria ser um centro de união no qual se desenvolve 
um verdadeiro e puro sentimento, e que se cultiva a liberdade individual, a 
fraternidade universal, a igualdade de direitos, a solidariedade e a lealdade.51 
 
48 Sobre as Comunidades de Prática ver WENGER, E. Communities of practice: learning, meaning and 
identity. 18. ed. Cambridge: University Press, 2008. 
49 KOFES, Suely. Dilemas na maçonaria contemporânea: um experimento antropológico. Campinas: 
Editora Unicamp, 2015. p. 85. 
50 BÍBLIA, A. T. Salmos. In BÍBLIA. Português. Estudando a Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 
588. 
51 PETERS, Ambrósio. Maçonaria, história e filosofia. 2.ed. Curitiba: Academia Paranaense de Letras 
Maçônicas: Grande Oriente do Estado do Paraná, 1999. p. 39 
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Mas nem sempre é assim, visto que fatores comportamentais muitas vezes 
comprometem a harmonia da Loja. 
 
3.2 Comportamento em Loja 
 
 Uma pesquisa realizada em 2017 pela Grande Loja Maçônica do Distrito 
Federal (GLMDF) acerca de causas de evasões, concluiu que os conflitos 
interpessoais (desavenças e desentendimentos com, ou entre, outros maçons) 
foi a principal causa, representando 26,3% do universo. A frustração quando 
membros não podem expressar suas ideias ou têm suas opiniões desvalorizadas 
também é um forte fator (10,5%).52 
 Certamente os elementos identificados pela GLMDF estão presentes em 
outros orientes e, possivelmente, em quase todas as Lojas. Fatores 
comportamentais são determinantes quanto à permanência dos irmãos em Loja. 
O fato é que, quando duas ou mais pessoas estão juntas sempre há a 
possibilidade de conflito. Um conflito mal resolvido poder trazer consequências 
nefastas para a Loja. 
 Viver com os outros nem sempre é coisa fácil. A existência, dentro de um 
grupo social – e a Maçonaria não foge desta realidade – é feita de laços de 
amizade, de simpatia ou mesmo de antipatia. Isso pode reforçar a coesão do 
grupo ou destruir sua eficácia. Infelizmente um número muito expressivo de 
pessoas ainda não entendeu que existe um bem comum a defender e do qual 
elas dependem para o bem-estar próprio e o de seus semelhantes. 
 Quando se fala em relações humanas, é muito importante saber identificar 
o efeito que as atitudes e comportamentos individuais causam no ambiente e 
nos outros. Pessoas “de mal com a vida” geralmente não serão bons integrantes 
de uma comunidade. É necessário, portando, buscar o entendimento das 
atitudes negativas a fim de eliminá-las e aumentar a eficiência no contato com 
os irmãos em Loja. 
 Toda pessoa que vive em coletividade está sujeita a interagir com outras, 
portadoras das mais diversas características individuais, consequentes de suas 
experiências de vida; em outras palavras, cada indivíduo carrega consigo uma 
 
52 MORAIS, op. cit., p. 92 
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“bagagem” de experiências que utilizam para reagir de forma diferenciada diante 
de determinada situação. 
 Existem indivíduos que, por características pessoais, são naturalmente 
agressivos. São do tipo que falam alto e muito sensíveis às críticas. Também 
existem os calados, os falantes, os indecisos, os ocupados e os meticulosos. 
Outro tipo interessante é o “sabe tudo”, vaidoso e que faz questão de mostrar 
seus conhecimentos ou a sua inteligência a todos. Seu oposto é o dependente, 
inseguro e que usa a queixa como meio de defesa. 
 Conheça seus irmãos, identifique suas características e necessidades 
comuns e se adapte a essas pessoas para melhor atendê-las, o que 
consequentemente melhorará seu desempenho profissional. Respeito aos 
outros nunca é demais e controlar a agressividade é sempre um bom remédio 
para se evitar aborrecimentos. Numa discussão cogitar que o outro pode ter 
razão e que tudo pode girar em torno de pontos de vista diferentes, mas não 
irreconciliáveis. A regra de ouro cabe bem aqui: “jamais fazer aos outros o que 
não gostaríamos que fizessem conosco”. 
 Para se evitar conflitos é importante desenvolver em Loja um ambiente 
aberto aos debates, com liberdade de comunicação e igualdade de tratamento. 
A dialética deve prevalecer e a convivência deve se construir com foco no que 
se tem em comum e não nas diferenças sejam elas religiosas ou políticas. O 
posicionamento individual de cada irmão deve ser respeitado.53 
 Em suma, há de se cultivar a competência comunicativa, a igualdade de 
chance no emprego da fala por todos os participantes do discurso, no qual todos 
tenham o direito de proceder a interpretações, fazer asserções, pedir 
explicações e detalhamentos sobre as proposições. A tônica está na capacidade 
para expressar ideias, intenções e intuições pessoais, sempre com base na 
democratização das informações.54 
 A Maçonaria se distingue das outras sociedades, por conta da filosofia 
embutida no seu lema universal – liberdade, igualdade, fraternidade. Em outras 
palavras, só há verdadeira fraternidade em uma comunidade quando todos se 
sentem iguais; só há igualdade quando no convívio, os indivíduos minimizam 
 
53Cf. ISMAIL, op. cit., p.164 e PETTERS, op. cit, p. 219 
54 Sobre a competência comunicativa ver HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. 
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conscientemente parte suas condições sociais de qualquer natureza; e, só há 
verdadeira liberdade, quando todos podem decidir seus própriosdestinos sem 
imposições de qualquer espécie.55 
 Nesse ponto, nunca é demais recordar Voltaire para quem a “tolerância é 
a consequência necessária da percepção de que somos pessoas falíveis: errar 
é humano, e estamos o tempo todo cometendo erros”. 
 Não poderíamos encerrar esta seção, sem mencionar as 
responsabilidades de quem governa a Loja, em especial o Venerável Mestre e 
os Vigilantes. Como deveriam se comportar? Talvez os dez passos elencados a 
seguir possam ajudar. 
 
1. Respeitar o ser humano e crer nas suas possibilidades que são 
imensas; 
2. Confiar no grupo, mais do que em si mesmo; 
3. Evitar críticas a qualquer pessoa em público, procurando elogiar, 
diante do grupo, os aspectos positivos de cada um; 
4. Estar sempre dando o exemplo, em vez de ficar criticando o tempo 
todo; 
5. Evitar dar ordens, procurando a cooperação de cada um; 
6. Dar a cada um o seu lugar, levando em consideração os seus 
gostos, interesses e aptidões pessoais; 
7. Evitar tomar, mesmo de maneira provisória, a iniciativa de uma 
responsabilidade que pertença a outrem, mesmo pensando que 
faria melhor; no caso de chefes que lhe são subordinados, evitar 
passar por cima deles. 
8. Consultar os membros do grupo antes de tomar uma resolução 
importante, que envolva interesses comuns; 
9. Antes de agir, explicar aos membros do grupo o que vai fazer e 
porque; 
10. Evitar tomar parte nas discussões, quanto presidir uma reunião; 
guardar neutralidade absoluta, fazendo registrar, imparcialmente, 
as decisões do grupo. 56 
 
 Por fim, cabe destacar a importância dos padrinhos, pois são 
responsáveis por aqueles que foram apresentados, principalmente enquanto são 
aprendizes, orientando-o no que diz respeito aos bons costumes maçônicos e à 
conduta correta em Loja. 
 
 
 
 
55 PETERS, op. cit., p. 212. 
56 WEIL, Pierre. Relações humanas na família e no trabalho. 44.ed. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 75. 
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3.3 Organização dos trabalhos 
 
 A organização dos trabalhos é um fator fundamental para o sucesso de 
uma Loja e é sempre bom enfatizar que “nenhum irmão deveria sair de uma 
assembleia sem ter aprendido algo culturalmente novo”.57 
 Sabe-se que grande parte das evasões acontece por conta de reuniões 
cansativas e sem conteúdo e isto parece ser um tema recorrente na Maçonaria 
brasileira. 58 No congresso promovido pela Academia Maçônica de Letras, cujo 
tema foi “Panorama Atual da Maçonaria no Mundo”, realizado no Rio de Janeiro 
em 1981, já se discutia essa importante questão.59 
 Algumas inciativas podem ser incentivadas para contornar esse problema, 
tais como, implantação de bibliotecas, incentivo a movimentos culturais em Loja, 
incluir nas Sessões a discussão de temas atuais e emergentes, promoção de 
reuniões “brancas”, incentivo às Lojas de Estudo e, acima de tudo, evitar o 
isolamento com o estímulo a intervisitação. 
 No que diz respeito às Lojas de Estudo, cabe destacar as Lojas 
Acadêmicas ou Universitárias, que foram concebidas com o objetivo de 
modernização da Maçonaria e rejuvenescimento de seus quadros. Atualmente 
existem Lojas Universitárias atuantes em todas as Obediências Maçônicas 
Regulares do Brasil. 
 Embora regidas pelas mesmas leis que regulamentam qualquer Loja 
Maçônica, têm como propósito privilegiar a iniciação de universitários, 
professores e demais candidatos ligados à área acadêmica. Espera-se que, 
além do desejado rejuvenescimento da Ordem, que se obtenha benefícios com 
o ingresso do maçom universitário, no sentido da promoção da busca de um 
conhecimento metodologicamente mais aprofundado e com a base científica 
necessária para a consolidação do ensino maçônico. 
 Além disso, as Lojas Universitárias buscam adequar seus horários e 
atividades à vida acadêmica do obreiro, buscando condições de horário, local e 
frequência que possibilitem a conciliação das atividades da Maçonaria com as 
 
57 PETERS, op. cit., p. 213. 
58 Sobre as causas das evasões ver MORAIS, op. cit., p. 92-93. 
59 Cf. Anais do I Congresso Internacional de História e Geografia. Rio de Janeiro: Academia Brasileira 
Maçônica de Letras, 1981. 
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de estudante ou professor, o que sem dúvida contribui para a permanência do 
maçom na Loja.60 
 Além do que já foi apontado, é desejável também que a Loja tenha um 
Planejamento, que os Vigilantes estejam preparados para orientar os aprendizes 
e companheiros e que sempre os critérios de seleção dos candidatos sejam 
rigorosos, visto que uma boa seleção garante uma safra de bons obreiros. 
 
3.4 A prática ritualística 
 
 A dominação de todas as coisas por meios técnicos, pela ciência e pelo 
cálculo, fez com que de certo modo ocorresse uma espécie de 
“desencantamento do mundo”, a descrença em relação aos poderes mágicos e 
misteriosos que poderiam agir e interferir no mundo. Este fenômeno de 
“dessacralização da vida” se agravou com o advento da pós-modernidade que 
nos trouxe a decomposição dos grandes relatos ao anunciar o fim das certezas 
e das instituições (estado, família, religião etc.).61 
 Nesse contexto, como fica o trabalho maçônico em seu método ritualístico 
e iniciático? Antes de se procurar uma resposta, é importante retomarmos o 
conceito de Maçonaria, tal como apresentado por Albert Pike: 
 
A Maçonaria é uma ciência especulativa, mas baseada na arte 
operativa. Todos os seus símbolos e alegorias se referem a esta 
ligação. Sua verdadeira linguagem é emprestada da arte, e sugere 
singularmente que a iniciação de um candidato em seus mistérios é 
chamada, em sua fraseologia peculiar, de obra.62 
 
 Se a Maçonaria é sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por 
símbolos, como sobrevirá num mundo desencantado? Talvez pelo fato de que 
seu método seja o que há de mais atual em termos de desenvolvimento pessoal 
e social. 
 
60 Cf. GALDEANO, L. F. As lojas universitárias e a modernização da Maçonaria. Um estudo no GOB na 
Primeira Década do Século XXI. C&M. Brasília, Vol. 1, n.2, p. 125-136, jul/dez, 2013. Disponível em: 
<http://cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem/article/viewFile/17/15>. Acesso em: 31 mar 2018. 
61 Sobre o “desencantamento do mundo” ver WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 5.ed. Rio de Janeiro: 
Livros Técnicos e Científicos Editora, 1982. 
62 PIKE, Albert G. O simbolismo da Maçonaria. v.2. São Paulo: Universo dos Livros, 2008. p. 89. 
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 Na Maçonaria são usadas, há séculos, fórmulas recentemente 
descobertas pelas ciências modernas: a dinâmica de grupo, os sociodramas 
modelizados e a projeção simbólica. São práticas descondicionantes e 
melhoradoras, que auxiliam seus membros a se tornarem seres humanos mais 
tolerantes e moralmente responsáveis. Sem dúvida suas práticas são um 
antídoto muito indicado para um certo desenvolvimento patológico da sociedade 
atual.63 
 A representação dramática (dramatização) e suas qualidades catárticas 
(método psicodramático) foram descobertas na antiguidade. Por meio desse 
método, exploram-se vivencialmente os modos de ser próprios dos homens, 
suas condutas, a maneira como eles se relacionam com os demais, suas paixões 
e seus valores.64 
 Os ensinamentos na Maçonaria são revelados por símbolos e 
sensibilizados num ritual. A partir da observação dos símbolos tem-se acesso a 
uma “cosmologia” – esquema de conceitos e relações que tratam o Cosmo como 
um todo ordenado e um “desenho para viver” – o ser humano pode ser 
construído e/ou transformado pela posse de um conhecimento superior e ação 
virtuosa.65 
 O que vem a ser um símbolo? Do grego symbolon (σύμβολον), designa 
um tipo de signo em que o significante (realidade concreta) representa algo 
abstrato (religiões, nações, quantidadesde tempo ou matéria etc.). Os símbolos 
são susceptíveis de revelar uma modalidade do real ou uma estrutura do mundo 
que não é evidente no plano da experiência imediata. 
 A forma visível e exterior do signo, seja ela uma taça ou uma cruz, é 
apenas um foco de atenção que capacita o adorador [no caso dos símbolos 
religiosos] a entrar em contato psíquico com a força espiritual anima e dá sentido 
aquele símbolo. A imagem pictórica, a forma, é apenas um canal para uma 
realidade transcendente.66 
 A Maçonaria é uma ciência especulativa, mas que tem por base a arte 
operativa. Seus símbolos e alegorias se referem a esta ligação. O esquadro, o 
 
63 GALVÃO, Octaviano. In: CASTELLANI, José. A Maçonaria moderna. 2ª ed. São Paulo: A Gazeta 
Maçônica, 1987. p. 11. 
64 Cf. MENEGAZZO, Carlos M. Magia, mito e psicodrama. São Paulo: Ágora, 1994. P. 90-91 
65 KOFES, op. cit., p. 218. 
66 FORTUNE, Dion. Magia aplicada. São Paulo: Editora Pensamento, 1988. p. 27-28. 
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compasso, o maço, o cinzel e tantos outros objetos da arte da construção 
assumem no maçom especulativo um caráter simbólico e revelador. Aqui cabe 
um adendo, pois é provável que, mesmo entre os maçons operativos, já existisse 
algo de especial nesses objetos, pois, para os antigos, o trabalho era sagrado. 
Quando trabalhavam na construção de uma catedral também estavam se 
construindo, tornando-se trabalhadores e homens melhores.67 
 O método iniciático é essencialmente intuitivo. Trata-se de uma linguagem 
tradicional, imemorial e universal que permite o estabelecimento através do 
tempo e do espaço, da relação adequada entre o sinal e as ideias. Decorre daí 
o fato de que a Maçonaria se utiliza de símbolos a fim de provocar a iluminação 
por aproximação analógica. A plasticidade dos símbolos supera a limitação da 
linguagem em exprimir a totalidade do objeto. Por esse motivo, é difícil traduzir 
os símbolos maçônicos em linguagem usual sem lhes falsear o sentido profundo 
e o valor. Oriundos da tradição religiosa, do hermetismo e das ferramentas e dos 
usos e costumes dos maçons operativos, a simbologia maçônica não se constitui 
apenas em objetos, mas também em gestos, sinais palavras, lendas e 
parábolas.68 
 O método iniciático vale-se do simbolismo e de práticas ritualísticas. A 
palavra rito tem sua origem no latim ritus, um costume ou cerimônia que se 
repete de forma invariável de acordo com um conjunto de normas previamente 
estabelecidas. São carregados de simbolismo e geralmente tendem a expressar 
o conteúdo de algum mito. Ritual seria a celebração de um rito, via de regra, 
conduzido por alguma autoridade. 
 Os ritos são de extrema importância para o ser humano. O homem profano 
descende do homo religiosus. Os comportamentos de seus antepassados 
religiosos fazem parte da sua constituição, tal como ele é hoje. De certo ponto 
de vista, quase se poderia dizer que, entre os modernos que se proclamam a-
religiosos, a religião e a mitologia estão "ocultas” nas profundezas de seu 
inconsciente69. O homem moderno (a-religioso) carrega ainda toda uma 
 
67 Usa-se o termo hierofania para designar a existência do sagrado quando se manifesta através de 
objetos habituais do nosso cosmos. A sacralização da natureza ou os objetos sagrados. 
68 NAUDON, Paul. A Maçonaria. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968. p, 97-98 
69 Genericamente, o termo inconsciente define todos aqueles processos mentais que ocorrem sem que o 
indivíduo se dê conta. Sem que tenha consciência sobre eles. Para Freud, muito do que forma a 
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mitologia camuflada e numerosos ritualismos degradados. Os festejos de Ano 
Novo ou a instalação numa casa nova apresentam a estrutura (laicizada) de um 
ritual de renovação. O mesmo pode se dizer das festas que acompanham um 
casamento, o nascimento de uma criança e a obtenção de um novo emprego.70 
 Num sentido mais profundo, e aqui se inclui a ritualística maçônica, é pela 
repetição dos rituais que o homem se projeta para uma época mítica, em que os 
“arquétipos” foram revelados pela primeira vez. Arquétipo é uma imagem 
apriorística incrustrada profundamente no inconsciente coletivo71 da 
humanidade, refletindo-se em diversos aspectos da vida humana como sonhos 
e narrativas. São os elementos constitutivos dos mitos, imagens universais que 
existiram desde os tempos mais remotos, como a morte do herói e a criação do 
mundo. 
 Quando realizado em toda sua plenitude o ritual permite, pela sua 
repetição, a abolição do tempo profano. Abandona-se por assim dizer a ditadura 
de Chronos, o tempo linear cuja metáfora é o relógio, para se penetrar em Kairós, 
o tempo da pura existência do ser e dos valores. Os símbolos e gestos presentes 
no ritual agem como se fossem catalizadores de sentimentos de seus 
praticantes, proporcionando ao maçom, não apenas um avanço educativo e 
moral, mas também um reforço psicológico, por meio do mito trabalhado pelo 
grupo. 
 A iniciação é exemplo de ritual arquetípico. Suas origens provavelmente 
remontam à Caldéia, ao Egito e à Grécia, aos mistérios de Elêusis e aos 
mistérios órficos-pitagóricos, nascidos dos mistérios egípcios, sendo que sua 
finalidade sempre foi preparar o advento da Perfeição. Iniciar-se, era aprender a 
morrer simbolicamente, alçar-se ao estado de pureza, de conhecimento e de 
plenitude absoluta. A iniciação comportava diversos graus; o iniciado que parecia 
 
consciência (desejos, lembranças, etc.) é inconsciente e escapam à própria consciência. Cf. JAPIASSU; 
MARCONTES, op. cit. p. 131-132. 
70 Sobre a ligação entre o homem profano e homo religiosus ver ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. 
São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 162-165. 
71 Inconsciente Coletivo, segundo o conceito de psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl 
Gustav Jung, é a camada mais profunda da psiquê. Ele é constituído pelos materiais que foram herdados, 
e é nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres 
humanos. Cf. JUNG, Carl Gustav. Símbolos e interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. 
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conservar o mesmo corpo, a mesma alma, obtinha, na realidade, em cada grau 
iniciatório, a regeneração de uma parte do ser.72 
 Desde a mais remota antiguidade ela consiste essencialmente numa 
mudança do regime ontológico do neófito. Em outras palavras, a iniciação 
representa uma experiência transpessoal possibilitada pela integração do 
indivíduo na sua dimensão humana e cósmica. O neófito “morre” para sua vida 
infantil, profana, não regenerada e renasce para uma nova existência, na qual, 
em que, na condição de iniciado, poderá ter acesso a um conhecimento 
superior.73 
 Jamais podemos esquecer também que a iniciação é uma metáfora para 
a vida, pois toda a existência humana se constitui de uma série de provas, a 
experiência reiterada da "morte" e da “ressureição". A própria existência humana 
é uma iniciação. 
 O segredo maçônico, tão cercado de mistérios, pode se traduzir na 
experiência interior que o processo iniciático proporciona; algo que é impossível 
de se dar a conhecer, pois que é uma experiência única e subjetiva. O processo 
iniciático consiste na busca da reintegração do homem em sua essência, ao 
mesmo tempo pelo intelecto e pelo coração.74 
Mesmo para os Maçons operativos a iniciação no conhecimento do ofício 
era ao mesmo tempo a iniciação na lei divina pois o trabalho profissional era uma 
forma de serviço a Deus. 
 Diante de tudo isso, como deveríamos nos comportar numa Sessão 
Ritualítica? Em primeiro lugar devemos ter pelo Templo uma postura de respeito 
absoluto. O templo é o espaço sagrado, uma “imago mundi”, a reprodução 
terrestrede um modelo transcendente, uma concepção do Templo como cópia 
de um arquétipo celeste, possivelmente herdada da tradição judaico-cristã.75 
 Ao se reconhecer seu caráter sagrado, jamais deveríamos adentrar no 
Templo sem o devido respeito e preparo. Isso envolve a indumentária correta, a 
limpeza corporal e mental, o desligar-se das coisas profanas e o despir-se das 
 
72 NAUDON, op. cit., p. 86-87. 
73 ELIADE, op. cit., p. 157 
74 NAUDON, op. cit., p. 100. 
75 ELIADE, op.cit., p.32. 
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desavenças pessoais. Conversas frívolas, brincadeiras e anedotas de gosto 
duvidoso também deveriam ser evitadas. 
 O ritual precisa ser conduzido com a máxima concentração, pois tem por 
finalidade a concretização da passagem de um estado de consciência para outro, 
do profano ao sagrado. No ritual, cada oficial é um ator que deve ter como meta 
transmitir as mensagens da melhor forma possível. A representação de gestos, 
a presença de música e a observação dos símbolos conduz o obreiro a uma 
temporalidade diferente da profana (Chronos versus Kairós). A atenção ao ritual 
permite a abstração das paixões e preocupações do mundo exterior.76 
 O ritual não envelhece, mesmo que seja muito bem conhecido e 
executado na mesma sequência. A repetição faz parte do processo e, apesar da 
formatação ser sempre igual, os resultados são inesperados e proporcionam ao 
participante insights e percepções sempre novas. Quando executado e forma 
apropriada, o ritual maçônico não cansa e sim renova as energias. 77 
 
 
76 Cf. CHABOUD, Jack. Les francs-maçons. Toulouse: Éditions Milan, 2012. p. 26. 
77 JINARAJADASA, C. Os ideais da Maçonaria. Curitiba: CEDITEO, 1987. p. 28-29. 
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Capítulo 4 – Interfaces, novos discursos, desafios e perspectivas 
 
 A superexposição nas redes sociais que afeta indivíduos e organizações, 
a multiplicidade de narrativas nem sempre condizentes com a realidade dos 
fatos, a intensa troca de informações “em tempo real” e a gigantesca e quase 
irrestrita disponibilização de conteúdos na Internet, são desafios a serem 
enfrentados por organizações tradicionais como a Maçonaria. 
 Como garantir sua perenidade neste mundo pós-moderno, sem abrir mão 
de seus princípios e se manter fiel à máxima “Novae sed Antiquae”. Trata-se de 
um momento crucial na trajetória da Maçonaria, no qual alguns temas 
espinhosos precisam ser abordados sem preconceitos, pois, não há como traçar 
o cenário contemporâneo da Maçonaria sem abordar, por exemplo, as 
discussões que envolvem igualdade de gênero, as restrições aos portadores de 
deficiência física, as relações interinstitucionais e a universalidade maçônica. 
 
4.1 Universalidade maçônica 
 
 A estrutura da Maçonaria, depende de uma organização local (as Lojas), 
mas tem a universalidade como ideal e horizonte. Ao mesmo tempo que se dá a 
expansão das redes maçônicas pela criação de novas Lojas, seu caráter 
universal é garantido pela preservação e circulação de sua cosmologia, ou seja, 
a cultura e o conhecimento maçônico, mantidos e atualizados nos e pelos rituais. 
 A Maçonaria, portanto, pretende a universalidade. “Ela é universal e suas 
oficinas se espalham por todos os recantos da Terra, sem preocupação de 
fronteiras nem de raças” como rezam alguns rituais. Mas será que é assim 
mesmo? 
 No Brasil atualmente existem três Obediências que se inserem no que se 
poderia considerar “Obediências Regulares”: o Grande Oriente do Brasil, as 
Grandes Lojas Estaduais que compõem a Confederação da Maçonaria 
Simbólica do Brasil (CMSB) e os Grandes Orientes Independentes, integrantes 
da Confederação Maçônica do Brasil (COMAB). 
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 Não obstante a hegemonia das Lojas integrantes das Obediências 
Regulares, existe um número expressivo de Lojas irregulares em atividade no 
território brasileiro, o que põe em questão o tão propalado ideal de universidade 
da Maçonaria. É um tema conflituoso, mas que merece uma reflexão serena por 
parte de todos os maçons que propugnam em prol dos ideais de liberdade, 
igualdade e fraternidade. 
 Outro ponto complicado é a questão do reconhecimento internacional, 
discutível em termos de alcance e validade. Qual o verdadeiro alcance de se ter 
o reconhecimento da Grande Loja da Inglaterra (GLUI), ou constar do List of 
Lodges americano?78 
 Para muitos maçons, uma obediência regular é apenas aquela que tem o 
reconhecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, a Grande Loja Mãe do 
Mundo. Tal assertiva merece uma análise mais cuidadosa. 
 A primeira Grande Loja foi a Grande Loja de Londres e Westminster 
fundada em 1717 e não a Grande Loja Unida da Inglaterra. Nesse ponto cabe 
relembrar a celeuma envolvendo “antigos” e “modernos”79, que só teve fim em 
1813, quando houve o entendimento entre as duas facções da Maçonaria Inglesa 
que se fundiram para formar a Grande Loja Unida da Inglaterra. Sob esse viés, 
o Grande Oriente de França, fundado em 1773, ou seja, 40 anos antes do que a 
GLUI, também poderia se autoproclamar o primaz da Maçonaria do mundo.80 
 Há de se concluir, portanto, que a primazia da GLUI pode ser questionada, 
e “nem lhe confere a condição de se autojulgar o arbitro da regularidade de todas 
as outras potências, cujos efeitos práticos só fazem sentido dentro dos limites de 
sua própria jurisdição” 81, faltando-lhe inclusive o poder de sanção, e sem este 
poder não há autoridade.82 
 
78 O List of Lodges é uma publicação anual da Pantagraph Printing Stationery Company, e é uma 
importante referência da Maçonaria regular enquanto fonte de consulta. A condição para uma Grande 
Loja aparecer no diretório List of Lodges é o reconhecimento por dez (10) Grandes Lojas regulares dos 
Estados Unidos da América. Fonte: <http://www.pantagraphprinting.com/2017LoL.html> 
79 A disputa entre “Modernos” e “Antigos” é uma disputa fundamental da maçonaria Inglesa. 
Classicamente, ela é enunciada assim: até 1750, a Maçonaria Inglesa esteve unida e uniforme. Em 1751, 
maçons irlandeses que viviam em Londres e afeitos aos usos e costumes herdados dos operativos, 
passaram a questionar as inovações da Grande Loja de Londres e Westminster e fundaram a “Grande Loja 
dos Antigos”. A partir daí, a outra grande loja, passou a ser chamada de “Grande Loja dos Modernos”. 
80 MUNIZ, André Otávio Assis. Curso elementar de maçonologia. São Paulo: Richard Veiga, 2016. p. 49-
50 
81 PETERS, op. cit., p. 45. 
82 Ibid., p. 121-122. 
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 Feito esse adendo, qual seria a regra a ser seguida no que diz respeito a 
um poder maçônico superior? 
A GLUI, que tem um pouco mais de 200 mil maçons é a regra? A 
primeira sempre manda? Aliás, ela é realmente a primeira? Ou será 
que os EUA, que possuem mais de 2,5 milhões de Maçons, seriam a 
regra? Aliás, a regra é sempre se balizar pelos outros? Isso não seria 
um tipo de “colonialismo”?83 
 
 A questão do reconhecimento envolve uma série de aspectos que fogem 
ao objetivo do presente trabalho. Há de se considerar sempre que existem Lojas 
que seguem as regras de origem e funcionamento, mas que, ao se 
desvincularem das obediências regulares tornam irregulares, enfraquecendo a 
Maçonaria brasileira. Outro aspecto a se destacar é que talvez a Maçonaria 
considerada regular está perdendo espaço no mundo, como será discutido 
adiante. 
 A relação conflituosa entre as potências maçônicas, fator determinante 
para desentendimentos e cisões, é preocupante, pois quebra a universalidade 
da Maçonaria. Seja por diferenças de ordem filosófica, ritualística, organizacional 
ou política, a quebra da unidade maçônica enfraquece a organização com um 
todo. 
 
4.2 O grande “Cisma” 
 
 Tema pouco explorado pelos estudiosos

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