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O materialismo histórico e o Direito sociologia2sem

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O materialismo histórico e o Direito
Se a interferência criadora do econômico, não somente sobre o direito como sobre os demais fenômenos culturais, é um dado incontrastável de toda a história humana, o período contemporâneo dessa história, a idade do capitalismo, o mundo cultural do homem burguês, é a época em que tal interferência se acentua de modo inédito, e, mesmo, incomparável.
Para Karl Marx e Friedrich Engels, criadores do materialismo histórico, o econômico era a mola mestra da história, todos os demais fenômenos culturais não passando de simples reflexos superestruturais das forças genéticas armazenadas palas relações econômicas de produção, verdadeiro deus ex machina do movimento dialético da historia. 
No famoso prefácio á sua Critica da economia politica, Marx nos ensina que os homens travam em sociedade relações necessárias e independentes de sua vontade. Que tais relações são as de produção solidarias do grau de desenvolvimento social, e, em seu conjunto, essas relações que formam a infra-estrutura econômica da sociedade, constituem a base real sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica, politica e ideológica, assim admitindo que o modo de vida econômico, o estilo de produção de bens, condiciona toda a vida social política e intelectual das sociedades. 
Foram transformações nessas relações de produção que determinaram a saída da humanidade de um período edênico que Marx identifica com o comunismo primitivo, e semelhantes transformações deram lugar a outras passagens do escravagismo paro o feudalismo, e deste para o capitalismo.
Esse, o esquema da filosofia da história do marxismo, que combina o primado do econômico com a filosofia dialética de Hegel, compondo, assim, um materialismo dialético em que as teses e antíteses são representadas pelas forças criadoras da produção – as classes sociais – e as sínteses são determinadas pela superação dos diversos sistemas sociais e políticos, que entre si aparecem também engrenados num jogo dialético em que o comunismo primitivo seria a tese, as sociedades de classe – escravagismo (tese), feudalismo (antítese), capitalismo (síntese) – seriam a antítese, e o comunismo evoluído, a síntese final.
Qual o papel que representa o direito nessa grandiosa visão da história? 
Assim como o Estado, as ideologias e a propriedade privada dos meios de produção, o direito surge quando a antiga comunidade do comunismo primitivo biparte-se em senhores e escravos, como um modo de regulamentar a exploração daqueles sobre esses.
Os marxistas, porem, divergem nesse ponto, uns negando ao direito qualquer razão de sobrevivência logo que alcançada a síntese final do comunismo evoluído, outros, menos radicais, admitindo que o direito teria ainda um papel como regulamentador da conduta, mesmo na sociedade comunista do futuro, embora purificado de seu anterior mister servil de instrumento da dominação de uma classe sobre outra.
Paschukanis representa entre os juristas soviéticos essa doutrina ortodoxa, quando, quando prevê a substituição do direito pela administração, logo que seja alcançado o novo período comunista. O adverso destino politico que a União Soviética reservou a Paschukanis vem revelar que as dificuldades de anulação do direito num país que se diz em marcha para o comunismo vieram dar por terra com a interpretação ortodoxa das inter-relações de economia e direito, a geometria do sistema sendo sacrificada aos imperativos dos fatos e da práxis.
Em 1988, foi promulgada a Constituição, um referencial histórico, pois marca o fim do período de transição, inaugurando o período de consolidação da democracia na sociedade brasileira. De fato, a leitura desse documento permite verificar que ele representou um avanço em relação aos direitos e garantias individuais e sociais para a sociedade brasileira. Segundo a Constituição, são objetivos fundamentais da República: construir uma sociedade livre, justa e igualitária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem-estar de rodos, sem preconceitos de origem de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Os usos do direito: a concepção de Karl Marx e Friedrich Eligels
O Estado capitalista e o direito
Para falarmos sobre as concepções de Marx a respeito do Direito e das suas instituições, bem como a respeito da punição e do crime, precisamos manter em mente as bases de sua Sociologia. 
O MANIFESTO COMUNISTA, KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS
 Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Ela despedaçou sem piedade todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais", para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as cruéis exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média, tão admirada pela reação, encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que pode realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais góticas: conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as cruzadas.
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes Centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relações à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural.
A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A consequência necessária dessas transformações foi a centralização política.
O CAPITAL, KARL MARX
Compreende-se, assim, a importância decisiva da metamorfose do valor e do preço da força de trabalho em salário ou em valor e preço do próprio trabalho. Nessa forma aparente que torna invisível a verdadeira relação e ostenta o oposto dela, repousam todas as noções jurídicas do assalariado e do capitalista, todas as mistificações do modo capitalista de produção, todas as suas ilusões de liberdade, todos os embustes apologéticos da economia vulgar.
A troca entre capital e trabalho apresenta-se de inicio à percepção como absolutamente igual à compra e venda das outras mercadorias. O comprador dá determinada quantia em dinheiro, o vendedor um artigo diferente de dinheiro. A consciência jurídica reconhece ai no máximo uma diferença material que não altera a equivalência das fórmulas: Dou para que dês, dou para que faças, faço para que dês, faço para que faças (do ut des, do ut facias, facio ut des, facio ut facias).
Além disso, sendo valor-de-troca e valor-de-uso magnitudes intrinsecamente incomensuráveis, a expressão "valor do trabalho", "preço do trabalho", não parece ser mais irracional do que a expressão "valo do algodão", "preço do algodão". Acresce que o trabalhador é pago, depois de ter fornecido seu trabalho. Em sua função de meio de pagamento, o dinheiro realiza subsequentemente o valor ou o preço do artigo fornecido e, no caso considerado, o valor ou o preço do trabalho fornecido. Finalmente, o valor-de-uso que o trabalhador fornece ao capitalista, não é na realidade sua força de trabalho, mas a função dela, determinado trabalho útil, como o do alfaiate, do sapateiro, do tecelão etc. Que o mesmo trabalho, encarado sob outro aspecto é um elemento universal formador de valor, propriedade que o distingue de todas as outras mercadorias,é um fato que não está ao alcance da consciência costumeira.
A forma aparente, "valor e preço do trabalho" ou "salário" , em contraste com a relação essencial que ela dissimula, valor e o preço da força de trabalho, podemos aplicar o que é válido para todas as formas aparentes e seu fundo oculto, As primeiras aparecem direta e espontaneamente como formas correntes de pensamento; o segundo s6 é descoberto pela ciência. A economia política clássica avizinhou-se da essência do fenômeno, sem, entretanto, formulá-Ia conscientemente. E isto não lhe é possível enquanto não se despojar de sua pele burguesa.
Se o salário por hora for fixado de modo que o capitalista não se obrigue a pagar o salário de um dia ou de uma semana, mas apenas as horas de trabalho em que lhe apraz ocupar o trabalhador, poderá ele empregá-Io por espaço de tempo inferior ao que serviu originalmente de base para circular o salário por hora ou a unidade de medida do preço do trabalho. Sendo essa unidade de medida determinada pela proporção.
Valor diário da força de trabalho: jornada de trabalho com determinado número de horas. Perde ela naturalmente qualquer sentido quando deixa de contar determinado número de horas. Rompe-se a conexão entre o trabalho pago e o não pago.
Valor diário da força de trabalho: jornada de trabalho. Aumenta, o numerador aumenta mais rapidamente ainda. O valor da força de trabalho, o qual depende do desgaste dela, aumenta com a duração do funcionamento dessa força, e em proporção mais rápida do que o acréscimo da duração desse funcionamento. 
Nessas circunstâncias, o crescimento absoluto dessa parte do proletariado exige que seus elementos aumentem com velocidade maior que aquela em que são consumidos. Rápida substituição por tanto das gerações de trabalhadores (a mesma lei não se aplica às outras classes da população). Esta necessidade social é satisfeita por meio de casamentos prematuros, consequência necessária das condições em que vivem os trabalhadores da grande indústria, e pelos prêmios que a exploração das crianças proporciona à sua procriação.
A terceira categoria de superpopulação relativa, a estagnada, constitui parte do exército de trabalhadores em ação, mas com ocupação totalmente irregular. Ela proporciona ao capital reservatório inesgotável de força de trabalho disponível. Sua condição de vida se situa abaixo do nível médio normal da classe trabalhadora e justamente isso torna-a base ampla de ramos especiais de exploração do capital. Duração máxima de trabalho e mínimo de salário caracterizam sua existência. Conhecemos já sua configuração principal sob o nome de trabalho a domicilio.
São continuamente recrutados para suas fileiras os que se tornam supérfluos na grande indústria e na agricultura e notadamente nos ramos de atividade em decadência, nos quais o artesanato é destruído pela manufatura ou esta pela indústria mecânica. A superpopulação estagnada se amplia á medida que o incremento e a energia da acumulação aumentam o número dos trabalhadores supérfluos. Ela se reproduz e se perpetua, e é o componente da classe trabalhadora que tem, no crescimento global dela, uma participação relativamente maior que a dos demais componentes. Na realidade, a quantidade de nascimentos e óbitos e o tamanho absoluto das famílias está na razão inversa do nível de salário e, portanto, da quantidade de meios de subsistência de que dispõem as diversas categorias de trabalhadores. Esta lei da sociedade capitalista não se encontra entre selvagens, nem entre colonos civilizados. Lembra a reprodução em massa de espécies animais cujos indivíduos são débeis e constantemente perseguidos.
Graças ao progresso da produtividade do trabalho social, quantidade sempre crescente de meios de produção pode ser mobilizada com um dispêndio progressivamente menor de força humana. Este enunciado é uma lei na sociedade capitalista onde o instrumental de trabalho emprega o trabalhador e não este o instrumental. Esta lei se transmuta na seguinte: quanto maior a produtividade do trabalho, tanto maior a pressão dos trabalhadores sobre os meios de emprego tanto mais precária, portanto, sua condição de existência, a saber, a venda da própria força para aumentar a riqueza alheia ou a expansão do capital. O crescimento dos meios de produção e da produtividade do trabalho, mais rápido que o crescimento da população produtiva, expressa-se, de maneira inversa, na sociedade capitalista. Nesta, a população trabalhadora aumenta sempre mais rapidamente do que as condições em que o capital pode empregar os acréscimos dessa população para expandir-se.
Só conhecendo as leis econômicas conseguimos descobrir a conexão íntima entre os tormentos da fome das camadas trabalhadoras mais laboriosas e a dilapidação dos ricos, grosseira ou refinada, baseada na acumulação capitalista. Já a situação habitacional é fácil de entender. Qualquer observador desprevenido percebe que, quanto maior a centralização dos meios de produção, tanto maior o amontoamento correspondente de trabalhadores no mesmo espaço e, portanto, quanto mais rápida a acumulação capitalista, tanto mais miseráveis as habitações dos trabalhadores. Os "melhoramentos" urbanos que acompanham o progresso da riqueza, a demolição de quarteirões mal construídos, a construção de palácios para bancos, lojas etc, o alargamento das ruas para o tráfego comercial e para as carruagens de luxo, o estabelecimento de linhas para bondes etc, - desalojam evidentemente os pobres, expulsando-os para refúgios cada vez piores e mais abarrotados de gente. Além disso, rodo mundo sabe que a carestia do espaço para morar está na razão inversa da qualidade da habitação e que os especuladores imobiliários exploram as minas da miséria com menos despesas e mais lucros que os obtidos em qualquer Tempo com a lavra das minas de Potosi. O caráter antagônico da acumulação capitalista e, consequentemente, das relações capitalistas de propriedade tornam-se aqui tão palpáveis que até os relatórios oficiais ingleses sobre esse assunto estão cheios de investidas heterodoxas à propriedade e a seus direitos.
Não basta que haja, de um lado, condições de trabalho sob a forma de capital, e, do outro, seres humanos que nada têm para vender além de sua força de trabalho. Tampouco basta forçá-Ios a se venderem livremente. Ao progredir a produção capitalista, desenvolve-se uma classe trabalhadora que por educação, tradição e costume aceita as exigências daquele modo de produção como leis naturais evidentes. A organização do processo de produção capitalista, em seu pleno desenvolvimento, quebra toda resistência, a produção contínua de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da procura de trabalho e, portanto, o salário em harmonia com as necessidades de expansão do capital, e a coação surda das relações econômicas consolida o domínio do capitalista sobre o trabalhador. Ainda se empregará a violência direta, à margem das leis econômicas, mas doravante apenas em caráter excepcional. Para a marcha ordinária das coisas basta deixar o trabalhador entregue às "leis naturais da produção", isto é, à sua dependência do Capital, a qual decorre das próprias condições de produção, e é assegurada e perpetuada por essas condições. Mas, as coisas corriam de modo diverso durante a . gênese histórica da produção capitalista. A burguesia nascente precisava e empregava a força do estado, para "regular" o salário, isto é, cornprimi-lo dentro dos limites convenientes à produção de mais valia, para prolongar a jornada de trabalho e para manter o próprio trabalhador num grau adequado de dependência. Temos aí um fator fundamental da chamada acumulação primitiva. 
Foi estabelecida uma tarifa legal de salários para a cidade e para o campo, para trabalho por peça por dia. Os trabalhadores rurais deviam alugar-se por ano, os da cidade "no mercado livre". Proibiu-se, sob pena de prisão, pagar salários acima dos legais, e quem os recebesse era punido mais severamente do que quem os pagasse. Assim, o Estatuto dos Aprendizes de Elizaberh, nas seções18 e 19,impunha 10 dias de cadeia a quem pagasse salário acima dos legais, e 21 dias a quem os recebesse. Uma lei de 1360 tornou as penas mais severas e autorizava o patrão a recorrer à coação física, para obter o trabalho de acordo com a tarifa legal. Foram declarados nulos de pleno direito todas as, combinações, contratos, juramentos etc. pelos quais pedreiros e carpinteiros estabelecessem normas comuns obrigatórias para o exercício de suas profissões. A coligação de trabalhadores é considerada crime grave, desde o século XIV até 1825, ano em que foram abolidas as leis contra a coligação ou associação dos trabalhadores. O espírito do Estatuto dos: Trabalhadores de'1349 e de seus rebentos posteriores se patenteia na circunstância de o estado ditar um máximo para os salários, mas nunca um mínimo.
 Conforme sabemos, piorou muito a situação do trabalhador no século XVIII. Subiu muito o salário el11 dinheiro, mas não proporcionalmente à depreciação deste e à correspondente elevação dos preços das mercadorias. O salário real portanto caiu. Não obstante, continuaram em vigor as leis destinadas a rebaixa-lo, juntamente com as punições de cortar orelhas e de ferretear, aplicadas àqueles "que ninguém queira tomar a seu serviço". O Estatuto dos Aprendizes de Elizabeth (lei nO3 do ano 5 do seu reinado) autorizava os juízes de paz a fixar certos salários e modificá-Ios de acordo com as estações do ano e os preços das mercadorias. Jaime I estendeu essa disposição aos tecelões, fiandeiros e a todas as categorias possíveis de trabalhadores, Jorge II submeteu todas as manufaturas às leis contra a coligação de trabalhadores.
Na Inglaterra, o pomo de partida das transformações que culminam com o aparecimento da figura do arrendatário capitalista, seu germe mais primitivo, é o bailiff, ainda servo. Sua posição é análoga à do villicus da velha Roma, embora com uma esfera menor de atribuições. Durante a segunda metade do século XIV; é substituído por um colono a quem o landlord fornece sementes, gado e instrumentos agrícolas. Sua situação não é muito diferente da do camponês. Apenas explora mais trabalho assalariado. Logo se torna parceiro, um tipo que se parece mais com o verdadeiro arrendatário. O parceiro fornece uma parte do capital, o landlord a outra. Ambos dividem o produto total em proporção contratualmente estabelecida. Essa forma desaparece rapidamente na Inglaterra, para dar lugar ao arrendatário propriamente dito, que procura expandir seu próprio capital empregando trabalhadores assalariados e entrega ao landlord uma parte do produto excedente, em dinheiro ou em produtos, como renda da terra.
No século xv. Enquanto o camponês independente e, ao seu lado o trabalhador do campo trabalhando para si mesmo e por salário se enriquecem com seu labor, a situação do arrendatário e sua escala de produção permanecem num nível monotonamente modesto. Mas, a revolução agrícola do último terço daquele século, que prossegue por todo o século XVI com exceção de suas últimas décadas, enriqueceu o arrendatário com a mesma rapidez com que empobreceu a população rural. A usurpação das pastagens comuns etc. permitiu-lhe aumentar muito seu gado quase sem despesas, ao mesmo tempo que o gado lhe fornecia maior quantidade de adubos para o cultivo da terra.

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