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Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 1 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Recidivas de Varizes José Manuel da Silva Silvestre INTRODUÇÃO A recidiva de varizes após tratamento cirúrgico constitui-se num problema muito frequente na prática diária do angiologista e do cirurgião vascular. Cerca de 20 a 30% de todas as cirurgias realizadas para tratamento das varizes de membros inferiores são para correção de varizes recidivadas.1 Um diagnóstico preciso dos territórios venosos acometidos pela doença varicosa e consequentemente um bom resultado do tratamento cirúrgico, assu mem importância ainda maior quando tratamos de varizes recidivadas, pois as expectativas de que o novo tratamento seja definitivo são muito grandes, tanto por parte do paciente como do médico. O conceito de varizes recidivadas é difícil de ser dado pois muitas vezes não sabemos dados do exame clínico na época da cirurgia anterior e nem exatamente qual cirurgia foi realizada. Genericamente, temos enquadrado como varizes recidivadas, a presença de varizes tronculares em membro inferior previamente submetido à cirurgia sobre as veias safenas magna e/ou parva. A incidência varia amplamente, desde 7% até 65%2 dependendo dos critérios que se utilizam em cada estudo e provavelmente pela dificuldade em se acompanhar um grupo de pacientes já submetidos à safenectomia por período prolongado de tempo. Suas causas são diversas e controversas, variando desde erros técnicos na realização de cirurgia, até o reaparecimento de varizes em decorrência do caráter evolutivo da doença. Entre as causas pré- operatórias devemos citar, o diagnóstico imperfeito deixando de detectar todos os pontos de refluxo do sistema venoso profundo para o superficial e os erros de indicação, como pode ocorrer nos casos de varizes secundárias, seja como sequela de trombose venosa profunda ou consequente à fístula artério- venosa, congênita ou adquirida.3,4,5 Já entre as causas operatórias, devemos comentar as anomalias anatômicas, entre as quais a duplicação da veia safena magna com um componente superficial e outro profundo, e a terminação variável da veia safena parva.6,7 Entretanto, os erros técnicos são Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 2 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro ainda mais frequentes, e a ligadura baixa da croça da veia safena magna deixando tributárias intactas na junção safenofemoral constituem-se em causa muito frequente da recidiva.8 Recentemente, grande ênfase tem sido dada às recidivas que ocorrem na antiga junção safenofemoral mesmo em cirurgias realizadas com técnicas corretas.Tem-se demonstrado o desenvolvimento de neoformação vascular no tecido cicatricial que levaria ao reaparecimento das varizes a partir desse ponto.9,10 DIAGNÓSTICO A queixa mais comum, relatada pelo doente portador de varizes, tenham elas sido previamente operadas ou não, é a dor nos membros inferiores. As características mais pertinentes à dor provocada pela varizes, são a sua localização nas panturrilhas, principalmente ao final do dia, que melhoram com a elevação dos membros, e com maior intensidade nos dias quentes. É descrita comumente como sensação de peso, cansaço e / ou queimação. Essas características são importantes no diagnóstico diferencial de outras causas de dor, tendo em vista que as varizes são muito prevalentes e freqüentemente os doentes imputam às varizes, qualquer dor apresentada no membro inferior. Outras queixas muito comuns são as de ordem estética e a preocupação com as complicações. Além disso, referem prurido, formigamento, inchaço e cãibras. No interrogatório devemos questionar sobre dados da cirurgia anterior, tais como, o tempo, se foi realizada em regime de internação ou ambulatorial, se o paciente sabe informar sobre a retirada ou não de safenas. O reaparecimento precoce de varizes sugere erro técnico na cirurgia anterior, enquanto que as recidivas tardias irão nos fazer pensar em progressão da doença. Devemos questionar também sobre gestações que ocorreram após a primeira cirurgia, sobre quadros que surgiram sequela de trombose venosa profunda, sobre o uso de contraceptivos orais e sobre a profissão e ortostatismo. Propedêutica Clínica O paciente deve ser examinado em posição ortostática, em cima de um banco ou plataforma, em ambiente devidamente iluminado. Os dados de maior importância são obtidos através da inspeção, palpação e prova do triplo garrote, sendo que a percussão e a ausculta fornecem poucos dados. Quando examinamos um paciente com varizes de membros inferiores, devemos sempre ter em mente a pesquisa dos pontos de refluxo do sistema venoso profundo para o superficial e a verificação da possibilidade de tratar-se de varizes secundárias. Inspeção. Sempre deve incluir os membros inferiores e a parte inferior do abdome, pois a presença de varizes nessa localização irá identificar os casos de varizes secundárias à sequela de trombose venosa profunda no segmento ilíacocava (figura 1). Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 3 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 1 - Varizes na parede abdominal em paciente com oclusão crônica da veia cava inferior. Devemos observar a topografia dos trajetos venosos varicosos que nos orienta sobre a insuficiência no território da veia safena magna e/ou parva (figuras 2 e 3). A presença de complicações, como eczema, dermatoesclerose, hiperpigmentação, úlcera ou a sua cicatriz, nos fazem suspeitar da presença de veias perfurantes-comunicantes insuficientes (figura 4). Hemangiomas, hipertrofia de membro e varizes em localização anômala estão presentes na síndrome de Klippel -Trenaunay (figura 5). Figura 2 - Varizes recidivadas no território da veia safena magna. Figura 3 - Varizes na face posterior do joelho e perna em decorrência de insuficiência da veia safena parva. Figura 4 - Complicações da estase venosa crônica associadas às veias perfurantes – comunicantes insuficientes. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 4 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 5 - Varizes com úlcera na síndrome de Klippel – Trenaunay. A observação das cicatrizes cirúrgicas anteriores deve ser sempre realizada. As incisões abaixo da prega inguinal devem levantar a suspeita de falha técnica na ligadura da croça da veia safena magna (figura 6). Figura 6 - Incisão baixa na região inguinal em caso de recidiva na antiga junção safenofemoral. Palpação. Como em grande número de casos a veia safena magna já foi extirpada em procedimento cirúrgico prévio, a presença do impulso venoso retrógrado ou até mesmo de frêmito, dificilmente serão encontrados. Rotineiramente devemos examinar a região poplítea, solicitando que o paciente realize ligeira flexão do joelho para relaxar a musculatura e o achado de dilatação venosa na prega de flexão do joelho é muito sugestiva de insuficiência da veia safena parva (figura 7). Figura 7 - Palpação da fossa poplítea para pesquisa da insuficiência daveia safena parva. A pesquisa de veias perfurantes- comunicantes insuficientes deve ser feita na face medial, posterior e lateral da perna, bem como na face medial da coxa na transição entre o terço médio e o distal, locais estes onde essas veias normalmente se localizam (figura 8). Figura 8 - Palpação para pesquisa de veias perfurantes comunicantes. A suspeita clínica será feita quando da palpação de alargamentos ou defeitos na fáscia, tomando-se o cuidado de não se confundir com lagos venosos ou mesmo hérnias musculares, sendo estas mais comuns na face lateral e anterior da perna. Sempre cabe ressaltar a importância da palpação rotineira dos pulsos periféricos, cuja ausência dá o diagnóstico de obstrução arterial e muda a orientação terapêutica das varizes Teste dos garrotes Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 5 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Entre as inúmeras variações existentes deste teste, o que mais temos utilizado é o teste do triplo garrote. Inicialmente, promove-se o esvaziamento das veias superficiais varicosas com o paciente em decúbito dorsal elevando- se o membro inferior a 60º do plano horizontal. A seguir, garroteia-se o tornozelo para evitar o enchimento venoso anterógrado e o terço proximal da coxa e da perna para impedir o refluxo através das recidivas provenientes do terço superior da coxa (antiga junção safenofemoral e varizes perineais) e da veia safena parva, respectivamente (figura 9). Figura 9 - Teste do triplo garrote. Solicita-se então ao paciente para assumir a posição ortostática e libera -se primeiro o garrote da perna, observando-se o engurgitamento venoso ou não, para, a seguir, liberar-se o garrote da coxa. Nos casos em que, antes da liberação dos garrotes, observa -se varizes engurgitadas, deve-se ir repetindo a prova com colocação do garrote em posição sucessivamente mais distal até se atingir um ponto em que não se verifique mais o enchimento. Considera -se como tempo de enchimento normal um intervalo de até 30 segundos. Exames Complementares Apesar do exame clínico fornecer satisfatoriamente os dados necessários para o diagnóstico, é imprescindível em casos de recidiva de varizes a realização de métodos diagnósticos complementares. Doppler de ondas contínuas. Também conhecido como Doppler manual, é um método que pela sua simplicidade pode ser utilizado associado ao exame clínico inicial. Sua maior utilidade está na pesquisa de refluxo ao nível da antiga junção safenofemoral, onde apresenta boa sensibilidade e especificidade11 (figura 10). Já na avaliação da insuficiência da junção safenopoplítea, o método apresenta falhas, pois o fato de fornecer apenas a presença ou não de refluxo sem a identificação anatômica do vaso em exame (imagem), faz com que refluxos advindos do sistema venoso profundo (veia poplítea e veias musculares) sejam confundidos com insuficiência da veia safena parva (figura 11). Além disso, não permite a localização da terminação da veia safena parva que é muito variável e é um dado de extrema importância para a precisa correção cirúrgica da insuficiência dessa veia.12 Para a localização das veias perfurantes - comunicantes insuficientes deve-se utilizar um garrote, colocar a sonda onde existe a suspeita e comprimir proximalmente ao garrote (figura 12). A ausculta de refluxo indicará a presença da veia perfurante insuficiente. Em poucas situações temos utilizado o método, pois exige paciência e o gasto de muito tempo, sendo superado por outras técnicas que serão a seguir descritas. Figura 10 - Pesquisa de recidiva na antiga junção safenofemoral com o doppler de ondas contínuas. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 6 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 11 - Pesquisa de refluxo na fossa poplítea com o Doppler de ondas contínuas. Figura 12 - Pesquisa de veias perfurantes insuficientes com o doppler de ondas contínuas. Eco-Doppler Colorido (Duplex Scan). Na atualidade é o método de escolha para o estudo da recidiva de varizes, por ser um exame não invasivo e apresentar sensibilidade e especificidade semelhantes às da flebografia, método considerado padrão-ouro no estudo das doenças venosas, porém de uso mais restrito por ser invasivo.13 O método permite um estudo anatômico através do uso de sondas lineares de alta frequência (7,5 MHz ou 10 MHZ ) com modo B (imagem bidimensional) e também um estudo hemodinâmico, que se completa ao estudo anatômico, com o Doppler pulsado mais o mapeamento a cores. Dessa forma é possível construir-se o mapeamento completo (cartografia) do membro inferior com as anotações das localizações das varizes, das insuficiências das junções safenofemoral e safenopoplítea e dos locais da insuficiência das veias perfurantes-comunicantes14 (figura 13) Além disso, fornece o estudo do sistema venoso profundo, detectando obstrução e refluxo, orientando dessa maneira a realização de outros exames que permitam um estudo mais minucioso da hemodinâmica do retorno venoso.15 No estudo do terço proximal da coxa, local apontado pela maioria dos autores como principal causa da recidiva de varizes,10,16 o exame permite a detecção de varizes advindas da região pélvica e também a diferenciação entre um coto residual e o desenvolvimento de neovascularização na antiga junção safenofemoral (figuras 14 e 15). Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 7 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 13 - Cartografia do membro inferior obti da com o duplex scan mostrando os pontos de refluxo e a localização das varizes. Figura 14 - Eco-Doppler colorido na recidiva devido a coto residual nítido. Observe um grande vaso retilíneo em contato com a veia femoral comum. Figura 15 - Eco-Doppler colorido na recidiva devido à neovascularização. Observe vários vasos de pequeno calibre, tortuosos em comunicação com a veia femoral comum. A terminação da veia safena parva pode ser determinada com precisão, seja ela na veia poplítea, veia femoral superficial, em ramos musculares da coxa ou perna ou mesmo na veia safena magna (Figura 16). Com o duplex scan podemos marcar com precisão no pré- operatório, o local exato onde a veia perfurante atravessa a fáscia, facilitando a ligadura cirúrgica (figura 17). Figura 16 - Eco-Doppler colorido demonstrando insuficiência da veia safena parva com tributária ascendente. Figura 17 - Eco-Doppler colorido em caso de veia perfurante insuficiente. Observe o vaso com refluxo que atravessa a fáscia e comunica os sistemas venosos superficial e profundo. Pletismografia. É o estudo da variação do volume do membro estudado e parte do princípio de que esse volume é dependente do volume sanguíneo, uma vez que a massa muscular, ossos e ligamentos possuem volume constante. O método está indicado naqueles casos em que a história e o exame clínico sugerem tratar-se de varizes secundárias à alterações no sistema venoso profundo ou quando o ecodopler colorido demonstrar obstrução ou graus acentuados de refluxo no sistema venoso profundo. Entre os diversos tipos de pletismografia, a que tem sido mais utilizada é a pletismografia a ar.17 O paciente realiza uma série de manobras, ficando em pé paraque o sistema venoso fique repleto com o sangue proveniente dos capilares e do refluxo se presente e em seguida ele realiza o movimento de elevar-se nas pontas dos pés para ativar a bomba muscular da panturrilha. Utilizam-se também garrotes sobre o sistema venoso superficial para que se separem as alterações superficiais das profundas. O aparelho utiliza um manguito de plástico bem flexível que envolve toda a perna, como se um balão cheio de ar o abraçasse. Através do método pode-se avaliar a perviedade do sistema venoso profundo, sua função valvar e estudar também a bomba muscular da panturrilha. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 8 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Flebografia. Era até o início da década de 90, o método de escolha para o estudo anatômico do sistema venoso profundo e da pesquisa dos pontos de refluxo na recidiva de varizes. Pelo fato de ser invasiva e com o desenvolvimento do ecodoppler colorido, foi paulatinamente sendo substituida por este último método. A flebografia dinâmica ascendente apresenta superioridade ao exame clínico no diagnóstico da causa da recidiva de varizes18 e a flebografia descendente avalia com muita precisão a recidiva ao nível da junção safeno-femoral19 (figuras 18 e 19). No momento, suas indicações ficam restritas aos casos em que o ecodoppler deixa dúvidas, como por exemplo, na avaliação das veias ilíacas e da veia cava inferior, ou naqueles centros que não disponham do aparelho. Nas figuras 20 a 24, podemos observar algumas imagens flebográficas com pontos de refluxo. Figura 18 - Flebografia descendente demonstrando recidiva devido a coto residual nítido na junção safenofemoral. Figura 19 - Flebografia descendente demonstrando recidiva devido a neovascularização na junção safenofemoral. Figura 20 - Flebografia ascendente revelando recidiva devido a terminação anômala da veia safena parva e ligadura abaixo da junção safenopoplítea. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 9 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 21 - Flebografia ascendente mostrando terminação alta da veia safena parva. Figura 22 - Flebografia ascendente demonstrando recidiva na antiga junção safenopoplítea. Figura 23 - Flebografia ascendente com veia perfurante insuficiente na face medial da perna. Figura 24 - Flebografia demonstrando veia perfurante em face medial de coxa. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 10 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro TRATAMENTO O tratamento da recidiva de varizes é essencialmente cirúrgico, indicando-se o tratamento conservador apenas para aqueles pacientes que não apresentarem condições clínicas para a cirurgia. O tratamento visa, além da retirada das veias varicosas, a interrupção dos pontos de refluxo do sistema venoso profundo para o superficial determinados essencialmente pelo ecodoppler colorido e responsáveis pela recidiva. Baseados no exame clínico e no duplex scan, fazemos a marcação pré- operatória com o paciente em posição ortostática, em ambiente iluminado utilizando tinta indelével (figura 25). Figura 25 - Marcação pró-operatória de varizes em território de veia safena parva. No tratamento cirúrgico podemos subdividir a abordagem nos 3 pontos possíveis de refluxo: junção safenofemoral, veia safena parva e veias perfurantes-comunicantes. Junção safenofemoral. Como na maioria dos casos de recidiva de varizes, a junção safenofemoral já foi previamente tratada cirurgicamente, o correto seria nos referirmos a antiga junção safenofemoral. A incisão deve ser realizada na prega inguinal, como se fôssemos realizar a primeira cirurgia. A melhor forma de abordarmos a recidiva nesse ponto é através de um acesso lateral, através da artéria femoral comum, pois se formos fazer o acesso direto, com muita frequência encontraremos muitas veias na região e o sangramento ocorrerá com certeza, o que poderá levar a lesões iatrogênicas da veia e artéria femorais, no intuito de se coibir o sangramento (figura 26). Figura 26 - Acesso cirúrgico por via lateral através da artéria femoral comum. Outro detalhe de grande importância é que devemos dissecar a veia femoral comum, cerca de 2 cm acima e abaixo da antiga junção, principalmente se não encontrarmos um coto residual nítido. Dessa forma, iremos ligar veias com terminação anômala, além de pudenda externa e outras tributárias da região (figura 27). Figura 27 - Artéria e veia femorais comuns. Dissecção ampla da veia femoral comum. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 11 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Nas figuras 28 e 29 podemos observar a diferença entre um coto residual e um coto bem tratado, onde a recidiva se deveu ao desenvolvimento de neovascularização. Neste último caso o tecido cicatricial inicia-se junto à veia femoral. Figura 28 - Achado cirúrgico de um coto residual de veia safena magna. Figura 29 - Achado cirúrgico de recidiva em decorrência de neoformação vascular. A neoformação vascular é ainda um assunto controverso e as maneiras de se evitá -la ainda estão em estudo.20 Uma técnica proposta que ainda necessita de comprovações quanto a sua eficácia mas que temos realizado, é a cobertura do antigo coto com um retalho de fáscia pectínea, tentando isolar a região e assim diminuir a neovascularização (figuras 30 e 31). Figura 30 - Fáscia e músculo pectíneo, localizados medialmente à junção safenofemoral. Figura 31 - Retalho de fáscia pectínea que irá recobrir a junção safenofemoral. Veia safena parva. O tratamento cirúrgico da veia safena parva não traz maiores dificuldades desde que saibamos a sua terminação, dado este fornecido com precisão pelo ecodoppler colorido. Nas terminações que vão até 6 cm proximalmente à interlinha articular, a abordagem que fazemos é através de incisão transversal na prega poplítea onde se consegue um bom resultado estético e também um bom acesso, com ligadura de todas as tributárias. Uma manobra que facilita a abordagem da junção safenopoplítea é a flexão do joelho (figuras 32 e 33).A realização da safenectomia segue as orientações das varizes primárias. Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 12 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 32 - Incisão na prega poplítea e flexão do joelho no tratamento cirúrgico da veia safena parva. Figura 33 - Dissecção proximal da veia safena parva até a junção safenopoplítea com ligadura das tributárias. Nos casos de terminações acima de 6 cm há necessidade de incisões mais altas, preferencialmente transversas (figura 34). Se não tivermos pré-operatoriamente a altura dessa terminação, com certeza o coto ficaria mal ligado ou então teríamos que realizar incisões escalonadas (figura 35). Figura 34 - Incisão acima da prega poplítea para o tratamento das terminações altas da veia safena parva. Figura 35 -Incisões escalonadas em casos nos quais não se tem o diagnóstico pré-operatório de terminação alta da veia safena parva. Em casos mais complexos em que há necessidade de dissecção mais ampla da veia poplítea em casos já previamente operados, temos utilizado a incisão em “S” invertido (figura 36). Figura 36 - Incisão em “S” invertido utilizada para esqueletização da veia poplítea. Veias perfurantes-comunicantes insuficientes Temos indicado o tratamento cirúrgico apenas das veias perfurantes insuficientes que apresentem diâmetro superior a 4mm. Para a sua perfeita localização solicitamos ao ultra - sonografia que as marque no dia anterior com tinta indelével. Para o tratamento cirúrgico das veias perfurantes de perna utilizamos a abordagem direta desde que a pele não apresente alterações tróficas, sempre procurando realizar a ligadura em posição subfascial, após incisão transversal de 1 a 2 cm (figuras 37 e 38). Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 13 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 37 - Abordagem direta para ligadura de veia perfurante insuficiente em face lateral da perna. Figura 38 - Dissecção subfascial de veia perfurante insuficiente para posterior ligadura. Já nos casos com alterações tróficas (dermatofribose, hiperpigmentação) fazemos a ligadura subfascial geralmente pela face posterior da perna que costuma ter a pele conservada e permitirá uma boa cicatrização. Para redução do trauma cirúrgico, a incisão deve se restringir às veias perfurantes marcadas pré-operatoriamente (cirurgia de Felder modificada). Através dessa abordagem podemos realizar a ligadura das veias perfurantes tanto da face medial quanto da face lateral da perna (figura 39). Figura 39 - Ligadura subfascial de duas veias perfurantes em face medial da perna (cirurgia de Felder modificada). Recentemente, um método que tem se difundido é a ligadura subfascial por via endoscópica, também indicado para os casos de varizes com complicações tróficas.21 Através dessa técnica a incisão é realizada no terço superior da perna que geralmente apresenta-se em boas condições, reduzindo- se assim o traumatismo cirúrgico e consequentemente a dor e a infecção no pós- operatório (figura 40). Suas limitações são a necessidade de treinamento específico e a aquisição da aparelhagem. Figura 40 - Ligadura subfascial endoscópica. As veias perfurantes da face medial da coxa são de difícil tratamento pois necessitam de dissecção ampla para que sua ligadura seja junto à veia poplítea ou femoral superficial, porque frequentemente se ramificam em posição subfascial, o que predispõe a altas taxas de recidiva. A incisão que permite o melhor acesso é a longitudinal, porque segue o maior eixo dos troncos venosos. Entretanto, sua aparência estética é desfavorável e algumas vezes optamos pelas incisões transversais (figura 41). Figura 41 - Ligadura de veia perfurante da face medial da coxa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por sua freqüência a recidiva de varizes após tratamento cirúrgico constitui-se num problema na prática diária do angiologista e do cirurgião vascular. A atenção ao diagnóstico preciso dos territórios venosos acometidos pela doença varicosa e consequentemente um bom resultado do Recidivas de Varizes José Silvestre 16/05/2003 Página 14 de 15 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003.Disponivél em: URL: http://www. lava.med.br/livro tratamento cirúrgico, são fundamentais para que o novo tratamento seja definitivo. REFERÊNCIAS 1. Sheppard M. A procedure for the prevention of recurrent saphenofemoral incompetence. Aust N Z J Surg 1978;48(3):322-6. 2. Wali MA, Sheehan SJ, Colgan MP, Moore DJ, Shanik GD. Recurrent varicose veins. East Afr Med 1998;75(3):188-91. 3. Agus GB, Castelli P, Sarcina A. Varici recidive degli arti inferiori: patogenesi e indicazioni al trattamento chirúrgico. Min Cardioang 1982;30(1- 2):25-27. 4. Quiroli A. Stato attuale del problema delle recidive varicose postoperatorie degli arti inferiori. Revisione bibliografica ed esperienza personale. Min Chir 1984;39:35-40. 5. Silvestre JMS. Contribuição ao estudo do diagnóstico das varizes recidivadas de membros inferiores. São Paulo, 1986. (Tese – Mestrado - Escola Paulista de Medicina). 6. Darke SG. 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Sobre o autor: José Manuel da Silva Silvestre Professor Adjunto Londrina, Brasil Endereço para correspondência: Av. Bandeirante 901, sala 504. 86010-010 Londrina, PR Fone: +43 339 6347 +43 323 9982
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