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TEXTO 3 Percepcao

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O mundo secreto do inconsciente 
Ele ocupa a maior parte do cérebro e controla quase tudo o que fazemos. 
Mas a ciência já sabe como domá-lo e usar os poderes dele para várias 
coisas, de guardar senhas a fazer espionagem militar. Conheça as novas 
descobertas sobre o inconsciente - e veja como elas confirmam a principal 
teoria de Freud. 
 
 
 
Quando tinha pouco mais de cinquenta anos, o médico africano T.N. sofreu dois 
derrames cerebrais devastadores. Eles destruíram totalmente seu córtex visual, a região 
do cérebro que nos permite enxergar. T.N. ficou completa e irremediavelmente cego. 
Mas, ainda no hospital, um grupo de cientistas ingleses decidiu recrutá-lo para um 
estudo estranho. Colocaram um laptop na frente de T.N. e pediram a ele que 
identificasse qual figura aparecia na tela, que poderia ser um círculo ou um quadrado. O 
homem identificou corretamente 50% das figuras - o que é de se esperar num cego, pois 
esse índice de acerto é o mesmo que se consegue fazendo escolhas aleatoriamente. T.N. 
estava apenas chutando. Mas aí, num segundo teste, os pesquisadores trocaram as 
imagens exibidas no laptop. Agora, aparecia uma sequência de rostos, alguns amigáveis 
e outros hostis. T.N. deveria dizer se cada face era amiga ou inimiga. Para perplexidade 
geral, ele identificou corretamente dois terços dos rostos. Sorte? Os cientistas repetiram 
o teste, mas o índice de acerto se mantinha. T.N. estava tendo alguma reação aos rostos. 
Ele dizia que não estava vendo nada - e, clinicamente, de fato era impossível que 
enxergasse. Como explicar isso, então? Um fenômeno sobrenatural? Não. 
 
Ser capaz de ler expressões faciais é uma habilidade extremamente importante. Para o 
homem das cavernas, saber se um indivíduo era amistoso ou hostil poderia significar a 
diferença entre a vida e a morte. E era preciso fazer isso no ato; não dava tempo de 
conversar e analisar racionalmente a pessoa para saber se ela era boazinha ou não. Por 
isso, ao longo da evolução, uma região cerebral se especializou em julgar rostos. Ela se 
chama área fusiforme e é um pedaço fininho e comprido da parte de baixo do cérebro. 
Quando você vê uma pessoa pela primeira vez, sua área fusiforme analisa o rosto dela. 
O processo dura frações de segundo e é inconsciente, ou seja, você não percebe que está 
acontecendo. Sabe aquela primeira impressão instantânea, que parece puro instinto e 
sempre temos ao conhecer alguém? É um julgamento feito pela área fusiforme. 
 
No cérebro de T.N., esse pedaço estava intacto. O córtex dele não conseguia processar 
as imagens enviadas pelos olhos, mas a área fusiforme sim. É por isso que, mesmo 
estando cego, T.N. ainda conseguia ver rostos. Seu cérebro consciente não enxergava 
mais nada. Mas o inconsciente dele ainda conseguia ver - e, mais do que ver, julgar os 
rostos das pessoas. 
 
Há diversos casos como o de T.N., tantos que a ciência até criou um termo para 
designá-los: blindsight, ou visão cega. Todos seguem o mesmo padrão. 
Conscientemente, a pessoa está cega - mas partes do cérebro dela ainda conseguem 
enxergar. A visão cega é apenas uma das demonstrações do poder do inconsciente, que 
interessa cada vez mais aos cientistas. 
 
Agora, o lado oculto da mente não é apenas um assunto de psicanalistas; ele também 
virou uma das áreas mais interessantes da neurociência moderna. Essa transformação 
aconteceu porque as técnicas de mapeamento cerebral finalmente estão permitindo que 
os cientistas comecem a desbravar o inconsciente - um mundo inexplorado e muito 
maior que a consciência. 
 
Quão maior? No ano passado, a emissora inglesa BBC fez essa pergunta a sete dos 
maiores experts do mundo em cérebro e cognição, de quatro grandes universidades 
(Oxford, Montreal, Columbia e Londres). Cada um deles deu seu palpite - sim, palpite, 
pois a ciência ainda está longe de ter um catálogo completo dos processos cerebrais. 
Pelas estimativas dos especialistas, a consciência ocupa no máximo 5% do cérebro. 
Todo o resto, 95%, é o reino do inconsciente. 
 
CONSCIENTE X INCONSCIENTE 
Quando você vê um rosto pela primeira vez, o seu inconsciente decide, em frações de 
segundo, se aquela pessoa é amiga ou inimiga. É uma habilidade vital para a 
sobrevivência - e também permitiu que um homem totalmente cego voltasse a enxergar. 
 Muito do que você faz, o tempo inteiro, é inconsciente. Falar, por exemplo. Você 
simplesmente pensa no que quer dizer (as ideias), e não precisa selecionar 
conscientemente as palavras - elas simplesmente aparecem. Isso acontece porque o seu 
inconsciente trabalha nos bastidores durante o papo, vasculhando o seu vocabulário e 
abastecendo o consciente para ajudar você a se expressar. Enquanto você escuta outra 
pessoa falar, acontece algo parecido. Você não precisa analisar e decodificar 
conscientemente cada palavra do que ela está dizendo - porque o seu inconsciente se 
encarrega de transformar em ideias os sons que estão saindo da boca dela. Quando você 
lê um texto, é a mesma coisa: o inconsciente transforma automaticamente os símbolos 
gráficos (as letras e palavras) da página em ideias, que só então são transmitidas para a 
sua consciência. É por isso que é tão difícil aprender outro idioma. Quando você 
começa a falar ou ler textos em outra língua, só usa a consciência - porque o 
inconsciente ainda não assumiu a tarefa (mais sobre isso daqui a pouco), e você tem de 
escolher ou analisar as palavras uma por uma. "Falar outro idioma é quase experimentar 
ser outra pessoa. Precisamos reunir os sentidos usando outra lógica", diz Luiza 
Surreaux, doutora em estudos da linguagem e professora da Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul (UFRGS). 
 
O inconsciente se encarrega de tudo o que fazemos sem esforço perceptível, como andar 
na rua ou escovar os dentes. Por causa disso, ele opera em potência máxima o tempo 
todo - e é uma exceção no organismo. Se você se levantar e sair correndo, por exemplo, 
os seus músculos vão gastar aproximadamente 100 vezes mais energia do que se você 
estivesse imóvel (e coração e pulmão também serão mais exigidos). Mas o cérebro é 
diferente. Quando você faz alguma coisa mentalmente intensa, como jogar xadrez, ele 
gasta apenas 1% a mais de energia do que se você estivesse olhando para o teto, sem 
pensar em nada. Isso acontece graças ao inconsciente - que trabalha freneticamente até 
quando estamos relaxados. "O cérebro é abastecido pelos olhos, ouvidos e outros 
sentidos, e o inconsciente traduz tudo em imagens e palavras", diz o psicólogo e 
neurocientista Ran Hassin, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e um dos 
autores do livro The New Unconscious ("O novo inconsciente", ainda não lançado no 
Brasil). "Novo inconsciente", aliás, é o termo que os cientistas têm utilizado para definir 
essa nova abordagem - que propõe uma explicação puramente neurológica para o lado 
oculto da mente. Mas também confirma a principal ideia de Freud. 
LER X VER 
Enquanto lê este texto, você vê uma sequência de símbolos: as letras. Mas é o seu 
inconsciente que dá sentido a elas. 
 PSICANÁLISE X CIÊNCIA 
Sigmund Freud não foi o "descobridor" do inconsciente. Já durante o Iluminismo, no 
século 18, se discutia a existência dele - entendido como um pedaço da mente dotado de 
vontades que escapavam ao controle consciente. A contribuição específica (e enorme) 
de Freud foi transformar uma noção vaga num conjunto de ideias, teorias e técnicas: a 
psicanálise. Como explica o biógrafo Peter Gay em Freud - Uma Vida para Nosso 
Tempo (Companhia das Letras, 2012), Freud acreditava que o inconsciente era "uma 
prisão de segurança máxima" na qual os traumas sofridos na infância ficavam 
aprisionados, e nisso estaria a raizdas infelicidades humanas. 
 
A neurociência nunca deu muita bola para a psicanálise. Mas os novos estudos sobre 
inconsciente trazem comprovação para um conceito central dela. Uma experiência 
liderada pelo psiquiatra Eric Kandel, que ganhou o prêmio Nobel de Medicina de 2000 
por estudos sobre neurotransmissores, mostra como o inconsciente pode funcionar como 
amplificador das emoções. Antes da experiência, os voluntários preencheram 
questionários que mediam seus níveis de ansiedade. Depois, enquanto seu cérebro era 
monitorado pelos cientistas, cada voluntário via uma série de rostos com expressões de 
medo. Foram duas sessões. Na primeira, as fotos passavam bem devagar, com tempo 
suficiente para o voluntário analisar os detalhes de cada uma. Na segunda, as imagens 
passavam tão rápido que os voluntários não conseguiam identificar nada - não tinham 
nem certeza de ter visto um rosto ou qualquer outra coisa. A intenção de Kandel e seus 
colegas era provocar emoções conscientes e inconscientes. Quando a foto ficava por um 
bom tempo na tela, o voluntário tinha tempo de perceber conscientemente a expressão 
de medo da imagem. No outro experimento, era tudo tão rápido que não era possível ter 
uma reação consciente. Essas imagens rápidas estimulavam diretamente o inconsciente, 
e provocavam atividade muito alta no núcleo basolateral da amídala cerebral - área 
ligada às sensações de medo. Já as imagens lentas, que eram interpretadas de forma 
consciente, não geravam nenhuma atividade nessa área. Quanto mais ansiosa a pessoa 
era, maior a diferença entre a interpretação consciente e inconsciente da mesma coisa 
(as imagens). Para Kandel, o estudo é a comprovação neurocientífica de uma teoria 
central da psicanálise: a interpretação inconsciente de coisas negativas é a fonte de 
muitas das aflições humanas. Freud tinha razão. 
EXPERIÊNCIA X INFLUÊNCIA 
Você é o produto das situações que vive. Mas também sofre uma influência que vem de 
dentro - e é tão potente quanto elas. 
 O inconsciente pode ser fonte de angústias - e também de algumas injustiças, cujos 
efeitos são perceptíveis desde a infância. O queridinho do professor, provavelmente, 
será o aluno com as melhores notas da classe. Não porque ele seja necessariamente o 
melhor, mas porque os professores acreditam que seja - e acabam atuando 
inconscientemente a favor dele. Esse fenômeno, que se chama incentivo inconsciente, 
tem respaldo em diversos estudos científicos. Um dos mais engenhosos (e mais 
polêmicos também) foi conduzido na década de 1960 por Robert Rosenthal, hoje um 
octogenário professor de psicologia da Universidade da Califórnia. 
 
Na experiência, os alunos de uma escola americana foram submetidos a uma prova. 
Rosenthal e sua equipe disseram aos 18 educadores do colégio que se tratava de um 
teste especial, desenvolvido na Universidade Harvard para analisar o potencial de 
desenvolvimento de cada criança. Mentira. Era apenas um reles teste de QI, sem nada 
de especial. O objetivo da lorota era aumentar as expectativas dos professores. Os 
alunos fizeram a prova, e a grande sacada de Rosenthal veio na hora de anunciar o 
resultado. Antes mesmo de calcular a pontuação de cada aluno, os pesquisadores 
escolheram aleatoriamente três a seis crianças de cada série e disseram aos professores 
que aqueles alunos haviam se destacado e teriam um desempenho extraordinário nos 
anos seguintes. Era outra mentira. 
 
No final do ano escolar, a equipe de Rosenthal voltou à escola e repetiu o teste. Os 
alunos que haviam sido falsamente diagnosticados como gênios haviam ganho, em 
média, 3,8 pontos de QI a mais que os demais. O resultado foi ainda mais surpreendente 
entre alunos da primeira série: a diferença entre os ungidos e o resto foi de assombrosos 
15,4 pontos de QI a mais. Ou seja: as crianças que haviam sido apresentadas como mais 
inteligentes de fato se tornaram mais inteligentes - porque inconscientemente, sem 
querer, os professores haviam dado mais atenção e estímulo a elas. "O resultado mais 
importante desse experimento foi mostrar como a expectativa dos professores faz toda a 
diferença para o desenvolvimento dos alunos", analisa Rosenthal. É impossível ser 
completamente justo e imune a esse tipo de influência, mas existe um antídoto eficaz 
contra as distorções induzidas pelo inconsciente: saber que ele sempre está pronto para 
nos enganar. 
 
APRENDER SEM SABER 
Se, por um lado, é impossível controlar o inconsciente de maneira consciente, é possível 
influenciá-lo. "Podemos mudá-lo. Ele é tão maleável quanto a consciência, ou talvez 
mais", afirma o neurologista Ran Hassin. Como se faz isso? Praticando alguma coisa até 
que ela se torne uma segunda natureza, ou seja, vire um processo automático. Qualquer 
profissional de elite, seja um pianista profissional, um jogador da seleção brasileira de 
futebol, um médico-cirurgião ou uma bailarina do Theatro Municipal, depende de anos 
de prática para chegar ao topo da carreira. Cerca de dez anos de prática - ou 10 mil 
horas de treino, segundo uma famosa pesquisa do psicólogo Anders Ericsson, da 
Universidade da Flórida. Ericsson estudou violinistas de uma das melhores escolas de 
música de Berlim. Eles começaram com cinco anos de idade, todos no mesmo ritmo. 
Mas, a partir dos oito anos, as horas de ensaio começaram a variar entre os estudantes. 
Quando chegaram aos 20 anos, os melhores violinistas haviam somado 10 mil horas de 
treino, enquanto os demais não passavam de 8 mil horas - e os piores da turma tinham 
apenas 4 mil horas de estudo. 
SENTIR X PENSAR 
O consciente e o inconsciente reagem de modo diferente à mesma coisa. O primeiro é 
racional; o segundo, carregado de emoção. 
A dedicação trouxe recompensa porque, quando se pratica muito alguma coisa, ela fica 
gravada num tipo especial de memória: a memória não-declarativa, que faz parte do 
inconsciente e registra ações e movimentos do corpo. É ela que permite que o violinista 
consiga tocar bem. Se dependesse apenas do consciente, ele não daria conta de todos os 
procedimentos envolvidos na tarefa (ler a partitura, equilibrar o instrumento no ombro, 
posicionar os dedos, mover o arco, respirar e, ainda por cima, tocar de maneira natural e 
relaxada). E ninguém conseguiria aprender a falar fluentemente um segundo idioma. 
Em suma: a chave para ensinar uma nova habilidade ao próprio inconsciente é treinar, 
treinar e treinar. É um processo bem demorado. Mas já existe gente tentando deixá-lo 
mais rápido. 
CRIA X FALA 
Você decide o que quer falar, mas não escolhe as palavras que vai usar - o seu 
inconsciente faz isso por você. Ele pega as suas ideias e cria a sua fala. Quando você 
está aprendendo outro idioma, isso não acontece: a consciência tem de se virar sozinha. 
 AS SENHAS INVISÍVEIS 
Elas são um problema típico do mundo moderno. Ou você acaba esquecendo as suas, ou 
escolhe uma bem bobinha e usa pra tudo - até que, por causa disso, alguém acaba 
invadindo o seu e-mail ou conta bancária. Um grupo de cientistas da Universidade 
Stanford tem uma solução melhor: senhas ultrassecretas, que ficam armazenadas no 
inconsciente. Funciona assim. Primeiro, os cientistas pedem a voluntários que joguem 
um joguinho no qual bolinhas caem, uma de cada vez, em uma das seis colunas que 
aparecem na tela. O objetivo é apertar o botão do teclado correspondente à posição da 
bolinha na tela. Se a bolinha cai do lado esquerdo, por exemplo, a pessoa aperta a letra S 
(porque ela fica bem à esquerda no teclado). A ordem das bolinhas parece aleatória, mas 
não é. A pessoa não percebe, mas existe uma sequência que se repete de tempos em 
tempos - cerca de 90 vezes ao longo de 30 minutos, a duração do jogo. Essa sequência édefinida pelo computador e é personalizada, ou seja, diferente para cada jogador. Ela é a 
senha. E, graças à repetição, acaba sendo gravada no inconsciente da pessoa. 
 
Na segunda etapa da experiência, a pessoa joga o joguinho novamente. E as bolinhas 
vão caindo na tela do mesmo jeito: sua ordem parece aleatória, mas uma sequência 
específica (a senha) se repete de tempos em tempos. Como as bolinhas caem bem 
depressa, o jogador erra muitas. Exceto as bolinhas daquela sequência que ficou gravada 
no inconsciente dele. Sem perceber nem saber o motivo, a pessoa acerta todas. Está 
digitada a senha. Ela é reconhecida pelo computador, que libera o acesso. Além de ser 
conveniente (você nunca mais precisará se lembrar de uma senha), a tecnologia é 
extremamente segura. "O sistema torna praticamente impossível para um assaltante 
forçar a vítima a revelar sua senha bancária, por exemplo. Porque a senha está no 
cérebro da pessoa, mas não está acessível conscientemente a ela", explica Hristo 
Bojinov, um dos criadores da tecnologia. 
 
Segundo ele, o sistema de senhas inconscientes pode chegar ao mercado dentro de três 
anos, mas ainda precisa ser aperfeiçoado. Por enquanto, ele é inviável para uso 
cotidiano - porque é preciso jogar o joguinho durante 5 a 10 minutos até que a senha 
inconsciente seja digitada. Dez minutos é bastante. Mas é bem menos do que as 10 mil 
horas do exemplo anterior. Ou seja: a nova técnica mostra que é possível inserir 
informações simples no inconsciente muito mais depressa do que se acreditava. 
 
O Exército americano já percebeu, e está tentando tirar proveito disso. A ideia é ajudar 
os analistas de imagens aéreas, funcionários do Pentágono que olham as fotos tiradas 
pelos satélites espiões dos EUA - e dizem quais delas contêm algo relevante (como um 
reator nuclear ou uma base militar inimiga, por exemplo). É um trabalho cansativo e 
difícil, pois são milhares de fotos aparentemente iguais, com diferenças minúsculas. 
Mas o cientista Paul Sajda, da Universidade Columbia, teve a ideia de monitorar o 
cérebro de um analista enquanto ele olhava essas fotos. O analista vestiu uma touca de 
eletroencefalograma (EEG), cheia de sensores que medem a atividade elétrica em 
determinadas regiões do cérebro. Aí Sajda mostrou a ele uma foto relevante, ou seja, na 
qual se via claramente uma construção suspeita. O eletroencefalograma registrou um 
pico de atividade cerebral - pois aquela imagem havia despertado a curiosidade do 
analista. Normal. 
 
Mas aí os pesquisadores resolveram acelerar as coisas, e começaram a exibir dez 
imagens por segundo. Algumas das fotos eram relevantes, outras não, mas todas 
passavam rápido demais para que o analista conseguisse prestar atenção em qualquer 
coisa. Mesmo assim, quando aparecia uma foto relevante, algo incrível acontecia: o 
eletroencefalograma registrava um pico de atividade no cérebro dele. O analista não 
conseguia perceber nada de diferente nas imagens, mas o inconsciente dele sim - e 
estava identificando as fotos que tinham pontos interessantes. De acordo com Sajda, o 
novo método permite aumentar em até 300 vezes a eficiência da análise de imagens 
militares. "Os processos inconscientes são capazes de algum tipo de racionalidade, 
muito mais do que se pensa, e essa racionalidade pode levar a boas decisões", escreve o 
neurocientista Antonio Damasio no livro E o Cérebro Criou o Homem. 
 
 
HANS, O CAVALO ESPERTO 
O inconsciente não é apenas um depósito de traumas reprimidos e habilidades incríveis. 
Ele também é especialista em fazer o contrário: colocar tud o pra fora. O psicólogo 
Paul Ekman, da Universidade da California, ficou famoso por ter catalogado mais de 10 
mil conjuntos de "microexpressões" - expressões faciais que fazemos inconscientemente 
enquanto conversamos, e que podem revelar nossas verdadeiras emoções. Inclusive se o 
seu interlocutor for um cavalo. 
 
Em 1904, o alemão Wilhelm von Oster ficou famoso por suas apresentações com Hans - 
um cavalo que era capaz de "quase tudo, menos falar". Segundo o dono, Hans fazia 
cálculos matemáticos complexos. Quando perguntavam a raiz quadrada de quatro, o 
bicho respondia batendo o casco duas vezes no chão. A conexão era tanta que Hans 
acertava o resultado mesmo quando seu mestre não fazia as perguntas em voz alta - e 
apenas pensava nelas. Havia quem jurasse de pés juntos que o cavalo lia a mente de 
Von Oster. A dupla rodou a Alemanha em apresentações fantásticas, e deixou 
estudiosos debruçados sobre o mistério durante anos. Em 1907, o psicólogo Oskar 
Pfungst publicou um estudo que solucionava a charada. Hans só acertava os resultados 
quando seu `entrevistador¿ (no caso, Von Oster) já sabia a resposta certa. Pfungst 
descobriu um padrão: Von Oster se inclinava levemente para frente quando terminava 
de propor uma questão. Esse era o sinal. Hans entendia e começava a bater o casco no 
chão. Quando atingia o número certo de batidas, algum outro movimento do dono 
denunciava a hora de parar. Von Oster era um charlatão, então? Talvez. Mas muitas 
outras pessoas, que não sabiam de nada, desafiaram Hans com problemas matemáticos. 
O cavalo acertou todos. É que elas, sem saber, também coordenavam com movimentos 
inconscientes as respostas dele. Ou seja: cavalos talvez não saibam fazer contas, mas 
podem ser capazes de ler o inconsciente alheio com mais precisão do que muito 
humano. 
ROTINA X MUDANÇA 
Um estudo neurológico provou que o inconsciente exagera as coisas ruins - e confrontá-
lo pode ser a chave para superar angústias. 
Ainda não existe uma fórmula que permita controlar o que dizemos de forma 
inconsciente. Emitimos sinais inconscientes o tempo todo - a ponto de sermos 
transparentes até para cavalos. É por isso que é tão difícil fingir: todo mundo percebe 
quando achamos que uma festa está meio chata, por exemplo. Mas não vá culpar o seu 
inconsciente por isso. Se não fosse ele, você sequer conseguiria dançar e conversar ao 
mesmo tempo. 
 Memória subliminar 
Como funciona o sistema que permite gravar senhas de computador no inconsciente 
 
1. Você joga um game em que bolinhas caem na tela - e o objetivo é apertar a letra do 
teclado correspondente à coluna na qual a bolinha está caindo. 
 
2. A ordem das bolinhas parece aleatória, mas não é. Você não percebe, mas existe uma 
sequência de 30 letras que se repete várias vezes durante o jogo. Ela é a senha - e, de 
tanto ser repetida, fica gravada no seu inconsciente. 
 
3. Para acessar o computador, você joga novamente o game. Como as bolinhas caem 
bem rápido, você erra muitas delas - exceto aquela sequência de 30, que o seu 
inconsciente gravou, e por isso você acerta. A máquina reconhece a senha e libera seu 
acesso. 
Percepção acelerada 
Exército dos EUA já sabe usar o poder do inconsciente para turbinar a visão humana 
 
1. O militar veste uma touca de eletroencefalograma (EEG), aparelho que mede as 
correntes elétricas do cérebro. 
 
2. Uma tela mostra dez imagens por segundo. É rápido demais para que a pessoa tenha 
qualquer reação consciente. 
 
3. Mas quando aparece uma imagem relevante (mostrando uma base militar inimiga, por 
exemplo), o inconsciente percebe - e o EEG registra um pico de atividade cerebral. 
 
4. A técnica permite que um analista militar processe até 36 mil imagens por hora - e 
com três vezes mais precisão do que se estivesse usando a consciência. 
 
 
PARA SABER MAIS 
Subliminal 
Leonard Mlodinow. Pantheon Books, 2012. 
 
Em Busca da Memória 
Eric Kandel. Companhia das Letras, 2009.

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