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TRABALHO DE PROCESSO PENAL DELAÇÃO PREMIADA 4

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NOME: Maria Júlia Ferreira da Rosa
SEMESTRE: 7º (Diurno)
CURSO: Direito
UNIVERSIDADE: Estácio Uniseb
MATÉRIA: Processo Penal II
TRABALHO DE PROCESSO PENAL
 “DELAÇÃO PREMIADA”
A colaboração premiada é um meio de obtenção de prova (conforme decidido nos HCs nº 127.483 e 90.688-PR), recepcionada pela Lei nº 8.072/90 (Crimes Hediondos) e prevista pelas Leis Nº 12.850/13 - Organizações Criminosas, Nº 8.137/90 Crimes Contra Ordem Tributária, Art 2º da Lei de Lavagem de Dinheiro (12.683/12) e Art 4º - Lei Nº 9.269/96 - Extorsão Mediante Sequestro. Geralmente ocorre quando há casos de organizações criminosas, conceituada pelo autor Gilson Dipp na obra “A Delação ou Colaboração Premiada - Uma Análise do instituto pela interpretação da Lei” como uma reunião de 04 ou mais pessoas, com mesmas intenções, divisão de tarefas ordenadas, a associação se agrupará para com os propósitos, revelando uma funcionalidade. Tal organização e ordenação de funções deverá ser objetiva dos “comparsas” para obtenção de vantagens, seja pecuniária ou material.
Há diversos entendimentos acerca do que é a colaboração premiada, como conceituado no HC 127483/PR por Dias Toffoli, Exmo. Ministro do STF, que o acordo de colaboração premiada é um “negócio jurídico processual personalíssimo, não podendo ser impugnado por terceiros, ainda que venham a ser mencionados no ato, pois o que atingirá eventual corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador”. Entende também o Exmo. Ministro Edson Fachin que “o acordo de colaboração homologado como regular, voluntário e legal deverá, em regra, produzir seus efeitos em face ao cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração”, possibilitando a aplicação do Código de Processo Civil (CPC) no que diz respeito à possibilidade de anulação dos acordos firmados entre as partes – o Ministério Público e colaboradores premiados.”.
Sendo viável citação, Nucci conceitua em sua obra “Código Penal comentado - 8ª edição” que a Colaboração Premiada é a “(...) possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entrega o (s) comparsa (s). É o “dedurismo” oficializado, que, apesar de moralmente criticável, deve ser incentivado em face do aumento continuo do crime organizado. É um mal necessário, pois trata-se de forma mais eficaz para quebrar a espinha dorsal das organizações criminosas, permitindo que um de seus membros possa se arrepender, entregando a atividade dos demais e proporcionando ao Estado resultados positivos no combate à criminalidade”.
Embora a Colaboração pressuponha confissão, não se constitui “bis in idem” cumulação de benefícios pela confissão voluntária, disposto no Art. 65, III - a), CP. 
Nisto, o acusado terá a chance de dar informações que incriminarão terceiros envolvidos; sendo úteis ao fato investigado, poderá ser beneficiado com: 1) diminuição da condenação de 1/3 a 2/3; 2) perdão judicial (extinção da punibilidade, raramente concedida, mas assegurada pela Súmula 18 - STJ); 3) progressão de regime; 4) redução da pena até a metade, se a colaboração for após a Sentença; 5) substituição da prisão pela pena restritiva de direitos; 6) acordo de imunidade (não é oferecida a Denúncia), devendo tais benefícios serem homologados pelo Magistrado competente em 48 horas, ao ter avaliado os requisitos essenciais: legalidade, voluntariedade e regularidade. Discordando, seja por falta de um dos requisitos ou por ausência do Patrono ou MP, terá condão para adequar o Acordo ou, fundamentadamente, indeferir. 
Os benefícios são alternativos, porém, podem ser cumulativos, se for de entendimento do Juiz, como no caso de redução da pena c.c progressão de regime. Foi decidido no STF que acordos de colaboração premiada homologados poderão ser anulados se o delator descumprir o que de acordo com o Ministério Público.
Cabe salientar que o Juiz tem competência para homologar o benefício, podendo, se achar oportuno, ouvir o acusado acompanhado de seu Patrono. Comenta Cézar Roberto Bittencourt que o Magistrado não irá interferir no desenvolvimento da colaboração, podendo tal envolvimento alterar sua imparcialidade. Porém, se o Magistrado achar que as informações foram de todo úteis para a investigação, poderá, de Ofício, conceder o(s) benefício(s) permitido(s) por Lei, mesmo sem Acordo formalizado pelo MP. Ainda, por Lei, no Art. 4º - parágrafo, Art. 16, não pode o Juiz fundamentar a condenação só com meras declarações do colaborador, por mais verdadeiras que pareçam ser. 
Quanto à prazos do Acordo, como consta na obra de Dipp, estando o colaborador em liberdade, o prazo de oferecimento da Denúncia para o delator preso é de 05 dias na Justiça Comum e de 15 dias tanto na Justiça Federal, como em ações originárias nos Tribunas Superiores. Este prazo pode ser suspenso por até 06 meses, prorrogáveis por mais 06 até serem cumpridas os requisitos da colaboração, ou seja, a Lei abre prazo epsecial para oferecimento da Denúncia; não sendo concedido tal prazo especial se a demora para cumprimento da colaboração for injustificado. 
Citando brevemente a parte histórica, a Colaboração Premiada surgiu na época da Idade Média, durante o período de Inquisição em que a confissão por tortura era valorizada, sendo a confissão voluntária “suspeita”. Na Itália, o colaborador tem o benefício de diminuição de 1/3 da pena ou substituição de prisão perpétua por reclusão de 15 a 21 anos. Nos EUA, segundo estudos, de 80 a 95% dos crimes relacionados à organizações são solucionados por confissão de colaborador(es), chamado de “plea bargaining”. Vale salientar que na Legislação Brasileira a confissão não é requisito para que a colaboração seja efetiva. Assim, no Brasil, surgiu na “Inconfidência Mineira”, quando o Coronel Joaquim Silvério dos Reis foi perdoado por dívidas com a Coroa Portuguesa ao ter delatado seus colegas, que foram presos por traição ao Rei. Mas como Joaquim foi chefe do movimento, foi “sentenciado” à morte por enforcamento.
É de entendimento do STF que, sendo a colaboração efetiva e produza os resultados almejados, o colaborador tem direito subjetivo à aplicação das sanções premiais estabelecidas no acordo, inclusive de natureza patrimonial (HC 127483/PR).
Com isso, apesar de na visão dos criminosos a Colaboração Premiada ser uma forma de traição, aos olhos do Estado há o intuito de incentivar o agente que participa de organizações a prevenir novos crimes ou a colaborar para a não “piora” do ato ilícito que já esteja sendo executado, podendo ser feita desde o momento do Inquérito Policial - podendo o MP deixar de oferecer Denúncia contra o colaborador, se este, imprescindivelmente, não for o chefe da organização criminosa e for o primeiro a colaborar - até após o trânsito em julgado da Sentença condenatória.
A colaboração deverá seguir as condições deste termo para efetiva garantia, cumulativamente, de vários benefícios ao colaborador que prestar úteis informações para solução da lide criminosa, como o MP poderá requerer sobretestamento dos inquéritos e outros procedimentos pré-judiciais/judiciais, prisão domiciliar ou cautelar com tornozeleira por 01 ano ou cumprimento da pena em regime semi-aberto, de modo que estes benefícios não irão eximir o colaborador de obrigações de cunho tributário ou administrativo, video parágrafo 9 da Cláusula 5ª do referido Termo, desde que, como prémeditado na Parte III - Cláusulas 6ª a 15: o colaborador renuncie de quaisquer relações com valores mantidos em contas Bancárias envolvidas no crime, permitir que o MP e a Polícia Federal tenham acesso à todas as suas movimentações bancárias, comprometimento em realizar pagamento de indenização cível por danos à Administração Pública e por “lavagem de ativos”, a esclarecer todos os esquemas relativos ao crime de organização criminosa em questão e indicar os envolvidos e suas respectivas funções e pretensões de vantagem.
Há certa dúvida acerca de qual Julgador - de Recurso ou de Execução - seria competente para homologar o Acordo se a colaboração for posterior à Sentença, visto queestaria esgotada a jurisdição do juiz da instrução; tudo para que não se retarde ou prejudique a condição do incidente e a situação do colaborador. 
Ocorrendo a delação de agentes ainda não condenados no período de execução penal, não haverá problemas em lhe conceder, por exemplo, o benefício de diminuição de pena, mesmo que o delator já tenha sido condenado. Somente não será concedido se o colaborador já condenado quiser “entregar” os outros coautores/partícipes que já tiveram sua situação também transitada em julgado.
Quanto ao desenvolvimento da colaboração premiada, poderá ser realizada pelo Delegado de Polícia ou pelo Ministério Público (jamais pelo Juiz de Direito; ainda, há correntes majoritárias que entendem que o Delegado pode sugerir, mas não é autorizado a fazer por si só a colaboração premiada, necessitando de anuência e participação do MP, pois o Ministério Público possui inamovibilidade; há entendimento do relator Sr. Marco Aurélio, de 13 de Dezembro de 2017, em julgamento de ADIn, que o Delegado possa ter legitimidade para realizar acordos de delação premiada). Assim, haverá expectativa de que o investigado dê informações que: a) possam identificar algum dos outros coautores ou partícipes do crime, assim como os atos por eles praticados; b) como é formada a organização criminosa e qual é a função de cada um; c) informações que possam cooperar na prevenção de novos atos ilícitos; d) formas que permitam recuperação de eventual produto do crime ou e) informações que indiquem o paradeiro de uma eventual vítima, devendo esta estar com a integridade preservada.
A colaboração deverá ser voluntária (inclui se o próprio Patrono da parte tiver o incentivado), de modo que, se realizada sob tortura, coação ou ameaça, torna-se inválida. É de direito do investigado que o processo seja distribuído sigilosamente (até o momento do recebimento da Denúncia) e seus dados pessoais sejam protegidos (sendo crime exposição/identificação do colaborador por meio de fotografia e afins sem sua autorização por escrito - pena de 01 a 03 anos + multa, Art. 18). Um simples detalhe é que, se não oferecida a Denúncia ou não recebida, as informações delatadas serão mantidas em segredo junto das partes necessárias: o acusado, Juiz, MP, Delegado e Defensor. 
Mesmo com o direito de sigilo, por entendimento do STF de 16 de Março de 2016 - Petição 5.952-DF, o sigilo pode ser mitigado em determinadas circunstâncias. Ainda, vide Art. 120 - CP, a Sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.
Em partes de benefícios, ainda, além do direito ao sigilo, o Ministério Público tem competência e poder para concessão de imunidade penal, ou seja, não será proposta a Denúncia contra o delator, se este colaborar efetivamente. Não é comum extensão de tal proteção, porém já ocorreu imunidade penal aos delatores da “JBS Friboi” - à Joesley Batista e Ricardo Saud - de não serem processados pelo MP se confessassem os diversos atos ilícitos cometidos. (Entretanto, o Acordo está suspenso, para ser desfeito pelo Procurador Geral da República, com fundamento em ter ocorrido obstrução de Justiça pelos delatores, restanto apenas a devida homologação pelo Exmo. Ministro do STF, Edson Fachin). 
Um detalhe importante a citar é que o agente já ter descumprido um acordo de colaboração premiada não poderá invalidar o acordo atual. Nisto, sua personalidade, por si só, não influenciará o Acordo pela própria lei da Colaboração Premiada, pois no julgamento para concessão do benefício incidirá a personalidade, a natureza, gravidade, repercussão social do ato e, claro, a efetividade das informações e colaboração tomadas. 
Partindo para as considerações finais, a sistematização da Colaboração Premiada proposta em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 12.850/2013 proporcionou uma “facilidade” e incentivo para procedimentos mais céleres, rápidos, não apenas para avançar no desfazimento destas organizações que poderiam ameaçar os direitos essenciais do povo, mas agilizando, por exemplo, a identificação de eventual vítima ou meramente para se descobrir quem é o “chefe” e quais são as funções de cada componente grupal. Ao ser observado isso, é de se pensar como tal meio de obtenção de prova poderia ter sido útil em diversos outros casos, que oportunamente teriam finalizado mais rapidamente se fosse oferecido benefício ao suspeito.
BIBLIOGRAFIA:
- “A Delação ou Colaboração Premiada - Uma Análise do instituto pela interpretação da Lei” - DIPP, Gilson.
- “Código Penal comentado - 8ª edição” - NUCCI, Guilherme de Souza.

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