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Contribuição do PADCT para a melhoria das condições de competitividade da indústria brasileira

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Contribuição do PADCT para a Melhoria das Condições
de Competitividade da Indústria Brasileira
Helena M. M. Lastres
José Eduardo Cassiolato
versão preliminar para discussão
outubro de 1995
______________________________________________________________________________
Estudo realizado por solicitação da ABIPTI com o propósito de subsidiar futuras
negociações com o Banco Mundial visando a renovação do PADCT em sua terceira
fase.
INDICE
Sumário Executivo .................................................................................................i
Conceito de Competitividade Dinâmica e Sistêmica .........................................i
Transformações Influenciando a Competitividade Mundial e Atuais
Políticas para Promoção de Vantagens Competitivas .......................................i
Competitividade da Indústria Brasileira e Requisitos para uma Política
de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico................................... ii
Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da Competitividade da
Indústria Brasileira ............................................................................................ iii
Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições de
Competitividade da Indústria e Economia Brasileira ....................................... iv
Diretrizes e Linhas de Ação Propostas...............................................................v
1 - Conceito de Competitividade...........................................................................2
1.1 - Competitividade Dinâmica .......................................................................3
1.2 - Competitividade Sistêmica .......................................................................3
2 - Fatores Determinantes da Competitividade ................................................5
3 - Grandes Transformações Atuais Influenciando a
Competitividade Mundial ......................................................................................7
3.1 - Mudança no Paradigma Técnico-Econômico............................................7
3.2 - Globalização ..............................................................................................8
4 - Políticas Governamentais para Promoção da Competitividade .............13
5 - Competitividade da Indústria Brasileira no Quadro Atual......................18
6 - A Política de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e
Dinâmico ....................................................................................................................21
6.1 - Requisitos de Política................................................................................21
6.2 - Locus da Construção da Competitividade................................................22
7 - Avaliação da Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da
Competitividade da Indústria Brasileira ...........................................................24
7.1 - Aspectos positivos mais relevantes: .........................................................25
7.2 - Principais deficiências identificadas: .......................................................25
8 - Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições de
Competitividade da Indústria e Economia Brasileira ....................................26
8.1 - Diretrizes e Linhas de Ação Propostas.....................................................29
Bibliografia................................................................................................................40
Figuras, Quadros e Tabelas
Figura 1: Distribuição de Alianças Tecnológicas entre Blocos Econômicos ............11
Figura 2: Origem das Patentes das Grandes Empresas Transnacionais
dos Principais Países da OCDE ..................................................................................11
Figura 3: Gastos em P&D/PNB em Países Selecionados da OCDE ........................14
Tabela 1: Países Selecionados - Localização Geográfica das Patentes das
Grandes Empresas Transnacionais............................................................................12
Quadro 1: Exemplos de Política Industrial e Tecnológica em Países
Selecionados - EUA, Japão e Alemanha.....................................................................17
Quadro 2: Caracterização e Propostas para Aumento da Competitividade
dos Setores com Capacidade Competitiva ..................................................................34
Quadro 3: Caracterização e Propostas de Ação para Aumento da
Competitividade dos Setores com Deficiências Competitivas ...................................35
Quadro 4: Caracterização e Propostas para Aumento da Competitividade
dos Setores Difusores do Progresso Técnico...............................................................36
Anexo 1 - Políticas de Competitividade nos Principais Países da
OCDE e Alguns NICs Asiáticos..............................................................................43
A.1 - Introdução.................................................................................................43
A.2 - EUA...........................................................................................................47
A.3 - Alemanha..................................................................................................54
A.4 - Reino Unido ..............................................................................................57
A.5 - Japão .........................................................................................................63
A.6 - Coréia ........................................................................................................68
A.7 - Taiwan ......................................................................................................70
Bibliografia do Anexo 1 ..........................................................................................72
Figuras, Quadros e Tabelas do Anexo 1
Tabela A.1.1: Países selecionados - Orientações e Instrumentos
Principais da Nova Política Industrial e Tecnológica................................................46
Tabela A.1.2: EUA - Gastos em P&D por Parte do Setor Industrial.......................48
Tabela A.1.3: EUA - Gastos Públicos Federais para P&D ......................................49
Tabela A.1.4: EUA - Efeitos do Crédito de P&D nos Fluxos de Caixa das
Empresas .....................................................................................................................53
Tabela A.1.5: Japão - Incentivos para Promover P&D no Setor Privado................66
Tabela A.1.6: Coréia - Plano de Investimentos em Ciência e Tecnologia................69
Sumário Executivo
Conceito de Competitividade Dinâmica e Sistêmica
Estão superadas as visões que definem a competitividade de forma estática e como
uma questão de custos e taxas de câmbio, que levou, no passado, a políticas espúrias
centradas na desvalorização cambial, no controle dos salários de mão-de-obra com
baixa qualificação e no uso predatório de recursos minerais, energéticos e ambientais,
com o objetivo de obter no curto prazo vantagens competitivas.
Na visão dinâmica, a competitividade refere-se à capacidade de se formular e
implementar estratégias concorrenciais, que permitam conservar de forma duradoura
posições sustentáveis, destacando-se particularmente as vantagens associadas à
qualidade e produtividade dos recursos humanos e à capacitação produtiva e
inovadora das empresas.
Na visão sistêmica o desempenho competitivo de uma empresa, indústria ou nação é
não apenas condicionado por fatores internos à empresa, mas também por fatores
meso-estruturais e macro-estruturais, que podem favorecer e aperfeiçoar a capacidade
de acumulação tecnológica das empresas, tais como: formas de organização e
interrelação dos complexos e setores industriais; sistema de educação superior e de
pesquisacientífica e industrial; nível da força de trabalho; níveis e padrões de
investimento; quadro legal e político; características do mercado interno; e condições
das demais esferas relacionadas ao contexto nacional e internacional no qual se dá o
fluxo de comércio e investimento e onde as inovações são geradas e difundidas.
Transformações Influenciando a Competitividade Mundial e as
Atuais Políticas para Promoção de Vantagens Competitivas
A dinâmica econômica mundial sofreu profundas alterações na década dos 80 que
envolveram importantes mudanças tecnológicas, organizacionais e institucionais.
Objetivando contrarrestar os impactos negativos dos desajustes causados pela
mudança de paradigma e agilizar a reestruturação industrial, nos últimos dez anos
vem se observando uma intensificação da competição entre empresas e países.
Neste processo, o fortalecimento das bases construídas das vantagens competitivas -
englobando a promoção dos recursos ligados ao conhecimento e à capacitação, assim
como a modernização das estruturas institucionais que facilitam e promovem a
geração, internalização e difusão de inovações tecnológicas e organizacionais - colocou-
se como objetivo central da estratégia competitiva das empresas e países.
Como consequência principal assistiu-se ao significativo aumento dos esforços
principalmente dos países mais avançados, os quais têm enfrentado tais mudanças
com políticas diferenciadas, mas que possuem alguns pontos em comum:
 - as novas políticas não possuem nem a simplicidade nem a relativa legibilidade das
anteriores e apontam na direção a um crescente investimento na promoção da
inovação (entendida como a internalização de novos conhecimentos pelo setor
produtivo), assim como nos objetivos de: (a) rapidamente identificar importantes
oportunidades tecnológicas futuras; (b) aumentar a velocidade na qual a informação
flui através do sistema; (c) rapidamente difundir as novas tecnologias; e (d) aumentar
a conectividade das diferentes partes constituintes dos sistemas de C&T para ampliar
e acelerar o processo de aprendizado;
- tanto nos países da OCDE quanto nos NICs asiáticos as políticas comerciais,
industriais e tecnológicas mais bem sucedidas, tornaram-se holisticamente
integradas;
- acima de tudo, as novas políticas mostram que a era do auxílio indiscriminado cedeu
lugar a políticas com foco bem definido e combinam descentralização, cooperação e
mobilização de instâncias administrativas e agências diversas.
 - alicerçada na idéia de que mudanças paradigmáticas exigem novos formatos
organizacionais, os Estados Nacionais têm promovido mudanças significativas nas
instituições e instrumentos de promoção à inovação.
Competitividade da Indústria Brasileira e Requisitos para uma
Política de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico
A situação brasileira confronta-se atualmente com um quadro onde a dimensão,
rapidez e complexidade das inovações tecnológicas e institucionais em curso já
avançado nas economias desenvolvidas mostram-se desafiadores. As possibilidades
trazidas pelos desenvolvimentos das novas tecnologias da informação permitiram,
particularmente às grandes corporações, a utilização de recursos e insumos
tecnológicos espalhados em diversos países e regiões. A proliferação das alianças
tecnológicas internacionais ampliou e intensificou tal possibilidade, assim como
permitiu a circulação de informações e conhecimentos a nível mundial. Contudo, tais
atividades têm-se restringido a um espaço privilegiado e extremamente concentrado
nos países mais avançados, não se verificando internacionalização efetiva nem das
atividades de pesquisa nem dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos
pelas mesmas.
A necessária reestruturação da indústria brasileira coloca-se hoje num quadro no qual
a base tecnológica e organizacional para a competitividade é totalmente diferente
daquela dos anos 60 e 70. As alterações na estrutura de produção e comércio
internacional, com a formação de blocos regionais de comércio, resultaram na
redefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas tecnologias,
gerando aos países em industrialização crescentes dificuldades quanto a aquisição e
introdução de inovações geradas pelas economias mais avançadas.
Num ambiente muito dinâmico, os níveis de competitividade são rapidamente
erodidos e a base para se entrar em novos mercados torna-se rapidamente inadequada
para se manter neles, se expandir dentro deles ou se diversificar além deles. Projetos
de importação de tecnologia (assim como qualquer outra atividade pontual e
estanque) podem contribuir apenas temporariamente às posições competitivas em
trajetórias de mudanças tecnológicas aceleradas e contínuas.
Diferentemente do período anterior, calcado em métodos tayloristas e fordistas de
produção, o advento da nova revolução colocou por terra a possibilidade de o país
continuar a se desenvolver sem grau satisfatório de educação e de capacitação dos
trabalhadores. Neste quadro o desafio educacional é urgente, pois não é possível
elevar substancialmente a escolaridade média da população em menos que uma
década e meia.
O desenvolvimento competitivo não pode ser alcançado enquanto estão excluídos
largos contingentes da população e subsistem em atividades marginais outras
importantes frações. A integração dessas parcelas da população à economia e à
cidadania é fundamental e concorre no sentido de promover o desenvolvimento de um
mercado interno amplo e dinâmico, capaz de desenvolver-se no sentido das exigências
internacionais, cada vez mais amplas e rígidas, associadas à qualidade, segurança e
respeito ao meio ambiente e aos recursos naturais.
Outro importante desafio refere-se à definição de uma estratégia de longo prazo
coerente e coordenada que incorpore o objetivo de promover sua capacitação para
inovação. Tal desafio é magnificado tendo em vista a crise no sistema científico-
tecnológico brasileiro que compreende estagnação dos gastos públicos em C&T, baixos
níveis de gastos privados em P&D e a falta de cooperação entre as instituições
públicas de pesquisa e o setor produtivo. O esforço necessário à superação da atual
fragilidade tecnológica nacional requer reverter a tendência de retração das
atividades de inovação a nível do sistema e induzir uma mudança fundamental nas
estratégias industriais, buscando o aprendizado e a capacitação para inovação de
forma persistente e cumulativa.
Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da
Competitividade da Indústria Brasileira
O PADCT em suas primeira e segunda fases não objetivou explícita e diretamente a
superação das limitações e o aproveitamento de oportunidades voltadas a melhoria
das condições de competitividade da indústria e economia brasileira. Pode-se afirmar
que o objetivo de apoiar a inovação foi incorporado de forma apenas orientadora.
Aspectos positivos mais relevantes:
• experiência com novos formatos para planejar, promover e financiar P&D no País;
• tentativa de adotar modos de avaliação e acompanhamento permanentes das ações
adotadas, incorporando ajustes e reformulações necessárias;
• alavancagem de recursos para apoio ao desenvolvimento de C&T no Brasil;
• apoio a alguns subprogramas verticais e horizontais relevantes quanto ao aumento
da competitividade da indústria brasileira.
Principais deficiências identificadas:
• lentidão e imprevisibilidade da liberação dos recursos contratados provocou
alterações nos cronogramas e distorceu a execução dos projetos, comprometendo
seriamente a obtenção de resultados, assim como a própria possibilidade de cobrança
dos mesmos e por conseguinte o acompanhamento e avaliação dos subprogramas;
• baixo poder de mobilização e articulação de empresários e trabalhadores na
definição dos objetivos e prioridades do Programa, execução dos projetos e
aproveitamento dos resultados gerados;
• importantes deficiências quanto ao acompanhamentoe avaliação dos projetos
financiados;
• pequena preocupação com o aproveitamento efetivo dos resultados gerados pelos
projetos apoiados e deficiências quanto à adoção e difusão destes resultados por parte
da economia e sociedade;
• deficiências quanto à articulação com políticas nacionais e estaduais relevantes;
• sistema atual de editais - que supostamente induzem atividades de P&D
prioritárias - tem refletido mais propriamente o que pequenos grupos projetam como
alvos das políticas dentro dos subprogramas já estabelecidos;
• estrutura de subprogramas atual respondem de forma apenas marginal aos
objetivos de promover a capacitação técnico-científica visando o aumento de
competitividade da indústria brasileira;
• formato de gestão e operação dos GTs, CAs, CC, SE e GEA devem ser reavaliados e
naquilo que for necessário modificados para que se permitam imprimir as necessárias
mudanças.
Em sua terceira fase, deve-se buscar a superação de tais disfunções e dificuldades,
não apenas visando criar condições para o aproveitamento de oportunidades voltadas
à melhoria da competitividade da indústria e brasileira, mas até mesmo para que seja
atendido o objetivo do Programa em se consolidar 'como a mais importante
experiência em política de P&D no País'.
Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições de
Competitividade da Indústria e Economia Brasileira
Como ponto de partida, e considerando-se a intenção do PADCT em transformar-se
em instrumento modelo para novas políticas de C&T sugere-se que:
• ao invés de se estruturar em subprogramas setoriais, por áreas do conhecimento,
característica de sua institucionalização no passado, seja o III PADCT reformulado no
sentido de definir e auxiliar na resolução de problemas específicos quer estes se
relacionem à modernização de formas institucionais deficientes e ultrapassadas, quer
digam respeito ao apoio a projetos específicos e estratégicos;
• que o redirecionamento das atribuições e escopo do PADCT seja acompanhado das
necessárias alterações nas estruturas de coordenação já existentes, recriando-as com o
objetivo básico de traçar linhas de ação voltadas à resolução de tais problemas;
• a definição de políticas específicas e seletivas seja ajustadas às diferentes fases de
desenvolvimento do País, competitividade industrial e maturidade tecnológica; as
quais devem ser reavaliadas, incorporando reajustes e reformulações necessárias;
coordenando as políticas macro com políticas setoriais e regionais de
reposicionamento, reestruturação e mudança contínua; num processo que envolva
governo, setor produtivo, comunidade de P&D e outros segmentos representativos da
sociedade visando mobilizar interesses e comprometimentos efetivos entre os
principais agentes.
Dentro de tal orientação, a seguir encontram-se relacionadas um conjunto abrangente
de sugestões para orientar a eleição de ações que melhor se incluiriam em fases
diferentes e seqüenciais de um possível PADCT III, tendo em vista o ambiente político,
institucional e social no qual tais fases serão desenvolvidas.
Diretrizes e Linhas de Ação Propostas
Estimular a contínua e cumulativa internalização das atividades de
inovação por parte das empresas brasileiras.
Ações Propostas
• Incentivar a formação e capacitação de recursos humanos a todos os níveis do
empresário ao trabalhador.
• Promover e financiar as atividade de inovação internas à empresa nacional,
incluindo não apenas as atividades de P&D&E, mas também aquelas relacionadas à
engenharia reversa.
• Mobilizar estratégias voltadas à conscientização do setor empresarial quanto à
importância efetiva da inovação como elemento fundamental da sobrevivência e
competitividade nesta e nas próximas décadas, através de:
- apoio à montagem de cursos voltados para associações empresariais e sindicais,
empresas e trabalhadores, visando discutir a importância das atividades de inovação
enquanto instrumento de aumento da competitividade e desenvolvimento;
- disseminação de experiências de sucesso empresarial inovativo (por exemplo nas
Câmaras Setoriais, redes, associações de classe e meios de comunicação de massa);
- promoção de maior divulgação tanto dos instrumentos existentes de fomento à
incorporação de conhecimentos técnico-científicos pelo setor empresarial, quanto dos
resultados gerados com o uso de tais instrumentos;
- abertura de espaços para uma maior participação dos setores produtivos
(empresários e trabalhadores) na definição e implementação de estratégias relativas
às políticas de apoio à inovação.
• Fomentar a constituição de maior número de empresas que colocam a inovação como
base de suas estratégias, objetivando influir na alteração do perfil do setor produtivo
atual, através do apoio à formação e consolidação de pólos de encubadoras de
empresas de base tecnológica e de empresas-juniores.
• Apoiar estratégias que viabilizem a apropriação econômica dos resultados das
atividades de P&D, das informações disponíveis nos documentos de patente, assim
como de qualquer outra fonte de informação relevante à atividade de inovação,
através de:
- apoio a projetos de pesquisa que incluam financiamento parcial (com redução
gradual) do salário de pesquisadores recém contratados por empresas nacionais para
programa de estágio - em instituições brasileiras de pesquisa - que alie treinamento e
especialização ao desenvolvimento de pesquisa tecnológica de interesse da empresa.
Tal apoio visaria, não apenas, estimular as empresas a contratar e capacitar novos
pesquisadores, como também, potencializar (a) o estreitamento dos laços entre
empresas e instituições de pesquisa (b) a utilização econômica dos resultados das
atividades realizadas por esta última e (c) desenvolver capacitação nas empresas em
áreas de novas tecnologias;
- montagem e reforço dos sistemas que garantam a rápida disseminação de
informações científicas e tecnológicas de interesse do setor produtivo;
- promoção de condições para realização de análise sistemática das informações
disponíveis.
• Condicionar a concessão de incentivos a contrapartidas e comprometimento das
empresas com investimentos efetivos em inovação.
Estabelecer condições que visem aumentar a conectividade entre os agentes
do sistema de inovação, como forma de acelerar o aprendizado conjunto e de
aumentar a capacidade de gerar sinergias
Ações Propostas
• Apoiar a constituição e consolidação de redes e inovação ativas que mobilizem
esforços setoriais e regionais, particularmente aquelas voltadas ao atendimento das
necessidades das micro, pequenas e médias empresas.
• Promover o desenvolvimento de redes e sistemas de informação interligando
empresas, centros de pesquisa e outras instituições atuantes na área, de forma a
garantir a rápida e eficiente conexão entres os diversos elementos constituintes do
sistema brasileiro de inovação.
• Propiciar meios para realização de programas de intercâmbio e estágios de curta
duração no País entre pesquisadores e outros recursos humanos desenvolvendo
atividades ligadas à inovação, de forma articulada com outros programas de
intercâmbio internacional já existentes.
• Promover a montagem e operação de 'Grupos de Monitoramento de Inovações'
envolvendo representantes de diferentes empresas e outras instituições relevantes
para analisar dados de patentes, resultados de pesquisas e outras informações,
visando identificar oportunidades para (a) atuação das instituições a que são ligados e
(b) realização de programas conjuntos. Tais comitês podem ser organizados dentro das
diversas redes de inovação já existentes (setoriais e regionais) ou fora delas; neste
caso servindo de atividade embrionária para a montagem de novas redes.
• Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre os diversos tipos de
empresas - buscando-se explorar as interfaces existentes nas cadeias de: fornecedores
(de insumos, bens de capital e demais intermediários), prestadoresde serviços,
produtores e usuários, através do enquadramento de arranjos cooperativos como
condição prioritária para usufruto de benefícios.
• Favorecer a aglomeração de empresas em pólos industriais regionais especializados,
através do apoio conjunto à capacitação e treinamento de seus recursos humanos; e à
montagem de infra-estrutura tecnológica e de comunicações.
• Apoiar a formação de redes de Electronic Data Interchange - EDI, visando
particularmente incentivar as pequenas e médias empresas a atuarem em rede e
promover a capacitação tecnológica das mesmas.
• Promover a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre empresas e entidades
de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, e qualquer outra entidade ou
conjunto de entidades que possam contribuir positivamente no esforço de dinamização
tecnológica do setor industrial, através de:
- apoio à interação empresa e demais instituições de forma articulada com os
mecanismos já existentes;
- viabilização de estratégias para a utilização e difusão dos resultados das atividades
realizadas pelas instituição de pesquisa, articulando as demandas de mercado e o
poder de compra do Estado;
- estabelecimento de incentivos diferenciais que estimulem as diversas instituições de
pesquisa e as empresas a efetuarem contatos mais estreitos e do enquadramento
destes arranjos cooperativos como prioritários na concessão de apoio.
• Promover a rearticulação da infra-estrutura de P&D já instalada no país, através:
- estímulo aos institutos de pesquisa tecnológica industrial a buscarem sua
reformulação (incluindo reformulação dos meios de gestão e das áreas de atuação,
renovação das capacitações dos quadros técnicos e superação da obsolescência de seus
laboratórios) e reengajamento de forma coordenada financeira e tecnicamente com o
setor empresarial;
- apoio à constituição de 'parques de ciência' mobilizando recursos já disponíveis nos
ambientes universitários de excelência visando ampliar e melhorar sua articulação
com o setor produtivo;
- apoio a grupos de excelência organizados em redes e atuantes em áreas estratégicas
contra metas de capacitação e desempenho;
- apoio à montagem e reforço de sistemas que garantam a disseminação das
possibilidades reais de resposta da competência técnico-científica instalada no País
aos problemas do setor produtivo e sociedade brasileira.
Promover a melhoria das condições atuais e futuras da competitividade da
indústria e economia brasileira, tendo em vista os níveis de capacitação dos
diferentes setores e à inserção estratégica dos mesmos na economia*
• Promover a excelência em linhas de produtos onde a competitividade do produtor e
dos usuários se beneficie da proximidade física e onde o usuário tenha capacitação
para estimular o desenvolvimento de produtos mais competitivos e possibilidade de
manter uma demanda sustentada, através de:
- apoio a programas específicos visando aumentar os esforços de inovação em
empresas líderes com privilegiando o desenvolvimento de produtos mais intensivos em
tecnologia;
 
* Ver, no corpo do trabalho quadros resumindo sugestões do Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira, quanto a ações propostas visando a melhoria das condições de competitividade dos setores
de capacidade competitiva; setores com deficiências competitivas; setores difusores do
progresso técnico.
- estímulo a empresas visando a ampliação de atividades de inovação, com ligações
mais próximas a clientes/consumidores e fornecedores para melhorar 'design' de
produtos.
• Induzir estratégias que visem a produção de bens de maior valor agregado,
promovendo-se a fusão dos setores difusores do progresso técnico com áreas
tecnológicas mais maduras e dominadas no país, através de:
- programas mobilizadores que apresentem um poder de 'demonstração' para outras
empresas industriais e que permitam a ligação entre produtores e usuários de bens de
capital e empresas de 'software'
- constituição de centros/distritos voltados à produção de 'software' dedicado às
necessidades do setor industrial;
- apoio à pesquisa aplicada em biotecnologia, informática, etc.
• Dar suporte à realização de programas de certificação, normalização e metrologia
apoiados pela iniciativa privada (preferencialmente por associações empresariais com
metas definidas e comprovação de capacidade de gestão).
• Incentivar o desenvolvimento de processos, produtos e serviços menos poluentes,
poupadores de energia e de recursos naturais não-renováveis, através de:
- promoção do desenvolvimento de fornecedores locais de tecnologias e de serviços
ambientais;
- estímulo à utilização de tecnologias ambientais por parte das empresas.
• Apoiar a modernização dos processos de produção tendo em vista a automação,
flexibilização, integração e otimização dos processos produtivos através de:
- difusão de inovações organizacionais e de automação industrial;
- incentivo à atualização de equipamentos específicos a cada atividade industrial.
• Estimular pequenas e médias empresas a melhorar o conteúdo tecnológico de seus
produtos/processos através de:
- apoio à promoção de programas de gestão em articulação com Estados, Municípios,
associações empresariais e outras entidades atuantes;
- estabelecimento de medidas visando aumentar a produtividade e reduzir deficiências
de qualidade de produtos e processos e a elevação de sua capacitação através da
inserção em redes que reduzam desvantagens de porte e de capacitação gerencial.
• Estimular a utilização de projetos de grandes empresas públicas como mecanismo
de promoção do aprendizado tecnológico interno e nas empresas fornecedoras.
• Promover a capacitação científica e tecnológica na área de Ciências da Vida, a qual
já foi identificada como a que potencialmente servirá de base para o desenvolvimento
do próximo paradigma tecno-econômico, visando criar e mobilizar competências base
da competitividade futura da indústria e economia brasileira.
• Promover sistemas de informação para mobilização da competitividade e
capacitação inovadora da economia, através de:
- criação de bancos de dados sobre fatores e indicadores de competitividade e de
capacitação técnico-científica e da implantação de sistemas de acompanhamento e
avaliação dos níveis atingidos de capacitação e competitividade;
- implantação de sistemas de monitoramento das tendências de desenvolvimento
econômico, científico e tecnológico no Brasil e no exterior
- apoio a estudos visando a identificação e análise das necessidades e oportunidades
técnico-científicas atuais e futuras dos setores produtivos e dos demais setores da
sociedade brasileira, tanto a nível nacional quanto regional e setorial;
- mobilização de meios que garantam o aumento da eficiência e velocidade na qual
informação flui através da economia, contribuindo para rapidamente difundir novos
conhecimentos e tecnologias.
Ações Gerais Propostas
• Estabelecer ambiente de negociação e cooperação envolvendo os vários segmentos
interessados para que a definição das diretrizes de política e o acompanhamento das
ações implementadas possam ser realizados de forma transparente e submetida a
constantes reavaliações. A capacidade de introduzir correções de rumo com
flexibilidade e agilidade é indispensável.
• Promover o uso dos recursos do PADCT de forma articulada com demais
instrumentos de apoio ao desenvolvimento educacional, industrial e de C&T e visando
sempre o objetivo de alavancar e mobilizar um conjunto maior de recursos e esforços
para inovação.
• Adotar como norma fundamental a descentralização das ações, com ênfase nos
organismos estaduais, locais e setoriais atuantes na área de C&T.
• Apoiar a realização de estudos monitorando e analisando (a) novas tendências e
oportunidades para o Brasil quanto ao desenvolvimento competitivo, da ciência e
tecnologia, tanto a nível nacional quanto regional e setorial;e (b) novos desenhos de
estratégia para aproveitamento dessas oportunidades.
1 - Conceito de Competitividade
Estudos sobre competitividade tornaram-se freqüentes, principalmente nas
duas últimas décadas, sem que uma definição precisa e de larga aceitação deste
conceito estivesse disponível e, portanto, sem o desenvolvimento de metodologias
apropriadas para a sua análise.
Boa parte desses estudos conceitua a competitividade como um fenômeno
diretamente relacionado às características apresentadas por uma firma ou um
produto. Estas caraterísticas relacionam-se ao desempenho no mercado ou à eficiência
técnica dos processos produtivos adotados pela firma. Para os autores que privilegiam
o desempenho, a competitividade se expressa na participação no mercado (market-
share) alcançada por uma empresa ou um conjunto delas no total do comércio
nacional e internacional da mercadoria em questão. Já para os que associam
competitividade à eficiência, seus indicadores baseiam-se em coeficientes técnicos (de
insumo-produto ou outros) ou na produtividade dos fatores, comparados às 'melhores
práticas' (best practices) verificadas na indústria.
Entretanto, ambos os enfoques podem ser considerados como restritivos, pois
abordam o tema de modo estático, permitindo apenas o exame de como os indicadores
se comportaram até um determinado momento. Se observados dinamicamente, tanto
desempenho quanto eficiência são resultados de capacitações acumuladas e
estratégias competitivas adotadas pelas empresas, em função de suas percepções
quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico onde estão inseridas.
Estão igualmente superadas as visões tradicionais que definem a
competitividade como uma questão de preços, custos (especialmente salários) e taxas
de câmbio. Esta concepção levou, no passado, a políticas centradas na desvalorização
cambial, no controle dos custos unitários de mão-de-obra com reduzida qualificação e
- 11 -
no uso predatório de recursos minerais, energéticos e ambientais, com o objetivo de
melhorar a competitividade das empresas.1
1.1 - Competitividade Dinâmica
Na visão dinâmica, a competitividade deve ser entendida como a capacidade da
empresa em formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam
conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. O sucesso
competitivo passa, assim, a depender da criação e renovação das vantagens
competitivas, em um processo onde cada produtor se esforça por obter peculiaridades
que o distinguam favoravelmente dos demais. Neste sentido, destacam-se em primeiro
lugar as vantagens associadas à qualidade e produtividade dos recursos humanos e à
capacitação produtiva e inovadora das empresas.
Qualquer que seja a sua fonte, as vantagens competitivas usualmente
requerem tempo para que possam ser alcançadas. Essa característica é tanto aplicável
às vantagens associadas à inovação e à especialização dos trabalhadores quanto à
própria experiência de produção e comercialização acumulada ao longo dos anos.
Portanto, uma política para competitividade deve objetivar promover a
cumulatividade das vantagens competitivas adquiridas pelas empresas, incluindo,
além das já mencionadas acima, ainda a acumulação de capacidade financeira, a
montagem de relações e interações (por exemplo, com fornecedores e usuários), a
imagem conquistada no mercado, a diferenciação de seus produtos, etc.2
Assim, análises sobre competitividade devem ser capazes de distinguir (a)
situações onde predominam aspectos geradores de capacitações de curto, médio e
longo prazo; e também (b) fatores que contribuem para criação apenas da chamada
 
1 O conceito de competitividade espúria foi definido para caracterizar a ampla utilização, por parte de
alguns países, de fatores como os acima mencionados para obtenção, no curto prazo, de vantagens
competitivas, num processo que produz efeitos extremamente perversos à economia e sociedade e
muitas vezes são irreversíveis. Ver Fanzilber, 1988.
2 Casos de sucesso mostram, também, que é importante que as empresas estejam aptas - não apenas a
adotar estratégias competitivas que garantam o acúmulo de importantes experiências - mas a impor
correções de rumo quando necessário.
- 12 -
competitividade espúria daqueles que contemplam a construção de capacitação
competitiva real e sustentável.
1.2 - Competitividade Sistêmica
A noção de competitividade dinâmica indica que o desempenho empresarial
depende e é também resultado de fatores situados fora do âmbito das empresas e até
mesmo da estrutura industrial da qual fazem parte. Tais fatores incluem, dentre
outros: o potencial dos recursos humanos a que têm acesso, as infra-estruturas
disponíveis e as características sócio-econômicas dos mercados nacionais. Todos estes
são específicos a cada contexto nacional e devem ser explicitamente considerados nas
ações públicas ou privadas de indução de competitividade.
Por outro lado, a compreensão da dimensão dinâmica da competitividade -
colocando a inovação como fator fundamental para sustentar a sobrevivência e
crescimento das empresas - revela a preocupação com o entendimento da questão da
capacitação para inovação. Esta nos coloca claramente hoje que o aproveitamento
pleno das vantagens que as oportunidades tecnológicas oferecem depende igualmente
não apenas da organização e da dinâmica inovadora da empresa, mas também de
outras instâncias ao nível meso e macro da economia. No último caso é
particularmente ressaltado o importante papel dos fatores que favorecem e
aperfeiçoam a capacidade de acumulação tecnológica das empresas, tais como: um
forte sistema de educação superior; um ativo sistema acadêmico e de pesquisa
industrial; uma força de trabalho tecnicamente bem treinada e abundante; níveis e
padrões de investimento compatíveis; quadro legal e político estimulante; um forte e
exigente mercado interno; e condições favoráveis nas demais esferas relacionadas ao
contexto nacional e internacional no qual se dá o fluxo de comércio e investimento e
onde as inovações são geradas e difundidas.3
 
3 Ressalta-se aqui a correlação direta que pode ser feita entre os conceitos de sistema nacional de
inovação e o de competitividade sistêmica.
- 13 -
 Assim, atualmente o estudo das características e da dinâmica dos diversos
sistemas nacionais de competitividade constitui-se na base do novo enfoque e
compreensão de como vantagens comparativas nacionais surgem e são ou não
aproveitadas. O papel do governo - enquanto promotor e catalisador do processo
cumulativo de aprendizado e de reestruturação dinâmica da economia - é
particularmente enfatizado neste cenário em que se reconhece que o ambiente
econômico, político e social pode tanto (a) adiar ou mesmo barrar mudanças técnicas,
organizacionais e sociais associadas à emergência de novas oportunidades; ou, de
forma diametralmente oposta, (b) incentivar tais mudanças, contribuindo inclusive
para promover importantes mudanças na liderança econômica e tecnológica de
empresas, setores e países.
Faz-se necessário ressaltar que os processos espontâneos de busca da
competitividade, através do jogo das forças de mercado, podem provocar efeitos
adversos, particularmente, em matéria de emprego e salários, dilapidação e
deterioração do meio ambiente. A construção da competitividade sistêmica não pode,
portanto, prescindir de mecanismos que garantam harmonizar adequadamente as
dimensões temporais, econômicas e sociais dos alicerces da competitividade, por duas
razões: para evitar os efeitos adversos relacionados à competitividade espúria e para
que aqueles alicerces não sejam frágeis e efêmeros.
Deve-se também ressaltar queo desenvolvimento competitivo pode ser
compatível com um projeto social de ampliação das oportunidades de emprego,
remuneração e qualidade de vida, mas tem para isso que incorporar de forma explícita
esses objetivos. O desenvolvimento com competitividade pode criar empregos novos e
melhores, assim como qualidade de trabalho e de vida, mas tem para isso que estar
ligada a um conjunto de diretrizes e objetivos capazes de criar perspectivas de
crescimento econômico e redução das distâncias sociais.
- 14 -
2 - Fatores Determinantes da Competitividade
Conforme definições e conceitos definidos nos ítens anteriores, desempenho
competitivo de uma empresa, indústria ou nação é condicionado por um vasto
conjunto de fatores, que pode ser subdividido naqueles internos à empresa, nos de
natureza meso-estrutural, pertinentes à forma de organização industrial dos
complexos e setores industriais, e nos de natureza macro-estruturais.
Os fatores internos à empresa são aqueles que estão sob a sua esfera de decisão
e através dos quais procura se distinguir de seus competidores. Incluem os estoques
de recursos acumulados pela empresa, as vantagens competitivas que possuem e a
sua capacidade de ampliá-las. Pode-se citar, dentre outros, a capacitação inovadora e
produtiva; a qualidade e produtividade dos recursos humanos; a condição de mobilizar
recursos; a qualidade e amplitude de serviços pós-vendas; as relações privilegiadas
com usuários e fornecedores; e o conhecimento do mercado e a capacidade de se
adequar às suas especificidades.
Os fatores meso-estruturais são aqueles que, mesmo não sendo inteiramente
controlados pela firma, estão parcialmente sob a sua área de influência e caracterizam
o ambiente competitivo que ela enfrenta diretamente. Integram esse grupo aqueles
relacionados: à configuração da indústria em que a empresa atua (tais como grau de
concentração, verticalização e diversificação e tamanho das firmas, potencialidades
para formação de alianças e grau de maturidade, ritmo, origem e direção do progresso
técnico); à concorrência (no que tange às regras que definem condutas e estruturas
empresariais em suas relações com consumidores e competidores); e às características
dos mercados consumidores (em termos de sua distribuição geográfica e em faixas de
renda; grau de sofisticação etc.).
Os fatores macro-estruturais da competitividade são aqueles que constituem
externalidades que moldam e afetam o ambiente produtivo e competitivo,
influenciando as vantagens que firmas de um país possuem frente às suas rivais,
tanto no mercado nacional quanto no internacional. Podem ser de diversas naturezas:
- 15 -
- macroeconômicos, como nível de investimentos da economia, taxa de câmbio,
oferta de crédito e taxas de juros;
- político-institucionais, incluem as políticas de desenvolvimento econômico e
industrial, comercial e correlatas, destacando-se as políticas fiscal, financeira,
creditícia e tarifária, de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico e as regras
que definem o uso do poder de compra do Estado;
- regulatórios como as políticas de regulação da concorrência, proteção à
propriedade intelectual, proteção ao consumidor e preservação ambiental;
- infra-estruturais, incluindo a disponibilidade, qualidade e custo de: energia,
transportes, telecomunicações, redes e sistemas informatizados, capacitação científica
e tecnológica e serviços de informação;
- sociais, como a qualificação da mão-de-obra (educação profissionalizante e
treinamento), políticas de educação, formação e treinamento de recursos humanos,
trabalhista e de seguridade social, grau de exigência dos consumidores;
- referentes à dimensão regional, como os aspectos relativos à distribuição
espacial dos vários tipos de recursos (naturais e criados) e da produção; e
- internacionais, como as tendências do comércio mundial, os fluxos
internacionais de capital, de investimento de risco e de tecnologia, relações com
organismos multilaterais, acordos internacionais e políticas de comércio exterior.
Portanto para se formular e implementar estratégias de promoção à
competitividade faz-se fundamental identificar e promover de forma coordenada os
fatores relevantes para o sucesso competitivo - internos e externos à firma - avaliando
a sua importância atual e futura, assim como o potencial das firmas com relação aos
mesmos.
- 16 -
3 - Grandes Transformações Atuais Influenciando a Competitividade
Mundial
3.1 - Mudança no Paradigma Técnico-Econômico
A dinâmica tecnológica internacional mudou significativamente na década dos
80. Apesar da grande variedade de inovações radicais e incrementais específicas em
quase todo o setor industrial, existe evidência de uma mudança de paradigma das
tecnologias intensivas em capital e energia e de produção inflexível e de massa
(baseadas em energia e materiais baratos) dos anos 50 e 60 para as tecnologias
intensivas em informação, flexíveis e computadorizadas dos anos 70 e 80. As
indústrias tecnologicamente maduras foram rejuvenescidas, ao mesmo tempo em que
emergiram outras novas (lideradas pelas tecnologias de informação e comunicação -
TIC, as quais tornaram-se a base do rápido desenvolvimento tecnológico, da produção
e do comércio internacionais.
Esta revolução tecnológica continua afetando, embora de forma desigual, todos
os setores e novos requerimentos têm sido impostos à economia como um todo,
envolvendo, além de importantes mudanças tecnológicas, várias mudanças
organizacionais e institucionais.4 Como reflexo das tentativas de contrarrestar os
impactos negativos dos desajustes causados pela mudança de paradigma e agilizar a
reestruturação industrial, nos últimos dez anos vem se observando uma intensificação
da competição entre empresas e países.
Neste processo, a capacidade de rapidamente gerar, introduzir e difundir
inovações passou a exercer papel fundamental para a sobrevivência das empresas e
até para deslocar rivais de posições aparentemente inexpugnáveis. Tal situação
colocou ainda mais clara a importância da inovação como instrumento central da
estratégia competitiva das empresas e países. Como consequência principal assistiu-se
ao significativo aumento dos esforços de inovação principalmente por parte dos países
mais avançados.5
 
4 Ver, dentre outros, Lastres, 1993 e Bell e Cassiolato, 1993.
5 Ver capítulo 3 do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira.
- 17 -
Uma vez que as novas tecnologias vêm confrontando a maior parte das
empresas com a quebra de suas trajetórias anteriores, a necessidade de informação
sobre futuros desenvolvimentos tornou-se ainda mais crucial. Portanto, o acesso a
uma ampla base científica e tecnológica que constituía-se numa vantagem em fases
anteriores tornou-se uma necessidade vital. Assim, o segundo e correlato aspecto da
tendência internacional nos últimos anos relaciona-se à rápida proliferação de novos
acordos, consórcios e programas de colaboração tecnológica entre empresas (e entre
estas e outras instituições).
A constituição de redes de inovação tornou-se característica marcante dos anos
80s nos países avançados e passaram a ser vistas como um dos componentes
fundamentais no novo desenho da estratégia competitiva industrial. Comparado com
a década dos 70, o número de alianças tecnológicas mais do que sextuplicou na década
subsequente, tendo se concentrado nas novas áreas de tecnologia genérica (tecnologia
de informação e comunicação, biotecnologia e materiais avançados).6 Em
consequência, o grau de competitividade de uma determinada empresa passou a
refletir cada vez mais a eficiência das redes ou sistemas nos quais tal empresa se
insere.
O advento da tecnologia de informação no bojodo novo paradigma técnico-
econômico tanto gerou necessidades de colaboração, quanto propiciou os meios
técnicos para o aprimoramento das 'networks'. Ao mesmo tempo em que a expansão do
novo paradigma vem exigindo maior interligação e colaboração dentre empresas e
entre estas e as instituições de pesquisa, o próprio desenvolvimento das tecnologias da
informação e comunicação facilitam isto; por tornarem viável a rápida comunicação e
transmissão de dados e a ligação em redes, favorecendo interações maiores entre as
esferas de pesquisa, produção e comercialização.
 
6 Para maiores detalhes ver Lastres, 1993
- 18 -
3.2 - Globalização
A emergência do novo paradigma tecnológico e a aceleração do processo de
globalização são os traços mais marcantes dos últimos 15 anos. Enquanto a revolução
tecnológica se difundia de forma desigual entre as principais economias avançadas,
acelerou-se ainda mais - também de forma desigual - a integração da economia
mundial. Tais aspectos em muito afetaram a competitividade das economias
nacionais, as estruturas setoriais e empresariais.
Deve-se levar em conta, todavia, que analítica e politicamente o conceito de
globalização ainda é escorregadio pois repousa na interface de três fenômenos
distintos: as relações econômicas internacionais mais tradicionais e antigas entre
economias nacionais resultantes do comércio; as atividades das empresas
multinacionais conjuntamente aos mercados corporativos extra-fronteira construídos
dentro de estruturas corporativas multinacionalizadas; e, os mercados financeiros e
monetários realmente globais que surgiram nos anos 60 e que ganharam momentum
nos 70 e 80.7
As novas dimensões da globalização relacionam-se à emergência de um sistema
mundial de interligações de redes entre as principais empresas (e outras instituições)
principalmente nos países da Tríade. Através de tais redes pode-se ligar pesquisa,
produção, marketing e outras atividades ao redor do globo. Essas redes possibilitaram
também a construção de uma ampla gama de alianças envolvendo novos tipos de
interação entre financiadores, fornecedores, clientes, concorrentes etc.
Pode-se afirmar que o atual processo de globalização é um fenômeno composto
de duas dimensões principais, interligadas que se tornaram tecnicamente viáveis a
partir da revolução microeletrônica. A primeira, a globalização financeira, foi
acelerada com a desregulamentação dos mercados a partir dos anos 80, permitindo o
rápido movimento de capitais, na maior parte das vezes especulativo, através das
fronteiras nacionais. Tal dimensão financeira provocou mudanças significativas na
propriedade e controle das grandes corporações, trazendo uma ênfase muito grande
 
7 Chesnais, 1994.
- 19 -
nos resultados de curto prazo em detrimento dos de longo prazo. Os únicos sistemas
nacionais de produção e inovação protegidos deste processo são aqueles em que o setor
financeiro reconhece ter uma responsabilidade em assegurar a coesão e crescimento
do setor manufatureiro e tem construído ligações menos voláteis com o setor
industrial.
A segunda dimensão, ligada à anterior, refere-se à possibilidade que as
grandes corporações têm de, através de redes corporativas, definir e implementar
estratégias de competitividade de caráter global. Tais estratégias são centradas na
obtenção de vantagens advindas da crescente mobilidade de certos ativos e fatores
(como capital, acesso a matérias-primas, partes e componentes, etc.) e das
possibilidades de manejar sistemas complexos proporcionados pelo avanço da
informática (Cassiolato, 1994).
Deve-se lembrar, todavia, que não existem evidências quanto à existência de
um processo de globalização das atividades científico-tecnológicas. É verdade que as
interligações em redes têm permitindo uma maior, e mais rápida, conectividade entre
equipes de matrizes e filiais e entre estas e pesquisadores trabalhando em vários
países. Isso não significa, contudo, que esteja ocorrendo uma maior divisão do
trabalho intelectual entre as diferentes instâncias das grandes empresas.
Na verdade, estudos avaliando tal comportamento e tendência - através da
análise de dados sobre alianças tecnológicas, 'inputs' tecnológicos (gastos em P&D) e
'outputs' tecnológicos (patentes) - demonstram o contrário. No que se refere às
tendências internacionais quanto à formação de alianças estratégicas tecnológicas,
por exemplo, ressalta a concentração destes arranjos nos países da Tríade (EUA,
Europa Ocidental e Japão). Conforme mostra a Figura 1, 90% dos acordos de
cooperação tecnológica registrados nos anos 80, realizou-se entre empresas
pertencentes a tais países. A grande exceção em termos da participação marginal dos
chamados países em desenvolvimento nos novos acordos de cooperação tecnológica,
refere-se ao caso dos países do Sudeste Asiático, os quais vêm aumentando de forma
significativa e contínua seus esforços relativos à inovação desde a década de 70.
- 20 -
Figura 1: Distribuição de Alianças Tecnológicas entre Blocos Econômicos
1980/9 (número total de casos: 4.192)
Europa
Europa/US 
Europa/Japão
US
US/Japão
Japão 
Outros
Fonte: Lastres, 1993. Fonte Original de Dados: MERIT/CATI
Conclusões semelhantes são obtidas através análise dos dados sobre os
chamados 'insumos tecnológicos'. Tais análises mostram que - tanto nos EUA, quanto
no Japão e nos países da União Européia - mais de 80% dos gastos de P&D por parte
das grandes empresas transnacionais são realizados nos seus países de origem. A
mesma tendência é observada em relação aos resultados da atividade de inovação.
A Figura 2 mostra que a origem geográfica da quase totalidade das patentes
depositadas nos EUA - no período 1985/90 pelas 500 maiores empresas transnacionais
- é sempre o próprio país sede dessas empresas. De fato, 98,9% das patentes
depositadas por empresas japonesas nos EUA, no período 1985/1990, tem como origem
- 21 -
atividades tecnológicas desenvolvidas no próprio Japão; enquanto 92,2% das patentes
de empresas norte-americanas teve como origem os EUA.
Figura 2: Origem das Patentes das Grandes Empresas Transnacionais
dos Principais Países da OCDE*
* Dados referem-se às patentes depositadas nos EUA, no período 1985/1990
Fonte: Lastres, 1995. Fonte original de dados: Patel e Pavitt, 1994
Conforme mostra a Tabela 1, tal situação é semelhante a dos principais países
europeus com uma pequena diferença relativa a um relacionamento um pouco mais
estreito dentre os países membros da União Européia: Alemanha (84,7% das patentes
tem como origem o próprio país e 88,8% a Europa como um todo), França (86,6% e
94,1% respectivamente) e Itália (88,1% e 94,3% respectivamente).
Tabela 1: Países Selecionados - Localização Geográfica das Patentes das
Grandes Empresas Transnacionais
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Nacionalidade das
Firmas
País/Região de Origem das Patentes* (percentual)
EUA Europa Japão Resto do
Mundo
Japão 0,8 0,3 98,9 0,0
EUA 92,2 6,0 0,5 1,3
Alemanha 10,3 88,8 0,4 0,7
França 5,1 94,1 0,3 0,5
Itália 5,4 94,3 0,0 0,3
Reino Unido 35,4 61,6 0,2 2,7
* Dados referem-se às patentes depositadas nos EUA, no período 1985/1990
Fonte: Adaptado de Patel e Pavitt, 1994
Portanto a análise de tais dados, indica que, de fato, a pequena
'internacionalização' verificada nesta área, tem se dado na direção de um
aprofundamento do processo de regionalização ou no máximo 'triadização' - mais
propriamente do que de globalização. Conforme mostram tanto a figura quanto a
tabela, a importância relativa da contribuição dos demais países excetos os da 'Tríade'
é desprezível: 0% no caso das empresas japonesas, 1,3% no caso das americanas, 0,7%
nocaso das alemãs, 0,5% no caso das francesas e 0,3% no caso das italianas.
Pode-se concluir, portanto, que as transformações associadas ao advento e
difusão do novo paradigma técnico-econômico e ao processo de globalização
produziram importantes avanços que vieram a permitir tanto a realização de
pesquisas integradas a escala mundial, como a difusão rápida e eficiente dos
conhecimentos gerados. Contudo, os dados e análises atualmente disponíveis revelam
uma marcante limitação do espaço geográfico onde as informações e conhecimentos
são produzidos e circulam. Assim, contrariamente à visão mais ou menos difundida
sobre uma pretensa internacionalização dos esforços e resultados do desenvolvimento
científico e tecnológico, o padrão que se observa é o de uma concentração nitidamente
nacional de tais atividades.
- 23 -
Não se pode também confundir o movimento relativo à crescente importância
de acordos de cooperação tecnológica industrial com uma suposta internacionalização
da P&D. O que ocorre, de fato, é que as possibilidades trazidas pelos
desenvolvimentos das novas tecnologias da informação permitiram, particularmente
às grandes corporações, a utilização de recursos e insumos tecnológicos espalhados em
diversos países e regiões. A proliferação das alianças tecnológicas internacionais
certamente ampliou e intensificou tal possibilidade, assim como permitiu a circulação
de conhecimentos a nível mundial. Contudo, tais atividades têm-se restringido a um
espaço privilegiado e extremamente concentrado, não se verificando, também neste
caso, a internacionalização efetiva nem das atividades de pesquisa nem dos
conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos pelas mesmas.
É importante frisar que, portanto, que as alterações descritas acima resultaram
na redefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas tecnologias.
Uma importante característica correlata do atual contexto internacional que tem
afetado significativamente as condições de acesso a novas tecnologias por parte dos
países em desenvolvimento são as mudanças na estrutura de produção e comércio
internacional, com a formação de blocos regionais de comércio, onde, dentre outras
coisas, se incentivam as parcerias produtivas, comerciais e tecnológicas. Como
decorrência, atualmente os países em industrialização vêm encontrando crescentes
problemas nos seus esforços para adquirir e introduzir inovações geradas pelas
economias industriais mais avançadas.8
 
8 Ver Bell e Cassiolato, 1993.
- 24 -
4 - Políticas Governamentais para Promoção da Competitividade
Os países mais avançados têm enfrentado as mudanças acima descritas de
maneira diferenciada. Do ponto de vista da complexidade analítica, deve-se enfatizar
que, tanto nos países da OCDE quanto nos NICs asiáticos as políticas comerciais,
industriais e tecnológicas, tornaram-se crescentemente integradas a partir da década
de 1980. Por outro lado, a ênfase principal das novas políticas aponta na direção a um
crescente investimento na criação de capacitações a nível da empresa.
A nível nacional, tem sido observado um crescimento real nos orçamentos
governamentais de P&D na maior parte dos países da OCDE no período mais recente,
o que tem sido acoplado a outras medidas para estimular o investimento em inovação
por parte de empresas. Como resultado, e conforme a Figura 3 mostra, nas últimas
duas décadas os países mais avançados - que já vinham praticando políticas de
promoção à P&D de forma significativa - aumentaram ainda mais seus esforços,
atingindo níveis de gastos próximos a 3% de seus Produto Nacional Bruto - PNB.
As políticas de competitividade ora em vigor nos países da OCDE não devem
ser confundidas com a geração anterior de políticas industriais, uma vez que elas não
possuem nem a simplicidade nem a relativa legibilidade daquelas. Mesmo que as
novas políticas utilizem certos instrumentos tradicionais da política industrial, elas
recorrem a um número maior e mais complexo de instrumentos.
Em praticamente todos os países da OCDE, os governos têm considerado
imperativo contrabalançar o grau elevado de abertura ao exterior que se seguiu à
importante redução de barreiras tarifárias (que em alguns casos foi completa),
mobilizando e desenvolvendo uma ampla gama de instrumentos visando melhorar a
competitividade de suas empresas, tanto no que se refere às exportações quanto em
relação aos mercados internos totalmente abertos à concorrência externa.
Por um lado reconhece-se que a pressão da concorrência externa nos oligopólios
locais é considerada positiva na maior parte dos países da OCDE. Porém, uma série
de outros parâmetros é considerada pelos governos locais. Entre estes destacam-se a
preservação dos componentes principais da soberania nacional, particularmente o
- 25 -
domínio e algum grau de autonomia em tecnologias críticas. A racionalidade para este
parâmetro combina considerações militares e industriais cujo mix varia de acordo com
o país. Outros parâmetros importantes incluem a questão do emprego, a balança
comercial e o aumento dos retornos do estímulo a processos tecnológicos interativos.9
Figura 3: Gastos em P&D/PNB em Países Selecionados da OCDE - 1975/92
EUA Japão Alemanha França Itália Canada
0 
1 
2 
3 
75
80
85
90
92
% 
Fonte Original de Dados: National Science Foundation, 1995
Um conceito chave é o reconhecimento que as políticas de promoção ao
investimento produtivo, à tecnologia e ao comércio devem ser consideradas de
maneira holística, conjuntamente e não de maneira separada ou alternativa. A
 
9 Este último, apesar de ainda incipiente, está presente em vários países da OCDE, particularmente os
países nórdicos e a França (OCDE, 1993 e 1995).
- 26 -
interface entre tais políticas é particularmente visível nas políticas de apoio á
exportação e no erguimento das barreiras não tarifárias.
As barreiras não tarifárias, em oferecendo a alguns setores uma proteção
efetiva, compensam aquela que foi perdida como resultado da eliminacão das tarifas e,
são, de fato instrumentos setoriais de política de competitividade. Em casos mais
sofisticados elas se dirigem a melhorar o desempenho e permitir o aprendizado nos
mercados domésticos e de satisfazer os requisitos de segurança e ambientais.
As subvenções e os auxílios fiscais-financeiros diretos ou indiretos à indústria
constituem, hoje em dia, o instrumento de política industrial mais utilizado pelos
países da OCDE. Tais subvenções e auxílios incluem instrumentos de financiamento
direto, que transferem recursos a determinadas categorias especiais de empresas e
setores, e incentivos fiscais, que conferem privilégios temporários às empresas que se
qualifiquem para atividades relacionadas à inovação.
Além de medidas que visam especificamente melhorar a concorrência externa
de empresas locais, os novos instrumentos são os que se direcionam a salvaguardar o
tecido industrial dos países da OCDE e apoiar as atividades de P&D e à difusão de
inovações.
Quanto às medidas que visam resguardar o tecido industrial destacam-se as
políticas industriais regionais.10 Estas buscam encorajar e facilitar a conversão
industrial e a diversificação dos recursos locais de capital e trabalho, no caso de
regiões confrontadas com déficits estruturais de emprego, tendo em vista sua
especialização setorial anterior em indústrias decadentes, e promover um processo de
desenvolvimento passível de auto-sustentação em regiões subdesenvolvidas. O
segundo tipo de programa deste bloco valoriza especialmente o apoio a pequenas e
médias empresas. Incluem programas que oferecem vantagens a tais empresas, em
termos de diminuição de custos(essencialmente através de tratamento fiscal),
programas de estímulo a ações específicas locais/setoriais, tendo em vista um
interesse econômico (criação de empregos) ou tecnológico (inovação), e medidas de
 
10 Os programas deste tipo foram aqueles que mais cresceram, no âmbito dos países da OECD, ao
longo da década de 80. Ver Cassiolato, 1994.
- 27 -
caráter geral, mas dirigidas ao reforço de atividades específicas, tais como P&D,
programas de automação e recursos para consultoria em gestão e organização.
Finalmente, o apoio ao emprego e à formação profissional tem sido um dos
objetivos principais dos diversos países da OCDE. As iniciativas compreendem
programas dirigidos a todas as empresas e destinados a auxiliar o financiamento de
atividades de formação (através de renúncia fiscal) e de programas específicos em
favor do investimento e da criação de emprego.
Quanto ao apoio às atividades de P&D e à difusão de inovações, deve-se
sublinhar que tanto o tipo quanto a forma mudaram substancialmente ao longo dos
anos 80. Levantamento efetuado pela OCDE identificou três tipos de programas dessa
natureza. O primeiro, de caráter geral, visa obter reduções nos custos de P&D para as
empresas, sobretudo através de vantagens fiscais. Normalmente, têm sido
complementados por subsídios suplementares se tais atividades são efetuadas sob
certas condições (projetos de cooperação com universidades e centros de pesquisas,
projetos internacionais, etc.). A tendência mais importante é a de encorajar as
modalidades mais interativas. O segundo tipo, apoio a tecnologias específicas, tende a
se concentrar num número relativamente pequeno de áreas tecnológicas,
principalmente em informática e novas formas de energia. Finalmente, o terceiro tipo
visa reforçar os investimentos em P&D de pequenas e médias empresas. Estes
programas, que aumentaram significativamente ao longo dos anos 80, visam, na
maior parte dos casos, estimular o acesso de tais empresas a resultados de P&D já
existentes na economia.
O Anexo 1 do presente trabalho apresenta, em maiores detalhes, os objetivos e
mecanismos de política industrial e tecnológica implementados recentemente nos
EUA, Japão, França, Reino Unido, Coréia do Sul e Taiwan. A seguir, alguns dos mais
importantes dentre esses são apresentados resumidamente no Quadro 1.
Quadro 1: Exemplos de Política Industrial e Tecnológica em Países
Selecionados - EUA, Japão e Alemanha
- 28 -
EUA
Constituição de um ambiente pré-competitivo visando a construção da
nova infra-estrutura voltada à produção e difusão tecnológica através do
apoio ao Programa 'Info-highways'; do reforço papel do 'National
Institute of Standards and Technology'; e da ampliação do mandato do
'National Center for Manufacturing Sciences'
Favorecimento da formação de redes e parcerias - incluindo a promoção de
acordos cooperativos entre aproximadamente 1500 laboratórios federais
e privados - para capacitação dos diferentes agentes do sistema em áreas
específicas ('targeted research'), visando a melhorar e garantir a
competitividade de empresas norte-americanas para enfrentar,
especialmente, a ameaça japonesa11
Japão
Apoio aos 'Intelligent Manufacturing Systems' - IMS que objetivam a
colaboração internacional em P&D em tecnologias ligadas à produção
(integração e padronização de tecnologias de produção existentes e
desenvolvimento de sistemas de produção para o século XXI)
Promoção de grandes programas de pesquisa cooperativa - com o objetivo
de promover o monitoramento de informações, a capacitação de recursos
humanos, a criação de interconexões entre atores relevantes e a
realização de P&D em áreas estratégicas de tecnologia de ponta - os
quais dificilmente seriam levados adiante pelo setor privado sozinho
tendo em vista o montante dos gastos, a duração dos projetos e a
incerteza neles envolvidos12
'Programa 21' apresentado pelo MITI em 1994, centrado numa visão do
futuro caracterizada por uma combinação entre áreas produtivas,
científicas, tecnológicas, etc., que representem as necessidades futuras
da sociedade
 
11 Neste caso inclui-se o apoio a Programas visando a competitividade em setores/áreas estratégicas
tais como: 'Supercar', 'SEMATECH', 'Clean Car Initiative'; 'US Display Consortium'; 'National Flat
Panel Display Initiative'; 'Advanced Communications Technology Satellite' e 'Advanced Battery
Consortium'.
12 Neste caso inclui-se a criação do programa para supercondutores cerâmicos de alta temperatura.
Ver Lastres, 1994b.
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Alemanha
Promoção a empresas 'technology-oriented' e a consórcios de pesquisas
entre empresas e institutos de pesquisa, visando favorecer a formação de
jovens pesquisadores que irão trabalhar em empresas, através de seu
amadurecimento técnico em institutos de pesquisa
Programa para o Desenvolvimento da Tecnologia Industrial, para o
desenvolvimento de sistemas aplicativos baseados em computadores
'Project Forderung', através do qual o governo federal, via o setor
financeiro, subsidia a P&D industrial em setores de novas tecnologias
(energia, informática, biotecnologia, etc.)
Programa para a automação de fábrica - 'Productik' - para apoio ao setor
industrial na introdução de tecnologias avançadas
Programa 'Aplicações de Microeletrônica', visando incentivar a aplicação e
difusão da microeletrônica em produtos industriais de setores específicos
(eletrônica, robótica, biotecnologia, etc.)
Portanto, juntamente com a maior importância conferida às atividades
tecnológicas, eleitas como elemento fundamental da nova estratégia competitiva em
todos os países da OCDE, uma diferença quanto ao enfoque das diretrizes de política
adotadas fizeram-se notar.
O principal objetivo das atuais políticas e regionais para C&T nos países mais
avançados tem concentrado-se em: (a) rapidamente identificar importantes
oportunidades tecnológicas futuras; (b) aumentar a velocidade na qual a informação
flui através do sistema; (c) rapidamente difundir as novas tecnologias; e (d) aumentar
a conectividade das diferentes partes constituintes dos sistemas de C&T para ampliar
e acelerar o processo de aprendizado.
Tais objetivos têm sido perseguidos de maneira conjunta, especialmente
através da mobilização de redes de inovação, a qual tem se constituído no objetivo
central da política governamental dos países mais avançados nos anos recentes. No
final dos anos 80, 4/5 do orçamento do governo japonês para P&D foram alocados para
projetos de colaboração tecnológica enquanto cerca de 2/3 do orçamento de pesquisa da
União Européia foi desembolsado nesta forma para a promoção das novas tecnologias
genéricas.13
Acima de tudo, as novas políticas industriais e tecnológicas implementadas
pelos países da OCDE mostram que a era do auxílio indiscriminado cedeu lugar a
 
13 Lastres, 1994a.
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políticas com foco bem definido, onde o critério da eficiência e da avaliação dos
resultados tornou-se regra imperiosa. Como contrapartida, medidas focalizadas de
fomento à competitividade aumentaram significativamente.
5 - Competitividade da Indústria Brasileira no Quadro Atual
A situação brasileira confronta-se atualmente com um quadro onde a
dimensão, rapidez e complexidade das inovações tecnológicas e institucionais em
curso já avançado nas economias desenvolvidas mostram-se desafiadores. Visando
analisar os impactos de tais desafios à capacidade de competição da indústria
brasileira, torna-se importante refletir sobre as principais vantagens, potencialidades
e entraves ao desenvolvimento competitivo nacional acumuladas ao longo dos últimos
anos.
Apesar de ser inegável o desempenho brasileiro recente quanto às exportações,é preocupante que os setores exportadores mais competitivos concentrem suas
exportações em 'commodities', cujos mercados apresentam tendência a um baixo
dinamismo, excesso estrutural de oferta e queda generalizada de preços.
A principal vantagem competitiva da indústria brasileira é o seu mercado
interno, um dos maiores do mundo e que seria ainda mais amplo se não enfrentasse
as restrições decorrentes da crescente desigualdade na distribuição da renda e
consequente marginalização de parcela significativa da população do consumo dos
bens industriais.
Conforme ressaltado pelo ECIB, o período recessivo e de instabilidade dos anos
80 e início dos anos 90, induziu as empresas brasileiras a adotarem estratégias de
sobrevivência. O ajuste empreendido aumentou a eficiência e a qualidade industrial e
evitou a desindustrialização, embora não tenha ocorrido uma renovação e atualização
do parque industrial que significasse um salto qualitativo do ponto de vista da
competitividade. Ao contrário, a natureza defensiva do ajuste praticado pela maior
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parte da indústria não permitiu a adoção de estratégias 'ofensivas' de modernização
acelerada do sistema empresarial brasileiro: a estrutura dos grandes grupos nacionais
não avançou em direção a um perfil moderno de atividades de elevada densidade
tecnológica e de rápido crescimento; o tamanho econômico dos grupos de capital
nacional praticamente não cresceu - em contraste com as grandes empresas de outros
países em desenvolvimento.14
Acima de tudo destaca-se que a rarefação dos esforços com inovações por parte
do setor privado brasileiro, aliada à relativa exiguidade destas atividades e a ausência
de processos cooperativos eficazes vêm representando importante deficiência
competitiva no sistema de inovação brasileiro. Além disto e das defasagens técnicas e
organizacionais dos diferentes setores industriais, é relevante ressaltar as deficiências
estruturais, que também se agravaram na 'década perdida', e que não podem deixar
de ser objeto de preocupação:
• a precariedade da base educacional brasileira, especialmente face aos
requisitos exigidos pelos novos processos produtivos;
• o distanciamento entre sistema produtivo e sistema bancário-financeiro,
marcado pela ausência de crédito e financiamento de longo prazo e pelo reduzido grau
de endividamento como proporção dos ativos empresariais; e
• a profunda deterioração da capacidade regulatória do Estado, enfraquecido
pela crise fiscal e financeira, impotente para articular a retomada do crescimento
econômico e para fomentar o avanço da competitividade nacional, sem a
implementação prévia de reformas.
Diferentemente do período anterior, calcado em métodos tayloristas e fordistas
de produção, o advento da nova revolução colocou por terra a possibilidade de o país
continuar a se desenvolver sem um grau satisfatório de educação e de capacitação de
 
14 A forma adotada de ajuste traduziu-se principalmente no 'enxugamento' da produção, com o
abandono de linhas de produtos de maior nível tecnológico em favor de produtos mais padronizados.
Esse processo de 'downgrading' da produção, oposto à tendência internacional, vem provocando um
significativo descolamento da estrutura industrial nacional em relação aos segmentos mais dinâmicos
na pauta de consumo dos países industrializados e no comércio internacional. Ver Estudo da
Competitividade Brasileira.
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seus trabalhadores, suficiente para levá-los a participar ativamente dos processos de
produção.
O desafio educacional é urgente, uma vez que não é possível elevar
substancialmente a escolaridade média da população em menos que uma década e
meia. À medida que se postergam soluções efetivas para a crise do sistema
educacional brasileiro, posterga-se também o horizonte temporal de superação do
problema - adentrando já nas primeiras décadas do século XXI.
É necessário reconhecer e enfatizar que o desenvolvimento competitivo não
pode ser alcançado enquanto estão excluídos largos contingentes da população e
subsistem em atividades marginais outras importantes frações. A integração dessas
parcelas da população à economia e à cidadania é fundamental e concorre no sentido
de promover o desenvolvimento de um mercado interno amplo e dinâmico, capaz de
desenvolver-se no sentido das exigências internacionais, cada vez mais amplas e
rígidas, associadas a qualidade, segurança e respeito ao meio ambiente e aos recursos
naturais.
A importância da inovação tecnológica para a competitividade - entendida como
a capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe
permita conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado - é
inequívoca. No entanto, conforme visto no item 3, a necessária reestruturação da
indústria brasileira coloca-se hoje num quadro no qual a base tecnológica e
organizacional para a competitividade é totalmente diferente daquela dos anos 60 e
70.
Cabe particularmente ressaltar que num ambiente muito dinâmico, os níveis
de competitividade são rapidamente erodidos e a base para se entrar em novos
mercados torna-se rapidamente inadequada para se manter neles, se expandir dentro
deles ou se diversificar além deles. Portanto, projetos de importação de tecnologia
(assim como qualquer outra atividade pontual e estanque) podem contribuir apenas
temporariamente às posições competitivas em trajetórias de mudanças tecnológicas
aceleradas e contínuas.
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 Adicionalmente e conforme discutido acima, como decorrência das
transformações ocorridas a nível mundial nos últimos anos, têm-se verificado:
• a redefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas
tecnologias, resultando no aumento das dificuldades para incorporação de inovações
geradas pelas economias industriais mais avançadas por parte desses países; e
• uma importante marginalização da participação das empresas dos países em
industrialização nos novos arranjos tecnológicos industriais. Sublinha-se aqui que
dentre os países em desenvolvimento, somente aquelas empresas que vêm investindo
de forma significativa e contínua em inovação têm tido algum nível de participação
nos novos acordos de cooperação tecnológica e são vistos como possíveis parceiros nos
novos arranjos de colaboração internacionais.
Consequentemente, o esforço necessário à superação da atual fragilidade
tecnológica nacional requer não apenas reverter a tendência de retração das
atividades de inovação a nível do sistema brasileiro como um todo, mas
principalmente induzir uma mudança fundamental nas estratégias industriais. No
cerne de tal mudança estão obviamente os objetivos de buscar o aprendizado e a
capacitação para inovação de forma persistente e cumulativa. Sem isto os riscos
quanto ao comprometimento do projeto de 'inserção competitiva internacional'
aumentam enormemente.
6 - A Política de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico
6.1 - Requisitos de Política
As exigências da rápida mudança tecnológica e do ambiente competitivo
internacional impõem uma nova agenda de política de competitividade, na qual
privilegia-se a necessidade de suporte à inovação tecnológica, à modernização e
ampliação da infra-estrutura básica, à articulação dos meios e instrumentos de
financiamento, à modernização da gestão empresarial e à reestruturação produtiva.
Tal agenda, associada ao objetivo de criação de meios para se alcançarem formas
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dinâmicas competitividade sistêmica, conforme discutido acima, exige a atuação de
um Estado capacitado e eficiente para enfrentá-la. A reconstrução do Estado, em
novas bases, com recuperação de sua capacidade ordenadora, constitui, portanto,
condição essencial para sustentar o desenvolvimento

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