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Filosofia na Antiguidade
A reflexão filosófica na Grécia clássica tornou possível explicar racionalmente a origem (arché) do universo, distanciando-se das narrativas míticas da época arcaica e trazendo, assim, novas perspectivas para o conhecimento, conforme apresentado na Unidade 1. 
Pré-socráticos
Os primeiros pensadores – os filósofos da natureza, ou pré-socráticos, ou físicos – se empenharam em desvendar o princípio do cosmos, relacionando a formação do universo com os quatro elementos da natureza: água, terra, fogo e ar. 
Tales de Mileto: o primeiro filósofo do qual se tem notícia foi Tales de Mileto (640-548 a.C.), legislador, geômetra, matemático e físico, o “fundador da filosofia”, segundo Aristóteles. Tales acreditava que a constituição do mundo derivava do elemento líquido, pois, “sem água, tudo fenece”. Outros pensadores que o sucederam vão modificar essa concepção, mantendo, contudo, suas investigações nos elementos da natureza.
Anaxímenes (588-524 a.C.): considerava o ar como responsável por tudo que existe.
Heráclito (século VI-V a.C.): para ele, o fogo seria o “gerador do processo cósmico”; e o movimento estaria na base de todas as coisas. É o filósofo do panta rei (“tudo flui”): o universo é novo a cada dia. “Tudo muda o tempo todo no mundo”.
Xenófanes (século IV a.C.): vai sustentar que o elemento primordial é a terra: “pois tudo sai da terra e tudo volta à terra” (fragmento nº 27).
Empédocles: (483-430 a.C.): afirmava que a origem do cosmos se devia à fusão dos quatro elementos originais: fogo, terra, água e ar.
Pitágoras de Samos (século VI a.C.): filósofo e matemático, afirmava que o número seria o responsável pela “harmonia cósmica”. Desenvolveu também a doutrina da metempsicose (transmigração da alma por várias encarnações).
Leucipo (século V a.C.): ele e seu discípulo, Demócrito (460-370 a.C.), já naquela época, consideravam que o átomo – o indivisível – compunha tudo que existe.
Desses filósofos, poucos fragmentos escritos chegaram aos dias de hoje, mas suas concepções, inovadoras à época, um tanto excêntricas para a atualidade, ainda são discutidas.
Sofistas
Aos poucos, porém, o enfoque cosmológico direciona-se para a concepção antropológica; é quando a investigação se volta para a existência humana em toda sua complexidade.
Coube aos pensadores sofistas iniciar o percurso antropológico, privilegiando a discussão sobre o papel central que o homem ocupa no mundo. Dentre os sofistas mais representativos, figuram Protágoras (490-420 a.C.) e Górgias (485-380 a.C.). 
Protágoras foi jurista, professor de oratória e teria sido o primeiro pensador a examinar as questões morais fora do campo da religião, estabelecendo um liame entre a justiça e o Estado. Como humanista convicto, afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”. Seus ensinamentos voltavam-se especialmente para o estudo das técnicas discursivas, destacando-se entre elas as antilogias – os dissoi logoi, discursos duplos –, por intermédio das quais se sustentavam os prós e contras de um mesmo assunto. Os dissoi logoi, com efeito, seriam determinantes para a participação política do cidadão ateniense nos destinos da pólis, pois fazem parte de todo julgamento, na medida em que acusação e defesa se manifestam sobre um mesmo assunto. 
O filósofo Górgias assume os estudos das técnicas retóricas como fundamento das ações humanas. Considerando a palavra como fonte do agir, ele assegura que os discursos fornecem as razões necessárias para dar sentido à vida do homem. Górgias afirma também que a ciência do discurso é uma arte suprema e, por isso, a retórica é a base da verdadeira filosofia. Segundo esse filósofo, a palavra é um pharmakon (uma droga), que tanto pode ser um remédio quanto um veneno, caso seja usada de forma positiva ou mal-intencionada. O entusiasmo produzido pelo discurso retórico suscita a retomada gorgiana do conceito de kairós (o momento certo no tempo certo), que ressalta a adequação temporal da argumentação retórica, sintonizando o ouvinte com os interesses do orador.
“A antiga educação sofístico-retórica continuou a viver, sem diminuição de sua força, ao lado da educação filosófica, e até se instalou na vida espiritual dos gregos como uma potência de primeira ordem. É possível que o amargor e o sarcasmo lacerante com que Platão a persegue sejam em parte explicáveis pelo peculiar sentimento de vencedor, quando se vê forçado a lutar contra um inimigo que, dentro de seus limites, parece indomável (JAEGER, 1995, p. 1.063)”.
A rejeição aos filósofos sofistas – empreendida principalmente por Platão – não conseguiu, contudo, anular a importância desses pensadores na formação dos cidadãos da pólis. Mesmo que se pretendesse alijá-la do campo filosófico, é inegável que o legado da sofística contribuiu, e contribui ainda, para os estudos das técnicas de argumentação, da arte da persuasão e do convencimento.
Clássicos
Dos filósofos considerados clássicos, Sócrates (470-399 a.C.), Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) formam o trio de pensadores gregos que mais influenciaram a cultura ocidental, aos quais a recorrência, apesar de passados mais de 2.500 anos, é inevitável. 
Sócrates
Sócrates não deixou nada escrito, mas é um marco na tradição da filosofia; sua relevância decorre dos textos de seus discípulos, em especial Platão, que o tornou protagonista-interlocutor em muitos de seus diálogos. Uma de suas frases mais contundentes teria sido “só sei que nada sei”, reconhecendo a ignorância diante do conhecimento infinito. Por suas críticas à política da cidade, foi acusado de corromper a juventude e ofender os deuses; e é então processado e condenado à morte. 
Dos textos que chegaram à posteridade, os escritos de Platão e de Aristóteles são os que mais representam a reflexão filosófica da época, quer pela riqueza dos temas, quer pela quantidade de obras que foram traduzidas para diversas línguas.
Platão
A filosofia platônica se fundamenta na Teoria das Ideias, ou Teoria das Formas, na qual fica evidente a dicotomia entre as essências perfeitas e imutáveis que se encontram no mundo das ideias (inteligível) e os simulacros ou cópias imperfeitas do mundo das sombras (sensível). 
Platão assegura que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado a partir da superação das opiniões, crenças e superstições. No livro VII de sua obra “A República”, ele apresenta de modo alegórico como se verifica a “passagem” do senso comum e das falsas aparências para o mundo das ideias, onde as essências perfeitas podem ser contempladas. Nessa alegoria, denominada “Mito da caverna”, os homens estariam aprisionados no interior de uma caverna, de costas para a abertura, e só poderiam ver as sombras projetadas na parede do fundo, sendo condicionados a essa falsa realidade. Um prisioneiro, porém, consegue se libertar das correntes e sair. De início, sua visão se turva em contato com a realidade, mas, aos poucos, consegue perceber verdadeiramente o mundo real do exterior da caverna. Com isso, Platão quer demonstrar que convém ao prisioneiro se libertar e sair da caverna, para que possa contemplar as essências perfeitas e imutáveis do mundo ideal.
A República de Platão constitui uma síntese do Estado ideal pela qual são estabelecidos os principais elementos da formação da Cidade, bem como o tipo de governo e as divisões entre as “classes sociais”. De acordo com Danilo Marcondes:
“Para Platão, questões sobre o conhecimento e questões morais e práticas não se encontram dissociadas [...] e, com isso, temas jurídico-políticos como a justiça, a natureza da lei e o papel dos governantes são tratados em diferentes diálogos [...]. No entendimento de Platão, a ação justa supõe um conhecimento do que é a justiça, de sua natureza, ou de sua essência, como será dito depois, e só com base nesse conhecimento será possível, em última análise, tomar uma decisão correta (2015, pp. 20-21)”.
Nessa obra, Platão considera que a cidade justa deve seguir os preceitos vinculados ao poder da justiça. Os filósofos – comosábios – deviam ser os governantes, a fim de promover a formulação de leis que atendessem verdadeiramente ao Estado ideal.
Aristóteles
Profundo investigador das mais diversas áreas do conhecimento — gramática, biologia, matemática, física, astronomia, política, lógica, poética, retórica, metafísica, ética, jurisprudência —, Aristóteles desenvolve suas pesquisas buscando elaborar uma ampla visão da realidade. Ao contrário de seu mestre Platão, ele não assimila a separação entre a sabedoria (sophia) e o conhecimento advindo da prática (phronesis).
Aristóteles considera que a justiça, como parte das ações humanas, se vincula à virtude e, como tal, deve fazer parte do equilíbrio dos indivíduos, o que constitui a justa medida, o meio termo (mesótes), a ação que se afasta dos excessos. Sobre esse tema, Danilo Marcondes acrescenta:
“O homem virtuoso deve, assim, conhecer o ponto médio, a justa medida das coisas, e agir de forma equilibrada, de acordo com a prudência ou moderação (sophrosine), que pode ser entendida como a própria caracterização do saber prático (1997, p. 77)”.
É importante destacar também que Aristóteles foi um dos primeiros filósofos a debruçar-se efetivamente sobre o conceito de justiça, conforme apresentado na obra Ética a Nicômaco:
“Observamos que, segundo dizem todas as pessoas, a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é justo; de maneira idêntica, diz-se que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto (Livro V, 1128b-1129a)”.
Desse modo, e seguindo a linha de raciocínio aristotélica, os indivíduos que infringem as leis são considerados injustos, ao contrário daqueles que cumprem as leis estabelecidas. Nesse aspecto, é possível retomar o conceito de areté (a virtude, a excelência), próprio da formação integral do homem grego. Aristóteles complementa:
“A justiça, nesse sentido, é a excelência moral perfeita, embora não o seja de modo irrestrito, mas em relação ao próximo [...]. Com efeito, a justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral perfeita (Livro V, 1130a)”.
Aristóteles prossegue enfatizando que a justiça e a equidade (igualdade, equilíbrio moral) são necessárias para que se possa discernir entre o justo e o injusto. De modo análogo, é enfatizada a noção de justiça distributiva, quando se estabelece o justo meio, aplicando a cada um aquilo que lhe corresponde equitativamente; a noção de justiça comutativa, cujo princípio se baseia em uma relação proporcional igualitária entre os indivíduos de uma sociedade; e, ainda, uma justiça corretiva, a ser estabelecida nas relações entre iguais, quando não existe subordinação entre as partes.
Herdeiros diretos da cultura grega, e sem que se apoiassem, portanto, numa base filosófica propriamente original do direito, os romanos lograram conceber, contudo, um sistema jurídico sólido e apreciado até hoje. São notáveis as obras jurídicas de Cícero, Sêneca, Marco Aurélio e Epíteto, nas quais é marcante a influência do Estoicismo, escola de Zenão de Cítio, caracterizada pela irrestrita e irrevogável austeridade.

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