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Coréia do Sul Organização Industrial e Desenvolvimento Tecnológico 1960 1990

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
 
 
 
 
 
CORÉIA DO SUL: ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL 
E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO 
(1960 - 1990) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Espartaco Madureira Coelho 
 
Orientador: Prof. Achyles Barcelos da Costa 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito à obtenção 
do título de Bacharel em Ciências Econômicas 
 
 
 
 
Porto Alegre, novembro de 1994 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu filho IVAN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 À equipe da Biblioteca da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS 
pela colaboração, pelo esforço e paciência demonstrados. 
 
 À professora Otília Beatriz Kroeff Carrion e aos professores Octávio 
Augusto Camargo Conceição e Carlos Henrique Horn pelos ensinamentos, pela 
competência e pela paixão transmitida pela ciência econômica. 
 
 E um agradecimento especial ao professor orientador Achyles Barcelos da 
Costa pela dedicação, cooperação e espírito crítico que tanto aprimoraram este trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A força é a parteira de toda sociedade antiga, grávida de uma sociedade nova." 
Karl Marx 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 
 
1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................................ 14 
1.1 - A Situação Após a Segunda Guerra Mundial ............................................................. 14 
1.2 - O Processo de Industrialização Tardia ........................................................................ 16 
1.3 - Substituição de Importações e Ênfase nas Exportações .............................................. 17 
 
2 - ESTRATÉGIAS DE INDUSTRIALIZAÇÃO ............................................................ 21 
2.1 - O Estado e os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento ............................................ 21 
2.2 - As Fontes de Financiamento do Investimento ............................................................ 28 
2.3 - As Políticas de Alocação de Subsídios ....................................................................... 30 
2.4 - O Controle Sobre Importações e Exportações ............................................................ 32 
 
3 - A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................... 34 
3.1 - As Zonas de Processamento de Exportações .............................................................. 34 
3.2 - "Chaebols" - Os Conglomerados Econômicos ............................................................ 35 
3.3 - A Parceria Entre o Estado e a Iniciativa Privada ........................................................ 40 
3.4 - A Força de Trabalho e o Sistema Educacional ........................................................... 42 
 
4 - O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ............................................................ 47 
4.1 - Políticas de Transferência de Tecnologia ................................................................... 47 
4.2 - Os Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento ............................................................. 53 
 
4.3 - As Cidades de C&T .................................................................................................... 55 
4.4 - A Indústria de Semi-Condutores ................................................................................. 57 
4.5 - A Indústria Robótica ................................................................................................... 61 
 
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 65 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 74 
 
 
 
 
RELAÇÃO DE TABELAS 
 
 
TABELA 1 PIB E PIB PER CAPITA DA CORÉIA DO SUL -- 1958/90 ..................... 19 
 
TABELA 2 EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL -- 1960/91 ................................ 23 
 
TABELA 3 PAUTA DE EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL POR 
 CATEGORIA DE PRODUTOS -- 1962/86 ................................................ 24 
 
TABELA 4 ATIVIDADES DOS CINCO MAIORES CONGLOMERADOS 
 DA CORÉIA DO SUL -- 1981 .................................................................... 36 
 
TABELA 5 VALOR DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES POR 
 COMPANHIA DA CORÉIA DO SUL -- 1981 ........................................... 37 
 
TABELA 6 HORAS DE TRABALHO POR SEMANA NAS INDÚSTRIAS 
 SUL-COREANAS -- 1987/92 ...................................................................... 
43 
 
TABELA 7 INDICADORES EDUCACIONAIS COMPARADOS: CORÉIA 
 DO SUL, BRASIL E JAPÃO -- 1990 .......................................................... 
45 
 
TABELA 8 QUANTIDADE DE CIENTISTAS E ENGENHEIROS DE C&T 
 EM ALGUNS PAÍSES -- 1970/88 ............................................................... 
49 
 
 
TABELA 9 GASTOS COM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA 
 CORÉIA DO SUL -- 1965/85 .................................................................... 50 
 
TABELA 10 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE APROVAÇÃO DE 
 IMPORTAÇÃO DE TECNOLOGIA NA CORÉIA DO SUL 
 -- 1978/88 .................................................................................................... 52 
 
TABELA 11 AS MAIORES EMPRESAS DE SEMI-CONDUTORES NO 
 MUNDO -- 1983/93 .................................................................................... 58 
 
TABELA 12 OS MAIORES FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES 
 DO HEMISFÉRIO SUL -- 1988 .................................................................. 59 
 
TABELA 13 PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DOS MAIORES 
 FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES SUL-COREANOS 
 -- Janeiro/1989 ............................................................................................. 61 
 
TABELA 14 QUANTIDADE DE ROBÔS POR ORIGEM E TIPO NA 
 CORÉIA DO SUL -- 1977/87 ..................................................................... 62 
 
TABELA 15 QUANTIDADE DE ROBÔS POR TIPO DE INDÚSTRIA NA 
 CORÉIA DO SUL -- 1977/87 ..................................................................... 63 
 
 
 
 
 
RELAÇÃO DE MAPAS 
 
 
MAPA 1 ÁSIA ............................................................................................................ 72 
 
MAPA 2 ÁSIA ORIENTAL ....................................................................................... 73 
 
10 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Este trabalho pretende mostrar como o processo de industrialização na Coréia do 
Sul conseguiu transformar um país, que no início dos anos sessenta era essencialmente 
agrícola, em uma economia que nos últimos anos vem apresentando persistentes e altas 
taxas de crescimento econômico e que é conhecida mundialmente pelas suas elevadas 
exportações de produtos eletrônicos, têxteis, químicos, navios e, recentemente, automóveis 
completos. 
 
 Em função desse país apresentar uma pauta de exportação de produtos 
industrializados de alto valor agregado, será enfatizado o papel desempenhado pela 
organização industrial sul-coreana e pelo seu processo de capacitação tecnológica. 
 
 Os rápidos e expressivos resultados do "milagre econômico" da Coréia do Sul (país 
onde a média de crescimento anual do seu PIB, entre 1958 e 1990, foi de aproximadamente 
8,5% e onde as exportações, no mesmo período, cresceram a taxas anuais de mais de 40%), 
juntamente com desempenhos econômicossemelhantes de Formosa (Taiwan), Cingapura e 
Hong Kong, fizeram com que fosse popularizada a expressão "Tigres Asiáticos", termo em 
que é enfatizada a agressividade em busca de novos mercados destes "NICs - Newly 
Industrializing Countries". 
 
 A Coréia do Sul, além de apresentar uma excelente performance industrial, também 
conseguiu protagonizar situações extremamente peculiares na economia mundial, tais 
11 
 
como, apresentar uma distribuição de renda menos concentrada que a maioria dos outros 
países em desenvolvimento, obter uma melhoria em vários indicadores sociais, acabar com 
o analfabetismo, quitar a sua dívida externa em 1988 (quando também foi sede dos Jogos 
Olímpicos), produzir mais navios que os estaleiros japoneses em 1992, e ser, atualmente, o 
maior produtor mundial de memórias RAM de microcomputadores. 
 
 Uma constatação do atual desempenho da economia sul-coreana é a de que os cinco 
maiores conglomerados coreanos (Samsung, Daewoo, Ssangyong, Sunkyong e Hyundai) 
obtiveram em 1993 um faturamento conjunto em torno de US$ 121,8 bilhões. Conforme 
dados da revista Fortune, em 1991, 1992 e 1993, das 500 maiores corporações industriais 
do mundo, doze eram sul-coreanas, sendo que dos 27 tipos de indústrias catalogados, temos 
uma empresa sul-coreana - a Hyundai Heavy Industries - ocupando a primeira colocação no 
ramo de equipamentos de transporte, com US$ 6,7 bilhões em vendas no ano de 1993. 
 
 Outros motivos relevantes em um estudo sobre a Coréia do Sul referem-se à 
importância de um estudo sobre as políticas econômicas e industriais adotadas na Coréia do 
Sul, como forma de embasar um debate sobre possíveis caminhos para o desenvolvimento 
da economia brasileira. 
 
 Este trabalho analisa as características do processo de rápido desenvolvimento 
econômico da Coréia do Sul, bem como avalia as estratégias de industrialização, onde 
estudam-se os seguintes elementos: os planos qüinqüenais de desenvolvimento; as políticas 
industriais adotadas; os conglomerados econômicos (formas de organização industrial 
conhecidas como "chaebol"); as políticas de transferência e de capacitação tecnológica; 
além do levantamento de dados sobre o sistema educacional e algumas características do 
mercado de trabalho. 
 
12 
 
 O presente trabalho está subdividido em quatro capítulos. No primeiro, são 
apresentados os antecedentes históricos e as principais características do processo de 
industrialização tardia sul-coreana, que inicialmente adotou o modelo de substituição de 
importações, mas logo passou a dar maior ênfase na produção de manufaturados voltados 
para as exportações. 
 
 No segundo capítulo, é abordada a políticas industrial implementada pelo Estado 
sul-coreano, onde destacam-se os planos qüinqüenais, as políticas de proteção à indústria 
nascente, os instrumentos de incentivos fiscais e de crédito subsidiado, bem como do 
controle estatal sobre o nível das importações e exportações. 
 
 No terceiro capítulo, é discutida a importância do modelo de organização industrial 
patrocinado pelo Estado sul-coreano, onde o elevado nível de concentração econômica, 
característico dos "chaebol", é um dos pressupostos básicos do processo de industrialização 
da Coréia do Sul. Além disso, são apontados alguns aspectos relevantes do atual sistema 
educacional e do mercado de trabalho, considerados fatores essenciais para o 
desenvolvimento de um parque industrial competitivo a nível mundial. 
 
 No quarto capítulo, são analisadas as características do constante processo de 
aprendizado, de capacitação e de desenvolvimento tecnológicos desse país. São avaliadas 
quais as políticas de transferência de tecnologia adotadas, a importância dada ao 
desenvolvimento endógeno de tecnologias e mostra-se também o caso do desenvolvimento 
de dois setores de avançada tecnologia e de destaque internacional: a indústria de semi-
condutores e a da robótica. 
 
 Na Conclusão, resumem-se as principais características das políticas industriais e do 
processo de industrialização adotado na Coréia do Sul e chama-se a atenção para os 
13 
 
aspectos relativos à especificidade da intervenção estatal, da organização industrial e do 
desenvolvimento tecnológico sul-coreano. 
14 
 
 
 
1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
 
1.1 - A Situação Após a Segunda Guerra Mundial 
 
 A península da Coréia possui uma história de mais de dois mil anos de disputas e 
invasões territoriais, principalmente por parte da China e do Japão. Os períodos de 
dominação estrangeira sempre foram muito predatórios e estão marcados na consciência do 
povo coreano, tanto pela frequência e duração dos períodos de ocupação estrangeira, como 
por fatos históricos incomuns (como o seqüestro de ceramistas coreanos para o 
desenvolvimento da cerâmica japonesa no século VII). Em 1993, inclusive, quando o 
primeiro-ministro japonês Morihiro Hosokawa esteve em visita à Coréia do Sul, foram 
realizados pedidos de desculpas oficiais e voluntariamente oferecido o pagamento de 
compensações pelos crimes cometidos pelo Exército Imperial Japonês durante a Segunda 
Guerra Mundial. 
 
 Entre o final da guerra Russo-Japonesa (1905) e o fim da Segunda Guerra Mundial 
(1945), a região tornou-se uma colônia, ou "província" do império japonês. Ao final da 
Segunda Grande Guerra, os japoneses foram expulsos da Coréia, e a região foi dividida em 
duas partes: o norte, que ficou sob intervenção soviética e, que mais tarde iria transformar-
se na Coréia do Norte, e o sul, sob influência dos norte-americanos, como a área que iria 
dar origem à Coréia do Sul. 
 
 Em agosto de 1948, foi proclamada a República da Coréia, com capital em Seul, e 
em setembro do mesmo ano foi formada a República Democrática Popular da Coréia, com 
15 
 
sede em Pyongyang. Em junho de 1950, como resultado da "guerra-fria" entre EUA e 
URSS, a Coréia do Norte, apoiada pela URSS e pela República Popular da China, invadiu a 
Coréia do Sul, dando início à Guerra da Coréia, conflito que durou até julho de 1953 e que 
teve como principais consequências, a criação de uma zona desmilitarizada e a manutenção 
da fronteira entre as duas Coréias no paralelo 38. 
 
 Com a divisão da Coréia em dois países, rompeu-se a complementaridade 
econômica entre as duas regiões, sendo que o norte, influenciado pelo planejamento 
econômico soviético e rico em recursos hídricos e minerais, buscou o crescimento 
industrial; e o sul, ocupado militarmente pelos EUA, pobre em recursos minerais e 
energéticos, e com uma pequena área geográfica densamente povoada (atualmente, a 
densidade demográfica média ultrapassa 400 hab./Km2, uma das maiores do mundo), 
voltou-se para uma agricultura de subsistência baseada no cultivo do arroz. 
 
 Assim, o governo sul-coreano, pressionado pelos graves problemas sociais de uma 
população numerosa e pobre, e pela tensão existente no meio rural, realizou reformas que 
hoje são reconhecidas como as responsáveis pela criação das pré-condições para a 
industrialização da Coréia do Sul, quais sejam: a reforma agrária, que foi comandada por 
influência dos EUA e realizou-se de 1949 a 1958; e a reforma educacional, que constituiu-
se de um programa de alfabetização de massas, que resgatava princípios de valorização da 
instrução e do conhecimento oriundos da tradição confucionista, e que obteve resultados 
concretos e positivos na futura qualificação da mão-de-obra coreana. Para ilustrar a 
importância dada ao ensino e à educação em geral, tanto por parte do governo, como por 
parte da própria população, atualmente existe um feriado nacional denominado Dia do 
Alfabeto. 
 
 
16 
 
1.2 - O Processo de Industrialização Tardia 
 
 Entre1948 e 1961, o país foi governado de forma autoritária pelo líder nacionalista 
Singman Rhee, que apoiado pelos EUA, foi eleito o primeiro presidente da República da 
Coréia. 
 
 Neste período, mais precisamente entre 1953 e 1961, apesar da economia coreana 
ainda ser essencialmente agrícola, ocorreu o que passou a ser considerada a fase de 
reestruturação econômica do país, mediante a intensificação da industrialização. Este 
processo foi caracterizado pela elevada intervenção do Estado nas decisões econômicas e 
pelos significativos investimentos estrangeiros, principalmente dos EUA, que ainda 
estavam envolvidos na chamada "guerra-fria" e preocupados com a influência dos regimes 
socialistas no Sudeste Asiático. 
 
 Em função de sua importância geopolítica, da desestruturação da burguesia nacional 
e da pressão exercida pelos sentimentos nacionalistas, coube ao governo sul-coreano 
desempenhar o principal papel no processo de reconstrução da base industrial. Esta base foi 
direcionada, naquele momento, para o atendimento das demandas do mercado interno 
quando, então, foi feita a opção pelo caminho da industrialização através da substituição de 
importações. 
 
 Apesar de, inicialmente, adotarem um modelo de industrialização por substituição 
de importações, mais tarde mudaram esta estratégia por outra, que enfatizou a promoção da 
exportação de manufaturas e a atração de investimentos estrangeiros para projetos 
produtivos direcionados ao mercado externo. 
 
 
17 
 
1.3 - Substituição de Importações e Ênfase nas Exportações 
 
 Com o grande poder do Estado e a conseqüente definição centralizada de políticas 
econômicas, verificou-se um processo de industrialização com forte presença estatal, 
baseado nos setores de bens intermediários e de consumo não-duráveis. 
 
 Em função de pressões dos EUA, interessados em estabelecer uma nação capitalista 
com predomínio do setor privado e com menor intervenção do Estado, a partir de 1954, 
foram privatizados umas poucas empresas e bancos estatais, sem deixar de existir, no 
entanto, um elevado controle do Estado sobre essas empresas. 
 
 Esta característica centralizadora e também autoritária do governo coreano, 
provocou uma excessiva centralização do poder econômico, que favoreceu o surgimento de 
escândalos de corrupção, que provocaram uma série de protestos contra o regime ditatorial. 
Em abril de 1960 Rhee renuncia e, após um ano de instabilidade política, em maio de 1961 
deu-se um golpe militar assumindo o poder o general Park Chung-Hee, que permaneceria 
governando até 1979, quando é assassinado e substituído por outro militar, o general Chun 
Du Huan. Em 1988, após eleições diretas, e por divisão dos partidos de oposição, outro 
militar assume o poder, Roh Tae-Woo. 
 
 Durante o período dos regimes militares, que se prolongou por vinte e seis anos, foi 
quando se materializou uma nova política de industrialização, baseada também na 
centralização do poder por parte do Estado, mas com ênfase na concentração econômica 
(dando origem aos conglomerados industriais, ou "chaebol", como também são 
denominados), e na produção voltada para o mercado exportador. 
 
18 
 
 A substituição de importações, por si só, foi incapaz de impor maior dinamismo 
industrial a uma economia com pequeno mercado interno e com uma grande escassez de 
recursos naturais. Daí a perda de importância daquela estratégia como base para o 
crescimento. Os esforços foram então direcionados para o estabelecimento de uma infra-
estrutura produtiva e de indústrias exportadoras. Para isso foram adotadas algumas 
medidas, tais como, a obtenção de volumosos empréstimos dos EUA; a estatização do 
sistema financeiro (a fim de garantir créditos em quantidade e condições adequadas ao 
fomento dos setores exportadores considerados relevantes); e a execução de seis planos 
quinquenais de desenvolvimento econômico, elaborados através de intenso planejamento 
governamental. Estes planos de desenvolvimento ainda continuam a ser elaborados e são 
considerados os propulsores do extraordinário desempenho econômico da Coréia do Sul. 
 
 O sucesso desta estratégia pode ser constatado pelo expressivo crescimento da 
economia sul-coreana nas últimas três décadas. Conforme dados constantes na Tabela 1, 
entre 1958 e 1990, o PIB cresceu 79,34 vezes, passando de aproximadamente US$ 3 
bilhões para um valor em torno de US$ 244 bilhões. 
 
19 
 
 
TABELA 1 - PIB E PIB PER CAPITA DA CORÉIA DO SUL -- 1958/90 
 
 
ANOS 
 
 
PIB 
(Bilhões de US$) 
 
 
PIB per capita 
(US$) 
1958 3.076 132 
1963 3.633 135 
1967 4.362 146 
1969 7.108 228 
1973 12.380 376 
1975 19.089 551 
1976 25.369 707 
1977 34.615 962 
1978 47.583 1.298 
1980 58.246 1.534 
1981 64.570 1.671 
1982 68.183 1.714 
1983 76.833 1.921 
1984 81.814 2.012 
1985 86.792 2.104 
1986 98.307 2.342 
1987 121.315 2.842 
1988 171.311 4.079 
1989 212.970 5.023 
1990 244.043 5.626 
Fonte dos dados brutos: UNITED NATIONS. Handbook of International Trade and Deve- 
 lopment Statistics, Nova Iorque, vários anos. 
 
 
 
20 
 
 Neste mesmo período, o PIB apresentou uma taxa média anual de crescimento de 
aproximadamente 8,5% e a renda per capita cresceu 42,62 vezes, passando de US$ 132 para 
US$ 5.626. 1 
 
 Outros indicadores do desenvolvimento econômico, social e tecnológico da Coréia 
do Sul serão mostrados nos capítulos seguintes. Cabe, no entanto, ressaltar uma 
característica fundamental do processo de industrialização sul-coreano, qual seja, o rápido 
aprendizado tecnológico apresentado pelas suas indústrias, fato este que possibilitou a sua 
inserção no comércio internacional em setores considerados "nobres", tais como a indústria 
de semi-condutores, navios e carros completos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
____________ 
1
 Além dos dados sobre o PIB e o PIB per capita, apresentados acima, sabemos que em 
 1991 o PIB era de US$ 283,5 bilhões e a renda per capita de US$ 6.117 (Fortune Interna 
 tional, v.126, n.7, p. 23, out. 1992). 
21 
 
 
 
2 - ESTRATÉGIAS DE INDUSTRIALIZAÇÃO 
 
 
2.1 - O Estado e os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento 
 
 O esforço de planejamento econômico do Estado sul-coreano, associado ao sistema 
político autoritário e centralizador do longo período de regimes militares (de 1961 a 1987), 
são reconhecidos como as bases para a formulação e o cumprimento dos planos 
qüinqüenais de desenvolvimento econômico, que por sua vez, foram os responsáveis pela 
transformação de uma economia subdesenvolvida em uma nação que vem apresentando 
uma das mais altas taxas de crescimento entre as economias mundiais, conforme demonstra 
a Tabela 1 no capítulo anterior. 
 
 No início dos anos 60, a estratégia adotada pelo governo, de industrialização voltada 
para as exportações de produtos intensivos em mão-de-obra, foi obtida através de um 
sistema de subsídios, incentivos fiscais e créditos direcionados a algumas empresas, o que 
gerou uma situação de elevada concentração industrial, sendo característico da organização 
industrial sul-coreana a existência de grandes conglomerados empresariais, denominados 
"chaebol". 
 
 O Primeiro Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1962 a 1966, 
priorizou o estabelecimento de indústrias têxteis, de vestuário e de calçados - todas 
intensivas em mão-de-obra - além da construção de estradas, ferrovias e de usinas geradoras 
de eletricidade. 
 
22 
 
 Neste período as exportações apresentaram um taxa média de crescimento de 
43,91%ao ano, sendo que passaram de US$ 54,80 milhões em 1962 para US$ 250,3 
milhões em 1966. 
 
 Em 1962, foi criado o "Economic Planning Board", uma espécie de super-
ministério, que funcionou até a década de 80, que tinha como objetivos planejar e coordenar 
as medidas de intervenção econômica por parte do governo. Algumas das medidas adotadas 
na época foram: a desvalorização da moeda nacional em aproximadamente 100%; a 
elevação das taxas de juros, a liberalização do crédito, a criação de subsídios para as 
exportações e a isenção de tarifas para a importação de bens intermediários utilizados na 
produção destinada à exportação (mecanismo conhecido como "draw-back"). 
 
 O Segundo Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1967 a 1971, 
consolidou o estabelecimento da indústria leve, fundada durante o Primeiro Plano, que 
acrescido de indústrias de madeira compensada, comprovou o acerto da utilização da farta 
disponibilidade e do baixo custo da mão-de-obra, como a grande vantagem comparativa do 
país. Neste período verificou-se uma queda nas taxas de desemprego e um aumento nos 
salários reais. O valor das exportações passou de US$ 320,2 milhões em 1967 para US$ 
1.067,6 milhões em 1971, o que significou uma taxa média de crescimento anual de 
33,77%. 
23 
 
TABELA 2 - EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL -- 1960/91 
 
 
 
ANOS 
 
 
VALOR DAS 
EXPORTAÇÕES 
(Milhões US$) 
 
1960 32,80 
1961 40,90 
1962 54,80 
1963 86,80 
1964 119,10 
1965 175,10 
1966 250,30 
1967 320,20 
1968 455,40 
1969 622,50 
1970 835,20 
1971 1.067,60 
1972 1.624,10 
1973 3.225,00 
1974 4.460,40 
1975 5.081,00 
1976 7.715,10 
1977 10.046,50 
1978 12.710,60 
1979 15.055,50 
1980 17.504,90 
1981 21.253,80 
1982 21.853,30 
1983 24.445,10 
1984 29.244,90 
1985 30.283,10 
1986 34.714,50 
1987 47.280,90 
1988 60.696,40 
1989 62.377,20 
1990 65.015,70 
1991 71.898,00 
Fonte: UNITED NATIONS. International Trade Statistics Yearbook, Nova Iorque, 1993. 
 
24 
 
 No início da década de 70, já verificavam-se mudanças estruturais significativas, 
tanto em relação à importância do setor industrial como pólo de dinamismo da economia, 
bem como na composição da pauta de exportações, que passou a apresentar uma maior 
predominância dos produtos manufaturados, conforme demonstrado na Tabela 3. 
 
 
TABELA 3 - PAUTA DE EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL POR 
CATEGORIA DE PRODUTOS -- 1962/86 
 
 
PRODUTOS 
 
 
ANOS 
Primários 
 
Industriais 
Leves 
 
Industriais 
Pesados 
 
TOTAL 
(%) 
1962 73,0 27,0 - 100 
1966 37,6 50,6 11,9 100 
1971 14,0 63,9 22,1 100 
1976 10,2 61,4 28,4 100 
1981 9,1 47,6 43,3 100 
1986 8,3 41,7 50,0 100 
1987 3,9 41,1 55,0 100 
1988 3,4 38,6 58,0 100 
1989 3,1 38,6 58,3 100 
1990 2,8 37,0 60,2 100 
1991 2,7 35,2 62,1 100 
1992 2.3 31,4 66,3 100 
Fonte dos dados brutos: Dados até 1986 extraídos de Estudos BNDES - Coréia do Sul: A 
 Importância de uma Política Industrial, jun. 1988. Dados de 
1987 
 a 1992 extraídos de UNITED NATIONS - International Trade 
 Statistics Yearbook, Nova Iorque, 1993. 
 
 
25 
 
 O Terceiro Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1972 a 1976, foi 
caracterizado pelo direcionamento dado à estruturação de uma indústria pesada e pela 
tentativa de buscar um maior equilíbrio entre o desenvolvimento do setor industrial e a 
agricultura, tendo sido criado um complexo programa de ajuda técnica e financeira para o 
setor rural. 
 
 Neste Terceiro Plano, o valor das exportações cresceu de US$ 1,6 bilhões em 1972 
para US$ 7,7 bilhões em 1976, o que representa uma taxa anual média de crescimento de 
50,95%. Fato relevante é o de que entre os anos de 1972 e 1973, houve um salto de 98,57% 
no valor das exportações. 
 
 Porém, mesmo com o excelente resultado obtido no comércio exterior, este também 
foi o período de conscientização dos limites do modelo de industrialização através de 
indústrias leves e intensivas em mão-de-obra, passando a ser incentivado o crescimento 
auto-sustentado, baseado no desenvolvimento da indústria pesada. A intervenção 
governamental se dá no sentido de atingir os objetivos definidos pela política industrial, que 
passam a ser os de fortalecimento da petroquímica, da siderurgia, de máquinas e 
equipamentos, da construção naval, do automobilismo e da indústria de defesa. 
 
 Em 1973, o governo sul-coreano implantou o Plano de Desenvolvimento da 
Indústria Química e Pesada, ano em que também foi criado o Fundo Nacional de 
Investimentos, ambos concebidos de forma a propiciar crédito a baixas taxas de juros e 
reforçar incentivos para o desenvolvimento destes setores. Conseqüentemente, entre 1975 e 
1979, 75% do investimento industrial realizado na Coréia do Sul foi direcionado para as 
indústrias química e pesada. 
 
 
26 
 
 
 Durante o Quarto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1977 a 
1981, o crescimento das indústrias química e pesada, que são intensivas em capital e em 
energia, associado à escassez de recursos naturais, provocou elevados gastos com a 
importação de petróleo, assim como de bens de capital, principalmente oriundos do Japão. 
Outra característica importante foi que o governo estabeleceu incentivos para o treinamento 
de mão-de-obra e para os gastos com pesquisa e desenvolvimento nas empresas privadas, 
tentando, desta forma, redirecionar o processo de industrialização para áreas com alto grau 
de qualificação tecnológica, que, por sua vez, exigem mão-de-obra treinada e especializada. 
 
 Neste período, a taxa de crescimento das exportações situou-se em 22,57% ao ano 
(passando de US$ 10 bilhões em 1977 para US$ 21,2 bilhões em 1981). Sendo que esta 
queda no padrão do desempenho exportador teve como principais causas: a segunda crise 
do petróleo; as más colheitas do período; e a concorrência de outros NICs (Newly 
Industrialized Countries), que tornavam-se mais competitivos por possuírem mão-de-obra 
mais barata que a sul-coreana. 
 
 Com o objetivo de manter a competitividade internacional, a partir da década de 80 
são feitos investimentos maciços na indústria eletrônica, pois a vantagem comparativa passa 
a ser a existência de indústrias com elevado desenvolvimento tecnológico, ao invés de 
indústrias intensivas em trabalho e energia. 
 
 No Quinto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1982 a 1986, a 
prioridade foi direcionada para o estabelecimento de indústrias de bens de capital, de 
produtos eletrônicos e de estaleiros. 
 
27 
 
 Durante este plano, a taxa média de crescimento das exportações esteve situada em 
10,5% ao ano. E, em função dos aumentos reais dos salários (acima da média dos outros 
países da Ásia Oriental), bem como das pressões da concorrência internacional, o governo 
passou a adotar nova estratégia, que ao mesmo tempo em que dava ênfase ao 
desenvolvimento tecnológico, alterava-se o discurso oficial onde enfatizava-se uma maior 
estabilização e liberalização da economia, com a possibilidade de maior autonomia do setor 
privado. 
 
 No Sexto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1987 a 1991, a 
indústria de informação é definida como sendo estratégica e incentivos são direcionados 
para a produção de eletrônicos com alto grau de sofisticação tecnológica. Isso ocorre 
especialmente nas áreas de computação, de telecomunicações e de componentes 
microeletrônicos (atualmente a Coréia do Sul produz mais de 50% das memórias RAM 
utilizadas nos microcomputadores e responde por aproximadamente 40% da produção 
mundial de navios). 
 
 Neste mesmo período, houve um processo de melhoriassociais, quando o governo, 
pressionado pela população (os trabalhadores tinham uma jornada de trabalho média de 54 
horas semanais e 8 dias de férias por ano), promoveu um programa social onde destacam-
se: a criação em 1987 do salário mínimo; a implantação em 1988 de um plano de 
aposentadoria para os trabalhadores que venham a se aposentar a partir de 2.008; e a 
concessão a partir de 1989 de seguro-saúde subsidiado pelo Estado. 
 
 Durante o Sexto Plano, o orçamento do governo sul-coreano manteve os percentuais 
históricos (isto é, desde a década de 70), de alocação de 40% para a rubrica "Gastos com 
Defesa e Administração Geral" e de 20% para a "Educação". Entretanto, transferiu 2% dos 
28 
 
gastos com "Desenvolvimento Econômico", que estavam situados em torno de 18,5%, para 
a rubrica "Desenvolvimento Social", que ultrapassaram os 10,5%. 
 
 
2.2 - As Fontes de Financiamento do Investimento 
 
 Um dos instrumentos de ação para a implantação dos Planos Qüinqüenais e para o 
êxito das políticas industriais subjacentes, foi aquele utilizado pelo Estado na intermediação 
financeira, de forma a direcionar investimentos subsidiados para os setores considerados 
estratégicos. 
 
 Do final da Guerra da Coréia até o início dos anos 60, os EUA realizaram 
volumosos empréstimos a fundo perdido, recursos estes que o governo sul-coreano investiu 
na sua infra-estrutura e na criação do seu parque de indústrias de exportação. 
 
 Em 1961, todos os bancos comerciais foram estatizados, e até o início dos anos 80, 
quando alguns bancos passaram para o setor privado, todos os empréstimos bancários eram 
criteriosamente analisados e sua alocação extremamente controlada pelo Estado. 
 
 Neste aspecto, a Coréia do Sul é destaque em relação a outros países em 
desenvolvimento, pois este sistema estatal de créditos direcionados e subsidiados, que 
muitas vezes apresentou taxas de juros reais negativas, também mantinha um rígido 
controle em relação aos empréstimos externos. Esses créditos necessitavam de prévia 
autorização do governo e também tinham a sua utilização monitorada, de forma que quase 
todos os recursos financeiros foram captados no exterior através do governo e foram 
direcionados para a modernização tecnológica das empresas sul-coreanas e para a produção 
industrial em larga escala. 
29 
 
 
 A fase de total estatização do sistema financeiro sul-coreano, permitiu que 
montantes elevados e com pequeno risco financeiro fossem colocados à disposição do setor 
privado, recursos estes que foram captados principalmente através de empréstimos de 
governo-a-governo, com taxas de juros reais muito baixas ou mesmo negativas. 
 
 Também, diferentemente de outras economias em desenvolvimento, para ser 
beneficiado com empréstimos subsidiados, o setor privado da Coréia do Sul deveria 
comprometer-se em atingir níveis de produção e metas de exportação préviamente 
acordados com o governo. Além diso, foi estabelecida uma legislação especial relativa à 
fuga de capitais, que estipulava uma pena mínima de 10 anos de prisão e máxima de pena 
de morte, em casos de transferências ilegais de capitais. 
 
 Desta forma, através de fluxos de capitais subsidiados e de uma legislação dura, foi 
impulsionado o desenvolvimento de sua indústria nascente, bem como a formação de 
conglomerados industriais vinculados ao Estado, sempre com o objetivo de estabelecer uma 
indústria com padrões internacionais de produtividade e de sofisticação tecnológica. 
 
 Entre 1981-83, foi realizada uma reforma financeira, sendo que cinco bancos 
comerciais foram privatizados. No entanto, em função da constante preocupação do 
governo em manter baixo o custo do capital e de subordinar a atuação do mercado 
financeiro à política industrial, ainda existe uma forte presença governamental nestes 
bancos, que se manifesta através da nomeação dos seus principais dirigentes; da definição 
dos tipos de serviços oferecidos; do âmbito de atuação; da gestão de pessoal; e pelo fato que 
nenhum grupo privado pode deter mais do que 8% de ações de uma instituição bancária.. 
 
30 
 
 Ainda como destaque do uso de instrumentos financeiros na implementação de 
políticas industriais, temos o papel desempenhado pelos dois maiores bancos de 
desenvolvimento da Coréia do Sul (ambos estatais): o Korea Development Bank (KDB) e o 
Korea Export-Import Bank (Eximbank). 
 
 O KDB, está voltado para o financiamento de longo prazo de projetos de 
implantação e de expansão industriais, contemplados nos objetivos dos Planos 
Qüinqüenais. O financiamento provém de empréstimos externos, da emissão de títulos no 
mercado de capitais, de depósitos a prazo, de poupança e de capital próprio. 
 
 O Eximbank, enfatizando a estratégia de industrialização orientada para as 
exportações, está voltado para o financiamento das exportações/importações. O 
financiamento ocorre mediante empréstimos para fornecedores locais e clientes estrangeiros 
através de recursos do governo e de empréstimos externos. O Eximbank também presta 
serviços de avalista em operações de comércio exterior. 
 
 
2.3 - As Políticas de Alocação de Subsídios 
 
 Uma das principais características da política industrial sul-coreana é a de apresentar 
um perfil de extrema flexibilidade e de seletividade no que se refere a alocação de subsídios 
e na utilização de instrumentos comerciais de proteção de segmentos escolhidos como 
prioritários. 
 
 Em relação aos subsídios, o Estado sempre conseguiu adotar políticas "temporárias" 
de incentivo fiscal sendo que estes sempre estavam atrelados a metas de produção e de 
exportação. É importante ressaltar o fato de que tais medidas nunca foram perpetuadas e os 
31 
 
setores beneficiados ficavam comprometidos com sua capacitação tecnológica e inserção 
internacional. 
 
 Até 1974, as empresas classificadas como indústrias-chaves (construção naval, 
siderurgia, refino de petróleo, fibras sintéticas, fertilizantes, química, geração de energia, 
papel e celulose, automóveis, máquinas e eletrônicos), foram beneficiadas com medidas de 
isenção de imposto de renda, créditos fiscais para investimentos em bens de capital e 
depreciação acelerada para máquinas e equipamentos destinados à produção. 
 
 Em 1975, foi aprovada nova legislação que alterou os instrumentos de política 
tributária, sendo que as indústrias pertencentes aos setores estratégicos (construção naval, 
siderurgia, refino de petróleo, fertilizantes, geração de energia, petroquímica, máquinas, 
eletrônicos, material bélico e aeronáutica), passaram a utilizar o sistema de "draw-back", 
com o crédito correspondente aos impostos de importação sendo realizado após a efetivação 
das exportações. Além desse instrumento, fazia-se uso excludente entre a isenção de 
impostos nos três primeiros anos e redução de 50% nos dois anos subseqüentes, de crédito 
fiscal de até 10% para investimentos em equipamentos mecânicos e depreciação de 100% 
para máquinas de produção. 
 
 A partir de 1982, um novo grupo de indústrias (construção naval, siderurgia, 
craqueamento de nafta, máquinas, eletrônicos e aeronáutica), passou a ser beneficiado com 
incentivos para os investimentos em ciência e tecnologia, isenção de impostos ou créditos 
fiscais e depreciação preferencial. 
 
 Atualmente, existem subsídios governamentais para as despesas com 
desenvolvimento tecnológico, treinamento de mão-de-obra e para o pagamento de salários 
de engenheiros estrangeiros. 
32 
 
 
 
2.4 - O Controle Sobre Importações e Exportações 
 
 A administração das importações é uma das peças fundamentais dos processos de 
industrialização voltados para as exportações, dado que devem ser implantadaspolíticas 
seletivas de restrição de importação para bens voltados para o uso doméstico e de liberação 
de importações para uso de exportadores (via instrumento tributário do "draw-back"). 
 
 Neste sentido, a Coréia do Sul vem direcionando a sua pauta de importações no 
sentido de redução da importação de cereais e de bens de consumo, e de uma forte elevação 
das importações de bens de capital, de matérias-primas e de petróleo bruto. 
 
 A política de proteção às indústrias sul-coreanas foi implementada através da 
adoção de uma legislação tributária (cujas alíquotas são alteradas de acordo com mudanças 
conjunturais), da utilização de licenças discricionárias de importação (adotando critérios de 
similaridade nacional e/ou de relevância do produto para uma empresa exportadora), bem 
como de controle das importações originárias do Japão, país com o qual possui um elevado 
déficit comercial. 
 
 Em relação às exportações, o governo definiu com clareza quais setores e projetos 
deveriam ser impulsionados, através dos seus Planos Qüinqüenais. Proporcionou estímulos 
à formação das "General Trading Companies", que permitiram a exportação da produção 
das pequenas e médias indústrias (e que deram origem aos "chaebol" coreanos). 
Estabeleceu políticas de crédito subsidiado (apresentadas no item 2.2), um sistema de 
subsídios e de incentivos fiscais (já visto no item 2.3), bem como medidas de suporte 
administrativo e organizacional. 
33 
 
 
 Nessa direção, podemos citar a criação do KDB, do Eximbank e da Korean Trade 
Promotion Corporation (Kotra), todos organismos estatais voltados para a promoção das 
exportações, sendo a Kotra responsável pela formação de pessoal especializado em 
comércio exterior, pela assistência em serviços de pesquisa, pela organização e pela 
participação em feiras internacionais bem como na manutenção de escritórios de 
representação em mais de 80 países, inclusive no Brasil. 
 
 No próximo capítulo, é feito um histórico e uma análise da organização industrial da 
Coréia do Sul, onde destacam-se as características dos "chaebol" e da parceria entre o 
Estado e a iniciativa privada como fundamentos para o crescimento industrial sul-coreano. 
 
34 
 
 
 
3 - A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL 
 
 
3.1 - As Zonas de Processamento de Exportações 
 
 Uma das características mais importantes do processo de industrialização orientada 
para as exportações da Coréia do Sul é o estabelecimento de zonas de processamento de 
exportações (ZPEs), que serviram como fator de atração de capitais e de tecnologias 
estrangeiros. 
 
 O estabelecimento e o funcionamento de inúmeras ZPEs foi uma etapa inicial 
importante dentro do processo de rápida industrialização, pois nestes locais, o governo 
proporcionava o acesso ao terreno e a facilidades como estradas, portos, aeroportos, água, 
eletricidade, bancos, correios, e todos os demais itens de infra-estrutura necessários à 
implantação e operação de uma planta industrial. 
 
 Em 1980, existiam aproximadamente 1.400 empresas operando em ZPEs, sendo que 
estas empregavam em torno de 300.000 trabalhadores e eram responsáveis por quase 20% 
do total das manufaturas exportadas. 
 
 As atividades produtivas realizadas nas ZPEs, conhecidas como sendo de 
"montagem não qualificada", em pouco tempo tornaram-se subordinadas aos componentes 
e aos bens de capital produzidos pela "fabricação qualificada" da indústria metal-mecânica 
sul-coreana, graças ao rápido "aprendizado tecnológico" e aos processos de "aprendizado 
reverso" instaurados. 
35 
 
 
 
3.2 - "Chaebol" - Os Conglomerados Econômicos 
 
 Inicialmente, a maioria das empresas sul-coreanas voltou-se para a produção em 
larga escala de artigos padronizados (têxteis, calçados, eletrônica de consumo e 
componentes de computador), utilizando-se de trabalhadores baratos e produtivos, dentro 
de instalações fabris que empregavam a mais avançada tecnologia japonesa. 
 
 Este fatores, associado às políticas governamentais protecionistas e de crédito 
direcionado e subsidiado, deram origem às General Trading Companies, ou seja, aos 
conglomerados industriais privados, que também são conhecidos como os ultra-
diversificados "chaebol". Esta elevada diversificação produtiva pode ser vista na Tabela 4. 
 
 As General Trading Companies (GTC) são versões modificadas dos "Sogo Shosha" 
japoneses, que por sua vez, também são companhias de comércio integradas nas atividades 
industrial e financeira. Cinco grandes grupos coreanos foram criados em 1975 (Samsung 
Co. Ltd., Daewoo Industrial Co., Ssangyong Corporation, Kukje Corporation e Hanil 
Synthetic Fiber Company), recebendo facilidades governamentais para o estabelecimento 
de subsidiárias em outros países ou de corporações locais que deveriam funcionar como 
pontas de lança para a conquista de novos mercados. 
 
 Em contrapartida, estes grupos deveriam atingir metas definidas pelo governo, como 
a de atingirem individualmente um valor mínimo de exportações fixado em US$ 100 
milhões no ano de 1976 e de US$ 500 milhões para 1981. Estas companhias também 
deveriam proporcionar um suporte financeiro, técnico e gerencial para indústrias menores, 
no sentido de atuarem como agentes exportadores dos produtos destas empresas. 
36 
 
 
TABELA 4 - ATIVIDADES DOS CINCO MAIORES CONGLOMERADOS DA 
CORÉIA DO SUL -- 1981 
 
 
NOME DO 
CONGLOMERADO 
 
 
 
PRINCIPAIS 
 
 
ATIVIDADES 
Samsung Eletrônica e Comunicações 
Construção e Engenharia 
Química 
Construção Naval 
Têxteis e Vestuários 
Serviços e Finanças 
Comércio Geral e Varejista 
Papel e Celulose 
Produtos Alimentícios 
Hotéis 
Autopeças 
Hyundai Eletrônica e Comunicações 
Automóveis 
Construção e Engenharia 
Química 
Construção Naval 
Siderurgia 
Serviços e Finanças 
Comércio Geral 
Daewoo Eletrônica e Comunicações 
Construção Naval 
Construção e Engenharia 
Têxteis e Vestuários 
Automóveis 
Maquinaria 
Comércio Geral 
Serviços e Finanças 
Lucky-Goldstar Eletrônica e Comunicações 
Construção e Engenharia 
Química 
Petróleo e Energia 
Comércio Geral e Varejista 
Serviços e Finanças 
Transmissão de TV 
Indústria Gráfica 
Sunkyong Química 
Têxteis e Vestuário 
Construção e Engenharia 
Comércio Geral 
Fibras Sintéticas 
Fonte: SUZIGAN, W. et alli. Reestruturação industrial e competitividade internacional. 
 São Paulo: SEADE, 1989. 
 
 
 A boa performance dos hiper-diversificados conglomerados sul-coreanos permitiu 
que durante o ano de 1981, os valores das exportações já fossem bem maiores (conforme 
podemos ver na Tabela 5), sendo que o faturamento médio dos dez maiores grupos superou 
a faixa dos US$ 900 milhões, o que representava 43,6% das exportações totais da Coréia do 
Sul. 
37 
 
 
 
TABELA 5 - VALOR DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES POR 
COMPANHIA DA CORÉIA DO SUL -- 1981 
 
 
 
NOME DA COMPANHIA 
(General Trading Company) 
 
 
VALOR DAS 
IMPORTAÇÕES 
(Milhões de US$) 
 
VALOR DAS 
EXPORTAÇÕES 
(Milhões de US$) 
Daewoo 211 1.904 
Hyundai 207 1.722 
Samsung 204 1.607 
Kukjo 104 846 
Hyosung 91 786 
Ssangyong 193 758 
Bando Trading 69 622 
Sunkyung 787 585 
Kumho 51 185 
Korea Trading 29 84 
TOTAIS 1.947 9.099 
% Em Relação ao Resto da 
Economia 7,4% 43,6% 
Fonte dos dados brutos: UNCTAD/GATT - The export performance of the Republic of 
 Korea, 1961-1982, Genebra, 1984. 
 
 
 
 
 
38 
 
 Em 1987, os quatro maiores grupos (Hyundai, Daewoo, Samsung e Lucky-Goldstar) 
apresentaram faturamentos individuais em torno de US$ 20 bilhões e, em conjunto, 
obtiveram um desempenho correspondente a 50%das exportações. 
 
 Durante os anos 70, a siderurgia e a construção naval passaram a ser os grandes 
pólos de exportação de produtos e de tecnologia. E nos anos 80, o "upgrading" das 
indústrias eletrônica, química e automobilística foi o responsável pelas inovações 
apresentadas na fabricação e na aceitação pelos mercados externos de "chips" de memória, 
de automóveis inteiros, de video-cassetes de circuito único e de produtos derivados da 
química fina. 
 
 Os "chaebol" também são considerados um importante elemento estrutural de 
organização industrial sul-coreana, pelo fato de serem conglomerados econômicos que 
interligavam indústrias com uma grande diversificação produtiva, viabilizaram enormes 
ganhos de escala, além de terem direcionado elevados recursos para a área de P&D. 
 
 A participação direta do Estado na economia, excluído o sistema bancário, limitou-
se à siderurgia (a empresa estatal Pohang Steel é a única integradora de ferro e aço) e à 
construção civil além-mar, sendo que posteriormente, as atividades desta última foram 
repassadas para os "chaebol", que através de incentivos e do protecionismo governamental, 
assumiram todos os empreendimentos industriais e comerciais na Coréia do Sul. 
 
 Característica comum a todos os grandes grupos é o fato de serem controlados por 
empresários que possuem estreitos vínculos políticos com o governo e por apresentarem 
uma estrutura funcional extremamente hierarquizada e baseada em uma rígida disciplina do 
trabalho. 
 
39 
 
 A elevada concentração da propriedade industrial em um número reduzido de 
grandes grupos, apesar da enorme diversificação de áreas produtivas, tanto em setores 
relacionados tecnológica e comercialmente, como em ramos distintos, constituiu-se em um 
elemento favorável para a realização do rápido crescimento industrial orientado para as 
exportações, particularmente através: 
 
 1) de ganhos de produtividade decorrentes de uma maior internalização de 
externalidades entre atividades distintas; 
 
 2) da elevada interação técnica adquirida entre processos produtivos não 
contínuos e que envolvam habilidades diversificadas (podemos citar desde o exemplo 
clássico da Hyundai, onde a aprendizagem na pintura de automóveis foi desenvolvida pelo 
deslocamento de uma equipe com experiência em anticorrosão de navios, até a transferência 
da capacidade de gerência de sistemas complexos da indústria pesada para a construção 
naval); 
 
 3) do baixo custo dos investimentos iniciais em ramos distintos, decorrente 
da capacidade dos grandes grupos em desenvolver e transferir habilidades em estudos de 
viabilidade econômica, na formação de grupos de trabalho, na negociação com 
fornecedores externos de equipamentos e de tecnologia e no treinamento de mão-de-obra; 
 
 4) da eliminação da duplicação de esforços entre empresas e da redução dos 
tempos ociosos com alterações de processos produtivos não especializados; e 
 
 5) dos ganhos de escopo asssociados à redução dos riscos e da garantia de 
fornecimento e de vendas entre as empresas. 
 
40 
 
 Uma característica dos "chaebol", distinta das empresas dos outros "tigres asiáticos", 
é de, desde cedo, buscarem o desenvolvimento de modelos próprios e a comercialização no 
mercado internacional com suas próprias marcas. Sob este aspecto, aproximam-se das 
empresa japonesas, sendo uma constante na literatura a respeito, o caso da Sony, que no 
início de sua trajetória, recusou uma encomenda para fabricar rádios transistorizados para a 
já famosa RCA norte-americana. 
 
 Outra característica das empresas sul-coreanas, diretamente relacionada às 
estratégias de incentivo governamental, é de possuírem uma intensa rivalidade interna e 
uma enorme disposição de crescerem e de correrem riscos. Neste sentido, temos que a 
Hyundai e a Daewoo realizaram enormes investimentos na construção de grandes estaleiros, 
sem possuírem uma única encomenda; um outro exemplo nesta direção refere-se às 
empresas Sachan, SKC, Lucky-Goldstar e Kolon que possuem 25% do mercado mundial de 
video-cassetes e recentemente investiram na duplicação de suas fábricas. 
 
 
3.3 - A Parceria Entre o Estado e a Iniciativa Privada 
 
 O Estado sul-coreano tem desempenhado um importante papel no processo de 
desenvolvimento econômico e de capacitação tecnológica da indústria, basicamente através 
de empréstimos, subsídios e proteção do mercado interno concedidos à iniciativa privada, 
mas também através dos mecanismos de desvalorização cambial e de pesados 
investimentos em infra-estrutura, educação e na intermediação de recursos externos e nos 
licenciamentos de tecnologia. 
 
 Durante todos os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento, o Estado foi o 
responsável pela definição dos setores-chave da economia, pelo estabelecimento de uma 
41 
 
infra-estrutura básica, bem como pela concessão de empréstimos, subsídios e licenças de 
importação. É de se notar que a característica de flexibilidade e de seletividade apresentadas 
pelo planejamento estatal foi original em relação a outros países em desenvolvimento, e 
alcançou resultados positivos ao exercer uma política de premiação da boa performance e 
de penalização dos maus desempenhos ("picking winners and punishing losers"). 
 
 Esta política baseou-se nos contratos firmados com as empresas, onde a concessão 
de empréstimos e subsídios estava atrelada ao atingimento de metas tais como: aumento de 
produtividade; ampliação da capacidade produtiva; elevação de quotas de exportação; 
diversificação da produção; redução de preços locais; melhoria da qualidade e/ou de 
modernização tecnológica por parte dos grandes grupos. Se o Estado considerasse que um 
determinado "chaebol" não estava obtendo um desempenho industrial ou comercial 
condizente com o esperado, este perdia o apoio do governo e, principalmente, face ao 
controle estatal do crédito, caía em rápida decadência. Exemplos mais conhecidos são os 
dos conglomerados Kukje e Korea Shipbuilding & Enterprises cujos ativos foram divididos 
entre os demais "chaebol". 
 
 O Estado sul-coreano apresentou um padrão de intervenção na economia que 
propiciou um rápido aprendizado tecnológico da estrutura industrial, tanto pelo 
estabelecimento de um sistema dinâmico de prêmios e castigos, associado a patamares de 
ocupação de mercado e de desenvolvimento tecnológico, bem como pelos elevados gastos 
estatais e privados em P&D. 
 
 Outro fator preponderante no rápido aprendizado tecnológico das empresas sul-
coreanas foi a intensa participação do governo nas negociações de "joint-ventures" com 
capitais estrangeiros, bem como na regulamentação e controle de todos os contratos de 
42 
 
transferência de tecnologia, onde sempre houve uma grande pressão governamental pelo 
ingresso massivo de novas tecnologias. 
 
 O relacionamento Estado-capital estava calcado na estratégia do crescimento a 
qualquer custo. Se houvesse crescimento industrial, através da ocupação de mercados e do 
investimento tecnológico, a empresa poderia contar com todo o apoio do governo, caso 
contrário, poderia contar os dias para a sua exclusão do mercado. 
 
 
3.4 - A Força de Trabalho e o Sistema Educacional 
 
 O desenvolvimento de uma indústria exportadora de produtos de alta tecnologia não 
poderia estar baseado em indústrias intensivas em trabalho, mas primordialmente em 
setores produtivos intensivos em capital e em novas tecnologias produtivas e 
organizacionais. Assim, tornou-se necessária uma correspondente elevação dos níveis de 
educação e do treinamento técnico da mão-de-obra sul-coreana, com o intuito de qualificá-
la e torna-lá altamente produtiva, capaz de gerar produtos competitivosa nível 
internacional. 
 
 Neste sentido, a reforma educacional iniciada na década de 60 cumpriu um papel 
fundamental no sentido de elevar o nível de escolaridade e de qualificar uma mão-de-obra 
reconhecidamente disciplinada, de baixo custo e com um elevado número de horas de 
trabalho. Em 1992, o trabalhador sul-coreano possuia uma jornada média de 
aproximadamente 49 horas semanais (sendo extensiva até 60 horas por semana, desde que 
estabelecido em contrato de trabalho, e mediante o pagamento de horas-extras). Também 
existem férias remuneradas de 1 dia de folga por mês e mais 8 dias de férias por ano. 
 
43 
 
 
TABELA 6 - HORAS DE TRABALHO POR SEMANA NAS INDÚSTRIAS 
SUL-COREANAS -- 1987/92 
 
 
ANOS 
 
 
HORAS DE TRABALHO 
POR SEMANA 
 
1987 54,0 
1988 52,6 
1989 52,6 
1990 50,7 
1991 49,3 
1992 48,7 
Fonte: UNITED NATIONS / STATISTICAL DIVISION - Monthly Bulletin of Statistics, 
 v.48, n. 5, mai. 1994. 
 
 
 O desenvolvimento de ramos industriais, tais como, da indústria pesada, química e 
eletrônica, que dependem de um grande número de outras indústrias em função de seus 
inter-relacionamentos e de seus efeitos de interligação ("linkage effects"), criou uma 
demanda por uma mão-de-obra altamente especializada nos diversos ramos industriais 
instalados. 
 
 Esta necessidade de trabalhadores qualificados foi satisfeita através do 
desenvolvimento de um sistema educacional que encorajava a especialização nas diversas 
áreas da engenharia, mediante a criação de escolas técnicas e de universidades, mantidas 
tanto pelo governo como por empresas privadas. 
 
44 
 
 A Tabela 7, abaixo, fornece alguns dados relativos ao sistema educacional da Coréia 
do Sul (considerado na classificação do F.M.I. como um país em desenvolvimento de altas 
rendas), comparados com a situação do Brasil (exemplo de país em desenvolvimento com 
baixas rendas) e do Japão (país desenvolvido). 
 
 Como podemos observar, os indicadores educacionais situam a Coréia do Sul em 
patamares superiores mesmo em relação a alguns países desenvolvidos, tal é a sua 
determinação em priorizar uma educação de elevada qualidade. Acrescente-se, ainda, que 
atualmente a rede de ensino da Coréia do Sul pode atender 9,6 milhões de estudantes, isto é, 
em torno de 20% da sua população. 
 
 Um dos traços culturais sul-coreanos mais importantes, que é constantemente 
reforçado pelo processo de concorrência e de crescimento industrial, é o da dedicação à 
educação, e tanto o governo como a população mantêm a educação como uma das suas 
principais prioridades. Atualmente o país apresenta um alto índice de alfabetização e 
praticamente toda a população estuda até o nível secundário. Em relação ao ensino superior, 
distingue-se dos demais países em desenvolvimento pela ênfase dada à qualidade dos 
cursos técnicos e de engenharia, além de existirem fundos especiais para a realização de 
cursos de graduação, pós-graduação e doutorado no exterior, principalmente nos EUA. 
 
 
 
 
 
TABELA 7 - INDICADORES EDUCACIONAIS COMPARADOS - CORÉIA DO 
SUL, BRASIL E JAPÃO -- 1990 
 
45 
 
 
 
ITENS 
 
 
 
 
CORÉIA 
DO SUL 
 
 
 
BRASIL 
 
 
JAPÃO 
População Total (milhões) 43.582 150.368 123.457 
Densidade Populacional (hab/km2) 440 18 327 
PNB per capita (US$) 4.400 2.550 23.730 
Índice de Analfabetismo (%) 3,7 18,9 0 
Duração Educ. Compulsória (anos) 6 8 9 
Duração Educação 1o. Grau (anos) 6 8 6 
Duração Educação 2o. Grau (anos) 6 3 6 
Qtde. Alunos/Professor 1o. Grau 36 24 22 
Qtde. Alunos/Professor 2o. Grau 28 11 18 
Qtde. Alunos 3o Grau/100.000 hab 3.781 1.031 2.117 
Percentual Estudantes Área Humana 57 68 67 
Percentual Estudantes Área Ciências 38 22 26 
Percentual Estudantes Área Médica 05 10 07 
Percentual Gasto Públi. em Educação 23,2 17,7 16,8 
Fonte dos dados brutos: UNESCO. World Education Report - 1991, Paris, 1991. 
 
 
 O processo de rápida absorção de tecnologia e a elevação da produtividade desta 
economia são creditados em grande parte ao aumento generalizado do nível educacional da 
população. Cabe ressaltar, no entanto, que o desenvolvimento da habilidade e da 
qualificação técnica da força de trabalho sul-coreana só pôde se transformar em uma 
componente de inovação tecnológica através do que se costuma denominar de "learning-by-
doing". 
46 
 
 
 Um melhor treinamento e uma maior qualificação do trabalhador passam por um 
aprendizado operacional adquirido em práticas concretas de produção, que na sua forma 
mais moderna, possui características inéditas de cooperação e de gestão da produção, bem 
como da constante internalização de novos conhecimentos tecnológicos e de técnicas de 
trabalho. 
 
 Destacam-se entre as novas técnicas, a utilização da microeletrônica na 
instrumentação e no controle de processos, o uso de instrumental estatístico para a 
monitoração e controle da qualidade, além da aplicação dos métodos de organização da 
produção que venham a aumentar a flexibilidade e a produtividade industrial. 
 
 Exemplos da elevada produtividade do trabalho, da qualidade e da disciplina da 
mão-de-obra sul-coreana manifestam-se nas freqüentes entregas antecipadas da produção, 
onde o caso mais comum é o da construção de petroleiros que, pela média mundial, possui 
um prazo de 30 meses para a sua construção, mas que os estaleiros da Hyundai, Samsung e 
Daewoo concluem em 18 meses. 
 
 No próximo capítulo é feito uma avaliação de como o desenvolvimento tecnológico 
foi importante para o crescimento industrial sul-coreano, sendo analisadas as políticas de 
transferência de tecnologia e os incentivos à criação de institutos de C&T, bem como a 
evolução de dois setores industriais de alta tecnologia: a indústria de semi-condutores e a de 
robótica. 
47 
 
 
 
4 - O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO 
 
 
4.1 - Políticas de Transferência de Tecnologia 
 
 Desde 1962, a Coréia do Sul tem apresentado constantes melhoras nos seus 
indicadores de desenvolvimento econômico, desempenho este que está baseado na adoção 
de políticas governamentais que privilegiaram a industrialização, a capacitação tecnológica 
local e a exportação de produtos manufaturados intensivos em tecnologia. 
 
 A década de 60 foi o período de formação dos alicerces para o desenvolvimento da 
Ciência e Tecnologia, quando foram criados o Instituto Coreano de C&T e o Ministério de 
C&T, além de ser o período onde se consolidaram as melhorias do padrão educacional 
(resultado do grande programa de alfabetização realizado no final dos anos 50), da 
formação de capital para a implantação das indústrias leves (intensivas em mão-de-obra), e 
das indústrias intensivas em tecnologia. Nesta década, os investimentos anuais em 
tecnologia representavam, aproximadamente, 0,3% do PIB, sendo prioritários o treinamento 
e a formação da mão-de-obra. 
 
 Porém, esta época ainda estava marcada por um desenvolvimento tecnológico 
essencialmente dependente da imitação, da compra de "fábricas prontas" ("turn-key 
plants"), e da absorção de tecnologias embutidas nos produtos gerados por bens de capitais 
importados, principalmente do Japão. 
 
48 
 
 Nos anos 70, com a maturação dos investimentos em infra-estrutura, da 
consolidação das indústrias de base e da expansão da base tecnológica, houve uma alteração 
do processo de industrialização baseado na substituição de importações por uma 
industrialização voltada para as exportações de bens de consumo manufaturados e para 
setores intensivos em capital e tecnologia, como as indústrias química e metal-mecânica. 
Nesta década, os gastos anuais em C&T variaram de 0,4% a 0,7% doPIB, tendo sido 
importantes as políticas de desenvolvimento da mão-de-obra, só que agora, voltadas para o 
desenvolvimento dos trabalhadores mais qualificados e dos engenheiros. 
 
 Na década de 80, temos a consolidação das políticas de P&D, com desenvolvimento 
quantitativo e qualitativo de uma variada gama de tecnologias, onde as metas de 
estabilização do crescimento da economia e fortalecimento da competitividade 
internacional manifestaram-se nas elevadas exportações de semi-condutores, navios e 
carros completos. Neste período, houve incentivo governamental para a aplicação e criação 
de novas tecnologias por parte da iniciativa privada, sendo que foram realizados gastos 
correspondentes de 0,6 a 2% do PIB em C&T. 
 
 Com a acelerada perda de vantagens produtivas baseada no baixo custo da sua mão-
de-obra (também em função de disputas trabalhistas), das condições adversas dos contratos 
de licenciamento de tecnologias e das crescentes barreiras comerciais, as empresas sul-
coreanas têm buscado a inserção em mercados cujos produtos sejam tecnologicamente mais 
sofisticados e que possuam valores agregados mais elevados. Neste sentido, tem-se 
observado um crescimento no número de pesquisadores e um incremento acelerado dos 
gastos com C&T, tanto por parte do governo, quanto da iniciativa privada. 
 
 A Tabela 8 permite que se faça uma comparação da evolução do quantitativo de 
pesquisadores entre alguns países, sendo que a Coréia do Sul é a nação que apresenta 
49 
 
maiores crescimentos percentuais nos períodos considerados e possui valores absolutos 
semelhantes aos dos paises desenvolvidos. 
 
 
TABELA 8 - QUANTIDADE DE CIENTISTAS E ENGENHEIROS DE C&T EM 
ALGUNS PAÍSES -- 1970/88 
 
 
CIENTISTAS E 
ENGENHEIROS DE C&T 
(por milhão de habitantes) 
 
 
 
 
PAÍSES 
 
 
1970 
 
 
1980 
 
Taxa de 
Crescimento 
1970-80 
(%) 
 
 
 
1988 
 
Taxa de 
Crescimento 
1980-88 
(%) 
Coréia do Sul 176 484 175,0 1.325 173,8 
Alemanha 1.492 2.019 35,3 2.724 34,9 
Argentina 271 336 23,9 352 4,76 
Espanha 173 366 111,6 536 46,4 
EUA 2.679 2.892 7,9 3.317 14,7 
Itália 513 833 62,4 1.233 48,0 
Japão 2.864 3.777 31,9 5.029 33,1 
Fonte dos dados brutos: UNITED NATIONS. World Education Report 1991. Nova Iorque, 
 1993. 
 
 
 A Tabela 9 mostra o crescimento dos investimentos em C&T e a troca de posições 
entre governo e iniciativa privada, em relação aos percentuais de recursos investidos nestas 
atividades. 
 
50 
 
 Uma característica dos investimentos realizados com P&D é de que estes recursos 
têm crescido anualmente em volume e em relação ao PIB, sendo que durante as décadas de 
60 e 70, era o Estado quem desembolsava a maioria dos recursos alocados para estas 
atividades (chegando a representar 90% dos gastos totais em 1965). A partir da década de 
80 há uma inversão desta situação, quando a iniciativa privada passa a ocupar esta função 
(participando com 81% dos gastos totais em 1985). 
 
 
TABELA 9 - GASTOS COM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA CORÉIA 
DO SUL -- 1965/85 
 
 
ANOS 
 
 
 
GASTOS 
(Bilhões de Wons) 
 
% DO 
PIB 
 
SETOR PÚBLICO / 
SETOR PRIVADO 
1965 2,1 0,26 90 / 10 
1970 10,5 0,38 71 / 29 
1975 42,7 0,42 67 / 33 
1980 211,7 0,57 52 / 48 
1983 621,7 1,06 27 / 73 
1985 1.155,2 1,59 19 / 81 
Fonte: Estudos BNDES. Coréia do Sul: A Importância de uma Política Industrial, jun. 
1988. 
 
 
 Característica importante do desenvolvimento tecnológico sul-coreano foi a 
seletividade e elevada interferência governamental em relação aos processos de aquisição 
de tecnologias do exterior, sempre orientados conforme as metas de industrialização 
estabelecidas nos Planos de Desenvolvimento. 
 
51 
 
 Além do governo sul-coreano participar ativamente das negociações com os 
fornecedores externos, outros fatores também concorreram para o êxito desta estratégia: a 
existência de uma legislação sobre licenciamentos de tecnologia que proibia as cláusulas 
contratuais restritivas ao uso de tecnologia ou com restrições às exportações; o 
estabelecimento de limites para o envio de "royalties" (que não poderiam exceder a 3% do 
valor das vendas); a prioridade aos projetos voltados para a exportação; o estabelecimento 
de prazos máximos para a vigência de contratos (duração máxima era de 3 anos); e a 
exigência de comprovações de repasse de conteúdos significativos dos processos 
industriais. 
 
 Esta legislação levou o governo a monitorar os ingressos de tecnologia, de tal forma, 
que até mesmo as atividades de "aprendizado reverso" eram controladas pelo Estado. 
Entretanto, houve uma evolução neste processo, conforme podemos observar na Tabela 10, 
onde a partir do final dos anos 70, há uma maior liberalização e simplificação dos processos 
de aprovação de licenciamentos de tecnologia. 
 
52 
 
 
 
TABELA 10 - EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE APROVAÇÃO DE 
IMPORTAÇÃO DE TECNOLOGIA NA CORÉIA DO SUL -- 1978/88 
 
 
ESTÁGIO 
 
 
TIPO DE 
APROVAÇÃO 
 
INDÚSTRIAS 
ENVOLVIDAS 
 
Estágio 1 - 1978 Aprovação automática para: Maquinarias 
 - menos de US$ 30 mil de remessa de lucros Construção Naval 
 - menos de 3% de taxa de royalties Elétricas 
 - menos de 3 anos de duração do contrato Eletrônicas 
 - menos de US$100 mil de retorno de 
capital 
Têxteis e Químicas 
Estágio 2 - 1979 Aprovação automática para: Exceto Energia 
Nuclear 
 - menos de US$ 500 mil de remessa lucros 
 - menos de 10% de taxa de royalties 
 - menos de 10 anos de duração do contrato 
Estágio 3 - 1980 Aprovação automática para: Todas as Indústrias 
 - menos de 10% de taxa de royalties 
 - menos de 10 anos de duração do contrato 
Estágio 4- 1982 A autoridade sobre a aprovação foi 
totalmente transferida para o ministro do 
respectivo Ministério envolvido 
Todas as Indústrias 
Estágio 5 - 1984 Os procedimentos de aprovação foram 
 substituídos por procedimentos de 
notificação. 
Todas as Indústrias 
Estágio 6 - 1986 Permitida a introdução de marcas 
registradas 
Todas as Indústrias 
Estágio 7 - 1988 Exceto para aqueles projetos com mais de 3 
anos de duração, US$ 100 mil de retorno de 
capital e 2% de taxa de royalties. 
Todas as Indústrias 
Fonte: UNCTAD. Technology Transfer in a Changing International Environment: Policy 
 Challenges and Options For Cooperation. Nova Iorque, 1992. 
 
53 
 
 
4.2 - Os Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento 
 
 Outro fator de destaque da regulação do governo sobre os investimentos de P&D foi 
a criação no final dos anos 60 de institutos de pesquisa estatais. Estes institutos sempre 
estiveram voltados para o desenvolvimento tecnológico em áreas relacionadas com a 
produção dos "chaebol", sendo que esta estreita colaboração advinha do fato de que 
significativas parcelas de recursos provinham dos conglomerados privados. 
 
 Todos os produtos desenvolvidos nos centros de pesquisa eram resultado da 
tentativa de promover a capacidade técnica das indústrias sul-coreanas, sendo que aqueles 
produtos desenvolvidos com tecnologia própria recebiam incentivos governamentais 
adicionais durante a sua etapa de produção para o mercado mas, para tanto, deveriam 
obedecer alguns critérios, tais como: a tecnologia e a patente deveriam ser sul-coreanos; 
deveria haver uma utilização mínima de 60% de componentes de origem local; não 
poderiam ser utilizados componentes estrangeiros nas funções críticas; e a qualidade destes 
produtos deveria ser atestada por órgão independente. 
 
 Em 1993, as duas instituições de financiamentode P&D mais importantes da Coréia 
do Sul eram a Korea Technology Development Corporation (KTDC) e a Korea Technology 
Finance Corporation (KTFC). 
 
 A KTDC é uma empresas privada cujo principal critério para o financiamento de um 
projeto é o da lucratividade, e cujas prioridades estão nas áreas de máquinas e 
equipamentos, eletroeletrônicos, química fina e engenharia genética. Já, a KTFC é uma 
empresa pública, subordinada ao Banco de Desenvolvimento da Coréia, que realiza estudos 
de viabilidade técnica, investimentos e empréstimos para as atividades ligadas à C&T. 
54 
 
 
 Conforme estipulado pelo 6º. Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento, os gastos com 
P&D para 1991 ficaram situados em torno de 3% do PIB, e as áreas de destaque foram 
aquelas relacionadas com a: 
 
 a) microeletrônica, 
 b) telecomunicações, 
 c) tecnologias de informação, 
 d) informática, 
 e) robótica, 
 f) química fina, 
 g) novos materiais, 
 h) engenharia genética, 
 i) ciências médicas, 
 j) tecnologias de controle ambiental, 
 l) tecnologias de energia e recursos naturais, e 
 m) tecnologias industriais. 
 
 Os diversos institutos de pesquisa e desenvolvimento criados pelas empresas sul-
coreanas (atualmente a Hyundai possui mais de 30 centros de P&D), não se localizam 
apenas na Coréia do Sul, mas também em alguns países desenvolvidos onde se originam as 
tecnologias mais modernas, como o s EUA, Japão, Alemanha e França, aonde já 
apresentaram resultados significativos nas áreas de engenharia genética, automação da 
produção e novos materiais. Esta estratégia de promoção da cooperação técnica 
internacional visa a suprir algumas das reconhecidas lacunas tecnológicas e de 
investimentos, e está inserida nos limites da pesquisa da ciência e da tecnologia, que cada 
vez mais requer investimentos de larga escala, deve ser sistemática e possuir uma estrutura 
55 
 
complexa e interdisciplinar. Associado a este item, o governo sul-coreano utiliza os 
mesmos incentivos que estão à disposição das empresas nacionais para atrair institutos de 
pesquisa e desenvolvimento de países desenvolvidos. 
 
 Com o objetivo de facilitar a promoção e a difusão de novas tecnologias, 
principalmente entre as pequenas e médias indústrias, o governo sul-coreano criou o Small 
and Medium Industry Promotion Corporation que tem por objetivo prestar assistência 
técnica e viabilizar consultorias técnicas estrangeiras. 
 
 Como forma de tornar disponíveis informações sobre patentes domésticas e 
estrangeiras, bem como publicações técnicas, foi criado o Korea Institute for Economics 
and Technology, que é o centro nacional de referência sobre informações técnicas e 
industriais. Este instituto possui a mais completa base de dados informatizada nacional, 
onde as pesquisas e as recuperações de informações são feitas de forma "on-line" (com 
retorno imediato dos dados localizados no computador), além de possuir interligação com 
redes de comunicação de dados internacionais. 
 
 
4.3 - As Cidades de C&T 
 
 Ainda na área de C&T, é destaque a programação do governo sul-coreano em criar 
mais duas "cidades de P&D", onde a exemplo da Daeduk Science Town (localizada a 80 
Km ao sul de Seul), existiriam centros de pesquisa básica onde a mais atualizada literatura 
científica e tecnológica estaria disponível para os pesquisadores, juntamente com empresas 
de base tecnológica e alguns poucos fornecedores essenciais. 
 
56 
 
 Estas cidades de incubação tecnológica têm como modelo os parques tecnológicos 
dos EUA (como o Vale do Silício na Califórnia, o Complexo da Rota 128 em Boston e o 
Parque de Pesquisa Triângulo na Carolina do Norte), que reúnem institutos de pesquisa 
governamentais, universidades e empresas privadas com o objetivo de desenvolverem 
produtos de alta tecnologia para os mercados mundiais. 
 
 O parque de C&T denominado Daeduk Science Town ocupa uma área de 57 Km2, 
onde estão instalados 13 institutos de pesquisa governamentais, 3 institutos de pesquisa 
privados, 3 universidades e 3 escolas profissionais. As empresas que pretendem usufruir das 
vantagens da proximidade com estas instituições dedicadas à P&D e da cooperação em 
projetos de pesquisa a custos relativamente baixos, devem adquirir uma área mínima de 
4.300 m2, investir um determinado percentual das vendas em P&D e empregar um 
percentual específico da mão-de-obra com cientistas e engenheiros. 
 
 Com o objetivo de obter maiores resultados com a exportação de produtos e serviços 
criados pelas companhias aí instaladas, este centro tecnológico busca criar um ambiente 
propício ao desenvolvimento de tipos específicos de tecnologia, também sendo responsável 
pela transferência de tecnologia para as pequenas empresas atraídas para o local. 
 
 Outra característica deste centro tecnológico é o esforço em estimular a transferência 
de tecnologia externa através do retorno de cientistas e engenheiros sul-coreanos que 
obtiveram a sua formação no exterior (principalmente nos EUA), e que não retornaram à 
Coréia do Sul. 
 
 Com estas cidades de C&T a Coréia do Sul pretende terminar com a era da cópia de 
tecnologias e desenvolver técnicas e tecnologias próprias que permitam a geração de 
produtos inteiramente novos para os mercados internacionais. 
57 
 
 
 
 4.4 - A Indústria de Semi-Condutores 
 
 A indústria de semi-condutores está intimamente relacionada com a revolução da 
microeletrônica e da computação (sendo considerado um setor cuja tecnologia faz parte dos 
novos paradigmas tecnológicos, juntamente com a biotecnologia, os novos materiais e a 
robótica). Essa indústria apresenta como principal característica uma elevada concentração 
industrial, com o predomínio de empresas norte-americanas e japonesas (Intel, Motorola, 
NEC, Toshiba, etc), além de apresentar uma dinâmica própria, onde as maiores empresas 
têm se revesado na ocupação dos primeiros lugares em termos de produção mundial. 
 
 Conforme podemos verificar na Tabela 11, este também é um setor onde as 
empresas sul-coreanas têm apresentado um desempenho significativo, considerando que 
esta é uma "tecnologia de ponta" e sabendo que a Coréia do Sul é responsável, hoje em dia, 
por mais da 50% da produção mundial de DRAM (Dynamic Random Access Memory), um 
componente essencial da eletrônica digital. O destaque da área fica por conta da Samsung, 
que têm investido maciçamente neste setor e teve um faturamento de US$ 1 bilhão em 
1989. Conforme dados da Integrated Circuits Engineering Corporation, ocupou o décimo 
lugar na lista das 10 maiores empresas em 1993. Vindo a ocupar o lugar da Phillips, único 
representante europeu que constava desta relação. 
58 
 
 
TABELA 11 - AS MAIORES EMPRESAS DE SEMI-CONDUTORES NO MUNDO -- 1983/93 
(Vendas em Milhões de US$) 
 
 
1983 
 
1988 
 
1993 
(previsão) 
 
 
 
Ranking 
 
 
Companhia 
 
País 
 
Vendas 
 
Companhia 
 
País 
 
Vendas 
 
Companhia 
 
País 
 
Vendas 
1º. Texas Instr. EUA 2.350 NEC Japão 4.650 Toshiba Japão 7.400 
2º. Motorola EUA 1.255 Toshiba Japão 4.545 NEC Japão 7.300 
3º. NEC Japão 1.985 Hitachi Japão 3.610 Hitachi Japão 5.700 
4º. Hitachi Japão 1.690 Motorola EUA 2.900 Texas Instr. EUA 4.100 
5º. Toshiba Japão 1.460 Texas Instr. EUA 2.750 Motorola EUA 3.900 
6º. National EUA 1.270 Intel EUA 2.330 Mitsubishi Japão 3.700 
7º. Intel EUA 1.170 Matsushita Japão 2.080 Fujitsu Japão 3.600 
8º. Phillips Holanda 1.150 Fujitsu Japão 2.075 Intel EUA 3.400 
9º. AMD EUA 930 Phillips Holanda 2.010 Matsushita Japão 3.300 
10º. Fujitsu Japão 815 Mitsubishi Japão 1.940 Samsung Coréia Sul 3.200 
Fonte: UNIDO. Industry and Development Global Report. Viena, out. 1989.

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