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Coleção de livros didáticos do referencial curricular nacional para as escolas indígenas

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Prévia do material em texto

Presidente da República 
Fernando Henrique Cardoso 
Ministro da Educação e do Desporto 
Paulo Renato Souza 
Secretário Executivo 
Luciano Oliva Patrício 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO 
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL 
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO 
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL 
PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS: 
informações para o professor 
Presidente da República: 
Fernando Henrique Cardoso 
Ministro da Educação e do Desporto: 
Paulo Renato Souza 
Secretário Executivo: 
Luciano Oliva Patrício 
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO REFERENCIAL CURRICULAR 
NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS: 
informações para o professor 
Editor 
Luís Donisete Benzi Grupioni 
Com a colaboração de 
André Toral, Bruce Albert, Denise Fajardo Grupioni, 
Ismael Tressmann. Jussara Gruber. Kléber Gesteira e Matos, 
lydia Poleck. Manana Kawall Leal Ferreira. 
Nietta Lindenberg Monte e Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio. 
Capa 
Fernando Secchi 
Projeto gráfico/editoração 
Vera Feitosa 
Brasília. 1998 
Secretária de Educação Fundamental: 
Iara Glória Areias Prado 
Diretora do Departamento de Política da Educação Fundamental: 
Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha 
Coordenadora Geral de Apoio às Escolas Indígenas: 
Ivete Maria Barbosa Madeira Campos 
MEC/SEF/DPEF 
Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas 
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 615 
70047-902, Brasília - DF 
Tel: (061) 224-9598 e (061) 410-8630 
Fax: (061) 321-5864 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Grupioni, Luís Donisete Benzi (Editor) 
Coleção de livros didáticos do referencial curricular 
nacional para as escolas indígenas: informações para o 
professor / Luís Donisete Benzi Grupioni (Editor) - Ministério 
da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Funda-
mental, Departamento de Política da Educação Fundamental, 
Coordenação de Apoio às Escolas Indígenas. 
Brasília: MEC/SEF/DPEF/CGAEI, 1998 
42p.:il. 
1. Educação escolar indígena. 2. Livro didático. 
CDU 371.671.1 
índice 
Apresentação 
7 
Geografia indígena 
9 
O Livro das Árvores 
13 
Xanetawa Parageta - Histórias das Nossas Aldeias 
16 
Yama Ki Hwërimamouwi thë ã oni - Palavras escritas para nos curar 
19 
Pangyjej Kue Sep - A nossa língua escrita no papel 
23 
Adornos e Pintura Corporal Karajá 
26 
Atlas Geográfico Indígena do Acre 
29 
Aprendendo Português nas Escolas da Floresta 
30 
Txopai e Itôhã 
35 
O tempo passa e a história fica 
37 
"Madikauku - os dedos das mãos": Matemática e Povos Indígenas no Brasil 
40 
Apresentação 
O programa de apoio à produção de material didático para as esco-
las indígenas da Secretaria de Educação Fundamental foi desenvolvido tendo 
em vista a escassez de material em língua indígena que contemplasse as reais 
necessidades dos diversos povos indígenas brasileiros, e que levassem em conta 
os aspectos culturais, lingüísticos e demais saberes. 
Como parte da política implementada pelo Ministério da Educação e do 
Desporto para a educação escolar indígena está o apoio técnico e financeiro 
aos cursos de formação de professores indígenas e à produção e publicação de 
material didático-pedagógico a ser utilizado nas escolas indígenas. Dos livros pu-
blicados pela SEF para as escolas indígenas foram selecionados os que atendes-
sem a cada área do conhecimento trabalhada no Referencial Curricular Nacio-
nal para as Escolas Indígenas. 
A produção de textos para as escolas indígenas concretiza-se com a 
publicação de livros de qualidade, que resultam direta ou indiretamente dos 
cursos de formação de professores indígenas. Em tais cursos, desenvolvem-se 
idéias de construção de material didático, onde os professores expressam e re-
gistram as diferentes formas de linguagem, partindo de seus conhecimentos étni-
cos, com a orientação de profissionais experientes nessas atividades. 
Apresentamos, assim, esta coleção de livros elaborados por professo-
res de diferentes etnias, pretendendo oferecer referências, exemplificando como 
é possível a construção de material didático de qualidade adequado a cada 
comunidade indígena, e ao mesmo tempo, iniciar um intercâmbio entre os dife-
rentes povos e escolas indígenas do país. 
Secretaria de Educação Fundamental 
Geografia indígena 
GEOGRAFIA INDÍGENA 
Parque Indígena do Xingu 
Projeto de Formação de Professores 
Indígenas do Parque Indígena do Xingu 
ISA/MEC/PNUD 
São Paulo, 1996, 63 págs. 
O livro - O livro "Geografia Indígena -
Parque Indígena do Xingu" foi escrito e de-
senhado pelos professores índios do Parque 
Indígena do Xingu e das Terras Indígenas 
Kapôt/Jarina e Mekangotire, envolvidos no 
"Curso de Formação de Professores Indí-
genas do Parque Indígena do Xingu para 
o Magistério (2° Grau)". Ele é o resultado 
de um conjunto de atividades didáticas de 
geografia, coordenadas pelo geógrafo Re-
nato Antonio Gavazzi, durante o III Curso de 
Formação de Professores índios, realizado no 
final do inverno de 1995 nos Postos Indíge-
nas Pavuru e Diauarum. Na época, o curso 
estava sob coordenação da Associação 
Vida e Ambiente, mas a publicação foi en-
caminhada para edição pelo MEC, quan-
do o Instituto Socioambiental assumiu o ge-
renciamento do programa de formação 
dos professores indígenas, em 1996. 
Dividido em quatro capítulos (O que é 
geografia?, O mundo no universo, Geogra-
fia da Área Indígena e O que é cidade?), 
o livro contém textos, desenhos, pergun-
tas e exercícios preparados pelos profes-
sores índios para uso nas escolas indígenas 
do PIX. Escrito em português, o livro regis-
tra a reflexão dos professores indígenas 
sobre os seus conhecimentos étnicos e so-
bre os novos conhecimentos adquiridos 
durante o curso e sintetiza, em textos e 
desenhos, um novo saber geográfico. 
O projeto - O Programa de Formação de 
Professores Indígenas do Parque Indígena 
do Xingu para o Magistério tem como ob-
jetivo formar 53 professores indígenas dos 
povos Kuikuro, Kalapalo, Matipu, Nahukuá, 
Mehinako, Waurá, Aweti, Kamaiurá, Trumai, 
Suiá, Kaiabi, Yudjá, Tapaiuna e Panará, que 
lecionam atualmente para cerca de 850 
alunos, entre crianças e adolescentes, em 
30 escolas em funcionamento. 
O Programa de Formação teve início 
em 1994 com a Associação Vida e Ambi-
ente, com apoio da Rainforest Foundation 
da Noruega. Em 1996 passou a ser geren-
ciado pelo Instituto Socioambiental. Até 
novembro de 1998, nove cursos foram re-
alizados, sendo que sete contaram com a 
parceria financeira do Ministério da Educa-
ção e do Desporto. O programa se realiza 
através de dois cursos anuais ministrados 
por especialistas -lingüistas, antropólogos, 
matemáticos e educadores- e de acom-
panhamento pedagógico às escolas indí-
genas nos períodos intermediários entre os 
cursos. O Programa tem impulsionado o 
estudo das línguas indígenas faladas no 
Parque do Xingu e a produção de ortogra-
fias, que permitam o ensino da língua indí-
gena nas escolas e a produção de materi-
al didático-pedagógico diferenciado. Até 
este momento, quatro livros foram edita-
dos com apoio do MEC (Geografia Indíge-
na, em 1996, Tisakisü, em 199, Kamajura 
Jemo'etap, em 1988 e Livro de História, em 
1998), e outros 5 estão em fase de publica-
ção. 
O Programa, reconhecido em 1998 
pelo Conselho Estadual de Educação do 
Mato Grosso, tem uma duração prevista de 
6 anos e pretende capacitar os professo-
res indígenas como educadores e pesqui-
sadores de suas culturas, de forma que eles 
se tornem os agentes do processo de ensi-
no e aprendizado de suas escolas e sejam 
capazes de formular e conduzir currículos 
próprios, adaptados à sua realidade. Para 
isso, o Programa tem investido no estudo, 
por parte dos professores indígenas, de suas 
línguas nativas e no desenvolvimento da 
escrita nessas línguas,de forma a garantir 
o uso da língua indígena ao longo de todo 
o processo educacional, como disciplina 
em si e como instrumento de ensino em 
todas as outras disciplinas do currículo es-
colar. Temas como preservação dos recur-
sos naturais, melhoria de saúde e qualida-
de de vida, invasão de madeireiros, garim-
peiros, pescadores e caçadores, alternati-
vas econômicas e relacionamento com a 
sociedade envolvente, em especial a dos 
municípios vizinhos, têm sido tratados nos 
cursos visando uma integração da escola 
no cotidiano dos grupos indígenas do Par-
que do Xingu. O Programa de Formação 
dos Professores está articulado com dois 
outros programas existentes dentro do Par-
que do Xingu: o de formação de agentes 
indígenas de saúde, promovido pela Uni-
d a d e de Saúde e Meio Ambien te da 
UNIFESP, e o de alternativas econômicas e 
fronteiras, promovido pelo ISA. 
Os autores e usuários do livro - O Par-
que Indígena do Xingu abriga, em seus 
2.642.003 hectares no estado de Mato 
Grosso, uma surpreendente variedade de 
grupos indígenas, diferenciados dos pon-
tos de vista étnico, lingüístico e Sócio-Cultu-
ral. São quinze povos, com uma popula-
ção estimada em 3.496 pessoas (EPM/97), 
distribuídos em 32 aldeias. 
Procedendo do norte até o extremo 
sul do Parque, encontramos os Suyá e os 
Tapayuna, falantes de línguas do tronco Jê; 
os Kayabi e os Juruna, povos Tupi do alto 
curso do Xingu; os Ikpeng (Txikão), grupo 
Karibe, e os Trumai, falantes de uma língua 
isolada. Até recentemente, também vivi-
am no Parque, os Panará, que reconquis-
tando parte de seu território tradicional, 
mudaram-se para a TI Panará, localizada 
no Pará. 
Na porção meridional do Parque, na 
bacia dos rios formadores do Xingu, sobre-
vive até hoje um conjunto de povos que 
ao longo de séculos constituiu uma socie-
dade intertribal com uma organização so-
cial e traços culturais compartilhados. Esta 
região, conhecida como Alto Xingu, é tam-
bém uma unidade geográfica e ecológi-
ca, protegida pelo leque dos rios Kuluene, 
Kuliseu, Batovi, Ronuro e Von den Steinen 
e pelas serras Formosa, a oeste, e do Ron-
cador, ao les-
te, pelo Cha-
padão mato-
grossense, ao 
sul, e pelas 
cor rede i ras 
do Xingu, ao 
norte. Foi para 
essa região 
que confluí-
ram em suces-
sivas migrações e deslocamentos grupos 
Tupi como os Kamayurá e os Aweti; gru-
pos Aruak, co-mo os Yawalapiti, os Mehi-
nako e os Waurá e grupos Karibe como os 
Nahukwá, os Matipu, os Kalapalo e os 
Kuikuro. No Alto Xingu foi se formando uma 
rede de intensas trocas matrimoniais, co-
merciais e cerimoniais. Rituais como o 
Kwarup, o Yamurikumalu, o Javari continu-
am agrupando as aldeias em grandes fes-
tas coletivas que recriam periodicamente 
os laços de alianças entre unidades soci-
ais que prezam sua autonomia numa con-
vivência sempre realimentada. Esse pro-
cesso ainda hoje conduz as mudanças da 
sociedade alto xinguana e suas estratégi-
as políticas de convivência interna e exter-
na, face a outros povos indígenas e face 
aos brancos. 
Os conhecimentos disponíveis sobre 
a história do Alto Xingu, até o final do sécu-
lo XIX, fundamentam-se em pesquisas ar-
queológicas e em relatos da memória oral 
indígena. A história escrita pelos brancos 
começa com as viagens do etnógrafo ale-
mão Karl Von den Steinen no final de 1800. 
Foi ele quem apontou para o mundo a ri-
queza cultural da região. Nos anos 40, a 
Expedição Roncador-Xingu, liderada pelos 
irmãos Villas Boas marcou o contato defi-
nitivo com o universo dos brancos e com a 
presença do Estado. O território a l to 
xinguano foi fechado e demarcado pelo 
processo de criação do Parque, processo 
que se desenrolou do início dos anos 50 até 
1978. Para os índios, cuja população já ti-
nha sofrido sucessivas baixas demográficas, 
em decorrência das violentas incursões dos 
bandeirantes nos séculos XVIII e XIX e das 
epidemias que acompanharam todas as 
fases do contato, a criação do Parque sig-
nificou proteção, dependência e um terri-
tório com fronteiras definitivas. Deste foram, 
todavia, excluídas áreas com valor históri-
co e cosmológico, e hoje grandes fazen-
das formam um anel de desmatamentos 
e queimadas. Os riscos de contaminação 
das nascentes do Xingu, que estão todas 
fora dos limites do Parque, invasões de 
madeireiros, garimpeiros, pescadores e 
caçadores, novas necessidades de consu-
mo impostas pelo contato e o confinamen-
to nos limites do Parque são os desafios atu-
ais para os povos xinguanos. 
O Livro das Arvores 
O livro - "O Livro das Árvores", editado pela 
Organização Geral dos Professores Ticuna 
Bilíngües, contou com a part icipação de 
cerca de 200 professores indígenas, envol-
vidos no Curso de Formação de Professo-
res Ticuna - habi l i tação para o magisté-
rio. Organ izado pe la art ista p lás t ica 
Jussara Gomes Gruber, o livro reúne de-
senhos e textos coletivos preparados pe-
los professores durante as etapas do cur-
so de formação. O livro faz parte de um 
projeto intitulado "A natureza segundo os 
Ticuna", que teve início em 1987, e que 
tem como objetivo a realização de regis-
tros, levantamentos e pesquisas, além de 
desenhos, sobre a fauna e a flora regionais, 
que possam compor materiais didático-
pedagógicos para as escolas ticuna. 
"O livro das Árvores" apresenta a inten-
sa e rica relação dos Ticuna com as árvo-
res que formam a floresta, com enfoque 
especial para o valor e o significado das 
várias espécies importantes para a sobre-
vivência física e cultural do grupo. Mais que 
um livro de botânica, trata-se, na verda-
de, de uma memória das árvores, onde os 
professores Ticuna registraram, nos textos e 
nas imagens, conhecimentos práticos e va-
lores simbólicos. O livro foi premiado pela 
Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-
venil, em 1997, como melhor livro informa-
tivo e melhor projeto editorial. 
Jussara Gomes Gruber (Org.) 
Projeto Educação Ticuna 
Organização Gerai dos 
Professores Ticuna Bilíngües 
Benjamin Constant 1997, 96 págs. 
O projeto - A Organização Geral dos Pro-
fessores Ticuna Bilíngües (OGPTB) foi cria-
da em dezembro de 1986. Ela é a res-
ponsável pelo curso de fo rmação dos 
professores Ticuna, que funciona no Cen-
tro de Formação de Professores Ticuna -
Torü Nguepataü ("nossa casa de estu-
dos"), localizado na aldeia de Filadélfia, 
município de Benjamin Constant (AM). O 
Centro foi planejado pelos professores e 
construído em 1993, dispondo de salas 
de aula, bibl ioteca e alojamentos para 
os cursistas. Durante o período letivo, o 
Centro abriga duas salas de aula de alu-
nos da 5° e 7° séries, e nos períodos de 
férias, de janeiro/fevereiro e julho, acon-
tecem os cursos de formação dos pro-
fessores Ticuna. 
O Curso de Formação de Professores 
Ticuna - Habilitação para o Magistério teve 
início em 1993 e, a partir desta, data fo-
ram realizadas 10 etapas. Em 1996,212 pro-
fessores ticuna concluíram o 1° grau com 
qualificação para o magistério. Este curso 
foi reconhecido pelo Conselho Estadual de 
Educação do Amazonas em 1997, fican-
do a OGPTB autorizada a emitir os certifi-
cados de conclusão. 
O Curso de Formação, que integra o 
Projeto Educação Ticuna, envolve uma 
série de atividades desenvolvidas com a 
participação dos alunos/professores índios, 
tais como a organização de materiais di-
dático-pedagógicos e a preparação de 
um currículo diferenciado para as escolas 
ticuna, além de sub-projetos voltados para 
as áreas de saúde, meio ambiente e cultu-
ra. O Curso é ministrado por professores 
com experiência em educação indígena, 
procedentes de universidades e outras ins-
tituições de ensino do país. 
Na produção de materiais didáticos, 
os professores recebem orientação sobre 
metodologia de pesquisa e part ic ipam 
de oficinas para produção de textos e 
desenhos. Além de"O livro das Árvores", 
foram preparados outros materiais para 
uso nas escolas: "Manua l da Escrita -
Ngiã Tanaütch icünaagü" , "Livro do Pro-
fessor" para ap l icação do Manual da Es-
crita, "A Matemática do Meu Dia", e "Ma-
nual de Saúde - Doenças Sexualmente 
Transmissíveis e Aids". Estão em prepara-
ção outros 10 livros, o Livro dos Peixes e o 
Dicionário Ticuna/Ticuna e Ticuna/Portu-
guês. 
O Projeto Educação Ticuna abrange 
professores e escolas dos municípios de 
Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo 
de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do 
Içá. Nesses municípios existem 92 escolas 
e cerca de 7.000 alunos ticuna. O Projeto 
tem apoio do Fundo Internacional do De-
senvolvimento Agrícola - FIDA, Ministério da 
Educação e do Desporto, Fundação Naci-
onal do índio, além da colaboração de 
algumas prefeituras municipais do Amazo-
nas. 
Os autores e usuários do livro - Os 
Ticuna vivem no Brasil, na Colômbia e no 
Peru. No Brasil, estão localizados no esta-
do do Amazonas, ao longo do rio Solimões, 
nos seus afluentes e ilhas. Atualmente cons-
tituem o mais numeroso grupo indígena do 
país, com aproximadamente 28.000 pes-
soas, e suas aldeias, cerca de 100, locali-
zam-se em terras dos municípios de Benja-
min Constant, Tabatinga, São Paulo de 
Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, 
Fonte Boa, Anamã e Beruri. 
Os Ticuna falam uma língua conside-
rada isolada, que não mantém semelhan-
ça com nenhuma outra língua indígena. 
Sua característica principal é o uso de di-
ferentes alturas na voz, peculiaridade que 
a classifica como uma língua tonai. Os 
Ticuna estão organizados em clãs, ou "na-
ções", agrupados em metades, que regu-
lam os casamentos. Membros de uma 
metade devem casar-se com pessoas da 
metade oposta, e seus filhos herdam o clã 
do pai. Numa das metades agrupam-se os 
clãs com nomes de aves: mutum, maguari, 
arara, japó, etc. Na outra metade estão os 
clãs que possuem nomes de plantas e de 
animais, como o buriti, jenipapo, avaí, 
onça, saúva. 
As primeiras notícias sobre a presença 
dos Ticuna na região do alto rio Solimões 
datam da metade do século XVII. Os con-
tatos com os brancos, todavia, acentua-
ram-se a partir das últimas décadas do sé-
zando, direta e indiretamente, a força de 
trabalho indígena. Após o declínio da ex-
ploração da seringa, os Ticuna retornaram 
às suas atividades agrícolas tradicionais, in-
tegrando-se, gradativamente, à economia 
regional. Hoje em dia, constituem os princi-
pais fornecedores de farinha de mandio-
ca e de frutas para os mercados das cida-
des da região. 
Apesar do longo contato com os 
brancos e das formas de dominação, ex-
ploração e aculturação impostas pelas 
frentes de expansão e pelas diferentes mis-
sões religiosas em atuação entre eles, os 
Ticuna mantêm viva sua língua e sua orga-
nização social. Desde 1980, os Ticuna vêm 
lutando pelo reconhecimento oficial de 
suas terras. Já foram homologadas 14 áre-
as, num total de 1.272.742 ha no Amazo-
nas. 
culo passado, 
quando suas 
terras foram 
maciçamente 
ocupadas por 
seringalistas e 
comerciantes 
que aí se esta-
b e l e c e r a m 
para extrair a 
borracha, utili-
Xanetawa Parageta 
Histórias das 
Nossas Aldeias 
Comunidade Tapirapé 
MARI/MEC/PNUD 
São Paulo/Brasília, 1996, 112 págs. 
O livro - O livro "Xanetawa Parageta-His-
tórias das nossas aldeias" reúne histórias 
pesquisadas sobre o território tradicional 
dos Tapirapé pelos alunos da Escola Esta-
dual de Primeiro Grau Tapirapé, em 1992. 
O projeto foi coordenado pelo antropólo-
go André Amaral de Toral e pelos indige-
nistas Eunice Dias de Paula e Luiz Gouvêa 
de Paula. 
Os Tapirapé encontram-se envolvidos 
num processo de recuperação territorial e, 
preocupados com o pouco conhecimen-
to das novas gerações a respeito de seu 
território tradicional, as lideranças deste 
grupo indígena, utilizaram-se da escola 
como veículo para recuperação desse co-
nhecimento. Excursões, organizadas a 
partir da escola e orientadas por mem-
bros mais velhos da comunidade, tenta-
ram minorar o pouco conhecimento dos 
mais jovens a respeito das terras do gru-
po. Convertidos em autores e pesquisado-
res, os alunos reuniram parte do acervo da 
memória tribal sobre a terra em que vive-
ram nos últimos dois séculos e com elas 
compuseram este livro. 
O projeto - Em 1973, o casal de indigenis-
tas Luís e Eunice Gouvêia de Paula, apoia-
do pela Prelazia de São Félix, instalou-se na 
aldeia Tapirapé, atendendo o pedido do 
grupo indígena por ensino feito ao bispo D. 
Pedro Casaldaliga. O trabalho iniciou-se 
com estudos sobre a língua e a grafia e 
prosseguiu até a elaboração de um currí-
culo diferenciado e próprio para a escola 
Tapirapé. Foi o primeiro currículo diferencia-
do de uma escola indígena reconhecido. 
Hoje a "Escola Estadual de Primeiro Grau 
Tapirapé" conta com professores indígenas 
formados na escola. Todos os Tapirapé em 
idade escolar aprendem a ler e escrever 
em sua própria língua e em português. 
A elaboração do livro visou a valoriza-
ção do conhecimento da história do terri-
tório tradicional Tapirapé, estimulando con-
sultas aos membros mais velhos do grupo 
e às atividades de pesquisa realizadas no 
espaço da escola. Ao mesmo tempo, o li-
vro serve de subsídio para a reflexão da 
comunidade sobre a situação atual de seu 
território, d i vu lgando suas demandas 
territoriais aos membros mais jovens e junto 
a órgãos do governo. 
O trabalho de feitura do livro iniciou-se 
com a pesquisa dos alunos com seus pa-
rentes mais velhos. Muitos deles, nesse pro-
cesso, recuperaram parte da memória de 
sua família sobre parcialidades de seu ter-
ritório tradicional. Juntando todas essas vi-
sões parciais reuniu-se um bom material 
sobre a totalidade do território. Depois que 
fizeram a pesquisa com os mais velhos, os 
textos foram trabalhados em grupos pelos 
alunos, que se encarregaram de juntar e 
sistematizar as versões individuais em uma 
só e ilustrar as histórias. O resultado desse 
primeiro trabalho foi digitado e apresenta-
do aos alunos para alterações em novem-
bro de 1995 e setembro de 1996. 
Uma vez editado, com o apoio do Mi-
nistério da Educação e do Desporto e do 
Mari - Grupo de Educação Indígena da 
USP, o livro foi distribuído aos Tapirapé. Ele é 
um estímulo para novas pesquisas e con-
versas, além de ser material de leitura na 
língua do grupo atualmente utilizado na 
escola. Para o público mais amplo, o livro 
é um testemunho da antigüidade da pre-
sença dos Tapirapé no Serra do Urubu Bran-
co e o registro poético da memória desse 
povo sobre o local onde viveram. Anima-
dos com o livro e sua repercussão junto a 
comunidade, os professores Tapirapé já es-
tão em fase de finalização de um novo li-
vro. O novo livro dedica-se a registrar os 
cantos religiosos do grupo e traz, também, 
uma descrição de suas festas e rituais mais 
importantes. Está sendo organizado e será 
editado pelos próprios Tapirapé. Xanefawa 
Parageta abriu o caminho: outras obras 
vêm vindo na mesma trilha. 
Os autores e usuários do livro - Os Ta-
pirapé são um povo de língua da família 
Tupi-Guarani que habitam terras no Estado 
do Mato Grosso, próximo à foz do rio Tapi-
rapé com o Araguaia. Por volta de 1900, 
acredita-se que os Tapirapé somavam cer-
ca de 1.500 pessoas. Eles passaram a ter 
contato regular com a sociedade brasilei-
ra a partir de 1950, quando se estabelece-
desapareceram. Quando em 1952, a Mis-
são das Irmãzinhas de Jesus, a pedido do 
bispo dominicano de Conceição do Ara-
guaia, instalou-se entre eles, para prestar 
assistência na área de saúde, a população 
estava reduzida a cerca de 50 pessoas. 
Na década de 60, toda a região do 
Mato Grosso começou a ser ocupada por 
grandes companhias agropecuárias e fa-
zendas que avançaram sobre os territórios 
indígenas.A 30 km da aldeia cresceu o po-
voado de Santa Terezinha, depois transfor-
mado em município. Posseiros foram em-
purrados pelas novas fazendas para den-
tro do território indígena, na época ainda 
não demarcado. Só em 1983, a Terra Indí-
gena Tapirapé-Karajá foi demarcada, com 
a extensão de 66.166 ha, nos municípios de 
Luciara, Comodoro e Santa Terezinha. 
Hoje, o grupo experimenta um vigoro-
so processo de recuperação populacional: 
somam 363 pessoas e estão envolvidos 
num processo de recuperação de suas ter-
c a ç a e coleta. Decididos a recuperar a 
área e cansados de esperar uma ação por 
parte da Funai, os Tapirapé procuraram for-
talecer sua presença no local que culmi-
nou com a re-instalação de uma aldeia, 
chamada Tapi'itawa, que havia sido aban-
donada devido a um ataque dos Kayapó 
em 1947. Ali edificaram uma aldeia no es-
tilo tradicional: um círculo de casa tendo 
ao centro a takara, a casa dos homens. 
Esse local, que constitui o "coração" do ter-
ritório tradicional Tapirapé, é denso de sig-
nificado afetivo, religioso e histórico. Seus 
habitantes vêm sofrendo hostilidade decla-
rada de fazendeiros da região e da popu-
lação regional contrária ao reconhecimen-
to deste território, que recentemente foi 
declarado como de posse permanente 
dos Tapirapé. A demarcação física do 
território Tapirapé já foi concluída. Falta ain-
da a retirada dos ocupantes. Os Tapirapé 
estão confiantes que conseguirão, em bre-
ve, recuperar seu território tradicional. 
ras tradicionais. Em 1993, os 
Tapirapé reocuparam uma 
parcela de seu território, in-
vadido por fazendas, no mu-
nicípio de Confresa e Santa 
Teresinha, no extremo norte 
do Mato Grosso. Esse territó-
rio, conhecido como Terra In-
dígena Urubu Branco, vinha 
sendo util izado nos últimos 
anos pelos Tapi rapé pa ra 
ram junto a um posto indíge-
na do antigo Serviço de Pro-
teção aos índios (SPI), na foz 
do rio que leva o nome da tri-
bo, no noroeste do estado de 
Mato Grosso. Na época , em 
função do conta to , do apa-
recimento de epidemias e 
em conseqüênc ia de a ta-
ques de grupos indígenas 
vizinhos, os Tapirapé quase 
Esco/a dos Watoriki theripe 
Programa de Educação de CCPY 
CCPY/MEC/PNUD 
São Paulo, 1997, 92 págs. 
O livro - O livro 'Yama ki hwerimamouwi 
the ã oni - Palavras escritas para nos cu-
rar" reúne cinco cartilhas bilíngües Yano-
mami-Português, produzidas na Escola dos 
Watoriki theri pe ("habitantes da serra do 
vento forte"), no período de 25 de maio a 
17 de junho de 1996, no âmbito dos proje-
tos de educação e de saúde desenvolvi-
dos pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY), 
com o apoio do Ministério da Educação e 
do Desporto. As cinco cartilhas versam so-
bre as epidemias dos brancos, o mal da 
malária, o mal da gripe, o mal da tosse e 
as dores de dentes. 
A e laboração das cartilhas contou 
com a participação de quatro jovens alfa-
betizados, Joseca, Cláudia, Geraldo e 
Tenosi, todos fluentes na escrita do Yano-
mami; dos líderes da comunidade Lourival 
Yanomami e Davi Kopenawa; e de quatro 
assessores não-índios: Deise Francisco (mé-
dica), Ana Isabel Dias (dentista), Maria 
Edna de Brito (educadora) e Bruce Albert 
(antropólogo). Além de propiciar conhe-
cimentos básicos sobre questões de saú-
de relevantes para aquela comunidade, 
a produção das cartilhas teve como obje-
tivo incentivar os alunos a produzirem tex-
tos na sua própria língua, gerando materi-
al de leitura para o processo de alfabeti-
zação em curso na escola daquela comu-
nidade. 
Yama ki hwérimamouwi 
the ã oni -
Palavras escritas 
para nos curar 
O projeto - A Comissão Pró-Yanomami 
tem como objetivo a defesa dos direitos, 
da cultura e das terras dos Yanomami da 
Amazônia Brasileira. Em 1978, quando foi 
criada, a CCPY desenvolveu uma grande 
campanha pela demarcação do território 
dos Yanomami. Paralelamente colocou 
ênfase na defesa da vida deste povo indí-
gena através de um programa de saúde 
desenvolvido na área. Para dar aos Yano-
mami condições de enfrentar o contato, a 
CCPY iniciou em 1995 a implantação de 
um projeto de educação integrado, que 
além da alfabetização, visa a formação de 
monitores de saúde e professores entre os 
próprios índios. 
O projeto de educação tem como 
objetivo principal a oferta de subsídios e 
mecanismos para a implantação de uma 
política educacional que valorize a cultu-
ra yanomami e ao mesmo tempo prepare 
esse povo para uma convivência digna 
com a sociedade brasileira mais ampla. O 
projeto visa, num primeiro momento, intro-
duzir o processo de alfabetização para que 
os Yanomami possam ler e escrever em sua 
língua materna, concomitantemente com 
o aprendizado oral do português. Num se-
gundo momento, visa passar da escrita em 
Yanomami para a escrita em português. 
O projeto, que conta com apoio do 
Ministério da Educação e do Desporto, 
UNICEF e Earth Love Fund, iniciou-se na al-
deia dos Watoriki theri pe, sub-grupo Yano-
mami, que conta com uma população de 
101 pessoas, das quais quase a metade 
tem menos de 10 anos de idade. Este pro-
jeto foi estendido em 1998 para as aldeias 
da região vizinha do rio Toototobi e alto 
Demini (Balawaú). 
Os autores e usuários do livro - Os Ya-
nomami são um povo da floresta amazô-
nica, cuja população é estimada em 22 
mil pessoas, habitando um território no oes-
te do Maciço das Guianas, região de fron-
teira entre o Brasil e a Venezuela. No Brasil, 
este território compreende parte dos Esta-
dos de Roraima e Amazonas. Aqui eles so-
mam cerca de 10.500 pessoas, distribuídos 
em aproximadamente 220 comunidades, 
numa área contínua de 9.419.108 ha. 
O termo Yanomami é usado de ma-
neira genérica para designar o conjunto 
cultural e territorial constituído pelo grupo 
indígena como um todo. No plano lingüís-
tico designa uma família de quatro línguas 
subdivididas em vários dialetos. 
Os Yanomami praticam a caça, pes-
ca, coleta e, em menor grau, agricultura. 
Habitualmente uma casa Yanomami abri-
ga de 30 a 150 moradores, podendo che-
gar a 300. Os grupos locais podem ser cons-
tituídos por uma ou várias casas comunitá-
rias, que mantém entre si intenso contato, 
consolidado por relações econômicas, 
matrimoniais, rituais ou de aliança política. 
Da movimentação entre as aldeias ou con-
junto de aldeias depende a dinâmica e o 
equilíbrio da vida econômica e social das 
comunidades Yanomami. Essa movimen-
tação envolve, freqüentemente, contatos 
intensos e prolongados entre aldeias que 
distam de um a cinco dias ou mais de via-
gem a pé pela floresta, ou mais raramente 
de canoa. 
As cerimônias em homenagem aos 
mortos (reahu) atraem grande número de 
hóspedes de aldeias próximas e distantes. 
Podem durar uma semana ou mais, pre-
cedidas por caçadas coletivas, feitas pe-
los anfitriões e pelos visitantes, muitas dan-
ças, pajelanças, prantos, brincadeiras, jo-
gos e desafios. São ocasiões para troca de 
notícias e de objetos, para casamentos, re-
feições abundantes, definição de alianças 
políticas e resolução das divergências. 
A tradição oral indígena e o relato de 
expedições científicas enviadas a essa re-
gião comprovam a presença yanomami 
nesta área pelo menos desde o fim do sé-
culo XVIII. A partir da década de 50 insta-
bre a existência de ouro, cassiterita e ou-
tros minérios na região, dando início a uma 
verdadeira corrida a essas riquezas. A par-
tir de 1987 a invasão dos garimpeiros che-
gou a 40 mil, levando malária, pneumonia, 
fome e morte a 20% dos Yanomami. 
Em 1978 foi criada a Comissão pela Cri-
ação do Parque Yanomami (CCPY), com 
sede em São Paulo, que inicia uma cam-
panha nacional e internacional pela de-
marcação das terras Yanomami contra 
uma primeira tentativa de desmembra-
mento do território Yanomami pelo gover-
no militar da época. 
No final da década de 1980, o gover-no federal começa a implantar o proje-
to Calha Norte, para a proteção de uma 
extensa faixa ao longo da fronteira ama-
zônica brasileira. O território Yanomami é 
f ragmentado e demarcado em 19 pe-
quenas ilhas não contíguas, inseridas 
numa reserva florestal destinada à explo-
ração econômica. Enquanto isso, fome e 
morte alastram-se nas aldei-
as Yanomami. 
Em 1991, o governo fede-
ral realizou uma operação de 
retirada dos garimpeiros e a 
terra Yanomami foi reconhe-
cida e demarcada fisicamen-
te como um território contí-
nuo. Em maio de 92, o presi-
dente da República homolo-
gou a demarcação do terri-
lam-se em terras Yanomami 
várias missões religiosas, en-
tre elas a Missão Salesiana, a 
Missão Consolata, a Missão 
Evangé l i ca da Amazôn ia 
(Meva) e a Missão Novas Tri-
bos do Brasil. Na década de 
70 a rodovia Perimetral Norte 
corta o território Yanomami, e 
são também divulgados os re-
sultados do Projeto Radam so-
tório e, neste mesmo ano, recomeçou a 
invasão dos garimpeiros e eles ainda con-
tinuam na área, ilegalmente, ainda que em 
número menor que na corrida ao ouro 
(1987-1989). 
Em 1998, o mega-incêndio que atingiu 
o centro-oeste e o norte do país também 
consumiu parte da floresta dos Yanomami. 
Hoje, projetos de colonização contíguos à 
área indígena estão avançando sobre o 
território demarcado, abrindo caminho 
para a invasão de colonos. 
Pangyjej Kue Sep 
A nossa língua escrita 
no papel 
Escola Zoró da Barreira / Depto. para 
Assuntos Indígenas do Conselho 
de Missão entre índios 
(COMIN/IECLB) I NEIRO 
Parque Indígena Aripuanã, 
1994, 97págs.v 
O livro - O livro "Pangyjej Kue Sep-Anos-
sa língua escrita no papel" contém textos 
elaborados por Xinepusat Waratã Zoró, 
com a colaboração de Xinepukujkap Zoró 
e de outros alunos da Escola Zawãkej Alakit 
(Escola Zoró da Barreira). Ilustrado por 
Mbedurap Zoró, o livro foi organizado por 
Ismael Tressmann, indigenista que viveu 
cerca de um ano e meio entre este grupo 
indígena. 
O livro, todo escrito em língua Zoró, 
destina-se à alfabetização de adultos e à 
formação de professores indígenas. Temas 
como o artesanato, a construção das 
malocas, a floresta, os animais, a roça, a 
alimentação, as festas, as músicas, a guer-
ra, a pajelança, o casamento e a história 
do contato deste povo Tupi-Mondé com 
os não-índios são tratados no livro. Foi o pri-
meiro livro didático editado pelo MEC den-
tro da linha de apo io à p rodução de 
matérias didát ico-pedagógicos para as 
escolas indígenas. 
O projeto - O Projeto de Educação Esco-
lar entre os Zoró, realizado em parceria 
com o Núcleo de Educação Indígena de 
Rondônia, está inserido dentro de uma uni-
dade maior, o PROARI (Projeto de Assesso-
ria ao Parque Indígena Aripuanã). Os tra-
balhos de assessoria estão voltados para 
as áreas de educação, saúde e apoio jurí-
dico, e incluem além dos Zoró, os vizinhos, 
Cinta-Larga. 
O objetivo principal do Projeto de Edu-
cação é a formação de professores indí-
genas, dentro da proposta de uma edu-
cação intercultural, comunitária, bilíngüe, 
específica e diferenciada. A proposta do 
projeto é fazer com que a educação es-
colar seja somada aos processos educati-
vos próprios da sociedade Zoró e criar con-
dições para que a própria comunidade 
indígena possa gerir a sua escola. 
Entre 1993 e 1994, o trabalho em edu-
cação escolar seguiu as seguintes etapas: 
coleta de dados e pequenas descrições e 
análises da língua; proposta de uma es-
crita, em co laboração com os educan-
dos; alfabetização de algumas pessoas 
do grupo; e realização de dois encontros/ 
cursos para a e laboração de textos na 
língua. O resultado desse trabalho foi o 
livro "Pangyjej Kue Sep - A nossa língua 
escrita no papel" e a publ icação de um 
Caderno de Preparação para a Escrita. 
A proposta do livro partiu dos próprios índi-
os que desejavam um material acessível 
que abordasse seus etno-conhecimentos e 
sua cosmologia e que lhes permitisse exer-
citar a leitura. 
A imp lan tação da Escola Zawãkej 
Alakit foi igualmente uma iniciativa dos pró-
prios Zoró. Com o aumento do número de 
alunos, o barracão improvisado foi substi-
tuído por um espaço físico mais amplo, 
construído com recursos da própria comu-
nidade. 
Os autores e usuários do livro - Os Zoró 
se autodenominam Pangyjej, que significa 
"nós comemos carne moqueada". Povo 
de língua da família Mondé, pertencem ao 
complexo Tupi-Mondé, do qual também 
fazem parte os povos Cinta Larga, Gavião, 
Mondé, Surui, Aruá, todos de Rondônia, e 
os Arara do Beiradão (MT). 
Vivem na Terra Indígena Zoró, no mu-
nicípio de Aripuanã, Rondônia, entre os rios 
Branco e Roosevelt/14 de Abril, tributários 
da margem direita do rio Madeira. A área 
localiza-se no Parque Indígena Aripuanã, 
que abriga ainda os Cinta Larga e os Surui. 
Algumas famílias Zoró vivem na Área Indí-
gena Igarapé Lourdes junto ao povo Ga-
vião e outras entre os vizinhos Cinta Larga, 
na Área Indígena Roosevelt. 
Os Zoró distribuem-se em vários grupos 
locais semi-nômades, autônomos em ter-
mos políticos e econômicos, que falam 
uma mesma língua e comparti lham um 
mesma cosmovisão. Hoje somam cerca de 
300 pessoas. 
A penetração e avanço da socieda-
de nacional naquela região a partir dos 
anos 60, e mais intensivamente na déca-
da de 70, ocasionou uma enorme depo-
pulação, perda de parcelas do território 
tradicional e outras conseqüências nega-
tivas que perduram até hoje. Os Zoró es-
tabeleceram seus primeiros 
contatos amistosos com pe-
ões das fazendas próximas 
em 1976. Na época, estima-
se que eles eram umas 800 
pessoas. Em outubro do ano 
seguinte um grupo Zoró, se-
guido pelos demais, aceitou 
o contato com uma frente de 
atração da Funai. O contato 
oficial ocasionou a perda da 
autonomia política e econômica, a seden-
tarização dos diferentes grupos locais numa 
única aldeia, além de impor o cultivo de 
grandes roçados para a produção de ex-
cedentes. 
Entre 1978 e 1981, os Zoró foram con-
vertidos por missionários da Novas Tribos, por 
meio da pregação de pastores Gaviões 
(de Rondônia) e passaram a professar uma 
forma de evangelismo fundamentalista. Al-
guns tornaram-se pastores dessa nova igre-
ja e passaram a considerar manifestações 
diabólicas os antigos ritos, danças, festas, 
mitos e pajelança. Por volta do início dos 
anos 90, os Zoró se "desconverteram". Vol-
taram, então, a fazer guerra, tomar chicha 
fermentada, fazer festa, dançar e procu-
rar novamente o velho pajé Paiô, para que 
se encontrassem com os seres invisíveis e 
realizassem os rituais de cura. 
Em outubro de 1991, a Área Indígena 
Zoró foi homologada com 352.000 ha. Em 
setembro de 1992, posseiros invasores fo-
ram retirados da área. Sem as-
sistência, nem para cuidar dos 
doentes, os Zoró, influenciados 
por seus vizinhos Suruí e Cinta 
Larga, se dividiram e cederam 
às pressões das madeireiras, 
que abriram estradas dentro 
da área indígena e estão de-
vastando o território para a re-
tirada do mogno. 
Adornos e Pintura 
Corporal Karajá 
Coleção Textos Indígenas - Série Cultura 
Programa de Educação Indígena para o 
Estado do Tocantins - Convênio Governo 
do Estado do Tocantins/Funai/UFG 
Goiânia, 1994, 47 págs. 
O livro - O livro ''Adornos e Pintura Corpo-
ral Karajá" integra a coleção "Textos Indí-
genas - Série Cultura", editada pelo Pro-
grama de Educação Indígena para o Es-
tado do Tocantins, por meio do convênio 
estabelecido entre o governo do Estado do 
Tocantins, Funai e Universidade Federal de 
Goiás. Organizado pela lingüista Lídia 
Poleck, o livro reúne textos e ilustrações pre-
paradas por professores Karajá, durante a 
VI etapa do Curso de Capaci tação de Pro-
fessores Indígenas, realizado no município 
de Formoso do Araguaia, no Estado do To-
cantins, emsetembro de 1992. Os textos e 
os desenhos foram elaborados pelos pro-
fessores para dar suporte a uma exposição 
de artefatos sobre "festas", que o projeto 
de e d u c a ç ã o realizou em Goiânia, no 
Museu Antropológico da UFG, em come-
moração ao Dia Internacional dos Museus. 
O livro apresenta um inventário co-
mentado das pinturas realizadas pelos 
Karajá e Javaé tanto para uso diário quan-
to para os dias de festa, bem como sobre 
o uso de adornos corporais. 
O projeto - O Projeto de Educação Indí-
gena para o Estado do Tocantins, que con-
ta com apoio financeiro do MEC, envolve 
professores indígenas das etnias Karajá, 
Javaé, Xambioá, Xerente, Krahô e Apinayé. 
Teve início em 1991 por meio de um con-
vênio entre o Museu Antropológico da Uni-
versidade Federal de Goiás, a Secretaria 
de Educação do Estado do Tocantins e a 
Funai. 
O primeiro curso de capaci tação, re-
alizado entre 1991 e 1993, envolveu uma 
primeira turma de 38 professores de 37 co-
munidades diferentes, que participaram de 
sete etapas de cursos. O segundo curso de 
capac i tação iniciado em 1994 envolve 
uma segunda turma de 47 professores in-
dígenas que participaram de 6 etapas de 
cursos. Em maio de 1997 iniciou-se o ter-
ceiro curso de capaci tação, envolvendo 
uma terceira turma de 19 professores, que 
já participaram de duas etapas com um 
total de 168 horas de aulas. 
Além dos cursos de capac i tação, o 
projeto envolve acompanhamento dos 
professores nas aldeias, preparação de ex-
posições sobre os grupos indígenas do 
Tocantins para a sociedade envolvente e 
produção de material didático-pedagógi-
co elaborado pelos próprios índios. Em prin-
cípio estes materiais têm sido elaborados 
nos cursos, mas de acordo com a aborda-
gem pedagógica do projeto eles deverão 
ter uma produção contínua, envolvendo 
alunos, e textos coletados pelos professo-
res-pesquisadores junto às suas comunida-
des. São textos onde se preservam as 
especificidades das línguas indígenas, tan-
to estruturais quanto estilísticas, o que só é 
possível a partir do momento em que os 
índios são os produtores de seus textos. A 
forma como desenvolveram estes textos 
nos cursos está intrinsecamente ligada à 
prática pedagógica e às futuras decisões 
de encontrar-se um espaço para a língua 
escrita em suas comunidades. 
Os materiais editados pelo Projeto, 
dentro da coleção intitulada Textos Indíge-
nas, estão distribuídos em três séries: Cultu-
ra, Natureza e Receituário. Além do livro 
"Adornos e Pintura Corporal Karajá", já fo-
ram publicados os seguintes títulos: "Recei-
tas Krahô e Apinajé", "Cobras da Área 
Xerente", "Festas Indígenas Xerente", "Pei-
xes da Área Xerente", Festas Krahô", "His-
tória de Aruanã". 
Nas comunidades indígenas do Tocan-
tins há escolas onde são oferecidos cursos 
até a 4° série: são ao todo 56 escolas onde 
lecionam 87 professores indígenas que 
atendem 2.078 alunos. No que se refere 
especificamente aos Karajá, há cinco es-
colas indígenas na Ilha do Bananal, onde 
lecionam 23 professores que atendem 425 
alunos. 
Em julho de 1998 foi iniciado um Proje-
to de Formação envolvendo os professo-
res indígenas das três turmas que deverá 
habilitá-los como professores da 1° fase do 
1° grau, dentro de uma proposta educaci-
onal diferenciada, bilíngüe, específica e 
intercultural. 
Os autores e usuários do livro - Os 
Karajá contam hoje com uma população 
vivem na margem do rio Javaé, na Área 
Indígena Boto Velho, município de Pium 
(GO); os Xambioá, que habitam as mar-
gens do rio Araguaia, Al Xambioá, no mu-
nicípio de Araguaína, extremo norte de 
Tocantins; e os Karajá, que vivem em 18 
aldeias na ilha do Bananal, no Parque indí-
gena do Araguaia (TO). Há ainda famílias 
Karajá que moram no estado de Mato 
Grosso (Al Tapirapé-Karajá, Al São Domin-
gos e Al Aruanã ll); em Goiás (Al Aruanã I e 
III); e no Pará (Al Maramanduba e na Al 
Karajá Santana do Araguaia), além de ou-
tras áreas ainda não regularizadas. 
A história de contato dos Karajá com 
a sociedade envolvente foi sempre mar-
cada por lutas de resistência desse povo 
pela posse de suas terras, pela preserva-
ção de sua cultura e identidade étnica. É 
provável que esse contato tenha se iniciar 
do no século XVI e XVII. Os documentos 
históricos registram inúmeros conflitos dos 
índios com invasores de seus territórios, prin-
Os Karajá compõem uma 
sociedade de pescadores e coletores, com 
uma produção agrícola pequena. Mora-
dores das praias do Araguaia, acabaram 
por especializar-se como fornecedores de 
peixes e de mantas de pirarucu salgados 
no comércio regional. Exímios artesãos, pro-
duzem grandes quantidades de bonecas 
de argila, mudialmente conhecidas. 
Os Karajá organizam-se em famílias 
extensas. A chefia tradicional é exercida 
pelo hyri, xamã, que possui dotes de 
vidência e poder de cura. Realizam vários 
e elaborados rituais, dos quais se destacam 
a festa de Hetohoky, que assinala a fase 
de iniciação do menino na sociedade 
Karajá, e a festa de Arauanã, realizada 
para agradar os espíritos. 
estimada em 1.600 pessoas, a 
maior parte dos quais vive no 
Parque Indígena do Araguaia, 
Tocantins. A língua Karajá, per-
tencente ao tronco macro-jê, 
é falada por toda a comuni-
dade, exceto algumas pou-
cas crianças de pais com ca-
samentos mistos. 
Os Karajá dividem-se em 
três sub-grupos: os Javaé, que 
cipalmente com explorado-
res de ouro. Esse contato vai 
se acelerar a partir dos anos 
50 e 60, sobretudo após a cri-
ação de Brasília, e hoje tende 
a ser mais destrutivo pela 
abertura de estradas na Ilha 
do Bananal e pelo estabele-
cimento da hidrovia do Ara-
guaia. 
Atlas Geográfico 
Indígena do Acre 
Projeto de Autoria da Comissão 
Pró-índio do Acre CPI-AC 
Rio Branco, J 996, 62 págs. 
O livro - O livro "Atlas Geográfico Indíge-
na do Acre" foi preparado pelos professo-
res Apurinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxina-
wa, Katukina, Manchineri, Shawãdawa e 
Yawanawa, do Acre, durante cinco cursos 
de geografia realizados entre 1993 e 1996, 
dentro do Programa de Formação de Pro-
fessores Indígenas, desenvolvido pela Co-
missão Pró-índio do Acre (CPI-AC) desde 
1983. Organizado pelos geógrafos Renato 
Antonio Gavazzi e Márcia Spyer Resende, 
este é o oitavo livro didático na área de 
geografia de autoria indígena publicado 
dentro do projeto "Uma experiência de au-
toria". 
Com textos e ilustrações realizadas 
pelos professores indígenas, o Atlas congre-
ga diversas informações sobre o estado do 
Acre e sua ocupação por índios e não-ín-
dios. Divisão política, hidrografia, ocupação 
indígena, relevo, transporte e comércio, 
caça e pesca, extrativismo, pecuária são 
alguns dos temas tratados nos diferentes 
textos e mapas do Acre, elaborados com 
fino acabamento pelos professores indíge-
nas em seu domínio da cartografia, das 
técnicas de desenho e de registro históri-
co-geográfico como conteúdo curricular 
de sua formação. Este livro, assim como o 
próximo, fazem parte do mesmo projeto 
descrito a partir da página 31. 
Aprendendo Português 
nas Escolas da Floresta 
Projeto de Autoria da Comissão 
Pró-índio do Acre 
MEC/UNESCOICPI-AC 
Rio Branco, 1997, 77 págs. 
O livro - O livro "Aprendendo Português 
nas Escolas da Floresta" apresenta textos, 
desenhos e atividades voltados ao ensino 
do português, elaborados em 1993 pelos 
professores índios do Projeto de Autoria da 
Comissão Pró-índio do Acre, durante o 12o 
Curso de Formação na Área de Estudo de 
Línguas e Pedagogia. O livro contém tex-
tos e desenhos de professores Apurinã, 
Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa, Katukina, 
Manchineri, Shawãdawa e Yawanawa. 
Organizado pela lingüsta Tereza Maher, 
com a participação das educadoras Vera 
Olinda Sena e Nietta Monte, o livro foi edi-
tado pelo Ministério da Educação e do 
Desporto em 1997.Trata-se de um material de pós-alfa-
betização em português como segunda 
língua, voltado aos alunos das escolas da 
floresta, para ampliar sua fluência lingüís-
tica oral e escrita. O livro, construído pelos 
professores a partir de situações de uso da 
língua portuguesa que consideram co-
muns e que necessitam de um enfrenta-
mento discursivo que favoreça sua relação 
intercultural, está dividido em duas partes: 
falando português na aldeia e falando por-
tuguês na c idade. A primeira é voltada 
para crianças e jovens, com um domínio 
incipiente do português, que desejam ou 
têm que interagir com não-índios (asses-
sores, vizinhos regionais, etc) em suas al-
déias. A segunda destina-se a jovens e 
adultos, mais fluentes no português, e que 
precisam se comunicar nas cidades em si-
tuações diversas como tirar documentos, 
negociar produtos, votar, etc. 
O projeto - Em princípios do ano de 1983 
a Comissão Pró-índio do Acre deu início ao 
Projeto "Uma Experiência de Autoria" que 
visa possibilitar a formação continuada de 
professores indígenas das etnias Kaxinawá, 
Katukina, Kaxarari, Ashaninka, Manchineri, 
Jaminawá, Shawãdawa, Yawanawá, Apu-
rinã e Poyanáwa, todas localizadas no 
Acre. Inaugurava-se, nesta época, uma re-
novação nos modelos de educação esco-
lar no país e no continente, resultado do 
momento histórico representado pelos "no-
vos Tempos dos Direitos": os processos de 
demarcação de terras indígenas na região 
vinham acompanhados pela necessidade 
de substituição dos sistemas de dependên-
cia e integração, representados pelas es-
colas das agências missionárias e governa-
mentais, por novas formas de pensar e fa-
zer educação escolar indígena. Para tal 
mudança, jovens indígenas eram escolhi-
dos, por suas comunidades, para serem 
formados e, ao mesmo tempo, iniciarem 
experiências de alfabetização bilíngüe de 
seus parentes, cujas terras, na época, esta-
vam em processo de demarcação. 
O projeto vem realizando, desde en-
tão, a formação permanente de um gru-
po de mais de 60 professores indígenas; a 
elaboração, por uma equipe de assesso-
res e professores indígenas, de currículos 
bilíngües e interculturais para as escolas e 
para os cursos de magistério indígena; a 
produção e publicação de quase uma 
centena de materiais didáticos e para-di-
dáticos elaborados nos cursos de forma-
ção pelos professores indígenas e seus as-
sessores, para uso nas escolas; o acompa-
nhamento e assessoria permanente a es-
tes professores nas escolas das aldeias pela 
equipe de educadores da entidade, de 
forma a possibilitar-lhes a continuidade de 
sua formação à distância. Por tais carac-
terísticas e linhas de trabalho, a marca re-
gistrada do projeto acreano, envolvendo 
pesquisa e criação pedagógica, tem sido 
o conceito de "autoria". 
Durante todos os cursos de formação 
oferecidos pela CPI-AC, os professores in-
dígenas desenham e escrevem, em suas 
diversas línguas, recentemente grafadas e 
em português, livros nas diversas áreas de 
estudo de seu currículo (matemática, lín-
guas, geografia, história, ciências) que são 
imediatamente editados pela entidade 
para serem utilizados ao longo do ano le-
tivo em suas respectivas escolas, até se-
rem renovados por novos materiais nos 
próximos anos. Desta forma, o projeto 
conta com um extenso acervo de materi-
ais didáticos e de literatura de autoria indí-
gena, que vêm sendo referência importan-
te para os novos programas de educação 
escolar no Brasil. 
Estes livros, escritos desde a década 
de 80, em português e nas diversas línguas 
envolvidas no programa, referem-se a te-
mas como suas "Histórias de Hoje e de An-
tigamente" (1984); suas "Escolas da Flores-
ta" (1984); sua cultura material, "Fábrica do 
índio" (1985); suas músicas, "Nuku Mimawa" 
(1994); suas diversas abordagens da geo-
grafia, "Geografia Jaminawa", "Geografia 
Manchineri", "Geografia Yawanawá", "Ge-
ografia Kaxinawá" (1995); sua relação com 
outras literaturas indígenas e não-indígenas, 
"Antologia da Floresta" (1996); suas mitolo-
gias pesquisadas entre os velhos e reunidas 
em livros como "Shenipabu Miyui" (1996) e 
"Noke Shoviti" (1998); totalizando hoje 57 
publicações de uma nova literatura indí-
gena em sua fase atual de aquisição e uso 
da escrita com a concomitante valoriza-
ção dos mecanismos tradicionais de 
oralidade. 
Por este elenco de realizações, o Pro-
jeto de Autoria tem sido reconhecido como 
um dos principais modelos pedagógicos 
possíveis para a Educação Escolar não só 
no Brasil como em outros países da Améri-
ca Latina, promovendo importante papel 
na discussão das políticas públicas a serem 
traçadas para as populações indígenas. 
Como resultado de sua trajetória histórica, 
a CPI/AC conquistou a aprovação e regu-
lamentação dos currículos das escolas e 
dos cursos de magistério pelo Conselho 
Estadual de Educação do Acre em 1993 e 
1997 respectivamente, tendo promovido, 
desde seus primórdios, importantes e pio-
neiras parcerias entre órgãos federais e es-
taduais como a Funai, Ministério da Educa-
ção e do Desporto, Secretaria de Educa-
ção, algumas universidades brasileiras e or-
ganizações-não governamentais de cará-
ter civil. 
Hoje existem no Acre mais de 110 es-
colas indígenas regularizadas, a maioria 
delas desenvolvendo seus currículos dife-
renciados sob a responsabilidade dos pro-
fessores índios em processo de formação 
no magistério, lecionando para cerca de 
2.500 alunos. Apoia-se, assim, a permanên-
cia das populações indígenas em suas ter-
ras e sua preparação para o uso e a con-
servação destes territórios, em ações inte-
gradas de educação escolar, meio ambi-
ente e saúde. 
Os autores e usuários do livro - Foi na 
década de 70, que os índios do Acre e Su-
doeste do Amazonas passaram a ser re-
conhecidos como grupos étnicos diferen-
ciados, com o apoio de ações de indi-
genistas de entidades civis e religiosas e 
com a instalação da Funai no Estado. Até 
então, o governo e vários segmentos da 
sociedade, desconheciam a existência 
de índios naquela região, sendo estes 
identificados como caboclos e integrados 
em sua maioria como mão de obra nas 
frentes extrativistas (borracha e castanha) 
que chegaram à região nos finais do sécu-
lo passado. 
Hoje, existem 27 terras indígenas, com 
diferentes situações de regular ização 
fundiária, totalizando cerca de 13% da ex-
tensão total do estado. Nelas vivem apro-
ximadamente 10 mil índios das etnias Apu-
rinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa, 
Katukina, Manchineri, Yawanawa, Kulina, 
Shawanawa, Shanenawa, Poyanawa, 
Jamamadi, Nukini, Kaxarari, além de vári-
os outros grupos ainda isolados. Esses gru-
pos falam línguas pertencentes a três fa-
mílias lingüísticas: Aruak, Pano e Arawá. 
A exploração e a ocupação, por bra-
sileiros e por peruanos, das extensas áreas 
de florestas banhadas pelas bacias forma-
doras dos altos rios Purús e Juruá no Acre, 
desenrolou-se a partir das duas últimas 
décadas do século XIX. A partir deste perí-
odo, ocorreu a penetração de duas fren-
tes de expansão extrativistas: uma, itineran-
te e de curta duração, ganhou forma atra-
vés das atividades dos caucheiros perua-
nos, que visavam a exploração do caucho 
e de outros produtos florestais (peles de 
animais e madeira-de-lei); outra, maciça 
e duradoura, constituída por brasileiros que 
passaram a trabalhar nos seringais abertos 
nos altos rios incidentes, na faixa territorial 
que viria a constituir posteriormente o Terri-
tório Federal do Acre. 
Os integrantes dessas duas frentes ex-
trativistas praticamente cercaram as popu-
entes dos altos rios. Este período inicial de 
conquista dos seringais foi marcado por 
sangrentos enfrentamentos entre os mem-
bros dessas populações nativas tanto com 
os nordestinos quanto com os caucheiros 
peruanos. A estes enfrentamentos e suas 
trágicasconseqüências deu-se o nome de 
correrias. Os caucheiros freqüentemente se 
aproveitaram de tradicionais conflitos inter-
tribais, aliando-se a uma das partes, forne-
cendo armamento, munição e outros pro-
dutos industrializados para que se realizas-
sem as correrias e fossem escravizados os 
membros das populações derrotadas. 
A inserção das populações indígenas 
nos seringais administrados por patrões se-
ringalistas regionais se estende até meados 
da década de 70 e é vista por seus mem-
bros como o tempo do cativeiro. Os inte-
grantes dessas populações passaram a ser 
indistintamente denominados de caboclos 
e a sofrer forte discriminação no interior dos 
seringais. Os seringueiros cariús se viram 
lações nativas, 
pe r tencen tes 
aos t roncos 
l i n g ü í s t i c o s 
Pano e Aruak, 
que t rad i c io -
na lmente ha-
bitavam as ter-
ras firmes e as 
margens dos 
igarapés, aflu-
atrelados aos barracões dos patrões, sen-
do obrigados a pagar renda pela utiliza-
ção das estradas de seringa, e roubados 
nos preços da borracha e das demais mer-
cadorias. Eram proibidos de praticar festas 
e rituais de suas tradições culturais, assim 
como de atualizar importantes aspectos de 
suas formas próprias de organização soci-
al e política. 
Em 1975, a Divisão de Estudos e Pes-
quisas da Funai realizou os primeiros levan-
tamentos fundiários, demográficos, sócio-
econômicos e culturais das populações in-
dígenas que habitavam os rios Envira, Murú, 
Humaitá, Tarauacá e Jordão. Como des-
dobramento desse levantamento e, prin-
cipalmente, do acirramento dos conflitos 
pela posse da terra no Acre, a Funai cons-
tituiu equipes de trabalho para realizar, no 
ano de 1977, as primeiras identificações de 
terras indígenas em diferentes rios e micro-
regiões do Estado. Até às demarcações fí-
sicas das áreas indígenas do Acre, os di-
versos grupos étnicos locais receberam 
pequenos montantes de recursos para o 
financiamento das safras extratívista e agrí-
cola, através de distintos projetos de orga-
nização de cooperativas, intermediados 
pela CPI-AC junto a entidades governa-
mentais e agências humanitárias estrangei-
ras. 
Nesses primeiros anos, a estruturação 
das cooperativas serviu de base para a 
conquista e a ocupação produtiva dos se-
ringais incidentes nas áreas indígenas, as-
sim como para a reorganização política, 
econômica e social dos grupos familiares 
extensos que integravam as populações 
indígenas. A partir de 1982-83, as lideran-
ças começaram a participar das assem-
bléias indígenas e começaram a exigir a 
agilização da demarcação de suas terras, 
o financiamento de suas safras extrativistas 
e agrícolas e a capac i tação de membros 
dos próprios grupos para a execução de 
programas educacionais e sanitários a se-
rem desenvolvidos em suas áreas. 
Nasce assim o Projeto "Uma Experiên-
cia de Autoria", como forma de atender a 
solicitação das lideranças indígenas na sua 
luta pela libertação dos patrões e de ou-
tros agentes formais do violento contato 
até então promovido nesta região. É o iní-
cio dos novos Tempos dos Direitos, onde a 
escola passa a ocupar um lugar estratégi-
co fundamental. 
Txopai e Itôhã 
Kanátyo Pataxó 
Programa de Implantação das Escolas 
Indígenas de Minas Gerais 
MEC/UNESCO/SEE-MG 
Belo Horizonte, 1997, 24 págs. 
O livro - O livro "Txopai e Itôhã" reúne uma 
história contada por Apinhaera Pataxó e es-
crita e desenhada por Kanátyo Pataxó. É a 
história do começo dos tempos, do primei-
ro índio que surgiu na terra, Txopai, e do 
surgimento da nação Pataxó. O livro foi 
editado pelo Programa de Implantação 
das Escolas Indígenas de Minas Gerais e pu-
blicado pelo Ministério da Educação e do 
Desporto em 1997. Destina-se a um públi-
co infantil, Pataxó ou não. 
Os autores e usuários do livro - Os Pata-
xó têm uma longa história de contato com 
diferentes segmentos da sociedade brasi-
leira. Por força do contato abandonaram 
sua língua original, da qual conservam al-
gumas palavras, e expressam-se apenas 
em português. Pertencem a família lingüís-
tica Maxakali, tronco Macro-Jê. 
São originários do sul da Bahia, onde 
atualmente estão nove dentre os dez terri-
tórios Pataxó. Expulsos de sua aldeia origi-
nal, Barra Velha, por causa da criação do 
Parque Florestal do Monte Pascoal pelo 
IBDF, alguns Pataxó vieram para Minas Ge-
rais na década de 80. Residem atualmen-
te, junto a alguns Pankararu e Krenak, no 
Posto Indígena Guarani, no município de 
Carmésia. 
O artesanato é a principal atividade 
dos Pataxó. Vivem também da agricultura 
de subsistên-
cia e da cria-
ção de ani-
mais. Os Pata-
xó estão vi-
vendo um in-
teressante e 
vigoroso pro-
cesso de re-
c o n s t r u ç ã o 
de sua identi-
dade étnica. Como parte deste processo 
deve ser entendido o uso de seus nomes 
indígenas, a realização do ritual do Auê, a 
criação de cantos rituais na língua Pataxó 
e a reconstrução de seu acervo mitológi-
co. 
Participam, juntamente com outros 
povos indígenas localizados no Estado de 
Minas Gerais, do Programa de Implanta-
ção das Escolas Indígenas de Minas Ge-
rais, descrito a partir da página 38. 
O tempo passa 
e a história fica 
índios Xacriabá 
Programa de Implantação das Escolas 
Indígenas de Minas Gerais 
MEC/UNESCO/SEE-MG 
Belo Horizonte, 1997, 95 págs. 
O livro - O livro "O tempo passa e a histó-
ria fica" reúne textos e ilustrações realiza-
das pelos professores Xacriabá que parti-
cipam do Curso de Formação do Progra-
ma de Implantação das Escolas Indígenas 
de Minas Gerais. Durante dois anos, os pro-
fessores realizaram pesquisas sobre as tra-
dições do povo Xacriabá em suas aldeias. 
Histórias e casos de seus pais, avós e tios 
foram ouvidos, gravados e transcritos. Este 
trabalho resultou em tipos diferentes de tex-
tos: narrativas em versos e em prosa de fa-
tos importantes na vida da comunidade, 
e coletâneas de contos tradicionais, que 
pertencem ao universo ficcional do sertão 
mineiro. 
O livro foi editado pelo Programa de 
Implantação das Escolas Indígenas de Mi-
nas Gerais e publicado pelo Ministério da 
Educação e do Desporto em 1997. 
Os autores e usuários do livro - Os Xa-
criabá contam hoje com uma população 
de 6.000 pessoas. Pertencem ao tronco 
Macro-Jê, família Akwén, embora hoje fa-
lem apenas o português. Tinham como ter-
ritório tradicional uma grande extensão de 
terras nos estados de Minas Gerais, Bahia e 
Goiás. Foram a ldeados na Missão de 
Monsenhor São João no início do século 
XVIII juntamente com diversos outros gru-
pos, prevalecendo a identidade Xacriabá. 
drado como tentativa de genocídio. 
Apenas após estes assassinatos a área foi 
homologada e os invasores retirados. 
Hoje vivem na Terra Indígena Xacria-
bá, demarcada em 1979 e homologada 
em 1 987, com 46.415 ha, nos municípios de 
Itacarambi e de São João das Missões, ao 
norte de Minas Gerais, a 800 km de Belo 
Horizonte. Distribuem-se em cerca de 30 
aldeias, afastadas entre si e dirigidas por 
um cacique geral. Cada aldeia tem seu 
representante, eleito pela comunidade 
e indicado pelo cacique geral. As mu-
lheres cuidam dos trabalhos domésticos 
e ajudam os homens a trabalharem na 
terra e a cuidarem dos animais. Aos ho-
mens cabe, além dos trabalhos de sub-
sistência, a condução da vida política do 
grupo. Realizam tradicionalmente o Toré 
e o consumo de uma bebida preparada 
com a casca da raiz de uma árvore co-
nhecida como Jurema. 
Vivem da agricultura de subsistência 
e da criação de gado. Castigados pelas 
inconstâncias do clima, os Xacriabá, como 
todos os habitantes da região, índios ou 
não, sofrem as conseqüências da seca 
constante. 
O projeto - O Programa de Implantação 
das Escolas Indígenas de Minas Gerais teve 
início em 1993, com a realização de dois 
encontros de educação indígena.Seu ob-
jetivo é a criação de escolas indígenas no 
Estado de Minas Gerais e a formação de 
66 professores indígenas para atuar nas es-
colas Krenak, Pataxó, Xacriabá e Maxaka-
li. Esses professores atendem hoje 1364 cri-
anças Xacriabá, 321 Maxakali, 61 Pataxó e 
35 Krenak em 11 escolas indígenas nucle-
adas. Participam do programa, além da 
Secretaria de Educação de Minas Gerais, 
a Universidade Federal de Minas Gerais, A 
FUNAI e o Instituto Estadual de Florestas (IEF). 
A coordenação do programa é com-
posta por um Conselho de Representantes 
formado por dois membros de cada uma 
das quatro etnias, três representantes da 
Secretaria de Educação e de um repre-
sentante da FUNAI, IEF e UFMG. Além de 
visar a construção de uma proposta de 
educação escolar indígena específica e 
diferenciada para c a d a um dos quatro 
grupos envo lv idos, o p r o g r a m a tem 
Em 1728, receberam do governo uma do-
ação de terra, da qual atualmente resta 
apenas um terço e pela qual tiveram que 
lutar muito para conservar a sua posse. 
Em 1987, 
na aldeia Sa-
pé, foram mor-
tos três Xacria-
bá, entre eles 
olíder Rosalino 
Gomes de Oli-
veira. O mas-
sacre, cometi-
do por grilei-
ros, foi enqua-
como objetivo habilitar os professores in-
dígenas, através de um curso de magis-
tério, viabilizar o ingresso dos professores 
indígenas no quadro de professores do Es-
tado de Minas Gerais e publicar material 
didático-pedagógico para uso nas esco-
las indígenas. 
O Curso de Formação é realizado no 
Parque Estadual do Rio Doce e nas própri-
as áreas indígenas. Os módulos desenvol-
vidos no Parque são semestrais, com 192 
horas-aula cada e abrangem áreas de sa-
ber relacionadas ao português, matemáti-
ca, ciências naturais, geografia, história, 
educação física e educação artística. Os 
módulos desenvolvidos nas áreas indíge-
nas tratam de cultura, língua e uso do terri-
tório indígena, específicos para cada povo. 
Orientados por assessores, os professores 
desenvolvem atividades de pesquisa, lei-
tura e escrita nas aldeias e são acompa-
nhados por supervisores. 
O Programa de Implantação das Es-
colas Indígenas de Minas Gerais tem tam-
bém como meta incentivar e propiciar a 
produção escrita dos índios para uso nas 
escolas indígenas. Até este momento fo-
ram editados, em parceria com o Ministé-
rio da Educação e do Desporto, "O povo 
Pataxó e sua história" (1997), "Coisa tudo 
na língua Krenak" (1997), "Plantas Medici-
nais: fonte de esperança e mais saúde" 
(1997) e "O livro que conta histórias de an-
tigamente" (1998). Além dos livros, quatro 
vídeos-documentários estão sendo elabo-
rados sobre os grupos indígenas de Minas 
Gerais para subsidiar o ensino de primeiro 
e segundo graus desenvolvidos nas esco-
las mineiras. 
Madikauku - os dez 
dedos das mãos: 
Matemática e Povos 
Indígenas no Brasil 
Manana Kawall Leal Ferreira 
MEC/SEF 
Brasília, 1998, 177págs. 
O livro - O livro "Madikauku - os dez dedos 
das mãos: matemática e povos indígenas 
no Brasil" é uma publicação do Ministério 
da Educação e do Desporto, concebida 
especialmente para acompanhar a cole-
ção de livros didáticos do Referêncial Na-
cional Curricular para as Escolas Indígenas. 
De autoria de Mariana Kawall Leal Ferreira, 
do Mari-USP, o livro conta com introdução 
de Ubiratan D'Ambrósio. 
O livro procura contribuir para o estu-
do da matemática nas escolas indígenas 
do país. O estudo da matemática, por par-
te dos povos indígenas, é visto como algo 
imprescindível nos dias de hoje, quando o 
contato intercultural entre os diferentes po-
vos, e entre estes povos e a sociedade 
envolvente, tornou-se inevitável. Trata-se de 
uma proposta pedagógica, cuja finalida-
de é levar para a sala de aula a pluralida-
de de idéias matemáticas, expressas em 
atividades do cotidiano. O livro traz suges-
tões didáticas para os professores desen-
volverem trabalhos de pesquisa e exercí-
cios em educação matemática, mostran-
do como transformar resultados matemá-
ticos em conteúdos e material de ensino. 
O livro, fartamente ilustrado, está divi-
dido em duas partes. A primeira parte, "A 
matemática é uma criação humana", 
aborda diferentes invenções que, ao lon-
go da história, as sociedades lançaram 
mão para classificar e ordenar o mundo, 
dando-lhe sentido. Os povos desenvolve-
ram modos próprios para se orientar no 
espaço, contar, calcular, reconhecer e 
medir as formas do universo. Disto resul-
taram formas culturalmente distintas de 
manejar quantidades, números, medidas, 
formas e relações geométricas. Compos-
ta por quatro capítulos, esta parte enfoca 
concepções matemáticas de quatro po-
vos indígenas: Juruna, Palikur, Xavante e 
Kayabi. 
Na segunda parte, "Números, contas 
e mapas", trabalha-se com idéias matemá-
ticas do sistema numérico decimal, das 
quatro operações fundamentais e das idéi-
as de legenda, escala, perímetro e área. 
Traz informações sobre os algarismos indo-
arábicos, a escrita e o valor posicionai dos 
números. Oferece sugestões para lidar com 
estas idéias matemáticas, a partir de situa-
ções do dia-a-dia, como o cotidiano na far-
mácia e a necessidade de se entender o 
traçado dos mapas. 
Assim estruturado, o livro mostra que 
existem muitas matemáticas, isto é, que 
cada sociedade tem uma maneira espe-
cífica e própria de entender o mundo que 
a cerca, articulando formas também es-
pecíficas e próprias de contar e manejar 
quantidades. Pretende-se que o livro, cuja 
elaboração foi encomenda pelo Ministé-
rio da Educação e do Desporto, seja um 
subsídio para que professores indígenas de 
várias regiões do país possam discutir a im-
portância do estudo da matemática e de 
sua relação com outras áreas do currículo 
escolar.

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