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Validade das distinções no interior das ciências sociais, resumo sobre o mesmo.

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Validade das distinções no interior das ciências sociais:
Havia clivagem evidente no sistema de disciplinas erigido para estruturar as ciências sociais no século XIX: a linha que separava o estudo do mundo moderno/civilizado do estudo do não moderno; dentro do estudo do mundo moderno, a linha divisória que separava o passado do presente; e dentro das ciências sociais nomotéticas, as nítidas linhas de demarcação entre o estudo do mercado, do estado e da sociedade civil. No mundo posterior a 1945, cada um destas linhas de clivagem viria ser posta em causa. 
	A inovação acadêmica mais saliente do período posterior a 1945 foi, provavelmente, a criação de estudos por áreas ou regiões, uma nova categoria institucional visando um reagrupamento do trabalho intelectual. A ideia básica subjacente aos estudos por áreas era muito simples. Entendia- se por área uma zona geográfica dotada de uma suposta coerência cultural, histórica e, muitas vezes, também linguística. A lista que assim surgiu era muito heterodoxa na sua composição, incluindo a U.R.S.S., a China, a América Latina, o Oriente Médio, a África, Ásia Meridional, o Sudeste Asiático, a Europa Central e de Leste e, bastante mais tarde, também a Europa ocidental. Em alguns países, os Estados Unidos tornaram- se igualmente objetos de estudos.
	 Os estudos por áreas propunham- se ser um espaço simultaneamente de investigação e de pedagogia que reunisse quem quer que partilhasse do mesmo interesse em desenvolver trabalho, no âmbito da sua disciplina própria, sobre uma dada área. Dado o seu papel político na cena mundial, os Estados Unidos necessitava de conhecimentos e de especialistas das realidades atuais das várias regiões, principalmente agora que estas se estavam a tornar politicamente tão ativas. Foram concebidos programas de estudos por áreas distintas a formar tais especialistas, a que seguiria a criação de outros programas paralelos, primeiro nos U.R.S.S. e na Europa Ocidental, e posteriormente em muitas outras partes do mundo.
	Os estudos por áreas atraíram para o interior de uma estrutura única pessoas cuja filiação atravessava transversalmente as três clivagens já referidas. Deste modo, os historiadores e os cientistas sociais de inclinação nomotéticas encontraram- se frente a frente com os antropólogos e com estudiosos do Oriente, e cada um dos diferentes tipos de cientistas sociais nomotéticas achou- se confrontado com os restantes. A estes vieram juntar- se, ainda que de forma pontual ou temporária, geógrafos, historiadores da arte, estudiosos das literaturas nacionais, epidemiologista e ate geólogos.
	Embora os estudos por áreas se apresentasse sob a limitada capa da multidisciplinaridade, a sua prática veio pôr a nu o muito que havia de artificial nas rígidas divisões institucionais do saber associado às ciências sociais. Os estudos por áreas vieram a afetar a estrutura dos departamentos de história e também as três ciências sociais nomotéticas
Em que medida é estreito o legado das ciências sociais: 
Independentemente da formulação por que se opte a reivindicação de universalidade é uma justificação inerente de todas as disciplinas acadêmicas. É esse de resto, um dos requisitos, para a sua institucionalização. A justificação pode assentar em fundamentos de ordem moral prática, estética ou política, bem como na combinação de vários desses fundamentos ao mesmo tempo. Mas a verdade é que, para poder avançar, todo o conhecimento institucionalizado tem de partir do pressuposto de que as lições da realidade em estudos têm relevância para o estudo do caso que se segue, e de que a lista de casos potenciais a estudar é, para todos os efeitos práticos, interminável.
O universalismo de toda e qualquer disciplina assenta numa mistura especifica e dinâmica de aspirações, ou pretensões, intelectuais e de praticas sociais. Estas pretensões e estas práticas alimentam- se uma das outras, sendo por sua vez reforçadas pela reprodução institucional da disciplina ou núcleo de disciplinas. 
Até hoje, e ao longo de toda a evolução das ciências sociais, a ambição de universalidade nunca foi atingida, mesmo quando esforçadamente perseguida. Em muitos aspectos, os problemas mais sérios têm- se dado com as três ciências sociais mais marcadamente nomotéticas. Ao tornarem as ciências naturais como modelo, elas alimentaram três tipos de expectativas que, na sua formulação universalista, se revelaram impossíveis de alcançar: a expectativa da previsibilidade, expectativa do controle e expectativa do rigor. A aposta na ideia de que as ciências sociais nomotéticas seriam capazes de produzir um conhecimento universal foi de fato muito arriscada. E isso porque, ao invés do mundo natural tal como é definido pelas ciências naturais, as ciências sociais constituem um domínio em que não só o objeto de estudos engloba os próprios investigadores, como também as pessoas estudadas podem entrar em dialogo ou mesmo em competição com esses mesmos investigadores. 
As tensões entre universalismo e particularismo não são uma descoberta nova. Pelo contrario, elas estão no cerne de um debate no interior das ciências sociais que tem sido recorrente, sob as formas mais variadas, ao longo dos últimos duzentos anos. O universalismo foi acusado de ser uma forma disfarçada de particularismo, e, por conseguinte claramente opressivo. É óbvio que há algumas coisas que são universalmente verdadeiras. O problema é que aquelas que detêm o poder social têm uma tendência natural para considerar universal a situação vigente, uma vez que ela os beneficia. Assim, a definição daquilo que é verdade universal tem mudado de acordo com as próprias mudanças verificadas na constelação do poder.
Há muito que as ciências naturais aceitaram como realidade a ideia de que o medidor interfere naquilo que mede. Cremos ser importante aceitar a coexistência de diferentes interpretações para um mundo que é incerto e complexo. Só um universalismo pluralista nos permitirá captar a riqueza das realidades sociais em que temos vivido e vivemos ainda.
Realidade e validade da distinção entre as duas culturas:
Depois dos anos 60 o mal estar que há muito tempo fervilhava nas ciências naturais relativamente aos pressupostos Newtonianos acabou, finalmente por explodir, mas a causa mais importante terá crescido na crescente incapacidade das teorias cientificas mais antigas para fornecer soluções plausíveis para as dificuldades encontradas pelos cientistas à medida que se foram abalançando à resolução de problemas relacionados com fenômenos cada vez mais complexos. 
A visão cartesiana da ciência clássica havia descrito o mundo como um átomo, determinista e totalmente passível de ser descrito sob a forma de leis causais ou leis da natureza. Hoje, muitos estudiosos das ciências naturais defenderão que a descrição do mundo deve ser feita em moldes muitos diferentes.
A questão não é que achem que a física Newtoniana esteja errada, mas tão- só que os sistemas estáveis e reversíveis no tempo, descritos pela ciência newtoniana, não representam senão uma porção limitada e especial da realidade. A aplicação da análise de sistemas complexos à análise das ciências sociais reveste- se de um grande alcance. Os sistemas sociais históricos são manifestamente compostos por unidades múltiplas e interativas, caracterizada pelo surgimento e evolução de uma estrutura e de uma organização hierárquica bem concatenada, bem como por um comportamento espácio- temporal complexo. 
Os sistemas sociais históricos são compostos por elementos individuais, capazes, por força da experiência acumulada, de adaptação interna e de aprendizagem. Este fato vem acrescentar um novo nível de complexidade àquela que é apanágio da dinâmica não linear dos sistemas físicos tradicionais.
Os métodos da analise dos sistemas complexos já foram aplicados em diversas áreas. Além disso, pode demonstra- se como é que tecnologias concorrentes entre si, quando é positiva a qualidade dos resultados que produzem, podem simplesmente ficar como que trancadas, não obstante haverdisponíveis alternativas melhores.
Não se pode falar de uma verdadeira reaproximação entre as duas culturas. Contudo, os debates havidos suscitavam duvidas quanto à clareza das distinções. E assim, parece estarmos agora a caminhar em direção a uma visão mais não contraditória dos múltiplos domínios do conhecimento. Não deixa de ser estranho verificar como as mudanças de perspectiva ocorridas em todos os campos nos parecem aproximar dos tradicionais lugares de referencia das ciências sociais.

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