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Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS 1.1 Conceitos Principais A definição do que é solo depende em muitos casos de quem o utiliza. - Agrônomos: material de fixação de raízes e um grande armazém de nutrientes e água para as plantas. - Geólogo de mineração, a capa de solo sobrejacente ao minério é simplesmente um material de rejeito a ser escavado. Para o engenheiro civil, os solos são um aglomerado de partículas provenientes de decomposição da rocha, que podem ser escavados com facilidade, sem o emprego de explosivos, e que são utilizados como material de construção ou de suporte para estruturas. Outra definição para Engenharia Civil: Agregado de grãos minerais e matéria orgânica decomposta (partículas sólidas) com líquido e gás nos espaços vazios entre as partículas. Esta definição origina-se do chamado Diagrama de Fases do Solo (Figura 1). Figura 1.1 – Representação do Diagrama de Fases do Solo Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa O solo é utilizado como material de construção em vários projetos de engenharia civil e suporta fundações estruturais. - Importância do solo: Estudo das propriedades dos solos (Origem, distribuição de tamanho dos grãos, capacidade de drenagem da água, compressibilidade, resistência ao cisalhamento e capacidade de carga). - Mecânica dos solos: Ramo da ciência que lida com o estudo das propriedades físicas do solo e do comportamento das massas de solo sujeitas a várias solicitações. A Mecânica dos solos faz parte do ramo de Engenharia chamado Engenharia Geotécnica ou Engenharia de solos. As Mecânicas de Solo e Rocha aplicam os princípios da mecânica à solução dos problemas de estabilidade dos terrenos a custa de cálculos numéricos. A Geologia de Engenharia promove o estudo das características geológicas que determinam os parâmetros numéricos e a sua distribuição geométrica num dado maciço. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Por que se estuda Geotecnia? Visualmente toda estrutura é suportada por solo ou rocha. Aquelas que não estão ou flutuam, ou voam ou CAEM (Handy, 1995). O profissional de Engenharia na área de Mecânica dos Solos atua em obras no solo voltadas a fundações de prédios, estruturas, escavações, obras de contenção, estradas de rodagem, barragens, túneis, etc. Para tanto necessita conhecer bem os solos onde está trabalhando. Isto é possível com a identificação dos parâmetros do solo através dos ensaios de campo de laboratório e com estes dados aplicados a modelos matemáticos ou modelagens numéricas computacionais as soluções técnicas adequadas são encontradas. Porém, para definir quais ensaios necessitam ser feitos o profissional precisa identificar e classificar com precisão o solo em questão, este é o objetivo da Geotecnia. 1.2 Breve Histórico da Mecânica dos Solos O histórico da Mecânica dos Solos é dividido em três fases: 1ª Fase: Solo com propriedades de materiais manufaturados (aço e concreto). 1736 – 1806: Charles Augustin Coulomb: Estudos para determinação da posição de superfície de ruptura atrás de muros de arrimo. Definiu a base do ensaio de cisalhamento direto, estabelecendo um critério de ruptura baseado em leis de atrito e coesão. 1820 – 1872: William J. Rankine: Teoria sobre empuxos de terra e equilíbrio de massas de solo. 1856 – 1910: Henry P. Darcy: Estudo sobre permeabilidade e filtros. 1842 – 1929: Joseph V. Boussinesq: Teoria de distribuição de tensões sob cargas carregadas. 2ª Fase: Vários acidentes por causa da geotecnia mal executada. Ocorreu um acúmulo de insucessos em obras de Engenharia Civil: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - Instabilizações de taludes; - Recalques em estradas; - Desabamento de casas; - Acidentes com barragens Exemplo mais famoso: Torre de Pisa na Itália. Relacionado a capacidade de carga na construção de estruturas antes do século XVIII. A Torre de Pisa pesa 15.700 toneladas métricas suportadas por uma base circular de diâmetro de 20 metros. No passado a Torre inclinou para leste, oeste, norte e finalmente para o sul, estabilizando-se. Investigações recentes mostraram uma camada frágil de argila a 11 metros de profundidade da superfície, o que fez a Torre inclinar. A Torre foi fechada em 1950 porque temiam que ela caísse. Recentemente ela foi estabilizada pela escavação do solo ao norte e apresenta uma inclinação de 50. Com uma sequência de acidentes tornou-se necessário estudos mais aprofundados da Mecânica dos Solos. 3ª Fase: Solos com propriedades distintas 1883 1963: Karl Tezarghi Considerado o pai da mecânica dos solos moderna a partir de um trabalho sobre adensamento de argilas em 1925. Outros nomes importantes: W. Fellenius; Arthur Casagrande; Ralph Peck; Skempton; R. Proctor; Bishop; Milton Vargas, Lambe e Whitman, etc. 1.3 Particularidades da Mecânica dos Solos - Trabalha-se com solos e rocha, que são materiais naturais, e que detém propriedades mais complexas e difíceis de determinar que materiais manufaturados como concreto e aço. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - As propriedades do solo podem variar de um local para outro e até mesmo dentro do mesmo local. Por isso é importante uma caracterização do local. - Ao contrário dos engenheiros estruturais, os engenheiros geotécnicos têm de se obter amostras de cada local e testá-los em laboratório e/ou campo. - Necessidade de maior envolvimento durante a construção e revisão frequente do projeto; - Necessidade de uma maior interação com outros profissionais, tais como geólogos, calculistas, etc. - Necessidade de uso de julgamento (experiência) quando se analisa dados de campo e laboratório. - Como não se explora todo o terreno, ele não é conhecido por inteiro o que gera fonte de erros. - Modelos matemáticos são aproximações e cuidado com respostas de programas computacionais. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 2 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE SOLOS 2.1 Origem do Solo O solo é componente fundamental de ecossistemas terrestres e importante fator no planejamento e aproveitamento dos recursos naturais, uma vez que suporta a maioria das atividades humanas sobre a superfície sólida do planeta: - Diversidade de habitats para vida selvagem; - Atividades recreativas, turísticas, etc.; - Suporte de estradas, ferrovias, construções; - Fonte de materiais de construção; - Absorção do excesso de chuvas e redução do risco de inundações; - Zona de proteção dos aquíferos. Em geral os solos são formados pela erosão das rochas. As propriedades físicas do solo são determinadas primeiro pelos minerais que constituem suas partículas e, portanto, pela rocha a partir da qual esse solo é derivado. Os solos são provenientes da deterioração da rocha através de um processo denominado intemperismo, ou seja, a ação do tempo. As várias formas de intemperismo podem ser classificadas em dois grandes grupos: intemperismo químico e intemperismo mecânico. - Intemperismo Químico Relacionado com os vários processos químicos que alteram, solubilizam e depositam os minerais de rocha, transformando-a em solo. Esse tipo é mais frequente nos climas quentes e úmidose, portanto, muito comum no Brasil. - Intemperismo Mecânico ou Físico Proveniente da ação mecânica desagregadora de transporte da água, do vento e da variação de temperatura. Muitas vezes ocorre a ação conjunta de vários agentes do intemperismo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 2.2 Classificação dos Solos A classificação do solo depende do interesse de utilização podendo ser: - Pedológica (Agronomia) – base nos horizontes pedológicos (perfil pedogenético), Litossolos, cambissolos, podzólicos, latossolos, hidromórficos, etc. - Gênese (Geologia) – base segundo o processo de acumulação (critérios de campo). - Geotécnica (engenharia) – base em propriedades físicas (ensaios laboratoriais) e utilização de sistemas específicos de classificação. São divididos em solos residuais e solos transportados. 2.2.1 Solo Residual Os produtos da rocha intemperizada permanecem ainda no local em que se deu a transformação. Não existe contato ou limite direto e brusco entre o solo e a rocha que o originou, mas sim uma passagem gradativa. Segundo o grau de decomposição dos minerais se divide em: - Solo Residual Maduro - material que não mostra nenhuma relação com a rocha que Ihe deu origem. Não se consegue observar restos da estrutura da rocha nem de seus minerais. Conhecido como Solo Eluvial. - Solo Residual Jovem (de alteração) - ainda mostra alguns elementos da rocha-matriz, como linhas incipientes de estruturas ou minerais não decompostos. Conhecido como Solo Saprolítico ou de Alteração. A Figura 2 mostra um esquema de formação do solo residual. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 2.1 – Formação do Solo Residual Os solos residuais apresentam na sua superfície partículas mais finas de solo (silte e argila). 2.2.2 Solos Transportados Os produtos de alteração foram transportados por um agente qualquer, para local diferente ao da transformação da rocha que o deu origem. - Formam geralmente depósitos mais inconsolidado (materiais mais soltos) e fofos que os residuais e apresentam profundidade variável. Pode ter grandes variações laterais e verticais na sua composição dependendo da capacidade do agente transportador. Variedade especial - solo orgânico (O material transportado está misturado com quantidades variáveis de matéria orgânica decomposta, que em quantidades apreciáveis, forma as turfeiras). Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Os solos transportados podem ser classificados de acordo com o agente de transporte em: - Solos glaciais: Formado por transporte e deposição de geleiras; - Solos aluviais: Transportados por água corrente e depositados ao longo do percurso; - Solos lacustres: Formados por depósitos em lagos calmos; - Solos marinhos: Formados por depósitos em mares; - Solos eólicos: Transportados e depositados pelo vento; - Solos coluviais: Formado por movimentos de solo a partir de seu lugar original pela gravidade (Áreas de relevo). 2.3 Tamanho das partículas do solo Os solos são compostos por grãos de diferentes formas e tamanhos. Partículas de solo são definidas de acordo com o tamanho relativo destas, sendo considerada argila partículas com diâmetro inferior a 0,005mm; silte as com diâmetro entre 0,005mm e 0,05mm; areia fina as com diâmetro entre 0,05mm e 0,42mm; areia média, entre 0,42mm e 2mm; areia grossa, entre 2mm e 4,8 mm e, finalmente, pedregulho, entre 4,8 e 76 mm de diâmetro. 2.4 Sistema Solo-água-ar A água constitui-se da principal causa de instabilização de solos, principalmente se esta estiver em contato com partículas de argila. A água tende a reagir com a argila tornando o solo expansivo. As argilas na presença de água desenvolvem uma série de propriedades: plasticidade, resistência mecânica a úmido, compactação. Solos com maior quantidade de minerais argílicos tendem a ter uma menor permeabilidade e consequentemente, menores velocidades de recalque. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Os solos arenosos e pedregulhosos possuem uma alta permeabilidade, apresentando uma alta capacidade de drenagem, não constituindo-se de solos problemáticos na presença de água. As partículas de solo se juntam formando os agregados ( conhecido popularmente como torrões). Uma massa de solo é constituída de vários torrões, sendo que os espaços vazios entre os torrões são os macroporos e os espaços vazios dentro dos torrões são os microporos, conforme mostra a Figura 3. Figura 2.2 – Representação de macroporos e microporos do solo Os macroporos e microporos influenciam o fluxo de água pela camada de solo. A água no solo fica retida tanto nos poros entre os agregados, como em finas partículas. Existe a água gravitativa, capilar e higroscópica conforme exemplifica a Figura 4. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 2.3 – Formas de água no solo O ar no solo pode estar presente tanto nos macroporos como nos microporos, sendo que o solo possui mais CO2 que a atmosfera devido a respiração das raízes das plantas e microrganismos. A aeração do solo é fundamental para o desenvolvimento das plantas. O ar no solo é relevante quando se trata do processo de compactação do solo, pois a compactação é expulsão de ar do solo. 2.5 Morfologia do solo A morfologia do solo estuda a aparência do solo no seu ambiente natural, ou seja, faz a descrição do solo pelas características visíveis a olho nu ou prontamente perceptíveis (identificação tátil-visual). Inclui a cor, textura, estrutura, consistência e espessura dos horizontes. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - Cor: Auxilia na delimitação dos horizontes. Solos escuros indica maior teor de matéria orgânica, solos avermelhados são solos naturalmente bem drenados com presença de óxido de ferro e solos com tons de cinza indicam solos permanentemente inundados, com excesso de água no perfil. - Textura: Composição em relação ao tamanho dos grãos. Proporções de partículas de areia, silte e argila. - Estrutura: Refere-se aos agregados formados pelas partículas (tamanho, forma e aspecto do conjunto de solo). Analisa o torrão ou o bloco, não a camada de solo. - Consistência: Resistência no estado natural a alguma força (pressão dos dedos, por exemplo). 2.6 Comportamento Geotécnico dos Solos O solo é um material que contem três fases distintas: partículas sólidas, líquido (normalmente água) e gás (normalmente ar, mistura de gases). A fase sólida do solo é constituída por grãos minerais, com ou sem presença de matéria orgânica. A água é responsável por grande parte de suas propriedades e seu comportamento. Ela pode atuar física e quimicamente, pode participar da composição química de minerais argílicos, alterando sua consistência, resistência ao cisalhamento e massa específica aparente. Já a fase gasosa é de interesse em casos especiais de consolidação de aterros não saturados devido à redução mais rápida do volume da fase gasosa. Este comportamento também reflete na resistência ao cisalhamento dando ao solo parcialmente saturado um comportamento típico drenado. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A previsão da resistência é importante para o dimensionamento preliminarde obras geotécnicas. Já a previsão das condições de drenabilidade é importante para avaliação do processo construtivo. Solos mais finos tendem a ter menor condição de drenagem e maior compressibilidade nos processos de carga e descarga, ou seja, apresentam maiores recalques, ao passo que os solos mais grossos tendem a ter uma maior resistência e menor compressibilidade. 2.6 Resistência dos Solos Por definição a resistência do solo é a máxima tensão que o solo pode resistir antes da ruptura. Na resistência dos solos é avaliada dois parâmetros de resistência: coesão e ângulo de atrito. Coesão é aquela resistência que a fração argilosa empresta ao solo, pelo qual ele se torna capaz de se manter coeso em forma de torrões ou blocos, ou pode ser cortado em formas diversas e manter esta forma. Os solos que têm essa propriedade chamam-se coesivos. Os solos não coesivos, areias puras e pedregulhos, despedaçam facilmente ao serem cortados ou escavados. O desenvolvimento da coesão entre as partículas do solo também é fortemente influenciada pelo teor de água do solo. Vários autores verificaram o aumento da coesão com a redução do teor de água do solo. A diminuição do teor de água no solo reduz a distância entre as partículas, havendo um consequente aumento da atração entre elas, resultando num acréscimo da coesão do solo. A resistência por atrito entre as partículas (força de atrito grão-grão) depende do coeficiente de atrito, e pode ser definida como a força tangencial necessária para ocorrer o deslizamento de um plano, em outro paralelamente a este. É o máximo ângulo que a força cisalhante pode ter com a normal ao plano sem que haja deslizamento. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 3 – INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA 3.1 Introdução Investigação geotécnica ou Prospecção Geotécnica do Subsolo é o conjunto de operações visando a determinação da natureza e características do terreno, sua disposição e elementos de interesse para a intervenção. A investigação geotécnica é importante para: - Previsão de problemas de fundação ou análise de estabilidade, ruptura, deformações, pressões e resistência. - Existência de materiais de construção - extensão, localização, volumes existentes. - Previsão de problemas relacionados à água no subsolo - profundidade do nível freático, permeabilidade dos materiais, pressões. Através da caracterização geológico-geotécnica é possível se conhecer: - Distribuição dos diversos materiais que compõem o local; - Parâmetros físicos dos materiais; - Técnicas mais adequadas de intervenção; - Volumes escavados e mobilizados; - Tipo de tratamento nos terrenos; - Melhor posicionamento das estruturas das obras civis. Em uma investigação geotécnica os seguintes dados de solo são exigidos: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - Perfil do solo (espessura das camadas e identificação do solo); - Caracterização geotécnica completa; - Características de resistência e compressibilidade; - Outras informações tais como variação do nível de água No escritório são feitos os primeiros estudos, buscando recolher informações que já existam sobre o lugar, tais como: - Fotografias aéreas; - Mapas topográficos; - Relatórios de investigações geotécnicas realizadas no entorno. O primeiro passo é reconhecimento do local no qual será executada a investigação geotécnica: - Visitar o local e conversar com os moradores da região; - Analisar as formas de acesso ao local; - Analisar a topografia da região; - Analisar a geologia local; - Verificar as condições das estruturas já existentes; - Observar se existem problemas já instalados. A programação dos trabalhos de uma investigação geotécnica deve ser feita levando-se em consideração as condições geológicas locais e a necessidade de cada obra. O desenvolvimento das investigações é tem 4 fases: Inventário, Viabilidade, Projeto básico, Projeto executivo. Inventário - Pesquisa bibliográfica, estudos regionais, seleção de alternativas de locação e intervenção; Viabilidade - Verificação da possibilidade técnica e econômica de execução de uma das alternativas; Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Projeto básico - Informações detalhadas da alternativa escolhida, cronograma de execução e custos; Projeto executivo - Estudos pontuais e dirigidos a alvos específicos, comportamentos anormais. 3.2 Métodos de Investigação Geotécnica Existem três tipos de métodos para investigação geotécnica: 1- MÉTODOS DIRETOS → Permitem a observação direta do subsolo ou através de amostras coletadas ao longo de uma perfuração ou a medição direta de propriedades in situ. Escavações, sondagens e ensaios de campo; 2- MÉTODOS INDIRETOS → Observação na superfície do terreno ou mesmo no ar, por meio de instrumentos, de certos campos de força naturais ou produzidos artificialmente. Geofísica. 3- MÉTODOS SEMI-DIRETOS → Obtenção de informações sobre características dos terrenos por correlações indiretas. Desenvolvidos para superar dificuldades de amostragem de certos solos, areias puras, argilas inconsistentes. Ensaios in situ. Na geotécnica o importante a observação direta do subsolo, determinando as propriedades dos materiais que o constituem e realizando ensaios para verificar o comportamento dos materiais analisados diante a solicitação proposta da obra de engenharia a ser executada. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 3.3 Métodos Diretos de Investigação Geotécnica Os métodos diretos consistem de escavações manuais ou por meio de escavadeiras permitindo a observação visual direta do subsolo, com a possibilidade de coleta de amostras indeformadas podendo ser divididos em poços, trincheiras e galerias de inspeção ou pela realização das sondagens. Os poços são escavações verticais de seção circular ou quadrada, permitindo o acesso para descrição das camadas de solos e rochas e coleta de amostras. A abertura em rochas é feita com furos de martelete ou explosivos. As trincheiras tem uma menor profundidade em relação aos poços e permitem uma seção contínua horizontal. Já as galerias de inspeção são seções horizontais em subsuperfície, sendo limitadas a rochas ou solos muito consistentes. 3.4 Sondagens Ao se realizar uma sondagem pretende-se conhecer: - O tipo de solo atravessado através da retirada de uma amostra deformada, a cada metro perfurado. - A resistência oferecida pelo solo à cravação do amostrador padrão, a cada metro perfurado. - A posição do nível ou dos níveis d'água, quando encontrados durante a perfuração. Em relação aos custos das sondagens, todas as sondagens são caras, mas as mais caras são aquelas que não foram feitas. Empiricamente gira em torno de 0,5 a 1% do custo da obra, sendo que quanto maior o projeto menor o custo relativo. A falta de informação gera custo mais elevado e a obra pode tornar-se mais cara e demandar maior tempo para execução (problemas não previstos). Economia de dinheiro Maiores custos finais Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Existem normas para a execução de sondagem: - NBR 6484 – Execução de sondagens de simples reconhecimento de solos. - NBR 7250 – Identificação e descrição de amostras de solo obtidas emn sondagens de simples reconhecimento de solos. - NBR 8036 –Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. - NBR 6502 – Define os termos relativos de rochas e solos para fins de engenharia geotécnica de fundações e obras de terra. A Tabela 3.1 mostra a programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios em função do número de furos a executados para a realização da sondagem com base na área projetada da construção. Tabela 3.1 – Número mínimo de furos de sondagem em função da área de construção Existem três tipos de sondagens: sondagem a trado, sondagem á percussão e sondagem rotativa. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 3.4.1 Sondagem a Trado O trado consiste de uma concha metálica dupla ou espiral que ao perfurar o solo guarda em seu interior o material escavado. A sondagem a trado é um processo simples rápido e econômico para investigações preliminares das camadas mais superficiais dos solos. Permite a obtenção de amostras deformadas ao longo da profundidade (de metro em metro). É muito empregada na prospecção de solos em obras rodoviárias, na determinação do nível d’água e na perfuração inicial de sondagens mecânicas. O equipamento para execução da sondagem a trado é composto por hastes de ferro ou aço (diâmetro: 1/2” ou 3/4” e comprimento de até 3 m), cruzeta para aplicação do torque e brocas de dimensões de 2”, 3” ou 4”. A sondagem a trado é limitada a presença de pedregulhos, pedras ou matacões, para solos abaixo do nível d’água e areias muito compactas. A sondagem a trado pode ser executada através de trados manuais e trados mecânicos. - Trados manuais → tipos: cavadeira, torcido, helicoidal, concha. Pode se atingir até 15 m, dependendo da compacidade e consistência dos solos. A Figura 3.1 apresenta dos tipos de trados manuais e a Figura 3.2 mostra os detalhes das ferramentas dos trados manuais. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 3.1 – Tipos de trados manuais Figura 3.2 – Ferramentas constituintes dos trados manuais - Trados mecanizados (motor a gasolina) → permitem furos de maior diâmetro, atingindo maiores profundidades e atravessando solos mais compactos e mais rijos. A Figura 3.3 mostra a execução de uma sondagem com trado mecânico. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 3.3 – Execução de sondagem com trado mecanizado A Figura 3.4 apresenta a retirada de amostra deformada de solo de um trado do tipo concha. Figura 3.4 – Retirada de amostra deformada de solo através da sondagem a trado Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A NBR 6484 estabelece que a sondagem deve ser executada com o trado concha até 1 metro de profundidade e depois passando para o trado espiral até atingir o nível d’água. Após o nível d’água, sondagem à percussão. 3.4.2 Sondagem à Percussão Na sondagem á percussão o terreno é perfurado através do golpeamento do fundo do furo com peças de aço cortantes. O processo de circulação de água facilita o corte e traz até a superfície o material desagregado. A ABNT padroniza a sondagem a trado até o NA, abaixo do NA a sondagem a percussão com circulação de água e em intervalos de profundidade a realização de amostragem e do ensaio de penetração SPT (Standard Penetration Test – Teste padrão de penetração). O SPT, originário dos EUA, é o mais difundido método de prospecção geotécnica do Brasil. A sondagem a percussão é um procedimento geotécnico de campo, capaz de amostrar o subsolo e quando associada ao ensaio de penetração, mede a resistência do solo ao longo da profundidade perfurada. A sondagem SPT apresenta as seguintes vantagens: – Custo relativamente baixo; – Facilidade de execução e possibilidade de trabalho em locais de difícil acesso; – Permite descrever o subsolo em profundidade e a coleta de amostras; – Fornece um índice de resistência a penetração correlacionável com a compacidade ou a consistência dos solos; – Possibilita a determinação do nível freático. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa O equipamento para execução da sondagem à percussão (Figura 3.5) é composto por: – Tripé com sarrilho, roldana e cabo; – Tubos de revestimento: diâmetro interno = 2 ½”, 3”, 4” ou 6”; – Hastes de aço : diâmetro interno = 25mm, diâmetro externo= 33,7mm (3,23 kg/m); – Martelo cilíndrico ou prismático para cravação das hastes e tubos de revestimento (peso = 65kg); – Amostrador padrão bipartido, dotado de dois orifícios laterais para saída de água e ar: diâmetro interno = 34,9mm e diâmetro externo = 50,8mm; – Conjunto motor-bomba para circulação de água na perfuração; – Trépano (peça de aço para o avanço por lavagem). Figura 3.5 – Sondagem à Percussão A Figura 3.6 mostra o serviço de execução de uma sondagem à percussão. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 3.6 – Execução de sondagem à percussão Na execução da sondagem á percussão são seguidos os seguintes procedimentos: a) Limpeza do terreno, abertura de sulcos para desvio de águas da chuva e construção de plataforma (se necessária); b) Marcação dos furos (piqueteamento); c) A sondagem inicia com o trado concha até onde possível, passando a utilizar trado helicoidal até o nível freático ou até atingido o impenetrável ao trado; d) A sondagem passa a utilizar o avanço por percussão com circulação d’água (lavagem); e) O sistema de circulação de água deve ser mantido a 30 cm do fundo do furo. f) Detritos pesados (não carreados com a circulação de água) devem ser retirados com bomba-balde (baldinho); g) São registradas as transições das camadas pela observação do material tradado ou trazido a superfície pela água de lavagem; Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa g) Deve ser registrado o nível freático e a presença de artesianismo. Os níveis d’água devem ser registrados diariamente durante a execução da sondagem e no dia seguinte ao término. A sondagem à percussão deve encerrar nos seguintes casos: • quando atingir a profundidade especificada na programação dos serviços; • quando ocorrer a condição de impenetrabilidade; • quando prevista a continuidade da sondagem por rotativa. Amostragem As amostras a serem obtidas são dos seguintes tipos (de metro em metro ou quando da mudança de material), sendo que no trado são obtidas amostras de +/- 500 gramas de solo. Os procedimentos do ensaio de penetração SPT são os seguintes: a) Deve ser executado a cada metro a partir de 1 m de profundidade; b) O fundo do furo deve estar limpo; c) O ensaio consiste na penetração do amostrador padrão através do impacto de um martelo de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm. O martelo deve ser erguido manualmente por corda e polia; d) Apoiado a amostrador verticalmente no fundo do furo, o martelo é suavemente apoiado sobre a composição → a penetração decorrente corresponderá a zero golpes; e) Não tendo ocorrido penetração igual ou maior que 45 cm com o procedimento anterior → inicia-se a cravação do amostrador pela queda do martelo a 75 cm, anotando-se o número de golpes necessários para cravação de cada 15 cm; f) O índice de resistência a penetração obtido do ensaio (Nspt) consiste no número de golpes necessários para cravaçãodos 30 cm finais do amostrador; g) A cravação do amostrador é interrompida e o ensaio de penetração suspenso quando se obtiver penetração inferior a 5 cm após 10 golpes consecutivos ou quando o número de golpes ultrapassar a 50 num mesmo ensaio. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Atingido o impenetrável ao SPT, havendo interesse no prosseguimento da sondagem por percussão, inicia-se o processo de avanço por lavagem para execução do ensaio de lavagem por tempo. São anotados os avanços obtidos a cada período de 10 min de lavagem. Quando, no mesmo ensaio de lavagem por tempo forem registrados avanços inferiores a 5 cm por 10 min, em três períodos consecutivos utiliza-se o termo impenetrável ao trépano. Não é recomendada a adoção do critério de impenetrável ao trépano para término da sondagem quando está previsto continuidade por sondagem rotativa. Utiliza- se o critério de impenetrável ao SPT. Os resultados da sondagem devem ser apresentados da seguinte forma: Relatório de Sondagem que irá conter: • Croqui do terreno com a localização dos furos; • Perfis individuais de cada furo; • Perfis longitudinais ao longo do alinhamento dos furos. Indicações indispensáveis em cada perfil individual: • Cotas em relação a um referencial; • Posições de amostragem; • Indicação do nível d’água (durante a sondagem e após 24 h); • Indicação do NSPT ao longo da profundidade; • Resultados de ensaios de avanço por lavagem; • Descrição das camadas → tipo de solo,consistência/compacidade, cor e demais características perceptíveis; • Motivo de paralisação do furo. A Figura 3.7 mostra um exemplo de como é apresentado um perfil de um furo de sondagem em um relatório de sondagem. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 3.7 – Descrição de um furo de sondagem Índice de Resistência a Penetração (Nspt) O Nspt é a soma do número de golpes necessários a penetração dos 30 cm finais do amostrador padrão. Ex. 40, 37, 8. Apresentação : - O amostrador penetra somente com o peso do martelo → zero golpes; - O solo é tão inconsistente ou fofo que ao primeiro golpe penetra mais do que os 45 cm do amostrado, indica-se associado a este golpe a profundidade penetrada. Ex: 1/58; - O solo é tão compacto que não se consegue cravar todo o amostrador, indica-se a razão golpes/profundidade. Ex: 30/15. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A Figura 3.8 apresenta um exemplo de um furo de sondagem mostrado no relatório de sondagem levando em consideração o ensaio SPT. Figura 3.8 – Descrição de um furo de sondagem a percussão SPT Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Pela obtenção dos valores de NSPT é possível fazer uma correlação com a compacidade (areias e siltes arenosos) e consistência (argilas e siltes argilosos) fornecendo uma ideia de resistência do solo analisado. A Tabela 3.2 mostra esta correlação. Tabela 3.2 – Correlação entre Nspt e compacidade e consistência dos solos. Quanto maior a compacidade ou consistência do solo, maior a resistência deste solo. Existem vários fatores que influenciam o valor do Nspt, podendo citar: • Fatores ligados ao equipamento – forma, dimensões e estado de conservação do amostrador; – peso e estado de conservação das hastes; – martelo de bater e superfície de impacto fora de especificação. • Fatores ligados a execução da sondagem – variação na energia de cravação (altura do martelo, atrito); – procedimento de avanço da sondagem; – má limpeza do furo; – furo de diâmetro insuficiente a passagem do amostrador; – erro na contagem do número de golpes. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 3.4.3 Sondagem Rotativa A sondagem rotativa é um conjunto motomecanizado projetado para obtenção de amostras contínuas de materiais rochosos através de ação perfurante dada for forças de penetração e rotação. É empregada quando a sondagem de simples reconhecimento atinge estrato rochoso, matacões ou solos impenetráveis a percussão. As sondagens rotativas permitem: - Obtenção de amostras → testemunhos de sondagem; - Determinação da permeabilidade in situ → ensaios de perda d’água. A execução da sondagem rotativa é feita: - Perfura-se o solo ou rocha por meio de um amostrador (barrilete) com uma broca rotativa (coroa) acoplada na extremidade de uma haste rotativa oca; - Um motor (elétrico ou a combustão) produz movimento rotativo à broca; - Corrente de água injetada sob pressão por uma bomba no interior da haste, atua no resfriamento e lubrificação, retornando à superfície os fragmentos das rochas perfuradas através dos revestimentos e do furo aberto pela broca. Equipamentos da Sondagem Rotativa Principais componentes → sonda rotativa, bomba d’água, hastes, barriletes, coroas e tubos de revestimento. Sonda rotativa: - motor → diesel, a gasolina ou elétrico; - guincho → tambor onde á enrolado cabo de aço, dotado de embreagem e freio. Usado no manejo das hastes e revestimento e na remoção dos testemunhos; - cabeçote de perfuração → faz girar a coluna de perfuração e exerce pressão sobre a ferramenta de corte. Hastes :Tubos (1,5 a 6 m). Transmite movimentos de rotação e penetração à ferramenta de corte. Conduz água para refrigeração e limpeza do furo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa As Figuras 3.9 e 3.10 apresentam sondas rotativas. 3.9 – Sondas rotativas Figura 3.10 – Execução de uma sondagem rotativa Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Operação de sondagem rotativa - A sonda é instalada sobre plataforma ancorada no terreno; - O conjunto (hastes, barrilete e coroa) é acionado junto com o sistema de circulação d’água. - Operação de manobra → ciclos sucessivos de corte e retirada dos testemunhos. O comprimento da manobra de perfuração é função do comprimento do barrilete (1,5 a 5 m) e da qualidade do material perfurado. - Ao final da manobra o barrilete é retirado do furo e os testemunhos cuidadosamente removidos; - Os testemunhos são dispostos nas caixas de testemunhos (Figura 3.11) e medidos após arrumação que recomponha a disposição no barrilete. Figura 3.11 – Caixa de testemunhos Apresentação dos resultados – Registros sobre o tipo de sonda e diâmetros utilizados; – Natureza dos terrenos perfurados; – Número de fragmentos em cada testemunho; – Descrição detalhada dos testemunhos: • classificação litológica; • estado de alteração da rocha; • grau de fraturamento (no de fraturas/metro); Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa • recuperação • RQD (rock quality designation) Classificação Litológica A Classificação litológica é baseada na mineralogia dos materiais, consiste de uma classificação geológica simplificada, sendo que em muitos casos as informações implícitas são úteis. Por exemplo: - Maciços calcários Grutas, vazios. - Materiais graníticos Boa resistência, Dificuldade de escavação. Estado de Alteração da rocha Quanto a rocha está alterada visualmente. Este estado de alteração é retirado da Tabela 3.3. Tabela 3.3 – Estado de alteração das rochas O estado de alteração da rocha também pode ser complementado pelo chamado grau de coerênciada rocha, que fornece uma ideia de resistência da rocha conforme disposto na Tabela 3.4. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Tabela 3.4 – Grau de Coerência da rocha Grau de Fraturamento da rocha Número de fragmentos por metro, ou por manobra de sondagem executada, conforme mostra a Tabela 3.5. Tabela 3.5 – Grau de fraturamento da rocha Recuperação Porcentagem do comprimento total de amostragem recuperada pelo testemunho ⇒ f (fraturamento e alteração da rocha). Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa RQD (Rock Quality Designation) Determina a qualidade da rocha. O valor do RQD é multiplicado por 100 para obtenção do resultado em porcentagem e fornece a qualidade do maciço rochoso, sendo que quanto maior o valor do RQD maior é a resistência do maciço, conforme exemplifica a Tabela 3.6. Tabela 3.6 – Qualidade do maciço rochoso em função do RQD Exemplo de cálculo de RQD: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 4 – PLASTICIDADE, COMPACIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS 4.1 Introdução A plasticidade é uma característica básica dos solos argilosos. Trata-se da capacidade que estes solos possuem em suportar deformações rápidas (ruptura), sem sofrer variações volumétricas notáveis, muito menos deformações por fissuração. Isto ocorre porque, a forma das partículas permite um deslocamento relativo entre elas, sem necessidade de variação de volume, desde que a água intersticial possa funcionar como uma partícula lubrificante. Entretanto, se existir água em demasia, as partículas se comportam como se estivessem em suspensão e o corpo não será mais plástico e sim um líquido viscoso. Por outro lado, se existir pouca água, as forças capilares serão muito grandes e os grãos se aglutinarão, formando torrões quase sólidos, que não poderão ser moldados e, ao sofrerem esforços de deformação, se quebrarão. O método para analisar esta plasticidade ou consistência de um solo argiloso foi desenvolvido por Atterberg, daí o nome de Limites de Atteberg ou Limites de Consistência. A compacidade é uma característica de solos predominantemente arenosos, que são solos que normalmente possuem uma ampla drenagem e que não reagem com a água. 4.2 Limites de Consistência ou Limites de Atteberg Considere-se uma amostra com teor de umidade muito alto. Ela estará como um líquido, ao que denominaremos estado líquido. À medida que a água evapora, a amostra diminui de volume e endurece. Para certo valor de umidade, ela perde sua capacidade de fluir, porém pode ser moldada facilmente e conservar sua forma. Ela encontra-se, agora, no Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa estado plástico. Ao continuar a perdendo umidade, o volume da amostra continua decrescendo. O estado plástico desaparece até que, para outro valor de umidade, o solo se desmancha ao ser trabalhado, estado semi-sólido. Se a secagem ainda continuar, ocorrerá a passagem para o estado sólido e a amostra não reduz mais seu volume. Cada passagem de estado da amostra de solo representa um limite, que são os chamados limites de consistência ou limites de Atteberg, os quais são demonstrados na Figura 4.1. Figura 4.1 – Gráfico representativo dos Limites de Consistência Estes estados apresentados na Figura 4.1 são os estados de consistência e suas fronteiras são os limites de consistência. A cada um destes limites corresponde uma resistência ao cisalhamento potencial do solo. Estes limites dependem principalmente da espécie mineralógica da fração argilosa, estrutura, forma, tamanho dos grãos e umidade. A Figura 4.2 apresenta os estados de solo em função da variação de tensão com o aumento da umidade do solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 4.2 – Tensão versus umidade no solo Para complementar o processo de caracterização, são executados ensaios para obtenção destes limites - Limite de liquidez (LL) e limites de plasticidade (LP). A partir destes, outros índices, tais como índice de plasticidade (IP), índice de atividade das argilas (IA), índice de liquidez (IL), podem ser calculados para auxiliar na classificação dos solos. 4.2.1 Limite de Liquidez (LL) Uma forma de determinar o Limite de Liquidez é através do aparelho de Casagrande (NBR 6.459). O ensaio consiste em adicionar água a uma amostra de solo previamente peneirada, até que se forme uma pasta. Esta pasta é, então, colocada na concha do aparelho de Casagrande, logo após faz-se uma ranhura no mesmo. São dados golpes na concha até que a ranhura se feche em, aproximadamente, 1,3 mm, logo após determina-se o teor de umidade correspondente. Este procedimento é repetido com diferentes teores de umidades. Na impossibilidade de fechar a ranhura dentro do limite de 15 a 35 golpes, diz-se que o solo não possui limite de liquidez. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A Figura 4.3 apresenta um ensaio de Limite de Liquidez. Figura 4.3 – Execução de um Ensaio de Limite de Liquidez Os teores de umidade do solo são definidos pela relação de massa no solo. Ou seja, uma amostra de solo úmida é coletada durante o ensaio e sua massa determinada. Em seguida esta amostra é levada para estufa a uma temperatura de 1050C por um período mínimo de 24 horas. Na estufa a água do solo úmido irá evaporar sobrando apenas o solo seco. Passado este período mínimo de tempo, é determinada novamente a massa deste solo seco e o teor de umidade é obtido pela seguinte equação: 100. M MM s suw Onde: w = teor de umidade; Mu = massa úmida de solo; Ms = Massa seca de solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Definidos pelo menos três teores de umidade de acordo com o procedimento anterior, plota-se um gráfico cuja ordenada representa teores de umidade e abscissa número de golpes correspondente, em escala logarítmica. Por definição, o limite de liquidez corresponderá ao teor de umidade que proporciona o fechamento da ranhura com os 25 golpes. O resultado é obtido por meio de interpolação linear ajustando-se uma reta pelos pontos obtidos. A Figura 4.4 exemplifica o gráfico resultante do ensaio de Limite de Liquidez. Figura 4.4 – Exemplo de um gráfico resultante do ensaio de Limite de Liquidez Pela Figura 4.4 pode-se notar que o Limite de Liquidez corresponde a 26, ou seja, o teor de umidade que proporciona o fechamento da ranhura com 25 golpes é igual a 26%. 4.2.2 Limite de Plasticidade (LP) O Limite de Plasticidade (NBR 7.180) é o teor de umidade em que o solo começa a se fraturar quando se tenta moldar com ele, um cilindro com dimensões de 3 mm de diâmetro e cerca de 10 cm de comprimento. O procedimento é repetido até que se obtenham pelo menos 3 valores de umidade que difiram menos que 5% de sua respectiva média. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Na impossibilidade de moldar o cilindro nas condições prescritas por norma, diz-se que o solo não possui limite de plasticidade. A Figura 4.5 apresenta a execução de um ensaio de Limite de Plasticidade. Figura 4.5 – Ensaio de Limite de Plasticidade Exemplo de resultado de um Ensaio de Limite de Plasticidade Disciplina:Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Para o exemplo anterior, o limite de plasticidade foi de 18%, ou seja, para o teor de umidade igual a 18% o rolinho de solo com dimensões 3 mm de diâmetro e cerca de 10cm de comprimento de torna-se quebradiço ao ser rolado sobre a mesa. 4.2.3 Limite de Contração (LC) O solo se contrai, gradualmente, na medida em que sua umidade é diminuída, até que um estágio de equilíbrio seja alcançado. No momento em que este equilíbrio é alcançado, a perda de umidade não mais resulta em perda de volume (contração). O teor de umidade a partir do qual a amostra não reduz mais seu volume é definido como limite de contração (LC) (ABNT 7.183). A Figura 4.6 exemplifica o processo de contração do solo. Figura 4.6 – Limite de contração do solo Na equação para o cálculo do Limite de Contração mostrada na Figura 4.6, γw representa o peso específico da água que se constitui de um valor tabelado, sendo de 1 g/cm3 ou em termos de força, levando em consideração a gravidade, 9,8 kN/m3. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 4.3 Índice de Plasticidade (IP) Fisicamente, este índice representa a quantidade de água que seria necessário acrescentar a um solo, para que ele passasse do estado plástico ao líquido. É definido como a diferença entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade. Este índice determina o caráter de plasticidade de um solo, assim, quanto maior o IP, mais plástico será o solo. Sabe-se, ainda, que quanto maior for o IP, mais compressíveis são as argilas e, consequentemente, menos resistentes. O Índice de Plasticidade (IP) é calculado através da seguinte expressão: LPLLIP Onde LL = Limite de Liquidez e LP = Limite de Plasticidade A Tabela 4.1 mostra a classificação do solo quanto a sua plasticidade. Tabela 4.1 – Classificação do solo de acordo com o IP 4.4 Índice de Atividade de Argilas (IA ou A) Skempton propôs um índice, conhecido como índice de atividade (IA) ou simplesmente atividade (A), que serve como indicação da maior ou menor influência da fração argilosa nas propriedades geotécnicas de um solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Este índice indica também o potencial de expansão deste solo e é obtido pela seguinte expressão: ilosafração IP AIA arg% Onde IP = Índice de Plasticidade do solo e a % fração argilosa é obtida através do ensaio de Análise Granulométrica Conjunta, que fornece quanto de argila, em termos de porcentagem o solo analisado possui. Pelo resultado do IA, verifica-se o potencial de expansão do solo pelos seguintes valores: 4.5 Índice de Consistência do Solo (IC) O índice de consistência (IC) é a relação entre a diferença do limite de liquidez para umidade natural e o índice de plasticidade. É obtido pela seguinte fórmula: Onde: LL= Limite de Liquidez; w = Teor de umidade do solo no estado natural; IP = Índice de plasticidade. IP wLL IC )( Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A medição da consistência das argilas é feita como mostrado a seguir: - Muito Moles < 0 - Mole: 0 a < 0,5 - Média: 0,5 a < 0,75 - Rija: 0,75 a 1 - Dura > 1 Qualitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado do seguinte modo: - Muito moles: as argilas que escorrem com facilidade entre os dedos, se apertadas nas mãos; - Moles: as que são facilmente moldadas pelos dedos; - Médias: as que podem ser moldadas pelos dedos; - Rijas: as que requerem grande esforço para serem moldadas pelos dedos; - Duras: as que não podem ser moldadas pelos dedos e que, ao serem submetidas o grande esforço, desagregam-se ou perdem sua estrutura original. 4.6 Compacidade do Solo A compacidade de um solo, também conhecida como densidade relativa do solo (DR) é um índice utilizado para determinar o grau de compactação de um material granular, não coesivo, como as areias. Quando o solo apresenta compacidade relativa DR = 100%, significa que ele está em sua máxima compactação e, consequentemente com índice de vazios mínimo, apresentando uma resistência alta. Por outro lado se DR= 0%, a compactação é mínima e o índice de vazios do solo é máximo, ou seja, o solo está no estado mais fofo possível. A densidade relativa ou compacidade do solo (DR) é obtida pela equação: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 100. minmax max ee e e DR Onde: emáx = Índice de vazios na condição mais fofa possível; emin = Índice de vazios na condição mais densa possível; e = Índice de vazios no estado natural do solo. Com os valores de DR é possível obter a classificação do solo através da Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Descrição do solo de acordo com os valores de compacidade Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 5 – PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO 5.1 Introdução As propriedades índices permitem indicar o tipo de solo que deve ser utilizado para cumprir melhor um determinado objetivo. Servem para classificá-lo, prever seu comportamento em determinadas condições, avaliar a aprovação ou descarte de jazidas, obter parâmetros para cálculos de pressões, permeabilidade, resistência, etc. São usados no cálculo em todas as áreas da Geotecnia: fundações, dispositivos de drenagem, estabilidade de taludes, barragens de terra, muros de arrimo, bases e sub- bases de rodovias e ferrovias, estudo e prevenção de acidentes, misturas de materiais e outros. O estudo das propriedades índices do solo tem como objetivo definir os índices físicos usados em geotécnica, calcular massas (ou pesos) e volumes das três diferentes fases do solo (Figura 5.1). Figura 5.1 – Representação das três fases do solo Os índices físicos são: - Teor de umidade (w); - Porosidade (n); - Índice de vazios (e); Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - Grau de saturação (S); - Densidade específica do solo (ρ) ou Peso específico do solo (γ) que podem ser no estado natural, seco, saturado, submerso e dos sólidos do solo; - Densidade relativa do solo (G ou Gs). Para a determinação dos índices físicos do solo existem várias formulações matemáticas obtidas pelo Digrama de fases do solo (Figura 5.2). Através de ensaios laboratoriais é possível conhecer o teor de umidade do solo, densidade do solo e a densidade específica dos sólidos, todos os outros índices físicos são obtidos através das fórmulas. Figura 5.2 – Diagrama de Fase do Solo 5.2 Teor de Umidade (w) O teor de umidade (w) é a relação entre o peso da água existente no solo e o peso das partículas sólidas. 100. Ms w M w (Expresso em %) Onde: Mw = Massa de água e Ms = Massa de sólidos Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 5.3 Porosidade (n) A porosidade (n) do solo corresponde ao volume do solo não ocupado por partículas sólidas, incluindo todo o espaço poroso ocupado pelo ar e água. A porosidade total inclui a macroporosidade e a microporosidade. Entre as partículas maiores, como de areia ou entre agregados, predominam poros grandes (macroporos); entre partículas pequenas, como a deargila, predominam poros pequenos (microporos). Os macroporos são responsáveis pela aeração, movimentação de água e penetração de raízes, e os microporos são responsáveis pela retenção de água no solo. A Figura 5.2 representa a porosidade do solo. Figura 5.2 – Representação dos poros no solo A porosidade (n) é a relação entre o volume de vazios (água e ar) e o volume total. V n V v (Expresso em %, multicplica por 100) Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Onde: Vv = Volume de vazios e V = Volume total Variação: 0 – 100%. Quando o solo está saturado, o volume de água iguala-se ao volume de vazios. Quanto mais poroso for o solo maior será sua capacidade de infiltração e menor sua capacidade de retenção. Neste sentido, este parâmetro tem sido largamente utilizado em estudos de percolação em geotecnia. 5.4 Índice de Vazios (e) Possui sua magnitude determinada através da razão entre o volume de vazios do solo e o volume das partículas sólidas. V V s ve No que se refere à relevância para a engenharia, o índice de vazios é de suma importância, principalmente, para a avaliação, mesmo que indireta, da resistência ao cisalhamento do solo, de seu modelo crítico, estudos de comportamento tensão deformação, permeabilidade e adensamento. É importante destacar que o índice de vazios tem aplicação direta, além do cálculo de outros índices físicos, no estudo da densificação de solos. Quando uma massa de solo diminui de volume, isto se dá pela redução do volume de vazios, fenômeno conhecido como densificação ou contração. Uma densificação pode ser causada por vibração, em solos não coesivos ou compactação (aplicação de energia) em solos coesivos. A Figura 5.3 ilustra a alteração da estrutura que ocorre na ruptura de uma massa de solo granular em função de seu índice de vazios inicial. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 5.3 – Alteração da estrutura do solo em função do índice de vazios 5.5 Grau de Saturação (S) O grau de saturação (S) representa a porcentagem do volume de vazios do solo que está preenchida por água. Quando o solo está com todos os vazios preenchidos por água tem-se um solo saturado, ou seja, S=100%. É definido como a razão entre o volume de água e o volume de vazios existe em uma massa de solo, e comumente expresso em porcentagem. V V v wS ( Expresso em %, multiplica por 100) Onde: Vw = Volume de água e Vv = Volume de vazios. Variação: 0 ( solo completamente seco) a 100% (solo saturado). A Figura 5.4 demonstra o grau de saturação do solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 5.4 – Grau de saturação do solo O grau de saturação influencia a geração de poropressões e, desta forma, altera as tensões efetivas existentes, consequentemente, influi na resistência ao cisalhamento do solo. Quando o solo está não saturado pode haver poropressão negativa, sucção. Este fenômeno é de suma importância para a geotecnia, principalmente no que se refere às análises de estabilidade. À medida que se aumenta a saturação de um solo, reduz-se a sucção existente e, desta forma, reduz-se também sua resistência. 5.6 Densidade ou Massa Específica do Solo (ρ) A densidade ou massa específica do solo (ρ) é por definição a massa de solo, por unidade do volume ocupada por esta massa. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa V M (g/cm3 ou Kg/m3) Onde: M = Massa de solo e V = Volume de solo A densidade ou massa específica do solo pode ser: - Úmida ou Estado natural (ρ) – Quando o solo está no seu estado natural; - Seca (ρd) – Quando o solo encontra-se completamente seco, relação entre massa de solo seco e volume. - Saturada (ρsat) – Quando todos os vazios do solo estão preenchidos com água; - Sólidos (ρs) – Corresponde a densidade dos grãos do solo ou dos sólidos do solo; - Submersa (ρsub) – Quando o solo encontra-se embaixo de água (Ex. fundo de um lago). - Água (ρw) – É a densidade ou massa específica da agua e corresponde a um valor tabelado igual a 1 g/cm3 ou 1000 kg/m3. Da mesma forma que existe a densidade ou massa especifica, se levar em consideração a força da gravidade, o cálculo pode ser feito por “Peso específico do solo (γ)”. g. Onde: ρ = Densidade ou massa específica do solo e g = força da gravidade. Desta forma, tem-se: - Peso específico natural ou úmido (γ): Quando o solo está no seu estado natural; - Peso específico seco (γd): Quando o solo está completamente seco; - Peso específico saturado (γsat): Quando todos os vazios do solo estão preenchidos com água; - Peso específico submerso (γsub): Quando o solo encontra-se debaixo d’água; - Peso específico dos sólidos (γs): É o peso específico dos grãos do solo ou dos sólidos do solo; Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa - Peso específico da água (γw): É o peso específico da água, sendo um valor tabelado de 9,81 kN/m3. Existem várias fórmulas matemáticas para o cálculo dos pesos específicos do solo, sendo que em todas fórmulas, γ pode ser substituído por ρ, sendo que a única diferença é que quando se calcula em termos de densidade ou massa específica, não está levando em consideração a força gravitacional. Um parâmetro bastante utilizado na maioria dos cálculos dos índices físicos é a chamada Densidade Relativa do Solo (G ou Gs). A densidade relativa do solo é obtida através do ensaio de Massa Específica dos Grãos ou Sólidos do Solo (NBR 6.508). Pelo ensaio é obtido o ρs ou γs e a partir deles obtém-se o Gs dividindo-se pelo ρw ou γw. Para a maioria dos solos o Gs ou G varia de 2,65 a 2,85. Solos com muita matéria orgânica pode ser menor que 2 e solos com substâncias pesadas (ferro) pode ser maior que 3. Tem sido comum o uso aproximado do peso específico dos solos em geotecnia, como 20 kN/m3 para solos saturados, 18 kN/m3 para solos na umidade natural (peso específico natural) e 16 kN/m3 para solos secos. Porém o ideal para obtenção dos valores exatos é a obtenção do Gs pelo ensaio laboratorial e a partir dele calcular o peso específico correto, pois cada tipo de solo apresenta propriedades distintas. 5.7 Fórmulas utilizadas para cálculo dos índices físicos do solo Existem diversas fórmulas matemática para o cálculo dos índices físicos dos solos, sendo que todas elas vieram de correlações do Diagrama de Fase do Solo. w s w sGsG Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A seguir, algumas das principais relações: eSwGs .. e e n 1 n n e 1 wsatsub A Tabela 5.1 apresenta todas as fórmulas dos índices físicos usadas para cálculo dos pesos específicos no estado natural, seco e saturado. Tabela 5.1 – Fórmulas para cálculos dos índices físicos do solo Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 6 – TEXTURA E ESTRUTURA DOS SOLOS 6.1 Estrutura dos Solos Os solos são formados por grãos de diferentes formas e tamanhos. Partículas de solo se juntam formando os agregados do solo ou torrões (Figura 6.1). Figura6.1 – Exemplo de um torrão A estrutura dos solos refere-se aos agregados formados pelas partículas (tamanho, forma e aspecto do conjunto de solo). Analisa o torrão ou o bloco, não a camada de solo. Os principais tipos de estrutura dos solos são: - Estrutura granular: Forma de grãos com faces arredondadas. - Estrutura angular ou subangular: Faces planas ou quase planas, dimensões verticais e horizontais aproximadas. - Estrutura laminar: Faces planas, dimensões horizontais diferentes das verticais. - Estrutura prismática: Faces planas, dimensões verticais maiores que horizontais. - Estrutura colunar: Dimensões verticais maiores que horizontais com face superior arredondada. A Figura 6.2 representa cada tipo de estrutura dos solos. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 6.2 – Tipos de estrutura dos solos A estrutura do solo influencia no fluxo de água. Estrutura granular o fluxo passa mais rápido, prismática fluxo moderado e laminar apresenta fluxo de água lento. 6.2 Textura do solo A textura do solo é a composição em relação ao tamanho dos grãos. Proporções de partículas de areia, silte e argila. É identificada pela análise granulométrica do solo. - Análise Granulométrica do Solo A análise granulométrica do solo consiste de um procedimento básico para quantificar o tamanho das partículas do solo. Usualmente, têm-se 2 formas: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa 1- Análise granulométrica feita por peneiramento (Figura 6.3) para materiais mais grossos, que não passam na peneira de número 200 (#200; diâmetro maior que 0,075mm); 2- Análise por sedimentação (Figura 6.4) para partículas menores que 0,075 mm, que passam na #200. A combinação destes dois métodos define a denominada Análise Granulométrica Conjunta do Solo. Figura 6.3 – Análise granulométrica por peneiramento Figura 6.4 – Análise granulométrica por sedimentação Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa O ensaio de Granulometria é feito com base nos procedimentos apresentados na norma NBR7181 - Solo: Análise Granulométrica, que prescreve o método para análise granulométrica do solo. O peneiramento é executado passando o solo seco por um conjunto de peneiras (Figura 6.5) de malhas definidas e pensando o solo que ficou retido em cada peneira, obtendo a porcentagem de cada tamanho de material. Figura 6.5 – Peneiras utilizadas na análise granulométrica do solo por peneiramento A Tabela 6.1 apresenta a abertura correspondente de diversas peneiras utilizadas no ensaio de granulometria por peneiramento. Tabela 6.1 – Tamanho da abertura de peneiras Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Já a sedimentação é realizada apenas para solos muito finos < 0,075 mm. O ensaio é baseado na Lei de Stokes, segundo a qual a velocidade de queda, V, de uma partícula em um meio viscoso é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula. Sendo assim as menores partículas se sedimentam mais lentamente que as maiores. O ensaio de sedimentação é realizado medindo-se a densidade de uma suspensão de solo em água, no decorrer do tempo. A partir da medida de densidade da solução no tempo, calcula-se a porcentagem de partículas que ainda não sedimentaram e a velocidade de queda destas partículas (densímetro). Com o uso da Lei de Stokes pode-se determinar o diâmetro máximo das partículas ainda em suspensão, completando a curva granulométrica (resultado do ensaio de Granulometria Conjunta). Abaixo segue o cálculo do diâmetro dos grãos no processo de sedimentação: Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa O produto final da análise granulométrica é a denominada curva granulométrica (Figura 6.6), que é, basicamente, um gráfico cuja abscissa representa os diâmetros equivalentes e a ordenada representa as porcentagens acumuladas retidas nas peneiras. A partir desta curva é possível avaliar a graduação e a uniformidade do solo, além de servir como base para sua classificação. Figura 6.6 – Exemplo de uma curva granulométrica do solo Para se avaliar quantitativamente uma curva granulométrica são utilizados 3 parâmetros: 1- Diâmetro efetivo ou equilvalente (D10); 2- Coeficiente de uniformidade (CU); 3- Coeficiente de curvatura (Cc). 1- Diâmetro efetivo ou equivalente (D10) Corresponde ao ponto característico da curva granulométrica que corresponde ao ponto de 10% mais fino, tal que 10% das partículas do solo possuem diâmetros inferiores a ele. A Figura 6.7 mostra como o D10 é obtido. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 6.7 – Obtenção do valor do D10 em uma curva granulométrica 3- Coeficiente de Uniformidade (CU) A avaliação da uniformidade do solo é obtida através do cálculo do coeficiente de uniformidade (CU). Fornece uma ideia de como se dá a distribuição do tamanho das partículas do solo. É calculado com base na seguinte expressão: D DCU 10 60 Da mesma forma que foi definido D10, define-se D60 para calcular a uniformidade. A Figura 6.8 mostra a classificação da uniformidade do solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 6.8 – Uniformidade do solo 3 – Coeficiente de Curvatura (Cc) O coeficiente de curvatura (Cc) quantifica a forma e simetria da curva granulométrica. Para um solo bem graduado, o valor do coeficiente de curvatura, deverá estar entre 1 e 3. Para solos granulares há maior interesse no conhecimento do tamanho das partículas, visto que, algumas de suas propriedades (resistência, quebra de grãos, etc.) estão relacionadas com os mesmos. O coeficiente de curvatura é calculado pela seguinte expressão: DD DCc 6010 2 30 . Da mesma forma que é definido D10 e D60, define D30. A Figura 6.9 apresenta a graduação do solo. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 6.9 – Representação da graduação do solo Os solos bem graduados são os que possuem grande faixa granulométrica, aqueles com pequena faixa granulométrica são denominados uniformes. São solos geralmente mais resistentes, apresentam menor índice de vazios, têm menor compressibilidade e maior número de contatos grão-grão, que os solos uniformes. A Figura 6.10 apresenta as curvas granulométricas típicas do solo. Figura 6.10 – Curvas granulométricas típicas Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa CAPÍTULO 7 – CLASSIFICAÇÕES DO SOLO 7.1 Classificação do Solo segunda à granulometria A classificação granulométrica é uma técnica pela qual os diversos tipos de solos são agrupados e designados em função das frações preponderantes dos diversos diâmetros de partículas que os compõem. Estas frações são obtidas através da análise granulométrica. Este tipo de classificação deve ser avaliado com cautela pois, o comportamento do solo nem sempre é condicionado pela fração predominante, apesar dessa restrição, a análise granulométrica é universalmente utilizada. Não há uma única definição para os intervalos de variação dos diâmetros das partículas. Existem várias escalas em uso pelo mundo como, por exemplo, a Classificação Internacional utilizada pelo MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e oSistema de Classificação da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Em geral as partículas do solo são agrupadas em diferentes tamanhos , sendo estas: pedregulho, areia, silte e argila. Estas faixas de tamanho correspondem as escalas granulométricas do solo. As principais escalas são: - M.I.T. (Instituto Tecnológico de Massachusetts - Centro universitário de educação e pesquisa privado localizado em Cambridge, Massachusetts, EUA); - AASHTO (Associação Americana de Oficiais de Estradas Estaduais e Transportes – EUA); - ASTM (Associação Americana para Testes e Materiais, órgão americano de normatização de vários materiais, produtos, sistemas e serviços). No Brasil utiliza-se a escala ABNT. A Figura 7.1 apresenta as escalas granulométricas. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa Figura 7.1 – Escalas Granulométricas Os materiais têm comportamentos mecânicos distintos e normalmente são encontrados misturados na natureza. A depender da quantidade relativa de cada material, faz-se a denominação do tipo de solo levando em consideração as porções mais quantificadas nos ensaios de granulometria e sedimentação. Por exemplo: areia siltosa, areia silto-argilosa, silte arenoso, silte argilo-arenoso, argila areno-siltosa, etc. 7.2 Classificação unificada Os sistemas de classificação dos solos tem como objetivo estimar o provável comportamento do solo ou, pelo menos, orientar o programa de investigação necessário para permitir a adequada análise do problema. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A Classificação Unificada foi elaborada originalmente pelo Prof. Casagrande para obras de aeroportos e seu emprego foi generalizado. Atualmente é utilizado principalmente pelos geotécnicos que trabalham com barragem de terra. Primeiro considera a porcentagem de finos presentes no solo (material que passa na peneira de 0,075 mm). Se a porcentagem for < 50, solo de granulação grosseira (G ou S). Se for > 50, solo de granulação fina (M, C ou D). A Tabela 7.1 apresenta o tipo de solo, graduação e compressibilidade com a letra correspondente da classificação unifica. Tabela 7.1 – Classificação Unificada Exemplo: MWH = silte bem graduado com alta compressibilidade. 7.3 Sistema de Classificação AASHTO O sistema de Classificação AASHTO foi desenvolvido como o sistema da Administração de Estradas Públicas dos EUA, sendo submetido a várias revisões. Neste sistema o solo é classificado em 7 grupos principais de A-1 a A-7. Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa A-1, A-2 e A-3: materiais granulares, dos quais < 35% passam na peneira de 0,075 mm. A-4, A-5, A-6 e A-7: materiais finos (siltes ou argilas), dos quais > 35% passam na peneira de 0,075 mm. A Tabela 7.2 exemplifica a Classificação AASHTO. Tabela 7.2 – Classificação AASHTO Disciplina: Geotécnica Profa. Michele Cristina Rufino Barbosa REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo, Thomson Learning, 2007. 562p. OLIVEIRA, A. M. S. dos. Geologia de Engenharia, 8.ed. São Paulo: ABGE, 1998. 586 p. ORTIGÃO, J. A. R. Introdução a Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. 3ª edição. . Rio de Janeiro: Terratek, 2007. 391p. PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos, em 16 aulas. 1. ed. São Paulo: Oficina de textos, 2000. 368p. RIBEIRO, S. G. S. Notas de aula Mestrado Acadêmico em Geotecnia. Escola de Minas/UFOP. Ouro Preto – MG. SOBREIRA, F. Notas de aula Geologia de Engenharia. Escola de Minas/UFOP. Ouro Preto – MG. VARGAS, M. Introdução à Mecânica dos Solos, 1.ed. São Paulo: MCgraw-Hill do Brasil, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1977. 509p. VILLAR, L. F. Notas de aula Engenharia Civil. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte – MG.
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