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Superior Tribunal de Justiça AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.367.961 - PR (2010/0213154-4) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA AGRAVANTE : SERVIÇO DE HEMODINÂMICA DE ARAPONGAS S/S LTDA ADVOGADO : MARCELO DE LIMA CASTRO DINIZ E OUTRO(S) AGRAVADO : MUNICÍPIO DE ARAPONGAS ADVOGADO : IVAN FONÇATTI E OUTRO(S) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de agravo regimental interposto contra decisão assim ementada: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECOLHIMENTO DO ISS. DECRETO-LEI 406/68. SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS (MÉDICOS). ACÓRDÃO FUNDADO EM INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL E PROBATÓRIO. SÚMULA 07/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. 1. A sociedade civil faz jus ao benefício previsto no art. 9º, § 3º, do DL 406/68, desde que preste serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial. Precedentes. 2. O Tribunal de origem, com base na análise dos fatos, das provas e do contrato social afirmou que "a empresa apelante não possui direito à tributação fixa anual, consoante prevê o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68, devendo ser mantida a sentença, pois pela análise do contrato social constata-se que se trata de uma sociedade com caráter empresarial" (e-STJ fl. 19). 3. A revisão de tal entendimento implicaria sindicar matéria fático-probatória e cláusulas contratuais, o que é defeso na via especial. Inteligência da Súmula 07/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ". Inteligência da Súmula 05/STJ: "A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial" . 4. É patente que a divergência jurisprudencial suscitada não atende ao requisito da identidade fático-jurídica entre os acórdãos confrontados, uma vez que as peculiaridades do caso vertente não se encontram espelhadas nos paradigmas, os quais, a toda evidência, se lastrearam em fatos, provas e circunstâncias distintas das constantes dos autos sob análise. 5. Agravo de instrumento não provido (e-STJ fl. 217). Os embargos de declaração subsequentes foram rejeitados. No recurso especial interposto com apoio nas alíneas "a" e "c", do permissivo da Constituição da República, a recorrente alega que o acórdão recorrido infringiu o art. 9º, § 3º, do Decreto 406/68. Alega que estaria demonstrado o caráter não empresário da sociedade, preenchendo os requisitos necessários ao tratamento privilegiado do ISSQN, conforme preceitua o dispositivo de lei supracitado. Argumenta que faz jus à tributação diferenciada, tendo em vista que é formada exclusivamente por médicos. É o relatório. Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 9 Superior Tribunal de Justiça AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.367.961 - PR (2010/0213154-4) EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECOLHIMENTO DO ISS. DECRETO-LEI 406/68. SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS (MÉDICOS). ACÓRDÃO FUNDADO EM INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL E PROBATÓRIO. SÚMULA 07/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. 1. A sociedade civil faz jus ao benefício previsto no art. 9º, § 3º, do DL 406/68, desde que preste serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial. Precedentes. 2. O Tribunal de origem, com base na análise dos fatos, das provas e do contrato social afirmou que "a empresa apelante não possui direito à tributação fixa anual, consoante prevê o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68, devendo ser mantida a sentença, pois pela análise do contrato social constata-se que se trata de uma sociedade com caráter empresarial" (e-STJ fl. 19). 3. A revisão de tal entendimento implicaria sindicar matéria fático-probatória e cláusulas contratuais, o que é defeso na via especial. Inteligência da Súmula 07/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ". Inteligência da Súmula 05/STJ: "A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial" . 4. O argumento de que a sociedade em questão faria jus à tributação diferenciada, tendo em vista ser formada exclusivamente por médicos, por si só não é suficiente a embasar a tese da recorrente. 5. “As sociedades de profissionais liberais, malgrado formadas exclusivamente por médicos, constituíram-se formalmente como sociedades empresariais, de modo que a simples presença deles não representa elemento hábil a desfigurar a natureza comercial da atividade exercida” (AgRg no REsp 1.003.813/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 02/09/2008, DJe 19/09/2008). 6. Agravo regimental não provido. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Pretende a agravante que possa recolher o ISS em termos idênticos ao das sociedades uniprofissionais, já que todos os sócios são profissionais médicos, reunidos para a prestação de serviço dessa natureza. Não há como acolher-se a pretensão da agravante. Com efeito, em relação ao tratamento conferido às sociedades civis para incidência do ISSQN, a matéria não é nova nesta Corte Superior. A jurisprudência seimentou-se no sentido de que a sociedade civil faz jus ao benefício previsto no art. 9º, § 3º, do Decreto-Lei n.º 406/68, desde que preste serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial. Confiram-se os seguintes precedentes: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 9 Superior Tribunal de Justiça TRIBUTÁRIO. ISS. SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL. REGIME ESPECIAL DE TRIBUTAÇÃO. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A dispensa do recolhimento de ISS, prevista no artigo 9º, parágrafos 1º e 3º, do Decreto-Lei nº 406/68, exige que a sociedade seja uniprofissional, com responsabilidade pessoal, não alcançando as sociedades empresariais, como as sociedades por quotas cuja responsabilidade é limitada ao capital social. Precedentes. 2. Agravo regimental improvido (AgRg no REsp 1185792/MS, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe 03.08.2010); PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. ISS. SOCIEDADE CIVIL QUE PRESTA SERVIÇOS CONTÁBEIS. SOCIEDADE LIMITADA. FINALIDADE EMPRESARIAL. NÃO-INCIDÊNCIA DO ART. 9º, § § 1º E 3º, DO DECRETO-LEI N. 406/68. REVISÃO DAS CONCLUSÕES DO TRIBUNAL DE ORIGEM. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS N. 5 E 7 DESTA CORTE SUPERIOR. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA. ART. 535, II, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. 1. Prevê o art. 535 do CPC a possibilidade de manejo dos embargos de declaração para apontar omissão, contradição ou obscuridade na sentença ou acórdão. Não há, no presente arrazoado, qualquer indicação de omissão, contradição ou obscuridade capaz de subsidiar a oposição dos aclaratórios. 2. Incide a Súmula 211/STJ quando a matéria federal tida por violada não foi enfrentada no aresto a quo recorrido, malgrado a oposição dos embargos declaratórios. 3. O art. 9º, § 3º, do DL 406/68 concede às sociedades civis uniprofissionais, que têm por objeto a prestação de serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial, tratamento privilegiado quanto à cobrança do ISSQN. 4. A decisão agravada foi baseada na jurisprudência pacífica desta Corte, no sentido de que para fazer jus ao benefício disposto no art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei n. 406/68, a empresa deve caracterizar-se como sociedade uniprofissional, o que não se compatibiliza com a adoção do regime da sociedade limitada, em razão do caráter empresarial de que se reveste este tipo social. 5. Ademais, o Tribunal a quo, no acórdão combatido, destacou que, da análise dos documentos acostados nos autos, tem-se que a sociedade recorrente não preenche os requisitos no § 3º do art. 9º do Decreto-lei n. 406/68. 6. A parte recorrente pretende com a tese defendida é, na verdade, rever a premissa fixada pelo Tribunal de origem, soberano na avaliação do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que é vedado ao Superior Tribunal de Justiça por suas Súmulas n. 5 e 7. 7. Não houve a demonstração da exata similitude fático-jurídica entre os acórdãos tidos por divergentes e, tampouco o cotejo analítico entre eles, o que se afigura indispensável para a admissão do apelo especial, conforme os ditames estabelecidos pelo § 2º do art. 255 do RISTJ e art. 541, parágrafo único, do CPC. 8. Agravo regimental não provido (AgRg no Ag 1023655/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 29.04.2010). O cerne da questão consiste em definir se a recorrente faz jus ao tratamento favorecido, concedido às sociedades uniprofissionais, sem caráter empresarial, no que se refere à tributação do ISS. O Tribunal de origem, com base na análise dos fatos e das provas, decidiu que a ora agravante exerce atividade tipicamente empresarial, concluindo que "a empresa apelante não possui direito à tributação fixa anual, consoante prevê o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68, devendo Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 9 Superior Tribunal de Justiça ser mantida a sentença, pois pela análise do contrato social, constata-se que se trata de uma sociedade com caráter empresarial" (e-STJ fl. 70). É o que se infere da fundamentação do aresto impugnado a seguir transcrita: Cinge-se a controvérsia sobre a possibilidade de pagamento do ISSQN mediante aplicação de alíquota fixa, conforme previsto no § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68. Pretende a Apelante a declaração desse direito e a restituição dos valores pagos indevidamente. Para o cálculo do imposto por meio de alíquotas fixas, exige o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68, recepcionado pela Constituição Federal de 1988, o enquadramento da atividade da sociedade nos itens 1, 4, 8, 25, 52, 88, 89, 90, 91 e 92 da lista anexa ao Decreto mencionado e que cada profissional responda pessoalmente pelos serviços prestados, verbis: "Art. 9° A base de cálculo do imposto é o preço do serviço. § 1° Quando se tratar de prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte, o imposto será calculado, por meio de alíquotas fixas ou variáveis, em função da natureza do serviço ou de outros fatores pertinentes, nestes não compreendida a importância paga a título de remuneração do próprio trabalho. § 2° Na prestação dos serviços a que se referem os itens 19 e 20 da lista anexa o imposto será calculado sobre o preço deduzido das parcelas correspondentes: a) ao valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços; b) ao valor das subempreitadas já tributadas pelo imposto. § 3° Quando os serviços a que se referem os itens 1, 4, 8, 25, 52, 88, 89, 90, 91 e 92 da lista anexa forem prestados por sociedades, estas ficarão sujeitas ao imposto na forma do § 1°, calculado em relação a cada profissional habilitado, sócio, empregado ou não, que preste serviços em nome da sociedade, embora assumindo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicável." Além disso, o parágrafo único do art. 8º da Lei do Município de Arapongas n.º 3.072/2003 dispõe: "Considera-se prestação de serviços sob a forma de trabalho pessoal do próprio contribuinte, o simples fornecimento de trabalho por profissional autônomo qualificado, que não tenha, a seu serviço, empregado da mesma qualificação profissional e no máximo de dois empregados." Trata-se, portanto, de um regime especial que afasta a cobrança do ISSQN sobre o valor do serviço prestado, ou seja, o imposto passa a ser cobrado de forma fixa. E para ser enquadrada nesse regime fiscal é necessário que a sociedade não tenha caráter empresarial, seja uniprofissional, e que os sócios respondam pessoalmente por suas atividades. No caso, pela análise do contrato social se verifica que se trata de sociedade composta exclusivamente por médicos, uma vez que a pessoa jurídica que compunha a sociedade se retirou do quadro, consoante a 3ª Alteração Contratual. Consta do Contrato Social ainda que a atividade econômica da sociedade é de "serviços médicos de diagnósticos, exames, intervenções terapêuticas, endovasculares, cardiológicas, neurológicas e vasculares periféricas". Contudo, embora a sociedade seja composta exclusivamente por médicos, pela análise do contrato social se constata a limitação da responsabilidade dos sócios, o que afasta a responsabilidade pessoal exigida. Conforme o parágrafo primeiro da Cláusula Terceira, "a responsabilidade dos sócios é limitada a importância total do capital social". De fato o art. 983 do Código Civil autoriza que a sociedade empresária ou a simples se constituam segundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092 daquele Código, incluindo aqui a sociedade limitada, regulada nos artigos 1.052 e seguintes. Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 9 Superior Tribunal de Justiça No entanto, quando a sociedade simples opta por se constituir sob o tipo sociedade limitada, possui por um lado o privilégio de restrição de responsabilidade ao valor das quotas de cada sócio, e, por outro o impedimento de ser enquadrada no § 3º do art. 9º do Decreto-Lei. Isso porque "na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas", conforme disposto no art. 1.052 do Código Civil. Nesse sentido, esclarece a doutrina: "Assim, diferentemente das demais espécies de sociedades referidas nos artigos antecedentes, a sociedade limitada prevê, relativamente a seus sócios, a garantia da limitação da responsabilidade, estabelecendo nítida separação entre o patrimônio da sociedade, representado a partir de seu capital, e o patrimônio pessoal dos sócios, que não pode ser alcançado nem executado em razão de dívidas e obrigações sociais." Apesar de o médico poder ser responsabilizado pessoalmente por suas atividades profissionais, a responsabilidade limitada escolhida pela sociedade impede, por exemplo, que o profissional seja responsabilizado pessoalmente de imediato pelos débitos fiscais. Necessário, assim, fazer essa diferenciação entre a responsabilidade do médico por suas atividades e a responsabilidade tributária da sociedade. Além disso, não comprovou a Apelante que os sócios exercem pessoalmente as atividades e que recebem proporcionalmente ao seu trabalho. Pelo contrário, presume-se que os lucros de todos os sócios são somados e divididos proporcionalmente entre os sócios, o que afasta o cálculo tributário sob a forma fixa. E essa conclusão decorre também da análise da Cláusula Oitava, a qual trata do Balanço Geral, que será feito anualmente, e dos resultados, dispondo que serão "distribuídos proporcionalmente aos sócios ou mantidos em reservas na sociedade". Sobre essa necessária pessoalidade na prestação do serviço médico para que a sociedade faça jus ao tratamento tributário diferenciado, vejamos a seguinte decisão do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS: "EMBARGOS À EXECUÇÃO - ISSQN - PROFISSIONAIS MÉDICOS - DECRETO LEI 406/68 - NÃO INCIDÊNCIA. Não faz "jus" à tributação especial, baseada no número de profissionais habilitados, a sociedade empresarial, cujos sócios não promovem, exclusiva e pessoalmente, sob caráter permanente, os serviços para os quais estão habilitados. A terceirização de serviços é suficiente para excluir a aplicação do art. 9º, § 3º, do Decreto-Lei 406/68." Do acórdão se extrai a seguinte fundamentação: "Verifica-se do contrato social da apelante, que a mesma é formada por dois sócios, sendo a sociedade por quotas de responsabilidade limitada. A sociedade tem como objetivos sociais a exploração do ramo de prestação de serviços de exame de ultra-som, ecocardiografia, consultas médicas, eletrocardiografia, ergometria, rolther, monitorização ambulatorial de pressão arterial e patologia clínica, tomografia e radiológicos por imagem e serviços de plestimografia, desitometria óssia e medicina nuclear. Há de se verificar que anteriormente à propositura da presente ação, foi proposto processo administrativo em face da apelante, onde foram mantidas as exigências apontadas no Termo de Notificação Fiscal. A empresa apelante apresentou recurso administrativo, sendo a decisão pelo não provimento do recurso. As notas fiscais juntadas aos autos às f. 57/67, comprovam que os serviços são prestados pela pessoa jurídica e não por trabalho pessoal de seus sócios, o que descaracteriza a incidência do ISS na forma prescrita no § 1º do art. 9º do Decreto 406/68, o que afasta o critério de unipessoalidade na prestação do serviço. Quanto a este critério passo à breve explanação. A crescente organização societária de profissionais da área médica, ao longo dos últimos anos, acabou por desvirtuar a conceituação de sociedade unipessoal tratada na Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 9 Superior Tribunal de Justiça legislação ora invocada. Recorrentemente o Judiciário esbarra em casos como este, quando a análise de cada caso concreto torna-se imperiosa para que a questão seja dirimida corretamente. Guardando estreita relação com o caráter de serviço personalíssimo que a prestação de serviços deveria ter, podemos citar também a importância da unipessoalidade de tal serviço. Unipessoalidade denota a prestação individualizada do serviço, quando, mesmo se tratando de organização societária permanece possível distinguir uma prestação específica de cada médico, que recebe por cada trabalho específico, prestando-o pessoalmente e não como mero "empregado da empresa", tendo sua própria clientela, porquanto a organização societária de profissionais passa a ser apenas meio de elisão fiscal, ou uma mera forma organizacional, mas, jamais, um meio de universalização do serviço médico, pela criação de empresa mercantil de prestação de serviços." A jurisprudência do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA também não admite a tributação diferenciada quando ausente a pessoalidade: "TRIBUTÁRIO - SOCIEDADES CIVIS - MÉDICOS - ISS - FINALIDADE EMPRESARIAL - NÃO-INCIDÊNCIA DO § 3º DO ARTIGO 9º DO DECRETO-LEI N. 406/68. 1. A controvérsia limita-se a saber se a recorrente faz jus ao privilégio fiscal previsto no Decreto-Lei n. 406/68, estando assentado na instância ordinária sua natureza empresarial. 2. As sociedades de profissionais liberais, malgrado formadas exclusivamente por médicos, constituíram-se formalmente como sociedades empresariais, de modo que a simples presença deles não representa elemento hábil a desfigurar a natureza comercial da atividade exercida. 3. Conquanto o corpo de sócios seja formado exclusivamente por médicos, as sociedades constituídas sob a modalidade "limitadas" desempenham atividade empresarial, uma vez que, nos contratos sociais, há, inclusive, disposição de como devem ser distribuídos os dividendos. (grifamos) Agravo regimental improvido." "ISS. ALÍQUOTA FIXA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. I - A agravante não se enquadra no conceito de sociedade uniprofissional integrada por profissionais que atuam com responsabilidade pessoal. É sociedade por cotas de responsabilidade limitada e, nos termos da jurisprudência desta Corte, o ISS é devido quando a sociedade assume caráter empresarial. Precedentes: REsp nº 555.624/PB, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de 27/09/2004, p. 324; AgRg no AG nº 458.005/PR, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ de 04/08/2003, p. 233; REsp nº 334.554/ES, Rel. Min. GARCIA VIEIRA, DJ de 11/03/2002, p. 202; REsp nº 145.051/RJ, Rel. Min. MILTON LUIZ PEREIRA, DJ de 22/06/1998, p. 34. II -Agravo regimental improvido." No mesmo sentido, as decisões deste TRIBUNAL DE JUSTIÇA: "TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS). SOCIEDADE POR QUOTA DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PRETENSÃO DE TRIBUTAÇÃO MEDIANTE ALÍQUOTA FIXA ANUAL. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DO PRIVILÉGIO TRIBUTÁRIO. SOCIEDADE DE PROFISSIONAIS MÉDICOS COM CARÁTER EMPRESARIAL. Recurso provido, na parte conhecida e sentença alterada em sede de Reexame Necessário." "[...] 2. DO DIREITO À TRIBUTAÇÃO PELO REGIME FIXO (ISSQN): As sociedades profissionais somente gozam do benefício da tributação do ISS por meio de alíquotas fixas quando há efetiva demonstração de que a prestação de serviços se dá em Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 9 Superior Tribunal de Justiça caráter pessoal, em que o sócio assume, individualmente, responsabilidade profissional. E isso não ocorreu, no caso. [...]" "Tributário. ISS. Pretendido recolhimento de tributação fixa. Sociedade de engenheiros constituída, no entanto, como sociedade por quotas de responsabilidade limitada, com característica empresarial. Impossibilidade. Recurso não provido." "TRIBUTÁRIO. ISS. SOCIEDADE DE PROFISSIONAIS. PRETENSÃO AO BENEFÍCIO DA TRIBUTAÇÃO FIXA. DISPOSIÇÃO CONTIDA NA NORMA DO §3º DO ART. 9º, DO DECRETO-LEI 406/1968. CONSTITUCIONALIDADE DO DISPOSITIVO RECONHECIDA PELA SÚMULA 663/STF. NORMA NÃO REVOGADA PELA LEI COMPLEMENTAR Nº 116/2003. NÃO PREENCHIMENTO DE TODOS OS REQUISITOS AUTORIZADORES DO GOZO DA TRIBUTAÇÃO FIXA. CARÁTER EMPRESARIAL DA SOCIEDADE APELANTE. RECURSO NÃO PROVIDO." "APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇO - ISS. PRETENSÃO DE TRIBUTAÇÃO MEDIANTE ALÍQUOTA FIXA ANUAL. ARGUMENTO DE SOCIEDADE UNIPROFISIONAL. IMPOSSIBILIDADE. SOCIEDADE LIMITADA. CARÁTER EMPRESARIAL CONFIGURADO. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS SOCIAIS, REMUNERAÇÃO MENSAL DOS SÓCIOS POR PRO LABORE. PRECEDENTES DO STJ. COBRANÇA DO ISS SOBRE O PREÇO DOS SERVIÇOS PRESTADOS. RECURSO DE APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO PROVIDOS. RECURSO ADESIVO PREJUDICADO. CUSTAS E DESPESAS PELA PARTE AUTORA" Por esses motivos, a empresa apelante não possui direito à tributação fixa anual, consoante prevê o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n.º 406/68, devendo ser mantida a sentença, pois pela análise do contrato social constata-se que se trata de uma sociedade com caráter empresarial (e-STJ fls. 72/79). Dessa forma, o Tribunal a quo definiu que a recorrente caracteriza-se como sociedade com caráter empresarial. A pretensão trazida no recurso especial, portanto, implica o indispensável reexame de matéria fático-probatória, o que é vedado nesta via, ante o disposto na Súmula 07/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ". Ademais, é defeso apreciar as cláusulas do contrato social, para se perquirir sobre a natureza empresarial da sociedade, como informa o teor da Súmula 05/STJ: "A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial" . O argumento de que a sociedade em questão faria jus à tributação diferenciada, tendo em vista que é formada exclusivamente por médicos, por si só não é suficiente a embasar a tese da recorrente. “As sociedades de profissionais liberais, malgrado formadas exclusivamente por médicos, constituíram-se formalmente como sociedades empresariais, de modo que a simples presença deles não representa elemento hábil a desfigurar a natureza comercial da atividade exercida” (AgRg no REsp 1.003.813/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 02/09/2008, DJe 19/09/2008). Nesse sentido, confiram-se: TRIBUTÁRIO – SOCIEDADES CIVIS – MÉDICOS – ISS – FINALIDADE EMPRESARIAL – NÃO-INCIDÊNCIA DO § 3º DO ARTIGO 9º DO DECRETO-LEI N. 406/68. 1. A controvérsia limita-se a saber se a recorrente faz jus ao privilégio fiscal Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 7 de 9 Superior Tribunal de Justiça previsto no Decreto-Lei n. 406/68, estando assentado na instância ordinária sua natureza empresarial. 2. As sociedades de profissionais liberais, malgrado formadas exclusivamente por médicos, constituíram-se formalmente como sociedades empresariais, de modo que a simples presença deles não representa elemento hábil a desfigurar a natureza comercial da atividade exercida. 3. Conquanto o corpo de sócios seja formado exclusivamente por médicos, as sociedades constituídas sob a modalidade "limitadas" desempenham atividade empresarial, uma vez que, nos contratos sociais, há, inclusive, disposição de como devem ser distribuídos os dividendos. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1003813/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 02/09/2008, DJe 19/09/2008); SOCIEDADES - MÉDICOS - ISS - SERVIÇOS PRESTADOS POR LABORATÓRIOS DE ANÁLISES - ITENS 1 E 2 DA LISTA DE SERVIÇOS ANEXA AO DECRETO-LEI N. 406/68 - NÃO INCIDÊNCIA DO §3º DO ARTIGO 9º DO REFERIDO DECRETO. De pronto, impende ressaltar que as sociedades de profissionais liberais, malgrado formadas exclusivamente por médicos, constituíram-se formalmente como sociedades comerciais, de modo que a simples presença desses não representa elemento hábil a desfigurar a natureza comercial da atividade exercida. Conquanto seu corpo de sócios seja formado exclusivamente por médicos, as sociedades constituídas sob a modalidade de limitadas desempenham atividade empresarial, uma vez que seus contratos sociais dispõem até mesmo como devem ser distribuídos os dividendos. Sobeja asseverar, por oportuno, que uma sociedade comercial formada exclusivamente por médicos também se encontra apta a praticar atos de comércio, de sorte que o principal fator a ser verificado para se identificar a finalidade da sociedade é seu objeto social. Em espécie, resta inequívoco que o objeto social das sociedades comerciais recorridas é a prestação de um serviço especializado, todavia, inequivocamente associado ao exercício da empresa. Merece reparo, portanto, o v. acórdão recorrido, porquanto nem todos os laboratórios de análises e clínicas que possuem profissionais de medicina entre seus sócios devem ser beneficiados pelo regime privilegiado de tributação concedido aos serviços previstos no item 1 daquela Lista pelo § 3º do artigo 9º do Decreto-Lei n. 406/68. Para tanto, é imprescindível seja aferido se os médicos que integram tais entidades desempenham a atividade de forma uniprofissional e sem finalidade empresarial. Recurso especial provido (REsp 555.624/PB, Rel. Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma, julgado em 19/02/2004, DJ 27/09/2004); TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – ISS – SOCIEDADE POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA – CLÍNICA MÉDICA – CARÁTER EMPRESARIAL – NÃO COMPROVADA CARACTERIZAÇÃO COMO SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL – RECURSO ESPECIAL – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO – VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CPC – INOCORRÊNCIA – DECISÃO RECORRIDA CONSENTÂNEA COM A ORIENTAÇÃO JURISDICIONAL DO STJ – CONHECIMENTO PARCIAL - IMPROVIMENTO. Não cabe conhecer do recurso especialmente quanto à alegativa de violação a dispositivo legal não prequestionado. Rejeitados os embargos de declaração porque já examinados os pontos essenciais para o deslinde da questão, não há como divisar violação ao artigo 535, inciso II, do CPC. É devido o ISS pelas sociedades profissionais quando estas assumem caráter Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 8 de 9 Superior Tribunal de Justiça empresarial. As sociedades civis, para terem direito ao tratamento privilegiado previsto pelo artigo 9º, § 3º do Decreto-lei n° 406/68, têm que ser constituídas exclusivamente por médicos, ter por objeto social a prestação de serviço especializado, com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial. Recurso parcialmente conhecido, mas improvido (REsp 334.554/ES, Rel. Ministro Garcia Vieira, Primeira Turma, julgado em 06/12/2001, DJ 11/03/2002). Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. É como voto. Documento: 18196702 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 9 de 9
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