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125 Psique - Interação homem-animal

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10 anos
editorial
Benefícios da 
interação com animais
Gláucia Viola, editora
“Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais 
nas suas faculdades mentais (...) os animais, como os homens, 
demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.”
Charles Darwin
A
té poucos anos atrás, a opção por ter um animal de estimação era tratada apenas como uma 
forma de agradar às crianças ou ganhar uma companhia para quem se sentia solitário. No en-
tanto, a relação entre os homens e os bichos, especialmente cachorros e gatos, mas não só eles, 
vem ganhando novos contornos ao longo da história e, hoje, esse convívio é considerado um dos 
melhores recursos terapêuticos para inúmeros problemas que prejudicam a qualidade de vida das pessoas, 
principalmente para quem vive em grandes centros urbanos. A forte ligação com os animais pode ser expli-
cada pelo fato de que em um mundo que abusa da rapidez das informações e da competitividade exagerada, 
a insegurança e a descrença no ser humano sustentam a prática de cultuar objetos de satisfação. Com isso, 
a união com um animal de estimação pode se inserir nessa lógica.
A partir dessa realidade, as terapias com animais ganham cada vez mais espaço e oferecem inúmeras al-
ternativas para várias patologias. A zooterapia, ciência que estuda as formas terapêuticas do contato com os 
animais, oferece muitas possibilidades de aplicação. Trata-se de uma terapia com a presença de animais que 
promove estímulos ao toque no paciente com o objetivo de despertar sua sensibilidade tátil ou, até mesmo, 
reações psicológicas e emocionais. Esta edição da Psique Ciência&Vida aborda a questão com profundidade.
Os tratamentos zooterapêuticos podem ser utilizados em crianças, idosos e pessoas que apresentam 
ALGUM� TIPO�DE�DElCIÐNCIA��/� CONTATO� COM�ANIMAIS� INCENTIVA� TAMBÏM�A� INTERA¥ÎO� SOCIAL�� 0OR� EXEMPLO��
CRIAN¥AS�COM�TRAUMAS�E�HISTØRICO�DE�ABUSO��QUE�POR�ESSA�RAZÎO�APRESENTAM�DIlCULDADES�DE�FORMA¥ÎO�
DE�VÓNCULOS��PODEM��POR�MEIO�DOS�CÎES��CONQUISTAR�CONlAN¥A�E�FACILITAR�A�CRIA¥ÎO�E�FORTALECI-
mento desses vínculos.
A zooterapia pode ser um auxílio importante no tratamento de Alzheimer, 
AIDS, paralisia cerebral, demências, derrame, afasia, ansiedade, depressão, 
síndrome do pânico, fobia social e outros transtornos. 
(É�ALGUNS�TIPOS�DE�TERAPIA�COM�ANIMAIS�QUE�SÎO�INDICADOS�PARA�DEl-
ciências motoras e mentais, paraplegia, sequelas de traumatismo cra-
niano, autismo, distúrbios da fala e Síndrome de Down. Melhoram a 
ELASTICIDADE��A�mEXIBILIDADE��A�COORDENA¥ÎO�MOTORA��A�CAPACIDADE�DE�
concentração, a acuidade visual, tátil, auditiva e olfativa, o domínio 
respiratório, o aumento da percepção do corpo e estimula sensações e 
percepções que incrementam o afeto e inserem o indivíduo na sociedade. 
O fato é que é impossível resistir a um afago de um bichinho dócil e cari-
nhoso. Melhor ainda saber que isso traz muito mais benefícios que pensamos.
Boa leitura! 
Gláucia Viola
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida
CAPA
AMIGOS 
PARA SEMPRE
0ESQUISAS�CIENTÓlCAS�REVELAM�
OS�INÞMEROS�BENEFÓCIOS�FÓSICOS�
E�PSICOLØGICOS�DA�INTERA¥ÎO�
ENTRE�OS�HOMENS�E�OS�SEUS�
ANIMAIS�DE�ESTIMA¥ÎO
SUMÉRIO
2210 anos
DOSSIÊ: FOBIAS 
ESTRANHAS
3EGUNDO�A�/-3�� 
����DA�POPULA¥ÎO�SOFREM� 
COM�ALGUMA�FOBIA��E�MUITAS� 
SÎO�INCOMUNS�CAUSANDO� 
AINDA�MAIS�ANGÞSTIA�AO� 
PORTADOR�INCOMPREENDIDO
MATÉRIAS
ENTREVISTA
/�PSICØLOGO�Breno Rosostolato 
�ESPECIALISTA�EM�NOMOFOBIA��
TRANSTORNO�QUE�LEVA�PESSOAS� 
AO�USO�INCONTROLÉVEL�DO�CELULAR
SEÇÕES
05 %-�#!-0/
14 ).�&/#/�
16 350%26)3§/�
18 03)#/0/3)4)6!
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A importância 
do conjunto 
!S�ABORDAGENS�DAS� 
TERAPIAS DE GRUPO SE
MOSTRAM�ElCAZES�NO�
TRATAMENTO�DE�DIVERSAS�
SÓNDROMES�E�COMPULSÜES
Perigos do TEI
1UANDO�A�PESSOA�ENCONTRA�
DIlCULDADES�EM�CONTER�
COMPORTAMENTOS�IMPULSIVOS��
AGRESSIVOS�E�EXPLOSÜES�DE�
RAIVA��SINAL�DO�TRANSTORNO�
EXPLOSIVO�INTERMITENTE
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14/06/2016 22:15:18
35
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
em campo 
TREINAMENTO 
O treinamento de memória com 
componentes imprevisíveis pode ser 
MAIS�El�CAZ�NO�APRIMORAMENTO�DA�
memória episódica do que treinar com 
elementos previsíveis, de acordo com 
novas descobertas de pesquisadores 
da UT Dallas, publicadas na revista 
Frontiers in Psychology.
As memórias episódicas são aquelas 
ASSOCIADAS�A�EVENTOS�AUTOBIOGRÉl�COS��
como uma festa de aniversário do 
passado ou a primeira viagem a um 
parque de diversões. Esse tipo de 
memória é fundamental para a nossa 
capacidade de recontar histórias com 
precisão.
O teste foi feito em 46 adultos com 
idade entre 60 e 86 anos em três fases 
diferentes: antes do treinamento 
de memória, imediatamente após 
o treinamento e um mês e meio 
após completar o treinamento. Os 
participantes foram separados em 
dois grupos – treinamento previsível 
ou treinamento imprevisível – e não 
diferiram em termos de educação ou 
habilidades cognitivas.
(Fonte: ScienceDaily.com)
MEMÓRIA DO CORPO
Pesquisadores no Japão descobriram 
que movimentos repetitivos em lentos 
ESTÉGIOS�DE�APRENDIZAGEM�PODEM�ALTERAR�
uma área do cérebro responsável pelo 
movimento e ajudar as pessoas a manter 
essas habilidades motoras.
Estudos anteriores demonstraram que 
A�APRENDIZAGEM�DE�HABILIDADES�MOTORAS�
REORGANIZA�CIRCUITOS�NEURAIS�NO�CØRTEX�
motor primário (M1), uma área do 
cérebro responsável pelo movimento. 
Outros estudos também mostraram que 
o M1 desempenha um papel crucial na 
memória motora.
(Fonte: ScienceDaily.com)
por Jussara Goyano
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CÉREBRO E COGNIÇÃO
ESTUDO REVELA COMO MEMÓRIAS DE LONGO 
PRAZO SÃO APAGADAS
.OSSAS�MEMØRIAS�SÎO�MANTIDAS�POR�SINALIZA¥ÎO�QUÓMICA�ENTRE�CÏLULAS�CERE
BRAIS��E�ESTAS��POR�SUA�VEZ��DEPENDEM�DE�RECEPTORES�ESPECIALIZADOS�CHAMADOS�
!-0!��1UANTO�MAIS�DELES�EXISTIREM�NA�SUPERF ÓCIE�ONDE�AS�CÏLULAS�CEREBRAIS�SE�
conectam, mais consistente é a memória. Uma equipe de cientistas liderada 
por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, descobriu, 
RECENTEMENTE�� QUE� O� PROCESSO� ATIVO� DE� LIMPEZA� DA�MEMØRIA� ACONTECE� EXATA
MENTE�QUANDO�AS�CÏLULAS�DO�CÏREBRO�REMOVEM�RECEPTORES�!-0!�DAS�CONEXÜES�
CEREBRAIS��!O�LONGO�DO�TEMPO��SE�A�MEMØRIA�NÎO�Ï�UTILIZADA��OS�!-0!�PODEM�
DIMINUIR�DE�NÞMERO��FAZENDO�COM�QUE�ESTA�SEJA�APAGADA��GRADUALMENTE�
/�ESTUDO�EM�RATOS�REVELOU�O�PROCESSO��APONTANDO�NOVAS�FORMAS�DE�COMBA
TER�A�PERDA�DE�MEMØRIA�ASSOCIADA�A�CONDI¥ÜES�COMO�!LZHEIMER�E�OUTROS�TIPOS�
de demência. Também a longa duração de memórias indesejadas (como nos 
CASOS�DE�TRANSTORNOS�DE�ESTRESSE�PØS
TRAUMÉTICO��POR�EXEMPLO	�PODERÉ�SER�DES
vendada a partir da nova descoberta.
!O�BLOQUEAR�A�REMO¥ÎO�DOS�RECEPTORES�!-0!�COM�UMA�DROGA�QUE�OS�MAN
TÏM�NA�SUPERF ÓCIE�DA�CÏLULA�O�ESQUECIMENTO�NATURAL�DE�MEMØRIAS�PAROU��SEGUNdo a pesquisa. Drogas que atuam nesse bloqueio já estão sendo investigadas 
como alternativas terapêuticas.
 Os cientistas não descartam, porém, o caráter adaptativo do esquecimento, 
AUXILIANDO��INCLUSIVE��NA�APRENDIZAGEM�
PARA SABER MAIS:
P. V. Migues, L. Liu, G. E. B. Archbold, E. O. Einarsson, J. Wong, K. Bonasia, S. H. 
+O��9��4��7ANG��/��(ARDT��"LOCKING�SYNAPTIC�REMOVAL�OF�GLU!�
CONTAINING�!-0!�
RECEPTORS�PREVENTS�THE�NATURAL�FORGETTING�OF�LONG
TERM�MEMORIES��Journal of Neu-
roscience.�������V������N������P���������$/)����������*.%52/3#)�����
�������
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
HOMEM E SOCIEDADE
CÉREBRO DÁ PRIORIDADE PARA INFORMAÇÃO 
GERADA POR AÇÕES COTIDIANAS 
LIGADAS A UM CONTEXTO SOCIAL
.OSSO�CÏREBRO�PRESTA��AUTOMATICAMENTE��GRANDE�ATEN¥ÎO�AOS�ATOS�COTI
DIANOS�LIGADOS�A�UM�CONTEXTO�SOCIAL��0ESQUISADORES�DE�"OCHUM�VERIl�CARAM�
este fato com a ajuda da hipnose.
O cérebro humano é mais sensível para a informação social, segundo 
CONCLUSÎO�DE�PESQUISADORES�DE�"OCHUM��!LEMANHA��/U�SEJA��A�ATEN¥ÎO�HU
MANA�SE�INTENSIl�CA�NOS�ATOS�COTIDIANOS�ENVOLVIDOS�EM�UM�CONTEXTO�SOCIAL�
0ARA�CHEGAR�A�ESSA�DESCOBERTA��OS�CIENTISTAS�UTILIZARAM�HIPNOSE��EM�PAR
TICIPANTES�DE�UM�ESTUDO��ANALISANDO��SEPARADAMENTE��A�ATEN¥ÎO�INVONLUNTÉ
ria ( ) e voluntária (top-down	�DESSAS�PESSOAS�EM�DETERMINADAS�SITU
A¥ÜES��(IPNOTIZADAS��ELAS�ASSISTIRAM�A�UM�VÓDEO��ONDE�AS�PESSOAS�COLOCAM�
moedas em tigelas de cores diferentes. Os pesquisadores esperavam que o 
processamento de informação social – neste caso, as atividades cotidianas 
DE�OUTRAS�PESSOAS�n�SERIA�PRIORIZADO�SOB�HIPNOSE��PORQUE�O�CÏREBRO�PROCESSA�
automaticamente a informação no processo de atenção involuntária.
5SANDO� ELETROENCEFALOGRAl�A� �%%'	�� A� EQUIPE� DE� PESQUISA� GRAVOU� UM�
sinal que indica de que forma as ações intencionais são processadas. Eles 
COMPARARAM�ESSE�SINAL�ESPECÓl�CO��TANTO�NO�ESTADO�HIPNØTICO�QUANTO�NO�ES
TADO�NÎO�HIPNØTICO��/�RESULTADO��O�SINAL�ESPECÓl�CO�FOI�n�COMO�ESPERADO�n�
MAIS�FORTE�QUANDO�OS�PARTICIPANTES�FORAM�HIPNOTIZADOS��3E�OS�PROCESSOS�DE�
ATEN¥ÎO�VOLUNTÉRIA�SÎO�DE
SATIVADOS� ATRAVÏS� DA� HIP
nose, o cérebro, portanto, 
PRIORIZA� O� PROCESSAMENTO�
de informação social. 
O projeto demonstra, 
ALÏM� DA� RELEVÊNCIA� DA� IN
formação social para o 
cérebro humano, até que 
PONTO�A�HIPNOSE��UMA�OP
ção viável para a análise de 
processos cognitivos.
PARA SABER MAIS:
Eleonore Neufeld, Elliot 
#�� "ROWN�� 3IE
)N� ,EE
'RIMM��!LBERT� .EWEN��-ARTIN� "RàNE�� )NTENTIONAL�
ACTION� PROCESSING� RESULTS� FROM� AUTOMATIC� BOTTOM
UP� ATTENTION�� AN�
%%'
INVESTIGATION� INTO� THE� SOCIAL� RELEVANCE� HYPOTHESIS� USING� HYPNOSIS��
Consciousness and Cognition, n. 42, p. 101, 2016. 42: 101 DOI: 10.1016/j.
concog.2016.03.002
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Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina 
Comportamental e Neurociências, com foco em 
������È�I�G9�H��¢���G�����������G�I�:�U�I�GI��I����‚�IG
G�
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
ATIVIDADE 
FÍSICA
COMO RETARDAR O 
ENVELHECIMENTO DA 
MASSA CINZENTA USANDO 
AS ESCADAS
5M�ESTUDO� RECENTEMENTE�PUBLICADO�NA� RE
vista Neurobiology of Aging��COORDENADO�POR�PES
quisador do Concordia University’s Montreal-based 
Perform Centre, mostra que quanto mais lances 
de escada uma pessoa sobe, e quanto mais anos 
de escola uma pessoa completa, “mais jovem” 
PARECERÉ�O�SEU�CÏREBRO�EM�UM�EXAME�DE�NEU
roimagem. A aparência cerebral chega a seguir 
a proporção, em redução de idade, de 0,95 ano 
para cada ano de educação, e 0,58 ano no caso 
dos lances de escada.
/S�CIENTISTAS�UTILIZARAM�RESSONÊNCIA�MAGNÏ
TICA��-2)	�PARA�EXAMINAR�DE�FORMA�NÎO�INVASIVA�
OS�CÏREBROS�DE�����ADULTOS�SAUDÉVEIS��QUE�VARIA
vam em idade de 19 a 79 anos.
%LES�MEDIRAM�O�VOLUME�DA�MASSA�CINZENTA�
ENCONTRADA�NOS�CÏREBROS�DOS�PARTICIPANTES�POR
que o seu declínio, causado pelo encolhimento 
NEURAL�E�PERDA�NEURONAL���UMA�PARTE�MUITO�VI
SÓVEL� DO�PROCESSO�DE� ENVELHECIMENTO� CRONOLØ
gico. Em seguida, eles compararam o volume 
do cérebro com o número de lances de escada 
subidos e os anos de escolaridade completos, 
relatados pelos participantes.
Os resultados foram claros: subir escadas e 
ESTUDAR��CADA�VEZ�MAIS��AO�LONGO�DA�VIDA��S�NOS�
favorece. (Fonte: ScienceDaily.com)
em campo 
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 64
giro escala
A ESCOLA E O GÊNERO
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 118
As sociedades capitalistas passaram 
por profundas transformações no traba-
lho e na produção. O crescimento de po-
líticas neoliberais, o desmantelamento da 
União Soviética, a quebra de monopólios 
estatais, reestruturações produtivas e au-
mento do setor de serviços contribuíram 
para o surgimento de várias teses. Para 
tais teses, o marxismo seria uma teoria es-
PECÓl�CA�DA�INDÞSTRIA�E�QUE�NÎO�DARIA�MAIS�
conta de explicar à sociedade, ao ver que 
a centralidade do trabalho tipicamente 
fabril teria sido substituída pela produção 
IMATERIAL��!S�ÞLTIMAS�TRANSFORMA¥ÜES�NAS�
QUALIl�CA¥ÜES� PROl�SSIONAIS�� PRODU¥ÎO� E�
trabalho representariam uma radical mu-
dança na lógica de produção. Um novo 
tipo de trabalho teria aparecido: aquele 
em que a sua produção é centrada em sis-
temas tecnológicos e que apresenta como 
componente central o conhecimento. 
As teses apontadas anteriormente es-
tão vinculadas à crise dos três eixos fun-
damentais que aparecem na teoria de Karl 
Marx: trabalho, valor e classes. De tal ma-
neira, o tripé conceitual que se determina 
A�PARTIR�DA�HISTORICIDADE�TEVE�NAS�ÞLTIMAS�
décadas a contestação da sua validade. Os 
dois primeiros pontos, do trabalho e do 
valor, são enfraquecidos a partir de uma 
concepção de vinculação do trabalho 
apenas à atividade manual, tendo em vista 
QUE�SERIA�O�ÞNICO�CAPAZ�DE�MODIl�CAR�A�NA
TUREZA�FÓSICA�DA�MATÏRIA��E�DE�CONSEQUEN
TEMENTE�PRODUZIR�VALOR��3EGUIDO�A�ISSO��A�
INEl�CÉCIA�DA�TEORIA�MARXISTA�QUANTO�A�SUA�
teoria de classes se daria ao passo que a 
mesma se ligaria apenas à classe operá-
ria. De tal maneira, para muitos autores 
contemporâneos, o valor seria caracte-
rístico apenas da sociedade industrial, 
SENDO�PRODUZIDO�EFETIVAMENTE�PELA�CLASSE�
operária a partir do trabalho manual. No 
entanto, não é bem assim que as coisas 
acontecem. Entenda melhor em matéria 
na edição 64 da revista Sociologia.
A edição 118 da revista &ILOSOl�A 
TRAZ� UMA� ENTREVISTA� COM�#ELSO�+RAE
MER�� DOUTOR� E� PROFESSOR� EM� &ILOSOl�A��
que aborda questões que envolvem a 
escola e a diversidade de gênero. O que 
as instituições de ensino, em geral, fa-
ZEM�Ï�FALAR�DE�GÐNERO�POR�MEIO�DE�UMA�
construção histórica, mas, ao mesmo 
tempo, a sociedade deseja ir além da-
quilo que já está dado, movimentando-
SE� PARA� ENFRENTAR� NOVOS� DESAl�OS� QUE�
já foram colocados. A escola, segundo 
Kraemer, é um lugar que foi constru-
ído a partir da heteronormatividade 
e que exerce uma regulação, mas ao 
confrontar-se com uma demanda que 
VEM�DA�SOCIEDADE�ELA��DESAl�ADA�A�UMA�
revisão de posturas. E nesse momento 
de revisão e de debate, se apresentam 
pelo menos dois lados, alguns que de-
fendem uma “ideologia de gênero”, e 
outros, uma diversidade de gênero que 
visa à aceitação e ao acolhimento do 
outro pelo olhar dos direitos humanos. 
Segundo Kraemer, algumas ini-
ciativas no espaço escolar já foram 
tomadas, outras estão em curso, no-
vos discursos são construídos, mas é 
preciso ter em mente a necessidade 
do combate à intolerância por meio de 
uma vivência ética no espaço escolar. 
Entretanto, o caminho nãoé fácil. A 
escola fala de gênero o tempo todo. 
%LA�DIVIDE�E�ORGANIZA�OS�PROFESSORES�E�
as professoras em dois gêneros e nunca 
um professor pode passar-se por pro-
fessora, por exemplo, e isso é falar de 
gênero. Um menino não pode se pas-
sar por menina, aos meninos espera-se 
uma conduta de meninos e essa con-
duta não pode ser subvertida em forma 
DE�MENINA��!� ESCOLA� ORGANIZA� TODO� O�
ESPA¥O��O�BANHEIRO��A�ORGANIZA¥ÎO�DAS�
l�LAS��DO�ESPA¥O�INTERNO��DA�LINGUAGEM��
da vestimenta, do corte do cabelo, tudo 
por gênero. Por isso, é preciso criar no-
vos paradigmas.
RENATO JANINE RIBEIRO
Propriedade social: o impulso 
anarquista na obra de Karl Marx
CELSO KRAEMER
O ambiente escolar e o discurso de gênero 
para além do espaço heteronormativo
ENCAR
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REFLEXÃO E PRÁTICA: A marginalidade da mulher na Filosofia
Os necessários debates 
para um paradigma ético 
dos meios de comunicação 
IRONIA 
AMBIVALENTE
O método irônico no 
itinerário fi losófi co de 
KIERKEGAARD 
CINEMA E 
ESTÉTICA
A sétima arte no 
imaginário e o fomento 
ao espírito lúdico 
 EDIÇÃO 118 - PREÇO R$ 9,80
ANO IX No 118 – www.portalcienciaevida.com.br
ETICA NA
MIDIA´
´
RICARDO DELLO BUONO VÊ A SOCIOLOGIA COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO 
em sala de aula: apresente o Anarquismo, suas vertentes e seus personagens
www.portalcienciaevida.com.br
Game of 
Thrones
Artigo analisa 
arquétipos 
políticos de 
uma das séries 
mais populares 
da televisão
Estudo de caso
A agricultura 
familiar e a 
qualidade 
de vida do 
trabalhador 
rural
Mundo laboral
Mudanças nas 
DPOm�HVSBªFT�
do trabalho 
não alteraram 
radicalmente 
a lógica da 
exploração
Friedrich 
Engels 
Resenha de 
Anti-Dühring, 
um dos 
trabalhos mais 
importantes 
do pensador
Como a esquerda nacional 
encarou essa ideologia, 
confundindo-a com puro populismo
TRABALHISMO
Uma reflexão sobre o 
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BRENO ROSOSTOLATO
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
O psicólogo Breno Rosostolato é especialista no diagnóstico 
e tratamento da nomofobia, transtorno que leva pessoas 
ao uso exagerado de aparelhos de telefone celular, 
podendo desencadear quadros de ansiedade e depressão
E N T R E V I S T A
A 
utilização da internet nos chamados 
DISPOSITIVOS�MØVEIS��INTENSIlCADA�PELA�
facilidade e praticidade na obtenção 
e propagação de informações e 
conhecimento, compartilhamento de dados, 
REALIZA¥ÎO�DE�OPERA¥ÜES�lNANCEIRAS��COMPRA�DE�
produtos, serviços e outras tarefas, é cada vez 
mais crescente na vida cotidiana. Os celulares, 
smartphones e computadores, objetos comuns na 
sociedade contemporânea, tornaram-se “necessários”. 
Entretanto, seu uso indiscriminado fez surgir um novo 
transtorno no universo psicológico e já considerado 
um dos grandes males do mundo moderno: a 
nomofobia, ou seja, a fobia ou o medo de permanecer 
isolado e desconectado do mundo virtual.
Os sintomas da abstinência do uso de aparelhos 
tecnológicos no convívio social são tão graves 
que, em alguns casos, podem ser comparados à 
abstinência de drogas. Para o professor e psicólo-
go da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Breno 
Rosostolato, é necessário e urgente discutir com 
profundidade o problema da dependência desses 
aparelhos, uma vez que seu uso faz parte de um 
fenômeno social cada vez mais comum e rotineiro 
na relação das pessoas com a informatização.
Breno Rosostolato é psicólogo, psicoterapeuta 
clínico especialista em sexualidade humana e 
educador sexual, pós-graduado em Arteterapia 
e Hipnose Clínica. Professor da Faculdade Santa 
Marcelina dos cursos de Enfermagem, Nutrição e 
Fisioterapia no campus Itaquera. Articulista sobre 
artigos ligados à Psicologia, sexualidade, compor-
tamento e tendências dos sites Mix Brasil (portal 
UOL), Be Style (portal R7), portais Terra e IG 
e ainda nos sites Pau pra Qualquer Obra, 
Top Vitrine e Nosso Clubinho (conteúdo infantil).
De acordo com o psicólogo, embora o uso da 
tecnologia seja importante e essencial na contem-
poraneidade, fundamental é entender o cerne da 
questão, que pode estar associada ao prazer.
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
O PRAZER POR TRÁS 
DA COMPULSÃO 
É PREPONDERANTE
10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Quando a vida 
virtual passa a ser 
mais interessante e 
proporciona mais 
satisfação à pessoa 
do que a vida real, 
esse é um sinal de que 
ela está substituindo 
uma pela outra e, com 
isso, obtendo prejuízos 
sociais e emocionais
o uso do celular passa a ser regra para a 
pessoa a ponto dela mudar a rotina ou 
que o lazer dela seja, necessariamente, o 
uso do celular e acessar as redes sociais. 
1UANDO�O�SIMPLES�FATO�DE�l�CAR�SEM�BATE
ria a deixa nervosa e irritada ou não con-
SEGUIR�l�CAR�SEM�SE�CONECTAR�PODEMOS�AÓ�
ter alguns indícios de que a pessoa está 
perdendo o controle do uso do aparelho. 
A LITERATURA SOBRE O TEMA COLOCA 
QUE OS CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO SE 
BASEIAM EM TRÊS TRAÇOS: EXCLUSIVIDADE, 
POR SER A TECNOLOGIA A ÚNICA FONTE DE 
PRAZER; TOLERÂNCIA, POIS A PESSOA PASSA 
A GASTAR CADA VEZ MAIS TEMPO COM A 
TECNOLOGIA; E ABSTINÊNCIA, PORQUE A 
PESSOA APRESENTA SINTOMAS DESAGRA-
VÁVEIS QUANDO SE VÊ SEM O APARELHO. 
VOCÊ CONCORDA COM ESSA TESE?
ROSOSTOLATO: A esses aspectos, que eu 
concordo, acrescento o fator narcisista, 
no qual o celular é hipervalorizado e si-
nal de status. Os recursos que ele ofere-
ce, fotos e vídeos de alta resolução, pos-
sibilitam à pessoa dar vazão à vaidade. 
(OJE�� PODEMOS� l�LMAR� QUALQUER� COISA� E�
quando quisermos, o que facilita a inva-
são ao outro. Tudo pode ser registrado, 
editado e ainda ser postado nas redes so-
ciais. A busca pela “virilização” da foto 
ou do vídeo é um fator que resulta em 
muito prazer ao autor. 
EM QUE MEDIDA A PRESENÇA DOS SITES DE 
BUSCA EM CELULARES E A POSSIBILIDADE 
DE SEMPRE SE ENCONTRAR RESPOSTA PARA 
TUDO SÃO FATORES QUE CONTRIBUEM 
PARA A NOMOFOBIA?
ROSOSTOLATO: Com o surgimento da in-
ternet falou-se muito em globalização, 
que nada mais é do que o acesso rápido, 
fácil e imediato com qualquer pessoa, em 
qualquer lugar. Um mundo conectado. IM
AG
EN
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É CORRETO AFIRMAR QUE A NOMOFO-
BIA É UM FENÔMENO NOVO, QUE ESTÁ 
LIGADO A TRANSTORNOS COMO ANSIE-
DADE E DEPRESSÃO?
BRENO ROSOSTOLATO: Pode ser conse-
quência de uma ansiedade, assim como 
pode desencadear uma depressão, mas 
o uso abusivo do celular, e intrinseca-
mente a essa discussão, o acesso à inter-
net, também está relacionado a outros 
fatores sociais.
QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS E CONSEQUÊN-
CIAS PSICOLÓGICASDA NOMOFOBIA?
ROSOSTOLATO: A vaidade de postar e ter 
sua vida exposta na internet, nas redes 
sociais, também é um fator que deve ser 
CONSIDERADO��Al�NAL��O�PRAZER�POR�TRÉS�DA�
compulsão é um fator preponderante. 
Fazer parte de um grupo, ser aceito e 
popular, ao mesmo tempo que desperta 
a sensação de pertencimento, minimiza 
o sentimento de solidão.
O PROBLEMA INFLUI DIRETAMENTE NA 
QUALIDADE DE VIDA DA PESSOA, POIS ELA 
NÃO ENCONTRA OUTRAS FONTES DE PRA-
ZER E PASSA A SE DESINTERESSAR POR ATI-
VIDADES SOCIAIS, AFETIVAS E DE LAZER 
QUE ANTES GOSTAVA. COMO IDENTIFICAR 
A NOMOFOBIA, UMA VEZ QUE A SOCIEDADE 
ACEITA O USO ABUSIVO DAS TECNOLOGIAS?
ROSOSTOLATO: Quando a vida virtual 
passa a ser mais interessante e propor-
ciona mais satisfação à pessoa do que a 
vida real, esse é um sinal de que ela está 
substituindo uma pela outra e, com isso, 
obtendo prejuízos sociais e emocionais. 
A sociedade vive atrelada às tecnologias, 
até porque a sociedade é o retrato de 
vários segmentos como a mídia, o mer-
cado, a política etc., mas a pessoa deve 
ter o discernimento dos próprios atos e 
reconhecer seus limites.
A PROPÓSITO, EXISTEM CRITÉRIOS PSICOLÓ-
GICOS QUE DEFINEM O QUE É O USO NOR-
MAL DO CELULAR E QUANDO ESSA UTILI-
ZAÇÃO SE TRANSFORMA EM NOMOFOBIA, 
COMO NÚMERO DE HORAS, POR EXEMPLO?
ROSOSTOLATO: A partir do momento que 
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11
A sociedade vive 
atrelada às tecnologias, 
até porque a sociedade 
é o retrato de vários 
segmentos como a mídia, 
o mercado, a política 
etc., mas a pessoa deve 
ter o discernimento 
dos próprios atos e 
reconhecer seus limites
E��PORTANTO��MAIS�DIlCULDADE�PARA�DOSAR�O�
uso do smartphone.
OS AVANÇOS CONSTANTES DOS RECURSOS 
TECNOLÓGICOS IMPÕEM A AQUISIÇÃO DE 
APARELHOS CADA VEZ MAIS SOFISTICADOS, 
O QUE, DE CERTA FORMA, CONFERE STATUS 
ECONÔMICO E SOCIAL. O FATO ESTÁ RELA-
CIONADO À BUSCA PELA REAFIRMAÇÃO DA 
IDENTIDADE DOS ADOLESCENTES NESSA FASE 
DA VIDA?
ROSOSTOLATO: Os adolescentes são fruto 
de uma sociedade imediatista, que defen-
de a ideia de padrões de beleza e status. 
Uma sociedade que enaltece a populari-
dade dos iguais e segrega, aniquilando as 
diferenças.
A ORIGEM DO USO INDISCRIMINADO DO 
CELULAR POR ADOLESCENTES PODE ESTAR 
RELACIONADA À INSEGURANÇA DOS PAIS, 
QUE PRECISAM ESTAR SEMPRE RECEBENDO 
NOTÍCIAS DOS FILHOS?
ROSOSTOLATO: Isso também, mas existe 
OUTRA�REmEXÎO�QUE�GOSTARIA�DE�FAZER��-UI-
tos pais usam o celular como uma ma-
neira de distrair a criança. Um presente 
que ocupe o tempo e retire dos pais a 
responsabilidade de cuidar e participar 
DA�VIDA�DOS�lLHOS��)NFELIZMENTE��J�VI�PAIS�
As informações passaram a circular com 
a mesma velocidade das conexões entre 
as pessoas e o Google passou a ser o prin-
cipal site de busca dessas informações. O 
acesso imediato, a facilidade e a praticida-
de de ter essas informações e esse conhe-
cimento fazem com que muitas pessoas 
tenham o Google como referência para a 
busca desse conhecimento. O problema 
é restringir-se ao Google e esquecer que 
existem outras fontes de busca de novos 
saberes. Esse é um fator que pode ter con-
tribuído também para a nomofobia.
EXISTE UM PERFIL PREDETERMINADO DO 
NOMOFÓBICO OU TODOS ESTÃO SUJEITOS, 
INCLUINDO AS PESSOAS ADAPTADAS, QUE 
TRABALHAM, ESTUDAM E SÃO CASADAS?
ROSOSTOLATO: Em um estudo feito pela 
Universidade de Granada, na Espanha, 
um levantamento com mil pessoas cons-
tatou que 77% dos indivíduos com ida-
de entre 18 e 24 anos estavam sofrendo 
nomofobia, enquanto que na faixa etária 
de 25 a 34 anos a incidência foi de 68%. 
Além disso, a pesquisa constatou que 
41% dos entrevistados estavam carregan-
DO�COM�ELES�DOIS�CELULARES�PARA�NÎO�lCAR�
desconectado. Observou-se uma inci-
dência mais elevada em mulheres (70%) 
do quem em homens (61%). No Brasil, o 
comportamento compulsivo aumentou 
SIGNIlCATIVAMENTE� ENTRE� ADOLESCENTES� E�
jovens entre 13 e 25 anos. Segundo dados 
de 2013 do IBGE (Instituto Brasileiro de 
'EOGRAlA�E�%STATÓSTICA	������DA�POPULA-
ção brasileira acima de 10 anos possuíam 
telefone móvel.
HÁ UMA RAZÃO PSICOLÓGICA QUE EXPLI-
QUE A MAIOR INCIDÊNCIA DO PROBLEMA 
EM HOMENS OU EM MULHERES?
ROSOSTOLATO: Não. A dependência de 
celular e internet é bastante equiparada 
entre homens e mulheres. As questões 
emocionais relacionadas à nomofobia 
não diferenciam homens e mulheres.
OS JOVENS SÃO MAIS PROPENSOS A ESSE 
TIPO DE DEPENDÊNCIA?
ROSOSTOLATO: No Brasil, o comportamento 
COMPULSIVO� AUMENTOU� SIGNIlCATIVAMENTE�
entre adolescentes e jovens entre 13 e 25 
anos, idade na qual a opinião dos outros é 
MUITO�INmUENTE��/�MAIS�AGRAVANTE�SÎO�DOIS�
aspectos. Primeiro é que os comportamen-
tos e hábitos que aprendem levarão para a 
vida adulta. Uma pesquisa do órgão regu-
lador de telecomunicações do Reino Uni-
do, a Ofcom, sugere que 15% leem menos 
livros por causa do tempo que gastam co-
nectados. O segundo fator é que os jovens 
têm menos controle sobre seus impulsos 
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12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
presentearem crianças de sete anos com 
celulares. O que está por trás disso?
COMO VOCÊ DISSE, HOJE, CRIANÇAS DE SEIS 
OU SETE ANOS JÁ USAM MUITO O WHATSA-
PP E OUTROS RECURSOS DO CELULAR, COM 
CASOS DE VERDADEIROS VÍCIOS EM APLICA-
TIVOS DE JOGOS. NESSAS SITUAÇÕES, QUAL 
A FRONTEIRA QUE SEPARA A “NORMALIDA-
DE” DA INDUÇÃO À NOMOFOBIA?
ROSOSTOLATO: Uma situação bem emble-
mática. Quando essa criança está diante 
de amigos e de brinquedos e a possibi-
lidade de interação com os outros, mas 
PREFERE�l�CAR�AO�CELULAR�DENTRO�DE�CASA�E�
nega constantemente o convite dos ami-
gos, isso já é um sinal evidente de que 
algo está errado.
TAMBÉM HÁ RELATOS DO USO EXAGERA-
DO DO CELULAR NOS RELACIONAMENTOS. 
MUITAS PESSOAS ENCERRAM NAMOROS POR 
MEIO DE MENSAGENS. ISSO SERIA PATOLO-
GIA OU PROBLEMAS DE VALORES?
ROSOSTOLATO: O ghosting é um termo que 
designa um comportamento que muitas 
pessoas vêm adotando para terminar um 
relacionamento, sem o ônus de encarar o 
l�M��&ICAM�COM�O�BÙNUS�DE�UM�l�NAL�SEM�
MAIORES�CONSTRANGIMENTOS�E�JUSTIl�CATIVAS��
É como se “tivessem saído para comprar 
cigarro na esquina” e não voltaram mais 
e, assim, dá um ghosted. Fantasmando 
aqui e acolá. Curioso que, no inglês, tudo 
pode virar verbo. Aqui o sujeito conjuga 
o verbo “fantasmar”. A pessoa vai desa-
parecendo aos poucos, não apenas da 
vida real, como também da vida virtual. 
O efeito Gasparzinho, o fantasminha, no 
caso nada camarada. Terminar é dar um 
desfecho. É fechar uma porta ou, às vezes, 
não precisar fechar. Deixá-la aberta para 
uma amizade, e por que não? Terminar 
com aquele que você viveu durante um 
tempo é conversar tête-à-tête e, por res-
peito aos dois, falar e ouvir. E conversar 
é sempre estar diante do verso do outro. 
Portanto, esteja preparado para aprender 
com o que o outro tem a dizer. 
O USO DO CELULAR PARA O TRABALHO 
TAMBÉM É EXACERBADO EM MUITOS CA-
SOS. HOJE, PODEMOS RESPONDER E-MAILS 
POR MEIO DO APARELHO, USAR WHATSAPP 
PARA FALAR COM CLIENTES, E ISSO POR 24 
HORAS. COMO OBSERVA ESSA IMPOSIÇÃO DA 
SOCIEDADE POR RESPOSTAS RÁPIDAS?
ROSOSTOLATO: A ansiedade é a doença 
da sociedade contemporânea. Tudo é 
imediato, assim como a necessidade de 
respostas. As pessoas são escravas deum sistema consumista e materialista. 
Elegem-se os iguais e os monstros. Não 
somos cordiais, pelo contrário, somos 
selvagens e violentos. Inveja-se o sucesso 
alheio e, ao invés de lutar para conquis-
tar o que o outro também conseguiu, 
prefere-se retirar dele. Relações efêmeras 
e fantasiosas. Não é à toa que a vida vir-
tual é enaltecida. A realidade está cada 
vez mais difícil de encarar.
A PSICOLOGIA CONSIDERA FATORES DE RIS-
CO PARA O DESENVOLVIMENTO DA DEPEN-
DÊNCIA, COMO A OCORRÊNCIA DE EVENTOS 
TRAUMÁTICOS?
ROSOSTOLATO: O uso exagerado do ce-
lular pode denunciar a incapacidade da 
pessoa em lidar com a solidão e ver o ce-
lular como uma companhia, bem como 
pode ser motivado por fatores emocio-
nais ou traumas.
EM UMA SOCIEDADE EMINENTEMENTE TEC-
NOLÓGICA, COMO A NOSSA, O APARELHO 
CELULAR É UM SINÔNIMO DE STATUS E IN-
CLUSÃO SOCIAL. É POSSÍVEL AFIRMAR QUE 
A NOMOFOBIA REPRESENTA UMA DISTORÇÃO 
NA MANEIRA DE ENCARAR ESSES ASPECTOS?
ROSOSTOLATO: Eu acho que sim. O celu-
lar não é inclusão social. Inclusão social 
são as pessoas terem acesso às tecno-
LOGIAS��E�AÓ�ME�REl�RO�NÎO�SØ�Ì� INTERNET�� SHU
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Os recursos que 
o celular oferece 
possibilitam à pessoa 
dar vazão à vaidade. 
(OJE��PODEMOS�l�LMAR�
qualquer coisa e 
quando quisermos, o 
que facilita a invasão 
ao outro. Tudo pode ser 
registrado, editado e 
postado nas redes sociais
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13
mas a hospitais bem equipados e que 
possam assegurar um serviço moderno, 
ágil e acolhedor. Escolas que possam re-
ceber alunos e ofereçam boas condições 
à educação, materiais adequados e uma 
alimentação digna e que sustente crian-
ças e adolescentes. Inclusão é disponi-
bilizar espaços públicos para que todos 
possam transitar e se divertir. Opções 
de parques e áreas de lazer. O celular 
deveria ser um instrumento a mais para 
facilitar a comunicação entre as pessoas 
e não símbolo de status.
AS PESSOAS QUE SOFREM DE NOMOFOBIA 
SE SENTEM REJEITADAS QUANDO NINGUÉM 
LHES TELEFONA OU QUANDO PERCEBEM 
QUE SEUS AMIGOS RECEBEM MAIS LIGA-
ÇÕES DO QUE ELAS?
ROSOSTOLATO: E eis que, quando elege-
MOS� O� OUTRO� COMO� ESPELHO�� E� lXAMOS�
ESSA�IDEIA��lCAMOS�REFÏNS�DA�INVEJA��)NVE-
jar não é cobiçar. Cobiçar é querer algu-
ma coisa do outro, e o desejo impulsiona 
a busca. Pode ser negativo ou positivo. 
Já a inveja é sempre negativa, porque 
se baseia na tristeza que sentimos pela 
FELICIDADE� ALHEIA�� ¡� SENTIR
SE� AmITO� PELA�
prosperidade de outrem, tristeza por 
saber que o outro tem. Outro aspecto a 
ser considerado nos dias de urgência e 
Quando uma criança 
está diante de amigos 
e de brinquedos e 
a possibilidade de 
interação com os outros, 
MAS�PREFERE�lCAR�AO�
celular dentro de casa 
e nega constantemente 
o convite dos amigos, 
é um sinal evidente de 
que algo está errado
imediatismos é não conseguir lidar com 
frustrações e a rejeição. Busca-se o outro 
para preencher os vazios emocionais e 
aguentar a sensação de abandono.
EM QUE MEDIDA O PROBLEMA ESTÁ LIGA-
DO A TRANSTORNOS NO CONTROLE DOS IM-
PULSOS, FAZENDO COM QUE A PESSOA SEJA 
ACOMETIDA POR UMA APREENSÃO NEGATI-
VA EM RELAÇÃO AOS EVENTOS FUTUROS?
ROSOSTOLATO: O século XXI é marcado 
por uma sociedade, eminentemente, an-
siosa. Exigida e cobrada constantemente, 
a pessoa precisa ter respostas para tudo, 
ser, fazer, ter, conseguir, ser reconhecida. 
Essas preocupações, associadas ao medo 
da violência, são ingredientes cruciais 
para tal comportamento. 
ESSE QUADRO PODE CAUSAR SINTOMAS PSÍ-
QUICOS E FÍSICOS DESAGRADÁVEIS. QUAIS 
SÃO ESSES SINTOMAS?
ROSOSTOLATO: Ansiedade, perda de con-
tato com pessoas próximas, sentir-se 
mais feliz na vida virtual que na realidade, 
preocupar-se com as curtidas e comparti-
lhamentos de uma foto e deixar de apro-
veitar os momentos da vida para postar 
uma SELlE são alguns dos sinais da perda 
de limite. O uso abusivo do celular pode, 
inclusive, desencadear depressão.
É CORRETO DIZER QUE, EM GERAL, AS 
PESSOAS NOMOFÓBICAS NÃO ACEITAM 
QUE SOFREM DO PROBLEMA E ATRIBUEM 
SUA ANGÚSTIA A VÁRIAS CAUSAS, COLO-
CANDO A CULPA NO TRABALHO OU NA 
NECESSIDADE DE SE COMUNICAR COM A 
FAMÍLIA OU AMIGOS, NO CASO DE ALGU-
MA EMERGÊNCIA?
ROSOSTOLATO: De maneira geral, o indi-
víduo que sofre com essa dependência 
não possui uma percepção mais ampla 
DA�DIlCULDADE�SOFRIDA�E��POR�ISSO��ATRIBUI�
o problema a outros setores da vida. Esse 
Ï�O�PRIMEIRO�PASSO�PARA�A�ElCÉCIA�DO�TRA-
tamento, o reconhecimento do problema 
e as questões relacionadas a ele.
QUAIS SÃO AS FORMAS DE TRATAMENTO E 
TERAPIA PARA QUEM SOFRE DO PROBLEMA?
ROSOSTOLATO: A psicoterapia é bas-
tante ef icaz. A proposta é fazer com 
que a pessoa substitua a prática com-
pulsiva por escolhas e comportamen-
tos mais adequados, modif icando, 
assim, os valores do sujeito e aguçan-
do o juízo crítico. Resgatar o conta-
to com o outro e as relações sociais. 
Restituir as identif icações e referên-
cias, uma maneira de reconstruir o 
afeto do sujeito, dando-lhe condições 
de se libertar dessa dependência.
O ghosting�\�����������������������G����I������G�������������������������G����G���G�G�������G��
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14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Muller
Por uma PSIQUIATRIA 
mais AMPLA 
quiátrico. Ao reduzir os problemas a 
uma determinada combinação genética 
e a uma química desajustada no cérebro, 
tira-se do paciente qualquer motivação 
de alterar as condições do meio e de re-
condicionar o próprio cérebro para lidar 
com alguns problemas – o que vem se 
mostrando possível até em casos de de-
sordens mentais mais severas.
Não se trata de um manifesto contra 
medicação, que em alguns casos é neces-
SÉRIA�E�El�CAZ��MAS�UMA�FORMA�DE�ABRIR�AS�
possibilidades para se lidar com os sinto-
mas. “Seus programas não apresentam 
equilíbrio entre histórias de pessoas que 
estão resignadas a viver com o que elas 
mesmas consideram doença e aquelas 
que encontram outras formas (além ou 
alternativas ao medicamento) de conviver 
com experiências difíceis ou até de superá
-las”, escreveu a equipe à emissora inglesa. 
Exemplos de sucesso são ignorados 
PELA� GRANDE� MÓDIA�� (OJE�� PROl�SSIONAIS�
de Nova York e vários países europeus 
que representam a abordagem chamada 
Open Dialogue colecionam histórias de 
sucesso na recuperação dos mais severos 
casos de psicoses. Estudos dos últimos 
30 anos de acompanhamento de casos 
de esquizofrenia na Finlândia apontam a 
impressionante incidência de 74% de re-
torno à vida produtiva entre os pacientes 
tratados com surtos psicóticos por meio 
desse método. Na Inglaterra, onde as-
sim como no Brasil e Estados Unidos os 
PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL JUNTAM-SE EM MANIFESTO 
CONTRA O TRATAMENTO DE PROBLEMAS MENTAIS COMO 
MANIFESTAÇÕES EXCLUSIVAMENTE BIOLÓGICAS
UMA DAS 
CONSEQUÊNCIAS 
DESSA VISÃO 
REDUCIONISTA DOS 
PROBLEMAS MENTAIS 
ESTÁ NO PAPEL QUE 
REPRESENTAM OS 
FÁRMACOS, QUE 
DESSA FORMA SE 
TRANSFORMAM NOS 
PROTAGONISTAS DE 
QUALQUER EPISÓDIO 
PSIQUIÁTRICO
D
urante duas semanas os ingle-
ses puderam acompanhar uma 
série de episódios sobre saúde 
mental, reunidos no programa 
In The Mind, da emissora BBC. A inten-
ção, além de promover mais conheci-
mento dos principais diagnósticos, era 
derrubar o estigma que um problema 
mental podetrazer. Para isso, pautaram-
se na ideia de reforçar o caráter bioge-
nético dos distúrbios. Mas ao abordá-los 
como doenças, cujo tratamento reside 
invariavelmente nos produtos farmaco-
lógicos, acabaram criando um risco de 
fortalecer justamente a imagem que in-
tencionaram combater.
Várias pesquisas realizadas em di-
versos países europeus apontam que o 
foco nas raízes biogenéticas é uma for-
ma inapropriada de reduzir a rejeição às 
pessoas que convivem com distúrbios 
mentais como depressão, ansiedade, 
esquizofrenia e bipolaridade. A partir 
DESSA�PERSPECTIVA��QUE�JUSTIl�CA�A�NECES
sidade de abordar a questão de uma for-
ma mais ampla, sem ignorar o papel dos 
fatores psicossociais na saúde mental, 
um grupo formado por dezenas de au-
toridades da Psicologia do Reino Unido 
redigiu uma carta aberta à emissora in-
glesa, alegando que a cobertura, apesar 
de bem-intencionada, pode ter causado 
mais transtornos que soluções.
Segundo o documento, os programas 
ignoraram completamente os debates 
ACERCA� DA� INm�UÐNCIA� DO� MEIO� NO� APA
recimento dos sintomas, alegando que 
são necessariamente e unicamente ma-
NIFESTA¥ÜES� BIOLØGICAS�� !l�NAL�� SEGUNDO�
os autores da carta protesto, apesar dos 
avanços da Neurociência, ainda hoje não 
existem marcadores biológicos para os 
distúrbios citados – motivo pelo qual há 
sempre tanta controvérsia com relação 
aos diagnósticos psiquiátricos.
Uma das consequências dessa visão 
reducionista dos problemas mentais está 
no papel que representam os fármacos, 
que dessa forma se transformam nos 
protagonistas de qualquer episódio psi-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15
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trauma, o paciente encontra novas pers-
pectivas e sente que, aos poucos, ganha 
mais controle sobre sua própria mente. 
Controle que somente é possível de se 
ter quando o problema é analisado sob 
o ângulo psicossocial, já que a visão uni-
camente biológica, além de pouco con-
SISTENTE�CIENTIlCAMENTE��TRAZ�AINDA�MAIS�
vulnerabilidade e a triste sensação de to-
tal falta de poder.
Muito se estuda o fator genético na 
manifestação da esquizofrenia, por en-
quanto com poucos resultados relevantes 
ou práticos. Um dos maiores investigado-
res dos fatores psicossociais ou biológi-
cos por trás dos surtos psicóticos, Brian 
Koehler, supervisor do programa de pós-
doutorado de Psicoterapia e Psicanálise 
da Universidade de Nova York, defende 
que geralmente as diferenças biológicas 
encontradas em diagnosticados com es-
quizofrenia são resultado de circunstân-
cias demasiadamente estressantes, apesar 
de existirem variações genéticas que favo-
recem o aparecimento dos sintomas.
No topo disso está o preconceito que 
a visão do problema mental como doen-
ça cria. Uma meta-análise realizada em 
2011 por pesquisadores do Centro de 
Saúde Mental Pública da Áustria, a partir 
de 33 estudos que tiveram como objetivo 
investigar as atribuições dos problemas 
mentais entre o público leigo, concluiu 
que “a ênfase no modelo de causa bio-
genética é uma forma inapropriada de 
se reduzir o estigma da doença mental”. 
Assim como as causas podem surgir das 
diversas esferas que contribuem para a 
formação desse grande mistério subje-
tivo que é a mente humana, todas elas 
devem ser valorizadas e consideradas na 
busca pela recuperação da saúde.
antipsicóticos são o principal – se não o 
único – meio de tratar esses pacientes, o 
mesmo índice está em 9% (segundo da-
dos divulgados pelo jornal Independent).
O tratamento oferecido pelo Open 
Dialogue não exclui o fármaco, mas 
o desloca para segundo plano, sendo 
inclusive dispensado em muitos casos. 
Tem como princípio o atendimento in-
tensivo, sendo o primeiro encontro pre-
ferivelmente dentro de 24 horas depois 
da crise, sempre em casa ou em um lo-
cal da escolha do paciente. Bem diferen-
te do atendimento psiquiátrico padrão 
no Brasil, em que se consegue (por mo-
tivos de agenda médica, limitações do 
PLANO�E�DO�353�OU�lNANCEIRAS	�AGENDAR�
uma única consulta mensal com o mé-
dico, que vai analisar sobretudo o efeito 
da medicação.
A base da abordagem está, como o 
próprio nome sugere, no diálogo – que 
necessariamente deve envolver a família 
ou as pessoas mais próprias do paciente. 
!�PARTIR�DA�REmEXÎO��QUE�GERALMENTE�RE-
monta a momentos de estremo estresse e 
Michele Muller é jornalista com especialização em Neurociência Cognitiva 
e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O QUANDO e o 
PORQUÊ da supervisão
supervisão Por Ricardo Wainer
UM QUESTIONAMENTO COMUM ENTRE OS ALUNOS 
DA ÁREA DA SAÚDE MENTAL E DOS PRÓPRIOS PSICOTERAPEUTAS 
É COM QUE FREQUÊNCIA HÁ A NECESSIDADE DE 
SUBMETER SEUS ATENDIMENTOS À SUPERVISÃO CLÍNICA
TIVOS� DO� PACIENTE� A� lM� DE� DETERMINAR�
hipóteses diagnósticas representativas; 
O� USO� ABRANGENTE� DE� FORMAS� DE� CONCEI-
TUALIZA¥ÎO� DE� CASO�� O� DESENVOLVIMENTO�
DE� HABILIDADES� TÏCNICAS� PARA� LIDAR� COM�
PROBLEMÉTICAS�ESPECÓlCAS�DOS�CLIENTES��E��
AINDA��O�APRIMORAMENTO� �DA�CAPACIDADE�
DE�METACOGNI¥ÎO�DO�TERAPEUTA�PARA�DAR-
SE�CONTA�DE�SEUS�SENTIMENTOS��EMO¥ÜES��
VISIONADOS	� QUANTO� COMO� PROlSSIONAL�
RECÏM
FORMADO� OU� EM� CURSOS� DE� PØS-
-graduação lato sensu.
!TRAVÏS� DA� PRÉTICA� SUPERVISIONADA��
DIVERSOS�NÓVEIS�DE�HABILIDADES�PSICOTERÉ-
PICAS� SÎO� DESENVOLVIDOS� E� APRIMORADOS��
COMO� A� DE� FORMAR�� CONSOLIDAR� E� MANE-
jar a aliança terapêutica; a capacidade 
DE� OBTEN¥ÎO� DOS� DADOS� MAIS� SIGNIlCA-
E
MBORA� A� RESPOSTA� POSSA� TER� VA-
RIA¥ÜES�DE�ACORDO�COM�A�ORIEN-
TA¥ÎO� TEØRICA� ADOTADA�� ALGUMAS�
CONCEP¥ÜES� TÐM� SE� MOSTRADO�
COMPARTILHADAS� POR� QUASE� TODAS� ELAS1. 
$ENTRE� ESTAS� EST� O� PAPEL� CENTRAL� E� IN-
SUBSTITUÓVEL� DA� SUPERVISÎO� NA� FORMA¥ÎO�
DE� QUALQUER� PSICOTERAPEUTA�� TANTO� EN-
QUANTO� ESTUDANTE� �NOS� ESTÉGIOS� SUPER-
WWW�PORTALCIENCIAEVIDA�COM�BR psique ciência&vida 17
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AS PRÁTICAS PSICOTERÁPICA E DE 
SUPERVISÃO CLÍNICA SÃO PROCESSOS 
15%�%8)'%-�(!"),)$!$%3�#/'.)4)6!3��
AFETIVO-EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS 
NÃO NECESSARIAMENTE ENCONTRADAS NA 
MAIORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS COTIDIANAS
Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, 
com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor 
credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em 
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular 
da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
Referências
1 SUDAK, D. M. et al. Teaching and Supervising Cognitive Behavioral Therapy. Nova York: Wiley, 2015.
2 SIEGEL, D. J. Mindsight: the New Science of Personal Transformation. Nova York: Bantam Books, 2010.
QUE� ERROS� E� ACERTOS� SEJAM� VISTOS� COMO�
GESTOS� HUMANOS� E�� POR� ISSO�� PERFEITOS�
ATÏ�O� LIMITE�DO�PRØPRIO� SER�HUMANO��/�
INDIVÓDUO� SØ� COME¥A� A� ACERTAR� QUANDO�
DESCOBRE�QUE�POSSUI��ALÏM�DA�RAZÎO��SEN
TIMENTOS� E� NECESSIDADES� EMOCIONAIS� E�
QUE��CADA�SER��POR�SUA�VEZ��TEM�UMA�VISÎO�
INDIVIDUAL�DO�MUNDO�E�DAS�COISAS��6ISÎO�
ESTA�QUE�QUANDO� TOLERADA�� COMPREENDI
DA�� LEVA� Ì� UNIÎO� DE� CONHECIMENTOS� EM�
BENEFÓCIO�DE�TODA�A�SOCIEDADE�
!�PRÉTICA�PSICOTERÉPICA�E�DE�SUPERVI
SÎO�CLÓNICA�SÎO�PROCESSOS�QUE�EXIGEM�HA
BILIDADES� COGNITIVAS�� AFETIVO
EMOCIONAIS�
E� COMPORTAMENTAIS� NÎO� NECESSARIAMEN
TE� ENCONTRADAS� NA� MAIORIA� DAS� RELA¥ÜES�
HUMANAS� COTIDIANAS�� 0ARTINDO
SE� DESSA�PREMISSA���DE�SE� IMAGINAR�QUE�O�PSICO
TERAPEUTA� E� O� SUPERVISOR� DEVAM� BUSCAR�
FORMA¥ÎO� PROl�SSIONAL� E� PESSOAL� QUE� OS�
LEVEM�A�ATINGIR�NÓVEIS�ELEVADOS�NESSAS�HA
BILIDADES�SUBJACENTES�AO�TRABALHO�CLÓNICO2.
4ANTO� A� PRÉTICA� DAS� DIVERSAS� MO
dalidades de psicoterapias quanto o 
TRABALHO�DE�SUPERVISÎO�CLÓNICA�EXIGEM�
QUE�OS� PROl�SSIONAIS� ENVOLVIDOS� CONSI
GAM� SE� COLOCAR� NA� POSI¥ÎO� DO� OUTRO��
3OMENTE�ASSIM�Ï�POSSÓVEL�QUE�SE�OBTE
NHA�UMA�REAL�E�PROFUNDA�COMPREENSÎO�
DAS�VIVÐNCIAS�E�DOS�SIGNIl�CADOS��%IS�AÓ�
O� PORQUÐ� PRINCIPAL� DA� SUPERVISÎO� EM�
Psicologia e Psiquiatria.
TRATÏGIAS� DE� ENFRENTAMENTO� COMUMENTE�
ACIONADAS�NA�RELA¥ÎO�COM�ALGUMAS�CON
DI¥ÜES�PSICOPATOLØGICAS�DOS�PACIENTES�
¡� TÉCITA� A� EXIGÐNCIA�DE� CERTA�PERIO
dicidade de supervisão para todo aque-
LE� QUE� TEM� NA� SUA� PRØPRIA� CAPACIDADE�
DE� ENTRAR� EM� CONEXÎO� EMOCIONAL� COM�
O� OUTRO�� 0ORTANTO�� TODO� PSICOTERAPEUTA�
deve buscar supervisão ao longo de sua 
CARREIRA�� POIS� ATRAVÏS� DESTA� IDENTIl�CARÉ�
POSSÓVEIS� ARMADILHAS� PARA� O� AVAN¥O� DO�
TRATAMENTO� ADVINDAS� DAS� CREN¥AS� E� AU
TOMATISMOS� DE� SUA� PERSONALIDADE�� )SSO�
EXPLICA�� INCLUSIVE�� POR� QUE� PRATICAMEN
TE� NENHUM� TERAPEUTA� PODE� ATENDER� El�
CIENTEMENTE�TODOS�OS�TIPOS�DE�PACIENTES��
#OM� ALTA� PROBABILIDADE� HAVER� AQUELE�
PACIENTE�QUE�ATIVA�OS�ESQUEMAS�MENTAIS�
MAIS�PRIMITIVOS�E�DESADAPTATIVOS�DO�TE
RAPEUTA��CAUSANDO�REA¥ÜES�NEGATIVAS�IN
DISFAR¥ÉVEIS�NA�RELA¥ÎO�TERAPÐUTICA�
6Ð
SE�ASSIM�QUE�A�SUPERVISÎO�CLÓNICA��
ALÏM�DOS�CONHECIMENTOS�QUE�TRAZ�E�DOS�
OUTROS�QUE�LAPIDA��TAMBÏM�BUSCA�ESTIMU
LAR�AS�HABILIDADES�TERAPÐUTICAS�DE�EMPATIA�
E� DE� HUMILDADE� DO� TERAPEUTA�� FAZENDO�
COM�QUE�ESTE�FA¥A�UM�EXERCÓCIO�CONSTANTE�
�E�POR�VEZES�DOLOROSO	�DE�AUTOCRÓTICA�
#OMPREENDER�A�SI�MESMO�E�AOS�QUE�
CONOSCO� CONVIVEM�ACEITANDO� SUAS� FALAS�
�DAR�UM�PASSO��FRENTE�PARA�QUE�AS�RE
LA¥ÜES�HUMANAS�SE�TORNEM�TÎO�ESTREITAS�
COGNI¥ÜES�E�COMPORTAMENTOS�NA�RELA¥ÎO�
COM�OS�PACIENTES��O�QUE�TENDE�A�FUNCIONAR�
COMO�FERRAMENTA�CRUCIAL�NO�TRATAMENTO�
$ESDE� O� INÓCIO� DAS� TERAPIAS� COGNITI
VO
COMPORTAMENTAIS� �4##S	�� MUITO� SE�
TEM� ESTUDADO� E� APROFUNDADO� SOBRE� O�
APRIMORAMENTO�DO�TREINAMENTO�DE�TERA
PEUTAS� COGNITIVOS� E�� CONSEQUENTEMENTE��
DOS�MELHORES� FORMATOS� DE� SUPERVISÎO� A�
SEREM�OFERECIDOS�EXIGIDOS1. Dentre algu-
MAS� DAS� MAIS� IMPORTANTES� CONCEP¥ÜES�
DA� ADVINDAS�� PONTUAM
SE� A� NECESSIDA
DE�DE� SUPERVISÎO� INTENSIVA� EM� TODOS�OS�
PRIMEIROS� ATENDIMENTOS� DO� ALUNO�PRO
l�SSIONAL�� A� IMPORTÊNCIA� DE� SUPERVISÜES�
INDIVIDUAIS� �MESMO�QUE�CONJUGADA�COM�
SUPERVISÜES�EM�GRUPO	��A�EXIGÐNCIA�DE�SU
PERVISÎO�EM�INTERVALOS�REGULARES�QUANDO�
DO�ATENDIMENTO�DE�CASOS�DE�POPULA¥ÜES�
ESPECÓl�CAS�COMPLEXAS��COMO�TRANSTORNOS�
DE�PERSONALIDADE�BORDERLINE�E�NARCISISTA��
TRANSTORNOS�ALIMENTARES�SEVEROS��QUADROS�
ADICTOS�REFRATÉRIOS�E�OUTROS�CASOS�CRONI
l�CADOS�OU�ESTAGNADOS��/UTRO�PONTO�EM�
especial a ser destacado é a necessidade 
de o terapeuta conhecer seus próprios 
ESQUEMAS� MENTAIS�� BEM� COMO� SUAS� ES
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
MAIS DO QUE UMA FORÇA PESSOAL, A AUTENTICIDADE 
É UMA CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA A FELICIDADE GENUÍNA. 
MAS NEM SEMPRE É FÁCIL SER AUTÊNTICO
A lata de azeite e os impeditivos 
da VIDA AUTÊNTICA (parte 1) 
Talvez a má intenção dispense mais 
explicações. Contudo, ela guarda em si 
um aspecto muito interessante: de to-
das as quatro razões que impedem que 
uma pessoa seja autêntica, essa, parado-
xalmente, é a única que ainda possui um 
pouco de autenticidade. Parece estranho? 
Vejamos a situação hipotética de um in-
divíduo mau caráter, cujos valores dizem 
respeito a maximizar vantagens pesso-
ais em detrimento dos direitos alheios. 
Se essa pessoa roubar, por exemplo, ela 
pessoas a serem elas mesmas; nas suas me-
lhores versões. A carência de autenticida-
de parece crescer na exata proporção dos 
discursos politicamente corretos. Como 
SE�ESSES�ÞLTIMOS�FOSSEM�SUl�CIENTES�PARA�A�
conquista de um mundo melhor.
O fato é que depois de muitos anos 
NESTA�PROl�SSÎO��CONCLUÓ�QUE�SÎO�QUATRO�AS�
razões que impedem que um indivíduo 
leve uma vida autêntica: má intenção, 
desconhecimento, falta de coragem e o 
“moedor de carne”.
Q
uem me conhece sabe. Poucas 
coisas me irritam mais do que 
pessoas, cujas vidas não corres-
pondem ao seus discursos. Tal-
vez essa tenha sido a principal força motriz 
que me levou a trabalhar com desenvolvi-
MENTO�HUMANO��!l�NAL�DE�CONTAS��VALORES�E�
sentimentos nobres de nada adiantam sem 
atitude. Nesse sentido, tanto em consultó-
rio quanto nos cursos que ministro, meu 
OBJETIVO�Ï�O�DE�PROVOCAR�A�REm�EXÎO�CAPAZ�
de gerar a ação. Uma ação que ajude as 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
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estará sendo completamente coerente 
com seus valores. Sua única falta de au-
tenticidade será com relação àquilo que 
ela diz serem seus valores, ou seja, em 
relação ao seu muito provável discurso 
sobre direitos e cidadania que ela mante-
ria justamente para ludibriar os demais e 
conseguir atingir seus objetivos escusos. 
O mal intencionado tem o mérito do au-
toconhecimento. Seu único pecado, en-
tão, do ponto de vista da autenticidade, é 
seu discurso enganoso.
A segunda razão que impede uma 
vida autêntica é o desconhecimento. O 
imperdoável desconhecimento de si mes-
mo que, ao impedir que o sujeito tenha 
consciência acerca de suas próprias ver-
dades, remete-o a viver verdades alheias. 
Aqui o indivíduo pode ou não trair seu 
discurso, contudo a suposta traição seria 
menos alarmante do que a traição de seu 
próprio eu. Sócrates dizia que o homem 
desconhecido de si mesmo é um bárbaro. 
Nesse sentido, o ritmo da vida cotidiana, 
POR� NÎO� PERMITIR� A� AUTORREm�EXÎO�� ESTARIA�
NOS�LEVANDO�Ì�BARBÉRIE��)SSO�SIGNIl�CA�QUE�
a autenticidade é impossível sem o auto-
conhecimento. Talvez por essa razão esse 
último seja a pedra angular de todo traba-
lho psicoterapêutico. Por outro lado, por 
mais que seja apaixonada por esse tipo de 
trabalho, descordo de alguns colegas que 
Al�RMAM� QUE� TODO� INDIVÓDUO� DEVERIA� SE�
submeter à psicoterapia. 
O autoconhecimento pode ser solitá-
rio. Contudo, ele depende de um timimg 
QUE�PERMITA�A�AUTORREm�EXÎO��!LÏM�DISSO��
poderíamos também ter um sistema edu-
cacional que, por meio do exercício da 
autoconsciência, levasse as pessoas a uma 
vida autêntica. Mas isso seria um luxo que 
o atual modelo de educação para o “ter” 
NÎO� NOS� PERMITIRIA�� !l�NAL�� IMPORTANTE�
mesmo é passar no vestibular e frequen-
tar uma faculdade boa o bastante para nos 
A AUTENTICIDADE 
É IMPOSSÍVEL SEM O 
AUTOCONHECIMENTO. 
TALVEZ POR 
ESSA RAZÃO ESSE 
ÚLTIMO SEJA A 
PEDRA ANGULAR DE 
TODO TRABALHO 
PSICOTERAPÊUTICO
garantir o trabalho em uma empresa que 
nos renda um bom dinheiro. 
Mas existe um outro tipo de pesso-
as que, também vítimas do desconheci-
mento, acabam por levar uma existência 
INAUTÐNTICA�� 3ÎO� AQUELES� QUE� l�ZERAM� O�
caminho em direção ao seu eu interior, 
acessaram seus valores e suas verdades, 
contudo não sabem exatamente como 
colocá-los em prática. Isso acontece, por 
exemplo, em relação à Psicologia Positiva. 
Nesses mais de 10 anos que venho minis-
trando cursos sobre o tema nunca encon-
trei alguém que não se apaixonasse por ele. 
.O�ENTANTO��RAROS�SÎO�AQUELES�QUE�MODIl�caram seu cotidiano com os ensinamentos 
aos quais tiveram acesso nesses cursos ou 
em suas leituras. Por esse motivo, creio que 
a Psicologia Positiva precise hoje, mais do 
que da divulgação, de demonstração. É 
por isso que criamos, no nosso Instituto de 
Psicologia Positiva e Comportamento, um 
curso de formação em Psicologia Positiva 
baseado em design thinking e totalmente 
voltado para a aplicação prática dos concei-
tos estudados nessa área. Porque mudar o 
mundo está ao alcance de cada um de nós.
Sobre a falta de coragem e o “moedor 
de carne” discutiremos no próximo mês, 
na parte 2 deste texto. É lá que você vai 
entender o que a “lata de azeite” tem a ver 
com isso tudo. Aguarde!
Ou acesse www.escala.com.br
JÁ NAS 
BANCAS!
Conheça essa fabulosa 
trajetória e seja 
testemunha dos 
fatos que fizeram dos 
templários verdadeiros 
mitos do cristianismo.
A HISTÓRIA 
DOS CAVALEIROS 
TEMPLÁRIOS
20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
DESLIG@R ou
DESLIG@R-SE?
A PRESENÇA DAS NOVAS 
TECNOLOGIAS NA VIDA DAS FAMÍLIAS 
É IRREVERSÍVEL, PORÉM O CONTROLE 
DA SUA UTILIZAÇÃO DEVE SER 
CUIDADOSO, COMO O DE TODAS AS 
DEMAIS ATIVIDADES
N
a era televisiva, quando os pais 
decidiam encerrar o dia dos f i-
lhos frente à tevê, ou mesmo 
quando queriam que se dedicas-
sem a outras atividades, bastava desligar 
o aparelho. Era um botão a ser acionado 
e pronto. Havia choros, resmungos, mas o 
caso estava encerrado.
(OJE�� TEMOS� UMA� INlNIDADE� DE� OP¥ÜES�
TECNOLØGICAS�AO�DISPOR�DAS�CRIAN¥AS�E�JOVENS�
e não basta desligar o computador, pois há 
o tablet, o celular, os jogos eletrônicos... e 
quem não aderir ao uso dessas tantas possi-
bilidades que nos plugam instantaneamente 
com o mundo praticamente torna-se um ser 
fora de seu tempo, isolado do meio social. 
%��AlNAL��AS�CRIAN¥AS�DE�HOJE�NASCEM�hPLU-
gadas”, como se diz popularmente, e os pais 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia 
da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena 
curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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l�CAM�SEM�SABER�COMO�AGIR� FRENTE�AOS�
inevitáveis confrontos que surgem.
!DULTOS�E�CRIAN¥AS�USAM�DA�TECNOLO
gia e da internet para praticamente tudo: 
ESTUDO�� TRABALHO�� LAZER���� )NFORMA¥ÜES�DE�
toda ordem são transmitidas e não se 
pode negar que ocorre um ganho real, 
POIS�H�TROCAS�SIGNIl�CATIVAS��IMPORTANTES��
DIVERSIl�CADAS��DE�CUNHO�INFORMATIVO�ATU
alizado que advém da internet, dos jogos 
eletrônicos, que constituem por si mes-
mos um rico ferramental no desenvolvi-
mento de várias habilidades mentais.
Criou-se, a partir da segunda metade 
do século XX, um modo de comunica-
¥ÎO� E� ENTRETENIMENTO� QUE� ENVOLVE� DES
de os muito jovens até os adultos, que 
se não substituiu os livros, de alguma 
forma tomou boa parte do lugar desses. 
%NTRETANTO�� COMPLICA¥ÜES� TRAZIDAS� ÌS� JÉ�
COMPLEXAS�QUESTÜES�CONTEMPORÊNEAS�RE
ferentes à disciplina se ampliaram à me-
dida que o uso dessas máquinas se alas-
trou e se tornou de uso tão comum que 
realmente é difícil saber o limite entre o 
QUE�Ï�OU�NÎO�SAUDÉVEL�PARA�AS�CRIAN¥AS��
%� PARA� OS� ADULTOS� TAMBÏM�� QUE�� Al�NAL��
são os responsáveis pelo exemplo.
Somos a princípio muito protetores 
COM�NOSSOS�l�LHOS�NO�DIA�A�DIA��MAS�FACIL
MENTE�PERMITIMOS�QUE�l�QUEM�EXPOSTOS�
Ì�ESTIMULA¥ÎO��VIOLÐNCIA�ENCOBERTA�SOB�A�
forma de veículos tecnológicos. Como?
0ARA� COME¥AR�� O� ESTÓMULO� VISUAL� E�
auditivo, continuado, intenso, extrema-
mente envolvente, gera no cérebro uma 
CONDI¥ÎO�PRAZEROSA��POIS�INSTIGA�O�SISTE
ma límbico a liberar dopamina, gerando 
bem-estar, levando ao comportamento 
DE� REPETI¥ÎO� DO� COMPORTAMENTO�� POR�
vezes exagerado e pernicioso. Por isso a 
DIl�CULDADE�EM�PARAR��EM�DESLIGAR�O�JOGO��
pois sempre há uma nova etapa a vencer. 
Casos dramáticos de comportamento 
aditivo já foram descritos até em crian-
¥AS�PRÏ
ESCOLARESå
Perdemos muito em conhecimen-
TO� COM� O� EXCESSO� DE� INFORMA¥ÎO� QUE�
nos chega pela internet. O tempo de 
LEITURA�� DE� ASSIMILA¥ÎO�� DE� PESQUISA��
se reduz consideravelmente frente ao 
inesgotável torrencial de dados que é 
POSSÓVEL�OBTER�EM�MINUTOSå�
A questão toda é o cuidado, o limite 
que se deve colocar no uso dos eletrô-
NICOS�E�DA�INTERNET��!l�NAL��NINGUÏM�SØ�
trabalha, faz esportes ou estuda o dia 
INTEIROå� !S� ATIVIDADES� DIÉRIAS� DEVEM�
ser múltiplas, permitindo contato com 
DIVERSAS� SITUA¥ÜES�� EXPERIÐNCIAS� E� PES
soas. As trocas presenciais são compro-
vadamente indispensáveis para a saúde 
mental, para o equilíbrio emocional e 
permitem um crescimento mais sadio.
Intercalar atividades, dosar os ho-
rários, colocar sempre as atividades 
QUE�EXIGEM�SUA�ATEN¥ÎO��ESFOR¥O�MEN
tal (como tarefas escolares) antes do 
lazer vão impedir que cenas de birra 
por deixar um jogo, em troca de fazer 
LI¥ÜES��ACONTE¥AM�
$E� FORMA� ALGUMA� UMA� CRIAN¥A�
sai à rua sozinha em um bairro des-
conhecido, não é? Então, como pode 
NAVEGAR�SEM�A�PRESEN¥A�DE�UM�ADULTO�
por sites que podem levar a conteúdos 
inesperados ou a contatos indesejados? 
Antes dos dez anos é contraindicado 
QUE�CRIAN¥AS�NAVEGUEM�SEM�UM�ADULTO�
POR� PERTO� E�� QUANTO�MENOR� A� CRIAN¥A��
MAIOR�A�VIGILÊNCIA��A�ORIENTA¥ÎO�QUE�A�
família deve oferecer. Um horário gra-
dual deve ser estabelecido de acordo 
com a idade e a possibilidade de um 
responsável estar presente e atento en-
quanto o pequeno navega pela internet 
ou quando está jogando, pois todos 
os momentos podem ser importantes 
AS TROCAS PRESENCIAIS SÃO 
COMPROVADAMENTE INDISPENSÁVEIS 
PARA A SAÚDE MENTAL, PARA O 
EQUILÍBRIO EMOCIONAL E PERMITEM 
UM CRESCIMENTO MAIS SADIO
PARA� UMA� INTERVEN¥ÎO� ADULTA� SOBRE� O�
tempo utilizado e o conteúdo visto.
!SSIM�� TAMBÏM�� CELULARES� SOl�STI
cados de acesso à internet devem ser 
deixados para mais tarde. A princípio 
AS� CRIAN¥AS� A�PARTIR� DOS� SEIS� ANOS�PO
dem receber (se necessário) um celu-
lar que lhes permita falar apenas com 
seus pais e familiares, mas com ele re-
ceber algumas regras de uso: guardar 
o aparelho nas horas de estudo (para 
EVITAR� A� DISPERSÎO	�� NAS� REFEI¥ÜES� COM�
a família (e os pais devem fazer o mes-
mo) e após o jantar o aparelho deve ser 
DESLIGADO� DEl�NITIVAMENTE�� UMA� NOITE�
de sono é muito importante para um 
CÏREBRO�EM�FORMA¥ÎO�
É bom que se diga também que 
jogos eletrônicos bem utilizados, sem 
dúvida, estimulam positivamente o cé-
rebro infantil, aumentam a massa cin-
zenta, desenvolvem habilidades especí-
l�CAS�E�LEVAM�Ì�UMA��PARTICIPA¥ÎO�SOCIAL�
de outra ordem , à qual não se pode 
NEGAR�A�IMPORTÊNCIA��
Dizer não pode não ser simpático 
nem agradável, mas, como em todas as 
DEMAIS� ÉREAS� DA� EDUCA¥ÎO�� Ï� INDISPEN
SÉVEL�PARA�IMPOR�LIMITES�SEGUROS��!l�NAL��
frente à necessidade de uma boa noite de 
SONO��SEM�TODA�ESSA�ESTIMULA¥ÎO�CEREBRAL�
dispensável, e com tantos bons livros in-
FANTIS�PARA�SEREM�LIDOS�POR�PAIS�E�l�LHOS��
jogos de tabuleiro a serem experimenta-
dos, conversas e trocas a serem feitas... 
SEMPRE��BOM�PENSAR�EM�MODIl�CAR�A�RO
tina e deslig@r-se�DA�TECNOLOGIAå�
22 psique ciência&vida
COMPORTAMENTO
Uma quebra de 
PARA DIGMA
COMPORTAMENTO
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23
Marcos Fernandes é psicanalista e médico veterináriohomeopata, mestre em saúde pública pela USP e autor do livro 
Cara de um, Focinho do outro (Editora Butterfly). 
www.psicaveth.com.br. E-mail: meduardo@usp.br
Estudos comprovam os benefícios da interação 
entre o homem e os animais, como diminuição 
do estresse, equilíbrio da frequência cardíaca, 
da pressão arterial e até do colesterol, além de 
ajudar no tratamento de problemas psíquicos
 Por Marcos Fernandes
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24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
COMPORTAMENTO
A insegurança e a descrença no ser humano 
sustentam o crescente culto em cultivar 
objetos de satisfação. A união com um 
animal de estimação poderia se inserir nessa 
lógica, que permitiria buscar a superação do 
sentimento de separação da natureza
a descrença no próprio ser humano 
sustentam o crescente culto em cul-
tivar objetos de satisfação. A união 
com um animal de estimação pode-
ria se inserir nessa lógica, que per-
mitiria buscar a superação do sen-
timento de separação da natureza 
(Fromm, 1974). 
A zooterapia é a ciência que estu-
da as possibilidades terapêuticas do 
contato com os animais. É transdis-
ciplinar e com muitas possibilidades 
de aplicação. Ela consiste em uma 
terapia com a presença de animais, e 
busca promover no paciente estímu-
lo ao toque para despertar sua sensi-
bilidade tátil ou, até mesmo, reações 
psicológicas e emocionais. 
Os tratamentos zooterapêuticos 
podem ser utilizados em crianças, 
Em nenhum momento da história da humani-dade a relação entre os homens e os animais foi tão intensa e impor-
tante quanto nesse exato momento. 
Nunca houve tanta ligação, seja fí-
sica ou afetiva, e nem tamanho en-
volvimento emocional e apego dos 
humanos para com os animais, es-
pecialmente cães e gatos. 
Esse contato data de cerca de 11 
mil anos para os cães e 9.500 anos 
para os felinos. Pesquisas mostram 
que o convívio com os animais é 
considerado um dos melhores re-
cursos terapêuticos. Especialmen-
te para as pessoas que vivem em 
grandes centros urbanos, o animal 
representa contato com a natureza 
(Fromm, 1974). 
Segundo Fromm, o ser humano 
atual, como em qualquer outra épo-
ca vivida, busca a união para reduzir 
essa separação. Tal busca é interpes-
soal, porém, contemporaneamente, 
em um mundo que se caracteriza 
pela velocidade das informações e 
pela competitividade (relações pes-
soais ou trabalho), a insegurança e 
HIPÓCRATES INAUGURA A MEDICINA 
BASEADA NA OBSERVAÇÃO CLÍNICA
 PARA SABER MAIS 
OMédico grego, Hipócrates (456-370 a.C.) foi considerado o pai da Medicina e, por isso mesmo, o mais célebre médico da Antiguidade, além de pio-
neiro da observação clínica. Filho de Heráclides e Fenareta, era descendente de 
Asclépio, deus grego da Medicina, por parte de pai, e de Hércules, por parte de 
mãe. Especula-se que integrou uma sociedade secreta chamada Asclepíades, 
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����I�\���9����������G�����PH������ ������I��G��:� �����������G��I���
Medicina na escola do Templo de Esculápio. Por volta de 300 a.C. começaram a 
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53 tratados com os ensinamentos provavelmente pertencentes a Hipócrates. 
A coleção é uma das primeiras obras que se referem à Medicina como ciência 
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ciência baseada na observação clínica. Considera que todo corpo traz em si os 
elementos para a sua recuperação. Mas o conhecimento do corpo só é possível 
a partir do conhecimento do homem como um todo.
Estudos mostram que o convívio com os animais é considerado um excelente recurso terapêutico, 
principalmente para quem vive em grandes centros urbanos 
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As pessoas que têm animal de estimação 
fazem menos visitas médicas, permanecem 
menos tempo no hospital e possuem maior 
facilidade de adaptação a uma nova rotina de 
recuperação depois de uma doença
idosos e pessoas que apresentam 
ou não algum tipo de deficiência. 
Como nas terapias convencionais, 
na zooterapia, os resultados depen-
dem de uma série de fatores que en-
volve a tríade animal co-terapeuta 
x paciente x profissional (Becker, 
2003; Dotti, 2005). 
Na zooterapia, quando são utili-
zados cães, a terapia assistida é de-
nominada de cinoterapia, enquanto 
a por equinos é a equoterapia ou 
hipoterapia. Há também a terapia 
assistida por golfinhos ou botos, co-
nhecida como bototerapia. 
Não se trata de uma terapêutica 
recente. Hipócrates (456-370 a.C.) 
recomendava a equitação para re-
generar a saúde e conservar o corpo 
humano. Além disso, afirmava que a 
prática de equitação ao ar livre me-
lhorava a qualidade do tônus muscu-
lar. Na Grécia antiga, nos chamados 
“templos de cura”, os cães já eram 
utilizados para essa finalidade, sen-
do que a mais importante divindade 
de cura entre os gregos, conhecida 
como Asclépio, costumava se ma-
nifestar por meio de “cães sagrados” 
(Sheldrake, 1999).
No final do século XIX, na Bél-
gica, médicos perceberam que pa-
cientes com algum tipo de deficiên-
cia mental passavam a se socializar 
melhor em virtude do convívio com 
animais. Na Inglaterra, nos anos 
30, pesquisadores descobriram um 
fato curioso: em asilos, os idosos 
que estavam acompanhados de seus 
animais eram mais sociáveis e inde-
pendentes. Nos Estados Unidos, em 
1940, utilizou-se pela primeira vez a 
terapia animal para aqueles que con-
valesciam de ferimentos ou proble-
mas emocionais causados durante a 
Segunda Guerra Mundial. 
Pioneirismo
No Brasil, na década de 1950, a médica psiquiatra Nise 
da Silveira foi uma pioneira na IMAG
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pesquisa das relações emocionais 
entre pacientes e animais, que os 
denominava como co-terapeutas. 
Percebeu essa possibilidade de tra-
tamento ao observar um paciente 
que se responsabilizara por cuida-
dos a uma cadela abandonada. Esse 
paciente obteve melhora do quadro 
diante da responsabilidade de tratar 
do animal como ponto de referência 
afetiva em sua vida. A partir daí, ela 
passou a observar e a documentar as 
melhoras visíveis quando os pacien-
tes psiquiátricos estavam em conta-
to direto com os animais, inclusive 
se responsabilizando diretamente 
pelos seus cuidados básicos, como 
alimentação e higiene. Já na Alema-
nha, o Instituto Bethel, originaria-
mente um hospital para epiléticos, 
utiliza pássaros, gatos, cães, cavalos 
e outros animais domésticos como 
parte importante no tratamento de 
pacientes com alterações psicológi-
cas e emocionais.
Estudos diversos focalizam 
perspectivas diferentes sobre o pa-
pel dos animais no desenvolvimento 
do comportamento e da persona-
lidade humana. As formas de rela-
cionamento entre humano e animal 
podem ser divididas nos seguintes 
grupos: Atividade assistida por ani-
mais – envolve visitação, recreação 
Nos anos 30, na Inglaterra, especialistas descobriram que, em asilos, os idosos que estavam acompanhados 
de seus animais eram mais sociáveis e independentes
26 psique ciência&vida
COMPORTAMENTO
No relacionamento com o animal de estimação 
há uma diminuição do nível de cortisol, que é o 
hormônio liberado quando o corpo está numa 
condição de estresse físico e mental, que, em 
excesso, tem a sua ação no sistema imunológico
e distração por meio do contato dos 
animais com as pessoas. O propósito 
é estimular um início de relaciona-
mento e sem um objetivo claro. Tera-
pia assistida por animais – é dirigida 
e desenhada para promover a saúde 
física, social, emocional ou funções 
cognitivas. É uma terapia documen-
tada e com resultados avaliados. Te-
rapia facilitada por cães –é a terapia 
realizada exclusivamente com cães. 
Educação assistida por animais – 
é a terapia realizada com animais 
dentro do contexto educacional. 
A terapia funciona por meio do 
contato direto com o animal. Quan-
to mais a pessoa sentir empatia por 
animais, mais será beneficiada pela 
zooterapia. Entre os benefícios da 
Até mesmo como estímulo contra o sedentarismo 
a presença do animal é importante, pois são 
companheiros também nas atividades físicas
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comportamento humano e o tratamento de patologias psicológicas. Dis-
cípula de Jung, a médica e psiquiatra revolucionou a forma do tratamento dos 
doentes mentais, usando técnicas artísticas – pintura e desenho, por exemplo 
–, como terapia. Pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes 
e animais, defendia o fim de tratamentos tradicionais, como o eletrochoque, o 
uso de drogas e o confinamento clínico. Nascida em Maceió, Alagoas, Nise in-
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de sua turma, bem como uma das primeiras médicas do Brasil. Já no Rio de 
Janeiro, ficou presa por mais de um ano, denunciada por manter livros consi-
derados subversivos. No presídio, conviveu com o escritor Graciliano Ramos, 
que narrou essa amizade em Memórias do Cárcere. Por discordar dos trata-
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se resumia a tarefas de limpeza e manutenção do hospital. Lá, revolucionou o 
tratamento clínico dos pacientes ao criar ateliês de pintura e modelagem. Em 
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de hospitais psiquiátricos. 
interação entre humanos e animais 
destacam-se redução no tempo de 
recuperação das doenças e maior 
sobrevida dos pacientes acometi-
dos de cardiopatia isquêmica, uma 
vez que nesses casos houve dimi-
nuição da ansiedade e da depressão. 
Até mesmo como estímulo contra o 
sedentarismo a presença do animal 
é importante. 
Já está comprovado cientifica-
mente que a companhia de um ani-
mal de estimação diminui nosso es-
tresse, equilibra a frequência cardí-
aca, a pressão arterial e até o coles-
terol. As pessoas que têm animal de 
estimação fazem menos visitas mé-
dicas, permanecem menos tempo no 
hospital e possuem maior facilidade 
de adaptação a uma nova rotina de 
recuperação depois de uma doença 
(Becher, 2003). 
Esses benefícios ocorrem em 
função da liberação de hormônios 
e neurotransmissores responsáveis, 
especialmente, pelo bem-estar. No 
relacionamento com o animal de 
estimação há uma diminuição do 
nível de cortisol, que é o hormônio 
liberado quando o corpo está numa 
condição de estresse físico e mental, 
que, em excesso, tem a sua ação no 
sistema imunológico. 
Crianças
O contato com animais estimula a interação social, por exem-
plo, para as crianças. Os cães são 
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amigos especiais, membros da fa-
mília. Crianças com traumas e his-
tórico de abuso e, portanto, que têm 
dificuldade de formação de vínculos 
podem, através dos cães, conquistar 
confiança e facilitar a formação dos 
mesmos. Os animais ajudam muito 
a criança a lidar com o luto, pois, 
normalmente, é na infância que nos 
deparamos com essa situação pri-
meiramente, na medida em que a 
criança vivencia a morte do passari-
nho, gatinho e mesmo dos seus cães. 
A presença dos animais em casa 
facilita o processo de aprendizagem, 
tais como leitura, memorização e 
concentração, pois crianças, comu-
mente, são vistas lendo em voz alta 
para os seus cães, pois elas se sentem 
mais à vontade. Afinal, eles não as 
repreendem nem as corrigem. 
Os animais ajudam na melhora 
das capacidades motora, cognitiva e 
sensorial. Podem ser de grande aju-
da na psicoterapia, pois eles fazem a 
ponte com o terapeuta e este pode 
alcançar o paciente de forma mais 
fácil e rápida. Proporcionam im-
portante melhora na capacidade de 
comunicação de autistas. Crianças 
e adolescentes com ansiedade têm 
seus sintomas amenizados na pre-
sença dos animais. Eles facilitam, 
também, o processo de aprendiza-
gem através da expressão de senti-
mentos e motivação. 
Outra constatação importan-
te no acompanhamento de animais 
que visitam seus tutores internados 
em hospitais é o desejo que estes 
demonstram em melhorar, a fim de 
cuidarem dos mesmos. Além disso, 
os animais podem atuar como su-
porte emocional, assumindo o papel 
de cúmplices, que ouvem confidên-
cias e não as revelam. 
A terapia funciona com o conta-
to direto com os animais, e quanto 
mais a pessoa sentir empatia por eles 
mais será beneficiada pela zootera-
pia, que pode ser um auxílio no tra-
mentais, paralisia cerebral, paraple-
gia, sequelas de traumatismo cra-
niano, autismo, distúrbios da fala, 
síndrome de Down, entre outras. Ela 
melhora a elasticidade e a f lexibili-
dade, a coordenação motora, a acui-
dade visual, tátil, auditiva e olfativa, 
o domínio respiratório, o aumento 
da percepção do próprio corpo, me-
lhora a capacidade de concentração 
e ainda estimula sensações e percep-
ções que incrementam o afeto e in-
serem o indivíduo na sociedade. 
O movimento tridimensional 
do cavalo se assemelha ao realiza-
do pelo ser humano. Nesse sentido, 
pacientes com algum tipo de defici-
ência motora que montam esses ani-
mais acabam por receber estímulos 
de forma repetida no sistema nervo-
so central, desencadeando respostas 
positivas. Dentre os benefícios po-
demos destacar a melhora no desen-
volvimento motor, maior adequação 
do tônus muscular, melhora na co-
ordenação motora e no controle da 
Os animais 
ajudam na melhora 
das capacidades 
motora, cognitiva e 
sensorial. Pode ser 
de grande ajuda na 
psicoterapia, pois 
eles fazem a ponte 
com o terapeuta 
e este pode 
alcançar o paciente 
de forma mais 
fácil e rápida
Crianças que 
viveram situações 
traumáticas e, em 
consequência, 
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de formação de 
vínculos podem, 
por meio dos 
cães, conquistar 
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tamento de muitas doenças, dentre 
elas: Alzheimer, Aids, paralisia ce-
rebral, demências, derrame, afasia, 
ansiedade, depressão, síndrome do 
pânico, fobia social. 
A hipoterapia ou equoterapia é 
indicada para deficiências motoras e 
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COMPORTAMENTO
Uma constatação importante no 
acompanhamento de animais que visitam seus 
tutores internados em hospitais é o desejo 
que estes demonstram em melhorar. Além 
disso, os animais podem atuar como suporte 
emocional, assumindo o papel de cúmplices
cabeça e do tronco, proporcionando 
maior equilíbrio. Aplicada no Brasil 
aproximadamente há quinze anos, 
é indicada, principalmente, para 
crianças com síndrome de Down, 
paralisia cerebral e dislexia. 
Asinoterapia
Há, também, a asinoterapia – te-rapia com burros –, pois trata-
-se de um animal de temperamento 
dócil e muito inteligente. Está indi-
cado, principalmente, em síndrome 
de Down, autismo, traumas cra-
nioencefálicos, acidente vascular 
cerebral, amputações, desordens 
emocionais, distrofias muscula-
res, dificuldades de atenção, fala e 
aprendizagem, paralisia cerebral, 
distúrbios visuais e auditivos, atraso 
no desenvolvimento neuropsicomo-
tor, paralisias e hemiplegias. 
Um estudo realizado por Beck e 
Katcher (2003), com 92 pessoas in-
fartadas, apontou que 53 delas pos-
suíam animais de estimação.

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