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Revista Psique A mãe invisível

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DESCUBRA OS SEGREDOS DOS 
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JÁ NAS BANCAS!
editorial
Ser mãe é vivenciar 
contrações e contradições
Gláucia Viola, editora
3ER�MÎE�NÎO�Ï�UMA�PROlSSÎO�� 
NÎO�Ï�NEM�MESMO�UM�DEVER��Ï�APENAS�UM�
DIREITO�ENTRE�TANTOS�OUTROS�
Oriana Fallaci
A 
maternidade é, sem dúvida, a construção de um novo papel na vida da mulher. Acredito que 
mesmo já tendo passado por esse momento mais de uma vez, cada gravidez tem a sua particu-
laridade de sentimentos e emoções. 
O fato é que a idealização da maternidade faz parte da nossa cultura. Ela já começa antes da 
gestação, com um movimento punitivo e de muito julgamento às mulheres que defendem o seu direito de 
NÎO�QUERER�SER�MÎE��¡�DIFÓCIL�A�SOCIEDADE�ENTENDER�O�DESEJO�DE�NÎO�TER�lLHOS��/�CONCEITO�DE�SER�COMPLETO�POR�
meio da maternidade manifesta-se ainda durante a infância através das brincadeiras de boneca. 
/�MITO�DE�QUE�ESSE�Ï�O�PERÓODO�MAIS�LINDO�DA�VIDA�DE�UMA�MULHER�PERMANECE��PELO�MENOS�ATÏ�O�lNAL�DA�
INFÊNCIA�E�A�ENTRADA�DA�ADOLESCÐNCIA�DO�lLHO��.OS�PRIMEIROS�ANOS��TUDO�Ï�UMA�NOVA�DESCOBERTA��O�ANDAR��
O�FALAR��O�COME¥O�DA�ESCRITA��ENTRE�OUTROS�ENCANTAMENTOS��/�FOCO�Ï�SEMPRE�A�CRIAN¥A��-AS�ONDE�lCA�A�MÎE�
nesse processo? Seus medos, suas inseguranças, suas dúvidas? Permanece tudo pra-
ticamente invisível, diluído em meio aos cuidados do bebê e na luta emocional de 
conciliar maternidade, carreira, vida afetiva e individualidade. Sim, porque a perda da 
identidade da mulher diante da vivência materna é um fenômeno aceito socialmente. 
Frente a esse cenário, esta edição da Psique Ciência & Vida, convidou a psicóloga 
perinatal Raquel Jandozza para debater esse paradoxo que envolve intensa felicidade 
EM�SER�MÎE�E�OS�CONmITOS�GERADOS�PELA�hINVISIBILIDADEv�DA�PRØPRIA�IDENTIDADE�A�PARTIR�DAÓ��
h!O�ENGRAVIDAR�� A�MULHER� SE�VÐ�DIANTE�DE�MUDAN¥AS� FÓSICAS�E�BIOLØGICAS�COMUNS��
contudo, ao mesmo tempo, passa a ocupar um papel social investido de uma série de 
VALORES�E�CONCEP¥ÜES�QUE�A�ENGESSAM�EM�UM�hMODELOv�NO�QUAL�SØ�LHE�RESTA�SE�ADE-
QUARv��EXPLICA�2AQUEL�NO�ARTIGO�DA�PÉGINA����
Essa adequação, porém, é custosa em muitos sentidos e possui questões muito sub-
jetivas da mulher. É por essa razão que a maternidade passou a ser estudada e com-
PREENDIDA�POR�DIFERENTES�CAMPOS�DO�SABER��INCLUSIVE�PELA�0SICOLOGIA��.ESSE�SENTIDO��O�
texto apresenta também a discussão sobre o modelo obstétrico tradicional e a imple-
mentação de alternativas como o Parto Humanizado. Para a psicóloga, esse procedi-
mento oferece à mulher a possibilidade de retomar seu lugar de protagonista ativa tanto na sua gravidez, no 
parto diferenciado e, consequentemente, no exercício materno. 
Que esse artigo contribua para que as contrações e as contradições da maternidade sejam vividas em 
equilíbrio aos outros aspectos também importantes da vida. 
Boa leitura! 
Gláucia Viola
WWW�FACEBOOK�COM�0ORTAL%SPACODO3ABER
12
3R
F
CAPA
sumário
07/03/2017 13:17:5
9
MATÉRIAS
ENTREVISTA
Para Cristiana Facchinetti, 
a Psicanálise precisa descobrir 
novos caminhos para enfrentar 
alterações profundas nas 
subjetividades humanas
SEÇÕES
06 EM CAMPO
16 IN FOCO 
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 UTILIDADE PÚBLICA 
30 PERFIL 
32 COACHING
34 LIVROS
48 NEUROCIÊNCIA
50 RECURSOS HUMANOS
52 CIBERPSICOLOGIA 
54 SEXUALIDADE 
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
Dislexia em pauta 
Não se trata de um problema 
comportamental ou educacional, 
AINDA�QUE�ESSES�POSSAM�DIlCULTAR�A�
IDENTIlCA¥ÎO�E�MELHORA
08
Afetividade rompida 
!�DIFÓCIL�ACEITA¥ÎO�DO�lM�DA�RELA¥ÎO�
ESBARRA�EM�CONmITOS�PSICOLØGICOS�
COMO�O�AMOR�PRØPRIO�E�O�RESGATE�
de quem somos como indivíduos 
Diagnósticos incerto 
Equívocos sobre a Dislexia ainda 
a relacionam às questões de 
hereditariedade e à possível maior 
incidência em meninos
24
74
IM
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Combate à invisibilidade
/�MERGULHO�NO�UNIVERSO�
MATERNO�DA�GRAVIDEZ� 
e na criação de um 
lLHO�FAZ�COM�QUE�A� 
mãe vivencie a perda 
da identidade de mulher 
Dossiê: NOVOS 
MECANISMOS DE 
APRENDIZAGEM
Habilidades socioemocionais 
SÎO�FERRAMENTAS�DE�APRENDIZADO�
E�DEVEM�SER�ALVO�ESTRATÏGICO�DA�
atenção de educadores e familiares 
www.portalciencia
evida.com.br
psique ciência&vid
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ia
 
Pesquisadores 
como Jean Piag
et 
dedicaram sua 
obra 
para compreen
der 
e explicar o mu
ndo 
da criança e o 
seu 
desenvolvimen
to 
emocional, além
 
do tanto que e
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fatores influenc
iam 
no processo de
 
aprendizado
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O universo da 
COGNIÇÃO
e o ato de 
aprender
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23/02/2017 12:50:32
35
70
56
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
CONSCIÊNCIA FEMININA
REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 124
giro escala
Em artigo da edição 124 da 
revista Filosofia Ciência&Vida , 
Isaque Trevisam Braga, mestre em 
Filosof ia pela Pontif ícia Universi-
dade Católica de São Paulo e espe-
cialista em Filosof ia Clínica pelo 
Instituto Interseção de São Paulo, 
destaca como a Filosof ia tem o ob-
jetivo de liberar o homem daquilo 
que é denominado imprevisível, 
além de indicar os limites de qual-
quer classif icação, acabando por 
oferecer ao homem a liberdade 
que, em uma situação de ordena-
mento total, coincide com a indi-
cação do espaço do possível.
Para ele, em consonância com 
ESSE� PAPEL� ATRIBUÓDO� Ì� &ILOSOlA�� A�
&ILOSOlA� 0RÉTICA� COMO� ACONSELHA-
MENTO� lLOSØlCO� SURGE� COMO� UMA�
atividade bastante conhecida na 
%UROPA� E� NO�MUNDO�� NA� QUAL� O� l-
lósofo, com seu olhar através da 
&ILOSOlA�� PROPORCIONA� A� ASCENSÎO�
às dimensões de mundo e do eu, 
introduzindo a procura por um dis-
cernimento daquilo que se subtrai, 
daquilo que não é, mas poderia ser, 
lembrando seu papel fundamental 
de orientar o outro com a investi-
GA¥ÎO�DO�lLOSOFAR� COMO�UMA�CHA-
ma que acende improvisadamen-
te na alma. Não perca esse ótimo 
conteúdo presente na edição 124 
da revista &ILOSOlA, além de arti-
gos sobre política, ética, socieda-
de, comportamento e economia, 
todos elaborados por especialistas 
e desenvolvidos com base em uma 
AMPLA�VISÎO�lLOSØlCA�E�ACADÐMICA�
O LEGADO DE BAUMAN
REVISTA SOCIOLOGIA – EDIÇÃO 68
No início do mês de janeiro, o 
mundo perdeu um de seus prin-
cipais intelectuais do século XX 
e XXI. Aos 91 anos, o sociólogo 
polonês Zygmunt Bauman mor-
reu em Leeds, na Inglaterra, cida-
de onde vivia desde a década de 
1970. Bauman deixou uma exten-
sa e relevante obra, sendo mun-
dialmente reconhecido pelo con-
ceito de modernidade líquida. A 
importância e a peculiaridade de 
seus pensamentos despertaram, 
no início dos anos 2000, o inte-
resse de Dennis de Oliveira, pro-
fessor associado da Universidade 
de São Paulo, jornalista e doutor 
em Ciências da Comunicação.
Para Dennis de Oliveira, Bau-
man discutia estruturas sociais, 
analisando os impactos nas rela-
ções entre as pessoas como con-
sequências dos ordenamentos 
sociais contemporâneos. O pro-
fessor acompanhou toda a trajetó-
RIA� LITERÉRIA�DO� SOCIØLOGO�POLONÐS�
e tem ideias consolidadas a res-
peito do legado deixado por ele. 
Destaca que a teoria crítica e o 
marxismo apresentam referências 
importantes para se compreenderO� MUNDO� ATUAL�� AO� CONTRÉRIO� DE�
muitos que acham que essas teo-
rias morreram. Em entrevista ao 
número 68 da revista Sociologia, 
/LIVEIRA� ABORDA� VÉRIAS� QUESTÜES�
que diziam respeito ao universo 
e às ideias de Zygmunt Bauman 
e fala sobre o legado deixado por 
sua extensa e rica obra.
 TON MARAR
A sinergia entre as várias disciplinas do 
saber para a exposição da matemática
REFLEXÃO E PRÁTICA: Ética e julgamento sobre o prisma da escolha
A filosofia prática como um importante 
exercício terapêutico na contemporaneidade 
ÓDIO A 
PRIMEIRA VISTA
A correspondência 
entre afeto e razão 
na construção da 
tolerância
BELEZA PURA?
Em meio aos padrões, 
como pensar 
sobre questões de 
autenticidade
ANO X No 124 – www.portalespacodosaber.com.br
EQUILÍBRIO 
CONSTANTE
�(',d­2�������35(d2�5�������
RENATO JANINE RIBEIRO
A dura realidade da supressão 
do ensino das matérias humanas
O LEGADO NADA LÍQUIDO DE BAUMAN, POR DENNIS DE OLIVEIRA, DA ECA
www.portalespacodosaber.com.br
O VERDADEIRO 
DESENVOLVIMENTO
Em Sala de Aula: Discuta o trabalhismo e seus desdobramentos atuais
Os aspectos que o infl uenciam e como o Estado 
pode promovê-lo, na teoria e na prática
Mundo 
na era Trump
Ações do 
novo presidente 
dos EUA podem 
TF�DPOm�HVSBS�
enormes 
paradoxos, 
B�TVSQSFFOEFS��
os reacionários 
F�B�FTRVFSEB�
Quem é 
o novo
intelectual?
Pensadores 
precisam rever 
TFV�QBQFM�
frente aos 
novos cenários 
sociopolíticos 
Política na 
modernidade
3FHSBT
�
JOTUJUVJªFT�F�
atores políticos 
DPOTBHSBEPT�
não mais 
respondem 
isoladamente 
às demandas na 
BUVBMJEBEF
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
em campo 
EDUCAÇÃO EMOCIONAL
Competências socioemocionais são a 
aposta de iniciativa mundial na educação 
com vistas a uma formação diferencial 
no novo milênio. A Organização para 
a Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE) encabeça a 
construção de instrumentos que meçam 
tais competências no ensino público, 
e quem auxilia nesse trabalho é uma 
entidade brasileira, o Instituto Ayrton 
Senna. Resiliência, autocontrole, 
perseverança, protagonismo, entre outras 
características já são conteúdo ensinado 
na escola estadual Chico Anysio, no Rio 
de Janeiro, referência em competências 
emocionais. A instituição continua, pelo 
terceiro ano executivo, sendo indicada 
como colégio de excelência na rede 
pública nacional, apresentando excelentes 
resultados acadêmicos e na gestão de 
vida de seus alunos.
EMPRESAS POSITIVAS
Pelo menos três grande empresas 
brasileiras perceberam que bem-estar 
e produtividade caminham juntas e 
aplicaram conhecimentos da Psicologia 
Positiva em seus treinamentos e gestão. 
Natura, Elektro e 3M já colhem excelentes 
resultados, que extrapolam as suas 
instalações e contribuem na gestão pessoal 
de vida de seus funcionários. A taxa de 
retorno do investimento nesse tipo de 
iniciativa é sempre positiva, segundo 
estudos do especialista norte-americano 
em Psicologia Positiva Shawn Archor. No 
Brasil não tem sido diferente e a aplicação 
da abordagem nas companhias tende a 
ser um novo paradigma na condução dos 
por Jussara Goyano
FORMA X CONTEÚDO
ANATOMIA DO CÉREBRO ESTÁ ASSOCIADA 
A PERSONALIDADE E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS, 
DIZ ESTUDO
#ADA�VEZ�MAIS�ACHADOS�DEMONSTRAM�COMO�A�ANATOMIA�E�A�lSIOLOGIA�DO�CÏREBRO�
determinam nossos comportamentos. Altos níveis de neuroticismo, que predispõem 
as pessoas a distúrbios neuro-psiquiátricos, por exemplo, foram associados com o 
aumento da espessura e à área reduzida em algumas regiões do córtex, como pré-
-frontal e temporal. Por outro lado, uma personalidade mais aberta, ligada à curiosi-
dade, à criatividade e ao gosto por novidade, foi associada com o padrão oposto: re-
duzida espessura e um aumento na área do córtex pré-frontal. Um estudo a respeito, 
CONDUZIDO�PELA�5NIVERSIDADE�DO�%STADO�DA�&LØRIDA��FOI�PUBLICADO�NA�REVISTA�CIENTÓlCA�
Social Cognitive and Affective Neuroscience. 
A pesquisa baseou-se em neuroimagens de mais de 500 indivíduos, disponíveis 
através do Human Connectome Project, uma iniciativa dos Institutos Nacionais de Saú-
de dos EUA para mapear vias neurais de funcionamento do cérebro humano. 
O arquivo do projeto contém imagens de indivíduos saudáveis entre 22 e 36 anos 
de idade, sem histórico de graves problemas médicos neuro-psiquiátricos ou outros. 
Os pesquisadores explicam que a relação entre a estrutura do cérebro e traços de 
personalidade em pessoas jovens e saudáveis pode mudar à medida que as pessoas 
envelhecem, como indicado em estudos anteriores conduzidos pela mesma equipe, 
incluindo a colaboração de especialistas da Universidade de Cambridge.
PARA SABER MAIS:
Roberta Riccelli, Nicola Toschi, Salvatore Nigro, Antonio Terracciano, Luca Passa-
monti. 3URFACE
BASED�MORPHOMETRY�REVEALS�THE�NEUROANATOMICAL�BASIS�OF�THE�lVE-
-factor model of personality. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2017; nsw175 
DOI: 10.1093/scan/nsw175
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
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S:
 1
23
RF
EXERCÍCIO 
E VISÃO
ATIVIDADE FÍSICA 
PODE INTERFERIR NO 
PROCESSAMENTO VISUAL
Bom para a depressão e o coração, determi-
nante da longevidade, excelente para a memória: o 
exercício f ísico é remédio e terapia para uma série 
de distúrbios e parece interferir, também, em nossa 
visão, embora ainda não seja possível determinar, 
com precisão, em que nível ele é capaz de aumentar 
nossa acuidade visual.
Estudos anteriores já haviam determinado re-
lação entre a ativação dos mecanismos de proces-
samento visual de ratos e a atividade f ísica, em 
nível cerebral e, agora, pesquisadores da Univer-
sidade de Santa Barbara trataram de verif icar se 
o mesmo acontece no cérebro humano, quando 
praticamos esporte.
Um experimento baseado em neuroimagem e 
testes comportamentais, envolvendo também ati-
vidade f ísica, resultou na descoberta de que exer-
cícios de baixa intensidade impulsionam a ativação 
do córtex visual e podem mudar a forma como a 
informação visual é processada. O estudo foi publi-
cado no Journal of Cognitive Neuroscience.
PARA SABER MAIS:
Tom Bullock, James C. Elliott, John T. Serences, 
Barry Giesbrecht. Acute Exercise Modulates 
Feature-selective Responses in Human Cortex. 
Journal of Cognitive Neuroscience, 2016; 1 DOI: 10.1162/
jocn_a_01082
AR
Q
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VO
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AL
Jussara Goyano é jornalista e coach certificada 
pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). 
Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou 
Medicina Comportamental na UNIFESP.
COGNIÇÃO 
NA DEPRESSÃO
ESTUDO IDENTIFICA PROTEÍNAS 
POSSIVELMENTE RELACIONADAS 
AOS PROBLEMAS DE MEMÓRIA 
E CONCENTRAÇÃO EM QUADROS 
DA DOENÇA
Quase 7% da população mundial (apro-
ximadamente 400 milhões de pessoas) 
é afetada pela depressão, considerada 
pela Organização Mundial de Saúde 
a doença mais incapacitante da 
atualidade. Tristeza, fadiga e 
pensamentos obsessivamen-
te negativos fazem parte 
do quadro, que também 
engloba disfunções cogni-
TIVAS��$IlCULDADE�DE�CONCEN-
tração, de memória e tomada de 
decisões são sintomas que tendem a se 
arrastar até mesmo quando os outros sintomas desaparecem, o 
que carateriza o potencial incapacitante da doença. O pesqui-
sador Marco A. Riva e seus colegas determinaram, por meio de 
pesquisa em animais, como a depressão cerebral pode afetar a 
COGNI¥ÎO�EM�UM�NÓVEL�MOLECULAR��IDENTIlCANDO�SUBSTÊNCIAS�QUE�
sinalizam as mudanças ocasionadas pelo distúrbio.
Certas proteínas foram encontradas em maior quantidade 
nogrupo de ratos de controle em resposta a um teste cognitivo 
normal, de reconhecimento de objetos, e em menor frequência 
no grupo de ratos com sintomas característicos de depressão 
humana. Outros estudos recentes sugeriram que essas proteí-
nas (oligophrenin-1 e Bmal1) desempenham funções nos pro-
cessos cognitivos. A descoberta servirá de base para futuras 
pesquisas sobre tratamentos para depressão maior e transtor-
nos relacionados ao estresse, que também ocasiona as mesmas 
disfunções cognitivas.
PARA SABER MAIS:
Francesca Calabrese, Paola Brivio, Piotr Gruca, Magdalena 
Lason-Tyburkiewicz, Mariusz Papp, Marco A. Riva. Chronic 
Mild Stress-Induced Alterations of Local Protein Synthesis: 
A Role for Cognitive Impairment. ACS Chemical Neuroscience, 
2017; DOI: 10.1021/acschemneuro.6b00392
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
CRISTIANA FACCHINETTI
CR
ÉD
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Cristiana acredita que os 
conceitos permanecem, mas 
ela não concorda com a ideia 
de comparar as diversas linhas 
existentes da Psicanálise
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
Na opinião de Cristiana Facchinetti, por isso mesmo 
a Psicanálise deve se repensar para lidar com esse novo cenário 
contemporâneo, com as subjetividades adquirindo formas 
muito distintas daquelas produzidas desde o século XVII
E N T R E V I S T A
O 
documentário Hestórias da Psicanáli-
se – Leitores de Freud discorre sobre 
a apropriação brasileira da obra de 
Sigmund Freud e da Psicanálise e 
foi elaborado a partir de entrevistas com leito-
res de Freud espalhados por cidades brasileiras e 
europeias. O f ilme toca em temas como história, 
tradução, cultura, linguagem e, principalmen-
te, Freud. A partir da obra do diretor e também 
psicanalista Francisco Capoulade, a psicóloga e 
psicanalista Cristiana Facchinetti, uma das con-
vidadas a participar do documentário, fala sobre 
esses e outros temas.
Cristiana possui graduação em Psicologia 
(1993) e mestrado (1996) e doutorado (2001) em 
Teoria Psicanalítica, todos pela Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem um estágio 
de pós-doutoramento em História das Ciências e 
da Saúde (2006) pela Fiocruz. Atualmente é pes-
quisadora do Departamento de Pesquisa e pro-
fessora do Programa de Pós-Graduação em His-
tória das Ciências e da Saúde, ambos da Casa de 
Oswaldo Cruz (Fiocruz), além de professora do 
Programa de Mestrado Prof issional em Atenção 
Psicossocial do IPUB (UFRJ) e coordenadora da 
Rede Iberoamericana de Investigadores em His-
tória da Psicologia. É especializada nas áreas de 
Psicanálise e de História, atuando como orienta-
dora principalmente nos seguintes temas: Brasil, 
Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia. 
ESTAMOS VIVENDO 
UM MOMENTO DE 
MUDANÇAS NAS 
SUBJETIVIDADES
Por Lucas Vasques
10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
mento é construído com os instrumen-
tos dados pela língua, pela cultura e pela 
história social e familiar que antecedem 
o sujeito, de onde ele surge, como efei-
to dos discursos que o atravessam. Se os 
sujeitos não têm imanência e não ante-
cedem os discursos, mas são produzidos 
por eles, o que dizer dos objetos? Pode-
mos dizer que há um referente externo? 
Não é o que parece. Eles são tão variáveis 
quanto é variável a compreensão sobre 
eles. Por isso, usos e leituras dos objetos é 
que determinam seu sentido. E tal leitu-
ra, que é psíquica, é também limitada por 
uma determinada Weltanschauung.
ATUALMENTE, COM TANTAS COMPLEXI-
DADES QUE NORTEIAM O COMPORTAMEN-
TO HUMANO, O MÉTODO DE FREUD AIN-
DA É INDICADO PARA OS MESMOS CASOS 
DE SUA ÉPOCA? EM CASO POSITIVO, POR 
QUAIS RAZÕES?
CRISTIANA: Mais uma pergunta difícil. 
As complexidades do comportamento 
humano sempre existiram; sempre exis-
tirão. A questão é que o que é patológico 
ou anormal em um período pode deixar 
de ser em outro. Mais do que biológica, 
então, a questão do comportamento é 
uma questão cultural. Por exemplo, até 
algumas décadas atrás a homossexuali-
dade era considerada patologia (inver-
são sexual) pela Medicina mental. Hoje 
não mais, graças ao movimento social 
e político que lutou pela capitulação da 
Medicina nesse caso. Desde o século 
XIX, muitos indivíduos, especialmente 
mulheres com crises histéricas graves, 
adentravam os asilos e os consultórios 
médicos. Além disso, mulheres que não 
QUERIAM� CASAR�� QUE� NÎO� QUERIAM�lLHOS��
que estudavam muito etc. foram toma-
das como alienadas. Mas essas moças, 
frequentemente diagnosticadas como 
histéricas, desapareceram dos prontuá-
rios ainda na primeira metade do século 
XX, dando lugar no asilo para a psicose 
maníaco-depressiva e para a degenera-
ção. Mudou a cultura, mudou o tempo. 
Com a entrada da Psicanálise no discur-
so da Psiquiatria dinâmica, em meados 
DO�SÏCULO�88��MUDOU�O�PERlL�DOS�SUJEI-
tos internados, mapeados nos prontuá-
rios como neuróticos ou psicóticos. Essa 
FORMA�DE�IDENTIlCAR�O�SOFRIMENTO�PSÓQUI-
co ganhou a opinião pública, as artes, os 
jornais, gerando em muitos lugares aqui-
lo que se concebeu como cultura psica-
nalítica. A partir do DSM-III (Diagnostic 
and Statistical Manual of Mental Disorders) 
e com o crescimento da Psiquiatria dita 
biológica, certamente diminuiu o núme-
ro de mulheres que chegam ao consul-
tório do analista se intitulando como 
histérica. Por outro lado, o DSM ganhou 
circulação social: os pacientes que nos 
chegam ao consultório hoje já nos che-
gam frequentemente anunciando serem 
portadores de síndromes e transtornos, 
lidos nas revistas femininas ou obtidos 
através de questionários para medica-
mentos, ou mesmo dados pelo ginecolo-
gista, ou clínico geral... às vezes até pelo 
psiquiatra (rs.). Os diagnósticos, por sua 
vez, criam – eles próprios – uma identi-
dade de doente para o paciente. Então, 
sem dúvida, a Psicanálise precisa hoje 
lidar com os novos sujeitos advindos das 
condições da cultura do nosso tempo; e 
também com a nova/velha maneira de 
perceber o sujeito e seu sofrimento psí-
quico como resultado de uma disfunção IMA
GE
NS
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AN
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L 
IS
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A/
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ÊN
CI
A 
BR
AS
IL
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 1
23
RF
BASICAMENTE, SOBRE O QUE FOI SEU DE-
POIMENTO NO DOCUMENTÁRIO HESTÓRIAS 
DA PSICANÁLISE?
CRISTIANA: Tratamos de diversos as-
suntos. A minha entrevista foi feita em 
diálogo com Sérgio Paulo Rouanet. 
Então, falamos bastante de literatura, 
romantismo, iluminismo e Psicanálise. 
Mas eu diria que o que mais apareceu 
DA�MINHA�FALA�NO�lLME�FOI�A�DIMENSÎO�DA�
Hestória da Psicanálise, tanto no sentido 
das apropriações singulares – a história 
pessoal de encontro com esse Estranho 
mundo do Inconsciente e as apropria-
ções sociais – quanto no sentido das 
condições locais de apropriação. Quem 
SABE�NA�CONTINUA¥ÎO�DO�lLME�A�DIMEN-
são estética e cultural por nós dois assi-
nalada seja mais sublinhada.
A PSICANÁLISE ESTÁ SEMPRE EM EVOLU-
ÇÃO. MESMO ASSIM, VOCÊ CONSIDERA QUE 
AS IDEIAS DE FREUD AINDA SÃO ATUAIS? 
COMO ADAPTAR OS PRINCIPAIS CONCEITOS 
FREUDIANOS PARA OS DIAS DE HOJE?
CRISTIANA: Vamos começar pela ideia de 
evolução, que eu considero equivocada, 
porque remete a progresso, melhoria. Eu 
não acho que a Psicanálise esteja sempre 
em evolução. Eu acho que ela é sempre 
apropriada de acordo com os contextos 
– temporais, sociais, culturais – e que 
o referente “Psicanálise”, isto é, aquilo 
que Freud realmente pensou ao escre-
ver seu trabalho, seu sentido último, está 
para sempre perdido; a escritura é sem-
pre apropriada e reapropriada de modo 
particular, incessantemente. No capítulo 
sete da Interpretação dos Sonhos (1900), 
&REUD� AlRMA�QUE� AS�MARCAS�MNÐMICAS�
sempre tendem a seguir as mesmas Bah-
nungen, facilitadas que são, mas que, ao 
mesmo tempo, sempre se produz um 
diferencial, mesmo quando se trata de 
repetir o idêntico. Assim, ainda que se 
pense que os conceitos são universais e 
atemporais, como alguns o propõem, a 
Psicanálise também se faz marcar pelo 
contingente e pela historicidade. Só é 
possível compreender aquilo que passa 
pelo aparelho psíquico. Esse entendi-
Ainda que se pense 
que os conceitos são 
universais e atemporais, 
como alguns o propõem, 
a Psicanálise também 
se faz marcar pelo 
contingente e pela 
historicidade. Só é 
possível compreender 
aquilo que passa pelo 
aparelho psíquico
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te, não se trata de necessidade de atuali-
zações, mas da existência de circulação e 
apropriações diferenciadas.
EXISTEM NOVAS PESQUISAS SENDO DESEN-
VOLVIDAS HOJE EM DIA A RESPEITO DA EFI-
CÁCIA DO MÉTODO FREUDIANO, E SE EXIS-
TEM, COM QUAIS OBJETIVOS?
CRISTIANA: A pesquisa em Psicanálise 
que se realiza atualmente traz a marca de 
sua historicidade. De fato, desde Freud 
se questiona sobre o estatuto da Psica-
nálise. Sua Interpretação dos Sonhos (1900) 
foi muitas vezes considerada como ad-
VINDA�DO� CAMPO�DA�lC¥ÎO�� ASSIM� COMO�
sua Metapsicologia (Strachey, 1975; 
Ellenberger, 1976). Já Legrand (1973) a 
contrapôs à ciência empírica, propondo 
a Psicanálise como uma terceira via de 
conhecimento. Tais debates sobre o esta-
tuto da Psicanálise ganharam particular 
interesse primeiro na França e depois no 
Brasil, especialmente a partir da década 
de 1990, quando passaram a ser sistema-
tizados nas universidades – em particu-
lar nas pós-graduações. De lá para cá, 
um número muito grande de pesquisas 
vem sendo desenvolvido no campo. Nes-
sa tradição, fazer pesquisa em Psicaná-
LISE��RECONHECER�SUAS�ESPECIlCIDADES��O�
legado da clínica e a centralidade do su-
jeito do Inconsciente, para começar; sua 
metodologia; e o retorno aos textos que 
formulam suas teorias para a construção 
de novas perguntas, a partir de interes-
ses particulares de pesquisas e dos novos 
contextos históricos e culturais. Já com 
RELA¥ÎO�Ì�ElCÉCIA��ALGUNS�OUTROS�ESTUDOS�
– em sua maioria advindos de uma tra-
dição anglo saxã – buscam estabelecer e 
comprovar os resultados positivos da te-
rapia psicanalítica, como indica Wallers-
tein (2001). Entretanto, é bom chamar 
atenção que tais investigações parecem 
estar mais preocupadas com dados para 
a assistência e para os planos de saúde, 
assim como com bons argumentos para 
os consumidores, do que propriamente 
com a singularidade do sujeito do In-
consciente, pesquisa essa que não pode 
SER�QUANTIlCADA��#OMO�J�APONTOU�,ACAN�
neuronal, hormonal etc. Mas enquanto 
houver esse sujeito moderno – dividi-
DO�� EM� CONmITO��MARCADO�PELO� RECALQUE�
e pelo inconsciente, mas também pela 
liberdade –, a Psicanálise também conti-
nuará a existir.
COMO PESQUISADORA DA HISTÓRIA DA 
PSICANÁLISE, VOCÊ ACREDITA QUE É POS-
SÍVEL COMPARAR AS DIVERSAS LINHAS DE 
FREUD, LACAN, WINICOTT, MADALAINE 
ETC., EM TERMOS DE CONCEITOS E PRÁTI-
CAS CLÍNICAS?
CRISTIANA: Alguns conceitos permane-
cem, mas não compreendo a ideia de 
comparação; são apropriações diversas, 
que valorizam determinadas partes da 
teoria freudiana sob a luz de interesses e 
entendimentos locais e particulares.
LACAN, APESAR DE ADEPTO DE FREUD, 
DESENVOLVEU ALGUMAS RELEITURAS E 
REFORMULOU TEORIAS QUE SÃO MUITO 
CONCEITUADAS HOJE. ISSO NÃO SIGNIFICA 
QUE AS IDEIAS DE FREUD PRECISAM SER 
ATUALIZADAS?
CRISTIANA: Considero que Lacan, ao se 
dizer freudiano, ao propor um retorno 
a Freud, o faz dando plena legitimidade 
PARA� AQUILO� QUE� OUTROS� lZERAM�� TALVEZ�
sem perceber: ele reconhece essa apro-
priação e faz dela sua própria escritura. 
E é justamente o reconhecimento dessa 
apropriação personalíssima – marca da 
circulação da Psicanálise na França de 
seu tempo e de seus círculos intelectuais 
– que faz a obra dele ganhar a originali-
dade e a dimensão que possui. E por ou-
tro lado, é por isso também que ele pode 
AlRMAR�SUA�LEITURA�COMO�FREUDIANA��SEM�
hesitar. Assim, como disse anteriormen-
Se os sujeitos não 
têm imanência e não 
antecedem os discursos, 
mas são produzidos 
por eles, o que dizer dos 
objetos? Podemos dizer 
que há um referente 
externo? Não é o que 
parece. Eles são tão 
variáveis quanto é 
variável a compreensão 
sobre eles
Cristiana cita que, até 
algumas décadas atrás, 
a homossexualidade era 
considerada patologia. 
Hoje não mais, graças, 
principalmente, ao 
movimento social e político
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As complexidades do comportamento humano 
sempre existiram; sempre existirão. A questão é 
que o que é patológico em um período pode deixar 
de ser em outro. Mais do que biológica, então, a 
questão do comportamento é uma questão cultural
(1998), tal preocupação com o sucesso 
pode levar à tentativa de vender a Psica-
nálise dentro de um regime de exigência 
de felicidade, o que seria mesmo uma to-
tal renegação da Psicanálise.
QUAIS OS IMPACTOS DO LEGADO DE FREUD 
PARA OS PROFISSIONAIS DA PSICANÁLISE E 
POR QUE HÁ TANTOS ESPECIALISTAS QUE 
DIVERGEM DE SUAS IDEIAS?
CRISTIANA: Freud reabriu a ferida narcí-
sica que a Medicina positiva e tecnológi-
ca, apoiada na promessa de cura, sempre 
insistiu em fechar. O legado de Freud é 
justamente essa insistência de se apontar 
para o mal-estar estrutural do sujeito na 
cultura. É esse chamado mal-estar, que 
não é sempre o mesmo, ainda que pos-
tulemos e saibamos de sua insistência 
permanente, assim como esse método 
OBSCURO��QUE�ESCAPAM�Ì�QUANTIlCA¥ÎO�E�
à objetivação e que atraem as críticas. Os 
especialistas desejam um modelo experi-
mental de observação e teste, para ade-
quar o saber psicanalítico à ciência po-
sitiva. Como se o humano coubesse em 
uma expressão matemática. Ou numa 
estatística. Não cabe. E isso incomoda. 
Como Freud mesmo observou, isso fez 
– e faz – com que a Psicanálise perca “a 
simpatia de todos os amigos do pensa-
MENTO� CIENTÓlCOv� �&REUD�� ������ P�� ��	��
Além disso, suas teorias sobre a sexua-
lidade ganham até hoje certa resistência.
HÁ UMA PSICANÁLISE BRASILEIRA? E HÁ 
UMA PREVALÊNCIA DA PSICANÁLISE NO 
BRASIL FRENTE A OUTROS PAÍSES?
CRISTIANA: No caso da primeira resposta, 
PODEMOS�AlRMAR�QUE�OS�CONCEITOS�DE�CIR-
culação e apropriação implicam sempre 
em considerar a existência de estilos pró-
prios e preferências, dependendo de con-
textos culturais e estilos pessoais, como 
disse anteriormente. No caso da segunda 
hipótese, a Psicanálise é hoje muito cen-
tralizada nos países latinos: França, Ar-
gentina, Brasil são centrais não apenas 
no uso do método, mas na circulação de 
uma cultura psicanalítica, difundida por 
grande parte da sociedade letrada. Por 
OUTRO�LADO��DIlCILMENTE�PODERÓAMOS�FALAR�
do método de Freud hoje sem estar atra-
vessado pelos discursos pós-freudianos, 
como o de Lacan, por exemplo.
QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS FUTURAS DAS 
TÉCNICAS DA METODOLOGIA FREUDIANA?
CRISTIANA: Creio que estamos vivendo 
um momento de muitas mudanças nas 
subjetividades. Alguns apostam que, 
nessa modernidade tardia, os sujeitos 
vêm exacerbando determinadas carac-
terísticas modernas, e que se desdobram 
no aumento do individualismo, numa 
cultura da imagem, no abuso de substân-
cias psicoativas. Nesse sentido, a Psica-
nálise deve se repensar para lidar com as 
subjetividades contemporâneas. Outros, 
ENTRETANTO��APOSTAM�NO�lM�DA�MODERNI-
dade. No cenário da pós-modernidade, 
as subjetividades podem adquirir formas 
muito distintas daquelas produzidas des-
de o séculoXVII. Para estes, o processo 
de interiorização que caracterizou o su-
jeito moderno pode estar acabando, com 
a construção desses sujeitos em rede, na 
SUPERFÓCIE��SEM�TANTA�DElNI¥ÎO�ENTRE�O�IN-
terior e o exterior, assim como uma apos-
TA�NO�lM�DA�SEPARA¥ÎO�ENTRE�O�PÞBLICO�E�
o privado, como já discutiu Joel Birman 
(2000) ao tratar do lugar da Psicanálise 
nesse imbróglio. Nesse caso, as marcas 
na pele pelas tatuagens viriam substituir 
as marcas simbólicas. As redes sociais 
SUBSTITUIRIAM�A�REmEXÎO�SISTEMÉTICA����EN-
lM��ESSAS�E�TANTAS�OUTRAS�MUDAN¥AS�VÐM�
colocando em questão a manutenção 
do sujeito como o conhecemos.... nesse 
futuro, a Psicanálise poderia funcionar 
como resistência... e insistência, me pa-
rece. Ou, como querem alguns, poderia 
desaparecer. Espero que não. Falar do 
Na visão de Cristiana, Lacan, ao propor um 
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�����G��I�������������I����hG����G�G������Gh��
e faça dela sua escritura
Segundo a psicanalista, Freud reabriu a ferida narcísica 
que a Medicina positiva e tecnológica, apoiada na 
promessa de cura, sempre insistiu em fechar
Joel Birman, ao tratar do lugar da Psicanálise, 
discutiu a separação entre público e privado, 
ou seja, as marcas na pele pelas tatuagens 
substituem as marcas simbólicas
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A Psicanálise precisa 
hoje lidar com os novos 
sujeitos advindos das 
condições da cultura do 
nosso tempo; e também 
com a nova/velha 
maneira de perceber o 
sujeito e seu sofrimento 
psíquico como resultado 
de uma disfunção 
neuronal, hormonal etc.
lM� DO� SUJEITO�MODERNO� PODE� SIGNIlCAR�
O�lM�DO�SUJEITO�LIVRE��DETERMINADO�PELO�
cérebro e pela hereditariedade.
QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE A RELAÇÃO 
ENTRE PSICANÁLISE E CULTURA? É POSSÍ-
VEL TRAÇAR UM PARALELO ENTRE TEORIA 
E VERDADE A PARTIR DESSE TEMA?
CRISTIANA: Lacan dizia que “o incons-
ciente é o social”. Por quê? Desde a desco-
berta do inconsciente, suas implicações 
para a reformulação social e seu impacto 
na constituição das subjetividades têm 
convocado a Psicanálise a pensar seu 
lugar na cultura. Com a circunscrição 
do conceito de recalque como parte dos 
traços de moralidade existentes em uma 
dada cultura, não é possível pensar no 
sujeito do inconsciente sem pensar na-
quilo que o circunda e que, nessa fricção, 
produz e é produzido. Assim, o analista, 
ao ocupar-se de questões clínicas e dos 
regimes de verdade que se estabelecem 
de maneira singular nesse processo, não 
precisa produzir qualquer ruptura fren-
te a um pensamento mais amplo e que 
abarca o campo sociocultural ou abrir 
MÎO�DAS�FERRAMENTAS�DA�&ILOSOlA�
A RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E CUL-
TURA PODE SER UMA TRADUÇÃO DA DU-
ALIDADE RECEPÇÃO X APROPRIAÇÃO E, 
TAMBÉM, SOBRE A CIRCULAÇÃO TRANSNA-
CIONAL DOS SABERES?
CRISTIANA: A relação da Psicanálise com 
a cultura é completamente íntima, já que 
o sujeito é efeito dela, dos poderes e sa-
beres que a conformam. Por outro lado, 
os indivíduos são capazes de seleção e 
de dar sentido próprio àquilo que rece-
bem, se apropriando do conhecimento e 
criando a partir dele também.
EM SUA OPINIÃO, DO PONTO DE VISTA DA 
PSICANÁLISE, EXISTE, DE FATO, UM POVO 
BRASILEIRO, OBSERVANDO OS ASPECTOS 
CULTURAIS PRÓPRIOS? EM CIMA DISSO, 
QUAL O VALOR QUE O POVO ATRIBUI, POIS 
O BRASILEIRO É CONHECIDO COMO UMA 
NAÇÃO QUE NÃO DÁ O REAL VALOR PARA A 
SUA CULTURA?
CRISTIANA: A Psicanálise – tal como pen-
sada hoje – se difere da Sociologia ou 
Antropologia. Não está voltada para dis-
cutir valores sociais comuns ou buscar 
uma marca identitária única nem forjar 
uma entidade psíquica permanente que 
nos reúna como povo. Ao contrário, a 
0SICANÉLISE�CHAMA�ATEN¥ÎO�DA�lC¥ÎO�QUE�
constitui a identidade. Trata-se muito 
MAIS�DE�DESCONSTRUIR�A�lC¥ÎO��PERMITIN-
do novos arranjos do sujeito em análise. 
PODE EXPLICAR, EM LINHAS GERAIS, A 
AFIRMAÇÃO DE QUE A PSICANÁLISE ESTÁ 
SEMPRE IMERSA NA CULTURA NA QUAL SE 
INSERE E QUE GUARDA MARCAS DESSE CON-
TEXTO LOCAL, COLOCANDO EM QUESTÃO A 
UNIVERSALIDADE E A NEUTRALIDADE COS-
TUMEIRAS E CONSIDERANDO AS APROPRIA-
ÇÕES ATIVAS COMO POSSIBILIDADES LEGÍTI-
MAS, AINDA QUE NEM SEMPRE NA DIREÇÃO 
DO NOSSO DESEJO?
CRISTIANA: Não existe a possibilidade 
de efetuarmos o uso da Psicanálise de 
maneira asséptica, neutra e objetiva. Ela 
sempre é lida e compreendida a partir de 
um psiquismo (no caso individual) e de 
UM�CONTEXTO�ESPECÓlCO��0OR�OUTRO� LADO��
isso não implica numa recepção passiva: 
a apropriação desse saber é ativa, e os 
indivíduos se apropriam da Psicanálise a 
partir de seus referenciais, problemas de 
pesquisa e interesses.
COMO A PSICANÁLISE PENETRA HOJE NA 
SOCIEDADE, SENDO APROPRIADA POR COLU-
NAS SENTIMENTAIS, NOVELAS, PROPAGAN-
DAS ETC.?
CRISTIANA: É possível notar que além de 
um modelo de escuta, leitura do mundo 
e tratamento, a Psicanálise se articulou 
a um processo de “psicologização” da 
sociedade. Esse conceito foi utilizado 
por um grupo de antropólogos do Mu-
seu Nacional (UFRJ), quando buscaram 
analisar cidades urbanas brasileiras. O 
grupo, iniciado por Gilberto Velho, pro-
duziu diversas análises, nas décadas de 
1970 e 1980, que investigaram a amplia-
ção dos discursos psi por toda a socie-
dade. Nessa linha de análise, Jane Russo 
(2002), por exemplo, utiliza o conceito 
quando trata do boom psicanalítico entre 
as classes médias urbanas da década de 
1970. Embora a sociedade brasileira te-
nha sofrido essa expansão vertiginosa 
da Psicanálise na década de 1970, a cir-
culação social da Psicanálise começou a 
ocorrer a partir dos anos 30, em revistas 
femininas e manuais de educação, alcan-
çando certo espaço simbólico no sistema 
de valores, noções e práticas sociais das 
cidades urbanas.
EM SUA AVALIAÇÃO, MANIFESTAÇÕES COMO 
O CINEMA PODEM SER CONSIDERADAS ARTE 
OU COMUNICAÇÃO? ELE DEVE SER UM FIM 
EM SI MESMO, EXPLORANDO SUA PRÓPRIA 
LINGUAGEM PARA FORNECER UMA VISÃO 
DE MUNDO, OU USAR A POPULARIDADE DO 
MEIO PARA TRANSMITIR UMA MENSAGEM 
ÚTIL À SOCIEDADE?
CRISTIANA: A arte transmite mensagens, 
ainda que não necessariamente voltadas 
para a utilidade. O cinema é hoje, talvez, 
aquilo que a literatura representou nos sé-
culos XIX/XX: é a possibilidade de nos 
experimentarmos no outro como outro, 
ampliando, assim, nossas possibilidades 
de nos aproximarmos da alteridade. Não 
acho que a arte deva estar a serviço do so-
cial, embora seja sempre social/cultural. IM
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14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O QUE SÃO TEORIAS BIODETERMINISTAS E 
O QUE VOCÊ QUER DIZER QUANDO FALA 
QUE HOJE EXISTEM EMBATES ENTRE A PSI-
CANÁLISE E ESSAS TEORIAS?
CRISTIANA: !�0SIQUIATRIA�SURGIU�EM�lNS�DO�
século XVIII, com o emblemático gesto 
de Philippe Pinel (1745-1826). Com ela, 
organizou-se o asilo como instrumento de 
cura e nele a clínica psiquiátrica foi mar-
cada pelo tratamento moral. Assim, desde 
esse momento, a Psiquiatria se constituiu 
como disciplina médica sem, entretan-
to, jamais ter se enquadrado plenamente 
em sua metodologia, permanecendo em 
constante diálogo com saberes do cam-
po biomédico e, ao mesmo tempo, com 
o campo moral, ou das humanidades. Até 
os dias de hoje, podemos observar essa 
oscilação: ora busca em cada (psico)pato-
logia o mecanismo biopatológico carac-
terístico e curso da doença que permitam 
a construção de categorias diagnósticas 
generalizáveis, ora emoldura o sofrimen-
to humano a partir das mais diversas in-
mUÐNCIAS��QUE�NECESSARIAMENTE�INCLUEM�AS�
dimensões psíquicas, sociais e culturais 
para o adoecimento. Tal oscilação pode 
ser acompanhada ao longo dahistória 
DESSA�DISCIPLINA��NO�lNAL�DO� SÏCULO�8)8��
as explicações de cunho moral perderam 
a hegemonia, dando espaço para teorias 
organicistas, que passaram a explicar a 
loucura exclusivamente a partir de fatores 
biológicos – o que, nesse contexto, impli-
cava necessariamente considerar fatores 
hereditários e degenerativos. Já a partir 
do segundo pós-guerra, quando as teorias 
eugênicas e a Psicologia dos povos pas-
saram a ser consideradas como um erro, 
após o massacre do holocausto, ganharam 
novamente destaque as teorias de cunho 
psicológico e/ou humanista, como a Psi-
canálise ou o existencialismo, por exem-
plo. Nesse período, conceitos como os de 
neurose, recalque, édipo, inconsciente, perver-
sidade polimorfa, entre outros, passaram a 
circular não apenas no campo mesmo da 
Psiquiatria, mas foram sendo difundidos 
pelo corpo social, sendo apropriados pela 
educação, pela literatura e por diversos 
outros setores da sociedade, construindo 
paulatinamente a cultura psicanalítica de 
QUE�TRATAMOS�ACIMA��%NTRETANTO��AO�lNAL�
do século XX, as matrizes biológicas da 
Medicina mental voltaram a ser privile-
giadas. Como consequência, a sociedade 
passou também a utilizar tais referenciais 
para pensar as relações humanas e inter-
vir nessas relações. Apesar de podermos 
AlRMAR�QUE�NO�"RASIL�H�UMA�DISPUTA�EN-
tre os dois modos de pensar o sujeito e a 
sociedade, não é possível negar que hou-
ve, a partir desse período, a ascensão das 
teorias biomédicas nas ciências neuropsi-
quiátricas assim como na opinião pública. 
Vale lembrar, a retomada do viés biológi-
co ganhou ímpeto principalmente a partir 
do surgimento da vertente da Psiquiatria 
biológica norte-americana, consolidada 
internacionalmente a partir da publicação 
do DSM-III, em 1980. 
UMA DE SUAS ÁREAS DE ESTUDO É A HIS-
TÓRIA DA CIÊNCIA PSIQUIÁTRICA, DE SUAS 
PRÁTICAS E TECNOLOGIAS. COMO VOCÊ 
OBSERVA A INFLUÊNCIA NA TECNOLOGIA E 
SEUS AVANÇOS QUASE DIÁRIOS NO PROCESSO 
DE FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO?
CRISTIANA: Bem, cada época tem a sua 
tecnologia psiquiátrica. Mas o movimen-
to para a retomada de um referencial 
exclusivamente biológico ou organicista 
das doenças mentais articula os desen-
volvimentos de pesquisas realizadas (e 
lNANCIADASå	� NO� CAMPO� DA� "IOQUÓMICA��
com a tentativa de enquadramento da 
Psiquiatria dentro do campo médico 
mais geral, além, é claro, do surgimen-
to dos psicofármacos, a partir dos anos 
50, e o fortalecimento dessa indústria 
farmacêutica, que passou a estimular e 
lNANCIAR� PESQUISAS� QUE� VIABILIZASSEM�
diagnósticos que pudessem ser associa-
dos a medicamentos. Em consequência 
de tais estímulos e investimentos, essa 
abordagem começou a ser difundida 
também na opinião pública, e tal circula-
ção passou a produzir e responder a uma 
demanda dos próprios sujeitos na busca 
de dar um sentido (mais) “objetivo”, mais 
médico e menos psicológico “mais real 
E�MENOS�IMAGINADOv�PARA�SEUS�CONmITOS�
e sofrimentos. Segundo George Weisz 
(2005), essa aproximação da Psiquiatria 
das ciências de laboratório corresponde-
ria ao objetivo de dar maior autoridade à 
Medicina mental, aliando seus resultados 
a tecnologias a partir das quais dados es-
tatísticos poderiam ser recombinados 
em múltiplas formas de pesquisa, dando 
maior visibilidade ao seu conteúdo, cons-
truindo regimes de verdade, marcados 
PELAS�IMAGENS�NEUROCIENTÓlCAS�E�POR�SEUS�
dados quantitativos, bem de acordo com 
A� IDEOLOGIA� DA�-EDICINA� CIENTÓlCA� CON-
temporânea, que considera as ciências 
básicas como a principal fonte de inova-
ção em Medicina (Löwy, 1994). 
UMA DE SUAS PESQUISAS MAIS RECENTES É 
SOBRE A APROPRIAÇÃO, INTERNALIZAÇÃO E 
NEGOCIAÇÃO DOS SABERES MÉDICO-MEN-
TAIS NOS MODOS DE SER, SENTIR E FAZER 
DOS INDIVÍDUOS EM UM DADO CONTEXTO 
HISTÓRICO-CULTURAL. A QUE CONCLU-
SÕES VOCÊ CHEGOU?
CRISTIANA: Atualmente estou coordenan-
do uma pesquisa bem grande a partir de 
documentos clínicos do antigo Hospício 
Nacional (apoio: Proep, CNPq/Fiocruz). 
Essa pesquisa a que você alude, e que ob-
teve apoio da Faperj, já terminou. Para 
a investigação, utilizei como fonte cartas 
de leitores e de conselheiros em revistas 
de grande circulação. A ideia era justa-
mente avaliar até que ponto e de que for-
ma os saberes psi eram apropriados pe-
las pessoas comuns na capital brasileira 
na Era Vargas (1930-1945). O resultado 
Enquanto houver 
esse sujeito moderno – 
DIVIDIDO��EM�CONmITO��
marcado pelo recalque 
e pelo inconsciente, mas 
também pela liberdade –, 
a Psicanálise também 
continuará a existir
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permitiu acessar formas de apropriação 
das novas ideias psi que circulavam pe-
las revistas e o modo como impactaram 
DE�MANEIRA�DIVERSIlCADA�A�PRODU¥ÎO�DOS�
sujeitos concretos e da cultura urbana 
DO� PERÓODO�� 0UDE� IDENTIlCAR� DISPUTAS� E�
negociações pela hegemonia discursiva 
na construção do ideal de mulher e de 
homem modernos, em que o processo 
DE�APROPRIA¥ÎO�DOS�SABERES�CIENTÓlCOS�SE�
mostra sempre relativo e parcial nos dis-
cursos do público leitor leigo, permitindo 
refutar a ideia de um controle biopolítico 
ABSOLUTO�NO�PROCESSO�DE�REDElNI¥ÎO�DOS�
papéis sociais. 
VOCÊ É UMA ESTUDIOSA ESPECIALISTA NA 
HISTÓRIA DA PSICANÁLISE. EM LINHAS 
GERAIS, O QUE MUDOU EM TERMOS DE 
CONCEITOS E PRÁTICAS PSICANALÍTICAS AO 
LONGO DOS ANOS?
CRISTIANA: Não trabalho com a episte-
mologia da Psicanálise, mas com a his-
tória social da Psicanálise. Nesse sentido, 
faço parte de um grupo de autores que, 
nos últimos anos, vem chamando aten-
ção para a importância de se considerar 
a Psicanálise como um fenômeno social, 
cultural e político, seja como saber, mo-
vimento internacional ou epifenômeno 
mesmo da modernidade, sua crítica. Isso 
implica alertar para os efeitos que a Psi-
canálise adquire em cada contexto. No 
caso da América Latina, de passado co-
lonial (de fato e cultural), a discussão ga-
nha novos contornos. Trata-se, aqui, de 
considerar também as discussões mais 
amplas acerca das ciências instituídas no 
mundo europeu, principalmente francês, 
germânico ou anglo-saxão, e sua recep-
ção em países tradicionalmente conside-
rados na periferia da modernidade. Esse 
interesse é movido pela compreensão de 
que o campo intelectual tem apenas cer-
ta autonomia frente aos determinantes 
sociais particulares, como busquei desta-
car ao longo dessa entrevista. Por meio 
DESSA�CHAVE�DE�LEITURA�Ï�POSSÓVEL�VERIlCAR�
QUE� PAUTAS� POLÓTICAS� ESPECÓlCAS�� ASSIM�
como contextos sociais, impactam na 
apropriação de um saber. 
ESPECIFICAMENTE NO QUE SE REFERE À 
PRÁTICA CLÍNICA DAS DOENÇAS MENTAIS, 
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS AVANÇOS?
CRISTIANA: O desenvolvimento das Neu-
rociências e de suas tecnologias possibili-
tou a aproximação da Psiquiatria da Me-
dicina somática geral, sonho acalentado 
desde Pinel, que já sonhava com o dia em 
QUE� SE� CHEGARIA� � CAUSALIDADE� lSICALISTA�
das perturbações psíquicas. Nesse diapa-
são, o funcionamento psíquico se aproxi-
ma cada vez mais da idealização de uma 
subjetividade reduzida ao cérebro e aos 
seus neurotransmissores. Em resposta, no 
campo das terapêuticas, os psicotrópicos 
se tornaram o centro do tratamento, ao 
passo que as psicoterapias foram relega-
das a segundo plano, ou mesmo recu-
sadas como importantes. A Psicanálise 
PERDEU�ESPA¥O�SIGNIlCATIVO�NO�CAMPO�DA�
Psiquiatria, portanto. Se entre as décadas 
de 1950 e 1970 ela era o discurso teórico 
central da Psiquiatria, após o DSM-III e 
seu paradigma biológico o processo de 
autonomização da Psiquiatria frente à 
Psicanálise se radicalizou. De acordo com 
alguns autores, como Birman (2005), teria 
ocorrido uma inversão de planos: a Psica-
nálise estaria enfrentandoum processo de 
medicalização, passando a ser atravessa-
da por discursos advindos das Neurociên-
cias e do cognitivismo. Além disso, teria 
passado a ocupar um plano secundário no 
campo da intervenção terapêutica. Inves-
tigar tais acontecimentos históricos, não 
como avanços ou evoluções, mas como 
essa luta de forças em que o somático e 
o psíquico se tensionam (no sentido de 
tensão mesmo), e entender os contextos 
que os fazem mover-se é o interesse do 
historiador dos saberes psi. Compreender 
por que a Psicanálise permanece resistin-
do em alguns contextos culturais é outro 
DESAlO��4EMOS�MUITO�O�QUE�ESTUDAR�
A pesquisa em 
Psicanálise que se 
realiza atualmente 
traz a marca de sua 
historicidade. De 
fato, desde Freud 
se questiona sobre o 
estatuto da Psicanálise. 
Sua Interpretação 
dos Sonhos foi muitas 
vezes considerada como 
ADVINDA�DA�lC¥ÎO
O cinema é o que a literatura foi nos séculos XIX/XX, a chance de experimentar no outro como outro, 
ampliando as chances de aproximação da alteridade
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Müller
DESAFIOS da 
comunicação
O PAPEL DA LINGUAGEM INFLUENCIA NA FORMA COMO 
NOS RELACIONAMOS E ENXERGAMOS O MUNDO, E O SEU 
EXERCÍCIO ENVOLVE CAPACIDADES QUE NÃO SÃO ESQUECIDAS
A LINGUAGEM PODE 
NÃO NOS SALVAR DA 
CONDIÇÃO SOLITÁRIA 
DE PERCEBER O 
MUNDO DE UMA 
PERSPECTIVA ÚNICA. 
MAS NOS OFERECE 
O ALÍVIO DE 
COMPREENDER E SER 
COMPREENDIDO 
pensamentos e sentimentos continu-
am desordenados, incomunicáveis e, 
muitas vezes, indecifráveis. Outros são 
desf igurados por uma comunicação 
não apenas incompleta, mas suscetível 
a inúmeras falhas, sendo que muitas 
delas estão fora do nosso controle e ja-
mais serão esclarecidas. 
A linguagem pode não nos salvar da 
condição solitária de perceber o mun-
do de uma perspectiva única. Mas nos 
oferece o alívio de compreender e ser 
compreendido em um nível que, mesmo 
dando acesso à beirada do mar de per-
cepções da nossa mente, favorece cone-
xões profundas e signif icativas.
Além disso, ao tornar mais nítido 
aquilo que percebemos e sentimos, nos 
permite ter um maior domínio sobre 
as emoções e ações. Sobre esse poder 
das palavras, a psicóloga e escritora 
americana Tara Brach, uma das mais 
populares professoras de mindfulness 
no Ocidente, ensina, em uma de suas 
meditações guiadas: “Aquilo que você 
nomeia passa a ter menos controle so-
bre você. Nomeie um medo e será mais 
forte que ele. Dê nome a uma ref lexão 
e você sairá do meio da nuvem de pen-
samento e estará aberto a algo maior”.
Ao ganharmos familiaridade com 
determinados conceitos, eles passam 
a fazer parte da forma como opera-
mos. Se integram aos pensamentos, 
sidade vital de conexão, é um dos aspec-
tos mais fundamentais daquilo que nos 
faz humanos. A linguagem, assim como 
a capacidade de interpretar a mente do 
outro, partindo dos mais sutis e incons-
cientes sinais, é uma derivação da nossa 
interdependência, da busca pelo amor, 
aceitação e aprovação. 
A comunicação representa a busca 
fundamental pelo conforto de termos 
testemunhas da nossa experiência nes-
se mundo. Mas mesmo com toda a sua 
complexidade, transforma apenas uma 
pequena parte desse f ilme mental ca-
ótico e subjetivo em informações que 
podem ser compartilhadas e que façam 
sentido aos outros. Muitos dos nossos 
N
ão foi a necessidade de apren-
der sofisticadas fórmulas mate-
máticas ou de construir espa-
çonaves que obrigou a evolução 
a nos privilegiar com um cérebro tão 
complexo. Foi a necessidade de conviver 
e de interagir com tantas mentes dife-
rentes da nossa. A natureza sabiamente 
poupou espécies mais individualistas 
ou que vivem em grupos pequenos de 
carregar o peso de um cérebro volumo-
so e que consome tanta energia. E nos 
diferenciou com um equipamento bio-
lógico que permite criar vínculos e re-
solver conf litos, ao custo de incontáveis 
desaf ios psicológicos, como ansiedade, 
solidão, perdas afetivas e rejeição.
Com a ajuda de uma nova tecnologia, 
conhecida como agent based modeling, foi 
f inalmente possível comprovar que espé-
cies que vivem em grupos precisam de 
cérebros maiores e as que vivem em gru-
pos muito grandes e complexos precisam 
de um que comporte recursos altamente 
sofisticados, como a linguagem. A in-
vestigação foi feita por pesquisadores da 
Universidade de Oxford para avaliar a 
demanda cognitiva das decisões sociais, 
simuladas por uma ferramenta que re-
produz situações com muitas variáveis 
e que não podem ser explicadas com a 
precisão de uma fórmula.
Nossa extraordinária habilidade de 
comunicação, resultado de uma neces-
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oferecem novas formas de interpretar 
o mundo e modif icam ou formam os 
padrões de expectativas que temos em 
relação aos outros e a nós mesmos. 
Somam-se à nossa própria essência, 
que a f luidez da língua tem o poder 
de remodelar. “(...) as palavras têm por 
característica fundamental serem um 
ref lexo generalizado do mundo. Este 
aspecto da palavra conduz-nos ao li-
miar de um tema muito mais profundo 
e mais vasto – problema geral da cons-
ciência. As palavras desempenham 
um papel fundamental, não só no de-
senvolvimento do pensamento mas 
também no desenvolvimento histórico 
da consciência como um todo. Cada 
palavra é um microcosmos da cons-
ciência humana”, coloca Vygotsky em 
Linguagem e Pensamento.
Passamos a enxergar injustiças e 
desigualdades, a identif icar melhor 
sentimentos como mágoa e remorso e 
a entender comportamentos movidos 
pelo orgulho ou ganância depois que 
esses conceitos são incorporados ao 
nosso vocabulário. Essa compreensão 
não ocorre de uma forma restrita e den-
tro de um tempo limitado. Depende de 
conhecimentos dominados em níveis 
variados – mesmo dentro de uma mes-
ma faixa etária e contexto cultural – e 
aprimorados no decorrer de toda a vida, 
nas diversif icadas formas de interação 
social e troca de informações. E por não 
se reduzirem a um conjunto de regras 
que podem ser transmitidas por meio de 
métodos sistemáticos, com resultados 
facilmente medidos, acabam trabalha-
dos no meio acadêmico apenas de for-
ma indireta e não planejada.
A educação formal, em geral, es-
pera que estudantes ganhem natural-
mente a capacidade de compreensão 
necessária para assimilar uma quan-
tidade de informações crescente em 
volume e complexidade. Desconsidera 
que a comunicação, com suas possibi-
lidades ilimitadas, representa um desa-
f io para muitos e envolve capacidades 
que podem ser exercitadas no ambiente 
escolar. Práticas que estimulam o de-
senvolvimento das habilidades verbais 
são fundamentais na superação de di-
f iculdades acadêmicas. Mais que isso, 
ajudam na formação do pensamento 
crítico e da consciência da intenção 
por trás dos discursos. E, mesmo en-
tre aqueles que não se intimidam com 
a f lexibilidade que a linguagem exige, 
exercem um grande impacto na forma 
como se relacionam com o mundo.
Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da 
Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da 
linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
Mas vejamos até onde consegue ir 
a nossa incoerência. E para isso, per-
mita-me, leitor, recorrer novamente 
( já o f iz na coluna anterior) à f igura 
de Jesus. Observe que não o faço aqui 
(como não of iz anteriormente) a 
partir de uma perspectiva religiosa, 
nem mesmo espiritual. Recorro aqui 
à imagem de Jesus como elemento 
cultural e f igura importante da 
cultura ocidental. Nesse sentido, é 
inegável que a f igura de Jesus Cris-
to seja vista como ícone de bondade 
e de humildade. Na coluna anterior 
falei sobre a bondade, razão pela 
Sendo assim, vamos direto ao 
ponto. Imagine a seguinte situação: 
você está conversando com uma pes-
soa em uma festa e, dentro de um 
determinado e pertinente contex-
to dessa conversa, a pessoa lhe diz: 
“Eu sou muito inteligente”. Seja sin-
cero(a): você diria que essa pessoa é 
humilde? Muito provavelmente não. 
E, pior, diria tratar-se de alguém ar-
rogante, não é mesmo? Pois saiba que 
você pode estar errado, sendo def ini-
tivamente vítima de uma cultura po-
pular que absolutamente desconhece 
o signif icado da palavra “humilde”.
As FORÇAS 
incompreendidas (parte II)
DE TODAS AS FORÇAS PESSOAIS 
ELA É A MAIS INCOMPREENDIDA. 
E VOCÊ, SABE O QUE SIGNIFICA 
HUMILDADE?
É 
realmente incrível. Apesar de 
sua signif icativa importância 
para a Psicologia Positiva, 
algumas das forças pessoais 
ainda são bastante incompreendi-
das, seja por parte do público leigo 
quanto, pasmem, dos prof issionais. 
Nesse sentido, demos início, na 
edição passada, a uma série de três 
textos que têm por objetivo discu-
tir sobre o que chamamos de as três 
forças mais incompreendidas da Psi-
cologia Positiva: a bondade (sobre a 
qual falamos na coluna passada), a 
humildade e a perspectiva.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
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qual f icaremos apenas com a humil-
dade. Jesus é símbolo de humildade. 
Não obstante isso, disse, de acordo 
com a Bíblia: “Eu sou o caminho, a 
verdade e a vida”. Se utilizarmos os 
mesmos padrões de julgamento que 
utilizamos naquela festa hipotética 
do parágrafo anterior, a conclusão 
seria inevitável: Jesus era um tremen-
do arrogante!
Por que então essa incoerência? 
Por que Jesus permanece há milê-
nios como símbolo de humildade 
enquanto nós não podemos sequer 
reconhecer publicamente nossas 
qualidades sem que sejamos julga-
dos como arrogantes? 
Porque ao longo dos séculos, e mui-
to provavelmente pela própria ação 
das religiões, o conceito de humilda-
de foi sendo distorcido até chegarmos 
nos dias de hoje, quando confundimos 
humildade com insegurança, com falta 
de assertividade e, por vezes, com au-
sência de autoestima.
Eu o desaf io, leitor, a relacionar 
as pessoas do seu círculo social que 
você costumeiramente classif icaria 
como humildes. Você poderia af ir-
mar com toda certeza não se tratar 
de sujeitos inseguros? Pois é, essa 
distorção talvez tenha feito de nós 
uma sociedade pouco humilde. Não 
admiramos os humildes. Temos pena 
deles. Isso porque, def initivamente, 
não sabemos o que é humildade.
Para a Psicologia Positiva, humil-
AO LONGO DOS SÉCULOS O CONCEITO 
DE HUMILDADE FOI SENDO DISTORCIDO 
ATÉ CHEGARMOS NOS DIAS DE HOJE, 
QUANDO CONFUNDIMOS HUMILDADE COM 
INSEGURANÇA E FALTA DE ASSERTIVIDADE
dade corresponde à característica 
daquele que deixa que as suas rea-
lizações falem por si, sem procurar 
estar o tempo todo em evidência. 
Trata-se do sujeito despretensioso, 
que não se considera mais especial 
que os demais, e, o mais importante, 
alguém que possui uma percepção 
correta – e não aquém – de si mesmo.
Confesso, com um pouco de 
constrangimento, que demorei mais 
de 40 anos para entender precisa-
mente o conceito de humildade. E 
como a vida acontece para além dos 
estereótipos, quem me ensinou sobre 
isso foi um CEO de uma grande em-
presa, rico e com MBA em Harvard. 
Ele era meu último paciente da noi-
te, razão pela qual o estacionamen-
to do meu prédio estava sempre fe-
chado. Nunca reclamou por ter que 
parar seu carro na rua, nem sobre 
as confusões que o guarda da noite 
fazia, tentando substituir o porteiro 
do meu prédio. “Isso acontece com 
todo mundo. Por que não acontece-
ria comigo?”, dizia. Eu sorvia essas e 
outras manifestações de humildade 
com a avidez de uma aluna dedica-
da. Mas senti que a lição estava com-
pleta no dia em que, durante uma 
sessão, eu disse a ele: “...Mas você 
é muito inteligente!”; ao que ele me 
respondeu com f irmeza: “Eu sei”. 
Sim, ele sabia. Mas não precisava 
f ingir. Porque a verdadeira humilda-
de não precisa de falsa modéstia. 
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20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
Desenvolvimento 
INFANTIL 
OS MARCOS IMPORTANTES DE CADA FASE 
NUNCA DEVEM SER NEGLIGENCIADOS, 
POIS OS SINAIS DE QUE HÁ ALGO ERRADO 
APARECEM SEMPRE NO DIA A DIA E NÃO 
APENAS NO CONSULTÓRIO MÉDICO 
cer sozinha uma escada, chutar uma bola 
com objetivo, assim como aos 36 meses 
completos deve copiar um círculo dese-
nhado em um papel e andar de triciclo. 
Não ser capaz de copiar uma cruz ao 
completar 4 anos, e um quadrado aos 5, 
assim como abotoar seu casaco, amarrar 
os cadarços do tênis, usar talheres para 
comer, não desenhar como esperado 
para essa idade levantam a suspeita de 
um problema de coordenação motora. 
Existem pequenas variáveis no tempo 
dessas aquisições, devido às oportunida-
des de treino, mas a avaliação da gravi-
dade em atrasos de mais de 6 meses deve 
SER�FEITA�POR�PROlSSIONAIS�
No 5º aniversário, a criança é capaz 
de armar um quebra-cabeça de 4 peças 
em até 20 segundos, pode abotoar seis 
botões em até 70 segundos, pula com os 
pés juntos uma corda, e aos 6 anos avança 
em linha reta com os olhos abertos, colo-
cando alternadamente o calcanhar do pé 
que avança contra a ponta do que apoia. 
Nessa idade também pula bem corda, se 
equilibra em um pé só por 15 segundos, 
distingue direita e esquerda e recorta cor-
retamente com a tesoura.
Outra aquisição muito importante 
é a da linguagem. Bebês muito quietos, 
que não vocalizem antes dos 12 meses e 
À 
parte o amor que temos pelos 
lLHOS��HÉ�TAMBÏM�UMA�GRANDE�
responsabilidade por seu de-
senvolvimento sadio. Assim, 
o acompanhamento pediátrico é muito 
importante, mas o olhar diário da famí-
lia é imprescindível.
Para além de problemas emocionais 
e comportamentais, inclusive aqueles 
que merecem atenção redobrada, há 
uma pergunta que os pais sempre se fa-
zem: essa aquisição está de acordo com 
a faixa adequada de desenvolvimento ou 
existe um atraso?
Algumas áreas podem ser de im-
portância vital no amadurecimento da 
criança e alguns sinais estão presentes 
desde os primeiros meses de vida. São 
alertas que podem ajudar famílias a pro-
CURAREM� PROlSSIONAIS� E� ASSIM� IMPEDIR�
DANOS�MAIORES�AOS�lLHOS��ANTES�DA�ENTRA-
da no ensino fundamental.
A primeira aquisição que exige aten-
ção diz respeito ao desenvolvimento 
motor dos bebês. Segurar a cabeça, o 
TRONCO��SENTAR
SE�E�AlNAL�INICIAR�O�ANDAR�
são etapas esperadas do crescimento 
que acontecem sucessivamente antes 
dos 12 ou até 15 meses de idade.
Ao entrar na pré-escola, aos 2 anos, 
a criança deve ser capaz de subir e des-
só falem mamãe e papai no seu segundo 
aniversário, ou que cheguem aos 3 anos e 
não formem frases com linguagem com-
preensível pela maioria das pessoas, de-
vem serlevados para uma avaliação, pois 
esses atrasos repercutem de modo decisi-
vo na aquisição da alfabetização.
O próprio desenvolvimento cognitivo 
pode ser avaliado, em parte, pela riqueza 
e tipo de linguagem que a criança utiliza 
e também por seus desenhos, mas entre 3 
e 4 anos espera-se que já domine algumas 
FORMAS�E��NO�lNAL�DESSE�PERÓODO��SEU�DE-
senho tenha intenção clara de reproduzir 
um ser humano reconhecível, com ca-
beça, pernas, braços e tronco. Estimular 
essas formas de linguagem é muito im-
portante também para o incremento de 
novas habilidades indispensáveis para a 
escolarização.
Por volta dos 6 anos, a criança já re-
corda uma historinha, sabe explicar um 
fato ocorrido, fala articulando muito bem 
todos os sons, ordena objetos de acordo 
com determinada qualidade (grossura, 
cor, tamanho). Reconhece os números 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em 
publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de 
especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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VO
 
de 1 a 10 associando-os com as quanti-
dades que representam e faz somas sim-
ples. Distingue palavras escritas singelas 
como seu nome, mamãe e papai.
Até completar 7 anos, é capaz de ex-
plicar o porquê de um raciocínio seu, e as 
diferenças principais entre um homem e 
um cachorro, por exemplo. Faz analogias 
(por exemplo: um irmão é um menino, 
uma irmã é...), conta moedas fracionárias 
e notas de dinheiro, mostra rápida pro-
gressão do pensamento. É um ser curio-
so, de lógica concreta e pronto para a al-
FABETIZA¥ÎO�E�OS�DESAlOS�ESCOLARES�
Voltando à fase de bebê, ressalto a im-
portância do aspecto social. Aos 3 meses 
a criança de desenvolvimento adequado 
mostra interesse pelo rosto das pessoas 
que cuidam dela, por objetos em movi-
mento, e até os 6 meses deve reconhecer 
a mãe de modo especial, demostra curio-
sidade por coisas, e aos 9 meses mostra 
sentir angústia perto de estranhos en-
quanto em seu rosto já se percebem ex-
pressões variadas de acordo com a situa-
ção vivenciada.
Ao assoprar a primeira velinha, uma 
de suas brincadeiras favoritas consiste 
em brincar de se esconder com sua mãe, 
mostra preferência por um ou outro brin-
quedo, enquanto engatinha ou anda ex-
plora o espaço a sua volta. Perto dos 2 
anos, a criança estabelece contato visual 
O PRÓPRIO 
DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO PODE SER 
AVALIADO, EM PARTE, 
PELA RIQUEZA E 
TIPO DE LINGUAGEM 
QUE A CRIANÇA 
UTILIZA E TAMBÉM 
POR SEUS DESENHOS
mais continuado, sorri quando alguém 
sorri para ela, responde ao ser chamada, 
imita ações e compartilha interesses. Aos 
3 anos já brinca em grupo de crianças e 
procura se enturmar. Por volta dos 6 anos 
é esperado que tenha um melhor amigo 
E�PRElRA�BRINCAR�SOZINHA�OU�COM�DOIS�OU�
três companheiros da mesma idade do 
que em grupos numerosos.
É conhecendo nossas crianças e ob-
servando seu desenvolvimento que as 
TORNAMOS� APTAS� AOS� PRIMEIROS� DESAlOS�
da vida. Qualquer atraso no desenvolvi-
mento até essa fase é de suma importân-
CIA�� DEVE� SER� AVALIADO�POR�PROlSSIONAIS��
pois vai atuar de modo a prejudicar todo 
o aproveitamento pessoal e acadêmico 
subsequente, além de diminuir sua auto-
estima e ter repercussão na sua seguran-
ça emocional.
www.portalcienciaevida.com.br
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23
RF
A NEUROCIÊNCIA 
TEM SE POSICIONADO 
COMO O PRINCIPAL 
ADVOGADO DE 
DEFESA DOS GAMES. 
PESQUISAS RECENTES 
MOSTRAM OS 
EFEITOS POSITIVOS 
DOS JOGOS SOBRE AS 
FUNÇÕES COGNITIVAS
utilidade pública Por Tiago J. B. Eugênio
O APRENDIZADO ENVOLVE A REPETIÇÃO POR UM PERÍODO DE 
TEMPO E FAZER ISSO NOS GAMES LEVA O CÉREBRO A CRIAR 
NOVAS CONEXÕES NERVOSAS LIGADAS À ATIVIDADE CEREBRAL
22 psique ciência&vida
Estímulo à 
perseverança
nejamento, a inibição comportamental e 
o raciocínio abstrato. Estudos anteriores 
mostraram que essa área desempenha 
um papel importante na forma como pro-
cessamos decisões complexas, tais como 
aquelas que envolvem opções que incluem 
a realização de objetivos de curto prazo 
com implicações a longo prazo. O FEF é 
responsável pela elaboração de julgamen-
tos sobre como lidar com os estímulos ex-
ternos. Também é importante na tomada 
de decisão, uma vez que permite ao cére-
bro atentar ao tipo de reação mais adequa-
DA�FRENTE�A�UM�ESTÓMULO�ESPECÓlCO��
Juntos, DLPFC e FEF são cruciais no 
sistema de tomada de decisão executivo 
do nosso cérebro. Maior espessura nessas 
áreas do cérebro (em outras palavras, mais 
conexões entre as células cerebrais) indica 
maior capacidade de lidar com diversas 
variáveis e as implicações dessas de for-
ma imediata e a longo prazo. Resultados 
de estudos como esse podem representar 
a base biológica e os efeitos da sociedade 
gamer sobre nossos cérebros. É como se 
estivéssemos descobrindo uma nova aca-
demia e encarando o cérebro como um 
novo músculo que precisa ser exercitado e 
DESAlADO��!SSIM�SENDO��SE�HOJE�O�personal 
trainer��O�PROlSSIONAL�MAIS�ADEQUADO�PARA�
elaborar exercícios para o corpo, pode ser 
que no futuro o designer de games seja o 
PROlSSIONAL� MAIS� ADEQUADO� PARA� ELABO-
rar exercícios para nossos cérebros. As 
gião mostrou perda da espessura cortical 
em associação com o uso dos jogos. 
O DLPFC é uma das áreas do cór-
tex pré-frontal mais recentes do cérebro 
primata, que sofre mudanças estruturais 
e funcionais por um longo período – até 
o início da vida adulta. Relaciona-se às 
funções executivas, como a memória de 
TRABALHO�� mEXIBILIDADE� COGNITIVA�� O� PLA-
J
ogos de videogame são feitos de de-
SAlOS��/�SUCESSO��MEDIDO�QUASE�QUE�
totalmente pela destreza do jogador, 
sobretudo a coordenação. 
Se alguém acredita que jogar videoga-
me é uma atividade passiva, pode ser que 
desconheça ou subestime o poder ativo 
do cérebro necessário para integrar todas 
AS�A¥ÜES�E�CONlGURAR�A�VITØRIA�DO�JOGADOR�
SOBRE� OS� DESAlOS� CRIADOS� PELO� DESIGNER�
do game. Acredite, jogar videogames é a 
nova academia para nossos cérebros. 
A Neurociência tem se posicionan-
do como o principal advogado de defesa 
dos games. Pesquisas recentes mostram 
um efeito positivo dos jogos sobre as fun-
¥ÜES�COGNITIVAS��%SSA�INmUÐNCIA�TEM�SIDO�
relacionada a mudanças de massa cin-
zenta dos jogadores, especialmente no 
córtex pré-frontal. Em estudo publicado 
na revista PLoS ONE, 152 adolescentes 
foram submetidos à ressonância mag-
nética enquanto jogavam videogame. O 
experimento estimou a espessura corti-
cal e relacionou com o tempo (horas) de 
jogatina dos participantes por semana. 
Os cientistas observaram uma correla-
ção positiva entre a espessura cortical 
e o tempo em contato com os jogos no 
córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo 
(DLPFC, sigla em inglês para dorsolateral 
prefrontal cortex) e o campo visual do lobo 
frontal esquerdo (FEF, sigla em inglês 
para LEFT� FRONTAL� EYE� lELDS	. Nenhuma re-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23
escolas devem ser as próximas instituições 
A�ABSORVEREM�ESSE�NOVO�PERlL�PROlSSIONAL�
capaz de criar um ambiente de aprendiza-
GEM�MAIS�ElCAZ�E�DIVERTIDO��
Porém, segundo um artigo publica-
do na revista Neurology Now, o contato 
excessivo com jogos causa mudanças 
no comportamento dos adolescentes. 
%SSA�MODIlCA¥ÎO�SE�DEVE�AO�EXCESSO�DE�
produção de dopamina pelo cérebro, 
neurotransmissor relacionado à depen-
dência em jogos, inclusiveos eletrônicos. 
A estrutura de recompensa dos games é 
similar ao de máquinas de um cassino. O 
jogador insiste em bater um recorde, a 
solucionar um quebra-cabeça, matar um 
inimigo, coletar um item raro, conquistar 
mais territórios, passar aquela fase difícil. 
A vitória e a conquista fazem o cérebro 
produzir dopamina enquanto joga. A 
produção de dopamina aumenta quando 
o jogador vê a possibilidade de conquistar 
UM�DESAlO�MAIOR�AINDA��.ÎO�Ï�Ì�TOA�QUE�
o level design dos jogos segue uma lógica 
UNIVERSAL�� AUMENTO�GRADATIVO�DA�DIlCUL-
25 e 30 anos, esse tipo de problema é ain-
da mais preocupante nos jovens. 
-ESMO� DIANTE� DESSE� DESAlO�� NÎO� Ï�
a melhor estratégia proibir os jovens de 
jogar videogames. Isso porque eles tam-
bém trazem benefícios. Jogos são uma 
ótima ferramenta de aprendizado e de 
estímulo à perseverança.
Tiago J. B. Eugênio é coordenador do curso de pós-graduação em Games 
e Tecnologias da Inteligência aplicados à Educação da Capacitar. Mestre em 
Psicobiologia pela UFRN e licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas 
pela UNESP. Possui formação em Game-Based Learning na Quest to Learn (NY 
- EUA) É professor STEAM e de projetos relacionados a produção de jogos e 
ciências forenses do Colégio Bandeirantes. tiagoeugenio20@gmail.com 
DADE��.OSSO�CÏREBRO�ADORA�SER�DESAlADO�
e a resposta neuroquímica será mais efe-
tiva quando as tarefas tendem a se tornar 
mais difíceis com a progressão do jogo. 
Como o cérebro gosta de dopamina, não 
é difícil compreender a preferência das 
pessoas pelos bons games que exigem 
mais do jogador paulatinamente. 
O córtex pré-frontal é um dos princi-
pais alvo da dopamina. No entanto, em 
excesso, pode desativá-lo. Como essa re-
gião é ligada à tomada de decisões, jul-
gamentos e autocontrole, o aumento de 
dopamina no pré-frontal faz com que os 
jogadores percam a noção de tempo, de-
DICANDO
SE�HORAS�A�lO�AO�GAME�E�DEIXAN-
do de lado outras tarefas. Ainda, como 
essa região do cérebro completa sua for-
mação apenas quando a pessoa tem entre 
REFERÊNCIAS 
KÜHN, S.; LORENZ, R.; BANASCHEWSKI, 
T.; BARKER, G. J.; BÜCHEL, C.; CONROD, P. 
J.; HEINZ, A. Positive association of video 
game playing with left frontal cortical 
thickness in adolescents. PLoS ONE, v. 9, n. 
3, p. 1-6., doi:10.1371/journal.pone.0091506
PATUREL, A. Game theory: how do video 
games affect the developing brains of 
children and teens? Neurology Now, v. 10, n. 
3, doi: 10.1097/01.NNN.0000451325.82915.1d
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RELACIONAMENTO
Andreia Calçada é psicóloga, psicoterapeuta com formação em Gestalt, psicoterapia breve, terapia 
cognitivo-comportamental, hipnose ericksoniana, pós-graduada em Psicopedagogia, especialista 
em Psicologia Clínica e Psicopedagogia Clínica. Professora de cursos sobre avaliação psicológica 
e experiência de 10 anos em Psicologia Jurídica, como assistente técnica ou perita. Autora dos 
livros Falsas Acusações de Abuso Sexual – o Outro Lado da História. Coautora do livro Guarda 
Compartilhada – Aspectos Psicológicos e Jurídicos. 
Por Andrea Calçada
12
3R
F
COMO ACEITAR
 O 
O ser humano ainda encontra muitas 
dificuldades no sentido de saber lidar com 
alguns desafios afetivos, como, por exemplo, 
como amar ou ser amado ou como enfrentar 
questões relacionadas ao amor-próprio
Este é um tema univer-sal! Entra ano e sai ano e apenas muda de tom em suas abordagens e apresenta novas roupa-
gens; seja ele com enfoque presencial 
ou virtual, entre adolescentes, jovens 
adultos ou na maturidade. Hetero, 
homo ou bissexual. É sobre o amor 
enquanto este existe e sua felicidade. 
Sobre o amor quando finaliza e suas 
dores! Das depressões advindas des-
sas rupturas aos crimes passionais 
que nos impressionam.
A ideia desse artigo é abordar 
através da pesquisa de alguns autores, 
bem como da experiência psicológica 
clínica, as diferentes formas como as 
pessoas lidam com o rompimento afe-
tivo nos relacionamentos amorosos, 
bem como esclarecer essas dinâmicas, 
a fim de explorar formas mais equili-
bradas para lidar com esse tipo de si-
tuação. Quem dera se pudesse sempre 
lidar com perdas conforme o poema 
de Fernando Pessoa.
FIM
 Dificilmente encontra-se alguém 
que não tenha tido tal tipo de vivência. 
Os consultórios psicológicos e psiqui-
átricos estão cheios de pacientes que 
os procuram após um rompimento, 
seja para lidar melhor com o luto, seja 
para controlar uma crise mais grave 
que foi disparada. 
Bielski e Zordan (2014) definem 
que “o relacionamento amoroso é com-
preendido como um fenômeno afetivo 
social que abrange os sentimentos e os 
processos de comunicação na dinâmi-
ca das relações amorosas. Abrange o 
cotidiano e os hábitos dos relaciona-
mentos, o processo histórico de cons-
trução dos papéis na conjugalidade e 
sua dimensão jurídica, a consciência 
do valor atribuído aos vínculos nas re-
lações afetivas, como também os senti-
mentos e os processos de comunicação 
envolvidos na dinâmica das relações 
amorosas” (Cruz; Maciel, 2012). 
Ainda segundo os autores: “O 
desejo pessoal de encontrar o par-
ceiro ideal corresponde à principal 
característica das relações amorosas. 
Atualmente, esse desejo convive com 
a facilidade em desistir da relação 
frustrada e seguir buscando uma nova 
relação prazerosa, o que é estimulado 
por fatores externos, tais como mídia, 
novas tecnologias e artes em geral, 
que enfatizam a busca de uma grande 
paixão. Todos são influenciados des-
de o nascimento com a informação 
de que, se não encontramos no outro 
a felicidade, deixamos de vivenciar o 
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Eu amo tudo o que foi 
Tudo o que já não é 
A dor que já me não dói 
A antiga e errônea fé 
O ontem que a dor deixou, 
O que deixou alegria 
Só porque foi, e voou 
E hoje é já outro dia
(Fernando Pessoa)
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RELACIONAMENTO
Dificilmente 
encontra-se alguém 
que não tenha tido 
tal tipo de vivência. 
Os consultórios 
estão cheios de 
pacientes que os 
procuram após um 
rompimento, seja 
para lidar melhor 
com o luto ou para 
controlar uma crise 
mais grave que foi 
disparada
desejado bem-estar subjetivo” (Silva 
Neto; Mosmann; Lomando, 2009).
Assinalam que, de acordo com a 
literatura, o luto é uma resposta natu-
ral ao rompimento de um vínculo sig-
nificativo para o indivíduo, e quanto 
mais dependente e intenso for o vín-
culo, e a dependência, mais difícil po-
derá ser o processo de luto. Durante e 
após esse processo a pessoa precisará 
se reorganizar. 
A pesquisa desses autores buscou 
identificar os sentimentos predomi-
nantes em adultos jovens após o tér-
mino de relacionamentos amorosos. 
Nesse estudo, constatou-se o seguin-
te: após o fim do relacionamento amo-
roso, houve uma predominância de 
sentimentos positivos tanto para ho-
mens como para as mulheres, embora 
em intensidades diferentes, pois o ní-
vel de sentimentos positivos para eles 
foi superior ao delas. Além disso, as 
mulheres atingiram níveis mais eleva-
dos de sentimentos negativos quando 
comparadas aos homens, o que indica 
um maior sofrimento por parte delas. 
Esses achados podem estar relaciona-
dos a aspectos culturais que caracteri-
zam a diferenciação de gênero, pelos 
quais as mulheres ainda são educadas 
com uma maior valorização do rela-
cionamento amoroso, estimuladas a 
encontrarem um parceiro, enquanto 
os homens são educados com maior 
ênfase no aspecto predominantemen-
te profissional, preponderando a ex-
pectativa de que eles devam exercer 
maior autocontrole, não se envolven-
do tanto nos relacionamentos

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