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Aula 09 ADM I BENS PÚBLICOS

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BENS PÚBLICOS
A definição de bens públicos é meio controvertida, pois a doutrina tradicional, em um primeiro momento, adotava o entendimento de que seriam bens públicos os bens das pessoas jurídicas de direito público, bem como aqueles bens pertencentes as pessoas de direito privado, desde que estivessem afetados a prestação de serviço público.
Percebam que esse entendimento é o mais apropriado para fins de assegurar as garantias de tais bens, uma vez que as prerrogativas conferidas pelo ordenamento jurídico aos bens públicos não são prerrogativas do titular do bem, mas sim um direito da coletividade, melhor explicando... se admitirmos a penhora e o leilão de veículos de uma empresa que presta serviço público de transporte por mais que a empresa sofra uma perda os prejuízos causados à coletividade serão muito mais graves pois não poderão mais usufruir do serviço de transporte.
Por outro lado, com o advento do Código Civil de 2002 essa matéria acabou sendo positivada de modo um tanto quanto divergente da doutrina, vejamos:
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Vejam que o art. 98 do Código Civil privilegia o critério da titularidade do bem e não sua utilização no interesse da coletividade.
No final das contas! Para fins de provas de concurso, OAB primeira fase... é mais prudente seguirmos o segundo entendimento, ou seja, somente serão considerados bens públicos os bens pertencentes às pessoas de direito público.
Quanto aos bens de pessoas de direito privado prestadoras de serviço público o que nós podemos dizer que são bens privados, mas que terão um tratamento diferenciado, pois estão afetados a prestação de serviços públicos, em regra, não podendo assim serem penhorados (REsp 1070735/RS).
Classificação dos bens
Quanto à destinação:
Bens de uso comum do povo: são aqueles que o Estado conserva com a finalidade de serem utilizados pelas pessoas em geral. A utilização desses bens é livre. (ex.: praças, ruas, praias, calçadas, etc.). A utilização normal desses bens não depende de autorização do poder público.
Bens de uso especial: são utilizados para a prestação do serviço ou funcionamento da Administração Pública. São aqueles conservados com finalidade específica. (ex.: prédio de uma repartição, carro oficial, etc.). Poderão ser:
Bens de uso especial direto: é aquele que compões a máquina do Estado, ou seja, são utilizados diretamente pela estrutura administrativa.
Bens de uso especial indireto: é aquele que não é utilizado diretamente pelo Estado, mas é conservado por ele com uma finalidade específica. (ex.: terras indígenas, bens de conservação do meio ambiente, etc.).
Bens dominicais/dominiais: aqueles que não possuem nenhuma destinação pública, mas pertencente a uma pessoa jurídica de direito público.
Quanto à finalidade:
Afetados: são aqueles que estão atrelados a uma destinação de interesse público, seja de uma comum, de uso especial, etc.
Desafetados: são aqueles que não possuem nenhuma espécie de destinação pública.
Atenção! A desafetação não pode se dar pelo simples desuso, devendo então ser formal dependendo de lei ou de um ato administrativo específico e concreto.
Cuidado! Há quem diga que os bens de uso especial podem ser desafetados por fatos da natureza (ex.: uma enchente que destrói uma escola pública). Na prática isso não ocorre, mas há entendimento nesse sentido.
Uso de bens públicos por particulares
Consiste na utilização dos bens de uso comum do povo de forma anormal, de modo que, o Estado deverá verificar se a sua utilização anormal não afetará a utilização normal do bem pelas outras pessoas.
Esta utilização de forma anormal poderá acontecer por intermédio de:
Autorização de uso: ato discricionário e precário (não gera direito adquirido). Pode ser desfeito a qualquer tempo sem gerar ao particular nenhum direito à indenização. Aqui há interesse somente do particular. (ex.: casamento na praia).
Obs 1 * - Em certas situações nós temos uma contratualização da autorização de uso, ante a imposição de direitos e obrigações para o Poder Público (exemplo: prazo a ser respeitado), enfim, trata-se de uma autorização de uso qualificada, na qual deve-se observar o princípio da impessoalidade, bem como, eventual descumprimento poderá gerar indenização.
Permissão de uso: ato discricionário e precário (não gera direito adquirido). Pode ser desfeito a qualquer tempo sem gerar ao particular nenhum direito à indenização. Aqui há interesse público. (ex.: colocar uma banca de revista na rua). Parte da doutrina diz que havendo mais de um interessado deve-se providenciar uma licitação.
Obs 2 * - Aqui também, em certas situações nós temos uma contratualização da permissão de uso, ante a imposição de direitos e obrigações para o Poder Público (exemplo: prazo e/ou condições de uso), enfim, trata-se de uma permissão de uso qualificada, na qual deve-se observar o princípio da impessoalidade, bem como, eventual descumprimento poderá gerar indenização.
Concessão de uso: não é precária. Consiste num “contrato administrativo”, de modo que é assegurado ao particular garantias de cumprimento de certas condições e prazo. É feita mediante procedimento licitatório regular, onde a utilização tem um caráter mais permanente. Aqui, normalmente, há um investimento do particular para a utilização do bem (ex.: restaurante em uma universidade pública).
Concessão de direito real de uso: tem previsão no DL 271/67, trata-se de contrato administrativo por meio do qual o particular passa a ser titular de um direito real de utilização de determinado bem público. Pode ser feito, por exemplo, quando a Administração visa à industrialização ou urbanização de determinada área, cultivo da terra, preservação de comunidades tradicionais. Ademais, faz-se necessária licitação na modalidade concorrência. 
Obs* - Formas privadas para utilização de bens públicos também podem ser utilizadas, ou seja, os bens públicos podem ser entregues em locação, enfiteuse, etc. nestes casos seguem as regras do CC, submetidas às limitações do direito administrativo.
Os bens públicos seguem o regime de direito público, assim gozam de garantias que não estão presentes nos bens privados, decorrentes da supremacia do interesse público sobre o privado, vejamos:
Imprescritibilidade - art. 102, CC e art. 182, §3º, CF: não sofrem de usucapião (prescrição aquisitiva). A posse mansa e pacífica sobre determinado bem público não gera aquisição de propriedade, seja o bem afetado ou não. O STF tem ido além dizendo que, a utilização de um bem público por um particular sequer induz posse, trata-se de mera detenção. 
Impenhorabilidade: os bens públicos não podem ser penhorados para a garantia em juízo. Essa segunda característica se justifica pela desnecessidade da garantia judicial, pois a ideia do precatório é de “devo, não nego, pago quando puder”. 
Não-onerabilidade: significa dizer que sobre bens públicos não podem incidir direitos reais de garantia (ex.: penhor, hipoteca, anticrese, etc.). Existe a incidência de direitos reais nos bens públicos, o que não poderá incidir são os direitos reais de garantia.
Alienabilidade condicionada: é possível alienar bem público deste que respeitadas às condições definidas pelo art. 17 da lei 8666/93. São elas:
Desafetação: os bens públicos devem estar desafetados do interesse público. Só se admite alienação dos bens dominicais.
Declaração de interesse público: deve-se declarar que a alienação daquele bem é interesse da coletividade.
Atenção! Em se tratando de bens imóveis também se faz necessária a autorização legal, a avaliação prévia e licitação na modalidade de concorrência, salvo se adquiridos por dação em pagamento ou decisão judicial onde será possível também o leilão. 
Bens em espécie
Os arts .20 e 26, da Constituição Federal e o DL 9760/46 definem a quem pertence determinados bens, vejamos:1- O Mar Territorial é bem da União
2- A CF/88 diz que todos os recursos naturais encontrados na plataforma continental e zona econômica exclusiva pertencem a União.
3- Trinta e três metros contados da linha de maré alta é o chamado terreno de marinha e é bem da União. Todos os que residem nesta área são enfiteutas. O terreno de marinha pode possuir acrescidos.
4- 150 km contados da fronteira com outros países é a chamada faixa de fronteira. É indispensável a garantia da segurança nacional pela CF, mas não pertence a ninguém. Aqui há bens públicos e bens privados. Os públicos estão afetados para a garantia da segurança nacional e os privados se sujeitarão a algumas restrições também para garantir a segurança nacional.
5- Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são terras pertencentes à União. São bens de uso especial indireto.
6- Terras devolutas pertencem aos Estados-membros, segundo art. 20, II, CF. No entanto, segundo o mesmo artigo as terras devolutas necessárias à fortificação das fronteiras, construções militares, comunicação das vias federais e proteção ao meio ambiente são da União.
7- Rios que venham de outro país, que vão para outro país ou que banham mais de um estado da federação são da União. Rios e correntes de águas pertencem aos Estados onde estão localizados.
Os rios potências de energia elétrica são da União mesmo que estejam localizados em estados. A possibilidade de extração de energia elétrica é da União.
Conforme súmula 479 do STF as margens dos rios navegáveis pertencem à União.

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