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1 Rede de Ensino DOCTUM Núcleo de Educação a Distância - NEaD Disciplina: METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO Professor Responsável: Msc. Fabrício Emerick Soares METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO (Conteúdo das Aulas) Caratinga 2014 2 “A vida sem ciência é uma espécie de morte” (Sócrates) Jornal da Ciência nº 643, 30/04/2009. 3 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico(a), Seja muito bem vindo ao curso da disciplina Metodologia do Trabalho Científico na modalidade EaD (Educação a Distância) da Rede Doctum de Ensino. A disciplina Metodologia do Trabalho Científico, embora pouco pareça, é mais prática e menos teórica, pois, deve estimular os discentes na busca de motivações para levantar questionamentos e problemas e procurar-lhes respostas. Contudo, essa busca-procura deverá seguir o princípio científico e sua apresentação deverá ser feita através das normas acadêmicas vigentes, pois a inserção do aluno no espaço da Universidade pressupõe o ingresso no campo da elaboração do trabalho científico. Este tem como principal elemento norteador à pesquisa. Sendo assim, parece-nos evidente que a Metodologia do Trabalho Científico não é simples conteúdo a ser decorado pelos alunos. Trata-se, na verdade, de fornecer aos discentes um instrumental importante para a boa realização do trabalho científico através da organização e da disciplina. Nestes termos, consideramos bastante relevante o lugar ocupado na Universidade pela disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, pois, em se tratando de curso superior, espaço no qual o aluno busca incessantemente o saber científico, é de fundamental importância o entendimento de que a Metodologia Científica é o estudo dos caminhos do saber, pois “método” quer dizer caminho e “logia” quer dizer estudo e ciência. Também é muito importante lembrar neste momento que você está iniciando um curso com uma metodologia totalmente diferente e nova para a maioria das pessoas. Trata-se de um curso a distância - EaD, onde você não terá um professor a discorrer sobre o conteúdo da disciplina. Portanto, o seu desempenho dependerá muito de quanto tempo você dispõe para dedicar-se ao curso, dependerá de sua autodisciplina, dedicação, compreensão de familiares, capacidade de organizar o seu tempo e de seguir um cronograma preestabelecido por você na execução de suas tarefas (Agenda Pedagógica). Em contrapartida, uma das características mais importantes na Educação a Distância – EaD é a flexibilidade de local e tempo de 4 estudo, uma vez que o discente é o protagonista de sua aprendizagem, sendo reservado para o mesmo o papel ativo na construção e reconstrução do conhecimento. Para tanto, a Rede Doctum de Ensino, numa iniciativa nova e ousada, em sintonia com as diretrizes da educação para o século XXI e implementando um projeto pegagógico inovador, propõe a oferta da disciplina Metodologia do Trabalho Científico na modalidade EaD, disponibilizando ao discente, em linhas gerais, uma estrutura/organização acadêmica que contempla: 1 – Conteúdo da Disciplina: todo o conteúdo programático da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico foi organizado em aulas, em número total de 10, disponibilizadas no Portal Universitário Doctum; conforme Agenda Pedagógica, o discente deverá fazer o estudo de cada aula indicada nas respectivas etapas de notas; as aulas contam com objetivos bem definidos de aprendizagem, conteúdos em forma de esquemas explicativos e textos de apoio, além de vídeos que complementam as temáticas principais de cada aula e sugestões de bibliografia de pesquisa. 2 – Tutoria: para o desenvolvimento das atividades da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, o discente conta com o apoio de tutores à distância – responsáveis por todo o processo comunicativo/interacional entre a disciplina (Portal Universitário) e os discentes, além dos tutores presenciais, responsáveis pela materialidade da disciplina e pela organização dos encontros presenciais. 3 – Avaliação da Aprendizagem: o processo avaliativo da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, conta com atividades a distância (AD) e atividades presenciais (AP); as atividades a distância, contam com as atividades de verificação da aprendizagem (VA); quanto as avaliações presenciais (AP) são em número de duas. O discente também conta com o exame especial (EE), aplicado ao final do semestre letivo. As indicações de descrição, período, duração e valoração em notas das atividades a distância e presenciais encontram-se bem definidas na Agenda Pedagógica da disciplina. Por fim, quanto aos apsectos legais da oferta da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico na modalidade EaD, sinalizamos a Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004 - DOU de 13/12/2004, Seção 1, p. 34, que estabelece em linhas 5 gerais, a saber: Art. 1: As instituições de ensino superior poderão introduzir, na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta de disciplinas integrantes do currículo que utilizem modalidade semi-presencial, com base no art. 81 da Lei n. 9.394, de 1.996, e no disposto nesta Portaria. § 1 Para fins desta Portaria, caracteriza-se a modalidade semi-presencial como quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na auto-aprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota. § 2. Poderão ser ofertadas as disciplinas referidas no caput, integral ou parcialmente, desde que esta oferta não ultrapasse 20 % (vinte por cento) da carga horária total do curso. Bom semestre letivo para todos... Professor Msc. Fabrício Emerick Soares 6 Atividades propostas para a disciplina 1ª Etapa de Notas – 01/08/2013 até 20/09/2013 2ª Etapa de Notas – 21/09/2013 até 01/11/2013 3ª Etapa de Notas – 02/11/2013 até 06/12/2013 Exame Especial Aulas Aula 01 Aula 02 Aula 03 Aula 04 Aula 05 Aula 06 Aula 07 Aula 08 Aula 09 Aula 10 Atividade a Distância – Verificação de Aprendizagem - AD - VA AD – VA 1 ,VA 2, VA 3, VA 4, VA 5 e VA 6: Valor Total: 30 pontos – 01 ponto cada questão (Aulas 01, 02, 03, 04, 05 e 06) PRAZO FINAL PARA A POSTAGEM DAS AD-VA – 20/09/2013 AD – VA 7, VA 8, VA 9 e VA 10: Valor Total: 20 pontos -– 01 ponto cada questão (Aulas 07, 08, 09 e 10) PRAZO FINAL PARA A POSTAGEM DAS AD-VA – 01/11/2013 50 pontos Avaliação Presencial – AP AP 1 – Valor: 20 pontos (avaliação individual , com questões objetivas e com consulta ao material das aulas 01, 02, 03, 04, 05 e 06); aplicada entre os dias 23 até 27/09/2013. AP 2 – Valor: 30 pontos (avliação individual , com questões objetivas e com consulta ao material das aulas 07, 08, 09 e 10); aplicada entre os dias 18 até 22/11/2013. 50 pontos Exame Especial – EE (aplicado de 11 até 17/12/2013); avaliação individual; sem consulta ao material das aulas. EE – Valor: 100 pontos TOTAL 100 pontos 7 AULA 01: Metodologia do Trabalho Científico – organização e disciplina da vida de estudos na universidade OBJETIVOS: * Apresentar os fundamentosconceituais da metodologia, abordando a filosofia e a história da ciência, bem como fornecer os pressupostos básicos da pesquisa e do trabalho científico, permitindo melhor convivência acadêmica entre professores e alunos; * Organizar a vida de estudos na universidade, através do conhecimento das diretrizes de uma boa leitura, análise e interpretação de textos, o conhecimento dos instrumentos de trabalho científico, organização de seminários, dentre outros; * Relembrar a importância dos hábitos de estudo científico, possibilitando o desenvolvimento de uma vida intelectual disciplinada e sistematizada; * Compreender a importância do conhecimento para o desenvolvimento pessoal e profissional; * Caracterizar e aplicar os processos da técnica de leitura analítica para análise e interpretação de textos teóricos e científicos. CONTEÚDO: Para começar bem a metodologia é preciso começar de si mesmo, começar em si mesmo um processo gradual de descoberta, de pensar sobre sua identidade, seus desejos, seu estar no mundo, sua direção e seus propósitos. Sem esse começar, tudo será vazio, nada lhe dirá respeito, nada lhe interessará e você passará como branca nuvem, sem aproveitar sua vida nos aspectos mais valiosos, e um deles é o aspecto acadêmico. Antes de iniciar a jornada pela metodologia... Refletir sobre sua opção e escolha: qual meta eu quero atingir em minha vida? • Sinceridade: consigo mesmo... • Questionar-se sobre seus motivos e identidade. • Identificar suas resistências e suas afinidades; • Consciência da entrada em uma nova etapa da vida: a formação acadêmica; • Motivar-se: porque desejo o que desejo? Metodologia: do grego “meta” (ao largo), “odos” (caminho) e “logos” (discurso, estudo), ou o “caminho que conduz ao conhecimento de algo”. Ciência refere-se a qualquer conhecimento. Etimologicamente vem do verbo “saber”. Já no sentido estrito, ela se opõe a opinião, a superstição. Simplesmente quer dizer que ela explica algo através da observação. Os significados de metodologia mudaram ao longo de milhares de anos, e, no século XXI, com o rápido desenvolvimento das ciências (e da tecnologia) e do ensino superior, a metodologia tem hoje um amplo domínio, com pelo menos três áreas distintas, mas inter-relacionadas: 8 * Metodologia científica ou da ciência (filosofia da ciência): preocupa-se com as reflexões epistemológicas sobre os caminhos das diversas ciências, procurando os fundamentos do saber das diversas ciências, os limites da linguagem, dos conceitos, das teorias; * Metodologia da pesquisa: procura apresentar e aperfeiçoar as diversas maneiras de se empreender pesquisas que tenham um cunho acadêmico e científico; apresenta os instrumentais de pesquisa (questionário, entrevista etc.) disponíveis e as formas de analisar os dados obtidos por meio desses instrumentos; * Metodologia do trabalho acadêmico: apresenta os principais tipos de trabalho acadêmico, a importância da normalização e formalização dos trabalhos como fator de qualidade da produção acadêmica. De um modo amplo e geral, a metodologia pode ser chamada de “metaciência”, ou seja, um estudo e uma prática cujos objetivos são as próprias ciências particulares, isto é, um estudo que tem por objeto a própria ciência e as técnicas específicas de cada ciência. O que a Metodologia procura e o que não procura? a) Não procura soluções, mas escolhe as maneiras de encontrá-las; b) Integra os conhecimentos a respeito dos métodos em vigor nas diferentes disciplinas científicas ou filosóficas; c) Estuda, avalia e identifica as limitações, quanto a utilização, dos métodos disponíveis; d) Em um nível aplicado, examina e avalia as técnicas de pesquisa bem como a geração ou verificação de novos métodos que conduzem à captação e processamento de informações com vistas à resolução de problemas de investigação; e) Auxilia e orienta no processo de investigação para tomar decisões oportunas. Qual o maior desafio ao trilhar os caminhos da Metodologia? * o uso de processos metodológicos de seu raciocínio lógico; * a articulação entre hábitos de pesquisa e estudo com a criatividade e a apresentação formal (as regras técnicas). O que a Metodologia Científica não é e, em alguns casos, não deveria ser? * Um amontoado de técnicas, embora estas devam existir; * Um “fio” desligado da “tomada”, ou seja, das questões cruciais vividas nas disciplinas, na vida cotidiana, que é a sala de aula. Como assim? De um modo geral, os professores já fazem pesquisa, todos os dias, mesmo sem o saberem. Chamamos esse processo de pesquisa assistemática. Assim, para preparar uma aula, o professor pesquisa, assistematicamente, uma bibliografia (seleciona livros, textos, exemplos práticos, monta apostilas), entre outros procedimentos comuns. Outras vezes retira de sua própria experiência, reflexões e 9 constatações: “ turma X é assim”, “o perfil do aluno do curso tal é assim...”, a “vida é assim”. A partir das experiências empíricas, empreendemos a generalização ou sinédoque, como preferem os lingüistas. Mas a ciência precisa de rigor para fazer qualquer generalização. E temos aqueles que já fazem trabalhos e estudos organizados e trabalham com grupos de estudo, em seminários, em associações científicas, em mestrados e doutorados, que escrevem livros etc. Há duas formas de apresentar a metodologia: Há diversas maneiras de abordar e apresentar as metodologias. Apresentamos, especificamente, duas formas distintas: Formal – abre-se um “velho” manual. Dele se extraem conceitos e definições. Aplicam- se conhecidas formas de avaliação, procura-se “reproduzir” o que se leu e aprendeu; Vital – abre-se a vida, e as experiências do dia-a-dia, e a partir dela mergulha-se nas metodologias e nas pesquisas; aplicam-se, de forma inovadora, conhecidas formas de avaliação, e, porque não, elaboram-se novas maneiras de avaliar. Muitas vezes, vem à tona a questão da utilidade e da importância das metodologias. Consideradas pelo prisma “formal”, essa questão tende a ser respondida de forma negativa, ou seja, o estudo das metodologias é considerado inútil, porque detalhista. Na maneira “vital”, as questões cotidianas, os interesses mais próximos de nós, tornam-se propulsores dos caminhos que queremos trilhar, dos “apetrechos” que precisamos usar para a caminhada. Os “apetrechos” são as regras, as normas e técnicas. E mais importante é a disposição de ”caminhar”, de buscar conhecimentos, pois afinal, os apetrechos servem para ajudar... Organização e Disciplina na vida acadêmica: A inserção do aluno no espaço da Universidade pressupõe o ingresso no campo da elaboração do trabalho científico, que tem como principal elemento norteador à pesquisa. Para uma boa realização do trabalho científico recomenda-se a organização e a disciplina. Por organização entende-se o bom aproveitamento do tempo, do espaço e dos instrumentos, equipamentos e recursos disponibilizados para o estudo, tais como, a duração das aulas, os laboratórios e bibliotecas, os livros, computadores e também os docentes. Por disciplina entende-se a dedicação do aluno ao estudo, sabendo beneficiar- se o máximo possível da vida universitária para sua formação humana e profissional. 10 É, pois, finalidade da disciplina de Metodologia do Trabalho Científico auxiliar aos alunos a organizarem-se melhor nesse espaço escolar no qual se encontram e através de recomendações, dicas e orientações como poderão lidar com as exigências próprias da produção do trabalho científico, embora nada impeça que o aluno crie sua estratégia própria de organização, desde que não comprometa o processo de sua boa formação acadêmica. Condições para iniciara Metodologia: • Leitura: organização de horários; • Posição corporal; • Diversificação de fontes; • Leitura contínua. Diretrizes para a Leitura, análise e interpretação de textos: Indiscutivelmente, a leitura é o ponto de partida para a realização de qualquer trabalho científico. Entretanto, a leitura realizada com a finalidade de se elaborar um trabalho científico requer algumas condições como ambiente adequado, organização de horários, postura corporal adequada, diversificação dos tipos textuais, estudo do vocabulário do texto, questionamento do que se lê, identificação das referências históricas e filosóficas contidas no texto, sublinhamento de palavras-chave e idéias principais. Cinco passos básicos para uma boa leitura: • 1º passo: leitura elementar ou global: folhear e refletir sobre capa, sumário, introdução, conclusão, início de cada capítulo; • 2º passo: questionar o que se lê; rascunhar perguntas a lápis no texto, ou escrever perguntas no papel sobre o texto; uma técnica é dar títulos, subtítulos, fazer grifos, interpretar itálicos etc.; transformam-se os títulos/subtítulos em perguntas, esboçando-se, a seguir, respostas. • 3º passo: estudo do vocabulário: dicionários específicos (sociologia, psicologia, filosofia); levantamento de termos à medida que se lê; Um dicionário comum ajuda, mas é indispensável o uso de dicionários específicos (Filosofia, Psicologia, Sociologia) para o bom entendimento de um texto. A expressão “papel social”, por exemplo, será encontrada em um dicionário de Sociologia. Ainda nesse passo, realize o levantamento de termos ou palavras não compreendidas em uma folha, à medida que se lê, sem parar a leitura, pelo menos, até o item seguinte; depois procure o significado deles. Na pesquisa de vocabulário, faz-se a procura de termos próximos (por exemplo, para o termo “racionalidade”, podem ser procuradas “razão”, “objetividade” e “ciência”) ou termos da mesma família lingüística (sociologia, sociedade e socialização) ou pela origem etimológica (sociologia: do latim socius = sociedade e do grego logia / lógos = tratado, estudo). • 4º passo: identificar o contexto e as referências históricas, filosóficas, etc.; Mas não basta apenas a consulta das palavras, é preciso identificar-se o contexto em que são empregadas: a palavra está sendo usada para discutir-se uma proposição, para criticar-se um posicionamento? 11 • 5º passo: sublinhar apenas palavras chave. Cuidado para não grifar tudo, não se deve pensar que tudo é importante; muitos não conseguem separar o que é importante do que é acessório. Observações: • Faça pausas na leitura. Recomenda-se que a cada 50 minutos, se faça uma pausa de 10 minutos. Deve-se ter sempre presente: o que o autor quer dizer com tal texto? • Identificação da tese do autor: todo texto tem uma proposição central, aquela que norteia os argumentos do autor. • Avaliação das idéias expostas: os argumentos do autor estão bem articulados? Que falhas existem na exposição das idéias? Elas estão estreitamente relacionadas entre si? • Só se devem sublinhar aspectos essenciais. Por exemplo, elementos de coesão que criem idéia de oposição (mas, embora etc.); • Reconstituição do texto, baseando-se nas palavras e expressões sublinhadas, o que permite a visualização imediata das idéias principais. Veja-se um exemplo de texto sublinhado: “A pergunta crucial do nosso tempo é se as formas de resistência atuais dos setores e classes sociais que estão sendo dilacerados pelo sistema têm outras alternativas. Uma saída não conservadora que possa aprofundar a democracia e retomar a inclusão social como essência do desenvolvimento [...]” (GENRO, 2000, p. 66). Pré-condições do Trabalho Acadêmico: Diante da exigência de trabalhos acadêmicos, é preciso relembrar as pré-condições para uma boa vida acadêmica, para uma boa pesquisa, para um bom aproveitamento das disciplinas. Quais seriam: Ambiente adequado; Organização de horários para estudo e leitura; Descanso: a cada hora de estudo 10 minutos de intervalo; Posição corporal adequada: mesmo sendo-se malabarista, deve-se atentar para a posição, correta e confortável, ao estudar. Diversificação das fontes de leitura para que se consiga “navegar” pelos diferentes tipos de textos. Leitura contínua para a aquisição da prática: quem não possui hábito da leitura, ler devagar ou precisar de reler o texto várias vezes. O trabalho acadêmico, segundo a ABNT é: Um documento que resulta de um estudo e que expressa um conjunto de conhecimentos construídos e adquiridos nas disciplinas, nos cursos e programas desenvolvidos. Definição mais ampla: todo trabalho em forma de documento produzido no âmbito do Ensino Superior. Nessa definição entram resenhas, resumos, projetos, relatórios (dos mais variados aspectos e formas). 12 Forma e da estrutura – ABNT: Os elementos da forma dizem respeito à apresentação gráfica, a como o trabalho deve ser digitado. A estrutura dos trabalhos, dizem respeito aos itens obrigatórios e essenciais. Elementos da estrutura do trabalho: O trabalho acadêmico é dividido em três partes básicas: * Elementos pré-textuais (antecedem o texto), * Elementos textuais (o texto) * Elementos pós-textuais (vêm após o texto). TEXTOS COMPLEMENTARES: TEXTO 01: O DESAFIO DA LEITURA Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam; ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliográfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros já construíram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros são básicos, ou de leitura obrigatória, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros são mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatória, ser indicado um, como livro de texto. A indicação do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja a análise ultrapassaria os limites que este compêndio impõe. Diremos, apenas, que o aluno não pode ater-se exclusivamente a ele. “Timeo Hominem Unius Libri”, diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro só. É necessário abeberar-se de outras fontes mais amplas mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas. Se não é possível pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaços de tempo para o estudo extra-aula e se é necessário programar criteriosamente a utilização desse tempo, não seria igualmente impossível pensar em fazer um bom curso sem ter à mão boas fontes de leitura? É possível que se pretenda fazer um curso universitário sem freqüentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros básicos para cada programa? A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lêmemoriza elementos de um todo 13 que não se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveríamos não só estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aulas. Deveríamos ser uma pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam. É preciso ler, ler muito, ler bem. É preciso sentir atração pelo saber, e encontrar onde buscá-lo. É necessário iniciar este trabalho com determinação e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento físico; quem não sente apetite não deve deixar de alimentar-se; comprometeria sua saúde. Também na leitura trabalhada devemos ser perseverantes; só esta perseverança garantirá aquela espécie de saltos de integração de dados, que se vão acumulando e associando como frutos da leitura continuada. TEXTO 02: A IMPORTÂNCIA DA LEITURA Antes de evidenciarmos a importância da leitura, precisamos entender o que é ler e porque a leitura é uma atividade complexa que envolve vários aspectos, pois exige que o leitor mobilize diferentes tipos de conhecimentos para realizá-la. De acordo com Isabel Solé, ler é um processo de interação entre o leitor e o texto. (Solé, 1987). Esta afirmação implica em várias conseqüências. Primeiro envolve a presença de um leitor ativo que processa e examina o texto, depois vem a existência de um objetivo para guiar a leitura, quer dizer uma finalidade. O universo de objetivos e finalidades que levam um leitor a um texto é amplo e variado; devanear, preencher um momento de lazer, buscar informações concretas, informar-se sobre um determinado fato, confirmar ou refutar sobre um conhecimento prévio, aplicar os conhecimentos obtidos com a leitura na realização de um trabalho. Leitura é também construção de sentidos, Os PCNs em um trecho dizem que: "A Leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção de significados do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o leitor, de tudo o que se sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita: decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica necessariamente, compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. Qualquer leitor experiente que consegue analisar sua própria leitura constatará que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza quando lê: a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível rapidez e proficiência. "(PCNs, 1998). Nessa perspectiva permite-nos dizer que o leitor competente é aquele que é capaz de selecionar e utilizar dos mais variados textos que circulam socialmente e que consegue entender o que ler. A Leitura constitui um importante escudo contra o processo de alienação, mas isso só é possível a partir do momento em que o sujeito compreende o que lê, ou seja, é capaz de ler além do texto. A Leitura tem uma função crítica e social muito importante, pois dá ao homem direito à opção, a um posicionamento próprio da realidade. Podemos considerar que há finalidade da leitura que fazem parte das perspectivas gerais do individuo: 14 Ampliar a visão do mundo; Inserir o indivíduo na cultura letrada; Possibilitar a vivência de emoções; Permitir a compreensão do processo comunicativo da linguagem; Favorecer o processo de humanização e interagir nas relações sociais de seu tempo. Dessa forma, uma educação que se queira libertadora, humanizante e transformadora passa necessariamente, pelo caminho da Leitura. E na organização de uma sociedade mais justa e mais democrática que vise a ampliar as oportunidades de acesso ao saber, não se pode desconhecer a importante contribuição política da leitura. LEITURA RECOMENDADA: ALVES, Rubem. A aula e o seminário. In: __________. O amor que acende a lua. São Paulo: Papirus, 1999. DEMO, Pedro. Princípio científico e educativo. 8ª ed. São Paulo, Cortez, 2001. LAVILLE, C.; DIONE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: UFMG; Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. LIBANIO, J. B. Introdução à vida intelectual. São Paulo: Loyola, 2001. SILVA, José Maria; SILVEIRA, Emerson Sena. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos: normas e técnicas. Juiz de Fora: Juizforana, 2002. 15 AULA 02: Elaborando os Trabalhos Acadêmicos OBJETIVOS: * Apresentar os principais tipos de trabalho acadêmico tanto do ponto de vista dos conceitos, quanto das normas técnicas; * Identificar, caracterizar e diferenciar os principais tipos de trabalho acadêmico e os elementos constitutivos dos mesmos; * Apontar as diversas técnicas de documentação para elaboração do trabalho acadêmico e Identificar as características da linguagem científica. CONTEÚDO: Elaborando Fichamentos, Resumos e Resenhas... Relembrando os passos básicos da leitura: Visão global: toma-se o livro ou texto, faz-se a leitura e a reflexão sobre o sumário, as “orelhas”, os subtítulos, a introdução, a conclusão e a lista das fontes de pesquisa; Questionamento do que se lê: faz-se uma série de perguntas ao texto, rascunhadas (a lápis); Um dicionário comum ajuda, mas é indispensável o uso de dicionários específicos (Filosofia, Psicologia, Sociologia); Realizar um levantamento de termos não compreendidos; Identificação das referências históricas e sociais contidas, para que o contexto seja esclarecido; Na busca da essência do texto, o leitor tenta identificar as idéias principais. Nesta etapa, são exigências: a) A apreensão das principais proposições do autor; b) Não perder tempo, registrando-se detalhes; c) Conhecimento dos argumentos do autor (refutação, comprovação ou questionamento); d) Deve-se ter sempre presente: o que o autor quer dizer com tal texto? e) Avaliação das idéias expostas: os argumentos do autor estão bem articulados? Que falhas existem na exposição das idéias? Elas estão estreitamente relacionadas entre si? Organização da leitura • Ao se ler um livro ou qualquer texto para um resumo, uma prova, uma monografia, um relatório etc., é essencial que se façam anotações por escrito. • Podem ser utilizadas duas maneiras: a) anotação esquemática: um esquema numerado das idéias principais; b) anotação resumida: colocação das idéias principais. • Para realizá-las, é necessário: ler o texto sem interrupção; reler; levantar informações importantes para a compreensão do que se lê; sublinhar e rascunhar as anotações. 16 FICHAMENTOS DE LEITURAS: • Os fichamentos destinam-se ao registro da leitura, essencial ao trabalho acadêmico (MEDEIROS, 2000). Eles podem ser feitos no computador, em fichas de papel com pauta, ou mesmo em folhas de ofício comuns (ou caderno, mas sem picote). Havendo necessidade de mais de uma ficha, elas serão numeradas no canto direito superior. • Os tipos básicos de fichamentos são: a) Fichamento de bibliografia: levantamento de livros, artigos e outras fontes sobre um tema. Um título genérico deve indicar o assunto que se está fichando (Cultura e violência, no exemplo abaixo). Cultura e violência 1 MOESCH, N. Brasil: exclusão, direito e violência. Revista Científica da REDE DOCTUM, Caratinga, ano 23, v. 2, p. 34-56, abr. 2009. SARAMAGO, J. O novo mundo digital. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 junho 2003.Mais!, p. 3. SARAIVA, Bernardo. O mundo da violência. Petrópolis: Vozes, 2003. Obs.: a ficha de bibliografia pode ser prolongada indefinidamente e deve passar por uma constante atualização. b) Fichamento de citação: transcrevem-se os trechos essenciais do livro ou texto. Usam-se aspas e registra-se a página de onde foi retirada a citação. Obs.: Colocar o número da página da qual se extraiu a citação é essencial. Cuidado com o recorte de frases! Atentar para o contexto no qual elas estão inseridas. c) Fichamento de resumo: resume-se o conteúdo da leitura (partes ou todo). Metodologia da ciência 1 ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 15. ed. Brasiliense: São Paulo, 1992, capítulo 01. P. 03-05 – Esse texto reflete sobre a relação de semelhança entre senso-comum e a ciência. Analisa as imagens mais comuns sobre a ciência e o cientista. Defende que é preciso superar a crença de que o cientista, em relação a outras pessoas comuns, pensa mais e melhor. Metodologia da ciência 1 ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 15. ed. Brasiliense: São Paulo, 1992. P. 11 - “O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento.” 17 RESENHA: O que é resenha, afinal? A resenha é um “trabalho crítico, exigente e criativo” (MEDEIROS, 2000). Podem ser resenhados filmes, peças teatrais, livros literários (romance, poesia etc.), livros acadêmico-científicos, artigos etc. Seu tamanho, em geral, varia de três a seis páginas. Há dois tipos de resenha: descritiva e avaliativa. O primeiro tipo é geral, aparece em jornais e revistas de grande circulação. O segundo é mais específico, sendo a resenha realizada por especialistas da área em questão, aparecendo em revistas acadêmico-científicas. A resenha compõe-se de 3 partes básicas: 1- Breve resumo inicial: apresentam-se o autor e o livro; as conclusões/metodologia do autor, explicitando-se as teorias e os dados nos quais o autor se baseou; 2 - Apreciação crítica: avaliação da qualidade/consistência. O resenhista posiciona-se, analisando-o (não usa ADJETIVOS ou “Eu acho”), comenta as fontes, teorias e autores mencionados; identifica os diversos tipos de contexto nos quais a obra está inserida: (histórico,social, político). A crítica deve seguir dois caminhos: a) interna (conteúdo da obra e significado analisados); b) externa (obra analisada nos contextos cultural e social nos quais foi produzida); 3 - Conclusão: síntese ou elaboração de um texto que expresse de forma sintética as idéias originais. É opcional a recomendação da leitura. A resenha deve fazer três tipos de análise: Análise textual: pesquisa do vocabulário e sondagem dos fatos apresentados e autoridade dos autores citados; estudam-se conceitos, termos empregados, dados históricos e teorias usadas; a seguir, elabora-se um rascunho; Análise temática: responde-se às seguintes questões: sob qual perspectiva o texto trata dos assuntos? Que problema o autor enfoca? Como soluciona? Que posição assume? Como demonstra o raciocínio? Análise interpretativa: apresenta-se uma posição a respeito das idéias do texto. Situa- se o autor em um contexto, respondendo-se às seguintes questões: qual a coerência/originalidade do texto? Qual a contribuição que apresenta? O autor atinge o objetivo proposto? O que deixou de ser abordado? A abordagem foi adequada? A resenha é digitada com as seguintes regras: Título: a resenha PODE (ou não) ter título próprio digitado em letras maiúsculas, tamanho 12, centralizadas, negritadas e entrelinhamento 1,5, na 3ª linha. O subtítulo (se houver) deve subordinar-se ao título, com a mesma formatação, separado do título por dois pontos. Autor: nome de quem fez a resenha, seguido de uma nota de rodapé na primeira página, com o breve relato das credenciais do autor da resenha. Nome do autor digitado com recuo esquerdo de 8 cm (letras normais, 12, sem negrito, com entrelinhamento 1,5); entre o título/subtítulo e o autor, deixa-se uma linha em branco de espaçamento (tamanho 12 e entrelinhamento 1,5). 18 Referência: letra tamanho 12, alinhadas à esquerda, entrelinhamento simples; entre o nome do autor da resenha e a referência, deixa-se uma linha em branco de espaçamento; o mesmo espaçamento entre a referência e o início do texto. O texto da resenha é escrito em letras normais, tamanho 12, justificadas e com entrelinhamento 1,5. Exemplo: CILENE, Emile. A falência do modelo patriarcal de família. 3. ed. São Paulo: Graal, 2009, 40 páginas, 14 x 21 cm, ISBN 309868-89. Haverá um futuro para a família tradicional? Renato Emílio1 Emile Cilene, pesquisadora e socióloga francesa radicada no Brasil é considerada um das melhores estudiosas da sociologia da família. Pesquisando estatísticas e desenvolvendo análises longitudinais, o livro é perturbador, para dizer o mínimo. Segundo Cilene, a família patriarcal tradicional está em constante e irremediável declínio, constatação que aparece ao longo dos dez capítulos da obra. Escrito originalmente na década de 1979, é criativo, porém peca ao não citar as fontes. O livro é escrito em uma postura ofensiva, sem atentar para a linguagem científica. Nos capítulos iniciais, a família patriarcal é demolida a golpes de psicanálise e sociologia. A família patriarcal é fonte de neuroses e acumuladora de capital. Portanto, apesar de ser um clássico na sociologia das famílias, é preciso ler com cuidado, pois falta ao autor, a linguagem científica exigida em um assunto tão importante. ____________________________ 1 Mestre em Administração, professor da Rede Doctum ou Aluno do 2º período do curso de Administração das Faculdades Doctum de Caratinga. RESUMO: O que é um resumo? Ele pode ser definido como “uma apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto, ressaltando a progressão e a articulação entre elas” (MEDEIROS, 2000, p. 123). O que não é resumir? Resumir não é cópia, não é substituição de um termo ou outro, não é inversão da ordem da frase. Por fim, ele não deve apresentar crítica, pois, nesse caso, tornar-se-ia uma resenha. Os resumos são classificados em dois tipos básicos: Resumo indicativo: resumo da idéia principal. Digitado em bloco único. (notas e comunicações, “orelhas” de livros, artigos e trabalhos de conclusão, relatórios técnico- científicos, dissertações e teses); Referência com os dados completos Título de apresentação da resenha (opcional) Nome do resenhista, indicado por uma nota de rodapé na primeira página. Introdução: panorama da obra. Conclusão: posição e recomendação. Apresentação do autor e do livro. Credenciais do resenhista. Análise, apreciação ou desenvolvimento. 19 Resumo informativo: expõe finalidades, metodologia, resultados e conclusões, podendo substituir a consulta ao texto original. Pode chegar à cerca de 15% do texto completo. Como deve ser um bom resumo? Ao se resumir um livro (ou partes), um artigo etc., o texto deve ser redigido como um todo, com poucas divisões internas e sem se imitarem as divisões de capítulos/itens do livro ou do texto. Quais são os principais itens de um resumo? Para que seja inteligível, o resumo deve conter três partes: 1 - Introdução: apresentação do autor do livro ou texto (credenciais, formação etc) e do livro (exposição geral dasidéias importantes e da estrutura do livro ou obra); 2 - Desenvolvimento: assunto do texto, objetivo, metodologia, critérios utilizados e a articulação das idéias; 3 - Conclusão: síntese dos principais argumentos do autor. Qual poderia ser o estilo de redação do resumo? Pode-se: a) Usar linguagem pessoal (“busco apresentar neste trabalho...”) ou impessoal (“busca-se apresentar neste trabalho...”), desde que ela seja uniforme ao longo de todo o trabalho; Não usar adjetivos! Resumir comporta duas partes: 1. a compreensão do texto original; 2. a elaboração de um texto pessoal. Na construção da redação final do resumo, a idéia do autor do texto original surge reelaborada. O principal instrumento disso é a paráfrase. O que é paráfrase? É traduzir “as palavras de um texto por outras de sentido equivalente, mantendo as idéias originais” (MEDEIROS, 2000, p. 151). Evite a paráfrase de simples substituição, muito comum. As palavras são substituídas por termos equivalentes, ou inverte-se a ordem da frase. Exemplo: “O problema, portanto, não é realizar ou não as reformas, mas como realizá-las”. Paráfrase pobre: O problema é como realizarem-se as reformas, não saber se vão ou não ser realizadas. Essa paráfrase é pobre, é quase plágio. Segundo o dicionário Aurélio, plágio significa “Assinar ou apresentar como seu (obra artística ou científica de outrem)”. A origem etimológica da palavra ilustra o conceito que ela carrega: vem do grego (através do latim) plagios, que significa trapaceiro (...) (FERREIRA, 2004). Quais são os passos do resumo? PRIMEIRO - Ler atentamente: uma leitura de folheio e outra mais profunda (vocabulário); SEGUNDO - Sublinhar as palavras-chave; TERCEIRO – Aplicar, caso seja possível, 3 itens: 1- Enxugamento: cortar todas as palavras não essenciais ou que não interfiram no sentido do texto; (cuidado com palavras de oposição: mas, contudo, todavia) 2 – Generalização: trocar elementos particulares por um elemento geral. Exemplo: Em um dia de domingo, José foi a feira comprar batata, chuchu, cenoura e nabo. José comprou legumes na feira. 20 3 – Seleção: o texto é relido e seleciona-se os termos definitivos; QUARTO – Rascunho: elabora-se um rascunho sem ler o original. QUINTO - Depois se compara com o original, corrigi-se e se faz o definitivo. Diretrizes para a realização de um Seminário: O que é um seminário? O seminário é um procedimento que usa dinâmica de grupo para estudo e pesquisa. Qual seu objetivo? Ele visa a aprofundar a reflexão sobre determinado problema a partir da utilização de textos/equipes. É um círculo de debates para o qual todos devem estar suficientemente preparados. Pode incluir o uso de recursos visuais Existem diverso tipos de seminário? Sim, entre eles: 1- Seminário temático: os participantes apresentam trabalhos, diversificados quanto à maneira de abordagem do tema, mas convergentes na temática. Um seminário sobre violência, por exemplo, pode apresentar e discutir visões diferentes acerca do tema; nesse caso, pode-se lançar mão de outros recursos (vídeo, murais, símbolos etc.) desde que não exceda o tempo de apresentação do grupo; 2 - Seminário de leitura/estudo de textos: escolhem-se diversos textos por tema, os quais todos os participantes devem ler, para que ocorra um bom debate. A lista das fontes precisa ser bem selecionada. Não é recomendável a divisão de páginas de leitura ou capítulos de uma mesma obra entre os membros do grupo. Isso dificulta a visão do todo. O ideal é que todos leiam integralmente o texto e, depois, discutam. Quais os procedimentos importantes para a boa realização de um seminário? Cada equipe do seminário tenha no máximo 5 ou 6 integrantes; A equipe deve reunir-se algumas vezes antes da apresentação, para melhor preparar o seminário; A arrumação do local deve permitir o diálogo coletivo (disposição circular é uma alternativa, entre outras); É necessário um texto-roteiro, escrito e distribuído com antecedência aos participantes (pelo menos uma semana antes). O texto deve ter: apresentação geral (resumo do tema), esquema (tópicos), questões para debate (2 ou 3) e o trecho de um livro, artigo etc., que sirva de base às discussões; O coordenador do seminário e distribui o tempo da apresentação de cada grupo (máximo 20 minutos) e realiza intervenções oportunas. O tempo deve ser dividido de forma a se contemplarem os seguintes momentos: breve apresentação inicial do tema, apresentação das questões norteadoras, amplo debate acerca do tema e breve conclusão. O professor poderá intervir nas exposições e debates sempre que julgar necessário, pois o seminário é como juntar as peças de um grande quebra-cabeça: cada um tem um pedacinho. Qualquer um do grupo pode fazer a pergunta inicial. O professor funciona apenas como juiz da partida (ALVES, 1999). 21 TEXTOS COMPLEMENTARES: TEXTO 01: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9610.htm TEXTO 02: ERA DA INFORMAÇÃO OU DO LIXO ELETRÔNICO? Stephen Kanitz - administrador e economista. "Vigilância epistêmica" é a preocupação que todos nós devíamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados. Significa não acreditar em tudo o que é escrito e é dito por aí, inclusive em salas de aula. Achar que tudo o que ouvimos é verdadeiro, que nunca há uma segunda intenção do interlocutor, é viver ingenuamente, com sérias conseqüências para nossa vida profissional. Discordo profundamente desses gurus, estamos na realidade na "Era da Desinformação", de tanto lixo e "ruído" sem significado científico que nos são transmitidos diariamente por blogs, chats, podcasts e internet, sem a menor vigilância epistêmica de quem os coloca no ar. É mais uma conseqüência dessa visão neoliberal de que todos têm liberdade de expressar uma opinião, como se opiniões não precisassem de rigor científico e epistemológico antes de ser emitidas. Infelizmente, nossas universidades não ensinam epistemologia, aquela parte da filosofia que nos propõe indagar o que é real, o que dá para ser mensurado ou não, e assim por diante. Embora o ser humano nunca tenha tido tanto conhecimento como agora, estamos na "Era da Desinformação" porque perdemos nossa vigilância epistêmica. Ninguém nos ensina nem nos ajuda a separar o joio do trigo. Foi por isso que as "elites" intelectuais da França, Itália e Inglaterra no século XIV criaram as várias universidades com catedráticos escolhidos criteriosamente, justamente para servir de filtros [...] Há 500 anos nós, professores titulares, livres-docentes e doutores, nos preocupamos com o método científico, a análise dos fatos usando critérios científicos, lógica, estatísticas de todos os tipos, antes de sair proclamando "verdades" ao grande público. Hoje, essa elite não é mais lida, prestigiada, escolhida, entrevistada nem ouvida em primeiro lugar. Pelo contrário, está lentamente desaparecendo, com sérias conseqüências. Fonte do texto: Revista VEJA; São Paulo: Abril, edição 2028, ano 40, n º 39, 3 de out. 2007, p. 20. LEITURA RECOMENDADA: DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. 3ª edição. São Paulo: Atlas, 1995. LAVILLE, C.; DIONE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: UFMG; Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1992. MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996. SILVA, José Maria; SILVEIRA, Emerson Sena. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos: normas e técnicas. Juiz de Fora: Juizforana, 2002. 22 AULA 03: A Ciência e o Conhecimento nas suas múltiplas interações – Apontamentos sobre o Conhecimento Humano OBJETIVOS:* Reconhecer a importância do conhecimento para o desenvolvimento pessoal e profissional. * Identificar a importância do conhecimento para o desenvolvimento de uma nação. * Identificar os tipos de conhecimento existentes diferenciando-os do conhecimento científico a partir da caracterização dos mesmos; * Compreender os conceitos dos tipos de conhecimento e sua aplicabilidade na construção da ciência O Conhecimento Humano e seu Foco Histórico... Antes de tudo, é necessária a compreensão de que o conhecimento é a incorporação de uma explicação nova, ou original, ou a revisão de alguma outra explicação sobre um determinado fato, fenômeno ou evento. Disto decorre que o conhecimento não nasce do vazio, mas das atividades humanas, de suas experiências cotidianas. Por isso o homem é o único ser capaz de criar, produzir e transformar conhecimento, bem como aplicá-lo em diferentes meios e situações visando a melhoria da condição humana. Nesse processo, criamos sistemas simbólicos, como a linguagem, do qual nos utilizamos para registrar nossas próprias experiências e repassá-las aos outros. Por essa razão, o conhecimento científico deve ser entendido como uma forma de conhecimento, mas não a única, pois se trata de uma linguagem (ou sistema simbólico) própria para o registro e transmissão das experiências humanas. Os Tipos de Conhecimento... Conhecer é atividade fundamental e importante para as ciências em geral, para os homens, para as organizações. Na vida pessoal e profissional. Mas como se conhece? Com o é possível ter certezas sobre o que se conhece? Quais são os tipos de conhecimento? São perguntas importantes para adentrar na metodologia, ou seja, no caminho que conduz ao conhecimento. POR ONDE A GENTE APRENDE E CONHECE? Pense nas situações abaixo: 23 Um grupo de guerreiros indígenas toma cuidado quando colocam a canoa na água porque crêem que se ela balançar não terão êxito na pesca; Um homem anda pelo mato, corta um galho na forma da letra V, levando-o suspenso acima do solo procurando fontes de água; Um médico percorre as páginas de um livro de Dermatologia tentando identificar uma erupção na pele de um paciente; Cada uma dessas pessoas procura solução e explicação. Suas fontes de "verdade". E, em termos metodológicos, quais poderiam ser as fontes da verdade ou das verdades? Intuição: qualquer lampejo de introvisão (certa ou errada) cuja fonte o receptor não pode ou não consegue identificar/explicar totalmente. Ex.: Galeno, médico grego do século II d. C.. Preparou um mapa do corpo humano que mostrava onde poderia ser penetrada a pessoa humana que houvesse ferimento fatal. Como sabia? Apenas sabia. Autoridade: legitima a massa de experiência e de conhecimento. Ex.: Galeno, médico grego foi citado e usado como fonte verdadeira até cerca de 1800 pelos médicos. Outra autoridade na área dos conhecimentos em geral foi Aristóteles. Uma autoridade não descobre novas verdades, mas pode sufocar ou impedir a investigação e a descoberta de outras. Ex: A Inquisição Católica, O Partido Comunista etc. Mas a autoridade é um ponto de referência. Por quê? Grande quantidade de conhecimentos = os indivíduos não dominam todo conteúdo = os especialistas que coletaram conhecimento em determinado campo. Autoridade pode ser: Autoridade religiosa ou sagrada, que surge da fé, da tradição ou de documentos sagrados: Bíblia, Alcorão ou Tradição oral; Autoridade secular, que surge do acúmulo da tradição não-religiosa por meio da literatura ou das comprovadas investigações científicas. Subdividida em: científica secular e humanista secular. a) Tradição e costumes: Caracteriza-se pelo acúmulo de experiências e informações. Porém preserva tanto sabedoria como informações inúteis. b) Bom senso: podem ser definidas como um grupo de idéias formuladas pela observação e experiência assistemática, sem controle científico. Elas frequentemente 24 resultam em auto-engano, pois alega-se que não precisam de provas ou então que já forma provadas. Não resistem a uma análise científica mais eficaz. Leia os exemplos: O caráter de uma pessoa transparece no rosto; Quem trapaceia nas cartas trapaceia nos negócios; A literatura pornográfica encoraja crimes e perversões sexuais; Esses ditados populares são apenas impressões, pois a investigação científica constata que: Não existe correlação definida entre as características faciais e as da personalidade A honestidade em uma situação pouco diz sobre o comportamento de uma pessoa em outra Não existe correlação entre o consumo de literatura pornográfica e comportamento sexual socialmente desaprovado. Bom senso e tradição estão juntas e formam o saber tradicional de um povo. O chamado conhecimento popular ou senso comum. A distinção entre os dois tipos de fontes de verdade é a seguinte: a primeira seriam as “verdades” aceitas sem critica (recentes ou antigas) e a segunda seriam as “verdades” que a muito tempo se acreditam que sejam assim. O bom senso reúne observações práticas da vida social. Muitas vezes se baseiam em ignorância, preconceito e interpretação errônea. Ex.: o europeu medieval observando que os pacientes febris estavam livres de piolhos, o que não ocorria com os outros tiraram conclusões do bom senso de que o piolho curava a febre e por isso salpicavam de piolhos a cabeça dos pacientes febris. CONSTRUINDO CONCEITOS A PARTIR DOS TIPOS DE CONHECIMENTO: Conhecimento Popular Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Conhecimento Científico Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível Exato Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível exato Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Fonte: (TRUJILLO,1974) 25 Conhecimento Popular: Pelo conhecimento empírico, a pessoa percebe entes, objetos, fatos e fenômenos e sua ordem aparente, tem explicações concernentes à razão de ser das coisas e das pessoas. Esse conhecimento é constituído de interações, de experiências vivenciadas pela pessoa em seu cotidiano e de investigações pessoais feitas ao sabor das circunstâncias da vida; é sorvido dos outros e das tradições da coletividade ou, ainda, tirado de uma religião positiva (CERVO; BERVIAN; SILVA apud IBE, 2010, p.05). A pessoa comum, que não precisa operacionalizar métodos e técnicas científicas para a construção de seu conhecimento, tem, entretanto, conhecimento do mundo material exterior em que se acha inserida e de um certo número de pessoas, seus semelhantes, com as quais convive. Vê essas pessoas no momento presente, lembra-se delas, prevê o que poderão fazer e ser no futuro. Tem consciência de si mesma, de suas ideias, tendências e sentimentos. Cada qual se serve da experiência do outro ora ensinando, ora aprendendo, em um intenso processo de interação humana e social. Pela vivência coletiva, os conhecimentos são transmitidos de uma pessoa a outra e de uma geração a outra. (IBE, 2010, p.05) Conhecimento Filosófico: Distingue-se do conhecimento científico pelo objeto de investigação e pelo método. O objetodas ciências são os dados próximos, imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou por instrumentos, pois, sendo de ordem material e física, são suscetíveis de experimentação. O objeto da filosofia é constituído de realidades mediatas, imperceptíveis aos sentidos e que, por serem de ordem suprassensíveis, ultrapassam a experiência. A ordem natural do procedimento é, sem dúvida, partir dos dados materiais e sensíveis (ciência) para se elevar aos dados de ordem metafísica, não sensíveis, razão última da existência dos entes em geral (filosofia). Parte-se do concreto material para o concreto supramaterial, do particular ao universal (CERVO; BERVIAN; SILVA apud IBE, 2010, p.06). Para (SOUZA; FIALHO; OTONI, apud IBE, 2010, p. 08) o conhecimento filosófico se caracteriza pelo esforço da razão em questionar os problemas humanos. Reflete a crença de um grupo de pessoas que são os filósofos. A postura destes é especulativa diante dos fenômenos gerando conceitos subjetivos. Eles dão sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Conhecimento Religioso ou Teológico: Apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural e que, por esse motivo, são consideradas infalíveis e indiscutíveis. (IBE, 2010, p.08) O que funda o conhecimento religioso é a fé. Não é preciso ver para crer e devemos crer mesmo que as evidências apontem para o contrário do que a religião nos ensina. As “verdades” religiosas estão registradas em livros sagrado ou são 26 reveladas pelos deuses (ou outros seres espirituais) por meio de alguns iluminados, santos ou profetas. Essas verdades são em geral tidas como definitivas e não permitem revisão mediante a reflexão ou a experiência. Nesse sentido, podemos classificar sob esse título os conhecimentos ditos místicos ou espirituais (MATTAR apud IBE, 2010, p.08). Conhecimento Científico: Ultrapassa os limites do conhecimento empírico na medida em que procura evidenciar, além do próprio fenômeno, as causas e a lógica de sua ocorrência. O conhecimento científico, assim como o filosófico, é racional, mas tem a pretensão de ser sistemático e de revelar aspectos da realidade. As noções de experiência e verificação são essenciais nas ciências; o conhecimento científico deve ser justificado e é sempre passível de revisão, desde que se possa provar sua inexatidão. Entretanto, não devemos esquecer que a Matemática, por exemplo, é considerada por muitos uma ciência, apesar de grande parte de seus conhecimentos não se referir diretamente à realidade e não poderem ser por ela provados ou refutados. (IBE, 2010, p. 09). Para o conhecimento científico a única autoridade é a reflexão, a critica, a testagem e a verificação, mesmo se aplicadas contra ela mesma. Aliás, é isso a principal diferença do conhecimento científico para outros tipos de conhecimento: a capacidade de colocar o conhecimento como algo provisório, sujeito a uma futura superação. Para José Carlos Rodrigues: o que faz do cientista um cientista é, sobretudo, a consciência que tem do caráter acientífico da ciência. Ele não acredita no mito da ciência e é exatamente essa desconfiança o que lhe permite exigir métodos cada vez mais rigorosos, teorias crescentemente explicativas e bem formuladas, pontos de vista intelectuais sempre mais flexíveis, diversificados e abrangentes [...] Criticando-se continuamente, utilizando a própria debilidade como força maior, a ciência se faz. O fiel acredita no mito de sua religião, inclusive pensando que não se trata de mito, mas da verdade. “Os mitos são as crenças e os conhecimentos dos outros, a minha crença e meu conhecimento são verdadeiros e, portanto, fora de dúvida e questão...”. Algum outro tipo de conhecimento (religioso, teológico, popular, tradicional) é capaz de se repensar e pensar, duvidar de si e buscar novas perguntas, sempre? O problema é quando este argumento, o da confiança e da autoridade, é invocado para desqualificar indivíduos ou grupos. No entanto, mesmo os cientistas e professores-pesquisadores podem usá-lo... 27 Por isso, de golpes e contragolpes vive a Ciência. Outros pensadores surgiram e golpearam as idéias dos três homens mencionados acima. Por exemplo: Karl Popper. Para ele, o método indutivo, base da Ciência Moderna (observação de fatos particulares, análise com a descoberta de padrões e posterior generalização que se torna “lei”) é falho. Suponha-se que se observem e se analisem patos. Todos os mil patos observados durante a experiência eram brancos com bolinhas pretas. Com base nessas premissas (aplicando testes, experimentos e fazendo reverificações) conclui-se: os patos são brancos com bolinhas pretas. Mas basta aparecer um com bolinhas roxas (e de repente, mais outro, mais outro...) que a teoria dos patos vai precisar ser revisada. Nada na razão humana garante (100%) que não vá aparecer ou que não exista um pato com bolinhas roxas. Em outras palavras, a ciência não se move nas certezas, mas nas PROBABILIDADES. E aqui vale uma lição dos livros de investigação policial: o improvável não é impossível. Quanto a Marx e a Freud, Popper diz que muitos (não todos) de seus postulados não são conhecimentos científicos, mas um tipo de saber, uma mitologia, meta-narrativas ou outra coisa (menos ciência) por que não são FALSIFICÁVEIS. O que quer dizer essa palavra complexa? Quer dizer que não podem ser submetidos a uma prova de refutação, a testes rigorosos, a tentativas de refutação, em outras palavras, são crenças: ou se acredita ou não se acredita. Mais ou menos como um “credo religioso”. O que hoje se pensa a respeito dessa diversidade de conhecimentos? PRIMEIRO: não há hierarquia de fato, ou seja, um não é “superior” ao outro, todos são formas de compreender a complexa realidade que envolve todos os seres humanos, embora haja grupos que consideram um ou outro “melhor”; SEGUNDO: o positivismo, que via no conhecimento científico a suprema realização do homem e a necessidade deste de subjugar os outros tipos, acabou sendo questionado tanto nas ciências humanas, quanto nas ciências naturais; TERCEIRO: as relações entre os conhecimentos são complexas, não são de total negação e conflito e também de total aprovação e harmonia. No entanto, em alguns momentos na história e nas sociedades, os conhecimentos travam violenta disputa, por exemplo: a condenação de Galileu perante o papado em Roma ou uma, menos conhecida, como a do médico espanhol Miguel de Servet diante de Calvino, um dos líderes da Reforma Protestante. 28 QUARTO: são conhecimentos simultâneos e, muitas vezes, passamos de um para o outro sem perceber. Se o movimento de trânsito é percebido, é porque se faz um esforço de pesquisa e de reflexão sobre as práticas diárias. Alguns dizem que a ciência deve ser engajada nas mudanças: deve dizer o que fazer, deve assumir uma postura real e ajudar na socialização dos conhecimentos (evitar ou diminuir a formação de “elites do saber”; promover a diminuição da desigual distribuição da tecnologia), na emancipação do sujeito (contribuir efetivamente para que as pessoas sejam autônomas social e politicamente) e na mudança social (atuar na busca do desenvolvimento social e econômico para todos). Outros pensam que ela deve buscar objetividade e neutralidade, embora não sejam de todo alcançáveis, e que os cientistas é que devem fazer, por sua conta e risco, opções e propostas. Os Níveis de Conhecimento... Em se tratando do conhecimento científico, identificamos pelo menos três níveis para sua abordagem: o nível ontológico ou cosmogológico, o nível epistemológico ou das teorias do conhecimentoe o nível metodológico. TEXTOS COMPLEMENTARES: TEXTO 01: A realidade como ponto de partida para a construção do conhecimento É, pois, a realidade o ponto focal do processo de construção do conhecimento. Assim, é preciso compreender o que é a realidade enquanto objeto de estudo, pois ela não é algo que se constrói fora da relação com o sujeito. Ao contrário, é na interação com o sujeito que ela é significada. Por isso, cada sujeito a representa de forma diferenciada, pois as interações não se repetem, dependem da temporalidade sócio-históricas em que o sujeito se insere. Numa via de mão dupla, realidade e sujeitos se constroem mutuamente e pela relação que se estabelece entre eles. A interrogação sobre a realidade é sempre feita a partir de um ponto de vista, social e historicamente determinado. Nesse sentido, podemos dizer que o conhecimento é social e historicamente construído. Ele é uma forma de compreender e significar o mundo e a vida. É o que pode ser lido na história da ciência, seja no campo das ciências da natureza, seja no campo das ciências sociais. Seja passando por Aristóteles, Newton ou Einstein, seja passando por Descartes, Marx, Weber ou Freud. O ponto comum entre eles é a interrogação incessante na busca de compreensão da realidade, tanto natural, quanto social. Tem-se, portanto, como ponto de partida, na produção do conhecimento, um ponto de vista sobre o qual se exerce uma ação reflexiva utilizando-se de informações teóricas já produzidas, mas sempre desdogmatizando-se, para se permitir construir outros conhecimentos necessários à compreensão da realidade. Disso decorre que o conhecimento sobre um determinado objeto pode ter diversas versões, dependendo de quem o conhece, quando o conhece e para busca conhecê-lo. 29 Estar atento às perguntas, aos pontos de vistas é, portanto, promover a construção do conhecimento comprometido com os problemas sociais, culturais, econômicos e políticos do contexto vivido, traduzindo-o em produtos e processos úteis para a sociedade em geral. Isso significa romper com a representação segundo a qual o lugar de produção, circulação e utilização de conhecimento é, essencialmente, a comunidade acadêmica. A pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a construção do conhecimento e o atualiza frente à realidade do mundo. Sendo assim, o ato de pesquisar é direcionado pela aquisição de um conhecimento que possibilita a solução e a explicação de fenômenos e problemas práticos da realidade cotidiana vivenciada pelo homem. O problema, é portanto, a base, o início da investigação: uma dúvida, uma questão, uma pergunta, que demanda a criação de novos referenciais. Como afirma Einstein a formulação de um problema é mais essencial que sua solução. Isto porque a ciência não tem por finalidade descrever a realidade, mas lançar perguntas para resignificá-la. (RIBEIRO, Lusia Pereira e VIEIRA, Martha Lourenço. Fazer pesquisa é um problema? Belo Horizonte: Lápis Lazuli, 1999). TEXTO 02: A Ciência Do medo à Ciência A evolução humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligência. Sendo assim podemos definir três níveis de desenvolvimento da inteligência dos seres humanos desde o surgimento dos primeiros hominídeos: o medo, o misticismo e a ciência. a) O medo: Os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza. Por este motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restava outra alternativa, senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam. b) O misticismo: Num segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas do casamento do humano com o mágico. c) A ciência: Como as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência metódica, que 30 procura sempre uma aproximação com a lógica. O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Esta característica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus descendentes. O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a ciência. A evolução da Ciência Os egípcios já tinham desenvolvido um saber técnico evoluído, principalmente nas áreas de matemática, geometria e na medicina, mas os gregos foram provavelmente os primeiros a buscar o saber que não tivesse, necessariamente, uma relação com atividade de utilização prática. A preocupação dos precursores da filosofia (filo = amigo + sofia (sóphos) = saber e quer dizer amigo do saber) era buscar conhecer o porque e o para que de tudo o que se pudesse pensar. O conhecimento histórico dos seres humanos sempre teve uma forte influência de crenças e dogmas religiosos. Mas, na Idade Média, a Igreja Católica serviu de marco referencial para praticamente todas as idéias discutidas na época . A população não participava do saber, já que os documentos para consulta estavam presos nos mosteiros das ordens religiosas. Foi no período do Renascimento, aproximadamente entre o séculos XV e XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres humanos retomaram o prazer de pensar e produzir o conhecimento através das idéias. Neste período as artes, de uma forma geral, tomaram um impulso significativo. Neste período Michelangelo Buonarrote esculpiu a estátua de David e pintou o teto da Capela Sistina, na Itália; Thomas Morus escreveu A Utopia (utopia é um termo que deriva do grego onde u = não + topos = lugar e quer dizer em nenhum lugar); Tomaso Campanella escreveu A Cidade do Sol; Francis Bacon, A Nova Atlântica; Voltaire, Micrômegas, caracterizando um pensamento não descritivo da realidade, mas criador de uma realidade ideal, do dever ser. No século XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a burguesia assumiu uma característica própria de pensamento tendendo para um processo que tivesse imediata utilização prática. Com isso surgiu o Iluminismo, corrente filosófica que propôs "a luz da razão sobre as trevas dos dogmas religiosos". O pensador René Descartes mostrou ser a razão a essência dos seres humanos, surgindo a frase "penso, logo existo". No aspecto político o movimento Iluminista expressou-se pela necessidade do povo escolher seus governantes através de livre escolha da vontade popular. Lembremo- nos de que foi neste período que ocorreu a Revolução Francesa em 1789. O Método Científico surgiu como uma tentativa de organizar o pensamento para se chegar ao meio mais adequado de conhecer e controlar a natureza. Já no fim do período do Renascimento, Francis Bacon pregava o método indutivo como meio de se produzir o conhecimento. Este método entendia o conhecimento como resultado de experimentações contínuas e do aprofundamento do conhecimento empírico. Por outro lado, através de seu Discurso sobre o método, René Descartes defendeuo método dedutivo como aquele que possibilitaria a aquisição do conhecimento através 31 da elaboração lógica de hipóteses e a busca de sua confirmação ou negação. A Igreja e o pensamento mágico cederam lugar a um processo denominado, por alguns historiadores, de "laicização da sociedade". Se a Igreja trazia até o fim da Idade Média a hegemonia dos estudos e da explicação dos fenômenos relacionados à vida, a ciência tomou a frente deste processo, fazendo da Igreja e do pensamento religioso razão de ser dos estudos científicos. No século XIX (anos 1800) a ciência passou a ter uma importância fundamental. Parecia que tudo só tinha explicação através da ciência. Como se o que não fosse científico não correspondesse a verdade. Se Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros, foram perseguidos pela Igreja, em função de suas idéias sobre as coisas do mundo, o século XIX serviu como referência de desenvolvimento do conhecimento científico em todas as áreas. Na sociologia Augusto Comte desenvolveu sua explicação de sociedade, criando o Positivismo, vindo logo após outros pensadores; na Economia, Karl Marx procurou explicar a relações sociais através das questões econômicas, resultando no Materialismo- Dialético; Charles Darwin revolucionou a Antropologia, ferindo os dogmas sacralizados pela religião, com a Teoria da Hereditariedade das Espécies ou Teoria da Evolução. A ciência passou a assumir uma posição quase que religiosa diante das explicações dos fenômenos sociais, biológicos, antropológicos, físicos e naturais. A neutralidade científica É sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessário que o pesquisador mantenha uma certa distância emocional do assunto abordado. Mas será isso possível? Seria possível um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado de sua própria história de vida? Ou ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema religioso sem um conseqüente envolvimento ideológico nos caminhos de sua pesquisa? Provavelmente a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta realidade pode nos preparar para trabalhar esta variável de forma que os resultados da pesquisa não sofram interferências além das esperadas. É preciso que o pesquisador tenha consciência da possibilidade de interferência de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa não sejam influenciados por eles além do aceitável. PEDAGOGIA EM FOCO. Disponível em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met00.htm. LEITURA RECOMENDADA: CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CHAUÍ, Marilena. A Ciência na história. In:_____, Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1993. DEMO, Pedro. Princípio científico e educativo. 8 ª ed. São Paulo, Cortez, 2001. MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. SANTOS, A. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 6. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2004. 32 AULA 04: A Ciência e o Conhecimento nas suas múltiplas interações – Apontamentos sobre a Ciência. OBJETIVOS: * Reconhecer a importância da ciência para o desenvolvimento humano a partir da história do progresso científico; * Estabelecer as diferenças entre a ciência e o senso-comum; * Caracterizar o conhecimento científico e sua aplicabilidade na prática universitária; * Identificar os variados tipos e concepções de ciência estabelecendo diferenças e semelhanças entre suas abordagens; CONTEÚDO: Pode-se afirmar ter sido a intrínseca inquietude/curiosidade humana em relação aos fenômenos, fatos e eventos presentes em nossa realidade, no sentido de levantar perguntas e problemas e buscar-lhes respostas/explicações, que realizou o parto da ciência ou então do método científico, ou melhor, dos métodos científicos, pois essa categoria dever ser compreendida enquanto uma definição filosófico- abstrata ligada à concepção de ciência da qual, o pesquisador parte para realizar seus estudos. Há 2.500 anos na Grécia, Sócrates acendeu uma chama que percorre continuamente a história humana. Essa atitude foi levada adiante por pensadores e cientistas do porte de Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Charles Darwin e Albert Einstein. Mas não só, também grandes líderes como Gandhi e Martin Luther King. Alguns atribuem a Sócrates a frase: “Sem pensar na vida não vale a pena viver”. Mas pensar de qualquer jeito? Não. Pensar com método. Não de qualquer jeito ou qualquer maneira. Por isso método é o caminho escolhido para se alcançar conhecimento, verdade, compreensão. Na vida profissional, pessoal, na vida acadêmica e também na ciência, começar de qualquer jeito, continuar de qualquer jeito não vale a pena.... Porque Sócrates? Ele foi o primeiro a introduzir um método com base na razão, questionando mitos. O que se procura? • Respostas para determinados tipos de pergunta; • E respostas que sejam “verdadeiras” e não “falsas”. Aqui, a “coisa” fica complicada. O que é a verdade? Na história do Ocidente, desde a Grécia, existem três concepções de “verdade” distintas, que se formaram ao longo das experiências, reflexões e pesquisas das civilizações e povos: 33 Concepção grega (aletheia) - o que não é oculto, dissimulado, mas aquilo que se manifesta ao corpo e a alma. Opõe-se ao falso, pois a verdade e o verdadeiro estão nas coisas, na realidade, e não no sujeito. Em outras palavras, a verdade está no mundo e é preciso descobri-la. A verdade é o espelho da realidade; Concepção latina (veritas) – relaciona-se ao rigor, a exatidão de um relato, aos detalhes. Depende da memória. A verdade está na linguagem e depende da forma como se enuncia. A realidade corresponde ao que dela se diz. Concepção hebraica (emunah), retomada pelo cristianismo – relaciona-se a confiança e ao pacto. Por isso a idéia central é a revelação: a verdade é revelada, pois se confia e se espera. A autoridade faz o pacto, é depositária da confiança (sacerdotes em geral, escrituras sagradas, etc.). Cada uma dessas concepções pode-se dizer, apresenta impactos “positivos” e “negativos”, apontados a seguir: Na concepção grega: o impacto positivo é a necessidade de investigar a realidade para desvelá-la, tirar os véus que a ocultam, recusando-se a atribuir à dimensão sobrenatural (de qualquer espécie) a causa da realidade. O impacto negativo é a confiança absoluta no conhecimento como espelho da realidade, o que hoje as teorias e práticas científicas têm mostrado é que a teoria não é espelho da realidade, não há correspondência perfeita, mas aproximada, entre teoria e realidade; Na concepção latina: o impacto positivo é a preocupação com a memória e a exatidão da linguagem usada para descrever a realidade. O impacto negativo é a crença de que a linguagem é independente da realidade e que basta falar para acontecer; Na concepção hebraico-cristã: o impacto positivo é a possibilidade de construir comunidades e consensos mais duradouros e estáveis. O impacto negativo é o bloqueio da crítica e da investigação devido a uma confiança absoluta em algum tipo de autoridade (refratária à autocrítica e a outros pontos de vista que não o sancionado como legítimo): do padre, pastor, do guru, do sacerdote, do próprio cientista e de suas próprias instituições, das igrejas, dos templos, das instituições, do mercado etc. Essas concepções se entrelaçaram na história das ciências. Muitos paradigmas e metodologias têm como pressuposto “oculto” uma ou várias dessas concepções.
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