Buscar

(LER)Alimentação complementar e características maternas

Prévia do material em texto

Alimentação complementar e características maternas 
de crianças menores de dois anos de idade em Florianópolis (SC)
Complementary feeding and maternal characteristics of children younger than two years old 
in Florianópolis, Santa Catarina, Brazil
Elizabeth Nappi Corrêa1, Arlete Catarina T. Corso2, Emília Addison M. Moreira3, Ileana Arminda M. Kazapi4 
Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 
SC, Brasil
1Nutricionista; Mestre em Nutrição pelo Programa de Pós-graduação em 
Nutrição da UFSC; professora titular da Universidade Comunitária Regional 
de Chapecó, Chapecó, SC, Brasil
2Nutricionista; Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo 
(USP); professora titular no Departamento de Nutrição e Pós-graduação 
em Nutrição da UFSC, Florianópolis, SC, Brasil
3Nutricionista; Doutora em Ciências dos Alimentos pela USP; professora 
titular no Departamento de Nutrição e Pós-graduação em Nutrição da UFSC, 
Florianópolis, SC, Brasil
4Nutricionista; Mestre em Ciência dos Alimentos pelo Instituto Nacional de 
Pesquisas da Amazônia; professora adjunta do Departamento de Nutrição 
da UFSC, Florianópolis, SC, Brasil
RESUMO
Objetivo: Verificar a associação entre o período de in-
trodução de alimentos complementares e características 
socioeconômicas maternas e biológicas de crianças menores 
de dois anos de idade.
Métodos: Estudo transversal com 516 mães de crianças 
com menos de dois anos de idade entrevistadas no dia da 
Campanha Nacional de Vacinação em Unidades de Saúde de 
2004 na cidade de Florianópolis (SC). Foram coletados dados 
sobre a época de introdução de alimentos complementares 
e características socioeconômicas maternas e biológicas da 
criança. A análise de regressão logística múltipla foi aplica-
da para verificar a associação da introdução de cada tipo de 
alimento com as características estudadas. 
Resultados: Constatou-se que, dentre as crianças meno-
res de dois anos de idade, apenas 28,7% haviam recebido 
aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, dentre as 
crianças que estavam com menos de seis meses no momento 
da pesquisa, apenas 49,6% estavam recebendo aleitamento 
materno exclusivo. Observou-se, ainda, que 80% das crianças 
receberam fruta, 77,5% receberam suco natural associados ao 
aleitamento materno e 36,8% receberam leite modificado, 
em substituição ao aleitamento materno, antes de completa-
rem seis meses de idade. A análise de regressão multivariada 
identificou que as mães com menor grau de escolaridade e 
que trabalhavam fora de casa apresentaram mais chance de 
introduzir precocemente alimentos aos seus filhos. 
Conclusões: Baixa escolaridade materna e atividade fora 
do lar se associaram à introdução precoce de alimentos.
Palavras-chave: alimentação complementar; nutrição 
infantil; aleitamento materno; desmame precoce.
ABSTRACT
Objective: In children younger than two years old, to 
verify the association between complementary food introduc-
tion, socioeconomic characteristics of mothers and biological 
characteristics of children. 
Methods: Cross-sectional study of 516 mothers of children 
younger than two years old who were interviewed during 
2004 national campaign for vaccination in health care clinics 
of Florianópolis, in the Southern region of Brazil. Data re-
garding introduction of complementary food, socioeconomic 
characteristics of the mothers and biological characteristics 
of the children were collected. Multiple logistic regression 
analysis was applied to verify whether the introduction of 
complementary food was associated with socioeconomic 
characteristics of the family. 
Results: Among children younger than two years old, only 
28.7% received exclusive breastfeeding until six months. 
Among children younger than six months, only 49.6% were 
on exclusive breastfeeding at the time of the interview. Among 
all studied children, 80% received fruit, 77.5% natural juice 
along with breastfeeding and 36.8% received modified milk 
Endereço para correspondência: 
Elizabeth Nappi Corrêa
Rua Pastor Willian Richard Schisler Filho, 1236 – Itacorubi
CEP 88024-100 – Florianópolis/SC 
Email: nutrinappi@bol.com.br 
Fonte financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (Capes) e Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFSC
Recebido em: 6/10/08
Aprovado em: 2/2/09
Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Artigo Original
in substitution to breastfeeding before six months of age. 
Multivariate regression analysis identified that families with 
low educational level and working mother had more chance 
to introduce complementary food earlier. 
Conclusions: Low educational level and working mothers 
were risk factors for early introduction of complementary 
food.
Key-words: complementary feeding; infant nutrition; 
breastfeeding; weaning.
Introdução 
O leite materno é inquestionavelmente o melhor ali-
mento nos primeiros meses de vida e seus principais be-
nefícios incluem: proteção das vias respiratórias e do trato 
gastrintestinal contra doenças infecciosas, ganho de peso 
adequado, é livre de contaminação, promove proteção imu-
nológica, é adaptado ao metabolismo da criança, além de 
estimular o vínculo afetivo entre mãe e filho(1). A prática de 
aleitamento materno poderia prevenir 13% das mortes de 
crianças menores de cinco anos(2). A Organização Mundial 
de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno até dois 
anos ou mais(3).
Após os seis meses de idade, há necessidade da introdução 
de alimentos de forma gradativa para atender às necessidades 
nutricionais da criança. A introdução alimentar e o aleita-
mento materno são influenciados por diversos fatores inter-
relacionados, dentre os quais a mãe merece destaque, pois é 
a principal referência nos cuidados à criança, além da influ-
ência de fatores associados ao contexto familiar, econômico e 
sociocultural(4). Os cuidados maternos são fundamentais para 
a saúde da criança e podem sofrer influência da qualidade das 
informações em saúde, da escolaridade e idade da mãe, além 
do tempo de que a mãe dispõe para cuidar de seu filho(5).
A introdução precoce de alimentos pode influenciar a dura-
ção do aleitamento materno, interferir na absorção de nutrien-
tes do leite materno, aumentar o risco de contaminação e de 
reações alérgicas, da mesma forma que a introdução tardia pode 
levar à desaceleração do crescimento da criança, aumentando o 
risco de desnutrição e de deficiências de micronutrientes(6).
A prática correta do aleitamento materno exclusivo até os 
seis meses é tão importante quanto a introdução adequada 
de alimentos a partir dessa idade. A OMS enfatiza a alimen-
tação complementar oportuna aos seis meses, introduzindo 
alimentos variados em quantidade, frequência e consistência 
de pastosa e sólida de forma lenta e gradual(6). O Guia Ali-
mentar para Crianças Menores de Dois Anos, elaborado pelo 
Ministério da Saúde(6), reforça a importância da alimentação 
complementar na segurança alimentar e, consequentemente, 
no desenvolvimento do país. 
Alimentação complementar é definida como a oferta de 
outros alimentos ou líquidos à criança, em adição ao leite 
materno(1), ou qualquer alimento oferecido durante o período 
de alimentação complementar e que não seja o leite materno(7). 
Os alimentos complementares podem ser preparados es-
pecialmente para as crianças ou consumidos pelos demais 
membros da família, modificados para atender às habilidades e 
necessidades da criança(3). De acordo com Monte e Giuliani(8), 
a adequação nutricional dos alimentos complementares é 
fundamental na prevenção da morbimortalidade na infância, 
incluindo desnutrição e sobrepeso. Nos últimos anos, têm 
ocorrido avanços importantes na promoção da amamentação, 
mas, infelizmente, a promoção da alimentação complementar 
adequada tem tido menos progresso(9).O presente estudo visa a identificar a prevalência de 
aleitamento materno exclusivo e a época de introdução dos 
alimentos que compõem a alimentação complementar de 
crianças menores de dois anos de idade residentes na cidade 
de Florianópolis (SC) e verificar a associação entre a época 
de introdução dos grupos de alimentos e as características 
socioeconômicas maternas. 
Métodos
Trata-se de um estudo transversal aprovado pelo Comitê 
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade 
Federal de Santa Catarina, realizado no dia 21 de agosto de 
2004, dia da Campanha Nacional de Vacinação na cidade 
de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina. Para 
o cálculo do tamanho da amostra, foram consideradas como 
população de referência 6.187 crianças (número de crianças 
menores de dois anos de idade vacinadas na campanha de 
vacinação do ano anterior, 2003), prevalência do fenômeno 
de 50%, erro amostral previsto de 5% e intervalo de con-
fiança (IC) de 95%. Foi utilizado efeito de desenho de 1,5 e 
acréscimo de 10% para compensação de eventuais perdas e 
recusas, totalizando 564 crianças. 
A amostra probabilística foi realizada em duas etapas, 
sendo a primeira a seleção aleatória simples dos postos de 
vacinação a partir das listas fornecidas pela coordenação 
central. Na segunda etapa, na seleção das crianças menores 
de dois anos de idade nos postos sorteados, foi utilizado 
o cálculo de amostragem sistemática. A supervisão dos 
259Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Elizabeth Nappi Corrêa et al
trabalhos de campo foi planejada e executada por pessoas 
treinadas, com adequação entre o número de supervisores e 
entrevistadores com o de mães entrevistadas. Foram coleta-
das informações registradas em questionários padronizados 
relativas ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses, 
introdução de alimentos complementares para as crianças 
menores de dois anos de idade e questões socioeconômicas 
referentes à família da criança. As mães foram informadas 
sobre conteúdo, objetivos e finalidade da pesquisa e, após a 
apresentação e assinatura do termo de consentimento livre e 
esclarecido, foi realizada a entrevista, com garantia de sigilo 
das informações.
Os critérios utilizados para definir o tipo de aleitamento 
materno foram os estabelecidos pela Organização Mundial de 
Saúde(3): na categoria ‘aleitamento materno exclusivo’ a criança 
recebe apenas leite e nenhum outro líquido ou alimento sólido; 
na categoria ‘aleitamento materno’, a criança é alimentada com 
o leite materno, independentemente de receber outros tipos 
de alimento, inclusive o leite não humano; na categoria ‘ali-
mentação complementar’, a criança recebe tanto leite humano 
quanto alimentos sólidos ou semissólidos.
Foi realizada a estatística descritiva de todas as variáveis. 
Posteriormente, aplicou-se o teste de associação (qui-quadra-
do) entre as variáveis dependentes (introdução de alimentos) 
e independentes. Todas as variáveis que apresentaram um 
valor de p<0,20 no teste do qui-quadrado foram selecionadas 
para a análise de regressão logística múltipla não condicional, 
utilizando-se o software STATA. Foram estimadas as razões 
de chance (odds ratio - OR) com respectivos intervalos de 
confiança de 95%, bruto e ajustado(10). 
Resultados
Um total de 516 crianças participou do estudo, pois os 
dados de 48 crianças não foram utilizados por falta de consis-
tência. Das crianças avaliadas, 51,4% eram do sexo masculino 
e 48,6% do feminino, 23,8% tinham menos de seis meses e 
76,2% entre seis meses e dois anos de idade.
Com relação às características das mães, 448 (86,8%) 
apresentaram idade igual ou superior a 19 anos, 337 (65,3%) 
estudaram por menos de oito anos, 450 (87,2%) residiam 
com companheiro, 352 (68,2%) residiam em domicílio 
com quatro ou mais pessoas, 253 (49%) apresentaram renda 
per capita inferior a um salário mínimo e 296 (57,4%) não 
exerciam atividade fora do lar. 
Com relação ao aleitamento materno exclusivo, das 123 
crianças com menos de seis meses, 61 (49,6%) recebiam alei-
tamento materno exclusivo e 62 (50,4%) não estavam mais 
recebendo leite materno de forma exclusiva. Das 393 crianças 
na idade entre seis meses a dois anos, 113 (28,7%) haviam 
recebido aleitamento materno exclusivo até os seis meses, 
comparadas a 280 (71,3%) que não haviam recebido.
Na Tabela 1, observa-se o tipo de alimento, o número 
de crianças e a idade média de introdução dos alimentos 
em meses. O leite modificado, outra fruta e o suco natural 
foram introduzidos antes dos seis meses. Observa-se que, 
das 516 crianças pesquisadas, 413 (80%) receberam fruta e 
400 (77,5%) receberam suco natural antes de completarem 
seis meses de forma associada ao aleitamento materno e 190 
(36,8%) crianças receberam leite modificado em substituição 
ao aleitamento materno. Entre os 6,2 e 6,8 meses, as crianças 
receberam massa, legumes e verduras, leite integral, tubér-
culos, fruta cítrica, açúcar, cereal refinado e arroz, indicando 
que, nesta idade, houve a introdução de sopas na alimenta-
ção. Pode-se observar que 36,8% ingeriam leite modificado 
aos 3,2 meses e 62%, leite integral aos 6,2 meses. Entre as 
idades médias de 7,2 e 7,8 meses, além receberem leite des-
natado, bolacha simples e iogurte, as crianças passaram a ser 
alimentadas com gordura, carnes (frango, bovina e/ou suína), 
leguminosas e cereais integrais, indicando que passaram a 
ingerir a alimentação da família. A partir dos oito meses, 
as crianças passaram a receber alimentos como peixe, pão, 
bolo e ovos, farinha de mandioca e bolacha recheada, doces 
em geral, sucos industrializados, queijo, achocolatados e re-
frigerantes. Praticamente antes de completarem o primeiro 
ano de idade (média de 11,5 meses), as crianças já haviam 
recebido todos os alimentos que compõem a alimentação da 
família, oferecidos de forma gradativa. 
Observa-se, na Tabela 2, que as mães que residiam em 
domicílios com mais de quatro pessoas apresentaram 2,0 
(IC95% 1,1-3,7) vezes mais chance de oferecerem alimentos 
do grupo gorduras para as crianças em relação àquelas que 
residiam em domicílios com menos de quatro pessoas. Os 
principais alimentos oferecidos para as 516 crianças foram: o 
leite integral para 320 aos 6,2 meses e as gorduras para 289 
aos 7,7 meses. As mães com menos de oito anos de estudo 
e as mães que trabalhavam fora de casa apresentaram 2,2 
(IC95% 1,3-3,7) e 2,0 (IC95% 1,3-3,1) vezes mais chance, 
respectivamente, de oferecerem alimentos do grupo doces 
para as crianças. Os doces foram oferecidos na forma de açúcar 
aos 6,6 meses e bolachas simples e pudim/gelatina antes de 
as crianças completarem oito meses de idade.
Observa-se na Tabela 2 que mães com menos de oito anos 
de estudo e mães que trabalhavam fora do lar apresentaram 
260 Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Alimentação complementar e características maternas de crianças menores de dois anos de idade em Florianópolis (SC)
Receberam 
o alimento 
n (%)
Idade 
média 
(meses)
Desvio 
padrão
Leite modificado 190 (36,8) 3,2 2
Suco natural 400 (77,5) 5,5 2,3
Outra fruta 413 (80,0) 5,8 2,3
Legume/verdura 397 (76,9) 6,2 2,1
Leite integral 320 (62,0) 6,2 3,6
Tubérculo 401 (77,7) 6,3 2,4
Fruta cítrica 349 (67,6) 6,3 2,8
Açúcar 285 (55,2) 6,6 3,7
Cereal refinado 325 (63,0) 6,6 3,3
Massa 387 (75,0) 6,8 2,5
Arroz 380 (73,6) 6,8 2,5
Leite desnatado 17 (3,3) 7,2 5,5
Frango 381 (73,8) 7,2 2,8
Leguminosas 368 (71,3) 7,3 2,6
Bolacha simples 369 (71,5) 7,3 2,7
Carne vermelha 357 (69,2) 7,4 3,0
Pudim/gelatina 313 (69,6) 7,4 2,9
Iogurte 347 (62,25) 7,6 0,2
Cereal integral 233 (45,2) 7,6 3,5
Gorduras 289 (56,0) 7,7 3,4
Suíno 64 (12,4) 7,8 3,0
Pão 354 (68,6) 8,2 2,9
Peixe 276 (53,5) 8,6 3,0
Bolo 302 (58,5) 8,8 3,3
Ovo gema 296 (57,4) 8,8 3,4
Farinha de mandioca 199 (38,6) 9,0 3,6
Ovo clara 233 (45,2)9,8 3,6
Bolacha recheada 217 (42,1) 9,9 4,0
Doces em geral 260 (50,4) 10,0 4,4
Suco industrializado 156 (30,2) 10,3 4,2
Queijo 165 (32,0) 11,0 3,5
Achocolatado 142 (27,5) 11,3 4,1
Refrigerantes 155 (30,0) 11,5 3,7
Tabela 1 – Média e desvio padrão da idade (meses) na intro-
dução de alimentos complementares
1,5 (IC95% 1,0-2,2) e 2,4 (IC95% 1,7-3,5) vezes mais chance, 
respectivamente, de oferecerem alimentos do grupo lácteo, 
inclusive (conforme demonstrado na Tabela 1) para crianças 
menores de seis meses. Também, mães com menos de oito 
anos de estudo apresentaram 1,6 (IC95% 1,1-2,4) vezes mais 
chance de oferecerem alimentos do grupo amido e 2,6 (IC95% 
1,4-4,7) mais chance de oferecerem alimentos do grupo de 
panificação às crianças, notando-se que as massas foram intro-
duzidas aos 6,8 meses. Mães que trabalhavam apresentaram 1,9 
(IC95% 1,3-2,7) vezes mais chance de introduzirem alimentos 
do grupo amido e 2,0 (IC95% 1,3-2,9) vezes mais chance de 
introduzirem alimentos do grupo vegetais/frutas, inclusive 
antes dos seis meses de idade (Tabela 1). As mães com menos 
de oito anos de estudo também apresentaram mais chance de 
oferecerem alimentos do grupo panificação, doces, amido e 
lácteo. Já as mães que trabalhavam foram apresentaram mais 
chance de oferecerem lácteos, vegetais/frutas, doces e alimen-
tos do grupo amido, evidenciando que as mães com menor 
grau de escolaridade parecem ser menos esclarecidas acerca da 
importância de alimentos como frutas e vegetais. 
Discussão 
As informações coletadas no presente estudo indicam que, 
dentre as crianças menores de dois anos de idade, apenas 
28,7% haviam recebido aleitamento materno exclusivo até os 
seis meses e, dentre as crianças com menos de seis meses no 
momento da pesquisa, apenas 49,6% estavam em aleitamen-
to materno exclusivo. O último inquérito nacional realizado 
em outubro de 1999 nas capitais brasileiras indicou para o 
país uma prevalência de aleitamento materno exclusivo de 
7,7% e, para a região sul, de 10,2%(11). Destaca-se que a re-
gião sul teve a prevalência de aleitamento materno exclusivo 
mais elevada dentre as regiões brasileiras pesquisadas para as 
três faixas de idade(11), sendo maior em Florianópolis 14,9% 
do que em Porto Alegre (6,5%) e Curitiba (8,4%)(11), aos seis 
meses. Apesar disso, os valores ainda não atingem as metas 
propostas pela OMS(3).
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses 
de vida se associa a um menor risco de doença atópica e síndro-
me da morte súbita, além de acelerar o desenvolvimento neuro-
cognitivo e proteger contra doenças crônicas tais como diabetes 
melito tipo 1, obesidade, linfoma e doença de Crohn(12). Após 
os seis meses, indica-se a introdução gradativa de alimentos 
complementares sob a forma de purês de legumes, frutas, 
cereais, verduras e raízes, além dos grupos carnes, gorduras 
e ovos(6), capazes de atender às necessidades nutricionais da 
criança. De acordo com Brunken(13), os alimentos devem ser 
oferecidos inicialmente em consistência pastosa, especialmente 
preparados para a criança, chamados alimentos de transição. 
Indica-se o aumento progressivo de sua consistência até chegar 
aos padrões da alimentação da família, o que deve ocorrer a 
261Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Elizabeth Nappi Corrêa et al
Tabela 2 – Estimativas de Odds Ratio (OR) bruto e ajustado com respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) e valores 
de p para varáveis associadas a consumo de grupos de alimentos por crianças antes de dois anos de idade
Variável
Análise bruta Análise ajustada
OR (IC95%) Valor de p OR (IC95%) Valor de p
Grupo Carnes
Escolaridade materna ≤8 anos 1,43 (0,91-2,25) 0,101 1,44 (0,93-2,22) 0,102
Peso ao nascer <2500g 0,35 (0,10-1,07) 0,053 0,35 (0,12-1,00) 0,005
Grupo Gorduras 
Renda per capita
 <1 salário mínimo 2,21 (1,19-4,09) 0,012 1,87 (0,91-3,87) 0,091
Residentes no domicílio >4 pessoas 1,97 (1,10-3,53) 0,014 1,98 (1,06-3,71) 0,033
Escolaridade materna ≤8 anos 1,70 (0,95-3,05) 0,054 1,09 (0,55-2,17) 0,806
Atividade fora do lar presente 1,46 (0,82-2,60) 0,169 1,58 (0,88-2,85) 0,129
Grupo Doces 
Idade materna ≤19 anos 1,41 (0,82-2,41) 0,183 1,11 (0,62-1,99) 0,737
Renda per capita <1 salário mínimo 2,28 (1,44-3,68) <0,001 1,52 (0,89-2,60) 0,128
Residentes domicílio >4 pessoas 1,64 (1,07-2,51) 0,017 1,37 (0,85-2,22) 0,199
Escolaridade materna ≤8 anos 2,56 (1,68-3,91) <0,001 2,22 (1,33-3,72) 0,002
Estado civil: sem companheiro 1,60 (0,89-2,86) 0,095 1,30 (0,69-2,46) 0,411
Atividade fora do lar presente 1,58 (1,04-2,38) 0,023 1,99 (1,27-3,11) 0,003
Grupo Lácteo
Escolaridade materna ≤8 anos 1,36 (0,93-2,00) 0,097 1,53 (1,04-2,23) 0,029
Atividade fora do lar presente 2,24 (1,54-3,20) <0,001 2,39 (1,66-3,54) <0,001
Grupo Amido 
Escolaridade materna ≤8 anos 1,50 (1,02-2,20) 0,033 1,64 (1,13-2,41) 0,01
Atividade fora do lar presente 1,76 (1,21-2,56) 0,002 1,88 (1,31-2,72) 0,001
Grupo Vegetais/Frutas
Renda per capita <1 salário mínimo 0,77 (0,53-1,14) 0,168 0,89 (0,60-1,32) 0,564
Residentes domicílio >4 pessoas 0,74 (0,50-1,10) 0,119 0,88 (0,58-1,35) 0,566
Peso ao nascer <2500g 0,52 (0,26-1,07) 0,054 0,45 (0,22-0,92) 0,028
Atividade fora do lar presente 2,01 (1,39-2,91) 0,001 1,96 (1,33-2,87) 0,001
Grupo Panificação
Idade materna ≤19 anos 1,69 (0,92-3,07) 0,068 1,36 (0,73-2,52) 0,334
Renda per capita <1 salário mínimo 2,57 (1,52-4,30) <0,001 1,41 (0,75-2,67) 0,289
Residentes domicílio >4 pessoas 1,50 (0,91-2,47) 0,093 1,13 (0,66-1,94) 0,649
Escolaridade materna ≤8 anos 3,16 (1,93-5,19) <0,001 2,59 (1,44-4,66) 0,002
partir dos oito meses de idade. Nesta pesquisa, alimentos como 
leguminosas, arroz, carne, frango e massas foram oferecidos 
antes dos oito meses de idade, evidenciando que algumas 
crianças passaram a consumir a alimentação da família antes 
da idade recomendada.
No estudo multicêntrico da OMS(14), realizado em seis pa-
íses com crianças até dois anos, a idade média de introdução 
da alimentação complementar foi de 5,4 meses. Na presente 
pesquisa, a transição alimentar não ocorreu de maneira ade-
quada, verificando-se elevada frequência de introdução de 
alimentos de forma precoce: 80% das crianças receberam fruta 
e 77,5%, suco natural antes dos seis meses, não estando de 
acordo com as recomendações do Ministério da Saúde(6). Esse 
padrão alimentar inadequado pode gerar consequências para 
262 Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Alimentação complementar e características maternas de crianças menores de dois anos de idade em Florianópolis (SC)
a saúde, como anemia ferropriva, pois a introdução precoce de 
líquidos ou sólidos acaba por diminuir a duração e a frequência 
do aleitamento materno, além de interferir na absorção do 
ferro(3,15). Santos et al(16) observaram, na cidade de Recife, que, 
ao iniciar a transição alimentar, a maioria das mães utiliza o 
suco, o que pode ser um reflexo das orientações anteriores de 
condutas alimentares do Ministério da Saúde(6). 
Muitos estudos no Brasil mostram a introdução precoce de 
alimentos complementares(13,16-18), sendo elevado o número de 
crianças que já consomem uma variedade de alimentos aos seis 
meses, idade em que deveria estar sendo iniciada a alimentação 
complementar. Apenas 20,8% das crianças neste estudo de 
Florianópolis apresentaram um padrão alimentar adequado às 
orientações do Ministério da Saúde(6). Alguns alimentos ofere-
cidos são considerados especialmente alérgenos, como ovos, ole-
oginosas, frutas cítricas, peixe e leite de vaca, sendo este último 
responsável por 20% das alergias alimentares e, por isso, não 
deve ser introduzido antes dos nove ou 12 meses(19,20).
 Brunken et al(13), na cidade de Cuiabá (MT), e Parada et 
al(21), em Botucatu (SP), observaram elevado consumo de 
água e chá, seguido pelo leite de vaca nos menores de quatro 
meses. Oliveira et al(18), na cidade de Salvador,encontraram 
elevada prevalência de desmame precoce, sendo o aleitamento 
materno exclusivo substituído por fórmulas à base de leite 
em pó, espessantes e açúcar. 
A introdução alimentar é influenciada por fatores relacio-
nados ao contexto socioeconômico, cultural e familiar(4). Os 
resultados dessa pesquisa mostraram que as mães que residem 
em domicílios com mais de quatro pessoas, aquelas com 
escolaridade inferior a oito anos de estudo e as que exerciam 
atividade fora do lar apresentam mais chances de oferecer ali-
mentos do grupo gorduras, doces, lácteo, amido, panificação, 
vegetais e frutas, sendo que leite e frutas foram oferecidos 
antes dos seis meses, interrompendo o aleitamento materno 
exclusivo, e os outros alimentos antes dos sete meses. 
A produção das refeições e o cuidado com a saúde da 
criança ainda são uma atribuição feminina, em muitos casos 
passados de geração em geração, entrelaçando a dimensão 
econômica com a afetiva e com a ritual, já que a família é 
responsável pela transmissão da cultura alimentar(22,23). Em 
pesquisas realizadas nas capitais brasileiras e no Distrito 
Federal(11), observou-se que o fato de a mãe não trabalhar fora 
favorecia o aleitamento materno exclusivo. Contrariamente 
a estes achados, Simon(24), em pesquisa realizada na cidade 
de São Paulo, não encontrou associação estatisticamente 
significativa entre o consumo de farináceos (correspondendo 
ao grupo amido neste estudo), o de frutas e verduras (grupo 
vegetais) e o de açúcar (integrante do grupo doces) com as 
condições de trabalho da mãe. 
Comparando o aleitamento materno exclusivo e seus deter-
minantes em três países Latino-Americanos, Pérez-Escamilla 
et al(25) observaram que a interrupção do aleitamento materno 
exclusivo estava associada ao trabalho materno no Brasil. Em 
Honduras e no México, o aleitamento materno exclusivo 
estava associado à pior situação socioeconômica. Mascare-
nhas et al(26) notaram, em Pelotas (RS), um risco maior de 
interrupção do aleitamento materno exclusivo em crianças 
menores de três meses quando a mãe trabalhava fora. Em 
uma pesquisa realizada em nove municípios do estado do 
Rio de Janeiro, Oliveira e Camacho(27) encontraram o dobro 
do risco de interrupção precoce do aleitamento materno 
exclusivo em mães de crianças menores de seis meses que 
trabalham fora de casa. 
Com relação à escolaridade da mãe, Kummer et al(28) rela-
taram que as mulheres com grau de escolaridade mais elevado 
tendem a valorizar mais o aleitamento materno exclusivo. 
Deste modo, ao priorizarem o aleitamento materno exclu-
sivo, a introdução de alimentos complementares seguiria as 
normas preconizadas pela OMS. Este aspecto pode ser ob-
servado no trabalho realizado por Rea et al(29) com mulheres 
trabalhadoras de empresas da Zona Sul de São Paulo, em 
1993 e 1994, no qual as mulheres com maior escolaridade 
apresentaram tendência a amamentarem de forma exclusiva 
três vezes maior do que as com menor escolaridade. Outro 
estudo realizado na cidade de São Paulo apontou que, quanto 
mais elevada a escolaridade materna, mais tardia a introdução 
do açúcar e do achocolatado(24), resultados semelhantes aos 
encontrados neste estudo.
Outro fator que merece destaque está relacionado ao modo 
de seleção e escolha dos alimentos utilizados na alimentação 
nas diversas classes sociais. Tais escolhas são definidas por 
especificidades econômicas, culturais e sociais, incluindo 
razões psicológicas para aceitação e rejeição dos alimentos(23). 
Soares(30), na periferia de Fortaleza (CE), verificou que o custo 
dos alimentos não é o principal determinante das escolhas 
alimentares, mas sim o que as mães acreditam ser melhor 
para seus filhos. Ramos e Stein(23) acrescentam que, na re-
alidade brasileira, existem poucos estudos sobre os fatores 
que interferem no desenvolvimento do comportamento 
alimentar infantil, sendo importante o desenvolvimento de 
novas investigações para conhecer como se dá a formação dos 
hábitos alimentares, bem como de que maneira as influências 
externas, como a mídia e os profissionais da saúde, podem 
interferir positivamente ou não neste processo.
263Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Elizabeth Nappi Corrêa et al
Referências bibliográficas
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Organização 
Panamericana da Saúde. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. 
Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
2. Jones G, Steketee RW, Black RE, Bhutta ZA, Morris SS; Bellagio Child Sur-
vival Study Group. How many child deaths can we prevent this year? Lancet 
2003;362:65-71.
3. Word Health Organization. The optimal duration of exclusive breastfeeding: 
results of a WHO systematic review. Geneva, Switzerland: WHO; 2001. 
4. Ctenas MLB, Vitolo MR. Crescendo com saúde: o guia de crescimento da 
criança. São Paulo: C2 Ed. e Consultoria em Nutrição; 1999.
5. Silva GA. O uso de chupeta contribui para uma maior ocorrência de entero-
parasitose? J Pediatr (Rio J) 1997;73:88-91.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Organização 
Panamericana da Saúde. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. 
Brasília: Ministério da Saúde; 2005.
7. World Health Organization. Complementary feeding of young children in deve-
loping countries: a review of current scientific knowledge. Geneva, Switzerland: 
WHO; 1998. 
8. Monte CM, Giuliani ER. Recommendations for the complementary feeding of 
the breastfed child. J Pediatr (Rio J) 2004;80 (Suppl 5):131-41.
9. PAHO/WHO. Guiding principles for complementary feeding of the breastfed 
child. Geneva, Switzerland: PAHO/WHO; 2003.
10. Hosmer DW, Lemeshow S. Applied logistic regression. New York: John Whitey 
& Sons; 1989.
11. Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa de prevalência do aleitamento materno 
nas capitais e no Distrito Federal. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.
12. Kramer MS, Kakuma R. Optimal duration of exclusive breastfeeding. Cochrane 
Database Syst Rev 2002:CD003517. 
13. Brunken GS, Silva SM, França GV, Escuder MM, Venâncio SI. Risk fac-Risk fac-
tors for early interruption of exclusive breastfeeding and late introduction of 
complementary foods among infants in midwestern Brazil. J Pediatr (Rio J) 
2006;82:445-51.
14. WHO Multicentre Growth Reference Study Group. Complementary feed-
ing in the WHO Multicentre Growth Reference Study. Acta Paediatr Suppl 
2006;450:27-37. 
15. Ashraf RN, Jalil F, Aperia A, Lindblad BS. Additional water is not needed for 
healthy breast-fed babies in a hot climate. Acta Paediatr 1993;82:1007-11.
16. Santos CS, Lima LS, Javorski M. Fatores que interferem na transição alimentar 
de crianças entre cinco e oito meses: investigação em Serviço de Puericultura 
do Recife, Brasil. Rev Bras Saude Matern Infant 2007;7:373-80.
17. Saldiva SR, Escuder MM, Mondini L, Levy RB, Venâncio SI. Feeding habits 
of children aged 6 to 12 months and associated maternal factors. J Pediatr 
(Rio J) 2007;83:53-8.
18. Oliveira LP, Assis AM, Pinheiro SM, Prado MS, Barreto ML. Complementary 
feeding in the first two years of life. Rev Nutr 2005;18:459-69.
19. Gerstein HC. Cow’s Milk exposure and type I diabetes mellitus. A critical 
overview of the clinical literature. Diabetes Care 1994;17:13-9. 
20. Arshad SH. Food allergen avoidance in primary prevention of food allergy. 
Allergy 2001;56:113-6. 
21. Parada CM, Carvalhaes MA, Jamas MT. Complementary feeding prac-
tices to children during their first year of life. Rev Latino-Am Enfermagem 
2007;15:282-9.
22. Rotenberg S, Vargas S. Nutrition habits and healthcare: feeding the children 
and the family Rev Bras Saude Mater Infant 2004;4:85-94. 
23. Ramos M, Stein LM. Development of children’s eating behavior. J Pediatr (Rio 
J) 2000;76:229-37. 
24. Simon VG. Introdução de alimentos complementares em crianças no primeiro 
ano devida nascidas em Hospital Universitário no município de São Paulo 
[tese de mestrado]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2001. 
25. Pérez-Escamilla R, Lutter C, Segall AM, Treviño-Siller S, Sanghvi T. 
Exclusive breast-feeding duration is associated with attitudinal, socioeco-
nomic and biocultural determinants in three Latin American countries. J Nutr 
1995;125:2972-84.
26. Mascarenhas ML, Albernaz EP, Silva MB, Silveira RB. Prevalence of exclusive 
breastfeeding and its determiners in the first 3 months of life in the South of 
Brazil. J Pediatr (Rio J) 2006;82:289-94.
27. Oliveira MI, Camacho LA. Impact of primary health care units’ practice on the 
duration of exclusive breastfeeding. Rev Bras Epidemiol 2002;5:41-51. 
28. Kummer SC, Giugliani ER, Susin LO, Folletto JL, Lermen NR, Wu VY et al. 
Evolution of breastfeeding pattern. Rev Saude Publica 2000;34:143-8.
29. Rea MF, Venâncio SI, Batista LE, Santos RG, Greiner T. Possibilities and 
limitations of breast-feeding among women in formal employment. Rev Saude 
Publica 1997;31:149-56.
30. Soares NT. Prática alimentar de crianças menores de um ano – um subsídio 
para implementação das ações em nutrição e saúde [tese de mestrado]. 
Fortaleza (CE): Universidade Estadual do Ceará; 1997. 
As conclusões deste estudo apontam que a baixa escolaridade 
materna e a atividade fora do lar são fatores associados à intro-
dução precoce de alimentos. Esses resultados podem colaborar 
com a compreensão da relação entre a introdução de alimentos 
complementares e as características maternas, bem como au-
xiliar na elaboração de instrumentos de educação nutricional 
específicos sobre a introdução de alimentos complementares 
direcionados às mães de baixa escolaridade e que exercem alguma 
atividade fora do lar. É necessária a realização de mais estudos 
relacionados à introdução de alimentos complementares, mais 
especificamente direcionados aos fatores que influenciam as 
escolhas alimentares maternas. 
Agradecimentos
Aos alunos dos cursos de graduação em Nutrição, Enfer-
magem e Serviço Social da UFSC, participantes da coleta 
de dados; aos funcionários das Unidades Locais de Saúde da 
cidade de Florianópolis (SC) e às mães das crianças partici-
pantes da pesquisa.
264 Rev Paul Pediatr 2009;27(3):258-64.
Alimentação complementar e características maternas de crianças menores de dois anos de idade em Florianópolis (SC)

Continue navegando