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111 Modelo Keynesiano Simples Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Ciências Econômicas REI 002 – Teoria Macroeconômica I Professor Bruno de Paula Rocha E-mail: brunor@cedeplar.ufmg.br 1 2 Macroeconomia antes de Keynes Algumas conclusões da macroeconomia clássica: 1. Tendência natural ao equilíbrio com pleno emprego de fatores 2. Inexistência de desemprego involuntário e capacidade ociosa (Lei de Say) 3. Poder auto-regulador do mercado: não-intervenção governamental Como compatibilizar essa teoria macroeconômica com os eventos da crise econômica de 1929? 3 Função de produção No curto prazo, o capital e o nível tecnológico estão constantes e a quantidade produzida depende da quantidade de trabalho empregada: Função de produção: Q = f(N) Mantidos os demais fatores constantes, os incrementos na produção causados adições de trabalho serão cada vez menores: produto marginal do trabalho é decrescente Q N 4 Modelo Clássico Determinação da quantidade de trabalho no mercado de trabalho Oferta de trabalho: quanto os trabalhadores estão dispostos a oferecer de trabalho para cada nível de salário Demanda de trabalho: quanto os empresários desejam empregar dadas as suas condições tecnológicas 5 Equilíbrio no mercado de trabalho Com as empresas contratando de acordo com o produto marginal, N* trabalhadores serão contratados com um salário real de (w/p*) Salário Trabalho Demanda = PMgN (w/P)* N* Oferta 6 Produto de equilíbrio Uma vez determinado nível de emprego de equilíbrio no mercado de trabalho, a função de produção aponta o produto de equilíbrio: produto de pleno emprego Q N N* Q* 7 Oferta agregada clássica A curva de oferta agregada clássica é determinada por variáveis reais: um aumento geral de preços, fará com que as firmas busquem mais mão-de-obra, mas isso só elevará o salário nominal. Ao final, o salário real será o mesmo (P e w maiores) e o equilíbrio inicial não será alterado P Q Q* Oferta agregada 8 Oferta e demanda no modelo clássico Mudanças na demanda (política monetária, por exemplo) causam apenas inflação. A demanda não afeta o produto de pleno emprego P Q Q* Oferta agregada Demanda agregada 1 Demanda agregada 2 P1 P2 9 Oferta e demanda no modelo clássico As condições de oferta determinam o nível de produto de equilíbrio A demanda não se constitui uma restrição para a expansão da oferta: Lei de Say P Q Q* Oferta agregada 2 Demanda agregada P1 Oferta agregada 1 Q** P1 10 Macroeconomia antes de Keynes Algumas conclusões da macroeconomia clássica: 1. Tendência natural ao equilíbrio com pleno emprego de fatores 2. Inexistência de desemprego involuntário e capacidade ociosa (Lei de Say) 3. Poder auto-regulador do mercado: não-intervenção governamental Como compatibilizar essa teoria macroeconômica com os eventos da crise econômica de 1929? 11 John Maynard Keynes (1883-1946) Principais obras: The economic consequences of the peace (1919) A tract on monetary reform (1923) The end of laissez-faire (1926) A treatise on money (1936) The general theory of employment, interest and money (1936) Referência: Hunt, capítulo 15 12 Principais contribuições de Keynes Algumas das novidades introduzidas por Keynes incluem: 1. Ênfase nos fenômenos macroeconômicos 2. Importância da demanda na determinação do equilíbrio 3. Instabilidade da economia 4. Inflexibilidade de preços 5. Políticas monetárias e fiscais ativas 13 Macroeconomia Keynesiana A Teoria Geral propõe uma teoria para a determinação do emprego Produto e emprego são determinados pelo chamado Princípio da Demanda Efetiva O princípio da demanda efetiva baseia-se em um modelo sobre o comportamento das empresas 14 Princípio da demanda efetiva Hipóteses importantes: 1. As empresas irão produzir qualquer quantidade de produto que elas acreditem maximizar os seus lucros, dadas as estimativas de demanda e custos de produção 2. Em uma economia capitalista,a escolha do que e quanto produzir e quanto cobrar deve ser feita com base em estimativas de custos de produção e demanda 15 Princípio da demanda efetiva Duas funções do nível do emprego são importantes para enunciar o Princípio: 1. Curva de oferta: volume de receita com a produção associada ao nível de emprego que dariam às empresas o incentivo a empurrar o nível de produto e emprego até aquele nível Níveis de custos com o trabalho associados a cada nível de emprego 2. Demanda esperada: volume de renda estimada pelas empresas a partir do emprego de N unidades de trabalho Demanda esperada para diferentes níveis de emprego nas empresas 16 Princípio da demanda efetiva Ponto de demanda efetiva Ne PxQ N De(N) Z(N) E 17 Princípio da demanda efetiva A interseção entre estas curvas é chamado de ponto de demanda efetiva Não há nenhuma garantia de que o nível de emprego seja o de pleno emprego Ou seja, pode haver equilíbrio com desemprego involuntário por uma questão de escassez de demanda Existe um limite para o crescimento lucrativo da produção A partir de certo nível, não é mais vantajoso para a empresa aumentar o volume produzido, o que é contraditório ao proposto pela Lei de Say 18 Modelo Keynesiano Simples Neste curso, vamos enfatizar a formulação de Hicks-Hansen para o modelo Keynesiano (IS-LM) Hipótese fundamental: preços rígidos Modelo de curto prazo com existência de capacidade ociosa. Quando a demanda aumenta, a oferta pode se elevar sem pressões de custo, ou seja, mantendo os preços fixos Demanda agregada é que vai determinar o equilíbrio macroeconômico Referência: Blanchard, capítulo 3 19 Modelo Keynesiano Simples Demanda agregada é que vai determinar o equilíbrio macroeconômico (caso Keynesiano extremo) Oferta agregada Demanda agregada P QQ* P* 20 Modelo Keynesiano Simples Demanda agregada DA = C + G + I + X - M Componentes da demanda agregada 1. C: Consumo (formulação keynesiana) 2. G: Gastos do governo (exógenos) 3. I: Investimento (função da renda e juros) 4. X-M: Export. líquidas (saldo comercial) 21 Consumo Função de consumo Keynesiana: principal determinante do consumo é a renda disponível, ou seja, a renda acrescida das transferências e descontada dos impostos governamentais: Yd = Y - T C = C(Yd), tal que CYd>0 T são os impostos líquidos das transferências (simplesmente impostos) 22 Consumo C = c0 + c1Yd c0: consumo autônomo ou a parcela mínima do consumo que o agente consome para a sua subsistência, independente da renda c1: propensão marginal a consumir é a fração da renda que o agente consume, c1є [0,1] Parte do ganho do renda é poupada Juros não alteram o consumo 23 Consumo Postulados Keynesianos: 1. Propensão marginal a consumir entre 0 e 1 2. Propensão média a consumir decrescente na renda 3. Renda disponível é o principal determinante Críticas: 1. Evidência de que a propensão média a consumir seja constante no longo prazo (Kuznets) 2. Escolha intertemporal: juros e renda futura afetam as decisões presentes de consumo (Fisher) Alternativas: Renda Permanente (Friedman) e Ciclo de Vida (Modigliani) 24 Consumo e renda permanente Referência: Milton Friedman. “A theory of consumption function”. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1957. Princípio: o consumo não depende da renda corrente, mas da renda permanente y = yp + yt y: renda observada yp: renda permanente (fluxo médio de renda) Yt: renda transitória (desvioaleatório) C = C(yp) C = αyp 25 Consumo e renda permanente Implicações: 1. Comportamento suavizador do consumo 2. Somente mudanças em yp mudam o consumo. Alterações em yt viram poupança 3. Propensão média a consumir: PMeC = C/y = α(yp/y) No longo prazo, yp se aproxima de y. Logo, a PMeC é mais ou menos constante 26 Consumo e ciclo de vida Referência: Franco Modigliani. “Life, cycle, individual thrift and the wealth of nations”. American Economic Review. 76, 1986. pp. 297-313. Princípio: o consumo depende tanto da riqueza quanto do fluxo esperado de renda O comportamento previsível da renda faz com que as pessoas usem a poupança para nivelar o consumo 27 Consumo e ciclo de vida Consumo Renda Riqueza Poupança Despoupança Início Aposentadoria Morte Tempo $ 28 Consumo e ciclo de vida Suponha: T anos de vida R anos para se aposentar y é o salário até se aposentar w é a riqueza inicial C = (w+Ry)/T C = (1/T)w + (1/T)R.y 29 Consumo e renda permanente Implicações: 1. Comportamento suavizador do consumo 2. Jovens poupam e velhos despoupam (é o que permite suavizar consumo) 3. Propensão média a consumir: PMeC = C/y = (1/T)(w/y) + (1/T)R No longo prazo, w varia proporcionalmente a y. Logo, a PMeC é mais ou menos constante 30 Investimento Geralmente, o investimento é modelado como função da renda e dos juros No modelo Keynesiano Simples, vamos assumir que o investimento dependa apenas dos juros: I = I(i) = I0 – d1i Juros baixos reduzem o custo de oportunidade, o que viabiliza investimentos menos atrativos Taxa de juros é exógena: não vamos analisar como os juros são determinados 31 Gastos do governo No modelo Keynesiano simples o governo arrecada impostos (T) e compra bens e serviços (G) Tanto gastos quanto impostos serão considerados exógenos: T = T0 G = G0 32 Saldo comercial Normalmente, o saldo comercial é modelado como função da renda mundial, renda nacional e da taxa de câmbio No modelo Keynesiano Simples, vamos assumir que saldo comercial seja exógeno: X-M = NX0 33 Determinação do produto de equilíbrio Y = DA DA = C + I + G + X – M Y = c0 + c1Yd + I0 – d1i + G0 +NX0 34 Determinação do produto de equilíbrio Em equilíbrio: Y = DA Y = c0 + c1Yd + I0 – d1i + G0 +NX0 Y = c0 + c1(Y-T0) + I0 – d1i + G0 +NX0 Y – c1Y = c0 – c1T0 + I0 – d1i + G0 +NX0 0010010 1 NXGidITcc c1 1Y 35 Determinação do produto de equilíbrio Em equilíbrio: m = 1/1-c1 é o multiplicador Keynesiano O multiplicador mostra os efeitos secundários no produto de uma variação autônoma da demanda Efeito “bola de neve”: devido à dependência do consumo à renda disponível e desta em relação ao consumo 0010010 1 NXGidITcc c1 1Y 36 Determinação do produto de equilíbrio Interpretação para o multiplicador Keynesiano: 1. Um aumento na demanda leva a um aumento na produção 2. Mas produção é igual à renda e a demanda é função da renda 3. Assim, a demanda se eleva adicionalmente 4. Com mais demanda, a produção se eleva novamente 5. E assim por diante… 6. Até quando? 37 Determinação do produto de equilíbrio Interpretação para o multiplicador Keynesiano: 1. Imagine um aumento inicial de R$ 1 bi na demanda 2. A produção (renda) responde e se eleva em: R$ 1 bi 3. A demanda (consumo) se eleva adicionalmente em: R$ 1 bi x c1 4. A produção (renda) responde e se eleva em: R$ 1 bi x c1 5. A demanda (consumo) se eleva um pouco mais: (R$ 1 bi x c1) x c1 6. E assim por diante… 7. Efeito total sobre o produto de equilíbrio: R$ 1 bi + (R$ 1 bi x c1) + (R$ 1 bi x c1) x c1 + (R$ 1 bi x c1) x c1 x c1 +… R$ 1 bi + R$ 1 bi x c1 + R$ 1 bi x c12 + R$ 1 bi x c13 +… R$ 1 bi x (1 + c1 + c12 + c13 +…) 38 Determinação do produto de equilíbrio Interpretação para o multiplicador Keynesiano: 7. Efeito total sobre o produto de equilíbrio: R$ 1 bi + (R$ 1 bi x c1) + (R$ 1 bi x c1) x c1 + (R$ 1 bi x c1) x c1 x c1 +… R$ 1 bi + R$ 1 bi x c1 + R$ 1 bi x c12 + R$ 1 bi x c13 +… R$ 1 bi x (1 + c1 + c12 + c13 +…) Mas (1 + c1 + c12 + c13 +…) é uma PG com solução estável (0<c1<1): (1 + c1 + c12 + c13 +…) = 1/(1-c1) que é o multiplicador Keynesiano Ou seja, o efeito total sobre o produto de equilíbrio será: R$ 1 bi x 1/1-c1 39 Representação gráfica do equilíbrio Condição de equilíbrio: mostra os pontos possíveis em que a economia está em equilíbrio ou seja com Y = DA Em um diagrama com Y nas ordenadas e DA nas abcissas, esses pontos podem ser representados por uma reta de 45o Demanda agregada: curva de demanda agregada como função da renda DA = C + I + G + NX0 DA = c0 + c1Yd + I0 – d1i + G0 + NX0 DA = [c0 + c1Y – c1T + I0 – d1i + G0 + NX0] DA = [c0 – c1T + I0 – d1i + G0 + NX0] + c1Y 40 Representação gráfica do equilíbrio OA DA 45o Y* }NXGidITc{cYcDA 00100101 Excesso de ofertaExcesso de demanda Intercepto: c0–c1T+I0–d1i+G0+NX0 41 Política econômica no modelo Keynesiano O produto de equilíbrio reflete as opções de política à disposição do governo: Y = 1/(1-c1) x [c0 – c1T + I0 – d1i + G0 + NX0 Exemplos de políticas que o governo pode usar para afetar a demanda e o equilíbrio macroeconômico Política fiscal: – c1T e G0 Política monetária: – d1i Política cambial: NX0 Os efeitos destes gastos autônomos são amplificados pelo multiplicador 42 Política econômica no modelo Keynesiano OA DA 45o DA1 Y**Y* Y = m x DA = m x R$ 1 bi DA = R$ 1 bi DA2 Se c1 = 0,6, m = 1/1-c1 = 2,5 e efeito final será de R$ 2,5 bi 43 Poupança, investimento e equilíbrio O equilíbrio macroeconômico pode ser escrito em termos de poupança e investimento Poupança privada: recursos que estão disponíveis após a decisão de consumo S = Yd – C = Y – T – C Poupança pública: impostos menos gastos (incluindo investimentos do governo) Ssp = T - G Equivale à noção de superávit primário Vamos assumir que a economia seja fechada: NX0 = 0 44 Poupança, investimento e equilíbrio Poupança privada: S = Yd – C = Y – T – C Poupança pública: Ssp = T – G Em equilíbrio: Y = DA Y = C + I + G Mas Y = T + C + S T + C + S = C + I + G I = S + (T – G) I = S + Ssp Em equilíbrio: investimento é igual a poupança total (privada mais pública. Isto é S = I ou Y = DA 45 Poupança, investimento e equilíbrio Um pouco mais de álgebra no equilíbrio… Poupança privada: S = Y – T – C S = Y – T – c0 – c1(Y – T) S = – c0 +(1– c1)(Y – T) Onde (1-c1) é a propensão a poupar Em equilíbrio: I = S + (T – G) = – c0 +(1– c1)(Y – T) + (T – G) Resolvendo para Y e substituindo I = I0 – d1i: 010010 1 GidITcc c1 1Y 46 Paradoxo da poupança Reduções em C0 elevam a poupança? 1. Poupança privada: S = – c0 +(1– c1)(Y – T) 2. Produto de equilíbrio: Y = 1/(1-c1) x [c0 – c1T + I0 – d1i + G0] No final, qual efeito sobressai sobre a poupança: menor consumo ou menor renda? O efeito é incerto. Se I = I0, a poupança não muda! Em equilíbrio: I = S + (T – G) 47 Equilíbrio e orçamento equilibrado Produto de equilíbrio: Y = 1/(1-c1) x [c0 – c1T + I0 – d1i + G0] Qual será o efeito de uma política fiscal que mantenha o orçamento equilibrado? Ou seja, uma política fiscal: ΔY = 1/(1-c1) x [ -c1ΔT + ΔG0] Onde ΔG0 = ΔT = k ΔY = 1/(1-c1) x [ -c1k + k] = 1/(1-c1) x k x (1-c1) ΔY = k Isto é, uma política fiscal de orçamento equilibrado terá uma multiplicador igual a 1 48 Determinação do produto de equilíbrio Governo deve atuar ativamente para determinar o equilíbrio macroeconômico? Alguns pontos relevantes: Execução da política fiscal não é simples (burocracia, etc.) Expectativas podem ser relevantes Inflação? Dívida pública Investimento e consumo privado podem “reagir” (taxas de juros) 49 Exercício Considere a seguinte estrutura econômica: Consumo: C = 100 + 0,8Yd; Investimento: I = 50 – 100i; Gastos do governo: G = 90; Impostos: T = 50; Saldo comercial: X = 70 e M = 60; Taxa de juros: i = 10%. Calcule o produto de equilíbrio. Qual será o efeito sobre produto de equilíbrio, caso o governo aumente em 10 unidades os seus gastos? Qual será o efeito sobre produto de equilíbrio, caso a taxa de juros caia para 5%
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