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O impacto de atividades de lazer no desenvolvimento cognitivo de idosos

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38
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
O impacto de atividades de lazer
no desenvolvimento cognitivo de
idosos
Leisure activities impact on elder´s cognitive development
Irani I. de Lima Argimon*
Lilian Milnitsky Stein**
Flávio Merino de Freitas Xavier***
Clarissa Marceli Trentini****
Resumo
Investiga-se se a diversidade de ati-
vidades de lazer desenvolvidas por
idosos contribui para explicar diferen-
ças em suas habilidades cognitivas ao
longo do seu desenvolvimento. A amos-
tra constituiu-se de 121 idosos de 60 a
95 anos, de ambos os sexos, residentes
na comunidade de Veranópolis. A pes-
quisa é do tipo quantitativo, com deli-
neamento transversal; como instrumen-
tos utilizaram-se Escala de Depressão
Geriátrica, PSQM; MEEM, Span de
Números, Teste de Evocação Seletiva
Livre e com Pistas de Buschke, Fluên-
cia Verbal. Os modelos de regressão
apontam a contribuição independente
das atividades de lazer na predição do
desempenho cognitivo dos idosos.
Palavras-chave: idosos, lazer, desenvol-
vimento cognitivo.
Introdução
Nas últimas décadas, a atenção mun-
dial tem se dirigido aos problemas sociais,
econômicos e científicos derivados da
evolução demográfica e que têm como
resultado o envelhecimento da popula-
ção. A faixa de idade da população que
vem tendo o maior aumento proporcio-
nal é a de pessoas com mais de sessenta
* Psicóloga, doutora em Psicologia pela PUCRS, Professora
Adjunta da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universi-
dade Católica do Rio Grande do Sul, participante do Gru-
po de Pesquisa em Processos Cognitivos da Pós-Graduação
em Psicologia, PUCRS, coordenadora do Projeto Desenvol-
vimento Cognitivo em Idosos junto ao Instituto de Geriatria
do Hospital São Lucas – PUCRS, psicóloga da Unidade de
Dependência Química Hospital Mãe de Deus.
** PhD em Psicologia Cognitiva pela Universidade do Ari-
zona, Professora Adjunta da Faculdade de Psicologia,
Programa de Pós-Graduação, coordenadora do Grupo
de Pesquisa em Processos Cognitivos da Pós-Graduação
da Faculdade de Psicologia – PUCRS.
*** Coordenador do Ambulatório de Neuropsiquiatria Ge-
riátrica do Instituto de Geriatria e Gerontologia da
PUCRS e professor da UPF.
**** Psicóloga, doutoranda em Ciências Médicas: Psiquia-
tria, Professora Auxiliar em Psicologia – Ufrgs.
39
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
O impacto de atividades de lazer...
anos. Com isso, tem crescido a preocupa-
ção com a qualidade de vida dos idosos.
Entende-se que envelhecimento é
um processo que envolve multidimen-
sões que se inter-relacionam. Entre as
mais importantes estão os aspectos bio-
lógicos, psicológicos, sociais e de ajusta-
mento a novas situações de vida
(STEGLICH, 1992).
Passeando pela história, observa-se
que lentamente está sendo abandonada
a conotação negativa do conceito de ve-
lhice em si mesmo e passa-se a conce-
ber essa fase da vida como possibilida-
de de realização pessoal, maturidade e
sabedoria. A compreensão do envelhe-
cimento é reconstruída numa cultura e
época determinada, permitindo a análi-
se da problemática do envelhecimento
de forma contextualizada.
A crença de que idosos não são capa-
zes de coordenar suas vidas, de terem ob-
jetivos de vida, capacidade para aprender
e para mudar, contribui para que se desen-
volvam sentimentos de impotência nos
idosos, levando a que em muitos momen-
tos eles ajam como se realmente não tives-
sem essas possibilidades. Isso é o que pa-
rece a sociedade esperar deles. O acesso a
serviços de apoio ao idoso, transporte, gru-
pos de convivência, grupos de orientação
aos cuidadores, grupos de ajuda aos fami-
liares são algumas alternativas para
minimizar as dificuldades, podendo se
constituir em estratégias de mudança em
relação às crenças existentes.
Na velhice, à medida que os anos vão
passando, vai mudando a forma de ver
o mundo; valores vão se transformando,
perdendo componentes materialistas e
ganhando espiritualidade, muitas vezes
justificada pela reflexão maior sobre o
envelhecimento e o sentido da vida. A
espiritualidade é uma clara evidência de
um potencial interno que a maturidade
faz desabrochar. As habilidades neces-
sárias para cuidar de si mesmo represen-
tam um fator crítico para a saúde e para
o bem-estar dos idosos.
Fatores como a continuidade de cui-
dados que se devem dispensar aos diferen-
tes problemas (saúde física, problemas de
memória, desorientação) presentes em
idosos, assim como a progressiva deterio-
ração da autonomia pessoal, especialmen-
te naqueles com doença de Alzheimer,
sugerem que os cuidadores devam “supor-
tar” um elevado grau de estresse que pode
ter conseqüências não só para a atenção
ao seu familiar, mas também para a sua
própria saúde. Para minimizar essas situa-
ções, é importante o desenvolvimento de
programas dirigidos à orientação e treina-
mento de familiares, grupo de auto-ajuda
de cuidadores, acesso a serviços institucio-
nais.
Uma das ênfases sugeridas aos fami-
liares diz respeito à criação de redes so-
ciais provedoras de apoio, com o objeti-
vo de favorecer as relações sociais dos
idosos. Os programas nos quais os ido-
sos satisfazem necessidades de outros,
além de proporcionar serviços à comu-
nidade, oferecem-lhes a oportunidade
de permanecerem ativos e de estabele-
cerem novos contatos sociais.
40
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
Outro aspecto que tem sido evidenci-
ado em pesquisas (ARGIMON, 2002) e
que a prática clínica tem corroborado é
a importância do exercício físico para a
melhora da saúde em geral, inclusive
para o desempenho cognitivo dos idosos.
Embora os idosos possam ser mais len-
tos e menos precisos em algumas habili-
dades, sua experiência de vida pode com-
pensar outras habilidades. Stuart-Hamil-
ton (2002) salienta a relevância da práti-
ca de exercitar habilidades tanto físicas
como mentais como uma forma de pre-
servação dessas habilidades, como tam-
bém de renovação de habilidades supos-
tamente perdidas ou em declínio.
No último período do ciclo vital, exis-
te uma plasticidade ao envelhecer, deri-
vada dos processos sociais que interatuam
com os processos biológicos e psicológi-
cos. O presente estudo foi delineado com
o objetivo de investigar se a diversidade
de opções de atividades de lazer contri-
bui para explicar diferenças nas habili-
dades cognitivas de idosos ao longo do
desenvolvimento na terceira idade.
Considerando-se o objetivo proposto,
definiu-se também o enfoque metodo-
lógico utilizado, que, nesse caso, foi de
uma pesquisa do tipo quantitativo, com
delineamento transversal.
Amostra
Foi selecionada uma amostra aleató-
ria constituída por 121 idosos, de ambos
os sexos, na faixa etária compreendida
entre 60 e 95 anos, nível socioeconômi-
co médio, escolaridade variada, residen-
tes na comunidade de Veranópolis (RS).
A amostra foi escolhida de forma alea-
tória a partir de um registro da prefei-
tura de Veranópolis com a nominata de
todas as pessoas acima de sessenta anos,
perfazendo um total de 2 200 pessoas.
Dessas, 660 tinham idade entre 60 e 64
anos e 1 540, 65 anos ou mais.
A história de Veranópolis está vin-
culada, predominantemente, aos imi-
grantes italianos. Situado na Encosta
Superior do Nordeste do estado do Rio
Grande do Sul, na serra do rio das Antas,
é um município semi-rural, contando
com 19 412 habitantes. A maioria da
população é descendente de italianos,trabalhadores rurais (dados do censo
demográfico do IBGE, 2002). Segundo
informações dos dirigentes do municí-
pio, Veranópolis tem o maior índice de
longevidade do Brasil, o segundo da
América Latina e o quarto do mundo.
Técnicos da Organização Mundial da
Saúde (1981) denominaram Veranópolis
de “Cidade da Longevidade”.
Assim, a amostra foi constituída por
121 idosos residentes na comunidade de
Veranópolis (RS), dos quais 83 (68,6%)
eram do sexo feminino e 38 (31,4%), do
sexo masculino. A idade média dos ido-
sos foi de 79 anos (DP = 9,07). A idade
dos idosos do sexo masculino variou de
60 a 94 anos, com uma idade média de
78,08 anos (DP = 9,14); já idade dos
idosos do sexo feminino variou de 61 a
95 anos, com uma idade média de 78,36
anos (DP = 9,10). A Tabela 1 mostra a
41
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
O impacto de atividades de lazer...
distribuição dos idosos quanto à faixa
etária e ao sexo.
Tabela 1 - Distribuição dos(as) idosos(as) por sexo e
faixa etária
 Faixa etária
Sexo
 Fem in ino Mascu lino
N % N %
60-69 anos 21 25,3 9 23,7
70-79 anos 21 25,3 10 26,3
80-89 anos 34 41,0 14 36,8
90-95 anos 7 8,4 5 13,2
Total 83 100 38 38,0
Em relação ao estado civil, 64 (52,9%)
dos idosos eram viúvos; 50 (41,3%), ca-
sados; 5 (4,1%), solteiros; 1 (0,8%), sepa-
rado e 1 (0,8%), em outra situação. Quan-
to à distribuição dos participantes em
função da escolaridade, 61 (50,4%) dos
idosos haviam cursado até três anos de
escolaridade; 49 (40,5%), de quatro até
seis anos e 11 (9,1%), de sete a dezesseis
anos de escolaridade. A média de anos de
escolaridade foi de 3 (DP = 2,73).
Instrumentos
Com base na literatura na área, foi se-
lecionado um conjunto de instrumen-
tos para a avaliação cognitiva dos idosos
que têm sido referência em diversos es-
tudos atuais (ARGIMON e CAMARGO,
2000; FORLENZA e CARAMELLI,
2001; MACIEL, 2002). Em um segun-
do momento, essa seleção foi submeti-
da ao julgamento de três juízes, especia-
listas em psicodiagnóstico, para que pu-
dessem opinar sobre qual seria a melhor
seqüência dos instrumentos, respeitan-
do as características de cada um.
Foram utilizados os seguintes instru-
mentos:
a) Ficha de dados sociodemográficos.
b) Escala de Depressão Geriátrica
(GDS): desenvolvida por Yesavage, Brink
e Rose (1983), cujo objetivo é identificar
e quantificar sintomas depressivos na
população idosa. Esta escala consiste
num questionário de trinta questões,
com duas opções de respostas: “sim” e
“não”. Os itens dessa escala estão relacio-
nados com ausência de satisfação com a
vida, abandono de atividades e interesses,
sentimento de vazio, aborrecimentos,
sentimentos de desamparo, problemas de
memória, pouca esperança e energia.
c) Percepção Subjetiva de Queixas da
Memória (CROOK, FEHER e
LARRABEE, 1992): tem como objetivo
investigar como o sujeito percebe a sua
memória no momento presente e
compará-la com a que tinha aos quarenta
anos. As questões solicitam que o sujeito
descreva sua capacidade para lembrar no-
mes, números de telefone, notícias, luga-
res onde guarda objetos, comparando-a
com a que tinha aos quarenta anos de ida-
de. As respostas são pontuadas em uma
escala tipo Likert de 5 pontos, variando de
“muito melhor agora” até “muito pior
agora”. A pontuação no teste pode variar
de 7 até 35 pontos, sendo a pontuação
máxima relacionada com percepção sub-
jetiva maior de disfunção na memória.
d) Mini-Exame do Estado Mental
(MEEM) (Folstein, Folstein e McHugh,
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RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
1975): é composto por um conjunto de ques-
tões que avaliam a orientação para o tempo
e o lugar; a memória imediata e de evoca-
ção; a atenção e concentração; a linguagem,
nomeação e compreensão e a habilidade
construcional. O resultado máximo total é
de 30 pontos e são necessários de 5 a 15
minutos para a sua aplicação.
e) Span de Números (Wechsler, 1981):
utilizado para medir a atenção, que compre-
ende duas tarefas diferentes de dígitos, na
ordem direta e na ordem indireta. Este
subteste tem sido utilizado largamente para
medir memória de trabalho, sendo o escore
total o somatório dos acertos na forma dire-
ta mais os acertos da forma inversa. O esco-
re esperado para dígitos é de 6 (DP = 1) para
a ordem direta e de 5 (DP = 1) para a indi-
reta. Um escore de 5 pode ser de marginal
para o normal; o de 4 é, definitivamente,
boderline e 3 é, efetivamente, comprometido.
f) Teste de Evocação Seletiva Livre e com
Pistas de Buschke I e Buschke II (Buschke e
Fuld, 1974): composto por dezesseis figuras,
visa examinar a memória no armazenamen-
to, retenção e recuperação.
g) Fluência Verbal-Categoria Animal
(Spreen e Benton, 1977): é avaliada pela
tabulação do número de palavras que o su-
jeito produz dentro de uma categoria restri-
ta, semântica ou fonológica, em um tempo
definido.
Procedimentos
Após o sorteio dos componentes da
amostra, foi feito contato com os idosos
através de correspondência escrita e
endereçada para suas residências e houve
a divulgação do objetivo da pesquisa pela
rádio local. Essa é uma prática bastante uti-
lizada nessa comunidade, em virtude de
um projeto maior de qualidade de vida, co-
ordenado pelo Instituto de Geriatria e Ge-
rontologia da Pontifícia Universidade Ca-
tólica do Rio Grande do Sul em Veranópolis.
Na correspondência constaram o dia e o
local da entrevista, tendo a pesquisadora se
colocado à disposição para ir até a residên-
cia do idoso que assim o desejasse, por co-
modismo ou por dificuldade de locomoção.
O tempo de execução da entrevista foi em
torno de uma hora e meia. Cinco alunos da
graduação da Psicologia e uma mestranda
do pós-graduação em Psicologia participa-
ram da coleta de dados.
O presente projeto contou com o apoio
da Prefeitura Municipal de Veranópolis
para a logística de deslocamento entre as
residências dos idosos, tanto na zona ur-
bana quanto na zona rural, disponibili-
zando veículo, motorista e uma assisten-
te social para acompanhar a pesquisado-
ra durante o trabalho. Também o aloja-
mento na cidade de Veranópolis foi assu-
mido pela prefeitura.
Resultados
Características sociodemográficas
Nas características sociodemográficas
foram analisadas as distribuições dos ido-
sos levando em consideração sexo, idade e
escolaridade. Considerando os anos de es-
colaridade, observou-se que tanto os ido-
43
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
O impacto de atividades de lazer...
sos do sexo feminino quanto os do sexo
masculino situaram-se em torno de 50%
até três anos de escolaridade e em torno de
50% dos quatro anos em diante (Tabela 2).
Tabela 2 - Distribuição dos(as) idosos(as) por sexo e
escolaridade
Escolaridade
Sexo
Feminino Masculino
N % N %
0-3 anos 43 51,6 18 47,4
4-6 anos 33 39,8 16 42,1
7anos ou + 7 8,4 4 10,5
Total 83 100 38 100
Quanto à capacidade de leitura e es-
crita, verificou-se que 98 (81%) dos ido-
sos sabiam ler e 95 (78,5%) sabiam es-
crever independentemente de escolari-
dade formal. Dos 121 idosos pesquisa-
dos, 75 (62%) residiam na zona urbana
e 46 (38%), na zona rural.
Na distribuição relacionada ao fator fa-
miliar de quais pessoas moravam com o ido-
so, observou-se que 15 (12%) deles residiam
com o cônjuge; 93 (76,9%) com os filhos; 7
(5,8%), com outros parentes e 6 (5%), sozi-
nhos.
 No aspecto da atividade profissionalsomente 11 (9,1%) dos idosos ainda esta-
vam trabalhando; 92 (76%) eram aposen-
tados e se dedicavam às atividades domés-
ticas, por exemplo, fazendo canteiros,
plantando verduras, roçando as terras pró-
ximas a sua casa, cuidando dos parreirais;
um (8%) encontrava-se em benefício por
motivos de saúde; 15 (12,4%) nunca tra-
balharam formalmente e dedicavam-se às
atividades domésticas já citadas e 2 (1,7%)
mencionaram outras atividades.
Quanto a hábitos relacionados à saú-
de, foi observado que 100 (82,6%) dos
idosos nunca fumaram; 9 (7,4%) eram
fumantes em abstinência há mais de um
ano e 11 (9,1%) continuavam fumando.
Em relação à bebida alcoólica, o vinho
foi eleito pelos idosos como sendo a
bebida de sua preferência e 63 (52,1%)
deles referiram beber, pelo menos, um
cálice de vinho durante as refeições.
Quando examinadas as principais
preocupações dos idosos, a mais eviden-
ciada foi em relação à própria saúde, com
41 (33,9%) deles referindo essa preocupa-
ção. Quando solicitados a definir como
estava sua saúde, 11 (9,1%) responderam
“ruim”; 67 (55,4%), “regular” e 42
(34,7%) qualificarem-na como boa. Ou-
tros tipos de preocupação foram relacio-
nados a questões financeiras, com 17
(14%) dos idosos respondendo que essa é
uma de suas principais preocupações.
Quanto ao tipo de atividades de pre-
ferência dos idosos em seus momentos
de lazer (Tabela 3), conceituadas como
“atividades de entretenimento”, tempo
de que podiam dispor livremente, obser-
vou-se que as de maior preferência, tan-
to pelo sexo feminino como pelo sexo
masculino, foram as relacionadas à Igre-
ja, seguidas pela opção de lazer, relacio-
nada com “assistir televisão” (novelas,
missa, noticiário, futebol) e “ouvir rá-
dio” (música, notícias, futebol).
44
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
Em algumas opções de lazer, os interes-
ses mostraram-se diferentes para idosos do
sexo feminino e idosos do sexo masculino.
Na atividade mental (leitura, palavras cru-
zadas, jogos de cartas, dama e bingo), ob-
servou-se uma diferença significativa (C²
= 5,915, p < 0,05) se comparada a opção
por sexo, visto que são atividades mais
escolhidas por idosos do sexo masculino.
Na atividade manual (crochê, bordado, tri-
cô, artesanato), por sua vez, foi manifesta-
da preferência pelo sexo feminino.
Na atividade física, em que foram con-
siderados pescaria, caminhada, sinuca, re-
laxamento, bocha, mexer na horta, obser-
vou-se que idosos do sexo feminino obti-
veram um percentual significativamente
menor (C² = 10,864, p < 0,005) que os do
sexo masculino (N = 30, 78,9%). É impor-
tante assinalar que muitos não indicaram
a caminhada como lazer por fazer parte de
sua rotina do dia-a-dia.
Quanto a atividades sociais, que in-
cluíam visitas a doentes, baile, grupo de
terceira idade, foi uma opção mais dos
idosos do sexo feminino. Por se tratar de
uma cultura italiana em um município
semi-rural, é comum o idoso usar esca-
das, deslocar-se a pé para fazer suas com-
pras, visitar amigos, cuidar dos netos,
executar tarefas domésticas, como tam-
bém levar seus cachorros para caminhar.
A atividade física exercida ao longo da
vida pode ser um dos fatores a promo-
ver um aumento na expectativa de vida,
de forma independente e produtiva.
No momento atual, no qual as facilida-
des tecnológicas tendem a facilitar a vida do
Nota: As categorias não são excludentes; portanto, um parti-
cipante pode estar computado em mais de uma categoria.
ser humano, também ocorre uma facilita-
ção ao sedentarismo. Contudo, percebe-se
ainda como uma vantagem esses idosos re-
sistirem a tantas “facilidades” e, com isso,
preservarem uma vida mais ativa. Confor-
me sugestão de Cruz, Mello e Flores (2002),
“mova-se mais e sente-se menos” pode ser
uma forma de manter a capacidade funcio-
nal do idoso, a qual constitui o determinante
primário das necessidades diárias do idoso.
Tabela 3 - Distribuição percentual de opções de lazer
por sexo
Lazer
Sexo
Total
Feminino Masculino
N % N % N %
Ativ. mentais
(leitura, bingo,
cartas, dama,
palavras
cruzadas)
 44 53,0 29 76,3 73 60,3
Ativ. TV e rádio
(novela, notícias,
futebol)
 57 68,7 28 73,7 85 70,2
Ativ. manuais
(crochê, tricô,
artesanato,
bordado)
 43 51,8 8 21,1 51 42,1
Ativ. física
(caminhada,
pescaria, sinuca,
relaxamento,
bocha, horta)
 39 47,0 30 78,9 69 57,0
Ativ. sociais
(baile, grupo 3ª
idade, receber
amigos, visitar
doentes)
 9 10,8 2 5,3 11 9,1
Ativ. religiosas
(assistir a missa,
ativ. relacionadas
à igreja)
 52 62,7 25 65,8 77 63,6
Outras 19 22,9 11 28,9 30 24,8
45
RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
O impacto de atividades de lazer...
Para buscar responder à relação da
diversidade de atividades de lazer e re-
sultado nos escores de testes cognitivos,
geraram-se modelos preditivos do de-
sempenho cognitivo em idosos, apresen-
tados na Tabela 4.
de vida, as relações sociais, as atividades
físicas, as opções de lazer e, provavelmen-
te, muitas outras não avaliadas no presente
estudo podem contribuir para que o ido-
so possa ter um avanço da idade com uma
boa preservação de suas habilidades cog-
nitivas. O lazer e a manutenção da capa-
cidade de realizar atividades de aptidão
física e mental certamente favorecerão
uma melhor qualidade de vida.
Os aspectos sociodemográficos e as
condições cognitivas apresentadas nes-
te trabalho permitem que sejam realiza-
das algumas inferências, tais como: mais
Tabela 4 - Modelos de regressão linear para o desempenho cognitivo dos idosos
Os modelos de regressão apontam a
contribuição independente das ativida-
des de lazer na predição do desempenho
cognitivo nas avaliações de fluência ver-
bal e de memória pelo teste de Buschke.
Os dados sugerem que, quanto maior o
envolvimento dos idosos em atividades
de lazer, melhor será seu desempenho
nessas habilidades cognitivas.
Discussão
Percebe-se que diferentes variáveis
entram em jogo quando são avaliadas as
condições cognitivas dos idosos. O estilo
Em consonância com resultados descri-
tos na literatura (CUNHA, 2001; KAPLAN
e SADOCK, 1999), o avanço da idade e a
presença de sintomas depressivos apresen-
tam uma relação inversa com o desempe-
nho cognitivo.
Testes cognitivos Preditores R2 p
Coeficiente não
padronizado
Erro padrão
Coeficiente
padronizado
Fluência Verbal Depressão
Idade
Lazer
Escolaridade
0,236
0,359
0,406
0,445
0,001
0,001
0,01
0,01
-0,386
-0,148
0,695
0,364
0,099
0,035
0,237
0,133
-0,315
-0,307
0,231
0,208
Buschke Idade
Lazer
Escolaridade
Perc.Sub.Mem
0,101
0,164
0,203
0,237
0,01
0,05
0,05
0,05
-0,297
1,476
0,748
-0,390
0,094
0,638
0,345
0,185
-0,281
0,208
0,192
-0,191
Mini-Exame Estado Mental Depressão
Idade
Escolaridade
0,214
0,361
0,444
0,001
0,001
0,001
-0,479
-0,189
0,593
0,102
0,039
0,147
-0,351
-0,352
0,304
Span de Números Escolaridade
Idade
Depressão
0,234
0,359
0,409
0,001
0,001
0,01
0,420
-0,108
-0,185
0,086
0,023
0,062
0,381
-0,356
-0,232
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RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004
anos de escolaridade e mais opções de
lazer como fatores de proteção de
declínio nas habilidades cognitivas;
quanto mais atividades de lazer, melhor
o desempenho do idoso nas habilidades
cognitivas relacionadas com linguagem,
memória e atenção.
Recebido para publicação em maio de 2003.
Abstract
To investigate the relationship of the
elder’s leisure activities and themscores
in the cognitives tests. The sample was
121 elders, from 60 to 95 years, including
both sexes, living in the community. The
method was quantitative research with a
transversal design, and instruments:
Geriatric Depression Scale, Subjective
Perception of Memory Problems, MMSE,
Number Span, Buschke Test Free and
Cue Recall and the Verbal Fluency Test.
The regression models point to the
independent contribuition of the leisure
activities in the prediction of the elder´s
cognitive performance.
Key words: Elders, leisure activities,
cognitive development.
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