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38 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 O impacto de atividades de lazer no desenvolvimento cognitivo de idosos Leisure activities impact on elder´s cognitive development Irani I. de Lima Argimon* Lilian Milnitsky Stein** Flávio Merino de Freitas Xavier*** Clarissa Marceli Trentini**** Resumo Investiga-se se a diversidade de ati- vidades de lazer desenvolvidas por idosos contribui para explicar diferen- ças em suas habilidades cognitivas ao longo do seu desenvolvimento. A amos- tra constituiu-se de 121 idosos de 60 a 95 anos, de ambos os sexos, residentes na comunidade de Veranópolis. A pes- quisa é do tipo quantitativo, com deli- neamento transversal; como instrumen- tos utilizaram-se Escala de Depressão Geriátrica, PSQM; MEEM, Span de Números, Teste de Evocação Seletiva Livre e com Pistas de Buschke, Fluên- cia Verbal. Os modelos de regressão apontam a contribuição independente das atividades de lazer na predição do desempenho cognitivo dos idosos. Palavras-chave: idosos, lazer, desenvol- vimento cognitivo. Introdução Nas últimas décadas, a atenção mun- dial tem se dirigido aos problemas sociais, econômicos e científicos derivados da evolução demográfica e que têm como resultado o envelhecimento da popula- ção. A faixa de idade da população que vem tendo o maior aumento proporcio- nal é a de pessoas com mais de sessenta * Psicóloga, doutora em Psicologia pela PUCRS, Professora Adjunta da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universi- dade Católica do Rio Grande do Sul, participante do Gru- po de Pesquisa em Processos Cognitivos da Pós-Graduação em Psicologia, PUCRS, coordenadora do Projeto Desenvol- vimento Cognitivo em Idosos junto ao Instituto de Geriatria do Hospital São Lucas – PUCRS, psicóloga da Unidade de Dependência Química Hospital Mãe de Deus. ** PhD em Psicologia Cognitiva pela Universidade do Ari- zona, Professora Adjunta da Faculdade de Psicologia, Programa de Pós-Graduação, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Processos Cognitivos da Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia – PUCRS. *** Coordenador do Ambulatório de Neuropsiquiatria Ge- riátrica do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS e professor da UPF. **** Psicóloga, doutoranda em Ciências Médicas: Psiquia- tria, Professora Auxiliar em Psicologia – Ufrgs. 39 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 O impacto de atividades de lazer... anos. Com isso, tem crescido a preocupa- ção com a qualidade de vida dos idosos. Entende-se que envelhecimento é um processo que envolve multidimen- sões que se inter-relacionam. Entre as mais importantes estão os aspectos bio- lógicos, psicológicos, sociais e de ajusta- mento a novas situações de vida (STEGLICH, 1992). Passeando pela história, observa-se que lentamente está sendo abandonada a conotação negativa do conceito de ve- lhice em si mesmo e passa-se a conce- ber essa fase da vida como possibilida- de de realização pessoal, maturidade e sabedoria. A compreensão do envelhe- cimento é reconstruída numa cultura e época determinada, permitindo a análi- se da problemática do envelhecimento de forma contextualizada. A crença de que idosos não são capa- zes de coordenar suas vidas, de terem ob- jetivos de vida, capacidade para aprender e para mudar, contribui para que se desen- volvam sentimentos de impotência nos idosos, levando a que em muitos momen- tos eles ajam como se realmente não tives- sem essas possibilidades. Isso é o que pa- rece a sociedade esperar deles. O acesso a serviços de apoio ao idoso, transporte, gru- pos de convivência, grupos de orientação aos cuidadores, grupos de ajuda aos fami- liares são algumas alternativas para minimizar as dificuldades, podendo se constituir em estratégias de mudança em relação às crenças existentes. Na velhice, à medida que os anos vão passando, vai mudando a forma de ver o mundo; valores vão se transformando, perdendo componentes materialistas e ganhando espiritualidade, muitas vezes justificada pela reflexão maior sobre o envelhecimento e o sentido da vida. A espiritualidade é uma clara evidência de um potencial interno que a maturidade faz desabrochar. As habilidades neces- sárias para cuidar de si mesmo represen- tam um fator crítico para a saúde e para o bem-estar dos idosos. Fatores como a continuidade de cui- dados que se devem dispensar aos diferen- tes problemas (saúde física, problemas de memória, desorientação) presentes em idosos, assim como a progressiva deterio- ração da autonomia pessoal, especialmen- te naqueles com doença de Alzheimer, sugerem que os cuidadores devam “supor- tar” um elevado grau de estresse que pode ter conseqüências não só para a atenção ao seu familiar, mas também para a sua própria saúde. Para minimizar essas situa- ções, é importante o desenvolvimento de programas dirigidos à orientação e treina- mento de familiares, grupo de auto-ajuda de cuidadores, acesso a serviços institucio- nais. Uma das ênfases sugeridas aos fami- liares diz respeito à criação de redes so- ciais provedoras de apoio, com o objeti- vo de favorecer as relações sociais dos idosos. Os programas nos quais os ido- sos satisfazem necessidades de outros, além de proporcionar serviços à comu- nidade, oferecem-lhes a oportunidade de permanecerem ativos e de estabele- cerem novos contatos sociais. 40 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 Outro aspecto que tem sido evidenci- ado em pesquisas (ARGIMON, 2002) e que a prática clínica tem corroborado é a importância do exercício físico para a melhora da saúde em geral, inclusive para o desempenho cognitivo dos idosos. Embora os idosos possam ser mais len- tos e menos precisos em algumas habili- dades, sua experiência de vida pode com- pensar outras habilidades. Stuart-Hamil- ton (2002) salienta a relevância da práti- ca de exercitar habilidades tanto físicas como mentais como uma forma de pre- servação dessas habilidades, como tam- bém de renovação de habilidades supos- tamente perdidas ou em declínio. No último período do ciclo vital, exis- te uma plasticidade ao envelhecer, deri- vada dos processos sociais que interatuam com os processos biológicos e psicológi- cos. O presente estudo foi delineado com o objetivo de investigar se a diversidade de opções de atividades de lazer contri- bui para explicar diferenças nas habili- dades cognitivas de idosos ao longo do desenvolvimento na terceira idade. Considerando-se o objetivo proposto, definiu-se também o enfoque metodo- lógico utilizado, que, nesse caso, foi de uma pesquisa do tipo quantitativo, com delineamento transversal. Amostra Foi selecionada uma amostra aleató- ria constituída por 121 idosos, de ambos os sexos, na faixa etária compreendida entre 60 e 95 anos, nível socioeconômi- co médio, escolaridade variada, residen- tes na comunidade de Veranópolis (RS). A amostra foi escolhida de forma alea- tória a partir de um registro da prefei- tura de Veranópolis com a nominata de todas as pessoas acima de sessenta anos, perfazendo um total de 2 200 pessoas. Dessas, 660 tinham idade entre 60 e 64 anos e 1 540, 65 anos ou mais. A história de Veranópolis está vin- culada, predominantemente, aos imi- grantes italianos. Situado na Encosta Superior do Nordeste do estado do Rio Grande do Sul, na serra do rio das Antas, é um município semi-rural, contando com 19 412 habitantes. A maioria da população é descendente de italianos,trabalhadores rurais (dados do censo demográfico do IBGE, 2002). Segundo informações dos dirigentes do municí- pio, Veranópolis tem o maior índice de longevidade do Brasil, o segundo da América Latina e o quarto do mundo. Técnicos da Organização Mundial da Saúde (1981) denominaram Veranópolis de “Cidade da Longevidade”. Assim, a amostra foi constituída por 121 idosos residentes na comunidade de Veranópolis (RS), dos quais 83 (68,6%) eram do sexo feminino e 38 (31,4%), do sexo masculino. A idade média dos ido- sos foi de 79 anos (DP = 9,07). A idade dos idosos do sexo masculino variou de 60 a 94 anos, com uma idade média de 78,08 anos (DP = 9,14); já idade dos idosos do sexo feminino variou de 61 a 95 anos, com uma idade média de 78,36 anos (DP = 9,10). A Tabela 1 mostra a 41 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 O impacto de atividades de lazer... distribuição dos idosos quanto à faixa etária e ao sexo. Tabela 1 - Distribuição dos(as) idosos(as) por sexo e faixa etária Faixa etária Sexo Fem in ino Mascu lino N % N % 60-69 anos 21 25,3 9 23,7 70-79 anos 21 25,3 10 26,3 80-89 anos 34 41,0 14 36,8 90-95 anos 7 8,4 5 13,2 Total 83 100 38 38,0 Em relação ao estado civil, 64 (52,9%) dos idosos eram viúvos; 50 (41,3%), ca- sados; 5 (4,1%), solteiros; 1 (0,8%), sepa- rado e 1 (0,8%), em outra situação. Quan- to à distribuição dos participantes em função da escolaridade, 61 (50,4%) dos idosos haviam cursado até três anos de escolaridade; 49 (40,5%), de quatro até seis anos e 11 (9,1%), de sete a dezesseis anos de escolaridade. A média de anos de escolaridade foi de 3 (DP = 2,73). Instrumentos Com base na literatura na área, foi se- lecionado um conjunto de instrumen- tos para a avaliação cognitiva dos idosos que têm sido referência em diversos es- tudos atuais (ARGIMON e CAMARGO, 2000; FORLENZA e CARAMELLI, 2001; MACIEL, 2002). Em um segun- do momento, essa seleção foi submeti- da ao julgamento de três juízes, especia- listas em psicodiagnóstico, para que pu- dessem opinar sobre qual seria a melhor seqüência dos instrumentos, respeitan- do as características de cada um. Foram utilizados os seguintes instru- mentos: a) Ficha de dados sociodemográficos. b) Escala de Depressão Geriátrica (GDS): desenvolvida por Yesavage, Brink e Rose (1983), cujo objetivo é identificar e quantificar sintomas depressivos na população idosa. Esta escala consiste num questionário de trinta questões, com duas opções de respostas: “sim” e “não”. Os itens dessa escala estão relacio- nados com ausência de satisfação com a vida, abandono de atividades e interesses, sentimento de vazio, aborrecimentos, sentimentos de desamparo, problemas de memória, pouca esperança e energia. c) Percepção Subjetiva de Queixas da Memória (CROOK, FEHER e LARRABEE, 1992): tem como objetivo investigar como o sujeito percebe a sua memória no momento presente e compará-la com a que tinha aos quarenta anos. As questões solicitam que o sujeito descreva sua capacidade para lembrar no- mes, números de telefone, notícias, luga- res onde guarda objetos, comparando-a com a que tinha aos quarenta anos de ida- de. As respostas são pontuadas em uma escala tipo Likert de 5 pontos, variando de “muito melhor agora” até “muito pior agora”. A pontuação no teste pode variar de 7 até 35 pontos, sendo a pontuação máxima relacionada com percepção sub- jetiva maior de disfunção na memória. d) Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) (Folstein, Folstein e McHugh, 42 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 1975): é composto por um conjunto de ques- tões que avaliam a orientação para o tempo e o lugar; a memória imediata e de evoca- ção; a atenção e concentração; a linguagem, nomeação e compreensão e a habilidade construcional. O resultado máximo total é de 30 pontos e são necessários de 5 a 15 minutos para a sua aplicação. e) Span de Números (Wechsler, 1981): utilizado para medir a atenção, que compre- ende duas tarefas diferentes de dígitos, na ordem direta e na ordem indireta. Este subteste tem sido utilizado largamente para medir memória de trabalho, sendo o escore total o somatório dos acertos na forma dire- ta mais os acertos da forma inversa. O esco- re esperado para dígitos é de 6 (DP = 1) para a ordem direta e de 5 (DP = 1) para a indi- reta. Um escore de 5 pode ser de marginal para o normal; o de 4 é, definitivamente, boderline e 3 é, efetivamente, comprometido. f) Teste de Evocação Seletiva Livre e com Pistas de Buschke I e Buschke II (Buschke e Fuld, 1974): composto por dezesseis figuras, visa examinar a memória no armazenamen- to, retenção e recuperação. g) Fluência Verbal-Categoria Animal (Spreen e Benton, 1977): é avaliada pela tabulação do número de palavras que o su- jeito produz dentro de uma categoria restri- ta, semântica ou fonológica, em um tempo definido. Procedimentos Após o sorteio dos componentes da amostra, foi feito contato com os idosos através de correspondência escrita e endereçada para suas residências e houve a divulgação do objetivo da pesquisa pela rádio local. Essa é uma prática bastante uti- lizada nessa comunidade, em virtude de um projeto maior de qualidade de vida, co- ordenado pelo Instituto de Geriatria e Ge- rontologia da Pontifícia Universidade Ca- tólica do Rio Grande do Sul em Veranópolis. Na correspondência constaram o dia e o local da entrevista, tendo a pesquisadora se colocado à disposição para ir até a residên- cia do idoso que assim o desejasse, por co- modismo ou por dificuldade de locomoção. O tempo de execução da entrevista foi em torno de uma hora e meia. Cinco alunos da graduação da Psicologia e uma mestranda do pós-graduação em Psicologia participa- ram da coleta de dados. O presente projeto contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Veranópolis para a logística de deslocamento entre as residências dos idosos, tanto na zona ur- bana quanto na zona rural, disponibili- zando veículo, motorista e uma assisten- te social para acompanhar a pesquisado- ra durante o trabalho. Também o aloja- mento na cidade de Veranópolis foi assu- mido pela prefeitura. Resultados Características sociodemográficas Nas características sociodemográficas foram analisadas as distribuições dos ido- sos levando em consideração sexo, idade e escolaridade. Considerando os anos de es- colaridade, observou-se que tanto os ido- 43 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 O impacto de atividades de lazer... sos do sexo feminino quanto os do sexo masculino situaram-se em torno de 50% até três anos de escolaridade e em torno de 50% dos quatro anos em diante (Tabela 2). Tabela 2 - Distribuição dos(as) idosos(as) por sexo e escolaridade Escolaridade Sexo Feminino Masculino N % N % 0-3 anos 43 51,6 18 47,4 4-6 anos 33 39,8 16 42,1 7anos ou + 7 8,4 4 10,5 Total 83 100 38 100 Quanto à capacidade de leitura e es- crita, verificou-se que 98 (81%) dos ido- sos sabiam ler e 95 (78,5%) sabiam es- crever independentemente de escolari- dade formal. Dos 121 idosos pesquisa- dos, 75 (62%) residiam na zona urbana e 46 (38%), na zona rural. Na distribuição relacionada ao fator fa- miliar de quais pessoas moravam com o ido- so, observou-se que 15 (12%) deles residiam com o cônjuge; 93 (76,9%) com os filhos; 7 (5,8%), com outros parentes e 6 (5%), sozi- nhos. No aspecto da atividade profissionalsomente 11 (9,1%) dos idosos ainda esta- vam trabalhando; 92 (76%) eram aposen- tados e se dedicavam às atividades domés- ticas, por exemplo, fazendo canteiros, plantando verduras, roçando as terras pró- ximas a sua casa, cuidando dos parreirais; um (8%) encontrava-se em benefício por motivos de saúde; 15 (12,4%) nunca tra- balharam formalmente e dedicavam-se às atividades domésticas já citadas e 2 (1,7%) mencionaram outras atividades. Quanto a hábitos relacionados à saú- de, foi observado que 100 (82,6%) dos idosos nunca fumaram; 9 (7,4%) eram fumantes em abstinência há mais de um ano e 11 (9,1%) continuavam fumando. Em relação à bebida alcoólica, o vinho foi eleito pelos idosos como sendo a bebida de sua preferência e 63 (52,1%) deles referiram beber, pelo menos, um cálice de vinho durante as refeições. Quando examinadas as principais preocupações dos idosos, a mais eviden- ciada foi em relação à própria saúde, com 41 (33,9%) deles referindo essa preocupa- ção. Quando solicitados a definir como estava sua saúde, 11 (9,1%) responderam “ruim”; 67 (55,4%), “regular” e 42 (34,7%) qualificarem-na como boa. Ou- tros tipos de preocupação foram relacio- nados a questões financeiras, com 17 (14%) dos idosos respondendo que essa é uma de suas principais preocupações. Quanto ao tipo de atividades de pre- ferência dos idosos em seus momentos de lazer (Tabela 3), conceituadas como “atividades de entretenimento”, tempo de que podiam dispor livremente, obser- vou-se que as de maior preferência, tan- to pelo sexo feminino como pelo sexo masculino, foram as relacionadas à Igre- ja, seguidas pela opção de lazer, relacio- nada com “assistir televisão” (novelas, missa, noticiário, futebol) e “ouvir rá- dio” (música, notícias, futebol). 44 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 Em algumas opções de lazer, os interes- ses mostraram-se diferentes para idosos do sexo feminino e idosos do sexo masculino. Na atividade mental (leitura, palavras cru- zadas, jogos de cartas, dama e bingo), ob- servou-se uma diferença significativa (C² = 5,915, p < 0,05) se comparada a opção por sexo, visto que são atividades mais escolhidas por idosos do sexo masculino. Na atividade manual (crochê, bordado, tri- cô, artesanato), por sua vez, foi manifesta- da preferência pelo sexo feminino. Na atividade física, em que foram con- siderados pescaria, caminhada, sinuca, re- laxamento, bocha, mexer na horta, obser- vou-se que idosos do sexo feminino obti- veram um percentual significativamente menor (C² = 10,864, p < 0,005) que os do sexo masculino (N = 30, 78,9%). É impor- tante assinalar que muitos não indicaram a caminhada como lazer por fazer parte de sua rotina do dia-a-dia. Quanto a atividades sociais, que in- cluíam visitas a doentes, baile, grupo de terceira idade, foi uma opção mais dos idosos do sexo feminino. Por se tratar de uma cultura italiana em um município semi-rural, é comum o idoso usar esca- das, deslocar-se a pé para fazer suas com- pras, visitar amigos, cuidar dos netos, executar tarefas domésticas, como tam- bém levar seus cachorros para caminhar. A atividade física exercida ao longo da vida pode ser um dos fatores a promo- ver um aumento na expectativa de vida, de forma independente e produtiva. No momento atual, no qual as facilida- des tecnológicas tendem a facilitar a vida do Nota: As categorias não são excludentes; portanto, um parti- cipante pode estar computado em mais de uma categoria. ser humano, também ocorre uma facilita- ção ao sedentarismo. Contudo, percebe-se ainda como uma vantagem esses idosos re- sistirem a tantas “facilidades” e, com isso, preservarem uma vida mais ativa. Confor- me sugestão de Cruz, Mello e Flores (2002), “mova-se mais e sente-se menos” pode ser uma forma de manter a capacidade funcio- nal do idoso, a qual constitui o determinante primário das necessidades diárias do idoso. Tabela 3 - Distribuição percentual de opções de lazer por sexo Lazer Sexo Total Feminino Masculino N % N % N % Ativ. mentais (leitura, bingo, cartas, dama, palavras cruzadas) 44 53,0 29 76,3 73 60,3 Ativ. TV e rádio (novela, notícias, futebol) 57 68,7 28 73,7 85 70,2 Ativ. manuais (crochê, tricô, artesanato, bordado) 43 51,8 8 21,1 51 42,1 Ativ. física (caminhada, pescaria, sinuca, relaxamento, bocha, horta) 39 47,0 30 78,9 69 57,0 Ativ. sociais (baile, grupo 3ª idade, receber amigos, visitar doentes) 9 10,8 2 5,3 11 9,1 Ativ. religiosas (assistir a missa, ativ. relacionadas à igreja) 52 62,7 25 65,8 77 63,6 Outras 19 22,9 11 28,9 30 24,8 45 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 O impacto de atividades de lazer... Para buscar responder à relação da diversidade de atividades de lazer e re- sultado nos escores de testes cognitivos, geraram-se modelos preditivos do de- sempenho cognitivo em idosos, apresen- tados na Tabela 4. de vida, as relações sociais, as atividades físicas, as opções de lazer e, provavelmen- te, muitas outras não avaliadas no presente estudo podem contribuir para que o ido- so possa ter um avanço da idade com uma boa preservação de suas habilidades cog- nitivas. O lazer e a manutenção da capa- cidade de realizar atividades de aptidão física e mental certamente favorecerão uma melhor qualidade de vida. Os aspectos sociodemográficos e as condições cognitivas apresentadas nes- te trabalho permitem que sejam realiza- das algumas inferências, tais como: mais Tabela 4 - Modelos de regressão linear para o desempenho cognitivo dos idosos Os modelos de regressão apontam a contribuição independente das ativida- des de lazer na predição do desempenho cognitivo nas avaliações de fluência ver- bal e de memória pelo teste de Buschke. Os dados sugerem que, quanto maior o envolvimento dos idosos em atividades de lazer, melhor será seu desempenho nessas habilidades cognitivas. Discussão Percebe-se que diferentes variáveis entram em jogo quando são avaliadas as condições cognitivas dos idosos. O estilo Em consonância com resultados descri- tos na literatura (CUNHA, 2001; KAPLAN e SADOCK, 1999), o avanço da idade e a presença de sintomas depressivos apresen- tam uma relação inversa com o desempe- nho cognitivo. Testes cognitivos Preditores R2 p Coeficiente não padronizado Erro padrão Coeficiente padronizado Fluência Verbal Depressão Idade Lazer Escolaridade 0,236 0,359 0,406 0,445 0,001 0,001 0,01 0,01 -0,386 -0,148 0,695 0,364 0,099 0,035 0,237 0,133 -0,315 -0,307 0,231 0,208 Buschke Idade Lazer Escolaridade Perc.Sub.Mem 0,101 0,164 0,203 0,237 0,01 0,05 0,05 0,05 -0,297 1,476 0,748 -0,390 0,094 0,638 0,345 0,185 -0,281 0,208 0,192 -0,191 Mini-Exame Estado Mental Depressão Idade Escolaridade 0,214 0,361 0,444 0,001 0,001 0,001 -0,479 -0,189 0,593 0,102 0,039 0,147 -0,351 -0,352 0,304 Span de Números Escolaridade Idade Depressão 0,234 0,359 0,409 0,001 0,001 0,01 0,420 -0,108 -0,185 0,086 0,023 0,062 0,381 -0,356 -0,232 46 RBCEH - Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 38-47 - jan./jun. 2004 anos de escolaridade e mais opções de lazer como fatores de proteção de declínio nas habilidades cognitivas; quanto mais atividades de lazer, melhor o desempenho do idoso nas habilidades cognitivas relacionadas com linguagem, memória e atenção. Recebido para publicação em maio de 2003. Abstract To investigate the relationship of the elder’s leisure activities and themscores in the cognitives tests. The sample was 121 elders, from 60 to 95 years, including both sexes, living in the community. The method was quantitative research with a transversal design, and instruments: Geriatric Depression Scale, Subjective Perception of Memory Problems, MMSE, Number Span, Buschke Test Free and Cue Recall and the Verbal Fluency Test. The regression models point to the independent contribuition of the leisure activities in the prediction of the elder´s cognitive performance. Key words: Elders, leisure activities, cognitive development. Referências ARGIMON, I. L.; CAMARGO, C. H. P. Avalia- ção de sintomas demenciais em idosos: questões essenciais. In: CUNHA, J. A. et al. Psicodiagnós- tico V. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. ARGIMON, I. L. Desenvolvimento cognitivo na terceira idade. Tese (Doutorado) - Porto Alegre, 2002. 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