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Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 Então o que você achou até aqui? Está gos- tando de aprofundar seus conhecimentos sobre as questões da língua? Agora, nós vamos conhecer mais sobre a língua de sinais, lembrando que essa língua pos- sui uma modalidade visomotora. As pessoas estão acostumadas a relacionar língua com fala. “Assim, quando falamos em lín- gua de sinais, que exige uma associação de língua com sinais, normalmente as pessoas apresentam concepções equivocadas.” (QUADROS, 1997, p. 46). Elas são línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas línguas não é estabelecida atra- vés de canais orais-auditivos, mas através da visão e da utilização do espaço. Preste atenção!!! A diferença na modalidade determina o uso de mecanismos sintáticos espe- cialmente diferentes dos utilizados nas línguas orais. As línguas de sinais são sis- temas linguísticos independentes das lín- guas orais, desmistificando a idéia de que as línguas de sinais derivam da comuni- cação gestual espontânea dos ouvintes. (QUADROS, 1997, p. 46-47). Outro fato importante para pensarmos é a forma como foram criadas as línguas de sinais. Elas são línguas naturais, pois refletem a capaci- LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)5 dade humana para a linguagem e porque surgem da mesma necessidade específica das línguas orais, ou seja, a necessidade de os seres humanos utilizarem um sistema linguístico que é transmiti- do através de gerações para expressarem ideias, sentimentos e ações. Quadros (1997) observa que, até recente- mente, as pessoas acreditavam que as línguas de sinais eram representações miméticas, total- mente icônicas e sem nenhuma estrutura for- mativa. No entanto, várias pesquisas vêm sendo realizadas e apontam que essas línguas são sis- temas abstratos de regras gramaticais. Apesar de apresentarem formas icônicas, elas são altamente complexas e apresentam mecanismos sintáticos espaciais, evidenciando os recursos e sua comple- xidade. Assim, como em qualquer outra língua, é possível produzir e reproduzir expressões meta- fóricas (poemas, expressões idiomáticas, piadas etc.) utilizando a língua de sinais. Como foi dito até aqui, as línguas de sinais apresentam as propriedades específicas das lín- guas naturais, sendo, portanto, reconhecidas en- quanto línguas pela Linguística. São visual-espa- AtençãoAtenção As línguas de sinais apresentam-se em uma mo- dalidade diferente da das línguas orais – elas são de modalidade visomotora. DicionárioDicionário Mimético: que imita algo ou outrem; reproduz algo ou um comportamento de modo idêntico. Fonte: www.dicionarioinformal.com.br. Icônico: que representa, que reproduz, que foi co- piado; adj - 1. Relativo a ícone. 2. Relativo à ima- gem ou imagens. 3. Que é conforme ao modelo. 4. Que representa com exatidão. Fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo. aspx?pal=ic%C3%B3nico. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 ciais, captando as experiências visuais das pessoas surdas. Elas vêm mostrando que são comparáveis às línguas orais no que diz respeito à expressão de ideias e à sutileza que as caracteriza. Os usuários das línguas de sinais, no caso do Brasil, da Libras, podem discutir Filosofia, sonhos, ideias, política, declamar poesias etc., ou seja, podem expressar todas as funções que o Português realiza. Como toda língua, a língua de sinais é viva, dessa forma, ao longo do tempo, vão sendo in- corporados novos vocábulos/sinais a ele; assim, quando há a necessidade, surge um novo sinal e, desde que se torne aceito pela comunidade, será aceito e incorporado à língua. Você acha que a língua de sinais é universal? Pois não é. Esta é uma fantasia corrente, principalmente entre ouvintes, que a língua de sinais seja universal. Assim como as línguas orais, cada localidade possui a sua língua. Podemos ci- tar o exemplo de países que utilizam a mesma lín- gua de sinais, Estados Unidos e Canadá. Embora cada língua de sinais seja diferente e possua a sua estrutura gramatical, é inegável que surdos de países diferentes comunicam-se com maior facili- dade uns com os outros, mesmo que não conhe- çam a outra língua, diferentemente do que ocorre na oralidade. Para você saber, no Brasil, as comunidades surdas utilizam a Libras, mas, além dela, há di- versos registros de outra língua de sinais, que é utilizada pelos índios Urubus-Kaapor, na Floresta Amazônica. Muitas pessoas acreditam, também, que a Libras é o Português feito com as mãos, que os sinais substituem as palavras dessa língua e que ela é uma mímica e só consegue expressar conceitos concretos. As Relações Espaciais e as Línguas de Sinais Bem, caro(a) aluno(a), como estamos po- dendo observar, a Libras é uma língua que pos- sibilita uma comunicação completa, porém sua característica é diversa do oralismo. A língua de sinais Libras utiliza o espaço para a sua comuni- cação e, para que haja uma organização desses sinais, ela possui parâmetros para a sua utilização. Como estamos verificando, as relações es- paciais nas línguas de sinais são muito complexas. Na Libras, assim como verificado na Língua Ameri- cana de Sinais (American Sign Language – ASL), as relações gramaticais são especificadas através da manipulação dos sinais no espaço. As sentenças ocorrem dentro de um espaço definido, na frente do corpo, em uma área limitada pelo topo da ca- beça e que se estende até os quadris. Além disso, o final de uma sentença, em Libras, é indicado por uma pausa. A Figura 1 ilustra o espaço de realiza- ção dos sinais na Libras, conforme Langevin e Fer- reira Brito (2006). Figura 1 – Espaço de realização dos sinais na Libras. Fonte: Brito (2006). Libras Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 33 Então, como vimos, os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos em um determinado local e de uma determinada forma são chamados de parâmetros. Portanto, o que é denominado palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas é deno- minado sinal nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo esse lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Essas articulações das mãos, que podem ser com- paradas aos fonemas e, às vezes, aos morfemas, são chamadas parâmetros. Para realizarmos então os sinais, precisamos utilizar os parâmetros. Nas línguas de sinais, de acordo com o MEC (2007), podem ser encontra- dos os seguintes parâmetros: Agora, preste muita atenção! Configuração das mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou formas feitas pela mão predominante ou pelas duas mãos do sinalizador. A Libras apresenta 46 configurações de mãos; são elas: Figura 2 – Configuração de mãos. Fonte: Brito (2006). Ponto de articulação: é aquela área no corpo, no espaço de articulação defini- do pelo corpo ou perto do qual o sinal é articulado. Na Libras, o espaço onde o sinal é realizado é uma área que con- tém todos os pontos dentro do raio de alcance das mãos. Dentro desse espaço de enunciação, que seria cabeça e tron- co, pode-se determinar um número li- mitado de lugares, sendo alguns mais exatos, como, por exemplo, a ponta do nariz, e outros mais abrangentes, como a frente do tórax. Em algumas situações, a localização do sinal será reposiciona- da, pois o sinal pode estar vindo de ou- tro interlocutor; por exemplo: B faz sinal para A. Nesse caso, a localização deve levar em consideração as localizações dos interlocutores, na enunciação ideal; Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Ferreira Brito (1990) menciona que os movimentospodem estar nas mãos, pulsos ou antebraço e ser unidirecionais (para cima, para bai- xo, para a direita, para a esquerda, para fora, para dentro, para a lateral inferior esquerda ou direita, para a lateral su- perior esquerda ou direita) ou bidire- cionais (para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita, para dentro e para fora, para laterais opostas – supe- rior e inferior direita ou esquerda); Orientação/direcionalidade: os sinais têm uma direção com relação aos parâ- metros citados. Assim, os verbos ir e vir se opõem em relação à direcionalidade, como os verbos. Na Libras, temos seis ti- pos de orientações da palma das mãos: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a esquerda; Expressão facial e/ou corporal: mui- tos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados, em sua configuração Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 34 também têm como traço diferenciador a expressão facial e/ou corporal, como os sinais alegre e triste. Há sinais reali- zados somente com a bochecha, como ladrão e ato sexual; sinais feitos com a mão e a expressão facial, como bala, e, ainda, sinais em que sons e expressões faciais complementam os traços ma- nuais, como os sinais de helicóptero e moto. Você já viu um surdo fazendo sinais? Se sim, notou como eles modificam sua expressão facial e corporal. Por que isso acontece? Duas estudiosas da língua de sinais, Qua- dros e Karnopp (2004), linguistas, apontam a im- portância das expressões não manuais (expres- são dos olhos, movimento da face, da cabeça ou tronco), que têm como função marcar sentenças interrogativas, relativas, concordância, foco, entre outros aspectos. Ressaltamos que duas expres- sões não manuais podem acontecer simultanea- mente, como, por exemplo, marcas de interroga- ção e negação. Apresentamos, a seguir, algumas possibilidades de expressões não manuais da língua de sinais brasileira: Rosto: sobrancelhas franzidas, olhos ar- regalados, lance de olhos, sobrancelhas levantadas; bochechas infladas, boche- chas contraídas, lábios contraídos e pro- jetados e sobrancelhas franzidas, correr da língua contra a parte inferior interna da bochecha, apenas bochecha direita inflada, contração do lábio superior, fran- zir do nariz. Cabeça: balanceamento para frente e para trás (sim), balanceamento para os lados (não), inclinação para frente, incli- nação para o lado e inclinação para trás. Rosto e Cabeça: cabeça projetada para frente, olhos levemente cerrados, sobran- AtençãoAtenção São cinco parâmetros: configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação e direcionalidade e expressão facial e/ou corporal. celhas franzidas, cabeça projetada para trás e olhos arregalados. Tronco: para frente, para trás; balancea- mento alternado dos ombros; balan- ceamento simultâneo dos ombros. Ba- lanceamento único ombro. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 61). Como apontamos anteriormente, portanto, “falar com as mãos” não é simplesmente fazer mí- micas ou indicar algo, mas é a utilização de uma combinação de elementos que produzirá sinais, os quais, combinados, formarão frases em um contexto. É importante lembrar que a Libras vai transmitir todas as informações necessárias, utili- zando os sinais, porém é preciso que se tenha em mente que: a) o Português e a Libras são línguas com- pletamente distintas, não apenas em relação à estrutura (gramática e léxico), mas ao próprio suporte; b) a sentença em Língua Portuguesa pos- sui redundâncias (como a concordância de número, gênero e pessoa gramati- cal), que seriam suprimidas no processo de representação em Libras; c) a sentença, em Língua Portuguesa, pos- sui informações (como a ordem dos constituintes) que nem sempre são re- levantes para a representação. Saiba maisSaiba mais Para conversarmos, em qualquer língua, não basta conhecermos as palavras, ou vocabulário, é preciso incorporar as regras gramaticais para a formação das frases. Na língua de sinais, além disso, a utilização das expressões não manuais é fundamental para a com- preensão do que está sendo dito! Libras Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 Neste capítulo pudemos conhecer melhor as características das línguas de sinais, sua modalidade, ou seja, é uma língua visomotora, diferente da língua oral que é de modalidade oral-auditiva. Conhece- mos o espaço onde são realizados e os parâmetros que devem ser levados em consideração para que os sinais sejam realizados de forma correta. 5.1 Resumo do Capítulo Para finalizar, vamos relembrar alguns conceitos deste capítulo. 1. Os parâmetros da língua de sinais são: 2. Podemos dizer que a língua de sinais é, simplesmente, “falar com as mãos”? 5.2 Atividades Propostas
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