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Jurisdição É uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve. A jurisdição implica na função de aplicar normas aos casos concretos, assegurando a autoridade do ordenamento. A jurisdição é, ao mesmo tempo, poder, função e atividade. Como poder, é manifestação do poder estatal. Como função, expressa o encargo que os órgãos têm de promover a pacificação dos conflitos interindividuais mediante o direito justo e através do processo. Como atividade, é o complexo dos atos do juiz no processo. Caracteres essenciais da jurisdição: 1. Segundo Chiovenda, duas são as características essenciais para identificar a jurisdição: caráter substitutivo e o escopo jurídico. ↳ Caráter substitutivo: uma das características essenciais da jurisdição é exatamente o fato de que o juiz se substitui às partes na solução do conflito, sendo a autoridade das partes substituída pela autoridade do Estado através do juiz, que é a pessoa física que exerce a atividade do Estado quanto à jurisdição. O juiz, portanto, atuará em coisa de terceiro; atua em realiena. O caráter substitutivo, portanto, tem essa ideia da autoridade do juiz substituindo a autoridade das partes e, também, abrange a ideia da substituição da justiça privada pela justiça pública devido ao monopólio estatal da justiça. As implicações da heteronomia estão implícitas nesse caráter substitutivo, visto que o juiz atua como terceiro e agindo de modo imparcial. ↳ Escopo jurídico: o Estado visa garantir que as normas de direito substancial contidas no ordenamento jurídico sejam efetivas e conduzam os resultados enunciados, ou seja, agir para fazer valer a lei em situações concretas. Quando o juiz reconhece o direito e dá tutela ao autor ou quando não o reconhece e nega a tutela, está fazendo valer a autoridade do ordenamento. 2. Segundo Carnelutti, o que caracteriza o ato do Estado como jurisdicional é, essencialmente, a presença da lide a ser resolvida; um conflito de interesses caracterizados por uma pretensão insatisfeita. O escopo do processo, seria então, a justa composição da lide, ou seja, o estabelecimento da norma de direito material que disciplina o caso, dando razão à uma das partes. OBS: é discutida se a presença da lide é definitiva para marcar a presença da jurisdição, visto que na chamada jurisdição voluntária não há lide a ser resolvida. 3. Enrico Allorio, no entanto, diz que a característica da jurisdição reside na definitividade, ou seja, só o ato jurisdicional tem a vocação para tornar-se imutável, não podendo ser revistos ou modificados. “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Só o ato jurisdicional pode se tornar imutável, mas nem todo ato jurisdicional pode ser imutável. É daí que precisamos diferenciar os dois tipos de coisa julgada: coisa julgada formal e coisa julgada material. A primeira diz respeito à imutabilidade da decisão, da sentença ou do acórdão, naquele processo determinado. Se em determinado processo não cabe mais nenhum recurso, se torna imutável naquele processo. Mas, embora não possa ser modificada naquele processo, possa ser que seja modificada em outro, dependendo se faz ou não coisa julgada material. Coisa julgada material é, portanto, a definitividade quanto ao mérito, em relação a qualquer processo. 4. Outra característica importante decorre da inércia, pois os órgãos jurisdicionais são, por sua própria índole, inertes, visto que o exercício espontâneo da atividade não seria prudente, devendo o juiz atuar quando provocado e de forma imparcial, já que se ele fosse tomar a iniciativa do processo se ligaria psicologicamente, sendo difícil, portanto, agir imparcialmente. Outro ponto importante a ressaltar diz respeito ao CRITÉRIO ORGÂNICO, que afirma se um ato é do Poder Judiciário, esse ato é jurisdicional. Se um ato é do Poder Legislativo, esse ato é legislativo. Se um ato é do Poder Executivo, esse ato é administrativo. Acontece que cada Poder não pratica apenas atos específicos, podendo, portanto, o Poder Judiciário praticar ato administrativo, pois administra seu orçamento, e também praticar atos legislativos. Portanto, esse critério é IMPRESTÁVEL para identificarmos com segurança a natureza dos atos do Estado. Princípios inerentes à jurisdição 1. Investidura: corresponde à ideia de que a jurisdição só será exercida por quem tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz. A jurisdição é um monopólio do Estado e este, que é uma pessoa jurídica, precisa exercê-la através de pessoas físicas que sejam seus órgãos ou agentes: os juízes. A investidura é um dos elementos do princípio do juiz natural. 2. Juiz natural: assegura que ninguém pode ser privado do julgamento por juiz independente e imparcial indicado pelas normas constitucionais. Volta-se contra o tribunal de exceção, aquele criado após a ocorrência do fato para julgar determinada pessoa. Tem como objetivo garantir ao cidadão um órgão jurisdicional idôneo. Para isso, depende de três elementos: imparcialidade com independência, investidura segundo normas pré-estabelecidas e competência em concreto. 3. Aderência ao território: todo órgão jurisdicional (juiz ou tribunal) tem a sua jurisdição limitada, a sua autoridade limitada a uma base territorial determinada; os magistrados têm autoridade apenas nos limites territoriais estabelecidos. Em virtude desse princípio, todo e qualquer ato de interesse para um processo que deva ser praticado fora dos limites territoriais do juiz que exerce a jurisdição, depende da cooperação do juiz do lugar. Então, o juiz pode mandar uma carta precatória (se for para um juiz dentro do território nacional) ou uma carta rogatória (se for cooperação de um juiz estrangeiro). 4. Indelegabilidade: é vedado delegar suas funções a outro órgão, pois cada magistrado, exercendo a função jurisdicional, não faz em nome próprio, mas sim em nome do Estado. É importante ressaltar que quando o juiz solicita a carta precatória ou rogatória não está delegando a sua função, mas sim pedindo cooperação do outro juiz. OBS: há a exceção da carta de ordem, onde é permitido que dentro do Poder Judiciário, exista a delegação de um órgão superior para um órgão inferior, quanto à solicitação de ato de instrução, mas não em relação à competência decisória. 5. Inevitabilidade: significa que a autoridade dos órgãos jurisdicionais impõe-se por si mesma, independente da vontade das partes ou de eventual pacto para aceitarem os resultados do processo. A situação das partes perante o Estado-juiz é de sujeição, que independe de sua vontade e consiste na impossibilidade de evitar que sobre elas e sobre seus direitos se exerça a autoridade estatal. 6. Inafastabilidade: garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, o qual não pode afastar do cidadãoa possibilidade de buscar a prestação jurisdicional do Estado. É o acesso à justiça assegurada quanto ao acesso ao Judiciário. Desse princípio, deriva o da inescusabilidade, onde o juiz não pode se negar a julgar mesmo que não exista uma lei expressa, que haja uma lacuna. Ele deverá julgar usando a analogia, os costumes ou os princípios gerais. 7. Inércia: só pode atuar quando for provocado.
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