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Linguistica I

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Prévia do material em texto

Professor Me. Adriano Steffler
LINGUÍSTICA I
GrAdUAção
LETrAS
MArINGÁ-pr
2013
reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-reitor: Wilson de Matos Silva Filho
pró-reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
pró-reitor de EAd: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
NEAd - Núcleo de Educação a distância
diretor Comercial, de Expansão e Novos Negócios: Marcos Gois
diretor de operações: Chrystiano Mincoff
Coordenação de Marketing: Bruno Jorge
Coordenação de Sistemas: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de polos: Reginaldo Carneiro
Coordenação de pós-Graduação, Extensão e produção de Materiais: Renato Dutra
Coordenação de Graduação: Kátia Coelho
Coordenação Administrativa/Serviços Compartilhados: Evandro Bolsoni
Coordenação de Curso: Roberta Fresneda Villibor
Supervisora do Núcleo de produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Humberto Garcia da Silva, Jaime de Marchi Junior, 
José Jhonny Coelho, Robson Yuiti Saito e Thayla Daiany Guimarães Cripaldi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo 
revisão Textual e Normas: Hellyery Agda Gonçalves da Silva, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, 
Maria Fernanda Canova Vasconcelos e Nayara Valenciano
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UniCesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
 a distância:
	 				Linguística	I		/	Adriano	Steffler	.	Maringá	-	Pr.,	2013.
																								145	p.
 Curso de Graduação em Letras “EaD”.
 
	 1.	Linguística	.	2.	Estudos	.		3.	História.		4.	Gramática.		
 EaD. I. Título.
																																																																																									CDD	-	22	ed.	411
“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites pHoToS.CoM e SHUTTErSToCK.CoM”.
Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bloco 4- (44) 3027-6363 - ead@cesumar.br - www.ead.cesumar.br
LINGUÍSTICA I
Professor Me. Adriano Steffler
5LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
AprESENTAção do rEITor
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. 
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para 
liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no 
mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos 
nossos fará grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o 
conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas 
do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração 
do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma 
prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, 
por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com 
a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja reconhecimento como uma instituição 
universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo do-
cente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesqui-
sa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a 
distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e 
administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o 
mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os 
egressos, incentivando a educação continuada.
Professor Wilson de Matos Silva
Reitor
6 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, 
pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos 
e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De 
que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo 
contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar, mediante o Núcleo de Educação a Distância, 
o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): 
“Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à 
proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação 
profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo(a) no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma, 
possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a 
sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento 
deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro 
Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual 
de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das 
discussões. Além disso, lembre-se de que existe uma equipe de professores e tutores que se 
encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, 
possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Então, vamos lá! Desejo bons e proveitosos estudos!
Professora Kátia Solange Coelho
Coordenadora de Graduação do NEAD - UniCesumar
7LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
AprESENTAção
Livro: LINGUÍSTICA I
Professor Me. Adriano Steffler
Olá, prezado(a) aluno(a), 
Que bom começarmos nossa disciplina de Linguística! Nela, faremos uma incursão pela 
ciência linguística em forma de introdução breve e metódica, apresentando alguns conceitos 
teóricos, a definição e a diferenciação de língua e de linguagem, caracterizando cada uma 
delas. Além disso, estudaremos como o objeto da Linguística – a própria língua – evoluiu 
ao longo do tempo e como eram feitos os estudos sobre língua e linguagem na antiguidade 
por diferentes povos. Esse desenvolvimento passou pela gramática especulativa, depois pela 
gramática geral, pela linguística histórico-comparativa, pela neogramática, culminando, por 
fim, no Estruturalismo. Alguns princípios norteadores que motivaram o surgimento desses 
movimentos foram explicitados para que você compreenda melhor como a língua e a linguagem 
se desenvolveram. 
Ressaltamos que, durante a redação deste livro, procuramos manter um posicionamento 
teórico neutro, de modo a evitar distorções e parcialidade no tratamento das questões 
referentes à linguagem. De modo semelhante, buscamos equilibrar a complexidade do assunto 
e a dialogicidade do texto. Sugerimos, assim, algumas leituras complementares indicadas no 
final de cada unidade; tais obras serão de grande auxílio para compreender satisfatoriamente 
as questões que, por ventura, o aluno julgar mais complexas. 
O livro está dividido em cinco unidades; cada unidade apresenta seções em número variável. 
Nos parágrafos abaixo, apresentaremos, de forma sucinta, os conteúdos a serem trabalhados 
e discutidos.
Na primeira unidade, são apresentados os conceitos de língua e de linguagem,definindo 
a diferença existente entre eles. Em seguida, o aluno encontrará a definição do objeto de 
estudo da linguística, multifacetado por natureza, para, então, elencar as características 
das línguas naturais, oferecendo um aporte teórico básico para compreender as noções e 
conceitos a serem apresentados nas unidades seguintes.
Na segunda unidade, a questão dos estudos linguísticos na antiguidade será abordada. 
8 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Diferentemente do que comumente se faz em introduções sobre linguística, partiremos de 
uma perspectiva cronológica para considerar os fatos, e não de uma perspectiva cultural que 
implicaria uma posição etnocêntrica, ou seja, que considera determinada etnia como o centro 
irradiador de cultura.
Assim, embora a tradição gramatical do português tenha recebido enorme influência da 
tradição gramatical greco-romana, trataremos, primeiramente, dos estudos gramaticais 
na Índia, visto que a primeira obra de descrição sistemática de uma língua surgiu nessa 
nação, tendo se desenvolvido em solo indiano uma frutífera tradição de estudos linguísticos. 
Em seguida, veremos brevemente como eram os estudos gramaticais na Arábia, para, 
então, prosseguirmos até a Grécia antiga, mostrando como algumas das concepções 
linguístico-gramaticais se desenvolveram de modo descontínuo e gradual. Na sequência, 
veremos como essas concepções influíram na tradição gramatical romana, que nos foi 
legada sob a forma de gramática tradicional.
Na terceira unidade, será apresentada a gramática especulativa que foi, de certo modo, 
a precursora das correntes teóricas que consideram a relação entre língua, pensamento e 
realidade. Em seguida, abordaremos a gramática geral ou gramática de port-royal, 
constituindo a primeira tentativa de racionalizar o estudo da gramática. Na sequência, 
analisaremos como e quando surgiu e o que ocasionou a gramática histórico-comparativa. 
Continuando nossos estudos, faremos uma incursão na neogramática, movimento de 
oposição à gramática histórico-comparativa. 
Na quarta unidade, nos ocuparemos do Estruturalismo, o movimento linguístico considerado 
o marco inicial da linguística moderna, ao postular a língua como um sistema, formando uma 
entidade a partir das dicotomias por ela apresentadas. Discorreremos também, de forma 
sucinta, acerca de seus pressupostos teóricos e o momento histórico de seu surgimento.
A quinta unidade é inteiramente dedicada à explicação das dicotomias saussureanas e às 
implicações destas nas teorias subsequentes. Mostrar-se-ão os desdobramentos teóricos e 
metodológicos a partir de cada elemento da dicotomia, culminando no surgimento das teorias 
pós-estruturalismo.
Esperamos que este livro seja bastante proveitoso e que atinja o objetivo de apresentar a 
ciência linguística. Desejamos, assim, muito sucesso a você, aluno(a)!
SUMÁrIo
UNIdAdE I
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA .......................................................................................................16
OS CONCEITOS DE LÍNGUA E DE LINGUAGEM .................................................................19
O CONCEITO DE GRAMÁTICA .............................................................................................23
OBJETIVO E OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA.........................................................29
PROPRIEDADES DA LINGUAGEM HUMANA .......................................................................34
OUTRAS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM ..................................................................39
UNIdAdE II
ORIGENS HISTÓRICAS DA LINGUÍSTICA
ESTUDOS GRAMATICAIS NO ANTIGO ORIENTE ...............................................................49
ESTUDOS GRAMATICAIS NA ÍNDIA E A PRIMEIRA GRAMÁTICA .....................................50
ESTUDOS GRAMATICAIS NA CHINA ...................................................................................53
ESTUDOS GRAMATICAIS NA ARÁBIA .................................................................................55
ESTUDOS GRAMATICAIS NA GRÉCIA ANTIGA ..................................................................58
ESTUDOS GRAMATICAIS EM ROMA ...................................................................................64
UNIdAdE III
OS MOVIMENTOS LINGUÍSTICOS DO PRÉ-ESTRUTURALISMO
A GRAMÁTICA ESPECULATIVA ............................................................................................72
A GRAMÁTICA GERAL OU GRAMÁTICA DE PORT-ROYAL ................................................73
A GRAMÁTICA HISTÓRICO-COMPARATIVA ........................................................................74
A NEOGRAMÁTICA ................................................................................................................90
UNIdAdE IV
O ESTRUTURALISMO
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DO ESTRUTURALISMO .............................................101
CONCEPÇÕES TEÓRICAS DO ESTRUTURALISMO .........................................................106
O ESTRUTURALISMO EUROPEU ....................................................................................... 111
O ESTRUTURALISMO AMERICANO ................................................................................... 112
BIOGRAFIAS DE AUTORES ESTRUTURALISTAS ............................................................. 115
CRÍTICAS AO ESTRUTURALISMO .....................................................................................120
UNIdAdE V
AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS
LÍNGUA E FALA ....................................................................................................................127
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO..........................................................................................130
SINTAGMA E PARADIGMA ..................................................................................................132
SINCRONIA E DIACRONIA ..................................................................................................134
ARBITRARIEDADE E MOTIVAÇÃO .....................................................................................137
FORMA E SUBSTÂNCIA ......................................................................................................138
CoNCLUSão ........................................................................................................................142
rEFErÊNCIAS ....................................................................................................................143
UNIdAdE I
LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Professor Me. Adriano Steffler
objetivos de Aprendizagem
• Estabelecer a distinção entre linguagem e língua.
• Definir os objetivos e objeto de estudo da Linguística.
• Determinar as características das línguas naturais.
plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 A ciência linguística
•	 os conceitos de língua e de linguagem
•	 o conceito de gramática
•	 objetivo e objeto de estudo da Linguística
•	 propriedades da linguagem humana
•	 outras características da linguagem humana
15LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
INTrodUção
Ao estudar a linguagem, enfocamos em uma característica única aos seres humanos. Todos 
nós, não importando o lugar onde nascemos ou a cultura em que vivemos, independentemente 
de nosso grau de escolaridade, conseguimos produzir linguagem articulada e, assim, 
comunicamo-nos uns com os outros. Dificilmente haverá um momento de nossas vidas em 
que não usaremos linguagem – há aqueles que falam dormindo ou se veem falando em 
sonhos, não é mesmo?
A linguagem, muito mais do que qualquer outra característica, distingue eminentemente o ser 
humano dos animais. O ser humano consegue adaptar a sua linguagem às mais diversas 
situações, encontrando formas para se comunicar de maneiraeficiente.
Assim, a linguagem é uma característica universal dos seres humanos. No entanto, os seres 
humanos podem se subdividir em agrupamentos, cada qual tendo a sua própria língua (entendida 
aqui como idioma). Por esse motivo, falantes de diferentes línguas, ou seja, de diferentes 
idiomas – como o inglês ou o francês –, embora possuam linguagem, não conseguirão, a 
princípio, estabelecer comunicação entre si, uma vez que não dominam o mesmo idioma.
Em meio à heterogeneidade linguística, que forma um “caos aparente”, é, portanto, objetivo 
da Linguística definir quais aspectos da linguagem serão por ela considerados e de que modo 
isso será feito, a fim de obter regras gerais que possam explicar o funcionamento da linguagem 
como um todo, partindo da análise das línguas particulares. Surgem, assim, diferentes modos 
de considerar o mesmo objeto de estudo, resultando nas teorias linguísticas.
Levando-se em conta essas questões, trataremos, nesta primeira unidade, da questão da 
linguagem como característica propriamente humana, procurando demonstrar como a ciência 
linguística se ocupa desse assunto.
16 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA
A linguística moderna é fruto de um longo desenvolvimento, permeado de questões 
controversas e de disputas internas. Esse desenvolvimento pode ser melhor compreendido 
em termos históricos, tanto ao se referir à ciência linguística do passado distante ou recente 
quanto às peculiaridades de seu desenvolvimento em contextos socioculturais diversos.
Os estudos da linguagem eram primordialmente constituídos por atividades relacionadas 
com a criação e o melhoramento da escrita, com o ensino do léxico (do vocabulário), com 
a interpretação de textos sagrados e de textos de obras antigas, com o desenvolvimento da 
relação entre fala, estrutura e som, especialmente na poesia, e com a busca de maneiras mais 
eficazes de influenciar as palavras consideradas mágicas e empregadas em ritos sacerdotais. 
Inicialmente voltada a problemas de cunho mais prático, a linguística, como a conhecemos 
hoje, foi paulatinamente tomando forma: a gama de problemas abordados foi ampliada, as 
suas análises foram aumentadas e mais aspectos da linguagem passaram a ser levados em 
consideração, fato esse que levou à construção da ciência linguística e ao desenvolvimento de 
novos métodos de pesquisa. A linguística, que antes era mais um “filosofar” sobre a linguagem, 
passa a estudar as línguas particulares, constituindo uma ciência, com métodos e premissas 
próprios.
Como conjunto de estudos sistemáticos sobre a linguagem, a linguística passou a ser divulgada 
mais amplamente apenas no século XX, sobretudo, na Europa, onde foram realizadas várias 
conferências de linguistas, os famosos Círculos Linguísticos. A comunicação entre os linguistas 
aumentava à medida que se desenvolviam os meios de comunicação; depois da segunda 
metade do século XX, os avanços dessa disciplina podiam ser transmitidos a todo mundo em 
questão de horas. A linguística se tornou, ao menos aparentemente, uma ciência unificada 
e internacional. Embora pretenda ser una de um ponto de vista científico, é possível notar 
várias influências nacionais e de línguas específicas. Os esforços para a aproximação das 
escolas linguísticas são, por vezes, notadamente marcados pela tendência em se concentrar 
17LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
na compreensão eurocêntrica (a Europa entendida como o centro cultural) de linguagem. A 
respeito desse assunto, Charlier (1981, pp. 30-31) escreve:
A linguística é uma ciência porque se constitui num conjunto sistemático de factos e de 
teorias para o estudo da linguagem e das línguas. Tem um objeto definido, a linguagem 
e as línguas, e métodos definidos que se pode descrever, comunicar, reproduzir, pôr à 
prova. Como todo o estudo de dados “observáveis”, implica naturalmente a percepção 
e a escolha destes dados, portanto um certo elemento pessoal (e a formulação de 
hipóteses assenta naturalmente também no génio individual), mas o que é fundamental, 
em oposição, por exemplo, a certos tipos de explicações de textos, é que, em qualquer 
momento, o seu percurso é explícito, as intuições são transmissíveis, as escolhas 
operadas reportam-se a um raciocínio sistemático, as hipóteses de partida cujas 
consequências lógicas são examinadas, a princípios gerais que constituem uma teoria 
que se pode enunciar, formular, de maneira que se possa verificar pelos dados da 
língua qualquer consequência logicamente inferida das hipóteses. […]
A história da linguística sempre se circunscreve, mesmo que de modo velado, a um determinado 
país, região, cultura ou língua, estando sujeita à história cultural, social e política do lugar onde 
se originou. Assim, o ritmo de desenvolvimento do conhecimento linguístico e o rumo tomado 
pelas pesquisas são variados: em alguns casos, situa-se em primeiro plano o problema da 
criação e da melhoria de sistemas de escrita e da interpretação dos textos escritos, como é o 
caso das tradições gramaticais chinesa e grega; em outros, há a preocupação com o discurso, 
como ocorre com os estudos gramaticais indianos. O objetivo do estudo da linguagem pode 
retroceder a algumas centenas ou mesmo milhares de anos, principalmente em termos de 
trabalho lexicográfico, como ocorreu na China, ou então se direcionar para a análise gramatical, 
como foi o caso dos estudos greco-romanos e da linguística em si. No que se refere ao trabalho 
de campo, em algumas tradições linguísticas ele é relativamente independente, em outras, ele 
constitui um dos aspectos epistemológicos e metodológicos de um plano mais amplo.
As diferentes vertentes de estudo da linguagem apresentam uma ordenação hierárquica e 
métodos de pesquisa diversos, bem como diferentes formas de considerar as suas unidades 
básicas de análise. Do mesmo modo, relacionam-se com outras ciências, a fim de estabelecer 
o lugar da linguagem na hierarquia dos valores humanos, tais como filosofia, epistemologia, 
teologia, lógica, retórica, poética, filosofia, literatura, história, estética, psicologia, biologia, 
18 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
antropologia, etnologia, história, sociologia, estudos culturais, antropologia, medicina, 
matemática, semiótica, teoria da comunicação, cibernética, informática, didática, tradução etc. 
A respeito desse fato, Martelotta (2009, p. 21-22) mostra que:
Uma vez afirmada como ciência, delimitando objeto e metodologia próprios, a lingüística 
reivindica sua autonomia em relação às outras áreas do conhecimento. No passado, o 
estudo da linguagem se subordinava, por exemplo, às investigações da Filosofia através 
da Lógica. Sobretudo a partir do século XX, com a publicação do Curso de lingüística 
geral (marco inicial da chamada lingüística moderna), obra póstuma do linguista suíço 
Ferdinand de Saussure, instaura-se uma nova postura, e os estudiosos da linguagem 
adquirem consciência da tarefa que lhes cabe: utilizando-se de uma metodologia 
adequada, estudar, analisar e descrever as línguas a partir dos elementos formais que 
lhes são próprios.
A diversidade teórica da linguística não impede a sua existência como ciência. De modo 
semelhante, as diversas formas de analisar o mesmo objeto de estudo levam a refutar a noção 
de que,
[…] haja apenas uma teoria. Este domínio é mesmo caracterizado no momento 
presente por uma proliferação de teorias diversas, o que não impede que, para qualquer 
teoria linguística “científica”, se conheçam claramente os axiomas postos à partida e 
as vias seguidas. Pode-se então avaliar a força e o interesse das hipóteses, em face 
das predições que permitem fazer sobre a língua e do modo como estas predições 
são verificadas ou infirmadas pelos factos; pode-se claramente ver as consequências 
do que foi excluído e tomado em consideração nos axiomas de partida e comparar 
as teoriasentre si, visto que, sendo explícitas, são compreensíveis e aplicáveis. 
Certamente que todos os gramáticos desde sempre tentaram raciocinar bem em 
vez de mal, mas é a noção de hipótese que é extremamente importante: a atitude 
científica consiste em construir, a partir de observações limitadas e provisórias, teorias 
ou modelos hipotéticos que explicam estas observações e permitem fazer outras. Uma 
teoria linguística não é verdadeira ou falsa, apenas é mais adequada do que outra em 
vista dos dados, ou é menos adequada, isto é, explica menos factos ou explica-os 
menos bem, por processos menos justificados, mais arbitrários, menos sistemáticos ou 
menos simples (CHARLIER, 1981, p. 31).
Essa postura teórica implica, aparentemente, um isolamento de outras disciplinas. No entanto, 
com isso são estabelecidas relações ainda mais próximas e bastante frutíferas com outras 
áreas do conhecimento. Ainda segundo Martelotta (2009, p. 22),
19LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
[...] isso não significa dizer que a lingüística encontra-se isolada das demais ciências 
e de outras áreas de pesquisa. Ao contrário, existem relações bastante estreitas entre 
elas, o que faz com que, algumas vezes, seus limites não se apresentem nitidamente. 
Desse modo, a caracterização dessas disciplinas é útil na medida em que permite 
delimitar mais claramente o campo de atuação da lingüística, contrastando-o com o 
de outras ciências. Temos, assim, duas faces da relação entre lingüística e as demais 
ciências.
Contudo, nem sempre há apenas diferenças no tocante à origem e ao desenvolvimento do 
conhecimento linguístico em diferentes contextos etnoculturais. Muitas tradições linguísticas 
nacionais discutem problemas relacionados à filosofia da linguagem, como a sua origem, a sua 
natureza, a relação entre linguagem e pensamento, a relação entre os meios linguísticos de 
expressão e de conteúdo, a natureza natural ou convencional da relação entre as palavras e as 
coisas, as semelhanças e diferenças entre a linguagem humana e a “linguagem” dos animais.
oS CoNCEIToS dE LÍNGUA E dE LINGUAGEM
De modo a melhor entender o objeto de estudo da Linguística, devemos distinguir os conceitos 
de língua e de linguagem. Resumidamente, pode-se dizer que a linguagem se refere, de forma 
bastante ampla, a sistemas de comunicação, não somente humanos, mas também animais. 
A língua, por sua vez, é o conjunto de signos convencionados e empregados por determinada 
linguística (no caso do português, nosso alfabeto, por exemplo, e o modo como empregamos 
as letras, formando as palavras). Assim, pode se dizer que as línguas são linguagens, mas as 
linguagens não são necessariamente línguas. 
20 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
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Essa divisão entre o que é língua e o que é linguagem apresentará implicações no momento 
de estudar o fenômeno da linguagem, pois há teorias que se voltam para o todo, procurando 
encontrar na linguagem o que há de universal. Outras teorias, por sua vez, analisam as línguas 
em particular, com o objetivo de encontrar nelas estruturas comuns, de modo a definir como 
se estabelece o todo que é a linguagem. Há também algumas teorias que procuram mostrar 
que a linguagem não apresenta características universais e que o seu desenvolvimento varia 
de cultura para cultura.
A linguagem constitui, portanto, um elemento estruturador da sociedade na medida em que 
intermedeia a comunicação entre os sujeitos falantes, sendo por ela perpassadas todas as 
atividades nela desenvolvida. Manifestada sob a forma de línguas naturais, ocorre entre essas 
línguas um incessante cruzamento e complementação, que seguem a transformação do ser 
humano e das formas de organização social.
A finalidade primária da linguagem é a comunicação verbal, e essa característica isoladamente 
justificaria a sua existência. É isso que possibilita a construção das sociedades e de 
conhecimento, por mais distintos que sejam.
Por apresentar um caráter comunicativo, a linguagem apresenta também um caráter social, no 
sentido de que existe como suma do conhecimento linguístico de todos os falantes individuais. 
21LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Quando nascemos já a encontramos pronta, bastando aprendê-la; quando deixamos de 
existir, a língua continuará à disposição dos outros falantes. Assim, a língua se constitui como 
patrimônio social e cultural de uma comunidade de falantes.
O conceito de linguagem é mais amplo do que aparenta ser à primeira vista, pois se refere 
não somente à linguagem verbal, mas a todo e qualquer conjunto de sinais empregados 
pelo ser humano para estabelecer comunicação, seja por meio de sinais auditivos, visuais, 
por meio de linguagem corporal ou linguagem verbal. Esses sinais são convencionados 
por determinada comunidade, a fim de permitir o entendimento mútuo ou, em certos casos, 
também o sentimento de exclusão. 
A língua, considerada dessa forma, constitui um constructo sócio-histórico, que nunca 
permanece estanque, posto estar sempre a sofrer alterações em todos os seus níveis, de 
modo a se adaptar à sociedade, à cultura e à situação em que é empregada. Esse caráter 
social e histórico é mais nitidamente percebido se entrarmos em contato com diversos falantes 
e notarmos que nenhum deles fala da mesma forma. Essas diferenças encontradas em uma 
mesma língua constituem o que se denomina variante linguística. Vejamos, brevemente, quais 
tipos de variação as línguas podem apresentar:
a) Variação diafásica: é a alteração do registro de fala de acordo com o ambiente comunicativo 
em que a pessoa se encontra. Assim, ao participar de uma reunião, um indivíduo diria, por 
exemplo: Eu poderia tomar a palavra, a fim de elucidar esta questão? Em situações informais, 
como em um churrasco com os amigos, esse mesmo indivíduo diria, por exemplo: Quero 
falar pra explicar esse troço aí! Por meio da alteração de seu registro de fala, o indivíduo 
falante consegue se adaptar às mais diferentes situações comunicativas, a fim de obter êxito 
na comunicação. 
b) Variação diastrática: é a alteração do registro de fala de acordo com a camada social e 
cultural do indivíduo. Nesse caso, é importante alertar para o fato de que estar em uma camada 
social mais elevada não implica, necessariamente, um conhecimento linguístico maior e uma 
22 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
fala mais apurada. A camada cultural em que o indivíduo se situa é mais decisiva para definir 
como ele empregará a língua. Assim, uma pessoa mais instruída poderia dizer, por exemplo: 
Nós vamos para casa agora, ao passo que alguém com um menor grau de instrução poderia 
dizer: Agora nóis vai pra casa. A variação diastrática é, muitas vezes, empregada como fator 
de discriminação, sobretudo, quando entendida erroneamente, ao relacionar camadas sociais 
mais elevadas com um conhecimento linguístico maior.
c) Variação diatópica: é a alteração do registro de fala de acordo com o local em que a 
língua é falada, correspondendo aos falares regionais. Essa forma de variação é, certamente, 
a que causa maior estranhamento nos indivíduos. Assim, na fala de um gaúcho perceberíamos 
diferenças léxicas, morfológicas e fônicas, se comparássemos a sua fala com a de outras 
regiões. Ele diria, por exemplo: Tu vais comprar aipim?, ao passo que em outras regiões 
normalmente ouviríamos: Você vai comprar mandioca? Essa forma de variação, por vezes, 
também é fator de discriminação, sobretudo, quando se fazem afirmações que promulgam 
determinada variante regional melhor e mais correta do que a de outras regiões. Tal forma de 
considerar nunca é movida por critérios linguísticos, mas sim por interesses políticos e, por 
vezes, financeiros, o que exige que nos mantenhamos cautelosos diante de tais situações.
d) Variação diacrônica: é a alteração do registro de fala com o decorrer dotempo. Essa 
alteração é bastante perceptível se considerarmos as gírias empregadas em cada época. Uma 
pessoa que nasceu nos anos 1950 provavelmente conheceu as palavras supimpa, barato, 
maneiro, massa, todas com a noção da palavra legal, empregada atualmente. Essa pessoa 
provavelmente também atualizou a sua forma de falar e dificilmente se pode imaginar alguém 
empregando a palavra supimpa nos dias atuais. Essa variação é mais difícil de ser percebida 
pelo fato de requerer certo grau de conhecimento da história da língua, ao menos de algumas 
décadas.
Além da definição dos conceitos de língua e de linguagem, é importante também definir de 
forma mais detalhada o conceito de gramática, o que será feito nos próximos parágrafos. 
23LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
o CoNCEITo dE GrAMÁTICA
Ao se estudar a linguagem, deparamo-nos frequentemente com o termo gramática. As 
concepções veiculadas por este termo podem ser bastante variadas, tendo seguido também 
o curso de desenvolvimento da linguística. Embora haja diversas concepções de gramática 
que, por vezes, parecem incompatíveis entre si, pois apresentam diferentes metodologias e 
terminologias para considerar o mesmo fato – a linguagem – essas mantêm pontos em comum 
entre si. Verificaremos isso nos parágrafos seguintes, em que descreveremos brevemente a 
evolução histórica e as diferenças epistemológicas entre as diferentes acepções do termo 
gramática.
Na antiguidade, incluindo-se aí não somente a Grécia Antiga e Roma, mas também a China 
e a Índia, a noção de gramática representava um conjunto de regras a serem seguidas para 
falar e escrever de forma clara e racional. Essa concepção visava, sobretudo, a fins práticos 
de preservação da forma original da língua em questão, considerada dádiva dos deuses e 
empregada, por conseguinte, em rituais religiosos. Tinha-se o objetivo de prescrever o que 
seria a língua correta, apresentando a esse tipo de gramática características altamente 
reguladoras, motivo pelo qual ela é chamada de gramática prescritiva ou gramática normativa. 
Nesse período, surgiu a noção de certo e de errado na língua, concepção essa que se 
mantém até os dias atuais, sobretudo entre, o público leigo. Pelo fato de apresentar um caráter 
exclusivamente pedagógico, a gramática normativa não tem pretensões científicas. Ela pode 
ser definida como um conjunto de regras aprioristicamente estabelecidas, que visam a orientar 
os falantes pertencentes à determinada comunidade linguística no emprego da variante culta de 
sua língua. O seu caráter prescritivo surgiu com os primeiros estudos gramaticais dos gregos, 
muito embora outras civilizações também já apresentassem esse conceito. A fundamentação 
para as regras a serem seguidas se encontra em padrões literários, geralmente antigos e 
idiossincráticos. É nessa época que surgem os germes da gramática tradicional, de caráter 
normativo e prescritivista. A respeito dessa questão, Saussure (2012, p. 31) afirma:
24 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Começou-se por fazer o que se chamava de “Gramática”. Esse estudo, inaugurado 
pelos gregos, e continuado principalmente pelos franceses, é baseado na lógica e 
está desprovido de qualquer visão científica e desinteressada da própria língua; visa 
unicamente a formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas; é 
uma disciplina normativa, muito afastada da pura observação e cujo ponto de vista é 
forçosamente estreito.
A gramática tradicional apresenta alguns problemas interessantes que não podem ser 
negligenciados. O aspecto mais notório desse tipo de gramática é a deficiência no tratamento 
dado ao uso efetivo da língua, apresentando como exemplo somente a língua de grandes 
escritores do passado. Assim, as características do estado atual da língua são deixadas de 
lado, apresentando, em lugar delas, arcaísmos que não encontram mais uso na língua atual. 
Em língua portuguesa, por exemplo, o uso da forma cadê?, derivada da expressão que é feito 
de?, é condenado em gramaticas mais tradicionais. Entretanto, a última expressão não pode 
mais ser considerada como fazendo parte do atual estado da língua.
Outra questão importante a ser considerada é o fato de a língua falada ser relegada a segundo 
plano, por vezes ocorrendo também a confusão entre a variedade falada e escrita. Para 
exemplificar esse fato, podemos citar a questão da metaépia em português, que faz com que 
as vogais /e/ e /o/ sejam pronunciadas /i/ e /u/ em posição átona, respectivamente: menino 
/miniː nʊ/, livro /livrʊ/, pequeno /pikenʊ/. De modo semelhante, poderíamos citar a questão da 
metafonia em português, ou seja, a alternância de o fechado /o/ para o aberto /ɔ/, sobretudo, 
em formas do plural. Essa questão está ausente da maioria das gramáticas tradicionais do 
português: poço – poços, povo – povos, porco – porcos, tijolo – tijolos, novo – novos, ovo – 
ovos. Pelo fato de não haver representação gráfica dessa alternância, estudantes estrangeiros 
de língua portuguesa terão dificuldades para compreender em quais casos ocorre a variação.
Ademais, mencione-se o fato de que as gramáticas tradicionais se detêm demasiadamente 
em questões secundárias da língua, omitindo questões importantes. As gramáticas de língua 
portuguesa costumam trabalhar exaustivamente os substantivos coletivos e os particípios 
duplos, por exemplo, deixando a sintaxe em segundo plano. É, sobretudo, nessa questão que 
25LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
se pode perceber o caráter prescritivista da gramática tradicional, visto que ela se preocupa 
mais em elencar exceções, a fim de que o falante evite erros, do que explicar a formação dos 
sintagmas, das orações e dos enunciados. Desse modo, é dada uma excessiva atenção à 
morfologia, deixando de lado a sintaxe. O resultado disso é um conjunto de regras esparsas 
que, por não apresentarem sistematicidade, não possibilitam a correta formação de orações 
complexas.
As falhas da gramática tradicional podem ser notadas não somente no plano do conteúdo, 
mas também no modo como os diversos tópicos gramaticais são apresentados. Assim, um 
dos principais problemas é a definição e explicação vaga de certos conceitos. Prescinde-se da 
clareza de expressão em prol de uma apresentação supostamente lógica e pouco elucidativa. 
A vagueza desse tipo de definição dificulta, quando não impede, uma correta compreensão 
dos fatos da língua. Desse modo, nota-se que as explicações apresentadas pelas gramáticas 
tradicionais são, muitas vezes, incorretas pelo fato de se fundamentarem em critérios de ordem 
diversa. A organização e a disposição das explicações da gramática tradicional favorecem 
uma dispersão das informações. Normalmente, as gramáticas classificam as suas explicações 
a partir das tradicionais classes de palavras.
Desde tempos remotos, a gramática esteve atrelada ao pensamento filosófico, sobretudo, na 
cultura greco-romana. Essa forma de pensar se desenvolve desde a Idade Antiga, atingindo 
o seu apogeu na Idade Média, momento em que surge a chamada gramática filosófica, que 
objetivava descrever as línguas a partir das leis que regem o pensamento. Nessa época, 
acreditava-se que o funcionamento e a organização das línguas refletiam fielmente as leis do 
raciocínio, ideia que foi abandonada séculos mais tarde.
Quando a gramática filosófica deixou de ser um referencial para os estudos linguísticos, 
passou-se a considerar a língua como um reflexo dos processos humanos, marcados pela 
emoção e pelos sentimentos. Esses aspectos psicológicos, exteriorizados pela linguagem, 
passaram a ser considerados nos estudos gramaticais, advindo daí a denominação gramática 
psicológica.
26 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Com os desenvolvimentos posteriores dos estudos linguísticos, e devido a um conhecimento 
mais extensivo das diversas línguas do mundo, os estudiosos notaram a semelhança entrea 
estrutura básica de todas as línguas, demonstrando que a sua estruturação se fundamentava 
em critérios altamente racionais. Assim, entendia-se a linguagem humana, aqui no sentido de 
conjunto de todas as línguas naturais, como um sistema universal, portanto, um conjunto de 
regras básico aprendido na infância, que está à disposição dos falantes de uma comunidade 
linguística e que possibilita formar os enunciados das línguas particulares. Essa forma de 
pensar constituía o que hodiernamente se costuma denominar gramática universal.
Outro termo corrente na linguística é gramática internalizada. Esse tipo de gramática 
considera as línguas como sistemas de normas que regularizam e possibilitam o emprego 
e a consequente combinação das unidades e das estruturas linguísticas que as compõem. 
Desse modo, as línguas naturais formam um sistema de possibilidades linguísticas, do qual se 
servem os falantes de determinada comunidade linguística. Esse fato, já referido por Ferdinand 
de Saussure no ano de 1913, tornar-se-ia um dos conceitos estruturadores de várias teorias 
linguísticas que surgiriam após o estruturalismo, como o gerativismo e o funcionalismo.
O conjunto de possibilidades linguísticas a que aludimos anteriormente constitui a língua 
em si, coincidindo, nesse caso, com o conceito de gramática. A gramática, nessa forma de 
considerar, é o conjunto de conhecimentos linguísticos do falante que se estabelecem de 
maneira gradual em sua memória, desde os primeiros anos de vida em diante. A assimilação 
da gramática, no sentido de língua, ocorre de maneira espontânea, bastando a criança estar 
em contato com determinada língua e receber estímulos positivos que contribuam para que ela 
a aprenda. Por esse motivo, todo ser humano, em condições normais, domina alguma língua 
com eficiência, ou seja, de forma profunda, que permita comunicação com outros indivíduos, 
falantes da mesma língua. Assim, todos conhecem uma gramática que oferece as regras para 
a exteriorização do pensamento e para o estabelecimento de comunicação, embora nem 
sempre tenham consciência desse conhecimento.
A gramática internalizada permite aos falantes analisarem diversos aspectos das elocuções 
27LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
que ouvem, por exemplo, se um enunciado está corretamente estruturado (*Água um beber de 
gostaria pouco eu. / Eu gostaria de beber um pouco de água.), se ele apresenta relações de 
significado corretas (*Conversei com o fogo sonolento. / Conversei com o motorista sonolento.) 
e em quais situações ele pode ser empregado (Fale baixo! / O senhor poderia, por obséquio, 
falar mais baixo?). A partir desses aspectos, podemos explicar a noção de gramaticalidade, 
que equivale basicamente à noção de aceitabilidade de uma elocução linguística.
O conhecimento gramatical internalizado dos falantes nunca é homogêneo, como preveem 
algumas concepções de linguagem. Assim, a língua internalizada pelos falantes apresenta 
diferenças quanto ao seu uso em determinada região, nível social e também no que se refere 
ao estilo da língua, o que, todavia, não impede a comunicação e a compreensão mútuas.
A língua, devido ao seu caráter sistêmico, apresenta regularidade e organização estrutural. 
Essas características são passíveis de análise e, consequentemente, de descrição, surgindo 
daí o conceito de gramática descritiva.
A descrição de uma língua pode abranger diferentes níveis, partindo de unidades mínimas, como 
os fonemas e os morfemas, passando pelo estudo das palavras, dos sintagmas, das orações, 
dos enunciados, para chegar, por fim, ao texto e ao discurso. A descrição gramatical objetiva 
demonstrar a forma como essas unidades se exteriorizam em forma de sons (fonologia); como 
diferentes unidades se combinam para expressar novos significados e formar novas palavras 
(morfologia); como elas são dispostas e organizadas nas orações e nos enunciados (sintaxe), 
além de procurar explicar os diferentes valores e significados de uma mesma palavra de acordo 
com o contexto em que está situada (semântica). Por conseguinte, a gramática descritiva, 
diferentemente da gramática normativa, objetiva descrever as possibilidades combinatórias 
e discursivas de uma língua sem fazer juízos de valor sobre elas. Por esse motivo, todas as 
variedades da língua podem servir como objeto de estudo para o linguista, prevalecendo, 
nesse tipo de gramática, o caráter científico.
A língua apresenta determinado grau de fixidez, no sentido de que não podemos alterá-la 
28 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
completamente para obter determinado propósito: temos sempre de nos valer de estruturas, 
formas e palavras estabelecidas em uma espécie de acordo implícito entre os falantes de 
uma comunidade linguística. Apesar disso, há certa liberdade para a criação e a alteração 
dos elementos e estruturas já existentes quando o contexto ou a situação assim o exigirem; 
por outro lado, o caráter histórico da língua, quer dizer, o seu estabelecimento por meio de 
um grupo de falantes em determinado momento, impede que a alteração se suceda de forma 
descontrolada. Caso a língua se alterasse de maneira profunda em pouco tempo, surgiriam 
sérios impedimentos à comunicação. A partir desse fato, percebe-se que a língua é, antes de 
mais nada, uma instituição social, e que os indivíduos falantes não apresentam liberdade com 
relação à linguagem.
Por volta do século XIX, surgiu na Europa uma corrente marcada pela comparação entre 
diversas línguas, geralmente pertencentes a uma mesma família linguística. Essa corrente 
fora denominada gramática comparativa. Além dessa forma de considerar os fenômenos 
da linguagem, procurava-se também analisar as línguas à luz de seu desenvolvimento: as 
línguas apresentam, além de uma realidade estrutural e de uma realidade social, uma 
realidade histórica, que, de certa maneira, se entrelaça com as duas anteriores. Devido à 
sua importância, procurou-se explicar a linguagem a partir de uma perspectiva que levava em 
consideração as mudanças ocorridas em determinada língua, a fim de determinar direções 
gerais de desenvolvimento. A esse tipo de gramática, voltada ao estudo histórico das línguas, 
denominou-se gramática histórica.
Considerando separadamente cada um desses conceitos de gramática, chega-se a conclusões 
pouco frutíferas: comparar línguas sem um critério histórico é de pouco valor, permitindo 
apenas mostrar quantitativamente as semelhanças entre duas ou mais línguas. De modo 
semelhante, analisar a história de uma língua sem tecer comparações com outras línguas 
pode levar a conclusões errôneas a respeito do seu desenvolvimento histórico. Pelo fato de as 
fraquezas de cada concepção de gramática terem sido reconhecidas, passou-se a reuni-las 
sob a denominação gramática histórico-comparativa. O seu principal objetivo é, portanto, 
29LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
oferecer uma descrição científica do desenvolvimento das línguas, organizadas em períodos 
bem definidos, por meio de comparações sistemáticas entre elas.
Conforme vimos, o conceito de gramática é bastante amplo e, por vezes, parece-se confundir 
com o conceito de linguística. Devemos, no entanto, ser cautelosos ao empregar cada termo: 
gramática se refere à sistematização e descrição do conjunto de fenômenos, possibilidades 
combinatórias, regras e tendências de uma língua; já a linguística remete ao estudo do conjunto 
de gramáticas. Desse modo, pode-se dizer que a linguística constitui um superconjunto da 
gramática.
oBJETIVo E oBJETo dE ESTUdo dA LINGUÍSTICA
O objetivo principal da Linguística é estudar a linguagem humana, manifestada em forma de 
línguas naturais, e dessas línguas depreender e explicar leis, regras e tendências gerais que 
regulam os sistemas imanentes a essas línguas. Embora compartilhando o mesmo objeto 
de estudo, as diferentes teorias linguísticas não partilham da mesmaconcepção de língua, 
havendo, portanto, diferentes orientações teóricas nelas presentes. Assim, para algumas 
delas, o termo lei parecerá por demasiado restrito, para outras, o termo regra terá uma 
conotação prescritivista; outras, ainda, consideram o termo tendência demasiadamente vago. 
A linguística apresenta múltiplas concepções acerca do que é e de como se constitui esse 
sistema. A respeito disso, Moura Neves (2002, p. 11) mostra que,
Depois de organizada a ciência linguística, passa a língua a ser verdadeiro objeto 
de estudo, constituindo-se um método próprio de investigação linguística. Diferentes 
correntes, então, se sucedem, assentadas em diferentes concepções de linguagem 
e governadas por diferentes finalidades. Centradas nas estruturas, ou centradas em 
princípios gerais, centradas no conhecimento linguístico do falante, ou centradas 
no uso, as diversas correntes explicitam seus princípios e oferecem suas análises, 
seguindo tais princípios.
Dessa maneira, relativamente ao seu objeto de estudo e às metodologias empregadas, 
podemos dividir os estudos linguísticos em três períodos principais.
30 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
O primeiro período se estende desde o momento da criação do primeiro sistema de escrita até 
por volta do fim do século XVIII. Todos os povos da antiguidade que se dedicavam ao estudo 
de sua língua apresentavam dois pontos em comum: a consideração primária, por vezes, 
exclusiva de sua língua, vista como superior, e a grande preocupação com a designação 
da palavra e a sua relação com as coisas por ela denominadas. A tendência, portanto, é 
surgir primeiramente um interesse lexicográfico, voltado para a confecção de dicionários com 
objetivos bastantes específicos, como os que elucidam o significado de palavras empregadas 
em rituais ou de palavras arcaicas, os que trazem listas de rimas etc., e apenas posteriormente 
se estabelecerem as bases para um tratamento gramatical da língua. Bastante marcante para 
esse período é também a relação entre religião, filosofia e língua: pelo fato de ser considerada 
um dom divino ou um sistema natural, os estudos da linguagem quase sempre se subordinavam 
a estas duas outras áreas.
O estudo da linguagem na antiguidade tinha também uma finalidade prática, voltada, na maioria 
das vezes, à preservação e à interpretação de textos literários, considerados exemplos de uso 
correto e elegante da língua. Com essa forma de pensar, estabeleceu-se, relativamente ao uso 
da língua, uma orientação prescritivista, regida por normas que comandariam o bom uso da 
língua. Essa visão, preservada até hoje em manuais escolares e em gramáticas normativas, 
é a mais importante característica que diferencia a linguística antiga da linguística moderna. 
Parte desse caráter normativo era orientado também pela necessidade de unidade nacional 
por meio da língua. Devido às concepções epistemológicas em voga na época, não havia uma 
real distinção entre língua e linguagem.
Embora diversas civilizações tenham se dedicado ao estudo da língua, como os hindus, os árabes, 
os chineses, toda a nossa tradição linguístico-gramatical se fundamentou em modelos greco-
romanos, que exerceram significativa influência até por volta do final do século XVIII, momento 
em que ocorre uma enorme ruptura epistemológica no campo dos estudos da linguagem.
O segundo período, que podemos denominar histórico-comparativo, apresenta uma nova forma 
de considerar as línguas por meio do estabelecimento de comparações sistemáticas entre 
31LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
elas e da consideração do seu caráter histórico. Diferentemente do que se fazia no período 
anterior, em que se buscava explicar a língua por meio da filosofia e da religião, no período 
histórico-comparativo buscava-se chegar, por meio de comparações, à língua primordial que 
teria originado as línguas faladas na Europa e na Índia. Assim, o interesse por uma única 
língua foi considerado infrutífero, e passou-se a levar em conta tantas línguas quanto possível. 
Empreendeu-se, então, uma incessante busca da língua-mãe, mais tarde denominada 
indo-europeu. As primeiras comparações feitas agrupavam línguas de períodos cronológicos 
muito distintos; por vezes, eram separadas por um abismo temporal de um ou até dois milênios. 
Apenas mais tarde é que se passou a comparar as línguas com base no momento histórico 
de sua existência, daí o motivo de esses estudos serem denominados histórico-comparativos. 
Essa forma de consideração permitiu detectar a extensão das mudanças ocorridas e o modo 
como elas se estabeleceram. De modo a manter a homogeneidade de suas análises, a 
gramática histórico-comparativa omitia deliberadamente quaisquer características dialetais, 
culturais ou sociais da linguagem, o que mais tarde seria apontado como um dos defeitos 
conceptuais e metodológicos desse período.
Essa postura metodológica fez com que os linguistas voltassem a sua atenção para as 
regras que coordenavam a mudança, levando ao estabelecimento das famosas leis fonéticas, 
consideradas, a princípio, sem exceção. Devido à constatação de algumas exceções, buscou-se 
as explicar por meio do conceito de analogia, que previa que as formas linguísticas poderiam 
ser alteradas, a fim de se adequarem a paradigmas mais comuns, ou seja, que se manifestavam 
em mais palavras. A preocupação histórica se manteve até o início do século XX, quando o 
interesse da linguística passou a se concentrar em períodos bem definidos da história das 
línguas.
O terceiro período, que se estende do início do século XX até os dias atuais, é caracterizado, 
sobremaneira, pelo seu caráter sincrônico e pela sua diversidade teórica.
Após a publicação da obra Curso de linguística geral, de Ferdinand de Saussure, a 
investigação linguística voltou a sua atenção para o caráter sistêmico da linguagem. O objetivo 
32 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
do estudo não mais se restringia apenas às línguas da Europa e da Índia, mas procurava-se 
analisar o máximo de línguas possível, de modo a obter um modelo teórico adequado. Esse 
momento é caracterizado por um forte empirismo, ou seja, qualquer hipótese postulada 
deve ser submetida à análise com dados reais e diversificados, a fim de que possa ter a sua 
validade comprovada. Consequentemente, diversos aspectos da língua, escamoteados nos 
períodos anteriores, passaram não somente a ser considerados, mas constituíram a diretriz de 
pesquisa fundamental de diversas teorias. O florescimento desses posicionamentos teóricos 
tão heterogêneos exigiu, de certo modo, que as afinidades com outras áreas também fossem 
diversificadas.
As teorias linguísticas contemporâneas se dedicam a questões bastante pontuais da linguagem, 
e sua heterogeneidade teórica permite dividir a Linguística em correntes, que objetivam, 
cada uma ao seu modo, estudar o complexo fenômeno da linguagem. Vejamos as diferentes 
concepções e princípios por elas veiculados:
• língua como sistema extrínseco ao ser humano, constituindo um organismo autônomo;
• língua como conhecimento inato;
• língua como característica do falante;
• língua como sistema intrínseco;
• língua como sistema extrínseco;
• língua como soma de relações sociais.
Pode-se dizer, dessa maneira, que o objeto de estudo da Linguística é multifacetado e 
compreende diversos aspectos da linguagem humana. A respeito desse assunto, Martelotta 
(2009, p. 21) afirma que:
33LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
A linguística tem como objeto de estudo a linguagem humana através da observação 
de sua manifestação oral ou escrita (ou gestual, no caso da língua de sinais). Seu 
objetivo final é depreender os princípios fundamentais que regem essa capacidade 
exclusivamente humana de expressão por meio de línguas. Para atingir esse objetivo, os 
lingüistas analisam como as línguas naturais se estruturam e funcionam. A investigaçãode diferentes aspectos das diversas línguas do mundo é o procedimento seguido para 
detectar as características da faculdade da linguagem: o que há de universal e inato, o 
que há de cultural e adquirido, entre outras coisas.
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A Linguística, ao se ocupar com diversas áreas, acaba estabelecendo divisões internas 
relativamente ao seu objeto de estudo. Primordialmente, a Linguística dava mais atenção 
à morfologia do que a qualquer outra questão: procurava-se estudar as características 
morfológicas das línguas, estabelecendo classificações tipológicas (como língua flexional, 
isolante, aglutinante, polissintética). A respeito dessa questão, Charlier (1981, p. 30) afirma:
[…] Uns, considerando as línguas como organismos naturais que nascem, vivem e 
morrem, procuram estabelecer as leis a que estas existências estão submetidas, com o 
mesmo rigor das leis da física ou da química. Outros definem com precisão os critérios 
que permitem classificar as línguas em tipos, por exemplo, em línguas “isolantes” (as 
palavras são invariáveis e justapostas, as relações que mantêm entre si são indicadas 
pela sua ordem e por palavras gramaticais; por exemplo, em chinês, algumas palavras 
apenas têm um sentido global e não têm categoria gramatical, sendo o seu lugar na 
frase que as faz perceber como nome, verbo, etc., com o sentido de, por exemplo, 
“altura”, “subir”, etc.), línguas “aglutinantes” (as palavras são compostas por várias 
“sub-palavras” aglutinadas, cada uma das quais exprime uma noção ou uma relação 
34 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
gramatical; por exemplo, em turco, “a minha rosa” é expresso por “rosa + feminino + 
singular + mim”) e línguas “flexivas” (as palavras têm desinências, modificações da 
sua forma, que marcam simultaneamente várias noções e relações gramaticais; por 
exemplo, em latim, caso + número + gênero = 1 desinência). […]
Posteriormente, a preocupação maior era com a estrutura das línguas: estudava-se a sintaxe, 
a colocação dos elementos principais da oração (a tríade sujeito - verbo - objeto, tão recorrente 
nas classificações tipológicas das línguas). Como os estudos linguísticos que levavam em conta 
critérios morfossintáticos pareciam insuficientes para alguns linguistas, passou-se a considerar 
o sujeito falante e as variações resultantes do uso efetivo da língua: buscou-se trabalhar a 
linguística sob um prisma sociológico, antropológico, filosófico e histórico. Entretanto, nem todas 
as teorias incluem essa vasta gama de áreas: algumas se ocupam mais com o papel social 
do indivíduo falante, outras com a posição histórica deste com relação à sua língua. Poderia 
se dizer que as concepções teóricas da Linguística são tão complexas e imbricadas quanto 
o seu objeto de estudo. Há, na linguística, também, a corrente imanentista, que considera a 
linguagem intrínseca aos seres humanos, definindo-a como uma característica inata.
De modo semelhante a como a Linguística do século XIX procurou o protótipo das línguas 
indo-europeias, a linguística do século XX buscou o protótipo das línguas naturais humanas: 
essa espécie de arquétipo comum a todas as línguas naturais é denominada gramática universal. 
As regras que determinam o seu funcionamento interno constituem os universais linguísticos. 
Há também as teorias voltadas ao significado das palavras isoladas ou em contextos, que se 
denomina semântica, e a análise do efeito desses significados em enunciados efetivamente 
produzidos, o que então é chamado pragmática.
proprIEdAdES dA LINGUAGEM HUMANA
O domínio da linguagem é intrínseco à nossa espécie: onde há seres humanos, também 
há linguagem. Por isso, a linguagem é o marco estruturador de toda a nossa existência: 
sem linguagem, não haveria sociedade, não haveria nem religião nem ciência. Questões 
extremamente diversas, de complexidade variável, por vezes contraditórias, são todas 
35LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
reunidas sob a égide da linguagem e por ela perpassadas. Assim, a linguagem, estruturadora 
do ser humano e de tudo o que o torna humano, é onipresente. Todo ser humano, submetido 
a condições apropriadas e com o devido estímulo cognitivo, desenvolve linguagem articulada. 
Poderíamos ainda complementar essa asserção: a linguagem é única dos seres humanos, 
e permite estruturar o mundo físico, estabelecer e permear as relações sociais que nele 
ocorrem. A sociedade humana como a conhecemos só pode existir por meio da linguagem. 
Com referência a essa questão, Neves (2002, p.17) afirma:
Por natureza racional, dotado de linguagem, o animal homem estrutura seu pensamento 
em cadeias faladas. Codifica-as e decodifica-as porque, independentemente de alguém 
que anuncie isso, ele é senhor das regras que regem a combinação dos elementos das 
cadeias que tem a faculdade de produzir. A partir dessa faculdade que lhe dá sua 
natureza, o homem cumpre sua vocação de animal político [...] comunicando-se com 
voz articulada que produz sentido e, assim, criando uma sociedade política.
Por esse motivo, quaisquer outras características biológicas e, inclusive, comportamentais 
aplicadas aos animais, podem ser aplicadas aos seres humanos, no entanto, a linguagem é 
característica única de nossa espécie. Além disso, a linguagem humana se diferencia das ditas 
linguagens animais por algumas características:
reflexividade: apesar de a comunicação ser considerada a função primária da linguagem 
humana, ela não constitui um traço distintivo, pois várias espécies animais apresentam 
algum tipo de comunicação. Entretanto, apenas os seres humanos conseguem se referir à 
linguagem empregando a linguagem. Essa característica é denominada reflexividade. Sem ela, 
dificilmente poderíamos pensar sobre a língua e estabelecer organizações e divisões internas 
a ela e, por conseguinte, não poderíamos identificar as outras características da linguagem 
humana. Assim, se dissermos que chover é um verbo, estaremos nos referindo à linguagem 
com o emprego da própria linguagem.
deslocamento: os seres humanos, em qualquer língua, conseguem se referir a momentos 
que não se situam no presente imediato, fazendo referências ao que passou e ao que está 
por vir. Como consequência disso, podemos nos referir também a entidades imaginárias, que 
36 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
não existem em momento algum. Dessa maneira, orações como as elencadas abaixo não 
poderiam ser produzidas por linguagem animal, por mais evoluída e complexa que ela possa 
ser:
(1) Viajarei só depois de amanhã.
(2) Comprei este livro na semana passada.
A simples falta de referência a momentos temporais que divergem do momento da elocução, do 
presente, já constituem impedimentos suficientes para a existência de sistemas comunicativos 
eficientes. Como se isso já não fosse o bastante para impedir a existência de sistemas de 
comunicação animal complexos, temos de lembrar que a linguagem humana, além de poder 
fazer referência ao passado e ao futuro, consegue fazer referências secundárias a esses 
momentos temporais, tomando-os como ponto de partida. Vejamos alguns exemplos:
(3) Depois que haviam terminado a construção da mansão, José passaria a morar nela.
(4) Ele vivera nove anos em uma casa alugada, até que se mudou para uma casa própria.
(5) Quando você chegar, terei terminado o meu trabalho.
Expliquemos os enunciados apresentados acima: no exemplo (3), a ação descrita faz referência 
a um ponto qualquer do passado e, tomando-a como referência temporal, descreve-se uma 
ação realizada ainda no passado, mas que ocorreu depois da primeira ação. Dessa forma, 
mesmo havendo a indicação de dois momentos temporais distintos, não se chega a expressar 
o presente. O exemplo (4), que também se refere ao passado, contém duas indicações de 
tempo passado: a primeira se refere a uma ação ocorrida em um ponto temporal anteriorà 
segunda ação. De modo semelhante ao exemplo (3), o presente não é expresso, apesar da 
dupla indicação temporal. No caso do exemplo (5), toma-se, inicialmente, um momento futuro 
como ponto de referência temporal para, em seguida, elencar uma ação que ocorreu antes 
desse tempo. O presente também não é expresso.
Arbitrariedade: esta característica se refere ao fato de não haver uma relação natural 
entre a forma linguística e o seu significado. Assim, se compararmos a palavra árvore em 
37LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
várias línguas, perceberemos que nenhuma delas apresenta traços icônicos, ou seja, que 
apresentem alguma motivação natural, remetendo a um objeto com tronco, galhos, ramos e 
folhas, geralmente verdes, que pode produzir flores e/ou frutos:
português Alemão Inglês russo Japonês
árvore Baum tree djerevo ki
Fonte: elaborado pelo autor
A arbitrariedade pode ser comprovada apresentando-se essas palavras a pessoas que não as 
conheçam: nenhum traço ou características nelas presentes, sejam elas formais ou fônicas, 
indicam que se trata de uma árvore. Nem mesmo as onomatopeias, que parecem lembrar 
certos sons, como os de animais, são icônicas. Assim, se compararmos, a título de exemplo, o 
som do latido do cachorro em várias línguas, logo perceberemos a sua arbitrariedade:
português Inglês Alemão russo Espanhol Chinês Japonês
au-au woof-woof wau-wau gav-gav guau-guau wou-wou wan-wan
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Latido>
Por esse motivo, afirma-se que o significado das palavras é totalmente arbitrário, no entanto, 
convencional, ou seja, estabelecido por uma comunidade linguística.
produtividade: esta característica se refere à capacidade do ser humano em produzir novas 
expressões linguísticas por meio da manipulação e da alteração do inventário linguístico que 
possui, com o intuito de descrever novos fatos, objetos e situações. A capacidade de criação 
de novas expressões é infinita.
Transmissão cultural: diferentemente de outras características, herdadas geneticamente, a 
linguagem tem de ser transmitida culturalmente. Embora tenhamos predisposição a aprender 
uma língua, não nascemos com a capacidade de produzir expressões linguísticas.
dualidade: esta característica, também conhecida como dupla articulação, se refere ao 
fato de as línguas humanas serem organizadas simultaneamente em dois níveis distintos. 
38 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
Assim, temos um nível em que são considerados os sons da fala, por exemplo, [a], [l], [v]. 
Isoladamente, esses sons não apresentam qualquer significado. Se forem combinados, podem 
produzir várias palavras com significados diferentes: lava, vala, aval. A dualidade permite 
produzir infinitas combinações com um número finito de sons, revelando-se uma característica 
bastante econômica das línguas humanas.
Nos últimos anos, áreas do conhecimento não ligadas diretamente à ciência linguística insistem em 
empregar o conceito de “linguagem animal”. Devido à relevância dessa questão, teçamos algumas 
refl exões sobre ela.
Sabemos que a linguagem é característica exclusiva do ser humano. Por que motivo a designação 
linguagem animal seria inadequada? Os animais, diferentemente dos seres humanos, não têm a ca-
pacidade de produzir linguagem articulada, ou seja, não possuem um sistema formal de combinação 
de signos. Assim, apesar de os animais possuírem alguns signos, eles não conseguem combinar 
esses signos para produzir linguagem articulada. Mesmo as espécies de macacos que têm centenas 
de expressões e gritos, ainda não apresentam uma linguagem, pois não combinam esses elementos 
entre si, e nem conseguem interpretá-los. A linguagem articulada prevê uma organização formal, ou 
seja, exige que a língua apresente sintaxe e semântica, formando um sistema linguístico. Além dessa 
característica principal, há diversas outras características secundárias ausentes das “linguagens ani-
mais”, como o deslocamento temporal, ou seja, aquilo que os animais expressam refere-se somente 
ao momento presente imediato, não sendo possível a eles fazer referência ao passado ou ao futuro.
Fonte: elaborado pelo autor.
39LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
oUTrAS CArACTErÍSTICAS dA LINGUAGEM
As línguas apresentam, além das características já citadas anteriormente, outras propriedades, 
que constituíram, com uma influência maior ou menor, as teorias linguísticas. Assim, a questão 
sobre se a língua era arbitrária ou motivada deu origem à discussão, na Grécia Antiga, entre os 
naturalistas e os convencionalistas. Cerca de dois milênios mais tarde, Ferdinand de Saussure 
daria respaldo aos convencionalistas, ao afirmar que a língua é um conjunto de signos com 
valor arbitrário, convencionados por uma comunidade de falantes. Alguns anos depois, as 
teorias funcionalistas retomariam, de certa maneira, a ideia de que a língua apresenta relações 
motivadas entre a palavra com a sua representação sonora e a coisa representada, ao trabalhar 
com o princípio da iconicidade (o termo iconicidade designa uma relação de semelhança entre 
o signo – forma de expressão ou símbolo – e aquilo que ele representa).
Por outro lado, se consideradas de um ponto de vista formal, as línguas constituem sistemas 
que mesclam regularidade com irregularidade. A constatação desse fato já motivara o interesse 
dos filósofos gregos: os analogistas consideravam a língua como um sistema regular e os 
anomalistas viam a língua como um sistema irregular. Aproximadamente dois milênios depois, 
essa preocupação viria novamente à tona, embora com um foco e uma motivação diferente, 
com os gramáticos histórico-comparatistas que defendiam a regularidade das mudanças 
que ocorriam nas línguas. Os neogramáticos, que constituíam o movimento de oposição à 
gramática histórico-comparativa, enfatizaram, de forma ainda mais veemente, a ideia de que a 
mudança linguística ocorre de forma regular.
A constatação de que as línguas mudam com o passar do tempo foi outra motivação para 
o estudo das línguas. Com isso, percebeu-se que existia uma língua anterior, a chamada 
língua-mãe, e, dessa maneira, foram empreendidos inúmeros esforços no sentido de 
reconstruí-la. Procederam, desse modo, a gramática histórico-comparativa e a neogramática.
Posteriormente, por volta do início do século XX, o interesse na língua passou a se focar em 
suas características formais. Assim procedeu Ferdinand de Saussure, considerado o pai da 
40 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
linguística moderna, em seu Curso de Linguística Geral, obra postumamente publicada, em 
que ele considera a língua como um sistema.
No vídeo indicado a seguir, discute-se a questão da linguagem, relacionando-a com a questão da 
educação. A parte 1 do vídeo pode ser encontrada em:
<http://www.youtube.com/watch?v=I1Zusz__3e8>. 
E a parte 2 em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=4qr3CGs1Upg>.
Neste vídeo, são feitos questionamentos a respeito dos pré-requisitos biológicos para a comunicação 
falada e se nossa linguagem é uma característica intrínseca da nossa espécie. Ele pode ser acessado 
em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=cYJoXsfgenQ>.
o QUE É LINGUÍSTICA?
Nesse livro, Orlandi faz importantes elucidações 
sobre a história da linguística, desde o desenvol-
vimento do pensamento linguístico, por meio de 
abordagens que retratam seus precursores, até a 
linguística moderna, a sua aplicação, bem como as 
suas concepções acerca do objeto de estudo que 
têm em comum: a língua.
Assim, no primeiro capítulo, a autora discute a 
necessidade humana de obter conhecimento que, 
por sua vez, ocorre, sobretudo, via linguagem. 
Por isso, segundo ela, o interesse do homem pela 
linguagem remonta aos tempos mais longínquos, 
embora tenha alcançado status de ciência somen-
te a partir dos estudos de Ferdinand Saussure com 
o advento da Linguística Moderna.
41LINGUÍSTICA I | Educaçãoa Distância
Antes de se ater, contudo, a esse momento em si, a autora destaca obras e autores cujas contribui-
ções foram decisivas: tratam-se, por exemplo, das gramáticas gerais do século XVII e das gramáticas 
comparadas do século XIX, que constituem os alicerces sobre os quais se assentaram as bases de 
duas tendências dos estudos linguísticos: o Formalismo e o Sociologismo.
Já no terceiro capítulo, a autora dá prosseguimento à sua obra destacando como marco inicial da 
Linguística Moderna o Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure. Dentre os principais pos-
tulados dessa obra está o estabelecimento de quatro disciplinas que correspondem, por seu turno, 
a diferentes níveis de análise: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, e a semântica. A partir dessas 
definições, Saussure apresenta também as chamadas diacronias (língua x fala; sincronia x diacronia; 
sintagma x paradigma; significado x significante). Assim, segundo o estudioso, a linguística deveria se 
dedicar, primeiramente, ao estudo da Langue, ou seja, da língua, e, por extensão, deveria considerar a 
sincronia. Definia-se, então, aquilo que Ferdinand denominou Sistema e que, a posteriori, foi definido 
por seus sucessores por Estrutura. 
Orlandi nos ensina que o estudo das estruturas linguísticas deu origem a outra linha de pensamento 
linguístico, que é o Funcionalismo. Essa linha, por seu turno, considera as funções dos elementos 
desempenhadas sob qualquer um de seus aspectos.
Na sequência, agora no quarto capítulo, a autora dá continuidade ao assunto afirmando a existência 
de mais de um Funcionalismo e destaca aquele para o qual as funções que constituem a natureza 
da linguagem devem ser consideradas, pois que caracterizam o papel de cada elemento no processo 
comunicativo: expressiva (centrada no emissor), conativa (centrada no receptor), referencial (centrada 
no referente), fática (centrada no canal), poética e metalinguísticas (centradas no código).
No quinto e último capítulo, Orlandi deixa entrever a importância de a linguagem não ser engessada a 
uma única teoria, pois que não há apenas uma maneira de pensá-la. 
Destarte, a autora aponta algumas linhas de pensamento que ligaram diferentes épocas no único 
objetivo, que é compreender a linguagem. Para tanto, ela ainda faz algumas indicações bibliográficas 
que, com certeza, são muito importantes para a compreensão mais exaustiva e abrangente dessa 
ciência que é a Linguística.
Fonte: elaborado pelo autor.
42 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
TENdÊNCIAS ATUAIS dA LINGUÍSTICA E dA FILoLo-
GIA No BrASIL
Primeiramente, a obra de Anthony Julius Naro apresenta 
um levantamento bibliográfi co referente aos estudos de-
senvolvidos no Brasil (até meados dos anos 1970) nas 
áreas de Linguística e de Filologia. Embora não explici-
tamente, podemos identifi car sua concepção acerca do 
que, de fato, vem a ser o objetivo da Linguística a partir do 
Gerativismo de Noam Chomsky. A partir dessas conside-
rações, o autor faz uma divisão do campo linguístico bra-
sileiro que, segundo ele, se organiza em duas correntes: 
a norte-americana, advinda das propostas de Chomsky, 
Halle, bem como de colaboradores posteriores, e a fran-
cesa, cujas bases se assentam nos estudos de Greimas 
e Pottier.
Terminada essa primeira etapa, o autor tece, então, al-
gumas considerações que nos direcionam no sentido de desconsiderar os trabalhos de orientação 
francesa como genuinamente linguísticos. Isso porque, segundo ele, o trabalho com essa corrente 
está limitado a um único pesquisador.
Consequentemente, o enfoque de Julius Naro volta-se à linguística norte-americana, ou gerativa. 
Trata-se de uma obra essencial, pois possibilita a compreensão de fatos referentes à história da lin-
guística, fundamentais para a formação do futuro profi ssional de línguas.
Fonte: elaborado pelo autor.
CoNSIdErAçÕES FINAIS
Nesta unidade, vimos o porquê de a linguagem ser considerada uma capacidade única da 
espécie humana, a qual, devido à sua função comunicativa, permite a existência de sociedades. 
Partindo dessa noção, foram elencadas e descritas, em seguida, as características que fazem 
com que a linguagem humana se diferencie das linguagens animais, conferindo a nós uma 
capacidade comunicativa complexa e altamente eficiente.
Diferenciou-se também o conceito de língua e de linguagem e foram apresentadas algumas de 
suas propriedades formais e comunicativas, que contribuíram para a formação das diferentes 
teorias linguísticas, tornando multifacetado e complexo o seu objeto de estudo.
43LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
ATIVIdAdES dE AUToESTUdo
1. A respeito da Linguística, reflita sobre as seguintes questões:
a) O que é Linguística?
b) Qual é o seu objeto de estudo?
2. Defina as seguintes características da linguagem humana:
a) Arbitrariedade.
b) Deslocamento.
c) Reflexividade.
3. Por quais motivos a linguagem é considerada uma característica eminentemente humana? 
Explique com suas palavras.
UNIdAdE II
orIGENS HISTÓrICAS dA LINGUÍSTICA
Professor Me. Adriano Steffler
objetivos de Aprendizagem
• Apontar cronologicamente a época dos primeiros estudos linguísticos.
• Explicar como os diferentes povos da antiguidade consideravam a linguagem.
• Mostrar os pontos de convergência entre os estudos da antiguidade e da moder-
nidade.
• Mostrar as contribuições desses estudos para a linguística.
plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
•	 origens históricas da linguística
•	 Estudos gramaticais no antigo oriente
•	 Estudos gramaticais na China
•	 Estudos gramaticais na Índia e a primeira gramática
•	 Estudos gramaticais na Arábia
•	 Estudos gramaticais na Grécia Antiga
•	 Estudos gramaticais em roma
47LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
INTrodUção
Nesta unidade, faremos uma incursão nos períodos históricos dos estudos linguístico-gramaticais 
na antiguidade, apresentando a forma como os povos antigos, a saber, os hindus, os árabes, 
os gregos e os romanos, concebiam a língua e a linguagem.
O objetivo principal desta unidade é apresentar as origens históricas da linguística e introduzir 
a reflexão sobre como ocorreu a evolução dos estudos linguísticos. Essa forma de proceder 
tem por objetivo possibilitar a você, aluno(a), compreender como as reflexões estabelecidas 
pelos povos antigos contribuíram, de forma contundente, para estabelecer os fundamentos da 
linguística moderna.
A fim de manter a clareza, o texto desta unidade será dividido em seções, cada qual tratando 
de determinada cultura e de seus estudos. Vejamos, abaixo, os conteúdos de cada seção.
Veremos, primeiramente, como eram realizados os estudos linguísticos na Índia, que, em 
nossa tradição gramatical, permaneceu ofuscada pela cultura greco-latina e pelo exagerado 
etnocentrismo ocidental, a despeito de os estudos hindus terem sido muito mais avançados 
do que os realizados pelos gregos e pelos latinos. A gramática de Panini, a primeira de que se 
tem notícia, apresentava um rigor descritivo e metodológico ainda não superado por gramática 
de língua alguma.
Em seguida, veremos bastante brevemente a questão dos estudos gramaticais na Arábia, para 
depois passarmos à consideração dos estudos gramaticais na Grécia Antiga, considerada o 
berço da civilização ocidental.
Pelo fato de nossas gramáticas tradicionais terem herdado, ainda que indiretamente pela 
gramática latina, os conceitos linguísticos e gramaticais dos gregos, mostraremos também 
como ocorreu o desenvolvimento das categorias de palavras a partir das categorias do 
pensamento aristotélicas. Será possível ver que elas foram estabelecidas paulatinamente e 
48 LINGUÍSTICA I | Educação a Distância
levando em conta critérios diversos.
A questão da relação íntima entre filosofia, aqui entendida como lógica, e linguagem,

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