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CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS JURISDICIONAIS Prof. Marco Aurélio de Jesus Pio Classificações • Lato sensu, os atos jurisdicionais são classificados em duas ordens: a) Despachos de mero expediente: aqueles destinados ao impulso do processo, sem qualquer carga decisória. Relacionados ao cumprimento das várias etapas que integram cada procedimento legalmente previsto. Exemplos: determinação de que seja o réu citado, de que sejam intimadas testemunhas arroladas, vista às partes para que se manifestem sobre desistência de testemunhas, aprazamento de audiências etc. • Sem carga decisória, caracterizam-se pela irrecorribilidade, muito embora possam ensejar correição parcial pelo prejudicado se forem exarados contrário a lei. • Os despachos objetivam ordenar a sequência de atos do procedimento, até alcançar a sentença. • Se, em vez de ordem eles provocarem tumulto processual, surge o fenômeno chamado de inversão tumultuária, é cabe pedido correicional. • A correição parcial, não possui natureza recursal, e sim de medida administrativo-disciplinar contra atos de magistrado praticados por error in procedendo (erro de procedimento) ou abuso de poder. Classificações b) Decisões: pronunciamentos que produzem sucumbência, destinados a resolver incidentes processuais ou pôr fim a processo. • As decisões podem ser sentenças definitivas(condenatórias ou absolutórias) ou decisões interlocutórias (simples ou mistas). Sentenças definitivas de condenação ou de absolvição: • Também chamadas de sentenças stricto sensu, encontram-se em extremo oposto aos despachos de mero expediente. • São aquelas que põem fim ao processo, absolvendo ou condenando o réu, depois de esgotadas todas as etapas do procedimento. • Possuem carga decisória plena (julgam o mérito da causa em todos os seus aspectos) • Quanto ao órgão de que emanam, as sentenças definitivas poderão ser exaradas pelo juiz singular ou pelo juiz-presidente do Tribunal do Júri a partir de deliberação dos jurados. • Como geram sucumbência a uma das partes ou até mesmo a ambas (sucumbência recíproca), as sentenças sempre poderão ser impugnadas. Em regra, o recurso cabível será a apelação (art. 593, I e III, do CPP). • Exceção: Em crime político, não cabe apelação e recurso ordinário constitucional para o STF (art. 102, II, b). REQUISITOS FORMAIS DA SENTENÇA • O Código de Processo Penal, no art. 381 e seguintes, disciplina os requisitos formais da sentença penal. A ausência dessas formalidades torna viciada a decisão. Relatório • Trata-se do primeiro requisito obrigatório da sentença criminal, encontrando-se previsto, implicitamente, no art. 381, I e II, do CPP, quando dispõem que a sentença conterá “os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las” e “a exposição sucinta da acusação e da defesa”. • Em linhas gerais, o relatório consiste no resumo das principais etapas do procedimento e dos incidentes que, eventualmente, tenham sido suscitados ou resolvidos no curso do processo. • Ressalvada a hipótese prevista no art. 81, § 3.º, da Lei 9.099/1995, que dispensa o relatório nas sentenças do Juizado Especial Criminal, a ausência dessa formalidade é causa de nulidade absoluta da sentença, já que se trata de formalidade essencial do ato (art. 564, IV, do CPP). • O juiz na sentença não coloca o nome do Promotor de Justiça que subscreveu a denúncia, o Promotor fala em nome do Ministério Público e não em nome próprio. • Tratando-se, porém, de ação penal privada, a referência ao nome do querelante é obrigatória, sob pena de nulidade. • Quanto à ausência do nome da vítima na sentença proferida em ação penal pública, a omissão, quando muito, poderá caracterizar uma irregularidade, sem força para nulificar o ato. • Tocante à identificação do réu, trata-se de formalidade obrigatória sob pena de nulidade absoluta, com presunção de prejuízo. Mesmo porque, sendo a qualificação do acusado ou os elementos pelos quais se possa identificá-lo requisito obrigatório da denúncia e da queixa (art. 41 do CPP). • Sobre à exigência de exposição sucinta da acusação e da defesa, consiste na referência, pelo magistrado, às teses acusatórias e defensivas suscitadas no processo, importando a ausência, mais uma vez, em causa de nulidade. • Não é necessário, para fins de cumprir esta exigência legal, que o relatório seja minucioso. • Se, ausente menção às teses das partes no relatório, forem estas apreciadas na fundamentação não há que se falar em declaração de nulidade se não estiver concretamente demonstrado o prejuízo Motivação • A motivação é requisito geral das decisões judiciais, com previsão no art. 93, IX, da CF). • Em nível de legislação infraconstitucional, encontra-se no art. 381, incisos III e IV do CPP • O art. 155 do CPP estabelece que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida sob o contraditório judicial • Julgamentos sem motivação apenas são admitidos no Tribunal do Júri, já que, neste caso, os jurados, decidem pela íntima convicção. • A motivação deverá abranger tanto as matérias de fato relativas à autoria e à materialidade como as matérias jurídicas que constituem as teses de acusação e defesa. • Também, devem ser indicados os dispositivos de lei incidentes no caso concreto. Sua ausência implica em nulidade absoluta da decisão, salvo se, apesar de não mencionados expressamente, houver referência implícita a eles. • Na fundamentação devem ser examinadas todas as teses da acusação e defesa, sob pena de nulidade. • Mas, pode ser feita contextualmente, sem a necessidade de resposta individualizada a todos os argumentos, bastando que examine as circunstâncias fáticas e jurídicas relevantes, e apresentar tese contrastante com aquela defendida pelas partes, valendo-se da doutrina e da jurisprudência e das provas produzidas que lhe convenceram. • Esse é o entendimento dominante na visão dos tribunais. • Fundamentação ad relationem (ou per relationem) = Trata-se da hipótese em que o juiz, na sentença (e se estende aos acórdãos proferidos pelos tribunais), deixa de utilizar fundamentação de sua lavra para acolher manifestação das partes ou o teor de outra decisão judicial. • É entendimento majoritário de que tal tipo de fundamentação é válida e não fere a CF, desde que a decisão não se resuma a uma simples transcrição de outra peça, por exemplo da denúncia. • A sentença deve se ater ao objeto do processo, não podendo implicar: • Sentença citra petita é aquela que não analisa todos os fatos articulados na denúncia ou na queixa. Embora seja nula, é possível o saneamento da omissão mediante a oposição de embargos declaratórios. • Sentença ultra petita é aquela que vai além do que consta no pedido formulado pelo autor (v.g., condenando por roubo e estupro indivíduo acusado apenas do primeiro desses crimes). Tal decisão será absolutamente nula na parte em que extrapolar a imputação. • Sentença extra petita é aquela que reconhece objeto de natureza diversa à daquele requerido na inicial (v.g., condenando por furto o indivíduo acusado de estelionato). Esta modalidade decisória é absolutamente nula, não sendo possível saná-la nem mesmo por embargos de declaração, pois desobedece ao princípio da correlação. Dispositivo • Art. 381, V, do CPP = Trata-se da conclusão da sentença, isto é, o momento em que o julgador condena ou absolve o réu, indicando os respectivos dispositivos legais. • Tratando-se de sentença condenatória, deverá o juiz consignar o tipo legal (artigo de lei) pelo qual está sendo responsabilizado o réu. A falta dessa indicação é causa denulidade, que, todavia, estará sanada se tiver sido feita referência ao nomem iuris do crime. • Já na sentença absolutória, impõe-se ao magistrado declinar o fundamento dentre os os arts. 386, 397 ou 415 do CPP. • Isso é importante porque em certas hipóteses, a sentença penal absolutória elide a obrigação de indenizar, assegurando-se ao réu absolvido a certeza de que contra si não poderá ser intentada ação de reparação de danos pelo ofendido. • Isto ocorre nas hipóteses previstas nos arts. 65 do CPP e 935 do Código Civil: o fato praticado ao abrigo de excludentes de ilicitude, ou fica provada a inexistência do fato imputado ou provada a circunstância de não ter o réu concorrido para a prática da infração penal Autenticação • Art. 381, VI, do CPP = corresponde à aposição da assinatura do juiz. • A sua falta torna a sentença inexistente, pois é a subscrição pelo julgador que lhe confere autenticidade. • Quando proferida oralmente em audiência, só terá valor no momento em que o juiz, após redução a escrito, conferência e revisão, assiná-la. • Outra formalidade é a rubrica pelo juiz em todas as folhas da sentença, nos termos do art. 388 do CPP. Sua ausência gera mera irregularidade. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA ➢Fundamentos da absolvição (art. 386 do CPP) I. Estar provada a inexistência do fato: nesta situação, o juiz criminal constata a partir da prova coligida ao processo que o fato imputado na denúncia ou queixa evidentemente não ocorreu. • Nesta modalidade consoante a regra do art. 935 do CC, faz coisa julgada no cível afastando a possibilidade de ingresso posterior de ação de reparação dos danos supostamente causados com a infração penal. II. Não haver prova da existência do fato: trata-se da hipótese em que não foi comprovada a materialidade ou a existência do fato imputado. • Este fundamento da sentença não produz qualquer reflexo na esfera cível, sendo possível, a despeito da absolvição operada no juízo criminal, acionar o ofensor no juízo cível visando ao pagamento de indenização. III. Não constituir o fato infração penal: trata-se do reconhecimento da atipicidade da infração descrita na inicial. Nesta espécie de absolvição criminal também não haverá qualquer efeito civil sobre a obrigação de indenizar, que poderá ser normalmente discutida no juízo cível por meio da ação própria. IV. Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal: reconhece não ter o réu concorrido para a infração penal, se alinha ao art. 935 do Código Civil, e faz coisa julgada no cível. V. Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal: Tratando-se desta última situação, haverá coisa julgada cível, ex vi do art. 935 do CC. VI. Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre a sua existência: neste caso, há fundamentos distintos da absolvição criminal: a) Absolvição fundada em circunstâncias que excluam o crime: • também conhecidas como excludentes de ilicitude ou de antijuridicidade, são as tratadas no art. 23 do Código Penal. • Obs.: Muito embora a absolvição fundada em excludentes de ilicitude produza coisa julgada no cível (art. 65 do CPP) tal coisa julgada não prejudica o direito de terceiros. b) Causas que isentem o réu de pena: • art. 20, § 1.º, 1.ª parte, do CP (descriminantes putativas) • excludentes de culpabilidade propriamente ditas consagradas nos arts. 21 (erro de proibição inevitável), 22 (coação moral irresistível e obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal), 26, caput (inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), e 28, § 1.º (embriaguez fortuita completa). c) Fundada dúvida sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou de causas que isentem o réu de pena: • Fundamento: in dubio pro reo ou art. 386, VII, do CPP, que possui caráter residual. • contempla-se a hipótese em que, muito embora não haja certeza quanto à efetiva ocorrência destas situações, haja fundada dúvida a respeito. • cabe ponderar que a absolvição fundada em dúvida quanto à presença de excludente, seja ela qual for, não produzirá reflexos civis com o fim de excluir a obrigação de indenizar. VII. Não existir prova suficiente para a condenação: motivo residual, aplicável quando a prova dos autos revelar-se frágil, impondo-se a absolvição em razão do princípio in dubio pro reo. • Evidentemente, tal espécie de absolvição não gera qualquer repercussão na esfera cível, não obstando que venham o ofendido ou sucessores a mover ação ordinária de indenização em relação ao acusado. ➢Efeitos da sentença absolutória • Como efeito principal da sentença absolutória própria está a liberdade do réu, que caso esteja preso, deverá ser imediatamente posto em liberdade, não ficando suspenso este efeito pela superveniência de recurso da acusação (art. 386, parágrafo único, I, e art. 596 do CPP). • E quando se tratar de sentença absolutória imprópria? (art. 26, caput, do CP, e art. 386, VI, 2.ª parte e parágrafo único, III, do CPP). Nesta hipótese, duas situações poderão ocorrer: a) O indivíduo, apesar de inimputável ao tempo do fato, respondeu ao processo em liberdade = Absolvido o réu com a imposição de medida de segurança, deverá continuar em liberdade, até o trânsito em julgado da sentença. b) O indivíduo, no curso do processo, foi internado em estabelecimento psiquiátrico, encontrando-se nesta condição no momento da sentença = se já estava internado antes, assim deverá continuar, até que transite em julgado a absolvição imprópria e possa ser executada a medida de segurança. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA • A sentença penal condenatória é aquela que reconhece a responsabilidade criminal do acusado em decorrência de infração a uma norma penal incriminadora, imputando-lhe, em consequência, uma pena. • Exige comprovação plena acerca da autoria e da materialidade do delito imputado, não bastando um mero juízo de possibilidade ou probabilidade. Execução da Pena • Até pouco tempo atrás, tal efeito era passível de aplicação somente depois do trânsito em julgado da condenação. • Neste cenário, a segregação pós-decisão condenatória recorrível poderia ser imposta apenas a título de prisão preventiva, quando presentes os pressupostos. • Em 17.02.2016, no julgamento do HC 126.292/SP, o Plenário do STF deliberou pela execução provisória da pena quando, diante de recurso da defesa, ocorre a confirmação da sentença condenatória em Segundo Grau, sem ofensa a presunção de inocência, e independente dos pressupostos da prisão preventiva. • Em 05.10.2016, pronunciando-se acerca das liminares requeridas nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43 e 44 propostas, respectivamente, pelo Partido Nacional Ecológico e pelo Conselho Federal da OAB em relação ao art. 283 do CPP, o STF ratificou o entendimento adotado no julgamento do referido HC 126.292/SP, compreendendo, pela maioria de 6 votos a 5, que o referido art. 283 não impede o início do cumprimento da pena após esgotadas as instâncias ordinárias. • em 11.11.2016, no julgamento do Recurso Extraordinário 964.246/SP, o Plenário virtual do STF, novamente por maioria, reafirmou a mencionada orientação. • Tratando-se, neste caso, de deliberação meritória realizada após reconhecimento da repercussão geral da matéria, a tese firmada pelo Excelso Pretório, doravante, deverá ser aplicada nos processos em curso nas instâncias inferiores. FIXAÇÃO DA PENA NA SENTENÇA CONDENATÓRIA • Tem base no art. 68 do Código Penal: 1.ªEtapa: fixação da pena-base, levando-se em conta as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal. 2.ª Etapa: fixação da pena provisória, considerando-se as circunstâncias agravantes e atenuantes. 3.ª Etapa: fixação da pena definitiva, utilizando-se as causas de aumento e de diminuição de pena. Decisões interlocutórias • As decisões interlocutórias integram uma classificação intermediária entre os despachos de mero expediente e as sentenças propriamente ditas. • Possuem carga decisória, podendo acarretar ou não a extinção do processo, conforme o caso. • O enquadramento de uma determinada manifestação judicial como decisão interlocutória ocorre de forma residual. Decisões interlocutórias simples • Constituem a maioria das decisões judiciais e destinam-se a solucionar incidentes que venham a surgir antes da sentença, sem, porém, acarretar qualquer extinção, seja do processo, seja de uma fase do respectivo procedimento. • Exemplos: decretação da prisão preventiva, concessão de liberdade provisória, relaxamento da prisão em flagrante, deferimento ou indeferimento da habilitação do assistente de acusação, desclassificação (art. 419 do CPP), recebimento da denúncia e da queixa-crime etc. • Esta forma de pronunciamento judicial é impugnável por meio de recurso em sentido estrito, quando houver previsão legal dessa via impugnativa para o caso concreto em análise. • Não havendo possibilidade de ingresso desse recurso, poderá ser atacada por meio de habeas corpus, mandado de segurança ou correição parcial, que não possuem natureza recursal. Decisões interlocutórias mistas • São pronunciamentos do juiz que ocorrem antes da sentença final, possuindo, obviamente, carga decisória. • Diferenciam-se das decisões interlocutórias simples porque, ao contrário destas, acarretam a extinção do processo (provocando o respectivo arquivamento) ou a extinção de uma fase do procedimento criminal. • Cabe recurso em sentido estrito, desde que haja previsão legal. Não havendo, cabe apelação (art. 593, II, do CPP). Decisões interlocutórias mistas terminativas • Também chamadas de decisões definitivas, são aquelas que, conquanto não possuam natureza de sentença, acarretam a extinção do processo ou do procedimento. • Exemplos: rejeição da denúncia, não recebimento da queixa, acolhimento das exceções de ilegitimidade de parte, coisa julgada e litispendência, absolvição sumária (arts. 397 e 415 do CPP), impronúncia (art. 414 do CPP) etc. Decisões interlocutórias mistas não terminativas • Também chamadas de decisões com força de definitivas, são as que, a despeito de não acarretarem a extinção do processo, extinguem uma etapa do procedimento. • A respeito, o único exemplo aceito pela unanimidade da doutrina é a pronúncia, que encerra a primeira etapa do procedimento do júri (juditium acusationes) e inaugura a segunda fase (juditium causae). Observação 1) O professor Noberto Avena entende que podem enquadrar-se nesta classificação as decisões que rejeitam as defesas preliminares (antes do recebimento da denúncia ou da queixa) previstas em algumas formas procedimentais, já que nestes casos a decisão do magistrado que desacolhe a defesa oferecida e recebe a denúncia está extinguindo uma fase do procedimento (a fase da defesa preliminar) e dando início a outra (o início do processo penal propriamente dito). • Exemplos: desacolhimento da defesa preliminar prevista no art. 514 do CPP em relação aos crimes funcionais afiançáveis imputados a funcionários públicos; art. 55 da Lei 11.343/2006, art. 81 da Lei 9.099/1995. 2) Segundo parte da doutrina, as decisões interlocutórias não importam em qualquer manifestação quanto a aspectos de mérito. A afirmação, contudo, não procede. Não há a menor relevância para que se classifique uma decisão como interlocutória no fato de haver ou não abordagem de aspectos relativos ao mérito. Isso porque não é apenas na sentença condenatória e na sentença absolutória que há exame meritório. Tal ocorre, em verdade, cada vez que o magistrado, para decidir, necessita adentrar, ainda que superficialmente, em questões relativas à autoria, à materialidade, à tipicidade, à presença de qualificadoras, etc. Reconhecimento do Ato 1) Trata-se de um mero comando de impulso processual? Em caso positivo, haverá despacho de mero expediente. 2) É uma decisão condenatória ou absolutória proferida após esgotar todas as fases do procedimento? Se sim, haverá sentença. 3) É decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe fim ao processo, importando em seu arquivamento? haverá decisão interlocutória mista terminativa. 4)É decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe fim a uma fase do processo, dando início a outra, sem importar em seu arquivamento? Em caso positivo, haverá decisão interlocutória mista não terminativa. Outras Classificações • Decisões condicionais: carecem de um acontecimento futuro e incerto, tal como se dá com o sursis penal e o livramento condicional. • Decisões executáveis: são aquelas que podem ser executadas imediatamente. • Exemplo: a sentença absolutória proferida pelo juiz, que importa em imediata liberdade ao réu nos termos do art. 596 do CPP. • Decisões não executáveis: são aquelas que, opostamente, não admitem execução imediata, condicionando-se ao trânsito em julgado. Exemplos: a) a sentença condenatória, pois a pena nela estabelecida não pode ser executada antes do respectivo trânsito em julgado sob pena de infringência ao princípio constitucional da presunção de inocência; b) sentença que impõe medida de segurança, dispondo o art. 171 da Lei 7.210/1984 que somente depois de transitada em julgado será expedida a guia para a execução; • Decisões subjetivamente simples: proferidas por órgão singular. Exemplo: a sentença do juiz singular que condena o réu. • Decisões subjetivamente plúrimas: emanadas de órgão colegiado homogêneo, como câmaras, turmas, grupos e seções dos tribunais. Exemplo: acórdão que, julgando apelação da defesa, absolve o réu. • Decisões subjetivamente complexas: proferidas por órgão colegiado heterogêneo, a exemplo do Tribunal do Júri. • Decisões suicidas: são aquelas em que o dispositivo (ou conclusão) não se coaduna com a fundamentação, sendo nulas caso não corrigidas mediante oportuna oposição de embargos declaratórios. • Decisões vazias: são aquelas que não incorporam a necessária fundamentação, infringindo o art. 93, IX, da CF e o art. 381, III e IV, do CPP. Trata-se de pronunciamentos absolutamente nulos, sem a possibilidade de correção ou saneamento. • Decisões autofágicas: que reconhece a imputação, mas declara extinta a punibilidade, como ocorre com o perdão judicial. PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO Emendatio libelli (art. 383, CPP) • Neste caso, a denúncia ou a queixa já contém toda a descrição fática do crime que o juiz está a reconhecer na sentença, havendo simples equívoco na indicação do tipo penal pelo Parquet ou pelo querelante. • Não há, pois, óbice a que o juiz proceda à correção (emendatio libelli) e sentencie de plano, sem necessidade de oitiva prévia das partes, ainda que o dispositivo legal estabeleça pena mais grave. • Como o réu se defende dos fatos e não da mera tipificação legal, não há que se falar em prejuízo. • Nos termos do art. 617 do CPP, a emendatio libelli pode ser aplicada até mesmo na fase recursal, desde que não implique reformatio in pejus. • Os tribunais superiores adotaram o entendimento de que a correção da inicial deve se dar no momento de prolação da sentença, porém o STF declarou que, em situações excepcionais, quando a qualificação jurídica do crime imputadorepercutir na definição da competência, é viável aplicar a emendatio libelli por ocasião do recebimento da inicial acusatória. Tipos • Emendatio libelli por defeito de capitulação: situação na qual o juiz profere sentença condenatória ou decisão de pronúncia em conformidade exata com o fato descrito na denúncia ou na queixa. Sem embargo, reconhece que tal fato amolda-se ao dispositivo penal distinto daquele que constou na inicial. • Exemplo: denunciado o acusado por roubo, mas, por equívoco, capitulada esta infração na denúncia como o art. 147 do CP (crime de ameaça). • Emendatio libelli por interpretação diferente: examinando a descrição do fato constante da denúncia ou da queixa, realiza o juiz interpretação diferente da que o fez o Ministério Público ou o querelante quanto ao enquadramento da conduta narrada. • Exemplo: o Ministério Público oferece denúncia por homicídio qualificado por meio cruel (art. 121, § 2º, III, CP) enquanto que o magistrado, com amparo na mesma situação fática, vislumbra, em oposição, a qualificadora de recurso que impossibilitou a defesa do ofendido (art. 121, § 2º, IV, CP). EMENDATIO LIBELLI Conceito Modificação, pelo juiz, da capitulação jurídica dada ao fato na inicial acusatória. Momento Prolação da sentença. Exemplo MP narra subtração com violência na denúncia (art. 157, CP), requerendo condenação por furto (art. 155, CP). Procedimento Sem ouvir as partes, o magistrado altera o tipo penal, ainda que a pena do novo delito seja mais grave. Defesa do réu Não há prejuízo, pois o réu se defende de fatos e estes não foram alterados por ocasião da aplicação do instituto. Aplicação em instância recursal É possível, vide art. 617 do CPP. Possíveis consequências da aplicação do instituto Oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da lei nº 9.099/95) Remessa dos autos para o juízo competente Mutatio libelli (art. 384, e parágrafos, CPP) • Ocorre quando durante a instrução se verifica que existe elementar ou fatos diversos dos narrados na peça acusatória. • A sentença deve abranger os fatos narrados na denúncia ou queixa. Se outros estiverem presentes no processo, há necessidade de aditamento. • A mutatio libelli só tem cabimento nas ações públicas ou privada subsidiária (não sendo admissível na ação privada exclusiva ou personalíssima), não podendo, ademais, ser invocada na fase recursal (súmula nº 453, STF). Procedimentos 1) “não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código” (o juiz, discordando do Parquet, remete os autos ao Procurador-Geral de Justiça) (§ 1º). Neste particular, entendemos que a ausência de aditamento por parte do Procurador Geral inviabiliza a condenação do réu, devendo o juiz absolvê-lo por ausência de correlação; 2) “ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento” (§ 2º); 3) se a nova definição jurídica do fato implicar possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz dará vista dos autos ao Ministério Público para que este a ofereça e, caso haja negativa, o magistrado procederá nos termos do art. 28, CPP (remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça (§ 3º); 4) se a definição nova do fato importar em modificação de competência, os autos serão encaminhados ao juízo respectivo (§ 3º); 5) “havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento; MUTATIO LIBELLI Conceito Oportunização ao MP de inclusão de nova circunstância fática em razão da divergência entre os fatos indicados na inicial e aqueles apurados na instrução processual. Momento Encerrada a instrução probatória. Exemplo MP narra subtração sem violência e requer condenação por furto (art. 155, CP), mas a instrução revela ter havido violência na execução do crime. Procedimento Abre-se vistas ao MP para aditamento da denúncia no prazo de 5 dias. O defensor se manifestará também em 5 dias. Haverá novo interrogatório e oitiva de testemunhas (máx. 3). Defesa do réu Como se defende de fatos, precisa se manifestar sobre o aditamento. Instância recursal É vedada, vide súmula nº 453/STF. Possíveis consequências da aplicação do instituto Oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da lei nº 9.099/95) Remessa dos autos para o juízo competente CASO CONCRETO SEMANA 03 • QUESTÃO 01 - O MP ofereceu denúncia contra Caio por, em tese, o mesmo ter subtraído o aparelho de telefone celular de Maria, na Av. Rio Branco, na altura do nº 23, pugnando pela condenação do acusado nas penas do art. 155, inciso II do CP (furto qualificado pela destreza). No entanto, ao longo da instrução probatória, nas declarações prestadas pela vítima e pelo depoimento de uma testemunha arrolada pela acusação, constatou-se que Caio teria, na ocasião dos fatos, dado um forte tapa no rosto da vítima no momento em que arrebatou o aparelho celular. Assim sendo, diante das provas colhidas na instrução probatória, o magistrado prolatou sentença condenatória contra Caio, fixando a pena de 4 anos e 6 meses, a ser cumprida em regime semiaberto, diante da primariedade e da ausência de antecedentes criminais do acusado, como incurso no art. 157 do CP. Pergunta-se: Agiu corretamente o magistrado? Indique na resposta todos os fundamentos cabíveis. • QUESTÃO 02 - (Magistratura/PR-2008) Quanto aos atos jurisdicionais penais, assinale a alternativa correta: a) As decisões interlocutórias simples são aquelas que encerram a relação processual sem julgamento do mérito ou, então, põem termo a uma etapa do procedimento. São exemplos desse tipo de decisão a que recebe a denúncia ou queixa ou rejeita pedido de prisão preventiva; b) As decisões interlocutórias mistas não se equiparam as decisões interlocutórias simples, pois as primeiras servem para solucionar questões controvertidas e que digam respeito ao modus procedendi, sem contudo trancar a relação processual. Enquanto que as decisões interlocutórias simples trancam a relação processual sem julgar o meritum causae; c) A decisão que não recebe a denúncia é terminativa de mérito, por isso não pode ser considerada decisão interlocutória mista; d) As decisões interlocutórias simples servem para solucionar questão controvertida e que diz respeito ao modus procedendi, sem contudo trancar a relação processual; as interlocutórias mistas, por sua vez, apresentam um plus em relação àquelas: elas trancam a relação processual sem julgar o meritum causae. QUESTÃO 03 – “A” foi denunciado pela prática de furto, tendo a denúncia narrado que ele abordou a vítima e, após desferir-lhe um empurrão, subtraiu para si a bolsa que ela carregava. Nesse caso: (a) o juiz não poderá condenar o réu pelo roubo, por ser a pena desse crime mais grave que a do furto; (b) como o fato foi classificado erroneamente, o juiz poderá condenar o réu por roubo, devendo, antes, proceder ao seu interrogatório; (c) o juiz poderá dar aos fatos classificação jurídica diversa, condenando o réu pela praticado do roubo; (d) o juiz poderá dar ao fato classificação jurídica diversa da que constou da denúncia, dando ao Ministério Público e à Defesa oportunidade para se manifestarem e arrolarem testemunhas. “Quem quer estudar se esforça, lê, pergunta, questiona, inquire, prioriza e procura quaisquer meios para alcançar o aprendizado, obtendo naturalmente êxito! Quem não quer inventamediocremente, com fenomenal inteligência, infinitas e criativas desculpas para convencer a si mesmo e aos outros de que fracassou não por falta de empenho, mas atrapalhado e surpreendido por quaisquer outros motivos imprevisíveis e alheios aos seus próprios méritos”. Marco Aurélio de Jesus Pio
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