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REBELO, A Apresentação In JEVONS, W

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REBELO, A. M. Apresentação. In: JEVONS, W. S. A teoria da economia política. [...] 2ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
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Jevons: Um dos Artífices da Revolução Marginalista
William Stanley Jevons nasceu em Liverpool, Inglaterra, em 1835, e inicialmente estudou física e matemática.
Entre 1854 e 1857 morou em Sidney, Austrália.
De volta à Inglaterra, passou a estudar filosofia e moral, posteriormente ensinou lógica e economia em Manchester (1863-76).
Por fim, foi professor de economia na London University College (1876-81).
Morreu em 1882, em Bexhill, Inglaterra.
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A vida de Jevons coincide temporalmente com a era dourada de crescimento econômico do século XIX, que cobre o período 1840-81.
Naquele momento, a comunicação entre os pensadores não fluía tão bem quanto as mercadorias, tanto que o conceito de “utilidade marginal decrescente” fora desenvolvido independentemente por três autores distintos: Jevons, Menger e Walras.
Ademais, foi muito difícil para Jevons encontrar a obra de Gossen, na qual existe uma forma embrionária de utilidade marginal decrescente.
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Teorias do valor 
e a revolução marginalista
Qual a explicação para o valor das mercadorias, ou “o que determina a taxa de troca entre duas mercadorias?”
A interpretação da obra de Adam Smith, A Riqueza das Nações, gerou duas explicações para a pergunta acima, ou seja, podem-se encontrar nesta obra duas teorias do valor: valor trabalho e valor de uso ou utilidade.
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A teoria do valor trabalho diz que a taxa de troca entre duas mercadorias é explicada pela razão entre as quantidades de trabalho incorporadas em cada uma delas; neste sentido, constitui uma investigação acerca dos custos de produção, revelando as ligações entre preços, produção e distribuição.
Por outro lado, a teoria do valor de uso, que Smith restringiu à explicação dos preços de mercado, enfocava os aspectos da demanda e escassez, com base na subjetividade do agente econômico. Este caminho foi seguido principalmente por Senior, Say e Bentham.
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Como contra-exemplo para a teoria do valor utilidade, o próprio Smith apresenta o paradoxo da água e do diamante. 
Se o que define o valor de troca das mercadorias é seu valor de uso, como se explicar a relação entre a água e o diamante?
A primeira é um dos bens mais úteis à humanidade, enquanto o segundo tem uso extremamente restrito, e, no entanto, o diamante possui enorme valor de troca e a água nenhum.
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A chave deste enigma está no conceito que Jevons chamou de “grau final de utilidade”, o que hoje denominamos “utilidade marginal”.
A revolução marginalista foi a retomada da teoria do valor utilidade, com o emprego de conceitos matemáticos de cálculo diferencial.
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Método e matemática na economia
Jevons alerta para os “defeitos inerentes à gramática e ao léxico para explicar relações complicadas”.
O autor vê a matemática não como um fim em si mesma, mas apenas como uma linguagem mais precisa, portanto superior, e que deve ser também utilizada na economia. 
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A teoria da utilidade
Jevons parte dos conceitos utilitaristas segundo os quais toda ação dos indivíduos é precedida de uma análise prazer versus sofrimento. Ou seja, as pessoas agem de forma tal a obter o máximo de prazer com o mínimo de sofrimento.
As dimensões do prazer seriam intensidade e duração. O sofrimento seria o oposto matemático do prazer e teria também as mesmas dimensões.
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Assim, conclui [Jevons]:
	“As partes mais importantes da teoria girarão em torno da igualdade precisa [...] do prazer derivado da posse de um objeto e do sofrimento com que alguém se depara na sua aquisição”.
A utilidade é a qualidade de um objeto, serviço ou ação que o torna capaz de dar prazer aos indivíduos, ou afastar sofrimento. 
O problema da mensuração da utilidade permanecerá sem resolução até meados do século XX, quando da publicação de Valor e Capital de Hicks, onde é abandonada a abordagem cardinal da utilidade e proposta a abordagem ordinal.
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Utilidade marginal decrescente
A utilidade é uma função crescente da quantidade consumida de um bem: à medida que se aumenta a quantidade do bem, aumenta-se a utilidade. Porém, este acréscimo é cada vez menor.
Jevons ilustra como o princípio da igualdade marginal funciona para o caso de um único bem com dois usos distintos. Uma vez descrito este princípio, a generalização para o caso de dois ou mais bens distintos é automática, e Jevons o fará na teoria da troca.
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Teoria da troca
Um indivíduo trocará suas mercadorias até o ponto em que as utilidades marginais do consumo de cada mercadoria se igualem.
Ao propor a equalização da utilidade marginal do uso de todos os bens, o sistema de preços passa a ter o papel fundamental na alocação dos recursos.
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Trabalho
A aplicação dos conceitos marginais ao trabalho nos diz que a utilidade total do trabalho é crescente, porém este crescimento se dá a taxas decrescentes.
Por outro lado, a desutilidade marginal do trabalho, embora decrescente para as primeiras horas trabalhadas, será crescente à medida que a jornada se estender demasiadamente.
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O indivíduo irá trabalhar até o ponto em que a utilidade marginal do produto do trabalho for igual em módulo à desutilidade marginal do trabalho desta mesma unidade de tempo. O que leva Jevons a afirmar:
	“Deve-se considerar que um homem ganha durante todas as horas de trabalho um excesso de utilidade [...]. Enquanto ganha ele trabalha, e quando para de ganhar, cessa de trabalhar”.
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Renda da terra
Mantido fixo o estoque de terra, quando se aumenta o número de trabalhadores nessa terra, aumenta-se a produção, porém este acréscimo se dá a taxas decrescentes.
O último acréscimo é o menos produtivo e somente será utilizado se o ganho de produção adicional for suficiente para cobrir os custos. Desta forma, toda produção anterior gerou algum excedente, que é justamente a renda da terra.
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Capital e juros
Os agentes aplicarão recursos em investimentos até o ponto em que o acréscimo de produção (benefício marginal do capital) for igual o custo deste capital adicional.
Neste sentido, Jevons define a igualdade entre o benefício marginal do capital e a taxa de juros – esta última, que reflete o ganho associado à última unidade de capital utilizada na produção.

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