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18 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS E MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS POR IDOSOS Tamara Ângelo * Charlis Chaves Ribeiro ** RESUMO Com o objetivo de avaliar o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos, foi realizado um estudo de delineamento transversal, de base populacional na cidade de Cordeiros – BA, entre junho e outubro de 2013. O método de amostragem por conglomerados foi utilizado e questionários padronizados foram aplicados a adultos com idade acima de 60 anos, totalizando 300 idosos entrevistados. Cerca de 70 % dos idosos utilizam plantas medicinais e destes, 61 % só fazem uso quando estão doentes. Ainda assim, menos de 4 % das indicações são realizadas por profissionais de saúde. A planta mais citada foi o capim santo (72 vezes). Em relação aos medicamentos fitoterápicos, apenas 34 % dos idosos relataram utilizar e o mais citado foi o extrato de carqueja (16 vezes). Observou-se que faltam profissionais capacitados para prestar orientação adequada, pois, apesar de terem acesso relativamente frequente a serviços de saúde, 100 % dos entrevistados acreditam que as plantas e medicamentos em questão não podem causar qualquer dano à saúde. Além disso, cerca de 46 % afirmaram que não trocariam medicamentos sintéticos por plantas ou fitoterápicos, mesmo se indicados por médicos ou farmacêuticos. É necessário que os profissionais de saúde se capacitem nessa área e orientem melhor os pacientes quanto ao uso racional de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos. Palavras-chave: Plantas Medicinais. Medicamentos Fitoterápi- cos. Idosos. Uso Racional de Medicamentos. ar ti g o d e re vi sã o * Doutoranda do programa de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Brasília. Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo na área de Medicamentos e Cosméticos Foi professora no curso de Farmácia da FAINOR e da UFBA. E-mail: taosantos@gmail.com. ** Faculdade Independente do Nordeste. E-mail: charlis.cr@hotmail.com 1 INTRODUÇÃO Há muitos anos, a utilização de plantas medicinais é um dos meios mais conhecidos para a prevenção e tratamento de diversas patologias. Em diversas culturas, os antepassados percebiam o poder de cura das plantas e as cultivavam, repassando os conhecimentos por gerações. Contudo, Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 19 com os avanços científicos e tecnológicos, este conhecimento passou a ser desvalorizado por muitos profissionais de saúde, que apenas indicam o tratamento com medicamentos sintéticos, muito embora a maioria destes medicamentos tenha origem em protótipos naturais. Hoje, entretanto, as políticas de saúde buscam cada vez mais restabelecer o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos (FEIJÓ, 2012; FRANÇA et al. 2008; VEIGA JR, 2005; ZUCCHI et al., 2012). A planta medicinal é a espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos. Já medicamentos fitoterápicos são aqueles obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que na sua composição possui substâncias ativas isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações com extratos vegetais (BRASIL, 2012). Como todos os medicamentos, os fitoterápicos são caracterizados pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, além da constância de sua qualidade, passando por processos de validação da sua eficácia e segurança. Para isso utilizam-se estudos documentados cientificamente, em bibliografia ou publicações, e dados farmacológicos e toxicológicos (BRASIL, 2012). Frente ao alto custo na industrialização de medicamentos e suas patentes tecnológicas, os medicamentos fitoterápicos levam vantagens, pois seu custo é mais baixo. Uma vez que são produzidos com o mesmo rigor de qualquer medicamento industrializado e podem contribuir para melhorar as principais funções fisiológicas no organismo, restaurando as capacidades perdidas e promover bem-estar, os fitoterápicos tornam-se uma alternativa acessível para que a saúde pública o venha a oferecer à população para prevenir e curar várias doenças (OLIVEIRA et al., 2006; BARROS, 2007; VEIGA JR, 2005). No Brasil, estudos realizados pelo Ministério da Saúde resultaram em um projeto nacional, no qual constam 71 plantas medicinais de interesse do Sistema Único de Saúde (SUS), que são prioritárias para realização de pesquisas. Além disso, atualmente, a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) conta com 12 medicamentos Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos 20 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 fitoterápicos de distribuição gratuita para a população (BRASIL, 2012). Atualmente, observando-se a população em geral, pode ser notado um alto índice de uso de plantas medicinais e fitoterápicos por idosos. A maioria deles acredita que essa terapia, por ser de origem natural, não traz qualquer malefício como efeito adverso ou interação medicamentosa. Por esse motivo, a automedicação com plantas medicinais é uma das primeiras escolhas por essa faixa etária. Contudo, sabe-se que, além de plantas e fitoterápicos apresentarem certo grau de toxicidade e interações, cada planta possui uma forma diferente de utilização, a depender do tipo e da parte específica da planta que contém o fármaco (CASCAES; FALCHETTI; GALATO, 2008; LIMA, 2012). Por esses motivos, é importante analisar como está sendo feita a utilização de plantas e fitoterápicos pelos idosos, além de avaliar se existe o acompanhamento por algum profissional da saúde. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi pesquisar sobre o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos no município de Cordeiros – BA. Os resultados do estudo podem servir para melhor orientação e acompanhamento de pacientes nessa faixa etária. 2 METODOLOGIA O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste, sob número do CAAE: 18055613.8.0000.5578 e foi aprovado com o parecer de número 330.401. O estudo com delineamento transversal, de base populacional, foi realizado por meio de entrevistas entre os meses de junho a outubro de 2013, na cidade de Cordeiros, estado da Bahia. A amostra foi composta por adultos com idade a partir de 60 anos. O cálculo da amostra foi realizado com o programa Epi InfoTM, software do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), utilizando a fórmula para cálculo de prevalência com amostra causal simples. Utilizando dados do IBGE do ultimo censo demográfico realizado em 2010, para uma população estimada de 1192 idosos, foram estabelecidos os critérios de prevalência para o desfecho desconhecida em 50%; nível de confiança de 95%; e erro amostral igual a 1 ponto Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 21 percentual. Assim, a amostra desejável foi estimada em no mínimo 291 indivíduos. A seleçãodos participantes foi realizada por conglomerados, incluindo todas as ruas da cidade e a zona rural. A escolha das residências foi realizada ao acaso e todos os idosos domiciliados foram convidados a participar do estudo. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário padronizado, aplicado com entrevistas presenciais dos indivíduos que aceitaram participar da pesquisa. Foram coletados dados socioeconômicos, além de informações sobre o estado de saúde e o uso e conhecimento de plantas medicinais e fitoterápicos. A tabulação e análise dos dados foi realizada no Software Microsoft Excel for Mac 2011, programa no qual também foram gerados os gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 300 Idosos, com idades entre 60 e 98 anos, sendo a média de 70,09 anos (DP = 7,34). Entre estes, 59 % correspondia ao sexo feminino. A renda familiar foi de até um salário mínimo para 54,67 % dos entrevistados. Em relação à escolaridade, a maioria dos idosos (47,67 %) não tinha estudo formal, seguidos por 45,33 % daqueles que cursaram o 1º grau incompleto. Segundo o último censo demográfico realizado pelo IBGE em 2010, pode-se constatar que na cidade de Cordeiros a maioria dos idosos era do sexo feminino, o que também foi observado nessa pesquisa. Além disso, também observou-se que as famílias dos entrevistados continuam não possuindo uma boa renda familiar. Em relação ao acesso ao serviço de saúde, foi observado que 54,75 % dos idosos tem esse acesso mensalmente, 27,00 % semestralmente, 13,31 % anualmente, 4,18 % menos que uma vez no ano, e os que têm acesso ao serviço saúde semanalmente foi apenas 1,00 %. Devido ao Programa de Saúde da Família (PSF), há um incentivo para que os idosos procurem o posto mais próximo para fazer uma triagem de rotina e com isso pelo menos uma vez ao mês a maioria dos idosos tem contato com algum profissional de saúde (BARROS et al., 2007). Em relação ao local onde os idosos tem acesso ao serviço de saúde, 62,21 % encontram junto ao Programa de Saúde da Família (PSF), que nos últimos anos Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos 22 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 teve uma melhoria na qualidade do serviço prestado, com novos estabelecimentos e mais especialistas. Por esse motivo, o hospital público é menos procurado, sendo utilizado principalmente para emergências, por 30,43 % dos entrevistados. Como na Cidade não há hospitais e consultórios particulares, esse serviço é pouco utilizado, pois necessita de deslocamento para cidades vizinhas. Desse modo, apenas 6,35 % tem acesso a consultórios particulares e 1,00 % a hospitais particulares. Como na maioria das cidades de pequeno porte no Brasil, os recursos e investimentos em saúde são poucos e há necessidade de deslocamento para outros municípios em busca de medicina especializada. Mesmo na atenção básica, os serviços de saúde possuem um valor muito alto para a população de baixa renda e muitos optam pelo SUS (ETHUR et al., 2011). Foram coletadas informações sobre o estado de saúde e o uso e conhecimento de plantas medicinais e fitoterápicos. Por se tratar de um grupo que geralmente apresenta diversas patologias, foram levantadas as principais doenças dos idosos, com opção de citar as três principais. A Figura 1 apresenta um gráfico com os resultados. A maioria dos idosos entrevistados relataram sofrer de doenças do sistema circulatório e 11,68 % dos idosos disseram que não tem qualquer problema de saúde. Figura 1 - Principais doenças relatadas por idosos (60+) na cidade de Cordeiros - BA Fonte: Dados da Pesquisa Segundo o Ministério da Saúde, as principais doenças que mais acometem a população brasileira estão relacionadas ao sistema circulatório e aos transtornos relacionados ao coração. Esses problemas podem estar relacionados com hereditariedade, má alimentação, sedentarismo e obesidade. A maioria dos idosos hoje relata possuir algum tipo de problema de saúde que os impede de desenvolver as atividades do cotidiano e a 11,68% 4,71% 5,74% 23,77% 4,71% 11,89% 11,48% 0,61% 6,76% 0,41% 2,05% 16,19% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% Patologias Apresentadas Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 23 hipertensão é hoje a patologia que mais acomete esta classe no Brasil (SOUZA et al., 2008; MOREIRA et al., 2010). Com o avanço da idade, começam a surgir várias morbidades nos sistemas circulatório, ósseo, nervoso e urinário, como os citados na entrevista. Pelo fato da maioria dos idosos relatarem problemas no sistema circulatório e nervoso, nota-se que a as plantas citadas são mais relacionada a patologias nesses sistemas, utilizando as plantas como calmantes e hipotensoras (OLIVEIRA et al., 2006; ROSSATO et al., 2012) A tabela 1 traz os dados referentes ao uso de plantas medicinais. Entre os idosos que relataram não utilizar plantas, muitos justificaram que tinham medo ou que acreditam que elas não conseguem alcançar um bom efeito terapêutico. Tabela 1 - Utilização de plantas medicinais por idosos (60+) na cidade de Cordeiros - BA Variável n % Uso de plantas medicinais sim 209 69,67 não 91 30,33 Frequência de uso todos os dias 22 10,53 1x/semana 51 24,40 1x/mês 7 3,35 somente quando está doente 127 60,77 outro 2 0,96 Indicação da planta médico 2 0,96 agente de saúde 2 0,96 enfermeiro 3 1,44 dentista 0 0,00 farmacêutico 0 0,00 amigo/parente 201 96,17 Aquisição da planta coleta de plantas silvestres 46 22,01 cultivo próprio 128 61,24 ganha 30 14,35 compra 5 2,39 Preparo do chá sempre ferve 158 75,60 sempre faz infusão 34 16,27 sempre faz maceração 15 7,18 depende 2 0,96 Tempo para utilização do chá consome imediatamente 183 87,56 guarda em temperatura ambiente 22 10,53 guarda em geladeira 4 1,91 Fonte: Dados da Pesquisa Por ser uma prática terapêutica cultural e ensinada de pais para filhos, a maioria dos idosos encontra soluções próprias para seus problemas de saúde na utilização de plantas medicinais. Quando perguntado aos entrevistados quem indicou as plantas, 96,17% disseram que foram amigos ou parentes, e apenas 3,83% citaram profissionais da área da saúde. Cabe destacar que o farmacêutico não foi citado nenhuma vez. Dois entrevistados relataram que a Pastoral da Criança que indicou o uso das plantas. A Pastoral é uma instituição católica de ação social que atua capacitando líderes voluntários em comunidades para orientar e acompanhar as famílias em ações básicas de saúde, educação, nutrição e cidadania (ALBERTASSE et al., 2010; BRASIL, 2012; PASTORAL DA CRIANÇA, 2013). Pelo fato de que na maioria das vezes a indicação do uso das plantas se Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos 24 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 dá por pessoas da família e amigos, ou seja, pessoas leigas, muitas questões como modo de preparo, posologia, interações e reações adversas deixam de ser informadas. A falta dessas informações faz com que muitas pessoas não se sintam seguras na utilização(BADANAI, 2011; MARLIÉRE et al., 2008). Com relação ao acesso às plantas, de acordo com Zucchi et al. (2012), as plantas medicinais podem ser encontradas em matas silvestres e campos, mas é muito cultivada por pequenos agricultores, que fazem o plantio daquelas mais utilizadas na região. Alguns problemas associados à coleta de plantas silvestres estão na falta de conhecimento, realizar a coleta da planta errada, e o emprego inadequado, que poderá gerar danos à saúde (CASCAES; FALCHETTI; GALATO, 2008). O modo de preparo e utilização das plantas para uso terapêutico variam para cada planta, sendo estes decocção (fervura), maceração, infusão, entre outros. Quando a parte da planta utilizada tem estrutura rígida e compactada – como no caso de raízes, cascas e sementes – geralmente é recomendada a decocção. Por outro lado, para partes como flores e folhas é indicada a infusão ou maceração. Para substâncias termolábeis ou voláteis, o calor é desaconselhado. Assim deve ser escolhida com atenção a melhor forma de emprego de cada planta, para que a utilização gere o efeito esperado. Apenas dois entrevistados sabiam que o modo de preparo deve variar de acordo com o tipo de planta e da parte desta que será utilizada. A observação de que a maioria dos entrevistados consome o chá imediatamente é importante, pois essa ação as substâncias ativas não sofram reações de hidrólise, decomposição ou outras reações provocadas pelo ambiente (SIMÕES, 2004; ZUCCHI et al., 2012). Pôde ser observado também que a maioria dos idosos apenas utilizam as plantas quando estão com algum problema de saúde. Poucas pessoas usam diariamente ou demoram muito tempo para utilizá-las. Apesar da prática de uso de plantas medicinais ter como principal objetivo o uso terapêutico, muitas vezes são utilizados chás como qualquer outro alimento (MARLIÉRE et al., 2008). Diversas plantas foram citadas pelos idosos (Tabela 2), contemplando um total de 65 espécies, com maior predominância do capim santo (citado 72 Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 25 vezes), erva doce (47), erva cidreira (43) e hortelã (31). Não foi observado nenhum uso incorreto quanto à indicação das plantas. Contudo, ainda assim, a falta do acompanhamento de um profissional capacitado pode trazer riscos à saúde do usuário (BADKE, 2008; BALDAUF et al., 2009; SIMÕES, 2004). Tabela 2 - Espécies de plantas medicinais utilizadas por idosos (60+) na cidade de Cordeiros – BA Nome vulgar Nome científico Nome vulgar Nome científico Abacate Persea americana Banana Musa SP Acerola Malpighia glabra L Boldo Vernonia Baker Agrião Nasturtium L Caboclinho Sporophila L Alcaçu Glycyrrhiza glabra Camomila Chamomilla recutita Alecrim Rosmarinus L Capim Santo Cymbopogo n citratus Alevante Mentha spicata L Carqueja Baccharis trimera Alfavaca Parietaria officinalis Carrapicho Desmodium adscend Algodão Gossypium L Cavalinha Equisetum spp Amélia Camellia L. Chia Salvia hispânica L Angico Anadenanth era C Chuchu Sechium edule Aroeira Schinus molle L Cipó da trindade Tynnanthus Fasci Arruda Ruta graveolens L. Erva – Cidreira Melissa officinalis Artimijo Tanacetum L Erva – Doce Foeniculum vulgare Assa Peixe Vernonia L Espinheira Santa Maytenus ilicifolia Baba Timão Stryphnode ndron A Fedegoso Cassia ocidentalis Babosa Aloe vera L. Folha de Cana Melissa Offi cinalis Gabiraba Campoman esia xanthocarp a Noz- moscada Myristica fragrans Gengibre Zingiber officinale Olivia Olea europaea L Goiaba Psidium guajava Pata de Vaca Bauhinia Link Graviola Annona muricata L Pau Ferro Caesalpinia férrea Hortelã Mentha x villosa L Picão Bidens pilosa Jatobá Hymenaea courbaril Poejo Mentha pulegium L Junça Cyperus esculentus Quebra Pedra Phyllanthus niruri L Laranjeira Citrus sinensis L Quina Quassia amara Limão Citrus limon L Romã Punica granatum L Linhaça Linum usitatissim Salsinha Petrosolium sativu Losma Artemisia canphorata Sena Senna L Mandacaru Cereus Jamacaru Seriguela Spondias L Manjericã Ocimum basilicum Sete Copa Terminalia catappa Maracujá Passiflora sp Sete Sangria Cuphea Cham Mastruz Chenopodiu m L Transsage m Plantago major L Melissa Melissa Offi cinalis Umburana Amburana claudii Fonte: Dados da Pesquisa Após explicação minuciosa do que é um medicamento fitoterápico, a maioria dos entrevistados relatou que não faz o uso destes medicamentos (Tabela 3). Tabela 3 - Utilização de medicamentos fitoterápicos por idosos (60+) na cidade de Cordeiros - BA Variável n % Uso de medicamentos fitoterápicos sim 108 36,00 não 192 64,00 Local de aquisição SUS 0 0,00 farmácia de manipulação 5 4,63 drogaria 80 74,07 outro 23 21,30 Fonte: Dados da Pesquisa Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos 26 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 De um total de 22 medicamentos fitoterápicos, os mais citados pelos entrevistados foram a carqueja (16 vezes), Ginkgo biloba (6), espinheira santa (6), calêndula (5), e guaraná (4). Não foi observada uma relação direta entre as patologias que mais acometem os idosos e os fitoterápicos mais utilizados. Isso indica que para tratamento de tais patologias, provavelmente esteja sendo feito o uso de medicamentos sintéticos. A aquisição dos fitoterápicos é realizada em drogarias pela maioria dos idosos. A compra em farmácias de manipulação é um dos meios mais difíceis, pois não existem farmácias magistrais na cidade, sendo a compra efetuada em outros municípios mais distantes. O relato de que muitos entrevistados compram de outras fontes como vendedores ambulantes, uma prática muito frequente da região, alerta para o fato de que medicamentos fitoterápicos estão sendo vendidos em locais não autorizados, o que pode comprometer sua qualidade, eficácia e segurança, afetando diretamente a saúde do paciente. Foi observado que ninguém obteve o medicamento pelo SUS. No Brasil, desde 2007 foi implantada no programa do SUS a distribuição de alguns medicamentos fitoterápicos na rede pública. Hoje são apenas 12 medicamentos fitoterápicos que são disponibilizados nos postos públicos. Além da falta de conhecimento pelos profissionais de saúde, por ser um número reduzido de medicamentos disponíveis, talvez seja pouco prescrito e por isso a população tem pouco acesso por meio do SUS (SIVIERO et al., 2012). Um dado alarmante registrado é que, apesar de 100 % dos idosos que fazem uso de plantas medicinais e fitoterápicos observarem efeitos positivos na utilização de tais terapias, 100 % acreditam que não há qualquer efeito negativo associado à prática. As plantas e medicamentos fitoterápicos são produtos de origem natural, mas podem acarretar efeitos indesejados como qualquer outro medicamento sintético se não forem administrados corretamente. Além disso, fatores como a forma de plantio, coleta, empregoda matéria prima, modo de preparo dos chás influenciam nos efeitos exercidos (MEDEIROS et al., 2010; KLEIN et al., 2010). O principal problema é que a população não tem conhecimento sobre o Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 27 uso correto das plantas e medicamentos fitoterápicos, papel que deveria ser exercido pelos profissionais da saúde, como o farmacêutico que deveria ter mais espaço, fornecendo a atenção farmacêutica e aconselhando a forma correta de uso, auxiliando na manutenção da saúde e facilitando até a redução de custo para as famílias (SILVA, 2008; GIRALDI et al., 2010). Ao serem questionados se algum profissional sabe do uso plantas medicinais e de medicamentos fitoterápicos, 64,62 % disseram fazer o uso por conta própria, sem informar a qualquer profissional. Para os que relatam informar, entre os profissionais citados estão médicos, enfermeiros e os agentes de saúde. Segundo Silva et al. (2012) e Rates (2012), os medicamentos fitoterápicos são medicamentos de venda livre, desta forma o profissional farmacêutico presente deveria orientar sobre a automedicação e seu uso racional, mas de uma forma geral os profissionais estão saindo para o mercado com pouco conhecimento. Como esperado, ao serem perguntados se fazem o uso de medicamentos sintéticos, 80,20 % relataram uso. A promoção do acesso às plantas medicinais e aos fitoterápicos incentivada pelo governo brasileiro iniciou- se formalmente em 2007. Talvez por esse motivo, observa-se que esse uso é um recurso complementar, pois quase sempre é associado a um ou mais medicamentos prescritos (BRASIL, 2012). Quando questionados se já substituíram os medicamentos sintéticos por plantas ou fitoterápicos por conta própria, 97,32 % responderam que não. Além disso, pôde-se constatar que eles sabem o objetivo dos medicamentos sintéticos prescritos, e que o acompanhamento com os profissionais de saúde, colaboram para que a troca por conta própria não aconteça. A rotina dos idosos em comparecer aos PSFs contribuem para um acompanhamento e consequentemente escolha correta dos medicamentos a serem utilizados. Em relação à possibilidade de troca dos medicamentos sintéticos por plantas medicinais ou fitoterápicos caso o médico ou o farmacêutico os indicasse 52,35 % disseram que substituiriam pois os profissionais de saúde estudaram para isso e conhecem sobre os medicamentos. Os que disseram que não substituiriam, relataram medo de que a troca não resulte no mesmo efeito, ou medo de que haja Utilização de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos por idosos 28 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 uma reação adversa devido à mistura de medicamentos, apesar de anteriormente 100 % ter relatado que não acredita em efeitos negativos causados por plantas e fitoterápicos. Isso indica que há desconhecimento e falta de orientação. No geral, o que se observa é a falta de indicação profissional e de orientação quanto ao uso, provavelmente devido ao pouco conhecimento dos profissionais da área de saúde. Isso traz prejuízos à população, uma vez que poderiam utilizar recursos eficazes e acessíveis com maior frequência e com maior segurança (SILVA et al., 2012; SANTOS et al., 2012). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática do uso de plantas medicinais, como esperado, é feita pela a maioria dois idosos entrevistados, mas esse uso se dá mais quando surge alguma patologia ou quando o medicamento alopático não está surtindo o efeito esperado. Pelo observado, a escolha das está relacionada principalmente a problemas do sistema circulatório. Em relação a medicamentos fitoterápicos, a utilização é baixa, devido ao pouco conhecimento tanto pelos entrevistados quanto pelos profissionais e pela dificuldade de acesso. Com base nas entrevistas, percebe-se que não existe assistência farmacêutica no município. Com isso, o uso racional de plantas e medicamentos fitoterápicos está comprometido. Além disso, outros profissionais da área da saúde que acompanham esses idosos deveriam ter mais conhecimento sobre o assunto para indicar o uso com segurança. Além de o estudo contribuir para a elucidação do uso de plantas medicinal e fitoterápico por idosos, os resultados encontrados poderão servir como referência para que os riscos à saúde pelo uso indevido sejam diminuídos ou até mesmo que o assunto seja mais discutido entre os profissionais de saúde. Tamara Ângelo, Charlis Chaves Ribeiro C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.7, n.1, p.18-31, jan./jun. 2014 29 USE OF MEDICINAL PLANTS AND HERBAL MEDICINES BY ELDERLY PEOPLE ABSTRACT Aiming to evaluate the use of medicinal plants and herbal medicines by elderly people, a cross-sectional study, population-based was conducted in the city of Cordeiros - BA, between June and October 2013. The cluster sampling method was used and standardized questionnaires were administered to adults over the age of 60, totaling 300 subjects interviewed. About 70 % of the elderly use medicinal plants and of these, 61 % only use when they are sick. Yet, health professionals perform less than 4 % of the indications. The most cited plant was the lemongrass (72 times). In relation to herbal medicines, only 34 % of the elderly reported using it and the most cited was the gorse extract (16 times). It was observed that there is a lack of trained professionals to provide proper guidance, because, despite their relatively frequent access to health services, 100 % of the interviewed believe that plants and drugs in question cannot cause any harm to health. In addition, about 46 % said that they would not switch synthetic medicines for herbal medicines or plants, even if recommended by doctors or pharmacists. It is necessary that health professionals be trained in this area and better guide patients in rational use of medicinal plants and herbal medicines. Keywords: Medicinal Plants. Herbal Medicines.Elderly. Rational use of Drugs. REFERÊNCIAS ALBERTASSE, P. D.; THOMAZ, L. D.; ANDRADE, M. A. Plantas medicinais e seus usos na comunidade da Barra do Jucu, Vila Velha, ES. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.12, n.3, p.250-260, 2010. BADANAI, J. M. Utilização de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e dos Potenciais Riscos de Suas Interações Com Medicamentos Alopáticos, Por Idosos Atendidos Pela Farmácia – Escola – São Caetano do Sul. São Caetano do Sul: USCS, 2011. BADKE, M. R. Conhecimento popula r sobre o uso de plantas medicinais e o cuidado de enfermagem. Universidade Federal de Santa Maria – RG. 2008. 96 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008. 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