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Resenha do Livro V de Aristteles tica a Nicmaco[1]

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CATOLICA-SC
Professor: Itamar
Curso: Direito
Aluna: Ana Carolina Guimarães
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, livro 5. Traducão de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Rosá. Col. Os pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973.
O capítulo V de Ética a Nicômano trata do tema JUSTIÇA, é uma abordagem onde Aristóteles fala sobre o assunto. Ele defendia que a justiça era um justo meio, e para se atingir essa atitude mediana, que era entre o excesso e a falta, para ele ser justo era você não exceder as coisas e nem faltar com as coisas. Logo a justiça para Aristóteles não é pura matemática e não se aprende a ser justo pela matemática apesar desse pensamento acima parecer meio algébrico. 
 Assim para Platão e Sócrates, a justiça é uma virtude diz Aristóteles, ele quis dizer que a justiça faz parte da ética. E o que define a ética é o termo “ethos” que significa hábito, costume, logo ética é aquilo onde obedecemos a habitualidade é aquilo que faz parte do nosso dia a dia. Contudo vemos que a ética é um saber prático, por isso pode ser aprendida, logo o saber prático ele é interessante pois você só aprende fazendo, ele é como a filosofia você não aprende só assistindo tem que se praticar a filosofia. No entanto Aristóteles diz:
 “ A justiça é aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e a desejar o que é justo. ”
Vimos na citação a cima que, a justiça é um costume é um modo de ser, é o modo como você age perante a sociedade, ela diz respeito as pessoas, você é ensinado a fazer o que é justo e a desejar o justo.
 “ A justiça não é parte da virtude, mais a virtude inteira; nem o seu contrário, a injustiça, é parte do vício, mais o vício inteiro. ”
O que ele quis dizer acima, que ser justo e ser um bom cidadão são a mesma coisa.
Aristóteles divide a justiça em dois grandes grupos;
O justo total, é o que foi dito acima, ele se simplifica em obedecer às leis Atenienses. Pois na época de Aristóteles, Atenas vivia uma democracia direta, onde é um sistema político onde todos aqueles que são cidadãos participam da administração da cidade. Isso implica em que todas as leis são feitas por todos os cidadãos. Essa cidadania Grega era restrita, onde excluía mulheres, estrangeiros, os escravos, era uma cidadania elitista. Porém o que é notório é que todos cidadãos faziam as leis que seriam aplicadas a eles próprios. Daí Aristóteles diz que ser justo é obedecer essas leis. Isso vem de uma idéia Socrática, é o primado do coletivo sobre o individual. Por isso que Sócrates bebe a cicuta, pois bebendo ele seria justo com suas leis. Essa obediência era um pressuposto da felicidade, e da manutenção da sociedade política.
 “ [...] chamamos justo os atos que tendem a produzir e preservar a felicidade e os elementos que à compõe para a sociedade política. ”
O justo particular, é o desmembramento do justo total, que é a forma como justiça poderá ser percebida e poderá ser exercida. 
- A primeira a se abordar é a Justiça Distributiva, ela ocorre quando o soberano tem que distribuir bônus e ônus aos súditos. Ela tem três características; a subordinação, é uma justiça proporcional, e por último analisa o mérito de cada um. Ela quer saber quem está envolvido na relação de justiça, para aplicar a justiça da melhor forma. Se eu tenho um talento, o estado vai aproveitar dele. Essa justiça analisa a pessoa em seu contexto social. 
 “ Devemos tratar os iguais igualmente, e os desiguais na media de suas desigualdades. ”
Ele ainda argumenta que dependendo do regime político o que são ônus e bônus pode variar.
 “ Os democratas o identificam com a condição do homem livre, os partidários da oligarquia com a riqueza (ou a nobreza do nascimento) e os partidários da aristocracia com a excelência.”
 
Assim como a justiça total, quem viola a racionalidade da justiça particular, termina por violar a justiça total e vem a ser injusto.
- A segunda é a Justiça Corretiva, ela se caracteriza por três coisas, á uma relação de coordenação, é uma justiça aritmética, é uma justiça formal. Ela é diferente da justiça distributiva, pois ela não olha o mérito, ela pressupõe entes iguais. Enquanto a justiça distributiva decorre do direito público, a corretiva decorre do direito privado, onde os que se relacionam nessa questão de justiça são entes iguais. Onde um não é superior ao outro. Logo, não há apreciações subjetivas, pelo contrário é uma justiça objetiva. Porem Aristóteles divide essa justiça em dois momentos: - Voluntária, é que a pessoa entra na relação de justiça voluntariamente, ela quer entrar, ela deseja entrar nessa relação.
 “ É aquela que o sujeito tem liberdade de estipulação e de vinculação acerca do conteúdo de justiça”. 
 
- Involuntária, é aquela que o ente é forçado a entrar nessa relação de justiça. Um grande exemplo é quando envolve o Direito Penal.
 “ o justo é intermediário entre uma espécie de ganho e uma espécie de perda.” 
- A terceira espécie é Justiça da Reciprocidade, ele não se confunde com nenhuma das duas citadas a cima, pois nessa justiça não há subordinação, não é aritmética, logo é uma justiça proporcional.
 “ A reciprocidade deve fazer-se de acordo com uma proporção e não na base de uma retribuição extremamente igual. ”
Pois bem essa justiça tem tudo haver com as trocas humanas, inicialmente as trocas humanas eram feitas por escambo, e é isso que Aristóteles quer retratar na justiça da reciprocidade. Ele quer justificar como passamos dessa justiça de escambo, por produto para uma justiça que é feita plenamente de modo monetário, que é feita.
Pelo direito enquanto é o representante comum das diversas espécies de mercadoria. Logo, o direito é a moeda, é a troca comum que representa todas as mercadorias. É um valor que valora as demais mercadorias. Em uma sociedade medida nenhum agrupamento social produz o que consome, eles produzem determinados produtos e trocam seus produtos por outros produtos, que são produzidos por outro agrupamento social. E é dessa troca que Aristóteles reflete esse justo da reciprocidade.
 “ Eis a razão pela qual todas as coisas que são objeto de troca devem ser comparáveis de algum modo, e para essa finalidade foi instituído o dinheiro, o qual, em certo sentido, se torna um meio termo, visto que mede todas as coisas, e por consequência, também o excesso e a falta. ”
Segundo o filósofo, esta foi à razão pela qual se instituiu o dinheiro, pois todos os bens devem ser igualados de alguma forma, para que o trabalho de um não valha mais do que o de outro. Segundo Aristóteles, a injustiça é o excesso e a falta. Ter muito pouco é ser sua vítima e ter demais é agir injustamente. Porém, nem todos os que agem injustamente são injustos, um homem que comete adultério pode até saber quem é a mulher com a qual deita, mas não faz isso em nome do pecado, mas pela paixão. Dessa forma, ele cometeu uma injustiça, mas não é injusto. Este exemplo se aplica aos demais casos também.
Aristóteles sempre volta na questão de equilíbrio, onde a justiça é um ponto de equilíbrio entre o excesso e a falta, o ganho e a perda. 
A justiça existe apenas entre homens cujas relações são regidas pela lei, e esta (a lei) só existe entre os quais injustiças podem ocorrer. Existe uma justiça por natureza (que é igual em todos os lugares e imutável com o tempo) e outra existente só por convenção (que difere de acordo com a região, e o costume muda).
O homem deve agir voluntariamente, de forma que, se seu ato não foi voluntário, foi coagido, cometidos na ignorância, sem sua escolha,  (por exemplo, quando um homem está bêbado e comete algum erro sem pensar sobre seus atos, o ato é injusto, não o homem) ou em cólera, não pode ser considerado justo ou injusto, mas sim infortúnios.
Ainda cito uma distinção nesse texto onde não foi inventado por Aristóteles, poisos Pré-Socráticos já tinham essa noção, mais Aristóteles é o que elabora essa questão de forma mais formal. É também uma distinção trabalhada entre os juristas hoje em dia, que é a distinção entre JUSTO LEGAL X JUSTO NATURAL os gregos se referiam a NOMOS X PHYSIS. 
Physis, é aquilo que eram determinas coisas que eram certas, que existiam por natureza e o homem não tinha capacidade alguma de modificar essas coisas. JUSTO NATURAL.
Nomos, é uma palavra grega que designa regra ou norma, são determinados contextos que o homem cria, não são contextos naturais, são contextos que o homem cria. O homem interfere na sua criação. JUSTO LEGAL.
 Por fim, o ultimo detalhe do texto de Aristóteles é a questão da Equidade. Onde ela é a racionalidade, em que aquele que vai julgar que vai aplicar a lei, ele atenua os rigores da lei para ser mais justo no caso concreto. Ele faz uma metáfora onde diz que a Equidade deveria ser a RÉGUA DE LESBOS, onde era uma régua que era flexível. 
 
 “A equidade serve para atenuar os rigores das leis. ”
É o caso da aplicação da lei, como se aplica uma lei geral em um caso particular. Aristóteles já tinha essa preocupação, ele sabia que as leis eram gerais, e abstratas. Ou seja, as leis não eram feitas por um sujeito especifico, logo elas tinham em vista o interesse geral, os interesses comuns onde variadas situações se encaixavam nesse interesse. Mais Aristóteles ele reconhece que é complicado aplicar o geral no particular e em alguns momentos ela é problemática. Em casos como o Furto Famélico, essa lei tem que ser atenuada, então ele cita que nesses casos que se usa a justiça da equidade. 
 
 “A Equidade é a justiça no caso concreto”.
Rawls, John. Uma Teoria da Justiça capitulo: 1. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M.R. Esteves. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000 (4ª ed.)
Capítulo 1 – Justiça como equidade
Neste capítulo, justiça como equidade, o autor John Rawls, apresenta sua idéia de justiça como equidade, que pretende generalizar e abstrair ainda mais o tradicional conceito de contrato social. Este contrato é substituído por uma situação hipotética inicial pautada por restrições de conduta que conduzirão a um acordo sobre os princípios da justiça. Seu objetivo é elaborar uma teoria de justiça social que se contraponha ao modelo de justiça utilitarista.
Partindo da noção intuitiva que as estruturas sociais com suas posições sociais variadas levam pessoas de origens diferentes a expectativas de vida diferentes, dadas circunstâncias políticas, sociais e econômicas. Isto significa que as estruturas sociais favorecem alguns pontos de partida mais que outros, gerando desigualdades profundas que não podem ser justificadas por meio de noções como mérito ou valor. É justamente a essas desigualdades supostamente inerentes a uma sociedade que os princípios de justiça social devem ser aplicados. Uma concepção inicial de justiça social deve fornecer um padrão pelo qual os aspectos distributivos de uma sociedade devam ser avaliados
Na concepção de justiça como equidade, Rawls concebe um contrato social norteado por princípios de justiça que pessoas livres e racionais, preocupadas com seus próprios interesses aceitariam em uma posição inicial de igualdade. Estes princípios determinarão todos os acordos subsequentes, tipos de governo e tipos de cooperação social. Esta posição inicial de igualdade corresponde ao estado de natureza da teoria tradicional do contrato social (estágio anterior à sociedade civil no qual não há governo ou leis únicas instituídas) e é entendida como uma situação puramente hipotética na qual ninguém conhece seu lugar na sociedade, a posição de sua classe social, distribuição de habilidades, disponibilidades psicológicas ou inteligência, nem suas concepções de bem. As decisões estão permeadas por um véu da ignorância que garante que ninguém seja favorecido nem desfavorecido na escolha dos princípios. Desta forma, como todos estão em condições semelhantes, as escolhas resultam de um acordo equitativo. O autor sustenta que, ao contrário da posição utilitarista, as primeiras escolhas seriam no sentido de garantir igualdade na atribuição de deveres e direitos básicos e conceber a desigualdade como justa somente se favorece a todos, principalmente os menos favorecidos. Uma das metas da justiça como equidade: é fornecer uma base filosófica e moral aceitável para as instituições democráticas. 
O utilitarismo ao qual Rawls se contrapõe deve ser entendido com a doutrina pela qual a sociedade é vista como ordenada de maneira correta e justa, tendo suas instituições planejadas de modo a conseguir maior saldo líquido de satisfação. A satisfação social é obtida pela soma das satisfações de todos os seus membros. Seu princípio é promover o máximo bem-estar ao grupo e alcançar os mais altos sistemas de desejo, adotando para a sociedade os princípios de escolha racional para uma única pessoa. Assim, não importa o modo com se distribuem as satisfações entre os indivíduos, contanto que se atinja o grau máximo. 
A justiça social nega que a perda da liberdade de alguns seja justificada por um bem maior partilhado por outros, excluindo o pensamento que equilibra ganhos e perdas de diferentes pessoas como se fosse uma só. O princípio de maximização não é utilizado na nesta teoria. 
Na justiça como equidade as pessoas aceitam a priori um princípio de liberdade igual sem conhecer seus próprios objetivos pessoais. Seus desejos e aspirações são restringidos pelos princípios de justiça que delimitam os sistemas humanos de finalidades. É como se o conceito de justo precedesse ao conceito de bem.
O autor conclui o capítulo tentando contornar as objeções levantadas pela doutrina intuicionista em relação à justiça. Esta abordagem considera que a partir de dado nível de generalidade, não existem critérios construtivos para determinar a importância de princípios de justiça. O intuicionismo prevê uma pluralidade de princípios básicos que podem divergir e apontar direções contrárias, além de não ter nenhum método específico para avaliar e comparar estes princípios, sendo necessário apenas atingir um equilíbrio. Uma das dificuldades do intuicionismo reside na grande importância às capacidades intuitivas sem, no entanto, dispor de critérios orientados e éticos, além de negar a existência de uma solução explícita e útil para o problema da prioridade, que é solucionado na justiça como equidade. Contudo, o autor não defende que se deva eliminar completamente os juízos intuitivos, apenas reduzir nossa dependência em relação a eles.
O propósito deste texto é mostrar que não é insensato pensar na ideia de sistema equitativo de cooperação social em nossa cultura política pública. A ideia de sociedade bem-ordenada traz ainda a ideia fundamental de justificação pública, afinal esta sociedade é regida por uma concepção de justiça publicamente reconhecida. A justificação pública origina-se de um consenso: de premissas comuns que todas as partes em desacordo podem endossar razoavelmente. Nele, a meta é reduzir os desacordos, pelo menos no tocante às controvérsias mais irreconciliáveis, e em particular no que se refere àquelas relativas aos elementos constitucionais essenciais. Um dos objetivos da justificação pública é preservar as condições de uma cooperação social efetiva e democrática alicerçadas no respeito mútuo entre os cidadãos livres e iguais. Relacionada à ideia de justificação pública tem-se a ideia de equilíbrio reflexivo. Rawls parte da suposição de que os cidadãos são racionais e razoáveis, que possuem juízos refletidos e que estes juízos podem se contradizer entre si. Quando isso acontece, ele diz que alguns talvez tenham que ser revistos ou retratados para que se possa atingir o objetivo prático de obter um acordo razoável no tocante à justiça política. Quando isso é feito tendo em vista as principais concepções de justiça chegamos em um equilíbrio reflexivo amplo. Quando cada cidadão alcança este equilíbrio,chegamos numa sociedade bem ordenada. ainda à ideia de justificação pública tem-se a ideia de consenso sobreposto. A suposição é que os cidadãos afirmam uma concepção política de justiça e uma doutrina abrangente. 
Uma das metas da justiça como equidade: fornecer uma base filosófica e moral aceitável para as instituições democráticas. Em face disso, o autor voltando-se para a cultura política pública de uma sociedade democrática e para as tradições de interpretação de sua constituição e leis básicas visa encontrar as ideias que possam formar uma concepção política de justiça (a justiça como equidade): sistema equitativo de cooperação social sociedade bem-ordenada: a estrutura básica da sociedade (na qual a concepção política de justiça é aplicada) os termos equitativos da concepção política são determinados pelas partes na posição original, sob o véu da ignorância. As pessoas que participam da cooperação são consideradas livres e iguais. A justificação pública (juntamente com as ideias do equilíbrio reflexivo e do consenso sobreposto).

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