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Direito de Vizinhança 1a

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Direito de Vizinhança
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Publicado por Kaique Oliveira
ano passado
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1. INTRODUÇÃO	
Desde os primórdios, na aurora da humanidade, que o homem procurou, a bem de sua sobrevivência, viver em comunidade, período este, conhecido como período do paleolítico inferior, onde surgiu a espécie de homem pré-histórico, os Homo Neaderthalesis, famoso como homem das cavernas.
No período Neolítico calculado em 5 mil anos antes de Cristo, variando de região para região, e, até hoje, perdurando em algumas civilizações retardadas do Globo, teve sua feição mais importante, sem dúvida, no desenvolvimento das instituições. Uma instituição pode ser definida como um conjunto de crenças e atividades grupais, organizado de maneira mais ou menos permanente com vistas na consecução de algum objetivo do grupo. Costuma incluir um corpo de costumes e tradições, um código de regras e padrões, e complementos físicos tais como edifícios, meios punitivos e facilidades para a comunicação e a doutrinação. A mais perfeita instituição antiga foi a família.
Os homem eram “forçados” a viverem juntos, havia de se formar uma idioma comum, aproximando-se lentamente, reúnem-se em diversos grupos e formam, enfim, em cada região, uma nação particular, unida pelos costumes e pelos caracteres, não pelos regulamentos e pelas leis, mas pelo mesmo género de vida e pelos alimentos, bem como pela influência do clima.
É evidente que o direito de vizinhança está intimamente ligado com o surgimento das instituições, principalmente com a família e a propriedade.
Assim, para garantir a paz de sua família e a própria harmonia na convivência do grupo, foi mister estabelecerem-se regras de vizinhança.
Segundo Fustel de Coulanges, entre a maior parte das sociedades primitivas, foi pela religião que se estabeleceu o direito de propriedade.
Nas antigas populações greco-romanas, os deuses conferiram a cada família o seu direito sobre a terra, tornando-se evidente que a propriedade era uma instituição, sem a qual a religião doméstica não podia passar porque a mesma prescrevia isolar o domicílio e isolar também a sepultura: a vida comum era, pois, impossível.
A religião garantiu, o direito de propriedade, cada campo devia ser cercado de uma vedação que o separasse visivelmente dos domínios das outras famílias, considerados sagrados pela lei romana e nessa linha de separação o homem colocava algumas pedras grandes ou alguns troncos de árvores, a que chamavam "Termos" ou “marcos sagrados”. O "Termo" guardava, realmente, o limite do campo onde era para sempre propriedade daquela família. Para apossar-se do campo de uma família, era preciso derrubar ou deslocar um marco (Termo). O sacrilégio era horrível e o castigo severo.
A antiga lei romana falava em nome da religião, exprimia-se assim: aquele que tocar ou deslocar o "Marco", será condenado pelos deuses. A sua casa desaparecerá e a sua raça extinguir-se-á. A sua terra não produzirá mais frutos. O granizo, a ferrugem, os calores da canícula destruir-lhe-ão suas colheitas. Os membros do culposo cobrir-se-ão de úlceras e cairão por consumação.
Após o período caracterizado no sistema de relacionamento de vizinhos apenas pelo respeito religioso devido um ao outro, surgiu, gradativamente, a imposição de normas escritas denominadas leis.
Os egípcios do período pré-dinástico (2300, a. C) desenvolveram um sistema de leis baseado nos costumes, uniram-se sob uma autoridade única e criaram um sistema de leis para reger o relacionamento do povo, sob a compilação do referido Rei Dungi. Posteriormente, surgiu o famoso código de Hamurábi (importante rei assírio, 1780 a 1708 a. C.), nada mais do que uma revisão do código de Dungi, que passou a reger o povo babilónico, tornando-se a base de quase todos os povos semitas: babilónios, assírios, caldeus e hebreus.
Após isso, com a revolta dos plebeus contra os patrícios, nasce a lei das XII tábuas (450 a. C). Os plebeus não lutavam para que mudassem as leis, mas apenas para que elas fossem escritas, pois traria uma menor variação dos julgamentos que envolvessem Patrícios e Plebeus, já que, sendo os juízes de origem patrícia, a tendenciosidade de seus julgadores ficava óbvia. Diversos institutos do Direito Brasileiro têm origem nesta lei. O direito de vizinhança foi inserido na 8ª Tábua, que se ocupa dos direitos prediais. Estabeleceu, entre outras coisas, a distância mínima entre construções vizinhas (Do direito de construir), bem como definiu regra no sentido de atribuir os frutos caídos no terreno dos vizinhos ao proprietário da árvore que os produziu, além de permitir a poda de galhos da árvore do vizinho que se inclinem à altura de mais de quinze pés (Das árvores limítrofes).
- Tábua 8ª - Dos direitos prediais
1. A distância entre as construções vizinhas deverá ser de dois pés e meio.
2. Que os soldados (sócios) façam para si os regulamentos que entenderem, contanto que não prejudiquem o público.
3. A área de cinco pés deixada livre entre os campos limítrofes não poderá ser adquirida por usucapião.
4. Se surgirem divergências entre possuidores de campos vizinhos, que o pretor nomeie três árbitros para estabelecer os limites respectivos.
5. Lei incerta sobre limites
6.... Jardim...
7.... Herdade...
8.... Choupana...
9. Se uma árvore se inclinar sobre o terreno alheio, que os seus galhos sejam podados à altura de mais de 15 pés.
10. Se caírem frutos sobre o terreno vizinho, o proprietário da árvore terá o direito de colher esses Frutos.
11. Se a água da chuva retida ou dirigida por trabalho humano causar prejuízo ao vizinho, que o pretor nomeie cinco árbitros, e que estes exijam do dono da obra garantia contra o dano iminente.
12. Que o caminho em reta tenha oito pés de largura e o em curva tenha dezesseis.
13. Se aqueles que possuírem terrenos vizinhos a estradas não os cercarem, que seja permitido deixar pastar o rebanho à vontade. (Nesses terrenos).
Na Idade Média o direito de vizinhança passou a orientar-se pela teoria da proibição dos atos emulativos, que teve longa durabilidade. Por ato emulativo se entendia o que alguém pratica no exercício do próprio direito, com o fito de causar prejuízo a outrem e sem tirar para si qualquer proveito.
A evolução do direito de vizinhança, na realidade, após a Idade Média, não sofreu transformações de grande monta para acompanhar a dinâmica da civilização hodierna. Principalmente no Brasil, salvo as leis esparsas que surgiram posteriormente, o nosso Código Civil continuou com a mesma excência e o capítulo intitulado Direito de Vizinhança, traz até hoje as marcas do passado, com preponderância das lições que nos legaram os romanos, tanto para as zonas urbanas como para as rurais, malgrado a grande variedade de leis posteriores regulando o meio ambiente, o direito imobiliário, o condomínio, as servidões, a distribuição de águas, as construções privadas e públicas, as fábricas, os zoneamentos urbanos, enfim, as leis e regulamentos federais, estaduais e municipais que regem o relacionamento entre o poder público e os interesses privados em ebolição, objetivando preservar, acima de tudo, a saúde do cidadão e seu bem-estar.
2. CONCEITO
Segundo Daibert, "Direitos de vizinhança são limitações impostas por normas jurídicas às propriedades individuais, com o escopo de conciliar interesses de proprietários vizinhos, reduzindo os poderes inerentes ao domínio de modo a regular a convivência social".
Podemos dizer que relação de vizinhança é o complexo de direitos e obrigações recíprocas que regulam o direito da propriedade imóvel entre prédios vizinhos. Desse conceito extraímos duas observações:
Primeira – O Código Civil e os autores que, em princípio, lhe seguem a orientação, adotam terminologia inexata, ao referirem "direitos de vizinhança", quando na verdade se trata de relações de vizinhança, a envolverem não só direitos como ainda obrigações.
Segunda – Vários expositores da matéria só referem aspectos passivos dessas relações, falando em abstenção de prática de certos atos e
sujeição do proprietário a uma invasão da órbita dos seus direitos. Ora, a matéria envolve tanto de um como do outro vizinho, obrigações e direitos, na maioria das vezes recíprocas.
A Constituição Federal de 1988 assegura o direito de propriedade, mas ela mesma impõe limites necessários a uma convivência social pacífica (desapropriação, requisição, condicionamento ao bem-estar social, etc.) e ao mesmo tempo reconhece as restrições legais como as pertinentes aos direitos de vizinhança.
3. NATUREZA JURÍDICA
Os direitos de vizinhança enquadram-se no campo do direito das obrigações, segundo a posição dominante da doutrina. Segundo ensina o autor José de Oliveira Ascensão, "a obrigação real integra-se no conteúdo do direito real de que é acessória. Na obrigação propter rem encontra-se um simples débito, enquadrado no conteúdo dum direito real, e não um verdadeiro direito subordinado. A chamada obrigação propter rem reduz-se a um mero débito, a um dever de estrutura creditícia". Segundo o mesmo autor, a situação jurídica propter rem é gênero que tem como espécie a relação real. A primeira é definida como sendo aquela na qual o sujeito ou sujeitos são determinados através da titularidade de um direito real; a transmissão desse direito real acarreta a sua transmissão; a renúncia, a sua extinção. Já a relação jurídica real é aquela que tem por fim selecionar conflitos de direitos reais.
Nessas condições, as principais características das situações jurídicas propter rem seriam as seguintes:
· A determinação indireta do sujeito;
· A transmissão ao sucessor a título particular;
· A possibilidade do abandono liberatório.

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