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einstein. 2007; 5(2):117-122 117Transplante renal: diagnósticos e intervenções de enfermagem em pacientes no pós-operatório imediato artigo original rESUMo objetivos: Identificar os diagnósticos de enfermagem no período pós-operatório imediato de pacientes submetidos a transplante renal e levantar as ações de enfermagem, propostas pela Nursing Interventions Classification, para os diagnósticos de enfermagem identificados nos pacientes submetidos a transplante renal. Métodos: Estudo descritivo realizado por meio de prontuários digitalizados dos pacientes submetidos a transplante renal no período de julho a dezembro de 2004 em um hospital geral, particular, de grande porte do município de São Paulo. A coleta dos dados foi realizada por meio de instrumento que contém dados de identificação do paciente e uma relação de características definidoras e fatores relacionados/fatores de risco dos diagnósticos de enfermagem, de acordo com as complicações que ocorrem com maior freqüência, segundo a literatura, em pacientes no período pós-operatório imediato de transplante renal. resultados: Incidência de 100% dos seguintes diagnósticos: risco para volume de líquidos desequilibrado, risco de queda, risco de infecção, risco de aspiração, proteção ineficaz, mobilidade no leito prejudicada, integridade da pele prejudicada, déficit no autocuidado para banho/higiene. As principais intervenções de enfermagem para os diagnósticos levantados são: controle e monitorização de líquidos e eletrólitos, prevenção de quedas, proteção contra infecção, cuidados pós-anestesia, precauções contra aspiração, cuidados com repouso no leito, supervisão da pele, cuidados com lesões, assistência no autocuidado e regulação da temperatura. Conclusão: Os resultados obtidos facilitam a sistematização da assistência de enfermagem, visando à melhoria da assistência prestada ao paciente submetido a transplante renal. Descritores: Transplante de rim; Enfermagem peroperatória; Cuidados de enfermagem; Planejamento de assistência ao paciente; Diagnósticos de enfermagem aBStraCt objectives: To identify the nursing diagnosis in the immediate postoperative period of patients undergoing renal transplantation and to register the nursing actions proposed by the Nursing Interventions Classification, for nursing diagnoses identified in patients undergoing renal transplantation. Methods: A descriptive study performed by investigation of computerized hospital records from patients undergoing renal transplantation between July and December, 2004, in a large private general hospital in the city of São Paulo. Collection of data was carried out by means of an instrument that contains patient identification data and a list of defining characteristics and related factors/risk factors of nursing diagnosis, based on the most frequent complications reported in the literature, for patients in the immediate postoperative period of renal transplantation. results: Incidence of 100% of the following diagnoses: risk of fluid volume imbalance, risk of falls, risk of infection, risk of aspiration, inefficient protection, impaired bed mobility, impaired skin integrity, self-care deficit for bathing/hygiene. The major nursing interventions for the diagnoses found were control and monitoring of fluids and electrolytes, prevention of falls, protection against infection, post-anesthesia care, precautions against aspiration, bed rest care, skin supervision, care of lesions, and assistance on self-care and temperature control. Conclusion: The results obtained help to systemize nursing assistance aiming to improve care provided to patients undergoing renal transplantation. Keywords: Kidney transplantation; Perioperative nursing; Nursing care; Patient care planning; Nursing diagnoses introDUÇÃo No Brasil, calcula-se que haja cerca de 120 pacientes/ano com insuficiência renal crônica em fase terminal para cada milhão de habitantes(1). Transplante renal: diagnósticos e intervenções de enfermagem em pacientes no pós-operatório imediato Renal transplantation: diagnosis and nursing intervention in patients during immediate postoperative period Marilia Moura Luvisotto1, Rachel de Carvalho2, Luzia Elaine Galdeano3 Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 1 Enfermeira da Clínica Médica Cirúrgica do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE – São Paulo (SP), Brasil. 2 Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; Professora Responsável da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE – São Paulo (SP), Brasil. 3 Pós-graduanda em Enfermagem no Programa Interunidades das Escolas de Enfermagem de Ribeirão Preto e São Paulo, Universidade de São Paulo – USP; Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE – São Paulo (SP), Brasil. Autor correspondente: Marilia Moura Luvisotto – Rua Rocha Pombo, 343 – Jardim do Pilar – CEP 09185-750 – Santo André (SP), Brasil – Tel.: 11 4426-9493/7167-6267 – e-mail: mariliamluvisotto@ hotmail.com As autoras declaram a inexistência de conflitos de interesses entre si. Data de submissão: 9/9/2006 – Data de aceite: 19/3/2007 einstein. 2007; 5(2):117-122 118 Luvisotto MM, Carvalho R, Galdeano LE A insuficiência renal crônica é a perda gradual e irreversível da função renal; e, na fase terminal, a terapia renal substitutiva ou o transplante renal tornam-se necessários(2). O primeiro transplante renal no homem foi realizado, em 1933, na Ucrânia, porém o enxerto não funcionou. No início da década de 1950, vários transplantes renais foram realizados em Paris e Boston, mas nenhum fármaco foi utilizado para prevenir a rejeição e somente um paciente sobreviveu. No Brasil, o primeiro transplante renal com doador vivo foi realizado, em 1964, no Rio de Janeiro e com doador cadáver, em 1967, no interior do estado de São Paulo(3). Em 1963, com a associação de corticosteróides e azatropina, obteve-se o primeiro esquema de imunossupressores, até que no início de 1980 foi introduzida a ciclosporina revolucionando os transplantes de órgãos(4). Com a disponibilização de outras drogas, como o tacrolimus, houve um aprimoramento no controle dessas terapias. A introdução dos imunossupressores levou à diminuição das rejeições e ao aumento da vida média do enxerto transplantado, ampliando o tempo de vida do receptor. A toxicidade dessas drogas tornou-se um problema e a monitorização terapêutica dos imunossupressores passou a ocupar um lugar imprescindível no bom prognóstico dos procedimentos de pós-enxerto de órgãos(5). Todos os receptores necessitam de exames imunológicos, laboratoriais, endoscópicos e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos de pré-transplante, como a nefrectomia(6). O doador pode ser vivo ou cadáver. Quanto aos doadores vivos, a legislação aceita doação de cônjuges ou parentes de até quarto grau, outros possíveis doadores necessitarão de autorização judiciária. Em relação aos doadores cadáveres, é necessário o diagnóstico de morte encefálica por médico que não pertença à equipe envolvida no transplante(6-7). As vantagens do doador vivo em relação ao cadáver estão relacionadas a melhores resultados a curto e longo prazo, regime de imunossupressão menos agressivo, diminuição do tempo de espera por doadores cadáveres, enxerto funcionante mais rapidamente, programação da cirurgia pela equipe médica e pelo paciente (7). As contra-indicações para o transplante renal incluem: malignidade, infecções crônicas, doença extra-renal grave, não complacência e doenças psiquiátricas(8). Na cirurgia do receptor, o rim doado é colocado na fossa ilíaca do lado oposto ao que o rim foi retirado, a veia ilíaca externa éusada para anastomose com a veia renal, assim como a artéria renal é anastomosada com a artéria ilíaca interna ou externa. O ureter do doador é anastomosado à bexiga do receptor(1,6,9). As complicações cirúrgicas do transplante renal incluem: infecção da ferida cirúrgica, hemorragia, trombose do enxerto, estenose de artéria renal, perda urinária e obstrução ureteral(9). As primeiras 24 horas do pós-operatório estão relacionadas à instabilidade hemodinâmica e respiratória e à necessidade de reposição de grande quantidade de líquidos. O paciente deve manter sonda vesical de demora nos primeiros cinco a sete dias do pós-operatório(6,10). O sucesso do procedimento está relacionado à atuação da equipe multiprofissional(10-11). A assistência de enfermagem deve ser altamente qualificada e bem treinada(12). Objetivando promover, manter e recuperar a saúde de seus clientes, a idéia de cuidado está implícita na enfermagem, uma vez que a assistência é representada por atividades que devem ser prestadas com a qualidade que se espera de um bom profissional, não apenas do ponto de vista ético e humanístico, como também do ponto de vista técnico-científico(13). Como instrumento de trabalho da enfermeira, o diagnóstico de enfermagem é uma forma de expressar as necessidades de cuidados identificados(14). Diagnóstico de Enfermagem é o julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos processos de saúde/processos de vida reais ou potenciais. Tais diagnósticos propiciam a base para escolha das intervenções que visam à obtenção dos resultados pelos quais o enfermeiro é responsável(15). A Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC) denomina e descreve as intervenções que as enfermeiras executam, desde os tratamentos mais básicos até os altamente complexos e especializados(16). Define-se intervenção de enfermagem como qualquer tratamento (preventivo ou curativo), baseado no julgamento e conhecimento clínicos, realizado por um enfermeiro para aumentar os resultados obtidos pelo paciente(17). As intervenções constituem um conjunto de ações específicas a serem realizadas pelo enfermeiro com o objetivo de amenizar ou reverter um diagnóstico de enfermagem. A taxonomia da NANDA e a classificação das intervenções de NIC são abordadas como escolha da temática proposta, por sua ampla aplicação mundial na área de enfermagem. Na atuação diária, percebe-se a importância de trabalhar com as classificações propostas, pois o Diagnóstico de Enfermagem é uma das fases do Processo de Enfermagem que, por sua vez, caracteriza o papel de atuação independente do profissional enfermeiro. einstein. 2007; 5(2):117-122 119Transplante renal: diagnósticos e intervenções de enfermagem em pacientes no pós-operatório imediato Dessa forma, este trabalho tem como finalidade levantar os diagnósticos de enfermagem no pós- operatório imediato do transplante renal e listar intervenções de enfermagem para cada diagnóstico, buscando dados para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem aos pacientes submetidos a transplante renal. oBJEtiVoS • Identificar os diagnósticos de enfermagem no período pós-operatório imediato de pacientes submetidos a transplante renal. • Levantar as intervenções de enfermagem, propostas pela NIC, para os diagnósticos de enfermagem identificados nos pacientes submetidos a transplante renal. MÉtoDoS Tipo de estudo. Trata-se de uma análise descritiva, transversal, de nível 1. A pesquisa é documental e retrospectiva, considerando-se como fonte de informação os prontuários digitalizados de pacientes submetidos a transplante renal. Amostra. A amostra deste estudo foi composta de prontuários dos pacientes submetidos a transplante renal no período de julho a dezembro de 2004. No período determinado para o estudo, 37 pacientes foram submetidos a transplante renal. Destes, oito prontuários não se apresentavam digitalizados para consulta, sendo excluídos da amostra. Portanto, consideram-se 29 pacientes a amostra da pesquisa. Campo de estudo. O estudo foi realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, um hospital geral, particular, de grande porte do município de São Paulo, no qual a maioria dos transplantes realizados é custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS)(18-19). Instrumento. O instrumento de coleta de dados, adaptado de Canero, Carvalho e Galdeano(16), consiste em duas partes. A primeira contém dados de caracterização da amostra e a segunda, uma relação de características definidoras e fatores relacionados/fatores de risco dos diagnósticos de enfermagem, de acordo com as complicações que ocorrem com maior freqüência, segundo a literatura, em pacientes no período pós-operatório imediato de transplante renal. A lista de diagnósticos foi formulada conforme a Taxonomia II da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA)(15,18) e a listagem das intervenções de enfermagem relacionadas aos diagnósticos foi identificada de acordo com a Nursing Interventions Classification (NIC)(16). Foi designado espaço para outros possíveis diagnósticos, considerando a individualidade de cada paciente. Coleta de dados. A coleta de dados foi realizada pela análise de prontuários digitalizados retroativos de pacientes submetidos a transplante renal no período de julho a dezembro do ano de 2004. Foram utilizadas prescrições e evoluções médicas e de enfermagem e anotações de enfermagem no período pós-operatório imediato, ou seja, nas primeiras 24 horas após o transplante renal. Os dados foram coletados após aprovação do projeto pela Comissão Científica da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (FEHIAE) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). O acesso aos prontuários ocorreu após a autorização da coordenadora do Serviço de Prontuário do Paciente (SPP), considerando o pedido para a não utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como o compromisso das pesquisadoras relativo à utilização das informações. Tratamento dos dados. Após a coleta, os dados obtidos foram tratados pelas autoras e apresentados em números absolutos e porcentuais, por meio de tabelas, quadros e figuras. As intervenções foram agrupadas por categorias, de acordo com os respectivos diagnósticos de enfermagem. rESUltaDoS Considerando a amostra da pesquisa de 29 pacientes, após coleta de dados em prontuários digitalizados, verificou- se que a média da idade dos pacientes submetidos ao transplante renal no período de julho a dezembro de 2004 foi de 43 anos e 52% destes eram do sexo masculino. Quanto ao tipo de doador, 52% dos pacientes foram submetidos ao transplante com doador vivo. Em apenas 20% das cirurgias foram realizados transplantes duplos – 17% foram transplantes de pâncreas e rim associados e 3% transplantes de fígado e rim associados, como mostra a figura 1. Figura 1. Distribuição dos pacientes quanto ao transplante isolado/duplo Considerando-se que todos os pacientes com indicação de transplante renal tinham insuficiência renal crônica (IRC) como doença de base, as afecções associadas estão relacionadas na figura 2. einstein. 2007; 5(2):117-122 120 Luvisotto MM, Carvalho R, Galdeano LE Figura 2. Patologias associadas à IRC nos pacientes submetidos a transplante renal Figura 3. Antecedentes cirúrgicos dos pacientes submetidos ao transplante renal De acordo com a figura 2, observa-se grande freqüência de pacientes hipertensos (49%), o que pode estar relacionado a funções homeostáticas comprometidas, em decorrência da doença renal(20), seguidos de 20% com diabetes e 16% com outras patologias como artrite reumatóide, gastrite, retinopatia e depressão. Os antecedentes cirúrgicos dospacientes que fazem parte da amostra estão relacionados na figura 3. Verifica-se a confecção de fístula arteriovenosa (FAV) em 51% dos sujeitos da pesquisa, dada a necessidade de realização de hemodiálise em pacientes com IRC em estágio avançado com indicação de realização de transplante renal. Após a leitura e análise dos registros contidos no prontuário do paciente, os diagnósticos de enfermagem foram identificados mediante a aplicação do processo de raciocínio diagnóstico (tabela 1). As intervenções de enfermagem contidas na NIC(19) para os diagnósticos de enfermagem identificadas em pacientes no período pós-operatório imediato de transplante renal estão relacionadas no quadro 1. DISCUSSÃO Serão discutidos neste estudo os diagnósticos de enfermagem identificados com freqüência igual ou superior a 50%. Risco para volume de líquidos desequilibrado – é definido como “estar em risco de diminuição, aumento ou rápida mudança de uma localização para outra do líquido intravascular, intersticial e/ou intracelular”(15). Refere-se à perda, ganho, ou ambos, dos líquidos corporais, tendo como principal fator de risco procedimentos invasivos maiores. O paciente submetido a transplante renal é exposto a uma série de eventos que podem acarretar ora excesso de volume de líquidos, ora déficit(7,13). As alterações de volume de líquidos podem ocorrer a cada minuto. Risco de queda – é definido como “suscetibilidade aumentada para quedas que podem causar danos físicos”(15). Foram fatores de risco as condições pós-operatórias, a sedação e a mobilidade física prejudicada. Risco de infecção – é definido como “estar em risco aumentado de ser invadido por organismos patogênicos”(15). Foram fatores de risco o próprio procedimento cirúrgico, a imunossupressão, as defesas primárias inadequadas e a exposição ambiental aumentada, considerando o elevado número de pacientes que foram submetidos a procedimentos invasivos, como, por exemplo: sondagem vesical de demora, inserção de cateter venoso central e/ou acesso venoso periférico, inserção de dreno, de tubo endotraqueal e de sonda nasogástrica(13- 14). Risco de aspiração – é definido como “estar em risco de entrada de secreções gastrointestinais, tabela 1. Diagnósticos de enfermagem identificados no pós-operatório imediato de transplante renal Diagnósticos de enfermagem n % Risco para volume de líquidos desequilibrado 29 100 Risco de queda 29 100 Risco de infecção 29 100 Risco de aspiração 29 100 Proteção ineficaz 29 100 Mobilidade no leito prejudicada 29 100 Integridade da pele prejudicada 29 100 Déficit no autocuidado para banho/higiene 29 100 Risco de desequilíbrio na temperatura corporal 24 83 Troca de gases prejudicada 13 45 Dor aguda 11 38 Mucosa oral prejudicada 7 24 Comunicação verbal prejudicada 7 24 Náusea 6 21 Confusão aguda 4 14 Hipertermia 3 10 Padrão respiratório ineficaz 2 7 Hipotermia 2 7 einstein. 2007; 5(2):117-122 121Transplante renal: diagnósticos e intervenções de enfermagem em pacientes no pós-operatório imediato Quadro 1. Intervenções e ações de enfermagem para os diagnósticos de enfermagem identificados com freqüência superior a 50% em pacientes que se encontram no período pós-oper- atório imediato de transplante renal Diagnósticos de enfermagem intervenções de enfermagem ações de enfermagem Risco para volume de líquidos desequili- brado Controle e monitorização de líquidos e eletrólitos - Pesar diariamente e monitorar as tendências - Monitorar a situação da hidratação (membranas mucosas úmidas, adequação das pulsações e pressão sangüínea), quando adequado - Monitorar os resultados laboratoriais relevantes à retenção de líquidos (uréia aumentada, he- matócrito diminuído e níveis aumentados da osmolalidade urinária) - Monitorar os níveis anormais de eletrólitos séricos, quando possível Risco de queda Prevenção de quedas - Orientar o paciente a chamar auxílio ao movimentar-se, quando adequado - Colocar os itens pessoais ao alcance do paciente - Usar as laterais da cama com comprimento e altura adequados para prevenir quedas, conforme necessidade Risco de infecção Proteção ineficaz Proteção contra infecção - Monitorar sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção - Monitorar a contagem absoluta de granulócitos, de glóbulos brancos e os resultados diferenciais - Limitar o número de visitas quando adequado - Examinar a condição de qualquer incisão cirúrgica/ferida Risco de aspiração Precaução contra aspiração Cuidados na pós-anestesia - Monitorar o retorno da função sensorial e motora - Monitorar nível de consciência, reflexo de tosse, reflexo de náusea e capacidade para deglutir - Posicionar decúbito a 90º ou o mais elevado possível - Manter aspirador disponível Mobilidade no leito prejudicada Cuidados com o repouso no leito - Posicionar alinhamento correto do corpo - Manter a roupa de cama limpa, seca e sem rugas - Elevar as laterais da cama, conforme apropriado - Virar paciente imobilizado no mínimo a cada 2 horas, conforme programa específico - Monitorar a condição da pele Integridade da pele prejudicada Supervisão da pele Cuidados com lesões - Examinar a condição da incisão cirúrgica quando adequado - Providenciar os cuidados no local de incisão, se necessário - Examinar vermelhidão, calor exagerado ou drenagem na pele e nas membranas mucosas - Monitorar a temperatura da pele - Observar mudanças na pele e na membrana mucosa - Observar as características de qualquer drenagem - Manter desobstruídas as sondas de drenagem Déficit no autocuidado para banho/higiene Assistência no autocuidado - Monitorar a necessidade do paciente de recursos de adaptação para higiene pessoal, vestir-se, arrumar-se, fazer a higiene íntima - Oferecer assistência até que o paciente esteja totalmente capacitado a assumir o autocuidado Risco de desequilíbrio na temperatura corporal Regulação da temperatura - Monitorar pressão arterial, pulso, temperatura e padrão respiratório quando necessário - Monitorar e relatar sinais e sintomas de hipotermia e hipertermia - Monitorar cor, temperatura e umidade da pele secreções orofaríngeas, sólidos ou fluidos nas vias traqueobrônquicas”(15). Foram fatores de risco o nível de consciência reduzido e a mobilidade gastrointestinal diminuída. Proteção ineficaz – é definida como a “diminuição na capacidade de proteger-se contra ameaças internas ou externas, como doenças ou lesões”(15). Caracterizou-se pela deficiência na imunidade e relacionou-se ao processo cirúrgico e à terapia com drogas imunossupressoras(4), além dos procedimentos aos quais o paciente foi submetido e que já foram citados anteriormente. Mobilidade no leito prejudicada – é definida como a “limitação ao movimento independente de uma posição para outra no leito”(15). A característica definidora mais freqüente foi a capacidade prejudicada de mover-se da posição supina para a posição sentada com as pernas alongadas ou desta posição para a supina. A elevada freqüência desse diagnóstico está relacionada à extensão da incisão cirúrgica, à sonolência causada pelos agentes anestésicos e à presença de sondas, drenos e cateteres. Integridade da pele prejudicada – é definida como “epiderme e/ou derme alteradas”(15). Caracterizou-se pela invasão de estruturas do corpo, destruição das camadas da pele (derme) e rompimento da superfície da pele (epiderme). Relacionou-se a fatores mecânicos pelo processo cirúrgico, déficit imunológico causado pela imunossupressão e presença de incisão cirúrgica, sondas, drenos e cateteres. Déficit no autocuidado para banho/higiene é definido como a “capacidade prejudicada de realizar ou completar as atividades de banho/higiene por si mesmo”(15). Caracterizou- se por incapacidade de lavar o corpo ou partes do corpo. Relacionou-seprincipalmente à barreira ambiental, pois os pacientes no POI permanecem na terapia intensiva, e também à fraqueza, ao cansaço e/ou à dor. einstein. 2007; 5(2):117-122 122 Luvisotto MM, Carvalho R, Galdeano LE Risco de desequilíbrio na temperatura corporal – é definido como “estar em risco de não conseguir manter a temperatura corporal dentro dos parâmetros normais”(15). Causado, principalmente, por sedação, trauma cirúrgico e exposição a ambientes frios. Os diagnósticos levantados nesse estudo dizem respeito principalmente ao processo cirúrgico em que os sujeitos foram submetidos e não às peculiaridades de cada paciente. Para verificar as individualidades, seria necessária a realização de um estudo de caso aprofundado e voltado para aspectos não abordados na pesquisa. Quanto às intervenções de enfermagem listadas, verifica-se certa dificuldade em trabalhar com uma classificação internacional que não é adaptada à realidade brasileira. É necessária a realização de uma abordagem transcultural da linguagem para que essa classificação seja utilizada de forma clara e dentro dos padrões da profissão no país, visto que trabalhamos em nossa equipe com técnicos e auxiliares de enfermagem e não prescrevemos as intervenções apenas para enfermeiros. Dada a importância da implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), os dados colhidos e os resultados dessa pesquisa possibilitaram o levantamento das intervenções, baseadas nos diagnósticos de enfermagem aos pacientes submetidos a transplante renal. ConClUSÃo A análise dos dados obtidos pela coleta de informações nos prontuários dos pacientes submetidos a transplante renal permitiu-nos concluir que: • foram identificadas 18 categorias diagnósticas, com incidência de 100% para as seguintes: risco para volume de líquidos desequilibrado, risco de queda, risco de infecção, risco de aspiração, proteção ineficaz, mobilidade no leito prejudicada, integridade da pele prejudicada, déficit no autocuidado para banho/ higiene; • as intervenções de enfermagem propostas para os diagnósticos levantados com freqüência superior a 50% são: controle e monitorização de líquidos e eletrólitos, prevenção de quedas, proteção contra infecção, cuidados pós-anestesia, precauções contra aspiração, cuidados com repouso no leito, supervisão da pele, cuidados com lesões, assistência no autocuidado e regulação da temperatura. rEFErÊnCiaS 1. Koff WJ. Transplante renal. In: Darnião R, Bendhack DA, coordenadores. Guia prático de urologia [monografia na Internet]. 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