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DO CONCURSO DE CRIMES

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DO CONCURSO DE CRIMES – DIR. PENAL II 
1. Concurso real de crimes
	
Ocorre o concurso de crimes quando o agente pratica dois ou mais crimes.
Esses crimes podem ser praticados com apenas uma ou com mais de uma conduta.
EXEMPLO: “X” atira contra “Y” com a finalidade de matá-lo. A bala atravessa o corpo de “Y”, atingindo também “Z”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de dois delitos (homicídio doloso contra “Y” e homicídio culposo contra “Z”). Esses dois crimes foram praticados com apenas uma conduta.
EXEMPLO: “X” decide roubar “Y” em um beco escuro. Após subtrair, com grave ameaça, a bolsa, “X” resolve estuprar “Y”. Haverá concurso de crimes, considerando que houve a prática de dois crimes (roubo e estupro). Esses dois crimes foram praticados com duas condutas.
Existem três espécies de concursos de crimes:
a) Concurso material (art. 69 do CP);
b) Concurso formal (art. 70 do CP);
c) Crime continuado (art. 71 do CP)
A relevância deste tema é solucionar situações em que há vários crimes derivados de uma ou de várias condutas. Os crimes em concurso real estarão em um mesmo processo, e por isso o problema não é da teoria do crime, e sim da teoria da pena. Já o concurso aparente de crimes, ao contrário do concurso real, é de fato problema de tipicidade, e será abordado em tema adiante.
	O concurso real de crimes é a prática de mais de um delito por uma só conduta, ou por mais de uma conduta em seqüência. Veja que, se fosse perguntado ao leigo o que fazer quando há mais de um crime, este responderia que basta a soma das penas, e está resolvido o problema. Ocorre que a aplicação pura e simples desta regra acarreta situações extremamente desproporcionais, e por isso há critérios detalhados para que os ditames da razoabilidade sejam atendidos.
Notadamente, o artigo 69 do CP traz a regra normal para solução do tema, atinente ao concurso material. Os demais dispositivos pertinentes, artigos 70 e 71 do CP, dizem respeito ao princípio da proporcionalidade, e por isso surge uma norma implícita fundamental: só se aplicam os artigos 70 e 71 quando forem mais benéficos ao apenado. Pelo ensejo, vejamos, desde logo, os artigos, que serão de novo analisados pormenorizadamente, um por vez:
“Concurso material
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.”
“Concurso formal
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.”
“Crime continuado
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.”
	O ordenamento adota hoje dois sistemas para solucionar questões de concurso real de crimes: 
O primeiro é o do cúmulo material, consistente no mero somatório das penas cominadas aos crimes cometidos em concurso. Este sistema é adotado no concurso material e no concurso formal imperfeito.
O segundo sistema é o da exasperação, que consiste não no somatório das penas, mas sim na escolha de uma das penas cominadas, com a incidência de uma causa de aumento, das previstas nos artigos 70 e 71. Este sistema é aplicado na continuidade delitiva e no concurso formal perfeito.
	Antigamente, havia outros dois sistemas, que não mais são adotados: o da absorção, que consistia na simples opção pela pena mais grave, sendo as demais penas menores por esta absorvidas (criando quase que um fomento aos menores delitos, quando se pratica um mais gravemente punido); e o do cúmulo jurídico, que pregava que a pena aplicada deve ser menor do que a soma de todas as penas cominadas para os crimes concorrentes, mas deve ser também maior do que a maior das penas previstas. Por sua impropriedade, vê-se por quê estes critérios foram abandonados.
A necessidade de se diferenciar, como hoje se diferencia, entre o cúmulo material e a exasperação encontra fundamento na proporcionalidade, pois fatos há em que a reprovabilidade da conduta no concurso de crimes é flagrantemente menor do que em situações outras de concurso, e por isso o cúmulo material, então, se demonstraria irrazoável.
Veja DOIS exemplos:
Imagine-se que o agente atropela culposamente quatro pessoas, em um só erro de direção;
 imagine-se, agora, que um agente atropela quatro pessoas, mas em quatro oportunidades diferentes, no mesmo percurso, por quatro erros sucessivos e destacados uns dos outros. 
É evidente que esta última situação é mais grave, pois envolve a quebra de cuidado por quatro vezes, e por isso este concurso material merece o cúmulo material, enquanto no concurso formal do único atropelamento de quatro pessoas merece a exasperação.
	
1. CONCURSO MATERIAL DE CRIMES
	
REQUISITOS E CONSEQUENCIAS:
mais de uma ação ou omissão
a prática de dois ou mais crimes
Consequência: É bem simples: as penas dos crimes cometidos em concurso material são somadas, em cúmulo material.
A questão do chamado concurso material cuida da hipótese de quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, poderá ser responsabilizado em um mesmo processo, em virtude da prática de dois ou mais crimes. 
OBS: Caso as infrações tenham sido cometidas em épocas diferentes, investigadas por meio de processos também diferentes, que culminaram em várias condenações, não se fala em concurso material, mas, sim em soma ou unificação das penas aplicadas, nos termos do art. 66, III, a, da Lei de Execução Penal, com a finalidade de ter sido iniciada a execução penal. �
O concurso material – surge quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes que tenham entre si uma relação de contexto, ou que ocorra a conexão ou continência (art. 76 e 77 do CPP – estudaremos em Processo Penal I), cujos fatos criminosos poderão ser analisados em um mesmo processo, quando, a final, se comprovados, farão com que o agente seja condenado pelos diversos delitos que cometeu.
1.1.1 – Aplicação cumulativa de penas de reclusão e detenção
	Assim que fixar todas as penas, individualizando crime a crime, o juiz observará a parte final do artigo 69 do CP, que determina que a reclusão será cumprida primeiro. 
EXEMPLO: 
Suponha-se, então, que haja o cometimento de 05 (cinco) crimes:
03 (três)punidos com reclusão, somando dez anos.
 E 02 (dois) com detenção, somando cinco anos.
PENA: totalizando quinze anos o cúmulo de todas as penas. 
Como, então, ficará o regime de cumprimento desta pena, se crimes de detenção não podem ter o cumprimento da pena iniciado em regime fechado, como diz o artigo 33 do CP?
	
“Reclusão e detenção
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
§ 1º - Considera-se:
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.”
	Veja que a parte final do caput do artigo 33 determina que poderia haver a regressão para regime fechado em crimes de detenção “ salvo a necessidade”, mas o STF, em recente entendimento, estabeleceu que não é possível esta regressão por se tratar de impropriedade, não cabendo regredir para situação em que não se esteve jamais (pois detenção tem início em regime semi-aberto).
A respeito, o artigo 111 da LEP assim determina:
“Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.”
	RESPOSTA: Então, assim fica a situação: somar-se-ão as penas, e o regime será fixado de acordo com a natureza da pena. Será, no exemplo, regime fechado nos primeiros dez anos, e semi-aberto, no mínimo, nos cinco últimos anos. E, diga-se, o juiz da execução penal tem liberdade para alterar a situação, quando no curso da execução da pena sobrevier causa que justifique esta alteração.
	
VEJA UM JULGADO DO STJ SOBRE O TEMA:
“De acordo com os arts. 69 e 76 do Código Penal e 681 do Código de Processo Penal, no concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a mais grave, devendo a pena de reclusão a ser cumprida antes da pena de detenção.” (STJ, RHC 18664/RJ, 26/03/2007).
1.1.2 – Concurso material homogêneo ou heterogêneo: 
Pela expressão “idênticos” ou não, contida no caput do art. 69 do CP, podemos concluir pela existência de dois tipos de concurso material: 
quando os crimes cometidos forem idênticos, por óbvio, trata-se de concurso material homogêneo; não importando se a modalidade é praticada simples, privilegiada ou qualificada.
quando forem diferentes ( o agente praticar duas ou mais infrações penais diversas), é concurso material heterogêneo. 
Os crimes serão, sempre, conexos ou continentes, pois do contrário sequer poderão estar em curso no mesmo processo.
1.1.3 – Concurso material e penas restritivas de direitos: 
Alberto Silva Franco preleciona:
É perfeitamente possível a ocorrência de concurso material de infrações com aplicação cumulativa de penas privativas de liberdade que comportem substituição por penas restritivas de direito, em regime também cumulativo.
Se, no entanto, em relação a uma delas, a pena privativa de liberdade não tiver sido suspensa, a substituição das demais, de acordo com o art. 44 torna-se inviável. Obsta tal procedimento o § 1º do art. 69 do CP. 
Por outro lado, no caso de aplicação cumulada de restritivas de direitos, a execução dessas penas poderá ser simultânea (suspensão de habilitação para dirigir veículos, por um fato e prestação de serviços a comunidade por outro fato), se entre elas houver compatibilidade ou sucessiva (duas penas de limitação de fim de semana) se tal compatibilidade inocorrer. 
1.1.4 – Reinteração criminosa: jurisprudência
“Constatada a mera reiteração habitual, em que as condutas criminosas são autônomas e isoladas, deve ser aplicada a regra do concurso material de crimes.” (STJ, HC 140927/RJ).
2. CONCURSO FORMAL DE CRIMES
Conceito:
Ocorre o concurso formal quando o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não.
	REQUISITOS E CONSEQUÊNCIAS DO CONCURSO FORMAL OU IDEAL: 
Uma só ação ou omissão- uma única conduta
Prática de dois ou mais crimes- pluralidade de crimes
Obs: você deve relembrar que conduta é diferente de ato. Se “João” desfere várias facadas em “Maria” com o intuito de matá-la, ele pratica vários atos, mas uma só conduta!!!!!!!!!!!!!
CONSEQUÊNCIAS: 
Aplicação da mais grave das penas, aumentada de 1/6 até a metade;
Aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentada de 1/6 até a metade;
Aplicação cumulativa das penas, se ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios autônomos.
2.1. Concurso formal homogêneo e heterogêneo: 
Se idênticas as tipificações, o concurso será reconhecido como homogêneo; ou seja, quando com um mesmo fato realiza várias vezes o mesmo tipo penal.
EX: Se com um mesmo disparo se dá a morte de duas pessoas ou proferindo uma só expressão se injuria a muitos indivíduos.
EX: o sujeito, dirigindo seu veículo de forma imprudente, avança na contramão e atinge outro carro matando as duas pessoas que lá estavam (dois homicídios culposos – art. 302 do CTB).
Se diversas as tipificações, será heterogêneo, ou seja, quando com um só fato se satisfazem as exigências de diversos tipos penais.
EX: daquele que querendo causar a morte de uma pessoa também fere outra que por ali passava.
EX: o sujeito, dirigindo seu veículo de forma imprudente, avança na contramão e atinge outro carro matando uma pessoa que lá estava e ferindo a outra (um homicídio culposo e uma lesão corporal culposa – art. 302 e 303 do CTB).
Dependendo do concurso, se homogêneo ou heterogêneo, o CP traz soluções diversas no momento da aplicação da pena. 
Se homogêneo - o juiz, ao reconhecer, o concurso formal, deverá aplicar uma das penas, que serão iguais em virtude da prática de uma mesma infração penal, devendo aumentá-la de 1/6 até a metade.
Se heterogêneo – o juiz deverá selecionar a mais grave das penas, e também nesse caso, aplicar o percentual de aumento de 1/6 até a metade. 
2.2. Concurso formal próprio (perfeito) e impróprio (imperfeito): 
O concurso formal consiste no avilte a vários bens jurídicos com uma só conduta. O conceito é simples, bem como a sua divisão em concurso formal perfeito e imperfeito: o próprio artigo 70 do CP faz a diferenciação, trazendo o perfeito na primeira parte, e o imperfeito na parte final. Veja:
“Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.”
A distinção varia de acordo com a existência do elemento subjetivo do agente ao iniciar a sua conduta: 
PERFEITO:
Nos casos em que a conduta do agente:
é culposa na sua origem, sendo todos os resultados atribuídos ao agente a esse título, ou; 
 na hipótese de que a conduta seja dolosa, mas o resultado aberrante lhe seja imputado culposamente, o concurso será reconhecido como próprio ou imperfeito. 
EX: se alguém, imprudentemente, atropelar duas pessoas que se encontravam no ponto de ônibus, causando-lhes a morte, teremos um concurso formal próprio ou perfeito. (A)
EX: No caso daquele que, almejando lesionar o seu desafeto, contra ele arremessa uma garrafa de cerveja que o acerta, mas também atinge outra pessoa que se encontrava próxima a ele, causando-lhe, também, lesões, teremos uma primeira conduta dolosa e também um resultado que lhe poderá ser atribuído a título de culpa, razão pela qual essa modalidade de concurso formal será tida como própria ou imperfeita. � (VIDE NOTA DE RODAPÉ! RECORDAR É VIVER!) – (B)
CONSEQUÊNCIA: A regra, para o concurso formal perfeito, é a aplicação do sistema da exasperação da pena, como se vê no texto do artigo: aplica-se a pena mais grave aumentada de um sexto até a metade. 
A variação da aplicação do percentual de aumento dependerá do numero de infrações penais cometidas pelo agente, consideradas pelo concurso formal de crimes. Assim quanto maior for o numero de infrações penais, maior será o percentual de aumento; ao contrário, quanto menor for o número de infrações penais consideradas, menor será o percentual de aumento de pena, devendo o julgador devendo ter a sensibilidade necessária na análise de cada caso.
Esta gradação do aumento da pena deve ser feita de forma o mais objetiva possível:, por isso, em regra, o juiz utiliza-se da seguinte regra: 
 se há dois crimes, aumenta-se de um sexto; três crimes, um quinto; quatro crimes, um quarto; cinco crimes, um terço, e se há seis crimes ou mais, aumenta-se da metade.
JURISPRUDÊNCIA – MUITO IMPORTANTE: ( PARA A PROVA DA OAB)
“Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios distintos.” (STJ, HC 197684/RJ, Dje 29/06/2012).
“Configura-se concurso formal, quando praticado o crime de roubo, mediante uma só ação, contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, visto que violados patrimônios distintos.” (STJ, REsp 1050270/RS- Dje 30/03/2009). 
IMPERFEITO:
O concurso formal imperfeito, por sua vez, consiste na prática de uma conduta que se destina, dolosamente, a mais de um resultado (limitada a crimes dolosos, portanto, sendo então certo que concurso formal de crime culposo será sempre perfeito), sendo os desígnios na aquisição de todos os resultados autônomos entre si. 
Em outras palavras, o agente atua com desígnios autônomos, querendo, dolosamente, a produção de ambos os resultados. 
CONSEQUÊNCIA: Neste caso, aplica-se o sistema do cúmulo material, isto é, embora tenha praticado uma conduta única, produtora de dois ou mais resultados, se esses resultados tiverem sido por ele queridos inicialmente, em vez da aplicação do percentual de aumento de um sexto até a metade, suas penas serão cumuladas materialmente. 
Mas a casuística apresenta enormes dificuldades em se verificar estes desígnios autônomos, especialmente em crimes mais graves: a jurisprudência tem resolvido de forma casuística, entendendo que nos crimes mais graves se aplica o cúmulo material, em concurso imperfeito, mas alguns crimes mais brandos sofrerão exasperação.
OBS: O JUIZ DEVE NO CASO CONCRETO DELIBERAR A MELHOR FORMA DE CONCURSO A APLICAR. NO CASO CONCRETO. POR EXEMPLO: A COZINHEIRA, PRETENDENDO MATAR TODOS OS MEMBROS DE UMA FAMÍLIA, PARA QUAL TRABALHA, COLOCA VENENO NA REFEIÇÃO A SER SERVIDA, ESTÁ PRATICANDO VÁRIOS DELITOS COM UMA ÚNICA AÇÃO, MERECE SER PUNIDA PELA UNIDADE DE DESÍGNIO (CONCURSO FORMAL IMPERFEITO), PORÉM, AQUELE QUE VAI A SACADA DE UM PRÉDIO, CHAMADO POR POPULARES, E BRADA-LHES “PATIFES!”, ESTARIA OFENDENDO A HONRA DE UM OU DE TODOS? TERIA CABIMENTO APLICAR-LHE O CÚMULO MATERIAL, SOMANDO-SE AS PENAS, NUM TOTAL DE 30 A 40 INJÚRIAS (ART 140 DO CP)? OBVIAMENTE QUE NÃO, NÃO TEVE O AGENTE VÁRIOS DESÍGNIOS, ALMEJANDO ATINGIR VÁRIAS PESSOAS DETERMINADAS, MAS APENAS UM GRUPO DE PESSOAS DE MODO INDEFINIDO. 
Roubo de bens pertencentes a várias vítimas no mesmo contexto:
O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, exige que oito passageiros entreguem seus pertences (dois desses passageiros eram marido e mulher). Tipifique a conduta.
RESPOSTA: O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso formal (art. 70). Atenção: não se trata, portanto, de crime único!
Ocorre concurso formal quando o agente, mediante uma só ação, pratica crimes de roubo contra vítimas diferentes, ainda que da mesma família, eis que caracterizada a violação a patrimônios distintos. Precedentes. (...)
(HC 207.543/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 17/04/2012)
Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio?
RESPOSTA: Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em concurso formal PRÓPRIO. Veja recente precedente:
(...) Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios distintos. (...)
(HC 197.684/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 18/06/2012)
	
JURISPRUDÊNCIA – MUITO IMPORTANTE: ( PARA A PROVA DA OAB)
“Constatada, em Plenário do Júri, a ocorrência de desígnios autônomos do paciente para obtenção dos resultados alcançados, em face de sua conduta de atear fogo em ônibus, impedindo a saída de cada passageiro da aludida condução pública através da restrição de liberdade do motorista do coletivo, mister o reconhecimento do concurso formal impróprio.” (STJ, HC 132870/RJ, Dje 02/08/2010).
“Se o agente, mediante uma conduta desdobrada em atos diversos, ofende a honra subjetiva e objetiva das vítimas, ao proferir palavras constitutivas dos crimes de calúnia, difamação e injúria, em imputações autônomas, não há o que se falar em progressão criminosa, mas, sim, em concurso formal entre os delitos, na modalidade imprópria ou imperfeita, porquanto derivados de desígnios independentes.” (TJMG, Processo n º 1.0261.02012392-1/001, 30005/2007). 
“Na compreensão do Superior Tribunal de Justiça, no caso de latrocínio (art. 157, §3º, parte final, do CP), uma única subtração patrimonial, com dois resultados morte, caracteriza-se concurso formal impróprio. Precedente (STJ, HC 33618/SP, Dj 06/08/2006). 
“ O cometimento de uma só conduta, que acarreta em resultados diversos, um dirigido pelo dolo direto e outro pelo dolo eventual, configura a diversidade de desígnios. Precedente do STF. Hipótese em que se verifica o concurso formal imperfeito, que se caracteriza pela ocorrência de mais de um resultado, através de uma só ação cometida com propósitos autônomos.” (STJ, REsp, 138557/DF). 
2.3. Concurso material benéfico: art. 70, parágrafo único:
Sempre que a regra do concurso material for mais benéfica do que a prevista para o concurso formal, esta última deverá ser desprezada, aplicando-se aquela. 
“Incide a regra do art. 70, parágrafo único, do CP quando o concurso formal conduz a punição mais severa que o concurso material.” (STF, RE 118364/PR).
2.4. Aplicação da pena:
Antes de aplicar o percentual previsto pelo art. 70, caput, do Código Penal, o juiz deveráencontrar a pena de cada infração penal, isoladamente. Após, selecionará a mais grave das penas aplicadas ou, se iguais, somente uma delas, e sobre ela fará incidir o cálculo correspondente ao concurso formal de crimes, aumentando-a em qualquer caso, de 1/6 até a metade, desde que as infrações penais não resultem de desígnios autônomos, ou seja, desde que a vontade do agente não tenha sido dirigida finalisticamente no sentido de praticar cada uma delas. 
“Em se tratando de concurso formal de crimes, a pena deverá ser fixada distintamente para cada um dos delitos, realizando-se em seguida, o aumento previsto no art. 70 do CP”. (STJ, HC 109. 832/DF).
2.5. Diferença entre concurso material e concurso formal:
“Para distinguir o concurso material do concurso formal, é imprescindível verificar se o Agente praticou uma ou mais ações, e se atingiu uma ou mais vítimas, com patrimônios únicos ou diversos. In casu, as instâncias ordinárias – soberanas na análise fático-probatória – concluíram que, embora somente uma vítima tenha sido lesada, a ação não foi única. Por isso deve entender-se que as condutas foram praticadas em concurso material.” ( STJ, HC 162862/SP. Dje 21/05/2012). 
II – Concurso formal perfeito e imperfeito
	PERFEITO (normal, próprio)
	IMPERFEITO (anormal, impróprio)
	O agente produziu dois ou mais resultados criminosos, mas não tinha o desígnio de praticá-los de forma autônoma.
	Quando o agente, com uma única conduta, pratica dois ou mais crimes dolosos, tendo o desígnio de praticar cada um deles (desígnios autônomos).
	Ex1: João atira para matar Maria, acertando-a. Ocorre que, por culpa, atinge também Pedro, causando-lhe lesões corporais. João não tinha o desígnio de ferir Pedro.
Ex2: motorista causa acidente e mata 3 pessoas. Não havia o desígnio autônomo de praticar os diversos homicídios.
	Ex1: Jack quer matar Bill e Paul, seus inimigos. Para tanto, Jack instala uma bomba no carro utilizado pelos dois, causando a morte de ambos. Jack matou dois coelhos com uma cajadada só.
Ex2: Rambo vê seu inimigo andando de mãos dadas com a namorada. Rambo pega seu fuzil e resolve atirar em seu inimigo. Alguém alerta Rambo: “não atire agora, você poderá acertar também a namorada”, mas Rambo responde: “eu só quero matá-lo, mas se pegar nela também tanto faz. Não estou nem aí”. Rambo, então, desfere um único tiro que perfura o corpo do inimigo e acerta também a namorada. Ambos morrem.
	Pode ocorrer em duas situações:
     1) DOLO + CULPA: quando o agente tinha dolo de praticar um crime e os demais delitos foram praticados por culpa (exemplo 1);
     2) CULPA + CULPA: quando o agente não tinha a intenção de praticar nenhum dos delitos, tendo todos eles ocorrido por culpa (exemplo 2).
	Ocorre, portanto, quando o sujeito age com dolo em relação a todos os crimes produzidos.
Aqui é DOLO + DOLO. Pode ser:
     Dolo direto + dolo direto (exemplo 1);
     Dolo direto + dolo eventual (exemplo 2).
	Fixação da pena:
Regra geral: exasperação da pena:
     Aplica-se a maior das penas, aumentada de 1/6 até 1/2.
     Para aumentar mais ou menos, o juiz leva em consideração a quantidade de crimes.
Exceção: concurso material benéfico
O montante da pena para o concurso formal não pode ser maior do que a que seria aplicada se houvesse feito o concurso material de crimes (ou seja, se fossem somados todos os crimes).
É o caso do exemplo 1, que demos acima, sobre João. A pena mínima para o homicídio simples de Maria é 6 anos. A pena mínima para a lesão corporal culposa de Pedro é 2 meses.
Se fôssemos aplicar a pena do homicídio aumentada de 1/6, totalizaria 7 anos.
Se fôssemos somar as penas do homicídio com a lesão corporal, daria 6 anos e 2 meses.
Logo, nesse caso, é mais benéfico para o réu aplicar a regra do concurso material (que é a soma das penas). É o que a lei determina que se faça (art. 70, parágrafo único, do CP) porque o concurso formal foi idealizado para ajudar o réu.
	Fixação da pena
No caso de concurso formal imperfeito, as penas dos diversos crimes são sempre SOMADAS. Isso porque o sujeito agiu com desígnios autônomos.
Imagine agora o seguinte caso recentemente julgado pelo STJ (com adaptações):
“João”, com a intenção de ceifar a vida de “Maria” (que estava grávida de 8 meses e ele sabia disso), desfere várias facadas em sua nuca. “Maria” e o feto morrem.
Se fosse uma prova do CESPE, como você tipificaria a conduta de “João”?
RESPOSTA: “João” praticou homicídio (art. 121) e aborto provocado por terceiro (art. 125) em concurso formal (art. 70).
A pergunta difícil vem agora: trata-se de concurso formal perfeito ou imperfeito?
RESPOSTA: concurso formal IMPERFEITO (impróprio ou anormal).
Houve dolo direto em relação ao homicídio e dolo eventual no que se refere ao aborto.
Assim, o agente possuía desígnios autônomos com relação aos dois crimes praticados. Tinha o dolo de praticar os dois delitos.
Como será calculada a pena de “João”?
A pena pelo homicídio será somada à pena do aborto (segunda parte do art. 70).
(Sexta Turma. HC 191.490-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2012).
STJ - HABEAS CORPUS HC 192927 SP 2010/0227471-0 (STJ)
Data de publicação: 23/04/2012
Ementa: HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO TENTADO E ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO, CONCURSO DE AGENTES E RESTRIÇÃO DALIBERDADE DA VÍTIMA. CRIME ÚNICO. NÃO OCORRÊNCIA. VÍTIMAS E PATRIMÔNIOS DISTINTOS. CONCURSO FORMAL CARACTERIZADO. ORDEM DENEGADA. 1. Dúvida não há de que o paciente, em um mesmo contexto fático e circunstancial, por meio de uma única ação, abordou vítimas distintas, atingindo-lhes os patrimônios material e emocional, nãose podendo falar, portanto, em crime único, mas em pluralidade de delitos. 2. Habeas corpus denegado.
Qual será o percentual de aumento que o juiz irá impor ao condenado(corrigido):
RESPOSTA: 1/2 (considerando que foram oito roubos).
Segundo o STJ, o critério para o aumento é o número de crimes praticados:
2crimes – aumenta 1/6
3 crimes – aumenta 1/5
4 crimes – aumenta 1/4
5 crimes – aumenta 1/3
6 ou mais – aumenta ½
: 
JURISPRUDENCIAS QUE NÃO RECONHECERAM O CONCURSO DE CRIMES:
STJ - HABEAS CORPUS HC 204316 RS 2011/0087297-8 (STJ)
Data de publicação: 19/09/2011
Ementa: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. AFASTAMENTO DO CONCURSOFORMAL. RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO. PROCEDÊNCIA. POSSE EXERCIDAPOR ÚNICA PESSOA. 1. Ainda que atingidos patrimônios distintos, não há falar emconcurso formal de crimes, mas em crimeúnico de roubo, se aviolência ou grave ameaça se voltou contra uma pessoa que, sozinha,exercia a posse de bens de sua propriedade e de terceiros. 2. No caso, embora o caminhão subtraído pertencesse à empresatransportadora, foi o motorista, que se encontrava na posse doveículo, quem sofreu as ameaças e teve a liberdade cerceada. 3. Conquanto dois tenham sido os patrimônios malferidos, isto é, oda empresa transportadora - proprietária do caminhão -, e o docaminhoneiro - dono dos oitenta e oito reais subtraídos -, a vítimado roubo foi uma só, isto é, o motorista, que sobre os bens exerciaa posse direta. 4. Ordem concedida.
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. CRIMES COMETIDOS ANTES DO ADVENTO DA LEI Nº 12.015 /2009. TIPO MISTO ALTERNATIVO. PRETENDIDO RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AUSÊNCIA, PORÉM, DE PEÇA ESSENCIAL À DEMONSTRAÇÃO DE QUE OS DELITOS FORAM COMETIDOS CONTRA A MESMA VÍTIMA E NO MESMO CONTEXTO FÁTICO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
 I. Ambas as Turmas que compõem a 3ª Seção desta Corte entendem que, como a Lei 12.015 /2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a existência de crime único, caso tenha sido praticado contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático. Assim, a pluralidade de atos sexuaisdeverá ser levada em consideração pelo juiz, quando da análise das circunstâncias do art. 59 do Código Penal , na fixação da pena-base. Precedentes. II. Para que se caracterize a ocorrência de crime único, como pretende a defesa, deve estar comprovado que os crimes praticados antes da nova Lei, foram cometidos contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático. III. A verificação da ocorrência de crime único não reúne, no caso, condição de adequada análise. Na hipótese, a ausência de peça essencial ao deslinde da controvérsia - cópia da denúncia e da sentença condenatória - impede o adequado conhecimento da matéria, no particular, eis que a descrição dos fatos mostra-se imprescindível para constatar se os crimes ocorreram na mesma situação fática e contra a mesma vítima. IV. Recurso conhecido e improvido.
3. DO CRIME CONTINUADO:
REQUISITOS E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME CONTINUADO: 
REQUISITOS:
Mais de uma ação ou omissão – pluralidade de condutas
Prática de dois ou mais crimes da mesma espécie – pluralidade de crimes da mesma espécie
Condições semelhantes de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes;
Os crimes subsequentes devem ser havidos como continuação do primeiro – unidade de desígnio
Consequências: 
Aplicação da pena de um só dos crimes, aumentada de 1/6 a 2/3;
Aplicação da mais grave das penas, se diversas, aumentada de 1/6 a 2/3;
Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça a pessoa, aplicação de um só dos crimes, se idênticas, aumentada até o triplo;
nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça a pessoa, aplicação da mais grave das penas, se diversas aumentada até o triplo. 
CONCURSO DE CRIMES
CRIME CONTINUADO (CONTINUIDADE DELITIVA)
	O crime continuado é uma ficção jurídica, inspirada em motivos de política criminal, idealizada com o objetivo de ajudar o réu. Ao invés de ele ser condenado pelos vários crimes, receberá a pena de somente um deles, com a incidência de um aumento previsto na lei. 
Exemplo: 
Carlos era caixa de uma lanchonete e estava devendo 500 reais a um agiota. Ele decide então, tirar o dinheiro do caixa para pagar sua dívida. Ocorre que se ele tirasse tudo de uma vez o seu chefe iria perceber. Carlos resolve, portanto, subtrair 50 reais por dia. Assim, após 10 dias ele consegue retirar os 500 reais. 
Desse modo, Carlos, por meio de 10 condutas, praticou 10 furtos. Analisando as condições de tempo, local, modo de execução, pode-se constatar que os outros 9 furtos devem ser entendidos como mera continuação do primeiro, considerando que sua intenção era furtar todos os 500 reais. 
Ao invés de Carlos ser condenado por 10 furtos, receberá somente a pena de um furto, com a incidência de um aumento de 1/6 a 2/3. 
Natureza jurídica
Existem três teorias que foram desenvolvidas para tentar explicar a natureza jurídica da continuidade delitiva:
a) Teoria da unidade real: afirma que todas as condutas praticadas que, por si sós, já se constituiriam em infrações penais, são um único crime. Segundo essa teoria, para todos os efeitos, Carlos praticou apenas um único furto.
b) Teoria da ficção jurídica: sustenta que cada uma das condutas praticadas constitui-se em uma infração penal diferente. No entanto, por ficção jurídica, esses diversos crimes são considerados, pela lei, como crime único. Segundo essa teoria, Carlos praticou 10 furtos, entretanto, considera-se, ficticiamente, para fins de pena, que ele cometeu apenas um.
c) Teoria mista: defende que se houver crime continuado surge um terceiro crime, resultado do próprio concurso. Segundo essa teoria, Carlos praticou uma nova categoria de crime, chamada de furto por continuidade delitiva.
Qual é a teoria adotada no Brasil?
A teoria da ficção jurídica.
VEJAMOS OS REQUISITOS JÁ MENCIONADOS ACIMA: 
1) Pluralidade de condutas
O agente deve praticar duas ou mais condutas, ou seja, mais de uma ação ou omissão.
2) Pluralidade de crimes da mesma espécie
O agente deve praticar dois ou mais crimes da mesma espécie.
OBS: Segundo o STJ e o STF, quando o CP fala em crimes da mesma espécie ele exige que sejam crimes idênticos.!!!!!!
Desse modo, para que seja reconhecida a continuidade delitiva é necessário que o agente pratique dois ou mais crimes idênticos (ex: quatro furtos simples consumados e um tentado).
Se a pessoa comete um furto e depois um roubo não há continuidade delitiva!!!!!
Se a pessoa pratica um roubo simples e, em seguida, um latrocínio, igualmente, não haverá crime continuado!!!!
Para que haja continuidade, repita-se, é indispensável que os crimes sejam idênticos.
3) Condições semelhantes de tempo, lugar, maneira de execução, entre outras
A doutrina afirma que deve haver uma conexão de tempo, de lugar e de execução entre os crimes para que se caracterize o crime continuado.
3.1 Conexão de tempo (conexão temporal):
Significa dizer que, para que haja continuidade delitiva, não pode ter se passado um longo período de tempo entre um crime e outro.
Para os crimes patrimoniais, a jurisprudência afirma que entre o primeiro e o último delito não pode ter se passado mais que 30 dias. Se houve período superior a 30 dias, não se aplica mais o crime continuado, havendo, neste caso, concurso material.
Vale ressaltar que, em alguns outros delitos, como nos crimes contra a ordem tributária, a jurisprudência admite que esse prazo seja maior.
3.2 Conexão de lugar (conexão espacial):
Para que haja continuidade delitiva, os crimes devem ter sido praticados em semelhantes condições de lugar.
Segundo a jurisprudência, semelhantes condições de lugar significa que os delitos devem ser praticados dentro da mesma cidade, ou, no máximo, em cidades contíguas.
3.3 Conexão quanto à maneira de execução (conexão modal):
Para que haja continuidade delitiva, os crimes devem ter sido praticados com o mesmo modus operandi, ou seja, com a mesma maneira de execução (mesmos comparsas, mesmos instrumentos etc).
4) Unidade de desígnio
Esse quarto requisito não está previsto expressamente no art. 71 do CP. Por isso, alguns doutrinadores afirmam que ele não é necessário. Sobre o tema, surgiram duas teorias:
4.1 Teoria objetiva pura (puramente objetiva):
Segundo esta teoria, os requisitos para a continuidade delitiva são apenas objetivos e estão expressamente elencados no art. 71 do CP. Daí o nome: puramente objetiva.
Não é necessário que se discuta se a intenção do agente era ou não praticar todos os crimes em continuidade delitiva.
No exemplo que demos acima, não interessa discutir se o objetivo de Carlos era praticar um único furto de 500 reais dividido em várias vezes ou se sua intenção era ficar subtraindo o dinheiro da padaria por tempo indeterminado.
Essa teoria é minoritária e ultrapassada.
4.2 Teoria objetivo-subjetiva (também chamada de teoria mista):
De acordo com esta teoria, os requisitos para a continuidade delitiva são de natureza tanto objetiva como subjetiva. Daí o nome da teoria: objetivo-subjetiva.
Os requisitos objetivos estão previstos no art. 71 (mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução).
O requisito subjetivo, por sua vez, é a unidade de desígnio, ou seja, o liame volitivo entre os delitos, a demonstrar que os atos criminosos se apresentam entrelaçados (a conduta posterior deve constituir um desdobramento da anterior).
Conforme explica Nucci:
“Somente deveria ter direito ao reconhecimento desse benefício legal o agente criminoso que demonstrasse ao juiz o seu intuito único, o seu propósito global, vale dizer, evidenciasse que, desde o princípio, ou pelo menos durante o iter criminis, tinha o propósito de cometer um crime único, embora por partes. Assim, o balconista de uma loja que, pretendendo subtrair R$ 1.000,00 do seu patrão, comete vários e contínuos pequenos furtos até atingir a almejada quantia. Completamente diferente seria a situação daquele ladrão quecomete furtos variados, sem qualquer rumo ou planejamento, nem tampouco objetivo único.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 6ª ed., São Paulo: RT, 2006, p. 405).
Essa é a teoria adotada pelo STJ e STF:
(...) O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de que para caracterizar a continuidade delitiva é necessária a demonstração da unidade de desígnios, ou seja, o liame volitivo que liga uma conduta a outra, não bastando, portanto, o preenchimento dos requisitos objetivos (mesmas condições de tempo, espaço e modus operandi).
2. No caso, observa-se que o Tribunal a quo, ao aplicar a regra do art. 71 do Código Penal, adotou a teoria puramente objetiva, deixando de valorar os aspectos subjetivos. (...) (REsp 421.246/SP, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 15/12/2009).
Criminoso habitual ou profissional
A adoção da teoria objetivo-subjetiva é importante para que o instituto da continuidade delitiva não seja aplicado a “criminosos profissionais”, ou seja, quando há habitualidade criminosa.
Assim, se no caso concreto, percebe-se que o acusado praticou vários crimes da mesma espécie, com as mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução pelo fato de ele ser um criminoso profissional, nesses casos, a jurisprudência tem negado a aplicação do crime continuado por faltar a unidade de desígnio.
Com efeito, se o agente é uma pessoa que faz da prática criminosa sua atividade constante, fica evidente que ele não queria praticar apenas um crime (fracionado), mas sim todos eles, considerando que o crime tornou-se sua profissão.
Desse modo, não se aplica o crime continuado se houver habitualidade criminosa (reiteração criminosa).
OBS: Se o agente praticou reiteradamente crimes contra o patrimônio, isso indica uma delinquência habitual ou profissional, o que impossibilita o reconhecimento de continuidade delitiva. Para o STF, quando há uma habitualidade criminosa não é possível reconhecer o crime continuado. A habitualidade criminosa ocorre quando o sujeito faz do crime um estilo de vida!!!!!
Espécies de crime continuado:
Existem três espécies de crime continuado:
a) Crime continuado simples (comum)
b) Crime continuado qualificado
c) Crime continuado específico
SIMPLES:
Ocorre quando o agente pratica dois ou mais crimes que possuem a mesma pena.
Ex: três furtos simples consumados OU dois furtos qualificados tentados.
Como se calcula a pena:
RESPOSTA: aplica-se a pena de um só dos crimes, exasperada (aumentada) de 1/6 a 2/3.
O critério para o aumento é exclusivamente o número de crimes praticados:
2 crimes – aumenta 1/6
3 crimes – aumenta 1/5
4 crimes – aumenta 1/4
5 crimes – aumenta 1/3
6 crimes – aumenta ½
ou mais – aumenta 2/3
QUALIFICADO:
Ocorre quando o agente pratica dois ou mais crimes que possuem penas diferentes.
Ex: dois furtos simples consumados e um tentado OU um furto qualificado consumado e um tentado.
Como se calcula a pena:
RESPOSTA: aplica-se a pena do crime mais grave, exasperada (aumentada) de 1/6 a 2/3.
O critério para o aumento é exclusivamente o número de crimes praticados:
2 crimes – aumenta 1/6
3 crimes – aumenta 1/5
4 crimes – aumenta 1/4
5 crimes – aumenta 1/3
6 crimes – aumenta 1/2
7 ou mais – aumenta 2/3
ESPECÍFICO:
Ocorre no caso de:
crimes dolosos
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa
contra vítimas diferentes
Ex: José segue duas mulheres que caminhavam juntas e pratica estupro consumado contra uma e estupro tentado contra a outra.
Como se calcula a pena:
RESPOSTA: aplica-se a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, e aumenta até o triplo (3x).
Apesar de não haver previsão legal, a jurisprudência entende que o aumento mínimo é de 1/6.
O critério para o aumento é a análise da culpabilidade, dos antecedentes, da conduta social e da personalidade do agente, bem como dos motivos e das circunstâncias.
OBS: 
Crime continuado e homicídio:
João quer matar as três testemunhas do roubo que ele praticou; em um dia, ele mata a primeira; no dia seguinte, ceifa a vida da segunda; no terceiro dia, assassina a testemunha restante; todos os três homicídios foram praticados na mesma cidade e com o mesmo modus operandi.
É possível reconhecer a continuidade delitiva neste exemplo? É possível reconhecer a continuidade delitiva em caso de homicídio?
RESPOSTA: SIM, é possível a continuidade delitiva em crimes contra a vida.
Antes da vigência da Lei n.7.209/1984, não era possível reconhecer crime continuado em caso de homicídio.
 O STF editou, na década de 1950, até mesmo uma súmula afirmando expressamente isso:
Súmula 605-STF: Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
Ocorre que, em 1984, foi editada a Lei n.7.209 prevendo expressamente esta possibilidade no parágrafo único do art. 71 do Código Penal. Com isso, tornou-se possível a continuidade delitiva mesmo em caso de crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça contra vítimas diferentes.
Concurso material benéfico:
O parágrafo único do art. 71 fala o seguinte: “observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”. O que quer dizer isso?
Isso significa que o montante da pena aplicada para o crime continuado não pode ser maior do que a pena que seria aplicada se fosse feito o concurso material de crimes (ou seja, se fossem somados todos os crimes).
Ex: José segue duas mulheres que caminhavam juntas e pratica estupro consumado contra uma (“A”) e estupro tentado contra a outra (“B”).
O juiz condena José a 6 anos pelo estupro de “A” e a 4 anos pelo estupro de “B”. Como o juiz reconheceu o crime continuado entre os dois crimes, ele deve pegar a pena mais grave (6 anos pelo estupro contra “A”) e aplicar um aumento de até o triplo (3x).
Se o juiz aumentasse o dobro (2x), a pena ficaria em 12 anos. Se aumentasse o triplo, o total seria de 18 anos.
Ocorre que, pela regra do concurso material benéfico, o juiz não poderia aplicar todo esse aumento porque a pena ficaria superior a 10 anos (6 anos de um estupro + 4 anos da tentativa) que seria a pena caso fosse concurso material de crimes. Logo, o aumento a ser feito pelo magistrado não pode conduzir a pena a um patamar superior, neste exemplo, a 10 anos.
Então, neste nosso caso concreto, o julgador poderia aumentar até 2/3, o que daria um total de 10 anos (2/3 de 6 anos é igual a 4 anos).
Além disso, o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos (art. 75 do CP).
Crime continuado e conflito de leis no tempo:
Voltemos ao exemplo dado no início sobre o furto praticado por Carlos.
Carlos subtrai 50 reais no dia 01/07 do caixa da padaria; no dia 02/07, subtrai mais 50 reais; no dia 03/07, Carlos não vai trabalhar e nesta data entra em vigor uma nova lei aumentando a pena do furto; no dia 04/07, Carlos subtrai mais 50 reais. Assim, após 10 dias ele consegue retirar os 500 reais.
Desse modo, perceba que uma parte dos furtos que Carlos praticou foram sob a égide da lei antiga e os demais furtos ocorreram quando já estava em vigor a lei nova.
Indaga-se: Carlos irá responder com base na lei antiga ou na lei nova?
RESPOSTA: Lei nova. Isso porque, com a entrada da nova lei mais gravosa Carlos poderia ter desistido da prática dos delitos, mas mesmo assim persistiu, de forma que deverá responder pela nova legislação, ainda que mais severa.
Esse tema encontra-se sumulado pelo STF:
Súmula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
JURISPRUDÊNCIAS:
O STF se deparou com uma tênue diferenciação de condutas, ao analisar o caso de um indivíduo que ingressa na residência das vítimas (um casal) com a intenção de subtrair bens que guarnecem a moradia. Não satisfeito, subtrai as aliançasde ambas e mata uma delas (INFORMATIVO 705 DO STF):
Desta feita, cumpriu ao STF analisar justamente o objeto do crime sub studio: a subtração dos bens da residência das vítimas, aliada a das suas alianças atinge um único patrimônio (e então vislumbra-se crime único) ou patrimônios distintos (o que poderia autorizar o fracionamento da conduta e o possível concurso formal de crimes)?
Não se pode olvidar que essa diferenciação é fundamental: caso seja reconhecido concurso formal de delitos, será aplicada ao agente a majoração da pena na fração de 1/6; caso contrário, apenas será autorizada a majoração da pena base com fulcro no artigo 59, CP.
Sendo assim, parece bastante razoável o entendimento firmado pelo Supremo: ainda que haja diferenciação pela legislação civil (que considera que as alianças integram patrimônio personalíssimo), o que se deve levar em conta é que para o ordenamento jurídico penal, mister se considerar o dolo do agente, que, in casu, foi o de subtrair patrimônio único das vítimas: seus bens e as alianças.
De qualquer forma, o agente que ingressa na residência das vítimas, subtrai seus pertences e os bens de sua residência, além de matar uma delas, comete, de fato apenas um crime, ainda que se considere distintos os patrimônios (individual e o comum, na residência).
Isso porque, no contexto fático, não há duas ou mais condutas, tampouco uma que se desdobre em dois ou mais crimes. O dolo do agente foi o de subtrair bens e matar uma das vítimas. Ou seja, resta claro que está configurado o latrocínio consumado na espécie. 
A pluralidade de vítimas é uma circunstância que pode e deve autorizar a majoração da pena base, nos exatos termos do artigo 59, CP!!!!!
Porém, caso o agente tivesse alvejado a OUTRA vítima, que, por qualquer hipótese viesse a sobreviver, restaria configurada justamente a hipótese que chegou ao STF: latrocínio consumado em concurso com latrocínio tentado.
O ESTUPRO APÓS O ADVENTO DA LEI Nº 12.015/2009: HÁ CRIME ÚNICO, CONTINUIDADE DELITIVA OU CONCURSO MATERIAL QUANDO SE ESTÁ DIANTE DA PRÁTICA DE CONJUNÇÃO CARNAL E DE ATO LIBIDINOSO DIVERSO EM UM MESMO CONTEXTO FÁTICO?
ENTENDA O PORQUE DA DISCUSSÃO: Anteriormente à edição da Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, que revogou o delito de atentado violento ao pudor, tipificado no art. 214 do Código Penal, quando o agente, que tinha por finalidade levar a efeito a conjunção carnal com a vítima, viesse, também, a praticar outros atos libidinosos, a exemplo do sexo anal e da felação, deveria responder por ambas as infrações penais, aplicando-se a regra do concurso de crimes. (GRECO, 2010, p. 475).
No que tange aos tipos penais incriminadores propriamente ditos, vale destacar que a Lei nº 12.015/09 revogou o crime de atentado violento ao pudor, anteriormente previsto no artigo 214 do Código Penal. Tal mudança não provocou a abolitio criminis da conduta descrita no preceito primário do referido dispositivo legal, como uma leitura apressada do conteúdo da reforma poderia fazer crer. Na verdade, ocorreu somente uma modificação do nomen juris da aludida infração penal, passando também a se chamar estupro o constrangimento levado a efeito pelo agente, mediante violência ou grave ameaça, para praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal, sendo então também abarcado pelo artigo 213 do estatuto repressivo. Com o advento da nova lei, a hipótese acima posta intrincou-se, na medida em que as condutas antes previstas em dois dispositivos legais fundiram-se em somente um artigo, o 213 do CP.
1º ENTD - Destaque-se que o posicionamento mais acertado, mormente tendo em vista os conceitos das modalidades de concurso de crimes, é o da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, bem como dos juristas Guilherme de Souza Nucci e Luiz Flávio Gomes, entre outros, que sustentam a possibilidade de reconhecimento de crime único no caso em tela. Isso porque, com o advento da Lei nº 12.015/09, a conjunção carnal e todos os demais atos libidinosos encontram-se previstos na mesma figura típica – o artigo 213 do Código Penal –, devendo ser entendida a nova infração penal de estupro como de ação múltipla ou de conteúdo variado (tipo penal misto alternativo), ou seja, basta que o agente pratique uma das ações ali previstas para que reste caracterizado o delito, não havendo que se falar em multiplicidade de crimes.
Ou seja, praticando o agente mais de um ato – como, por exemplo, a conjunção carnal e o coito anal –, continuará havendo somente um delito, como também ocorre no artigo 33 da Lei nº 11.343/06, que prevê dezoito verbos nucleares, mantendo-se a unidade do crime, independentemente de um agente incidir em dez condutas de traficância, enquanto outro só pratique uma ação.
Todavia, impõe-se um efetivo aumento da pena-base daquele que, ao invés de se limitar à prática violenta de somente um ato de libidinagem, como a conjunção carnal, extrapola o ato contrário ao direito e ultima, também, um ato como o sexo oral ou o coito anal.
Certamente não há que se falar, em tal caso, na aplicação do princípio da consunção, visto que, conforme entendimento sedimentado dos Tribunais Superiores, somente haverá a relação de absorção quando uma das condutas típicas for meio necessário ou fase normal de preparação ou execução do delito mais amplo, o que não se concebe na prática de atos libidinosos diversos.
2º ENTD- Como exemplo da corrente que entende estar-se diante de concurso material de crimes, verifique-se o pensamento do promotor criminal paulista Walter Tebet Filho, citado na obra de José Henrique Pierangeli e Carmo Antônio de Souza:
Não se pode, também, perder de vista, que as ações direcionadas à prática da conjunção carnal constituem uma conduta, e, as ações direcionadas à prática de outros atos libidinosos, especialmente o coito oral e o coito anal, constituem outra conduta, e, nestes casos, não temos uma conduta, mas duas condutas, revelando desígnios autônomos, não se podendo, assim, falar em continuidade delitiva, mas sim em concurso material. (PIERANGELI; SOUZA, 2010, p. 28-29).
Transcreve-se, por oportuno, trecho da ementa do HC nº 104.724:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. [...] LEI Nº 12.015/2009. ARTS. 213 E 217-A DO CP. TIPO MISTO ACUMULADO. CONJUNÇÃO CARNAL. DEMAIS ATOS DE PENETRAÇÃO. DISTINÇÃO. CRIMES AUTÔNOMOS. SITUAÇÃO DIVERSA DOS ATOS DENOMINADOS DE PRAELUDIA COITI. CRIME CONTINUADO. RECONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
[...]
IV - A reforma introduzida pela Lei nº 12.015/2009 unificou, em um só tipo penal, as figuras delitivas antes previstas nos tipos autônomos de estupro e atentado violento ao pudor. Contudo, o novel tipo de injusto é misto acumulado e não misto alternativo.
V - Desse modo, a realização de diversos atos de penetração distintos da conjunção carnal implica o reconhecimento de diversas condutas delitivas, não havendo que se falar na existência de crime único, haja vista que cada ato - seja conjunção carnal ou outra forma de penetração - esgota, de per se, a forma mais reprovável da incriminação.
VI - Sem embargo, remanesce o entendimento de que os atos classificados como praeludia coiti são absorvidos pelas condutas mais graves alcançadas no tipo.
VII - Em razão da impossibilidade de homogeneidade na forma de execução entre a prática de conjunção carnal e atos diversos de penetração, não há como reconhecer a continuidade delitiva entre referidas figuras. Ordem denegada.
(BRASIL, 2010)
Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. REMÉDIO CONSTITUCIONAL SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. ROUBO E EXTORSÃO. CONCURSO MATERIAL DE CRIMES. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECER CRIME ÚNICO OU CONTINUIDADE DELITIVA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. 
À luz do disposto no art. 105 , I , II e III , da Constituição Federal , esta Corte de Justiça e o Supremo Tribunal Federal não vêm mais admitindo a utilização do habeascorpus como substituto de recurso ordinário, tampouco de recurso especial, nem como sucedâneo da revisão criminal, sob pena de se frustrar a celeridade e desvirtuar a essência desse instrumento constitucional.
Entretanto, esse entendimento deve ser mitigado, em situações excepcionais, nas hipóteses em que se detectar flagrante ilegalidade, nulidade absoluta ou teratologia a ser eliminada, situação inocorrente na espécie.
 "O reconhecimento de crime único entre os delitos de roubo e extorsão, afastando-se o concurso material, assim como a incidência da continuidade delitiva, demandaria revolvimento fático-probatório, não condizente com a via do writ". (HC 159.349/RJ, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 16/04/2013) 
 Ademais, conforme a jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, pois são infrações penais de espécies diferentes.
 Habeas corpus não conhecido.
� Muitos autores, entretanto, assim como Flávio Augusto Monteiro de Barros, entendem que caracteriza-se o concurso material ainda quando alguns dos delitos venham a ser cometidos e julgados depois de os restantes o terem sido, porque, segundo esses mesmos autores, não há necessidade de conexão entre eles, podendo os diversos delitos ser objeto de diversos processos.
� “Erro na execução” - Erro de tipo acidental NA EXECUÇÃO – Aberratio Ictus:
“Art. 73 CP - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.” 
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