Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OSTEOMIELITES (09/09/2014) Quando o paciente faz uso crônico de glicocorticoide, ele está em quadro de imunossupressão; caso ele tenha uma infecção que se dissemine para o tecido ósseo, esta não apresentará um ponto de flutuação e nem irá parar em uma fístula para que se consiga drenar o pus contido no abscesso. Dessa forma, o paciente imunossuprimido (HIV positivo, diabético descompensado, transplantado, e outros) têm grande chance de desenvolver a osteomielite. A osteomielite encerra o conteúdo de patologia pulpar. A saúde sistêmica do paciente pode levá-lo a desenvolver essa lesão, que tem origem endodôntica e pode levar a quadros clínicos graves. O conteúdo abordado iniciará com a osteomielite supurativa aguda, osteomielite supurativa crônica, osteíte condensante e celulite. As variantes mais graves derivadas da celulite são angina de Ludwig e trombose do seio cavernoso. Dentro das celulites, nós comentaremos a respeito das variantes mais graves e que pode acontecer no consultório de vocês, que são a Angina de Ludwig e a trombose do seio cavernoso. OSTEOMIELITE SUPURATIVA AGUDA Apresenta sinais e sintomas do processo inflamatório agudo, perdura por aproximadamente 30 dias. Por se tratar de uma manifestação clínica de origem microbiana, a sintomatologia do paciente inclui febre, leucocitose, linfadenopatia (acometimento da cadeia ganglionar com linfonodos infartados), sensibilidade, dor espontânea (sensação de dente crescido, dor ao salivar e engolir), e uma área com tumefação (geralmente está relacionada ao dente de origem). Pelo exame radiográfico, observam-se imagens radiolúcidas mal definidas. A osteomielite aguda é mais comum na mandíbula do que na maxila; muitas vezes, a imagem obtida por diagnóstico diferencial com colaboração de exames radiográficos já dão indícios do que pode estar acontecendo. Há a presença de sequestros ósseos (não é osso inflamado ou esclerosado; são fragmentos de ossos necróticos, desvitalizados, soltos do espaço e que podem romper na cavidade bucal – semelhante a osteorradionecrose – ou na pele facial. NOTA: pelos deuses do Olimpo, não coloque na prova que isso é osso inflamado. Ao puncionar o material da lesão, sairá um conteúdo purulento junto com o osso necrótico (um material fixo, biológico e mais rígido). Este material, tanto líquido quanto sólido, é coletado e enviado para biópsia. No exame histopatológico, o osso necrótico apresenta perda de osteócitos nas lacunas e reabsorção periférica intensa, que se assemelha a uma serra, chamada de identações ósseas, com o formato de cada osteoclasto posicionado lateralmente um ao lado do outro e fazendo essas escavações; dessa forma, a reabsorção do osso necrótico ocorre em direção centrípeta. Observa-se também colonização bacteriana e infiltrado inflamatório agudo, com predomínio de células polimorfonucleares. DESCRIÇÃO DA LÂMINA: se nós conseguirmos retirar o fragmento constituído de osso desvitalizado junto com uma porção de exsudato, veremos sequestros deslocados; como vocês podem ver, as identações que parecem um serra, inúmeros neutrófilos dispostos nesse tecido, e a trabécula; note a presença marcante dos osteoclastos gerando as identações ósseas (formação em serra) no material coletado. OSTEOMIELITE SUPURATIVA CRÔNICA É considerada uma evolução temporal da osteomielite supurativa aguda quando esta não é tratada. As características são: tumefação, dor, presença de uma fístula (pois a lesão é persistente), tem o período de evolução maior, há presença de sequestros ósseos (porém, devido a evolução, essa reabsorção do tecido ósseo no interior da mandíbula pode fragilizar a inserção dos dentes no alvéolo). A mandíbula encontra-se muito mais frágil devido a necrose em seu interior, desse modo, os dentes são perdidos por falta de suporte, e o paciente é mais susceptível a fraturas quando caem. Como será a recuperação biológica do paciente com uma fratura em mandíbula, no quadro de osteomielite? Nesse caso, ele tem uma resposta inflamatória completamente alterada, os fatores de crescimento produzidos por células inflamatórias (que poderiam colaborar na consolidação das partes fraturadas) estão inteiramente prejudicados. Assim, o paciente imunossuprimido pode não ter consolidação da fratura. NOTA: alguns procedimentos odontológicos (cirurgia, por exemplo) precisam de alavancas, onde se usa a própria estrutura do paciente como fulcro (ponto de apoio para gerar um movimento); se de repente a dissipação de força ocorre a nível ósseo (basal ou alveolar) esse paciente é lesionado – nesse caso, a fratura de mandíbula foi de origem iatrogênica, pois por imperícia e imprudência o tratamento foi realizado em um paciente sem condições biológicas de sofrer esse procedimento. Na radiografia, há uma lesão osteolítica (porção em que se nota perda de conteúdo mineral), radiolúcida e expansiva, ou seja, área extensa com os limites não muito bem definidos. A área de necrose na mandíbula não atinge somente tecido ósseo, alcança também o tecido conjuntivo; nele estão vasos que levam nutrientes para regiões mais anteriores, ou podem fazer a drenagem dessa porção da mandíbula. Quando a necrose atinge vasos, o processo necrótico é ampliado por falta de nutrientes nas regiões que seriam irrigadas ou drenadas por esses vasos. A contaminação ocorre por duas vias: o dente estava cariado ao ponto do individuo perder a estrutura do elemento dentário, e outras doenças envolvidas (doença periodontal agressiva) se disseminaram para o osso basal, ou pode ser em decorrência de uma cirurgia, onde ele teve uma alveolite em que as bactérias tiveram acesso ao tecido conjuntivo subepitelial e desenvolveram o processo de virulência, que combina em um paciente imunossuprimido no quadro de osteomielite. O organismo do paciente com osteomielite crônica tenta recuperar biologicamente os espaços perdidos pela necrose de liquefação, preenchendo-os com tecido de granulação e posteriormente tecido conjuntivo denso (fibroso). Essa é uma tentativa biológica de impedir o avanço da doença. No exame histopatológico, há alguns sequestros ósseos esparsos, infiltrado inflamatório subagudo e crônico, muitos linfócitos, inúmeros e bem marcantes plasmócitos, e feixes de tecido conjuntivo fibroso (tentativa de recuperação biológica dos espaços que estavam contidos anteriormente com a coleção purulenta). Semelhante a pulpite aguda purulenta, na osteomielite crônica também existe a formação de microabscessos; ela é supurativa pela presença dos abscessos menores que coexistem com a tentativa de recuperação biológica, que são resultantes do processo de agudização focal da doença, pois o paciente está imunossuprimido e em certos momentos há episódios de remissão. Estes eventos podem ocorrer pela instalação, por exemplo, da cárie, que começa a nível pulpar, atinge o periápice e o organismo responde com tentativas de combate dos agentes microbianos através do sistema imune, desencadeando uma série de eventos até chegar aos níveis apresentados anteriormente. No entanto, existe outra possibilidade de resposta, principalmente em pacientes jovens. OSTEÍTE CONDENSANTE Uma das maneiras de o organismo combater o agente infeccioso é através da reabsorção óssea (assim aumenta-se o espaço para a resolução do problema da doença). Em pacientes jovens, dependendo da intensidade do foco de infecção, o organismo pode responder com aumento da formação óssea na região periapical, como tentativa de criar um bloqueio mecânico impedindo que a lesão avance para os espaços periapicais; este processo é denominado osteíte condensante. A resposta inflamatória pode atingiro periápice e formar um granuloma ou abscesso, e dependendo da condição sistêmica do paciente (de mais idade ou imunossuprimido), pode evoluir para a osteomielite; a consequência desta resposta à agressão é um progressivo prejuízo ósseo. Outro tipo de resposta biológica é a formação óssea. O que há em comum entre essas respostas, que determinam as lesões? A inflamação produz inúmeros mediadores (como fatores de crescimento, moléculas de sinalização) que podem ativar macrófagos (estes se agrupam formando as CGM e agem como osteoclastos nos ossos) ou osteoblastos, e é isso que ocorre nessa lesão. Assim, há aumento na produção de matriz e posteriormente mineralização, na tentativa de minimizar os efeitos da infecção de origem pulpar e microbiana. Na região do periápice é observada esclerose óssea e aumento de tecido mineralizado, em dentes acometidos por pulpite e necrose pulpar. A osteíte condensante é mais frequente em jovens, principalmente na odontopediatria; o perfil do paciente é aquela criança que come doce o dia inteiro, tem cárie agressiva que pode se tornar crônica, levar a necrose pulpar até chegar a esse ponto. No caso da extração, esta se torna dificultada pelo aumento da mineralização na região do periápice, repercutindo numa inserção maior do dente no alvéolo. A radiografia apresenta área radiopaca no periápice dos dentes e também aumento do espaço do ligamento periodontal, semelhante à pericementite apical; a partir da pericementite apical existem dois caminhos: tentativa de reparo (osteíte condensante) ou reabsorção (os osteoclastos tentam ganhar espaço para permitir que as células inflamatórias ajam diretamente no foco de infecção). Exemplo clínico: o dente apresenta a raiz bem radiopaca, situação compatível com uma cárie incipiente que pode ter atingido a polpa e causado necrose, aumento do espaço do ligamento periodontal, e evoluído para a pericementite apical, que em segunda instância levou a formação da osteíte condensante. Entretanto, e quando não existir um dente? Na verdade, o dente é apenas mais um tecido afetado pela lesão. O problema tem origem na infecção microbiana e o dano causado é uma resposta biológica frente a agressão; não importa se o dente está presente ou não para que a lesão ocorra. Provavelmente a osteíte condensante está presente desde quando o dente ainda estava na cavidade bucal, e persiste por conta de um tratamento inadequado. Assim, a extração do elemento dental não é a solução, é necessário tratar o canal, refazer a restauração e tratar com antibióticos; o acompanhamento do paciente pode ser feito por exames radiográficos e em alguns meses ele estará reestabelecido. O dente não é o requisito para a formação do abscesso, é necessária a existência de uma via de disseminação para a região. A osteomielite pode ser comumente desenvolvida a partir de um dente com cárie porque essa é a rota de disseminação mais comum e o caminho mais óbvio em um paciente com os dentes presentes. Todavia, colocar implantes em um paciente edêntulo pode ser o caminho que as bactérias precisam para chegar ao osso. No exame histopatológico, há matriz óssea recém-formada pelo aumento da deposição através dos osteoblastos; há tecido de granulação no osso medular, como resposta à inflamação naquela região – este tecido de granulação produz os fatores inflamatórios que ativarão osteoblastos. CELULITE Trata-se da disseminação dos abscessos ou conteúdo purulento entre os planos fasciais – percorre as FÁSCIAS e não a FACE. É observado um edema intenso na face dos pacientes caracterizado por um processo inflamatório agudo. Quando é de origem microbiana e atinge a polpa do dente, é acompanhada de um processo agudo; assim, a celulite pode ser a evolução imediata de um abscesso. Entretanto, o tempo de evolução do abscesso agudo para a celulite é muito curto, e muitas vezes não tempo de identificar a fase do abscesso. Nos casos mais graves a celulite pode evoluir para a Angina de Ludwig. A conduta clínica realizada no paciente que tiver evolução para o quadro de celulite é manter as vias aéreas abertas e encaminha-lo urgentemente para o hospital. Nos livros o procedimento descrito é inviável porque o padrão das clínicas não fornece o tratamento adequado para este caso. A etiologia da celulite e da trombose do seio cavernoso é a mesma, porém, essa segunda se dissemina para os planos superiores; com efeito, ela vai drenar para a cavidade craniana, resultando em uma infecção intensa. Ela pode atingir as meninges, causando no paciente intensa meningite com confusão mental, convulsão e vômito. ANGINA DE LUDWIG A angina de Ludwig se dissemina no terço inferior da face, acometendo principalmente pacientes que estão imunossuprimidos; ela surge a partir da infecção dentária, pode ser unilateral, mas logo que se dissemina atinge os dois lados da face. Se a angina ficar na porção descrita na disseminação sublingual, a língua fica edemaciada e endurecida pela inflamação sublingual, com o aspecto de “língua lenhosa”; quando ela dissemina para o espaço submandibular, o paciente fica com o pescoço inchado – esse é chamado “pescoço de touro”. A disseminação pelos planos fasciais atinge o pescoço e causa edema, fechando a respiração pela traqueia; são duas as vias de disseminação: a sublingual (faz com que o edema cresça por debaixo da língua e ela incha em direção a faringe; o paciente é sufocado com a própria língua), e a submandibular (vai pro pescoço – muito mais grave –, pois em seguida chega ao mediastino; é típico durante a disseminação a presença de uma mancha vermelha que percorre as fáscias externas). TROMBOSE DO SEIO CAVERNOSO Cerca 10% dos casos tem origem odontogênica. Como ele dissemina para os dois terços superiores da face, principalmente o terço médio, gera um edema periorbitário; o paciente relata que está com os olhos estufados, além da ptose palpebral (quando cai uma pálpebra só), rigidez e tumefação por conta da disseminação desse edema. O edema fica na região lateral do nariz e bem frontal ao dente que ele se correlaciona; o paciente sente febre, calafrios, pode ter taquicardia, bacteremia e posteriormente terá o envolvimento do SNC quando atingir as meninges. Desse modo, a progressão da trombose do seio cavernoso é a meningite, sendo o quadro clínico do paciente bem delicado e o prognóstico não é favorável.
Compartilhar