Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anatomia Humana Aplicada à Educação Física PROFESSORA Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 2 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Gerência de Produção de Contéudo Juliano de Souza, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Maria Fernanda Vasconcelos, Ana Claudia Salvadego Revisão Textual DanielaFerreira dos Santos, Pedro Afonso Barth, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOSA, Carmem Patrícia. Anatomia Humana Aplicada à Educação Física. Carmem Patrícia Barbosa. (Reimpressão) Maringá - PR.:UniCesumar, 2018. 230 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Anatomia. 2. Humana. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0437-3 CDD - 22ª Ed. 701.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino Fabrício Lazilha Diretoria de Planejamento de Ensino de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas 6 autora 6 Professora Doutora Carmem Patrícia Barbosa Tem Doutorado e Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Concentração Biologia Celular, respectivamente nos anos de 2002 e 2013. Especialização em Morfofi siologia Aplicada à Educação Corporale à Reabilitação pela UEM (2000). Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/1997). Desde 2002 é professora das disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica, Bases Neurofuncionais do Movimento no Centro de Ensino Superior de Maringá (UniCesumar) e desde 2012 é professora na área de Anatomia Humana na UEM, no Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e também no curso de espe- cialização. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniCesumar e faz parte do corpo editorial da revista “Saúde e Pesquisa” da mesma instituição. Iniciação Científi ca da UniCesumar e ArquiMudi da UEM. Tem experiência nos cur- sos de Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina, Fisioterapia e Estética. apresentação do material Anatomia Humana Aplicada à Educação Física Carmem Patrícia Barbosa Prezado(a) aluno(a), a palavra Anatomia é originária do grego e decorre da fusão de “ana” e “tomein”, que significam, respectivamente, “partes” e “cortar”. Assim, é possível traduzir literalmente a palavra “Anatomia” como cortar em partes. Essa palavra foi escolhida porque na Grécia antiga a atenção era dada exclu- sivamente ao ato de cortar o que estava implícito no conceito geral da anatomia. Tal fato explica, ao menos em parte, porque até mesmo nos dias de hoje muitas pessoas se sentem incomodadas ou têm medo de es- tudar anatomia. Enquanto ciência, a anatomia tem um significado muito mais amplo, pois estuda macro e microscopi- camente a constituição e o desenvolvimento do ser humano. Sua existência sempre esteve relacionada à imensa curiosidade do homem em melhor compre- ender as estruturas que o formam e as diferenças que existem em relação a seus semelhantes, em termos de constituição e função. O início dos estudos anatômicos foi difícil, pois princí- pios éticos e religiosos da época impunham restrições ao ato de expor o corpo humano, já que para desven- dar os mistérios desta fabulosa “máquina”, a simples observação superficial não era suficiente. Por isso, a necessidade de aprofundar tal estudo foi posterior- mente saciada pela dissecação (ou dissecção). A palavra dissecar tem origem latina e é produto da fusão de “dis” (separar) mais “secare” (cortar). Assim, por meio da dissecação, os órgãos do corpo podem ser expostos cirurgicamente, de maneira metódica, por meio de incisões adequadas que mantêm a organiza- ção natural do corpo. Dessa forma, é possível manter os órgãos separados, mas ao mesmo tempo em uma relação de dependência entre forma e função. Vale ressaltar que os estudos da anatomia humana são realizados no cadáver - nome dado ao corpo, após a morte, enquanto, este ainda conserva parte de seus tecidos. Esse termo, segundo a etimologia popular, teve origem na expressão latina “caro data vermibus” que significa “a carne dada aos vermes”. Os etimolo- gistas defendem que a palavra deriva da raiz “cado”, que significa “caído”. Estranho, não é? Esse termo foi escolhido devido ao fato de que, como o estudo anatômico era inicialmente proibido, aqueles que se interessavam pela dissecação muitas vezes o faziam às escuras, violando sepulturas e dissecando corpos que já estavam em estado de putrefação. Complementarmente, estudos realizados em animais originaram a anatomia comparativa por meio da qual a compreensão da constituição do corpo era realizada primeiramente em animais para posterior comparação com seres humanos. Inclusive, a dissecação de animais prenhes permitiu a observação de fetos e representou o início da embriologia como ciência. A embriologia (estudo da formação dos órgãos e sis- temas), a citologia (estudo das células) e a histologia (estudo dos tecidos) tiveram seus desenvolvimentos fortemente marcados pelo surgimento do microscópio. Isto porque este instrumento possibilitou o estudo específico dos elementos constituintes dos seres orga- nizados. Vale ressaltar que embora todas estas ciências sejam consideradas especializações, são vistas como ramos da anatomia. Em relação aos principais aspectos históricos da ana- tomia humana, sabe-se que os primeiros esboços ana- tômicos datam do período paleolítico e que os gregos foram grandes responsáveis por seu desenvolvimento. No Brasil, a Bahia se destacou como “berço do ensi- no médico” e, na mesma época, iniciou-se o ensino médico oficial no Rio de Janeiro. Atualmente, o estudo da anatomia ainda é realizado por meio da dissecação de cadáveres humanos con- siderados normais, embora, possam existir variações anatômicas individuais e diferenças morfológicas em decorrência da passagem do estado vivo ao cadavéri- co. No entanto, é possível aprender anatomia mesmo sem a dissecação por meio da observação do corpo humano, por sua palpação e pelo estudo da anatomia de superfície (a qual avalia os relevos e depressões que as estruturas anatômicas são capazes de formar). Por todo o exposto, pode-se concluir que esta tão bela e polêmica ciência se encarrega de estudar o corpo humano em detalhes. Seu estudo pode ser feito de maneira regional, clínica ou sistêmica. Enquanto, no estudo regional (ou topográfico) são apresentados os pormenores de uma determinada região do corpo, no estudo clínico as estruturas e as funções são apre- sentadas aos profissionais da área da saúde a fim de habilitá-los a compreender o corpo em um contexto clínico geral. No entanto, neste livro, estudaremos a anatomia sistê- mica, ou seja, os detalhes de cada sistema que compõe a fabulosa “máquina” chamada corpo humano. Para tanto, estudaremos o aparelho locomotor (composto pelos sistemas esquelético, articular e muscular), o sistema cardiorrespiratório (composto pelos siste- mas circulatório sanguíneo, circulatório linfático e respiratório), o sistema digestório (responsável pelo processo da digestão), o sistema urogenital (composto pelos sistemas urinários do genital masculino e genital feminino) e sistema neuroendócrino (composto pelos sistemas nervoso e endócrino). Em cada unidade, apresento uma INTRODUÇÃO sobre as generalidades de cada tema, um DESEN- VOLVIMENTO para apresentar o conteúdo progra- mático de cada sistema, CONSIDERAÇÕES FINAIS que resumirão o estudo teórico e prático do assunto abordado e ATIVIDADES DE ESTUDO para reforçar o conteúdo estudado. Desejo a você, um excelente aproveitamento desta tão apaixonante ciência. Na verdade, ela sempre foi não só apaixonante, mas também intrigante. Prova disso pode ser dada ao ler o texto do salmista (nos versos 13 a 16 do capítulo 139) que, mesmo sem grandes recursos tecnológicos ou científicos, não se conteve de tanta admiração ao analisar o milagre da criação e do funcionamento do corpo humano. Que você se encante conhecendo seu próprio cor- po e que a todo momento descubra as melhores formas de favorecer seu desenvolvimento, tanto no adulto quanto na criança, por meio do pleno conhecimento. Bom estudo! Prof.ª Carmem Patrícia. sumário UNIDADE I INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR 14 Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo 16 Divisões do Corpo Humano 17 Planos e Eixos do Corpo Humano 18 Sistema Esquelético 34 Sistema Articular 40 Sistema Muscular 57 Considerações Finais 64 Referências UNIDADE II SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO 70 Sistema Circulatório 90 Sistema Linfático 100 Sistema Respiratório 111 Considerações Finais 116 Referências UNIDADE III SISTEMA DIGESTÓRIO 118 Função Geral e Divisão do Sistema Digestório 119 Órgãos do Sistema Digestório 131 Órgãos Anexos 134 Considerações Finais 139 Referências UNIDADE IV SISTEMA UROGENITAL 146 Sistema Urinário 152 Sistema Genital Masculino 160 Sistema Genital Feminino 168 Considerações Finais 174 ReferênciasUNIDADE V SISTEMA NEUROENDÓCRINO 186 Sistema Nervoso Central (SNC) 199 Sistema Nervoso Periférico (SNP) 209 Sistema Nervoso Autônomo (SNA) 212 Sistema Endócrino 221 Considerações Finais 227 Referências 229 Conclusão Geral Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Anatomia Humana: Conceito e introdução ao estudo • Divisões do corpo humano • Planos e eixos do corpo humano • Sistema esquelético • Sistema articular • Sistema muscular Objetivos de Aprendizagem • Apresentar o conceito, a importância, os principais aspectos históricos da anatomia humana e a nômina anatômica atualizada. • Elucidar as principais subdivisões do corpo humano. • Apresentar os planos de tangenciamento e de secção do corpo humano, bem como os eixos de movimento. • Estudar as generalidades sobre os ossos, as funções do esqueleto, as divisões do esqueleto, os tipos de ossos quanto à forma, a constituição e a arquitetura dos ossos, o crescimento, a nutrição e a inervação óssea, os processos de ossifi cação, fratura e reparo ósseo, os acidentes anatômicos dos ossos e os principais ossos do corpo humano. • Defi nir articulações e compreender suas funções, classifi cações, tipos, vascularização, inervação, movimentos, fatores que afetam, envelhecimento e características das principais articulações do corpo humano. • Elucidar funções musculares, tipos de músculos, tipos de contração do músculo estriado esquelético, vascularização e inervação muscular, classifi cação funcional do músculo estriado esquelético, órgãos anexos, generalidades e principais músculos do corpo humano. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR I unidade INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), o aparelho locomotor é constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular. Eles agem de maneira integrada e sob o comando do sistema nervoso para permitir correção postural, equilíbrio e movimento voluntário. Enquanto o sistema esquelético é formado por ossos e cartilagens, o articular é formado por articulações e o muscular por músculos e órgãos anexos. O sistema esquelético é estudado pela osteologia, o articular pela artrologia, o muscular pela miologia e os movimentos pela cinesiologia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora cartilagem e osso sejam formas especializadas do tecido conjuntivo, a cartilagem é flexível e o osso é rígido. As articulações ou junturas são representadas por estruturas que conectam duas ou mais partes rígidas do esqueleto (ossos, cartilagens e dentes) e embora possam ser chamadas de junturas, não devem ser chamadas de juntas. Os órgãos anexos do sistema muscular incluem fáscias de revestimento, bolsas sino- viais e bainhas fibrosas e sinoviais. Já ossos, articulações e músculos têm funções diferentes, mas complementa- res. Ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem órgãos internos, atuam nos movimentos, armazenam íons, fabricam células do sangue e absorvem toxinas. A maioria das articulações e músculos relaciona-se ao movimento, coordenação e tônus muscular, peristalse e produção de calor (TORTORA et al., 2010). O texto abordará estes importantes sistemas e suas especifi cidades em relação ao profi ssional de educação física. Será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura está de acordo com a nômica anatômica atualizada. Todavia, é necessário utilizar um atlas de anatomia como Narciso (2012) ou Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002). Veremos aspectos relevantes do aparelho locomotor e a prática do exercí- cio físico, a visão geral da nomenclatura anatômica, segmentação do corpo e planos e eixos. Fique atento e aproveite. Bom estudo! ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 14 FATORES GERAIS DE VARIAÇÃO ANATÔMICA pinça fina, é ideal que o indivíduo tenha cinco dedos em cada uma delas. Já o conceito estatístico conside- ra normal aquilo que a maioria dos indivíduos apre- senta. Por exemplo, a maioria das pessoas tem cinco dedos em cada mão, por isso, é normal ter cinco e não três ou quatro dedos (WATANABE, 2000). Todavia, quando comparamos diferentes in- divíduos em um pequeno grupo sempre podemos identificar a existência de pequenas diferenças mor- fológicas entre eles (faça isso onde você estiver agora e perceba como as pessoas são mesmo diferentes). De acordo com Watanabe (2000), quando tais dife- renças não prejudicam a função desempenhada pela estrutura anatômica, diz-se que são apenas “varia- ções anatômicas”. No entanto, quando tais diferen- ças atrapalham a função da estrutura, elas são ditas “anomalias” e, inclusive, podem ser denominadas de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo permaneça vivo. Uma variação anatômica pode ser, por exemplo, as diferentes tonalidades na cor dos olhos de dois ir- mãos. Uma anomalia pode ser a miopia que um deles apresenta. Uma monstruosidade pode ser exempli- ficada quando dois irmãos nascem grudados e um deles tem que ser sacrificado para que o outro viva (é o que ocorre com gêmeos siameses ou xifópagos). Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo O termo “anatomia humana” é mal visto por muitas pessoas. Talvez até para você, caro(a) aluno(a), isto porque muitos pensam que falar em anatomia é sinô- nimo de falar de pessoas mortas ou mutiladas. Na verdade, a anatomia não tem nada de assustador, muito pelo contrário. É uma ciência que muito nos tem esclarecido ao longo dos anos. A anatomia estuda a estrutura do ser humano e as relações entre as partes que o formam. O termo “anatomia” deriva de duas palavras gregas, “ana” e “temnein”, que significam, respectivamente, “em partes” e “cortar ou incisar”. Assim, esta ciência está amplamente embasada no ato de cortar o corpo hu- mano pelo método da dissecção (ou dissecação) a fim de melhor compreender sua estrutura externa e interna (FREITAS, 2004). Na anatomia, estudamos o corpo humano consi- derado “normal”, já que a patologia e outras ciências se dedicam ao estudo das doenças que o acometem. No entanto, para definir “normal” em anatomia, é necessário considerar o conceito estatístico e o conceito idealístico. O idealístico considera normal aquilo que é melhor para o desempenho da função da estrutura anatômica. Por exemplo, para que a mão consiga desempenhar adequadamente sua função de EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Para que estes conceitos de “normal”, “variação anatômica”, “anomalia” e “monstruosidade” possam ser empregados, é necessário saber que alguns fato- res podem causar variação. Isto ocorre, por exem- plo, com a idade do indivíduo, com seu sexo, grupo étnico, biótipo e entre outros. Por exemplo, é nor- mal que um bebê apresente os ossos do crânio se- parados, mas não é normal que isso ocorra em um adulto. É normal que uma mulher tenha os ossos da pelve mais abertos a fim de facilitar o parto pélvico, mas não é normal que isso ocorra em um homem. É normal que um indivíduo negro tenha a pele escura e os cabelos enrolados, mas não é normal em um ja- ponês. É normal que um indivíduo longilíneo tenha os membros longos em relação ao corpo, mas não é em um indivíduo brevilíneo. NOMENCLATURA ANATÔMICA Cientistas e profissionais da área da saúde usam uma linguagem própria ao se referirem às estruturas do corpo humano e à forma como a dissecção é feita. Por isso, estar atualizado em relação à nomencla- tura utilizada é essencial ao estudante de anatomia humana, bem como aos profissionais da saúde. Na anatomia, esta nomenclatura engloba termos gerais e especiais originados da língua grega, latina e outras. Em conjunto, a Nômina Anatômica, publicada com o nome de Terminologia Anatômica, tem o objetivo de evitar que estruturasdo corpo humano recebam dife- rentes denominações em diversos centros de estudos e pesquisas em anatomia no mundo (DI DIO, 2002). Considerada um documento oficial que deve ser obedecida por professores e alunos da disciplina de anatomia humana, a terminologia anatômica é consti- tuída por cerca de 6.000 termos esporadicamente revis- Por fim, é importante destacar que o estudo da anatomia humana pode ser feito de diferentes for- mas conforme o objetivo do estudo. Por exemplo, a anatomia pode ser estudada a partir dos sistemas que compõem o corpo humano (esta é a anatomia sistêmica que aprenderemos aqui). Por outro lado, seu estudo pode abranger regiões específicas e en- tão passa a ser chamada de anatomia topográfica (a odontologia, por exemplo, estuda anatomia topo- gráfica da cabeça). Além disso, seu estudo pode ser feito por meio de imagens (anatomia radiológica ou de imagem), em comparação a seres de outras es- pécies (anatomia comparativa), com fins artísticos (anatomia artística), em comparação aos diferentes tipos raciais e morfológicos (anatomia antropológi- ca e biotipológica) etc. (WATANABE, 2000). tos e atualizados, os quais são traduzidos pelas socieda- des de anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA, 2001; FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010). Este conjunto de termos empregados fundamen- ta-se na forma da estrutura ou em parte dela (como o músculo deltoide, por exemplo), sua situação (artéria vertebral), sua função (glândula lacrimal) e outras pe- culiaridades. Vale destacar que a utilização de abre- viações é permitida a fim de facilitar seu uso prático. Assim, utiliza-se a. (para artéria), v. (para veia), n. (para nervo), m. (para músculo), lig. (para ligamen- to), gl. (para glândula) e g. (para gânglio). O plural destes termos normalmente emprega a duplicação da letra utilizada na abreviação, por exemplo, aa. (para artérias), vv. (para veias) etc. (WATANABE, 2000). ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 16 O pescoço é dividido em pescoço anterior (visce- ral) e posterior (muscular), também denominado nuca. Segundo Freitas (2004), o tronco também é subdividido em tórax (limitado superiormente pela clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma), abdome (limitado superiormente pelo músculo dia- fragma e inferiormente pela abertura superior da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril). Os membros superiores e infe- riores também são subdivididos em uma região conectada ao tronco, denominada cíngulo (ou cintura) e uma parte livre. A raiz ou cíngulo do mem- bro superior é a cintura escapular e sua parte livre inclui braço, antebraço e mão (sendo sua parte anterior denominada palma e a posterior, dor- so). A raiz ou cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e sua parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo sua parte superior denomi- nada dorso e a inferior, planta). Ar- ticulações conectam as várias partes dos membros, por exemplo, as arti- culações do ombro, cotovelo, qua- dril e joelhos (FREITAS, 2004). Figura 2 - Partes do corpo humano A posição anatômica de descrição ou posição de referência foi instituída e se tornou de grande valia para evitar erros na nomenclatura e no posi- cionamento do corpo a ser estudado. Em tal posi- ção, supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabe- ça em nível horizontal, olhos voltados para frente, pés plantados no chão e direcionados para frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOO- RE et al., 2014). A partir da posição anatô- mica, as várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, membros su- periores e membros inferiores. A cabeça é subdividida em crânio facial ou viscero- crânio e crânio neural ou neurocrânio. Enquanto o crânio facial é anterior, menor, cons- tituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neu- ral é posterior, maior, constituído por oito ossos os quais estão diretamente relacionados à proteção do sistema nervoso localizado em seu interior (TORTORA et al.,2010). Divisões do Corpo Humano Figura 1 - Posição anatômica de descrição EDUCAÇÃO FÍSICA 17 De igual modo, a partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imaginá- rios que tangenciam a superfície externa do corpo a fim de facilitar a localização das estruturas cor- póreas. Tais planos são denominados superior ou cranial, inferior ou podálico, lateral direito, lateral esquerdo, anterior ou ventral, e posterior ou dorsal (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Assim, pode-se afirmar que os olhos são estru- turas superiores à cicatriz umbilical já que se loca- lizam mais próximos ao plano superior ou cranial do que à cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se afirmar que as escápulas são estruturas posteriores em relação ao osso esterno uma vez que estão mais próximas do plano posterior. Embora os planos de tangenciamento facilitem a localização das estruturas corpóreas, o estudo da ana- tomia também se faz por meio do corpo seccionado, lembra? Assim, planos de secção de referência tam- bém tiveram que ser padronizados. Assim, os termos “plano sagital”, “plano transversal” (ou horizontal) e “plano coronal” (ou frontal) foram adotados. O plano sagital é uma secção longitudinal que divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em porções direita e esquerda. Se este plano passar exa- tamente sobre a linha mediana do corpo, ele é cha- mado de plano sagital mediano, o qual divide o cor- po em duas metades iguais denominadas antímero direito e antímero esquerdo. Planos e Eixos do Corpo Humano O plano coronal é uma secção longitudinal que divide o corpo em porção anterior e posterior deno- minadas paquímero anterior ou ventral, e paquíme- ro posterior ou dorsal. Por fim, o plano transversal divide o corpo em porção superior e inferior deno- minadas metâmero superior ou cranial, e metâmero inferior ou podálico (FREITAS, 2004). Figura 3 - Plano Sagital, Coronal e Transverso Plano Coronal Plano Transversal Plano Sagital ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 18 Um dos objetivos do estudo da anatomia humana é empregar os conhecimentos adquiridos também no corpo vivo. Dessa forma, existem termos usa- dos para descrever os diferentes movimentos dos membros e outras partes corpóreas que podem ser realizados nas articulações móveis do corpo. Tais movimentos são descritos como pares de opostos, ou seja, flexão e extensão, abdução e adução, ro- tação medial e lateral, supinação e pronação etc. (MOORE et al., 2014; TORTORA et al., 2010). To- dos esses movimentos serão abordados, posterior- mente, nesta unidade, pois são de extrema relevân- cia ao profissional de educação física. Os movimentos sempre ocorrem em um dos pla- nos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denominadas eixos, os quais são perpendiculares aos planos. Assim, os movimentos de flexão e extensão ocorrem no plano sagital a par- tir do eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal a partir do eixo sagital; a rotação medial e lateral ocorrem no plano transversal a par- tir do eixo longitudinal (GRABINER et al., 1991). Sistema Esquelético GENERALIDADES SOBRE OS OSSOS Ossos são peças rígidas, com formatos variados. Eles são muito plásticos, ou seja, adaptam-se às estrutu- ras vizinhas, inclusive permitindo que tais estrutu- ras lhes imprimam marcas em decorrência do con- tato. Isto pode ser visto, por exemplo, ao examinar a face interna da calota craniana. Nessa região aparece claramente os sulcosvenosos e arteriais, além das impressões dos giros. A criança apresenta um total de 350 ossos, mas o indivíduo adulto tem este número reduzido para 206. Você pode se perguntar: “O que ocorre para este nú- mero reduzir tanto”? Na verdade, há uma fusão em vários ossos do corpo, por exemplo, no osso frontal, no sacro e nos ossos do quadril. Além disso, você precisa saber que este número pode sofrer variações de acordo com características individuais. Por exem- plo, se a pessoa tiver um dedo ou uma costela a mais ou a menos. Além disso, esse número total de ossos no indivíduo adulto também pode ser influenciado pelo critério de contagem que foi adotado. Muitas vezes escuto pessoas dizendo que seus pesos na balança não estão altos porque estão “aci- ma do peso”, mas que seu peso está alto porque elas têm os ossos largos e pesados. Sorrio quando ouço isso porque tenho a impressão de que as pessoas se veem como o Wolverine e seus ossos de adamântio. EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Acho que as pessoas imaginam que os ossos pesam muito mais do que verdadeiramente pesam. Você sabe qual é o peso real dos seus ossos? Na verdade, o peso médio dos ossos de um homem adulto de cerca de 80 Kg é cerca de 12 Kg. Assim, não é tanto quanto a maioria das pessoas julgam ser. Por fim, gostaria de esclarecer que, além dos os- sos convencionais conhecidos por nós desde a vida inteira, existem também alguns ossos especiais, por exemplo, os ossos suturais (que ficam entre as sutu- ras do crânio) e os ossos heterotópicos que se for- mam nos tecidos moles (como nas coxas de jóqueis em áreas onde a hemorragia se calcifica). FUNÇÕES DO ESQUELETO Se você acha que a função dos ossos se restringe a possibilitar movimentos, você está muito enga- nado. Na verdade, o esqueleto desempenha várias funções, inclusive algumas consideradas vitais (MOORE et al., 2014). De fato, os ossos se relacionam ao movimento embora não os produzam. Isto porque quem faz o movimento acontecer são os músculos e, por isso, estes são considerados os elementos ativos do movi- mento (por outro lado, ossos são elementos passivos do movimento). Dessa forma, os ossos são tracio- nados pelos músculos em um efeito de alavanca. É o que ocorre, por exemplo, quando o músculo qua- dríceps femoral traciona a tíbia e gera movimento de extensão do joelho. Outras duas funções dos ossos podem ser identificadas quando observamos atentamente o corpo humano na posição bípede (em pé). A ha- bilidade dos ossos em suportar o peso corporal e dar forma aos diferentes segmentos do corpo é extraordinária. Tais funções são prontamente per- cebidas quando imaginamos um osso fraturado (o fêmur, por exemplo) e temos a clara certeza de que é impossível descarregar peso naquele membro in- ferior. Além disso, se você comparar a forma arre- dondada do seu crânio à forma alongada de seus dedos terá clareza de que os ossos são os responsá- veis diretos por tais diferenças. Quando os ossos protegem os órgãos internos, armazenam íons essenciais, sintetizam células san- guíneas e absorvem toxinas, certamente, concluímos que suas funções também são vitais. Ao observar- mos, por exemplo, a importante ação das costelas e do osso esterno envolvendo o coração e os pulmões, e do crânio envolvendo o encéfalo, fica claro o quan- to os ossos nos são relevantes. Além disso, eles atu- am como reservatórios de cálcio, fosfato e magnésio os quais são essenciais à transmissão sináptica e à contração muscular. A síntese de células sanguíneas ocorre por meio da medula óssea vermelha que se localiza no interior dos ossos (este assunto será esclarecido adiante). E, por fim, eles são hábeis em absorver toxinas e metais pesados da corrente sanguínea diminuindo os efei- tos deletérios destes compostos em outros tecidos (principalmente no fígado e nos rins). DIVISÕES DO ESQUELETO O esquelético pode ser dividido em duas partes fun- cionais, porém interligadas: o esqueleto axial e o esqueleto apendicular. O esqueleto axial é formado pelos ossos localizados na região central do corpo, como aqueles da cabeça (ossos do crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais) e no tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro). ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 20 Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos localizados nas extremidades do corpo, ou seja, nos membros superiores e inferiores incluindo aqueles que formam os cíngulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (DANGELO; FATTINI, 2011). TIPOS DE OSSOS QUANTO À FORMA Ao avaliar o comprimento, a largura e a espessu- ra dos ossos, podemos agrupá-los em seis tipos principais: longos ou tubulares, curtos, laminares ou planos, irregulares, sesamoides e pneumáticos (WATANABE, 2000). Os ossos longos ou tubulares têm predomínio do comprimento em relação à largura e à espessura. Apresentam uma cavidade central (chamada cavida- de medular) que abriga a medula óssea. Além disso, sua parte central é chamada de diáfise e suas extre- midades são as epífises. Enquanto, a epífise proximal fica mais próxima do cíngulo do membro, a epífise distal fica mais distante dele. A região de transição entre epífise e diáfise recebe o nome de metáfise. O fêmur é um exemplo deste tipo de osso. Alguns os- sos têm características semelhantes, mas não apre- sentam cavidade medular e, por isso, são chamados de alongados ao invés de longos. Ossos curtos têm os três diâmetros (comprimen- to, largura e espessura) equivalentes apresentando forma cuboide. É o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos lami- nares ou planos são largos e pouco espessos. Geral- mente, esses ossos têm função protetora, como os os- sos planos do crânio (o parietal é um bom exemplo). Já os ossos irregulares (como o próprio nome já revela) têm formatos variados sem predomínio es- pecífico do comprimento, da largura ou da espessu- ra. São exemplos os ossos da face e as vértebras. Os ossos sesamoides são também chamados de ossos intratendíneos ou periarticulares, pois se desen- volvem em alguns tendões e são encontrados onde os tendões cruzam as extremidades dos ossos longos. As- sim, eles protegem os tendões contra desgastes e po- dem mudar seu ângulo de inserção. A patela é um de-Figura 4 - Esqueleto axial x Esqueleto apendicular EDUCAÇÃO FÍSICA 21 les. Todavia, algumas pessoas podem apresentar ossos sesamoides nas mãos e pés como variação anatômica. Os ossos pneumáticos apresentam cavidades contendo ar em seu interior. Localizam-se no crânio, por exemplo, o osso frontal, a maxila, o esfenoide e o etmoide. Suas cavidades são revestidas por mucosa e são chamadas de seios. Devido ao fato de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal podem ser chamados, em conjunto, de seios paranasais. CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS OSSOS Quando você observa atentamente um osso, é co- mum achar que se trata de um tecido inerte, seco e até sem vida. Todavia, muito pelo contrário, o tecido ósseo é vivo, dinâmico e se desenvolve e cresce por meio de um metabolismo muito ativo. Pra você ter uma ideia, os ossos são renováveis, em média, a cada dois anos. Isto significa que o fêmur ou o crânio que você tem hoje, não são os mesmos que você tinha há dois anos e nem serão os mesmos que você terá daqui a dois anos. Fantástico, não? A constituição do tecido ósseo também é fabulosa, pois os ossos são constituídos a partir de três compo- nentes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz óssea inorgânica (DANGELO; FATTINI, 2011). A água representa cerca de 25% da estrutura óssea. Todavia, é importante ressaltar que esta pro- porção é maior em recém-nascidos e crianças, e vai diminuindo à medida que o envelhecimento ocorre. Por isso, o envelhecimento faz comque os ossos fi- quem mais sujeitos a sofrerem faturas as quais, em idosos, são chamadas de “fratura em galho seco”. Crianças têm “fratura em galho verde”. Além disso, ossos de idosos normalmente apresentam maior di- ficuldade para consolidação de fraturas uma vez que a quantidade de matriz orgânica diminui. A matriz orgânica também representa cerca de 25% da estrutura óssea e é constituída por prote- oglicanas e colágeno. Assim, esta matriz é rica em proteínas que dão resistência à tensão e à tração às quais os ossos estão sujeitos diariamente. Por isso, a matriz orgânica está diretamente relacionada à maleabilidade óssea, ou seja, sua ausência pode causar doenças, por exemplo, a doença dos ossos de vidro. Nesse caso, os ossos não resistem à tensão Figura 5 – Comparação entre os tipos de ossos ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 22 e à tração que os músculos lhes impõem e se tor- nam fragilizados e quebradiços, mesmo aos meno- res esforços. Sobre a matriz orgânica se deposita a matriz inorgânica. A matriz inorgânica representa cerca de 50% da estrutura óssea. É constituída por sais minerais (principalmente, fosfato de cálcio e carbonato de cálcio) os quais formam a hidroxiapatita que dá ao osso resistência à compressão. Deficiência nos com- ponentes dessa matriz também pode tornar os ossos fragilizados e quebradiços. O tecido ósseo pode se organizar em dois tipos principais de ossos: os compactos ou corticais e os Figura 6 - Osso compacto e esponjoso esponjosos ou trabeculares. No osso compacto, as trabéculas ósseas estão justapostas e formam uma estrutura pouco porosa e com alta capacidade de resistência para sustentação de peso. Assim, atuam como colunas que suportam a descarga de peso. Em contrapartida, no osso esponjoso as tra- béculas ósseas não estão justapostas, mas deixam espaços entre si os quais são preenchidos por ar. Essa disposição origina uma estrutura altamente porosa e adaptada à absorção de impacto uma vez que o ar presente em meio às trabéculas ósseas funciona como um coxim aerífero que amortece a descarga de peso. EDUCAÇÃO FÍSICA 23 É importante que você saiba que a distribuição de tecido ósseo compacto e esponjoso nos ossos não é uniforme, mas depende das solicitações biomecâni- cas impostas aos ossos, ou seja, varia de acordo com a função exercida pelo osso, com a tração e com a pressão a que os ossos são submetidos. Assim, em- bora todos os ossos tenham uma fi na camada su- perfi cial de osso compacto ao redor de uma massa central de osso esponjoso, ossos longos adaptados à descarga de peso (como o fêmur, por exemplo) apre- sentam maior quantidade de osso compacto próxi- mo da parte média da diáfi se onde tendem a se cur- var. O mesmo não acontece, por exemplo, nos ossos longos que não recebem grandes descargas de peso (por exemplo, úmero) ou nos ossos carpais e tarsais. O efeito piezoelétrico explica parcialmente as diferenças na arquitetura dos ossos submetidos ou não à descarga de peso e à tração óssea. Embora a descarga e a tração ocorram constantemente em nosso dia a dia, normalmente elas são maiores ao realizarmos exercícios físicos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Segundo o efeito piezoelétrico, regiões ósseas onde ocorre compressão fi cam sujeitas a potenciais elétricos negativos, enquanto nas demais regiões do osso apare- cem potenciais elétricos positivos. Onde há potencial elétrico negativo, células ósseas sintetizadoras de ossos são ativadas fazendo deposição óssea proporcional ao estímulo dado. Dessa forma, a tensão óssea estimula a síntese de matriz orgânica e a deposição de sais mine- rais (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Esse princípio é facilmente identifi cado em atle- tas, os quais têm estrutura óssea diferenciada em re- lação aos indivíduos sedentários e é aplicado à reabi- litação física de pacientes tetraplégicos que perdem a capacidade de manter o ortostatismo. Para estes pacientes, a pedestação por meio de mesas ortostáti- cas possibilita a manutenção da saúde óssea minimi- zando o aparecimento de fraturas espontâneas. A arquitetura dos ossos planos do crânio merece destaque, pois é adaptada à proteção do encéfalo alo- jado em seu interior. Em tais ossos, uma camada de osso esponjoso, chamada díploe, fi ca interposta entre duas lâminas de osso compacto (uma lâmina externa e outra interna). Assim, quando uma força é imposta à lâmina externa de osso compacto, a díploe absorve parte desta força (uma vez que em seu interior existe ar interposto às trabéculas ósseas) minimizando as chan- ces da lâmina interna de osso compacto se fragmentar e lesionar o tecido nervoso adjacente. Na díploe, há medula óssea vermelha e por ele passam as veias. Figura 7 - Díploe O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta destes canais existem lamelas concêntricas (anéis de matriz extracelular rígida e calcifi cada), entre as quais há pequenos canais (lacunas) contendo osteócitos que se comunicam entre si. Canalículos minúsculos com líquido extracelular irradiam-se pelos ossos fazen- do difusão de oxigênio e nutrientes por todo o osso e drenando resíduos. Vasos sanguíneos, linfáticos e nervos provenientes do periósteo penetram no osso compacto por meio de canais perfurantes transversos ou canais de Volkmann. O tecido ósseo esponjoso, ao contrário, não contém ósteons. Ele é leve (o que reduz o peso total dos ossos) e tende a se localizar onde não há grandes forças ou onde as forças são aplicadas a partir de muitas direções (MOORE et. al, 2014). medula óssea vermelha e por ele passam as veias. O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta Figura 7 - Díploe medula óssea vermelha e por ele passam as veias. ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 24 A manutenção da saúde dos ossos depende da atuação das células que os compõem: os osteoblastos, osteóci- tos e osteoclastos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os osteoblastos são células jovens, originadas de células osteoprogenitoras, com grande capacida- de de divisão celular e, portanto, formadoras de osso. Elas sintetizam e secretam fibras colágenas e outros componentes orgânicos necessários à formação da matriz extracelular e iniciam a calcificação. À medida que são recobertos por matriz, tornam-se presos em suas secreções e se transformam em osteócitos. Os osteócitos são considerados células ósseas maduras relacionadas à manutenção do tecido ós- seo e, por isso, são as principais células desse tecido. Assim como os osteoblastos, não sofrem divisão ce- lular (apenas células osteoprogenitoras se dividem). Já os osteoclastos são células grandes que re- sultam da fusão de até 50 monócitos. Por meio de sua margem pregueada (lacunas de Howship), elas liberam enzimas proteolíticas que englobam e so- lubilizam cristais que contêm cálcio dissolvendo as matrizes ósseas. Assim, estão diretamente rela- cionadas à renovação óssea, uma vez que o tecido ósseo sofre reabsorção e reelaboração durante toda a vida fazendo com que o esqueleto seja constante- mente renovado (lembra que, em média, o esque- leto se renova a cada dois anos?). No entanto, sua ação excessiva pode causar osteopenia que pode evoluir para osteoporose. Figura 8 - Ósteon Figura 9 - Células ósseas A ação das células ósseas depende de diversos fatores como idade, hereditariedade, nutrição, doença, trau- ma, gravidez, esforço funcional e influência hormo- nal. Em relação aos hormônios, os ossos sofrem forte influência do hormônio do crescimento (GH), dos hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e proges- terona), da calcitonina (hormônio tireoidiano) e do paratormônio (ou hormônio paratireoidiano). Enquanto o GH, os hormônios sexuaise a cal- citonina atuam como hormônios osteogênicos ativando osteoblastos, o paratormônio estimula a degradação da estrutura óssea por estimular os os- teoclastos. Isto explica o fato da osteoporose (do- ença que torna os ossos progressivamente mais po- rosos) ser mais comum na velhice e nas mulheres após a menopausa. Nelas, há redução do estrógeno e da renovação da matriz orgânica. ESTRUTURA DO OSSO LONGO Ósteon Cartilagem Osso Ósteon Medula óssea amarela Osso compacto Periósteo Osteoclasto Osteócito Célula osteoprogenitora Osteoblasto Canal Osteonico Células do tecido ósseo Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Além disso, no indivíduo com osteoporose, de- vido à atuação excessiva dos osteoclastos causando osteólise, o nível de cálcio no sangue pode subir causando complicações como depósito do cálcio nas articulações e rins, e hipercoagulação sanguínea (causando embolia pulmonar, acidente vascular en- cefálico isquêmico etc.). Vale lembrar que deficiência na ingestão de de- terminados nutrientes pode enfraquecer os ossos. É o caso, por exemplo, das proteínas (uma vez que aminoácidos são necessários para formar colágeno), vitamina C (que estimula a síntese do colágeno), vi- tamina D (que é responsável pela absorção do cálcio e do fosfato do intestino; é ativada pela exposição ao sol) e vitamina A (que ajuda a fazer com que os ossos respondam adequadamente à tensão). inferiores). Nos ossos longos, o osso esponjoso da diáfise é substituído pela cavidade medular a qual abriga a medula óssea. Essa medula pode ser verme- lha ou amarela. A vermelha é um órgão hematopoi- ético, ou seja, produz células sanguíneas. A amarela perde esta função em decorrência do próprio enve- lhecimento e se torna altamente gordurosa. Uma medula óssea anormal ou cancerosa pode ser substituída por uma medula óssea vermelha sau- dável a fim de reestabelecer as contagens normais de células sanguíneas por meio de um transplante de medula óssea. A medula óssea vermelha saudável pode ser fornecida por um doador do qual é retira- da, sob anestesia, da crista ilíaca e injetada na veia do receptor em um processo muito semelhante a uma transfusão de sangue. Um procedimento mais moderno envolve o transplante de células do cordão umbilical (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora as vitaminas A e D sejam importantes para os ossos, o excesso de vitamina A acelera a ossificação causando cessação precoce do crescimento corporal. Além disso, deficiência de vitamina D pode causar raquitismo na criança e osteomalácia no adulto. Ambas são doenças ca- racterizadas pela baixa absorção de cálcio pelo intestino e má calcificação da matriz óssea cau- sando amolecimento e deformação dos ossos. Fonte: Guyton e Hall (2011). SAIBA MAIS Ainda em relação à constituição e arquitetura dos ossos, é importante estudarmos a medula óssea (alo- jada no interior de alguns ossos), e as camadas de revestimento dos ossos (o pericôndrio, o periósteo e o endósteo). A medula óssea está presente em pra- ticamente todos os ossos do feto e em alguns ossos dos adultos (como costelas, osso esterno, ossos do quadril, crânio e ossos dos membros superiores e Figura 10 - Tipos de medula óssea Estrutura óssea Linha epifisial Periósteo Osso esponjoso Vasos sanguíneos Medula óssea amarela Cartilagem articular Pericôndrio, endósteo e periósteo são camadas de tecido conjuntivo fibroso que revestem os elemen- tos do esqueleto. O pericôndrio faz o revestimen- to das cartilagens nutrindo suas faces externas; o endósteo reveste internamente a cavidade medular e contém uma única camada de células formadora de osso; o periósteo faz o revestimento externo dos ossos, é capaz de depositar mais osso (sobretudo ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 26 durante a consolidação de fraturas ou o crescimen- to ósseo), formar uma interface para fixação dos tendões e dos ligamentos, proteger o osso e ajudar na nutrição do tecido ósseo. O periósteo se fixa ao osso subjacente pelas fibras perfurantes (de Shar- pey) – feixes espessos de colágeno que se estende do periósteo até o interior da matriz óssea (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). lheres e 21 anos para homens, ela se fecha, ou seja, suas células param de se dividir e o osso substitui a cartilagem permanecendo apenas a linha epifisial. A clavícula é o último osso a parar de crescer. Figura 11 - Pericôndrio, periósteo e endósteo CRESCIMENTO ÓSSEO As estruturas responsáveis pelo crescimento ósseo em comprimento e em espessura são diferentes. Enquan- to, o crescimento em espessura dos ossos é possibili- tado pelo periósteo, o crescimento em comprimento é feito pela lâmina epifisial (WATANABE, 2000). O periósteo já foi mencionado anteriormente como sendo uma bainha de tecido conjuntivo que circunda a superfície externa dos ossos em partes não cobertas pela cartilagem articular. Já a lâmina epifisial é uma fina camada de cartilagem hialina localizada na metáfise. Por volta dos 18 anos de idade para mu- Figura 12 - Periósteo e lâmina epifisial NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA Você já sofreu alguma fratura? Se já, sabe que dói muito e que pode ocorrer sangramento e hema- toma na região. Mas você sabe por que tais coisas acontecem? A dor se deve ao fato dos ossos serem abundantemente inervados e o sangramento ocorre porque eles são muito vascularizados. Vasos sanguíneos e nervos penetram a estrutura óssea a partir do periósteo. Assim, as artérias perios- teais penetram a diáfise dos ossos longos passando por canais perfurantes e irrigam o periósteo e a par- te externa do osso compacto. Além disso, próximo ao centro da diáfise uma grande artéria nutrícia pe- netra o osso pelo forame nutrício, chega à cavidade medular, divide-se em ramos distal e proximal para irrigar o tecido ósseo compacto, esponjoso, medula óssea até as linhas epifisiais. É importante ressaltar que enquanto alguns ossos têm apenas uma artéria nutrícia (como a tíbia, por exemplo), outros têm várias (como o fêmur). As extremidades dos ossos são irrigadas por artérias metafisárias e epifisiárias (MORRE et al., 2014). Epífise Cartilagem articular Osso esponjoso Periósteo Osso compacto Cartilagem epifisial Epífise Diáfise EDUCAÇÃO FÍSICA 27 A drenagem venosa dos ossos é feita por veias que seguem trajetos muito semelhantes aos das arté- rias. Assim, as veias que drenam os ossos podem ser uma ou duas veias nutrícias (que acompanham as artérias na diáfise), veias metafisárias e epifisi- árias (que acompanham as artérias metafisárias e epifisiárias) e veias periostais (que acompanham as artérias periostais). De igual modo, os nervos dos ossos acompa- nham os vasos sanguíneos que os suprem. Assim, o periósteo é rico em nervos periostais sensitivos (al- guns responsáveis pela dor) e nervos vasomotores responsáveis pela vasoconstrição e vasodilatação dos vasos regulando o fluxo de sangue para a me- dula óssea. Vale lembrar que no periósteo também tem vasos linfáticos. OSSIFICAÇÃO E FRATURA Você já se perguntou se os fetos têm ossos prontos? Ou se todos os ossos dos fetos são de cartilagem? Que tipo de substância pode originar osso? Bom, para responder estas e outras perguntas, primeiro é importante você saber que os ossos não nascem prontos. Eles são gradativamente formados por um processo contínuo chamado ossificação ou osteogênese que se inicia na sexta semana de desen- volvimento. A ossificação ocorre a partir de células mesenquimais presentes no esqueleto do embrião, no local onde os futuros ossos serão formados (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora alguns ossos (como o esfenoide e o tem- poral) tenham uma ossificação mista, normalmen- te, ela ocorrede duas formas: a intramembranosa e a endocondral. Na ossificação intramembranosa o osso se forma diretamente dentro do mesênqui- ma, em uma região chamada centro de ossificação. Ela ocorre nos ossos do crânio e na mandíbula, os quais são ditos ossos conjuntivos. Já na ossificação endocondral, primeiro células mesenquimais se aglomeram na forma do futuro osso e se diferen- ciam formando um modelo de cartilagem hialina envolto por pericôndrio. Esse tipo de ossificação ocorre principalmente nos ossos longos, os quais ditos ossos condrais. Depois do osso formado pode haver, em casos de traumas ou doenças, a ruptura do osso caracteri- zando algum tipo de fratura. Elas são denominadas conforme a gravidade, a forma ou a posição da linha de fratura. Assim, os tipos mais comuns são fratura exposta, fechada, cominutiva, em galho verde, im- pactada ou por estresse (fissuras microscópicas, sem ruptura visível). O reparo de uma fratura é um pro- cesso relativamente lento e sua recuperação deve ser Figura 13 – Artérias ósseas ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 28 sempre acompanhada por um profissional habilita- do que acompanhe todas as etapas descritas porque se elas não forem respeitadas, pode haver formação de um osso defeituoso. ACIDENTES ANATÔMICOS Os acidentes anatômicos constituem os elementos descritivos para o estudo dos ossos. Eles surgem onde há inserção de tendões, fixação de fáscias, liga- mentos, onde artérias penetram os ossos etc. Podem ser de vários tipos, por exemplo, saliências, depres- sões e aberturas. As saliências (como os processos, tubérculos, eminências, cristas, espinhas etc.) geralmente estão relacionadas a pontos de inserção de músculos e fás- cias. As depressões (como as fossas, sulcos, incisuras etc.) geralmente servem para adaptação a estruturas vizinhas. Já as aberturas (como os forames, canais etc.) geralmente servem para a passagem de estrutu- ras como vasos e nervos (WATANABE, 2000). PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO Ossos da Cabeça Os ossos da cabeça são chamados em conjunto de crânio. Esta estrutura que se parece com um capacete ou com um estojo ósseo, tem por princi- pal função proteger o encéfalo (parte do sistema nervoso central popularmente conhecida como “cérebro”) que fica alojado em seu interior. No entanto, o crânio apresenta outras importantes funções, por exemplo, abrigar e proteger os ór- gãos dos sentidos (olhos, mucosa olfatória, ór- gão auditivo, órgão gustativo e do equilíbrio) por meio de cavidades especiais (como a orbital, na- sal, meato acústico interno e cavidade oral). Por fim, o crânio também possibilita a mastigação e a fonação por meio dos movimentos da Articu- lação Temporo-Mandibular (ATM). (DANGELO; FATTINI, 2011). O crânio tem um teto em forma de cúpula (chamado de calvária) e um assoalho (chamado de base) e é formado por 22 ossos que se articu- lam sendo apenas um deles amplamente móvel, a mandíbula. Vale lembrar que no interior de dois destes ossos (os ossos temporais) estão presentes os ossículos da audição chamados de martelo, bi- gorna e estribo, os quais não entram nesta conta- gem (DI DIO, 2002). Dos 22 ossos, 8 formam o crânio neural (osso frontal, occipital, esfenoide, etmoide, parietais e temporais) e 14 formam o crânio facial ou visceral (mandíbula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigo- máticos, lacrimais e conchas nasais inferiores). Lem- bre-se de que a maxila e a mandíbula têm estruturas destinadas à sustentação dos dentes (processos alve- olares) e por todo o crânio há muitos forames para a passagem de vasos e nervos. Figura 14 - Crânio EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Exceto a articulação da mandíbula com o osso temporal (que é chamada de Articulação Tempo- ro-Mandibular ou ATM), as outras articulações do crânio ocorrem por meio de suturas (como a sagital, a coronal, a lambdoidea, a escamosa, a internasal e a intermaxilar). Estas suturas não estão presentes desde o nasci- mento, pois, inicialmente, entre os ossos do crânio existem espaços preenchidos com mesênquima não ossificado chamados de fontículos (popularmente chamados de “moleiras”). Os fontículos permitem relativa flexibilidade e possibilidade de crescimento ao crânio fetal. Os principais são o fontículo ante- rior (entre o osso frontal e os parietais), o posterior (entre os parietais e o occipital), os ântero-laterais (entre frontal, parietal, esfenoide e temporal) e os póstero-laterais (entre parietal, occipital e tempo- ral). Esses sofrem ossificação e desaparecem durante o crescimento do crânio. minuir o peso da cabeça sobre as vértebras cervicais e a amplificar o som da voz como uma caixa acústi- ca. A inflamação de tal mucosa é chamada de sinusi- te (TORTORA et al., 2010). Ossos do pescoço Fazem parte dos ossos do pescoço o hioide, as vérte- bras cervicais, o manúbrio do esterno (que será des- crito junto com o esqueleto do tórax) e as clavículas (que serão descritas junto ao esqueleto do membro superior) (MOORE et al., 2014). Figura 15 – Fontículos Alguns ossos do crânio (frontal, esfenoide, etmoide e maxilas) apresentam cavidades ocas contendo ar, as quais são revestidas por mucosa e chamadas de seios paranasais (em decorrência de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal). Tais ossos são classificados como pneumáticos e ajudam a di- O osso hioide é móvel e fica situado na parte ante- rior do pescoço. Ele é suspenso por músculos e liga- mentos e não se articula com nenhum outro osso do corpo. Assim, além de fixar os músculos da região anterior do pescoço, ele ajuda a manter as vias aére- as abertas. As vértebras cervicais são sete pequenos ossos irregulares chamados, respectivamente, de C1 (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5 e C6 e C7 (ou vérte- bra proeminente). Figura 16 - Ossos do pescoço ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 30 Ossos do tronco Os ossos do tronco incluem o osso esterno, as costelas, as vértebras torácicas, as vértebras lombares, as vérte- bras sacrais e as vértebras coccígeas (DI DIO, 2002). Figura 17 – Ossos do tronco O osso esterno é um osso ímpar, plano, localizado na região central e anterior do tórax. Ele é dividido em três partes até a meia idade quando ocorre sua ossificação. A parte mais larga e superior é chamada de manúbrio e nela se identificam as incisuras clavi- culares e a incisura jugular. Ele se une ao corpo que é mais longo e estreito, e onde se identificam as incisu- ras costais. O processo xifoide é a menor e mais va- riável parte do esterno. Ele se ossifica por volta dos 40 anos e nos idosos pode-se fundir ao corpo (antes é cartilagíneo). As costelas são 12 pares de ossos planos, curvos, com alta resiliência e que contém medula óssea. Po- dem ser verdadeiras, falsas ou flutuantes. As verda- deiras (do 1° ao 7° par) fixam-se diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens cos- tais. As falsas (do 8° ao 10° par) têm conexão indi- reta com o osso esterno, pois suas cartilagens costais são unidas (formando a margem costal). As flutuan- tes ou anesternais (11° e 12° par de costelas) não se conectam ao osso esterno. As 12 vértebras torácicas são chamadas de T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9,T10, T11 e T12, as 5 lombares são chamadas de L1, L2, L3, L4 e L5, as 5 sacrais são chama- das de S1, S2, S3, S4 e S5 e as 3 ou 4 coccígeas são cha- madas de Co1, Co2, Co3 e Co4 (variação anatômica). No entanto, as vértebras sacrais e as coccígeas, por ossificação de seus discos intervertebrais, originan- do o sacro e o cóccix, respectivamente. As lombares são as maiores e mais resistentes vértebras da coluna. Seus processos espinhosos são quadriláteros, largos, espessos e servem para fixação dos grandes músculos do dorso. O sacro é um osso triangular que se posiciona naparte posterior da ca- vidade pélvica, medialmente aos ossos do quadril, servindo como forte fundação para o cíngulo do membro inferior. Na mulher ele é mais curto, largo e curvo a fim de favorecer a expulsão do bebê du- rante o trabalho de parto normal. O sacro apresenta forames sacrais anteriores e posteriores pelos quais passam nervos e vasos sanguíneos. EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Para finalizarmos a apresentação do esqueleto do tronco, é importante apresentarmos as curvaturas da coluna vertebral (CV). Em vista anterior e pos- terior a CV deve ser retilínea, mas em vista lateral ela apresenta curvaturas fisiológicas que permitem a adequada distribuição do peso corpóreo e, conse- quentemente, o equilíbrio. Tais curvaturas começam a se formar ainda na vida embrionária quando a CV do feto apresenta-se convexa (em vista posterior) devido à curvatura do próprio útero e é chamada de curvatura primária. Quando o bebê começa a sustentar a cabeça, uma curvatura cervical côncava surge e é chamada de lor- dose cervical. Ao ficar em pé e sustentar o peso cor- póreo (em torno de um ano de idade), aparece uma curvatura côncava nas vértebras lombares (lordose lombar). As regiões torácica e sacral são convexas, posteriormente, e, por isso, são chamadas de cifoses. Assim, no adulto normal existem quatro curva- turas fisiológicas na CV: Lordose cervical, cifose to- rácica, lordose lombar e cifose sacral. No entanto, o aumento destas curvaturas pode se tornar patológico passando a caracterizar um quadro de hipercifose ou hiperlordose. Além disso, o desvio látero-lateral da CV também é patológico e é chamado de escoliose (que pode ser “C” à direita ou à esquerda, e em “S”).Entre os corpos das vértebras ficam inter- postos os discos intervertebrais. Esses discos são constituídos pelo anel fibroso de fibro- cartilagem (externamente) e núcleo pulposo (internamente). Ele é altamente hidratado e por isso é capaz de absorver impactos impos- tos à coluna vertebral e permitir movimentos. Fonte: Kahle et al. (2006). SAIBA MAIS Figura 18 – Curva normal e patológicas da CV Ossos do membro superior O membro superior é composto por vários ossos (32 no total) que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e realização dos movimentos das mãos, inclusive os de pinça fina. O cíngulo do mem- bro superior é composto pela clavícula e pela escápu- la e tem a função de unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. A parte livre do membro apresenta um osso no braço (o úmero), dois ossos no antebra- ço (o rádio e a ulna), treze ossos nas mãos (oito ossos ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 32 carpais e cinco ossos metacarpais) e quatorze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Apenas os ossos carpais são classificados (quanto à forma) como cur- tos sendo os demais classificados como longos (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). músculos que agem sobre o braço, antebraço e mão. Enquanto a ulna (o maior osso do antebraço) tem localização medial, o rádio é o osso lateral do antebraço cuja extremidade distal se articula com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e pirami- dal) para formar a articulação radiocarpal. Rádio e a ulna se articulam entre si pela membrana interóssea do antebraço que serve como ponto de fixação de alguns músculos profundos do antebraço. Os ossos da mão compreendem os ossos carpais e metacarpais. Os carpais são oito ossos curtos inter- ligados por ligamentos nas articulações intercarpais. São dispostos em duas fileiras com quatro ossos cada. Na fileira proximal estão os ossos escafoide, semilu- nar, piramidal e pisiforme; na fileira distal estão os ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato. Os ossos metacarpais são cinco ossos longos nu- merados de I a V, a partir da posição lateral. Consis- tem de uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal). Articulam-se proximalmente com os ossos do carpo e distalmente com as falan- ges. Os ossos dos dedos são as falanges. São 14 ossos longos que apresentam base, corpo e cabeça e são chamadas de proximal, média e distal. O polegar tem apenas as falanges proximal e distal. Ossos do membro inferior O membro inferior é composto por vários os- sos que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e o suporte de peso corporal durante a marcha, assim como o equilíbrio do corpo na postura estática. O cíngulo do membro inferior é composto pelos ossos do quadril e pelo osso sacro e tem por função unir a parte livre do membro ao es- queleto axial. Já a parte livre do membro apresenta um osso longo na coxa (o fêmur), dois ossos longos na perna (a tíbia e a fíbula), um osso sesamoide na Figura 19 - Ossos do membro superior A clavícula é um osso fino, em forma de “S”, que fica sobre a primeira costela. Sua posição lhe permite se articular com o esterno e com a escápula, além de servir como ponto de fixação para alguns ligamen- tos. Em contrapartida, a escápula é um osso grande, plano, triangular e posterior que se articula com a clavícula e com o úmero. Além disso, ela permite a fixação de muitos mús- culos. Já o úmero é o osso mais longo do membro su- perior. Sua extremidade proximal se articula com a es- cápula e sua extremidade distal se articula com o rádio e com a ulna. Ele também permite a fixação de vários EDUCAÇÃO FÍSICA 33 região do joelho (patela), doze ossos no pé (sendo sete ossos tarsais e cinco ossos metatarsais) e qua- torze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Os ossos do quadril e o sacro são irregulares, os tarsais são curtos, os metatarsais e as falanges são longos (DANGELO; FATTINI, 2011). quanto, o cíngulo do membro superior não se articu- la diretamente à coluna vertebral, o do membro in- ferior o faz pela articulação sacroilíaca. Além disso, o encaixe na escápula para o úmero é raso e o fêmur no osso do quadril é profundo. Assim, enquanto o membro superior é adaptado a amplos movimentos, o membro inferior é adaptado ao suporte de peso e à estabilidade articular (GRABINER, et al., 1991). O fêmur é o maior, mais pesado e mais resisten- te osso do corpo. Sua extremidade proximal articu- la-se com o acetábulo do osso do quadril e a distal articula-se com a tíbia e patela. Já a patela é um osso triangular e sesamoide que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps femoral aumentan- do a força de alavanca deste músculo, mantendo a posição de seu tendão na flexão do joelho e prote- gendo a articulação. Enquanto, a tíbia é o osso medial e sustentador de peso do membro inferior, a fíbula é paralela e la- teral à tíbia. Superiormente, a tíbia se articula com o fêmur e com a fíbula e inferiormente se articula com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interós- sea da perna; sindesmose tibiofibular). Os ossos do pé incluem os ossos tarsais e me- tatarsais. Os tarsais (tálus, calcâneo, navicular, cuboide, cuneiforme lateral, cuneiforme medial e cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações intertarsais. Os metatarsais apresentam uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal), e são numerados de I a V a partir da posição medial. Articulam-se proximalmente com os ossos tarsais e distalmente com as falanges. As falanges (proximal, média e distal) apresen- tam base, corpo e cabeça, e as articulações que for- mam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale lembrar que o hálux (popularmente chamado de “dedão”) apresenta apenas falanges proximal e distal. Figura 20 - Ossos do membro inferior O osso do quadril do recém-nascido é formado por três ossos separados por cartilagem: ílio, ísquio e pú- bis. Eles se unem completamente por volta dos 23 anos de idade e se articulamanteriormente na sínfi- se púbica e, posteriormente, unem-se ao sacro. As- sim, o anel ósseo completo formado pelos dois ossos do quadril e sacro fazem uma estrutura em forma de bacia, chamada pelve óssea, que dá suporte à coluna vertebral e aos órgãos pélvicos. Como visto, existem importantes diferenças entre o cíngulo do membro superior e inferior. En- ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 34 DEFINIÇÃO DE ARTICULAÇÃO Quem nunca ouviu a vó ou o vô reclamando que está com dor nas “juntas”? Quem nunca ouviu di- zer que se estalar o dedo engrossa as “juntas” ou se ficar muito tempo sem movimentar uma articulação a “junta” seca? Será que essas suposições são fato ou boato? A fim de respondermos estas e tantas outras questões sobre este tema tão complexo, vamos fazer um estudo completo sobre as articulações. Em primeiro lugar, você só pode chamar de articulações ou junturas. Junta não! Em segun- do lugar, elas são definidas como o conjunto de estruturas anatômicas que promovem a conexão entre duas ou mais peças do esqueleto. Se a ar- ticulação ocorrer entre apenas dois ossos ela é classificada como simples, mas se acontecer entre mais de dois ossos, ela é chamada de composta (WATANABE, 2000). O restante, abordaremos nos tópicos que seguem. FUNÇÕES DAS ARTICULAÇÕES A maioria das articulações relaciona-se à produção de movimentos uma vez que as peças ósseas são tracionadas pelos músculos (durante a contração) e se movem ao redor dos pontos de junturas entre os ossos. Todavia, algumas articulações não são muito móveis, mas dão estabilidade às zonas de união en- tre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais relacionadas à postura e ao equilíbrio (MOO- RE et al., 2014). Quando as articulações perdem suas funções em decorrência de doenças articulares graves (por exem- plo, artrite), um procedimento cirúrgico chamado de artroplastia pode ser feito. Nele a articulação lesada é substituída por uma articulação artificial. CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES As articulações podem ser classificadas segundo vá- rios critérios, sendo os dois mais utilizados o critério funcional (com base nos tipos de movimentos que permitem) e o critério estrutural (baseado em carac- terísticas anatômicas) (GRABINER, et al., 1991). A classificação funcional está relacionada ao grau de movimento que a articulação permite. As- sim, pode ser chamada de sinartrose (quando a arti- culação é fixa, sem movimento), anfiartrose (quan- do a articulação permite pouco movimento) ou diartrose (quando a articulação é muito móvel). Já a classificação estrutural é baseada na presença ou ausência de um espaço (a cavidade articular) entre os ossos da articulação, e no tipo de tecido que une os ossos. Assim, a articulação pode ser fibrosa, carti- lagínea ou sinovial. Sistema Articular EDUCAÇÃO FÍSICA 35 A articulação fibrosa tem ossos unidos por tecido conjuntivo fibroso rico em fibras coláge- nas não tem cavidade articular entre os ossos e permitem apenas pequenos deslocamentos e mo- vimentos vibratórios. A articulação cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hialina ou fibro- cartilagem, não tem cavidade articular entre os ossos e também permite apenas pequenos deslo- camentos e movimentos vibratórios. Em contra- partida, a articulação sinovial tem ossos unidos por tecido conjuntivo denso não modelado em forma de cápsula articular, tem cavidade articular e apresenta alguns elementos articulares caracte- rísticos e outros especiais. As articulações fibrosas podem ser do tipo sutu- ra, sindesmose ou gonfose. As suturas são funcional- mente classificadas como sinartroses, são encontra- das nos ossos do crânio e podem ser planas (quando os ossos se encaixam de forma retilínea, como no caso da sutura internasal), serrilhada (quando os os- sos se interdigitalizam um no outro, como na sutura sagital) ou escamosa (quando os ossos se sobrepõem um ao outro como ocorre entre o parietal e tempo- ral). A ossificação das suturas geralmente inicia na segunda década de vida e termina após 80 anos, re- cebendo o nome de sinostose. Na sindesmose há uma distância maior entre os ossos e, por isso, existe mais tecido conjuntivo fibroso entre eles o qual pode estar disposto como um feixe (ligamento) ou como lâmina (membra- na interóssea). Exemplo: membrana interóssea da perna (sindesmose tibiofibular) e do antebraço (sindesmose radioulnar). É funcionalmente classi- ficada como anfiartrose. A gonfose ocorre quando uma estrutura cunei- forme se ajusta a uma concavidade. É o que ocorre, por exemplo, na união das raízes dos dentes com os processos alveolares da maxila e mandíbula. Vale ressaltar que, embora discretos, os movimentos dos dentes existem e podem ser percebidos durante pe- quenos rebaixamentos ao serem submetidos a for- tes compreensões (servem para suavizar impactos e evitar que os dentes se partam). São funcionalmente classificadas como sinartroses. As articulações cartilagíneas podem ser do tipo sincondrose ou sínfise. A sincondrose apresenta cartilagem hialina entre os ossos e é funcionalmen- te classificada como sinartrose. Algumas podem ser temporárias sofrendo ossificação no decorrer da vida (como a sincondrose esfenocciptal e a lâmina epifisial) e outras podem ser permanentes (como as articulações entre o osso esterno e as dez primeiras cartilagens costais). A sínfise é uma articulação onde os ossos são uni- dos por um disco de fibrocartilagem (por exemplo, sínfise púbica, manubrioesternal e intervertebral). São classificadas como anfiartroses. As articulações sinoviais têm elementos característicos e especiais que podemos citar: a superfície articular, cartilagem articular, cápsula articular e líquido sinovial. A superfície articular é a porção de cada osso da articulação. Não tem periósteo, mas é coberta por cartilagem articular que é avascular (é nutrida pelo líquido sinovial), é fina, lisa e escorregadia (a fim de reduzir o atrito entre os ossos e absorver impactos). A cápsula articular é uma membrana de tecido conjuntivo que envolve a articulação vedando-a e unindo os ossos (fazendo coaptação articular). É amplamente vascularizada e inervada (tanto com inervação dolorosa quanto proprioceptiva). É composta pela camada fibrosa (externa) e sinovial (interna). Enquanto a fibrosa é resistente, permite coaptação, mobilidade e resistência à tração, a si- novial sintetiza o líquido. ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA 36 O líquido sinovial é viscoso, amarelo-claro, cons- tituído principalmente por ácido hialurônico, prote- oglinas e glicosaminoglicanas. Ele reduz atrito (pois lubrifica a articulação), absorve impactos (pois man- tém os ossos levemente afastados) e elimina calor produzido nas articulações durante os movimentos. Além disso, remove microrganismos e fragmen- tos resultantes do desgaste articular (pois contém células fagocíticas), nutre e oxigena a cartilagem ar- ticular, assim como dela remove o CO2 e os resíduos metabólicos. Como é produzido proporcionalmente ao movimento articular, quando uma articulação fica imobilizada por muito tempo (para consolidar uma fratura, por exemplo), o líquido torna-se me- nos abundante e viscoso. Por isso, as pessoas dizem que a “junta secou”. Todavia, produzido em excesso (por um processo inflamatório, por exemplo, sino- vite), deve ser aspirado a fim de diminuir a pressão intra-articular e a dor (FREITAS, 2004). Os elementos especiais das articulações sinoviais incluem os lábios, os discos articulares, os meniscos, os ligamentos acessórios, as bolsas e as bainhas ten- díneas. Os lábios são estruturas de fibrocartilagem localizadas em extremidades articulares, geralmen- te côncavas, a fim de ampliar a cavidade e conferir maior estabilidade à articulação.
Compartilhar