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1 
 
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso, sob o tema “ESTUPRO 
MARITAL: DORMINDO COM O INIMIGO” possui como objetivo principal abordar o 
assunto referente ao crime de estupro, presente no Artigo 213 do Código Penal, 
perpetrado na constância de um matrimônio. O chamado estupro marital, onde o 
marido empreende violência sexual contra a sua própria esposa, fazendo-se assim, 
que a mesma se torne a vítima do crime de estupro e com isso violando a 
liberdade sexual do ser humano. Nesse contexto, verifica-se que o direito da 
mulher (ora, esposa) é infringindo, ainda que garantido constitucionalmente. 
 
Mesmo com as inúmeras transformações sociais já vivenciadas ao longo de 
toda a história da humanidade, o crime de estupro ainda continua fixado no seio da 
sociedade moderna, não fazendo distinção de cor, raça, idade, religião e nem de 
classes sociais. 
 
O atual trabalho possui o objetivo de elucidar que o cônjuge pode ser 
classificado dentro do Direito Penal como sujeito ativo desse crime hediondo, 
quando para satisfazer seus desejos carnais obriga ou coage a sua esposa a 
copular contra a sua vontade, onde para realizar uma abordagem mais 
esclarecedora de modo a contribuir para o meio social, bem como à comunidade 
acadêmica, utilizar-se-á argumentos respaldados pelo Direito Penal Brasileiro, 
divergências doutrinárias e jurisprudenciais. 
 
É importante salientar que o crime de estupro marital é empreendido 
mediante constrangimento ou grave ameaça, sendo que o cônjuge submete sua 
esposa contra a sua vontade a copular, com intuito apenas de satisfazer o seu 
desejo, aproveitando o matrimônio para justificar o ato cometido. 
Nesse sentido, em relação à liberdade e dignidade que é um direito 
garantido por lei a todo ser humano. A mulher não poderá ser obrigada a fazer ou 
deixar de fazer qualquer ato que esteja contra sua vontade. Entretanto, se por 
2 
 
algum pretexto esse crime vier a ocorrer o cônjuge poderá ser considerado sujeito 
ativo do delito de estupro na constância da relação conjugal, de acordo com 
o Código Penal Brasileiro. Portanto, na maioria das vezes que tal crime é cometido, 
o medo, insegurança e a ausência de informações de que o homem casado pode 
ser sujeito ativo do crime de estupro tendo como vítima sua esposa, faz com que 
inúmeras mulheres permaneçam inertes e submetidas à violência sexual 
constantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
PPAARRTTEE II:: DDOO CCRRIIMMEE DDEE EESSTTUUPPRROO 
Capitulo 1 – Sobre o Estupro 
 
1.1: Conceito de Estupro: 
 
Conforme aduz o Código Penal, em seu Artigo 213, o estupro consiste em: 
 
“Constranger alguém, mediante violência ou 
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a 
praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libidinoso”. 
 
Conforme os ensinamentos do professor MIRABETE1, se diz respeito a um 
tipo de constrangimento ilegal imposto a alguém, homem ou mulher, visando à 
satisfação de um desejo sexual (libido). 
É crime definido como hediondo em quaisquer de suas formas. 
 
1.2: Breve apanhamento sobre o Histórico de Estupro: 
 
 Após inúmeras leituras em livros aqui mencionados, ficou explicito que o 
crime de estupro institui um delito grave e considerado absurdo desde os tempos 
mais antigos, mesmo com as diferenças de cultura, origem, religião, costumes e 
etnia de cada povo, vem sendo repudiado e reprimido por todas as civilizações. 
 
 Dos crimes contra a dignidade sexual, presentes no art. 213 ao 234 no código 
penal, o estupro é a infração de natureza mais grave. E na criminalidade comum, o 
estupro se coloca como uma das condutas penais onde se pode ver a maior 
periculosidade do agente, nesse sentido, salienta NORONHA2: 
 
1 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: atlas. 1991. Pag. 417. 
2 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. v.3. 26.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Pág. 72. 
4 
 
 
 “Que o indivíduo que acomete uma mulher para 
manter relações carnais, violando, assim, o seu 
direito de escolha, postergando a liberdade que ela 
tem de dispor do corpo, demonstra instintos brutais 
dignos de severa repressão. ” 
 
Por ser um crime de delito grave, tipificado pelas relações carnais empregado 
de violência física ou moral, o estupro está previsto em todos os ordenamentos 
jurídicos, por exemplo: se encontra no Código Penal Espanhol, presente nos Artigos 
178 e 179, no capitulo I dos “DELITOS CONTRA LA LIBERTAD E INDEMNIDAD 
SEXUALES”: 
 
“Artículo 178: El que atentare contra la libertad 
sexual de otra persona, con violencia o 
intimidación, será castigado como responsable de 
agresión sexual con la pena de prisión de uno a 
cinco años. 
Artículo 179: Cuando la agresión sexual consista 
en acceso carnal por vía vaginal, anal o bucal, o 
introducción de miembros corporales u objetos por 
alguna de las dos primeras vías, el responsable 
será castigado como reo de violación con la pena 
de prisión de seis a 12 años. ” 
 
 Porém, mesmo tão presente desde as épocas antigas e em diversos 
ordenamentos jurídicos, quando aprofundamos no estudo da evolução, seja ela 
jurídica, seja ela cultural, é possível perceber um processo de lentidão e inúmeras 
justificações ao crime de estupro, como veremos a seguir: 
 
Na legislação Hebraica: aplicava-se a pena de morte ao homem que violasse 
a mulher desposada, isto é, prometida em casamento. 
 
5 
 
Se a vítima fosse mulher virgem, não desposada, deveria o autor indenizar ao 
pai da vítima, como também deveria casar-se com sua filha. 
 
 Tais regulamentos encontram-se também expressos na Bíblia Sagrada, no 
Livro de Deuteronômio 23 a 28, que diz o seguinte: 
 
“23: Se houver moça virgem, desposada, e um 
homem a achar na cidade e se deitar com ela, 24: 
Então trareis ambos à porta daquela cidade e os 
apedrejareis até que morram; a moça, porque não 
gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a 
mulher do seu próximo; assim, eliminarás o mal do 
meio de ti. 25: Porém, se algum homem no campo 
achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com 
ela, então, morrerá só o homem que se deitou 
com ela; 26: a moça não farás nada; ela não tem 
culpa de morte, porque, como o homem que se 
levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, 
assim também é este caso. 27: Pois a achou no 
campo; a moça desposada gritou, e não houve 
quem a livrasse. 28: Então, o homem que se 
deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta 
ciclo de prata; e uma vez que a humilhou, lhe será 
por mulher, não poderá mandá-la embora durante 
sua vida. “ 
 Já, na sociedade Egípcia, a quem cometesse estupro, a pena era de 
mutilação. Na Grécia, primeiramente fora imposta a simples pena de multa e 
posteriormente a pena de morte veio a ser imputada, excluindo a multa da pena. 
Como enfatizam HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO3: 
 
3 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei 
n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pág. 103 
6 
 
“Entre os egípcios, infligia-se ao violentador a 
pena de mutilação. Na antiga Grécia, a princípio, a 
pena era de simples multa; mas, posteriormente, 
para conjurar os abusos, foi cominada a pena de 
morte, que veio a tornar-se invariável, abolindo-se 
a alternativa (anteriormente consentida) entre ela 
e o casamento sem dote.” 
 No Direito Romano, não era aplicada a denominação estupro. A violência 
carnal era punida com a pena de mortepela lex julia de vi pública. Considerava-se 
crimen vis, por que se tinha mais em vista a violência empregada do que o fim do 
agente, portanto, de acordo com os autores HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO 4: 
“[...] tendo-se mais em vista o emprego da força do 
que a finalidade do agente, a posse sexual 
violenta (equiparada ao rapto violento) constituía 
modalidade do crimen vis, incidindo sob a Lex 
Julia de vi pública. [...] e a pena era a de morte”. 
 Segundo a linha de pensamento do doutrinador NORONHA5, no direito 
germânico, o delito era severamente punido. No canônico, além de ser exigido o 
emprego de violência para consumar o ato, era necessário que a ofendida fosse 
virgem para ocorrer o estupro, em mulher que não era virgem não podia ocorrer 
esse crime. 
 Pelas leis espanholas a punição era a morte do réu a do Fiiero Viejo castigava 
com a pena capital o crime, ou com a deckiraciov de enemisiad, que outorgava aos 
parentes da vítima o direito de dar morte ao ofensor; as do Fuero real e das Partidas 
também cominavam em pena máxima, conforme NORONHA6. 
 
4 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei 
n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pág. 103 
5 NORONHA, E. Magalhaes. Direito penal, v. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. Pag. 66-67 
6 NORONHA, E. Magalhaes. Op. Cit. 2002. Pag. 66-67 
7 
 
 Ainda conforme NORONHA7, nas leis inglesas, o crime de estupro era punido 
com a morte, ao passar do tempo, a pena de morte fora substituída pela castração e 
pelo vazamento dos olhos. 
 Deste modo, ficou evidente o repudio que os povos antigos lidavam com o 
estupro, reprimindo o mesmo com uma imensa rigidez, conforme aduz 
BITENCOURT8 em relação aos povos romanos, realizando a distinção entre 
adultério e estupro, vejamos: 
“Os povos antigos já puniam com grande 
severidade os crimes sexuais, principalmente os 
violentos, dentre os quais se destacava o de 
estupro. Após a Lex Julia de adultério (18 d. C.), 
no antigo direito romano, procurou-se distinguir 
adultério de stuprum, significando o primeiro a 
união sexual com mulher casada, e o segundo, a 
união sexual ilícita com viúva. Em sentido estrito, 
no entanto, considerava-se estupro todo ato 
sexual ilícito com mulher não casada. Contudo, a 
conjunção carnal violenta, que ora se denomina 
estupro, os romanos incluíam no conceito amplo 
do crimen vis, com a pena de morte. “ 
 
Na Idade Média, chamada de “idade das trevas”, pois foi uma época 
impregnada pelo domínio da Igreja e os pensamentos contrários a elas estipulados 
eram punidos severamente, logo, é notório que essa fase foi caracterizada e 
marcada pela grande influência de preceitos religiosos. Contudo, na vigência do 
sistema feudal, que levou a criação de feudos, fazia com que cada um desses 
feudos tivesse seu próprio regimento, criado pelo senhor Feudal. Assim, nessa 
 
7 NORONHA, E. Magalhaes. Direito penal, v. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. Pag. 66-67 
8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 2326 
8 
 
fase da história, eram punidos os delitos sexuais contra criança e no que se 
referiam as mulheres, em virtude de inúmeros motivos, como por exemplo, a 
violência que sofriam, fisicamente e mentalmente, elas acabavam guardando em 
segredo o estupro, até por que a virgindade significava inocência, algo puro, uma 
santidade e para não sofrer repudio, se mantinham caladas. 
 
 No século XVII, através da inserção das máquinas, ocorreu as inovações 
para a humanidade, trazendo consigo além de atualidades, como também um 
crime de estupro mais aprofundado em seu meio social, no que se refere as 
mulheres, devido a questão de inúmeros assédios e estupros de operárias, que 
ocorriam muitas vezes pelos seus empregadores e contramestres, segundo os 
dizeres de SILVA9. 
 
Com a chegada do século XX, ainda de acordo com SILVA10, o mesmo foi 
marcado por grandes guerras e com elas, o crime de estupro permaneceu a época, 
sendo cometidos pelas tropas que participavam desse conflito. Na segunda guerra, 
tal delito continuou a existir, sendo cometido por soldados e pelos aliados. 
 
 É notório, que em nosso país o crime de estupro foi enfatizado no período 
Colonial e regido pelas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e as Filipinas. 
Entretanto, a nossa Legislação Pátria trilhou um longo caminho em busca da 
melhor forma de proteger aqueles que necessitam. 
Entretanto, mesmo com as evoluções vivenciadas pela humanidade, desde 
os antigos até os tempos atuais, mesmo com a igualdade entre homens e 
mulheres, o que foi um importante marco para as mulheres, ainda existem 
mulheres sendo vítimas de violências sexuais diariamente. SILVA11 descreve que: 
 “[...] no século XXI muitas atrocidades 
continuaram sendo praticadas, e mulheres 
 
9 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Possibilidade Jurídica do Estupro na Relação Conjugal. 2011. pag. 12 f/Monografia 
(Bacharel em Direito) – Universidade do Vale do Rio Doce. Disponível em: 
<http://srvwebbib.univale.br/pergamum/tcc/Possibilidadejuridicadoestupronarelacaoconjugal.pdf> Acesso em 08/09/2017 
10 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Op. Cit. 2011. Pag. 13 
11 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Op. Cit. 2011. Pag. 13 
9 
 
continuaram a serem violentadas, até 
mesmo por seus maridos.” 
1.3: Evolução de estupro na legislação Penal: 
 Por ser o estupro um delito de extrema relevância, altamente repudiado e 
considerado um delito grave no Brasil, com o intuito de prover de meios para punir 
e prevenir o mesmo, a legislação pátria percorreu um longo caminho para 
conquistar essa evolução que temos nos dias atuais. 
1.3.1: Ordenações Filipinas: 
 Presente no Livro V, da antiga legislação penal do Brasil, as Ordenações 
Filipinas, nas quais pregavam que no crime de conjunção carnal adquirida 
mediante força, o criminoso seria sentenciado com a morte, mesmo se o autor do 
crime viesse a se casar com a vítima. Sobre o assunto FAYET12, descreve: 
“Nas Ordenações Filipinas, no Título XVIII, 
p. 1168 – Do que dorme per força com 
qualquer mulher, ou trava dela, ou a leva 
per sua vontade. Todo homem, de qualquer 
estado e condição que seja que 
forçosamente dormir com qualquer mulher, 
será punido com a pena de morte. “ 
Nos dizeres de HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO13, enfatizam que as 
Ordenações Filipinas é a nossa legislação prima, onde a pena no crime de estupro 
era a morte: 
 
12 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. Pag. 25 
13 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei 
n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pag. 103 
10 
 
 “Ordenações Filipinas, nossa primitiva 
legislação penal: pena de morte contra “o 
homem, de qualquer estado e condição que 
seja forçosamente dormir com qualquer 
mulher”, não se eximirá do casamento com 
a vítima”. 
1.3.2: Código Criminal do Império 1830: 
 Foi divulgado o primeiro Código Criminal no Império do Brasil, em 1830, a 
caracterização do crime de estupro, presente na Secção I, “Estupro” do capítulo II, 
“dos crimes contra a segurança da honra”, nos art. 219 a 225, nesses abordava-se 
todas as relações carnais ilícitas. 
“Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de 
dezessete anos. Penas - de desterro para 
fora da comarca, em que residir a deflorada, 
por um a três anos, e de dotar a esta.Seguindo-se o casamento, não terão lugar 
as penas. Art. 220. Se o que cometer o 
estupro, tiver em seu poder ou guarda a 
deflorada. Penas - de desterro para fora da 
província, em que residir a deflorada, por 
dois a seis anos, e de dotar esta. Art. 221. 
Se o estupro for cometido por parente da 
deflorada em grão, que não admita 
dispensa para casamento. Penas - de 
degredo por dois a seis anos para a 
província mais remota da em que residir a 
deflorada, e de dotar a esta. Art. 222. Ter 
copula carnal por meio de violência, ou 
ameaças, com qualquer mulher honesta. 
Penas - de prisão por três a doze anos, e 
11 
 
de dotar a ofendida. Se a violentada for 
prostituta. Penas - de prisão por um mês a 
dois anos. Art. 223. Quando houver simples 
ofensa pessoal para fim libidinoso, 
causando dor, ou algum mal corpóreo a 
alguma mulher, sem que se verifique a 
copula carnal. Penas - de prisão por um a 
seis meses, e de multa correspondente á 
metade do tempo, além das em que incorrer 
o réu pela ofensa. Art. 224. Seduzir mulher 
honesta, menor dezessete anos, e ter com 
ela copulam carnais. Penas: de desterro 
para fora da comarca, em que residir a 
seduzida, por um a três anos, e de dotar a 
esta. Art. 225. Não haverá as penas dos 
três artigos antecedentes os réus, que 
casarem com as ofendidas. “ 
1.3.3: Código Criminal da República 1890: 
 
 A denominação estupro foi acolhida pelo Código Criminal da Republica, que 
fora decretado em 11 de Outubro de 1890. Neste Código, era passível de se 
enxergar os crimes de atentado violento ao pudor, como um meio de satisfazer as 
paixões lascivas e o estupro, abrangido como um anseio de copula vagínica, 
ambos expressos no Título VIII, “Dos crimes contra a segurança da honra e 
honestidade das famílias e do ultraje público ao pudor”, Capitulo I, “Da violência 
Carnal”, encontrados nos Artigos 266 a 269 do Decreto nº 847/1890: 
“Art. 266. Atentar contra o pudor de pessoa de um, 
ou de outro sexo, por meio de violência ou 
ameaças, com o fim de saciar paixões lascivas ou 
depravação moral: Pena: de prisão celular por um 
a seis anos. Parágrafo único. Na mesma pena 
12 
 
incorrerá aquele que corromper pessoa de menor 
idade, praticando com ela ou contra ela atos de 
libidinagem. Art. 267. Deflorar mulher de menor 
idade, empregando sedução, engano ou fraude: 
Pena: de prisão celular por um a quatro anos. Art. 
268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: 
Pena de prisão celular por um a seis anos. § 1º. Si 
a estuprada for mulher pública ou prostituta: Pena: 
de prisão celular por seis meses a dois anos. § 2º. 
Si o crime for praticado com o concurso de duas 
ou mais pessoas, a pena será aumentada da 
quarta parte. Art. 269. Chama-se estupro o ato 
pelo qual o homem abusa com violência de uma 
mulher, seja virgem ou não. Por violência entende-
se não só o emprego da força física, como o de 
meios que privarem a mulher de suas faculdades 
físicas, e assim da possibilidade de resistir e 
defender-se, hipnotismo, o clorofórmio, o ether, e 
em geral os anestésicos e narcóticos. “ 
 
1.3.4: Código Penal Brasileiro de 1940: 
 O Código Republicano ou contemporâneo entra em vigor em 1940, em vigor 
do Decreto-lei nº 2848, mostrando, nesse contexto histórico, um dos maiores 
avanços por destacar dois crimes sexuais: o crime de estupro, sendo empreendido 
com o emprego de violência ou grave ameaça, no qual o dolo deduz na pretensão 
livre de constranger a vítima a conjunção carnal. E o atentado violento ao pudor, 
sendo que a intenção do agente é a pratica de ato libidinoso. 
 
13 
 
FAYET14 explica o seu entendimento ao que venha ser o ato libidinoso: 
 “Qualquer ato que extravase o apetite 
desenfreado de luxúria do agente, excetuada a 
relação vagínica. Poderá tratar-se do coito anal ou 
do oral, masturbação, da apalpação de órgãos 
genitais, da cópula entre os seios ou axilas etc.” 
Os crimes acima mencionados estavam presentes nos art. 213 e 214 do 
Decreto-lei nº 2.848: 
“Art. 213. Constranger mulher a conjunção carnal, 
mediante violência ou grave ameaça. Pena: 
reclusão de três a oito anos. Art. 214. Constranger 
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a 
praticar ou permitir que com ele se pratique ato 
libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: 
reclusão de dois a sete ano. “ 
 Possível perceber a divergência de penas entre o crime de estupro e o 
atentado violento ao puder, diferença essa que perdurou até a chegada da Lei Dos 
Crimes Hediondos, Lei nº 8.072/1990, como veremos a seguir. 
 
1.3.5: Crimes Hediondos: 
 
 Como comentamos anteriormente, a diferença de penas do crime de estupro 
e o do atentado violento ao pudor durou até a chegada dessa Lei nº 8.072/1990, 
onde, através dela, passou a se considerar como crime hediondo ambos os crimes, 
impondo-se a combinação dos mesmos com o artigo 223 “caput” e parágrafo único 
do Código Penal. 
 
14 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 36 
14 
 
 
 Aos artigos que tratavam dos crimes mencionados, (art. 213 e 214, do 
Código Penal), foram impostos por uma nova escrita imposta pela lei de crime 
Hediondos, sendo posteriormente confirmada pela Lei nº 8.930/94, conferindo-lhe 
uma nova redação ao artigo I: 
 
“Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, 
mediante violência ou grave ameaça. Pena: 
reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. Art. 214. 
Constranger alguém mediante violência ou grave 
ameaça, a praticar ou permitir que com ele 
pratique ato libidinoso diverso da conjunção 
carnal. Pena: reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) 
anos. “ 
É, então, possível perceber que com a criação da Lei de Crimes Hediondos, 
os crimes de estupro e atentado violento ao pudor foram elevados ao nível mais 
alto de delitos que causam repulsa na sociedade contemporânea. 
 Conforme entendimento de DAYANE SILVA15 e com a possível visualização 
dos progressos da humanidade no andar do tempo, o século XXI, se torna o 
principal século para a proteção da mulher. Ocorre, que mesmo com as diversas 
leis que ampara os mais fracos, nota-se que ainda existem mulheres vivendo de 
forma “contemporânea”, sendo violentadas, espancadas e sofrendo diversos tipos 
de agressões, se perfazendo assim, o surgimento da Lei nº 11.340/2006. 
 
 
15 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: 
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017. 
 
15 
 
1.3.6: Lei Maria da Penha: 
 Entrou em vigor a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, 
no dia 22 de Setembro de 2006, para atender milhares de mulheres que sofrem 
algum tipo de violência. 
 A Lei Maria da Penha foi fundamentada em cima do Artigo 226, § 8º, 
da Constituição Federal de 1988, onde enfatiza o § 8º do referido artigo que: 
 “A família, base da sociedade, tem especial 
proteção do Estado. (...) 
§ 8º O Estado assegurará a assistência à 
família na pessoa de cada um dos que a 
integram, criando mecanismos para coibir a 
violência no âmbito de suas relações.” 
O Estado, portanto, deverá assegurar à assistência a família na pessoa de 
cada um que a integram, logo, criando-se mecanismos para coibir à violência no 
âmbito de suas relações. 
 Portanto, marcou uma imensa conquista jurídica, principalmente as 
mulheres. Portanto, segundoDAYANE SILVA16 elucida a origem da Lei nº 
11.340/2006, vejamos: 
“A lei nº. 11.340/06, conhecida como Lei Maria da 
Penha, foi resultado de tratados internacionais, 
firmados pelo Brasil, com o propósito de não 
apenas proteger à mulher, vítima de violência 
doméstica e familiar, mas também prevenir contra 
futuras agressões e punir os devidos agressores. 
 
16 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: 
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017. 
16 
 
Foram duas as convenções firmadas pelo Brasil: 
Convenção sobre a eliminação de todas as formas 
de discriminação contra a mulher (CEDAW), 
conhecida como a Lei internacional dos Direitos da 
mulher e a Convenção Interamericana para 
prevenir, punir e erradicar a violência contra a 
mulher, conhecida como “Convenção de Belém do 
Pará”. 
 
 É possível perceber o objetivo da Lei Maria da Penha foi de conceder 
proteção/resguarda para aquelas que necessitam, que sofrem violência doméstica. 
 
 CARVALHO, FERREIRA E SANTOS17, enfatizam que, a Lei Maria da 
Penha destaca em seu bojo, definições de alguns tipos de violência doméstica, e 
familiar praticado contra a mulher, sendo as mesmas, violência física, psicológica, 
sexual, patrimonial e moral, vejamos: 
 
“Violência física: qualquer ato que agride a 
integridade física da mulher, como socos, tapas, 
pontapés, empurrões, entre outros, e também a 
utilização de armas brancas ou de fogo. Violência 
psicológica: qualquer ato que cause dano 
emocional, que diminua a auto-estima, limite a 
liberdade e não deixa marcas visíveis 
prejudicando a saúde psicológica. Violência 
sexual: qualquer ato que obrigue a mulher a 
participar, presenciar ou manter relações sexuais 
não desejadas. Violência patrimonial: qualquer ato 
que cause dano, retenção ou destruição dos 
 
17 CARVALHO, Carina Suelen; FERREIRA, Débora Nayara; SANTOS, Karla Rodrigues. Analisando a Lei Maria da Penha: a 
violência sexual contra a mulher cometida por seu companheiro. 2010. Disponível em: 
<http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/6. MoaraCia.pdf>. Acesso em 12/09/2017. 
 
17 
 
objetos e documentos pessoais. Violência moral: 
qualquer ato que ofenda, insulte ou que acuse 
falsamente sua integridade moral.” 
 Sendo assim, vale ressaltar que a maior ênfase será concedida ao tema da 
violência sexual, ou seja, uma forma de violência doméstica. Entretanto, de acordo 
com DAYANE SILVA18, o artigo 7º, inciso III, Lei nº 11.340/2006, esclarece a 
questão da violência sexual: 
 
 “Art. 7º - São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: III- a 
violência sexual, entendida como qualquer 
conduta que a constranja a presenciar, a manter 
ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação, ou uso da 
força; que a induza a comercializar ou utilizar, de 
qualquer modo, a sua sexualidade, que impeça de 
usar qualquer método contraceptivo ou que force 
ao matrimônio, a gravidez, ao aborto ou à 
prostituição, mediante coação, chantagem, 
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; “ 
 Neste contexto, se percebe que a violência sexual na maioria das vezes 
acontece no silêncio dos lares. 
 
 É evidente que existe o intuito da Lei Maria da Penha direcionado em 
proteger as vítimas do crime de estupro, onde as leis seguem o progresso da 
sociedade que procuram elementos de precaver e conter qualquer tipo de violência 
ou delito. Sendo assim, com o objetivo de consagrar a luta para proteger os mais 
indefesos surge também a Lei nº 12.015/2009. 
 
 
18 
 
1.3.7: Lei n. 12.015/2009: 
 
 A Lei nº 12.015/09, que fora introduzida em 07 de Agosto de 2009, trouxe 
importantíssimas modificações ao Código Penal, alterou o Título VI para “Dos 
Crimes Contra a Dignidade Sexual”, que anteriormente era chamado de “Dos 
Crimes Contra os Costumes”, expressão atual que está mais conforme com a 
Constituição Federal, buscando garantir, acima de tudo, a dignidade da pessoa 
humana, unificando então, os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, 
dessa forma, revogando o Artigo 214 do Código Penal. 
Conforme afirma ANDRE ESTEFAM19: 
“A expressão escolhida, em nosso sentir, foi 
oportuna e se encontra em sintonia com o Texto 
Maior. Deveras, o Direito Penal não se volta à 
proteção de regras puramente morais ou éticas, 
mas notadamente à defesa de bens jurídicos 
(concepção dominante).” 
Com as afirmações de André Estefam, pode-se notar que o interesse principal 
era que o intérprete conseguisse identificar o bem juridicamente protegido, não 
tendo que se utilizar de uma interpretação que acabasse por desvirtuá-lo do que 
estabelece a Constituição Federal, pois a exegese de acordo com a Lei Maior é uma 
exigência da nova hermenêutica. Sendo assim, o novo título foca-se na dignidade da 
pessoa humana, no sentido da liberdade sexual. 
É possível perceber que há considerável tempo os doutrinadores já afirmavam 
pela necessidade desta alteração no direito positivo brasileiro. 
Conforme se depreende das lições de ROGERIO GRECO20, anteriormente à 
reforma: 
 
18 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: 
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017 
19 ESTEFAM, André. Crimes Sexuais. Editora: Saraiva, São Paulo, 2009. Pág. 19 
19 
 
“Hoje em dia, tal designação – crimes contra os 
costumes – vem recebendo críticas por parte de 
nossos doutrinadores, haja vista que analisando-se 
as infrações penais constantes do título VI do 
Código Penal, verifica-se, com clareza, que o que 
se pretende proteger não são os costumes, [...]. Na 
verdade, a liberdade ao próprio corpo está 
intimamente vinculada à dignidade da pessoa 
humana.”. 
 A cerca da unificação dos crimes, NUCCI21 descreve que o legislador: 
 
“[...] foi além, unificando os crimes similares 
estupro e atentado violento ao pudor sob uma 
única denominação e com descrição da conduta 
típica em único artigo. Denomina-se estupro toda 
forma de violência sexual para qualquer fim 
libidinoso, incluindo, por óbvio, a conjunção carnal. 
“ 
 
 Capez, aduz que antes da Lei nº 12.015/09, o artigo 213 abordava apenas 
como conjunção carnal a cópula vagínica e os outros atos lascivos encontravam-se 
no artigo 214. Vale ressaltar os dizeres de CAPEZ22, referente a tal questão, 
vejamos: 
 
“Conjunção carnal: é a cópula vagínica, ou seja, a 
penetração efetivada membro viril na vagina. A 
antiga redação do art. 213 do CP somente 
abarcava esse ato sexual, sendo as demais 
práticas lascivas abrangidas pelo art. 214 do CP, 
atualmente revogado pela Lei n. 12.015, de sete 
 
20 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal volume III.Editora: Impetus, Rio de Janeiro, 2010. Pág. 273 
21 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. Pag. 15 
22 CAPEZ, Fernando Capez. Curso de direito penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade sexual a dos 
crimes contra a administração pública (arts. 213 a 359 H) – 10. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012. Pag. 126 
20 
 
de agosto de 2009. Ato libidinoso: compreende 
outras formas de realização do ato sexual, que 
não a conjunção carnal. São os coitos anormais 
(por exemplo, a cópula oral e anal), os quais 
constituíam o crime autônomo de atentado 
violento ao pudor (CP, antigo art. 214). Pode-se 
afirmar que ato libidinoso é aquele destinado a 
satisfazer a lascívia, o apetite. “ 
 
 Merece destaque que a antiga legislação conferia particularmente proteção 
jurídica à liberdade sexual da mulher. No entanto, com as alterações introduzidas 
pela Lei nº 12.015/2009, apoiadas no princípio da isonomia consagrado 
na Constituição Federal de 1988, abriu-se espaço para proteção de qualquer 
indivíduo seja homem ou mulher, solidificando assim, a liberdade de escolha 
sexual. 
 Segundo MASSON23 em relação à questão da liberdade de escolha sexual 
enfatiza que: 
“[...] liberdade sexual é o direito de dispor do 
próprio corpo. Cada pessoa tem o direito de 
escolher seu parceiro sexual, e com ele praticar o 
ato desejado no momento que reputar adequado.” 
 
Neste prisma vale ressaltar os dizeres BITENCOURT24: 
 “ [...] homem e mulher têm o direito de negarem-
se a submeter-se à prática de atos lascivos ou 
voluptuosos, sexuais ou eróticos, que não queiram 
 
23 MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, vol. 3: parte especial, arts. 213 a 359-H – 4. Ed. rev.e atual. – Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: M ÉTODO, 2014. Pag. 82 
24 BITENCOURT, Cezar Roberto Código penal comentado — 7. ed. — São Paul o: Saraiva, 2012. Pag. 2328 
21 
 
realizar, opondo-se a qualquer possível 
constrangimento contra quem quer que seja, 
inclusive contra o próprio cônjuge, namorado (a) 
ou companheiro (a) (união estável); no exercício 
dessa liberdade podem, inclusive, escolher o 
momento, a parceria, o lugar, ou seja, onde, 
quando, como e com quem lhes interesse 
compartilhar seus desejos e necessidades 
sexuais. Em síntese, protege-se, acima de tudo, a 
dignidade sexual individual, de homem e mulher, 
indistintamente, consubstanciada na liberdade 
sexual e direito de escolha. ” 
Nesse sentido, com a nova redação inserida pela Lei nº 12.015/09, o 
Artigo 213 do Código Penal, conceitua o crime de estupro como ato de: 
 
“Constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou 
permitir que com ele se pratique outro ato 
libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. 
 
Deste modo, para o doutrinador CAPEZ25 o crime de estupro: 
 
 “Passou a abranger a prática de qualquer ato 
libidinoso, conjunção carnal ou não, ampliando a 
sua tutela legal para abarcar não só a liberdade 
sexual da mulher, mas também a do homem”. 
 
Com isso, percebe-se que se vivencia um ciclo de constantes 
transformações, muitas delas benéficas e eficazes, porém tais mudanças sofridas 
alteraram as concepções e deixaram os seus reflexos no contexto do Direito. 
 
25 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial, Vol. III. 8ª. Ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2010.Pag. 34 
22 
 
 
 Assim, evidencia-se importante a mudança decorrente da Lei nº 12.015 de 
2009, haja vista que se ampliou e ajustou o objeto de tutela ao real fim do Direito 
Penal, protegendo desse modo explicitamente a dignidade sexual e não meros 
costumes, conforme se depreendia da antiga redação. 
 No entanto, apesar de todas as transformações já vivenciadas e com a 
ampliação do espaço adquirido pela mulher na sociedade e direitos consolidados 
constitucionalmente, com a igualdade de gênero, ainda é possível averiguar alguns 
resquícios da ideologia patriarcal, sistema esse já vivenciado no País, no qual as 
mulheres eram criadas e educadas desde crianças com desígnio de se dedicarem 
unicamente aos seus futuros maridos, a cuidarem do lar, possuindo como sua 
principal incumbência a procriação e a instrução dos filhos, ou seja, estavam em 
um ângulo de submissão total aos desejos do varão. 
 Tal prerrogativa pode ser verificada nos dizeres de GARCIA26: 
“Historicamente, a mulher ficou subordinada ao 
poder masculino, tendo basicamente a função de 
procriação, de manutenção do lar e de educação 
dos filhos, numa época em que o valor era a força 
física. Com o passar do tempo, porém, foram 
sendo criados e produzidos instrumentos que 
dispensaram a necessidade da força física, mas 
ainda assim a mulher içou numa posição de 
inferioridade, sempre destinada a ser um apêndice 
do homem, jamais seu semelhante. “ 
 
26 GARCIA. Gilberto. O casamento e o novo Código Civil II. São Paulo. 
 
Capitulo 2 – Sobre o Crime de Estupro 
2.1: Marido como Sujeito Ativo no crime de Estupro: 
De suma importância destacar que em momento algum alguém poderá ser 
submetido a ter relação sexual contra a sua vontade. Ainda que casada, a pessoa 
não poderá ser obrigada a ter relações sexuais com seu cônjuge. 
 Portanto, o marido que obriga a esposa, mediante violência ou grave 
ameaça, a fazer sexo, pratica o crime de estupro. Nas relações sexuais, o 
consentimento dos envolvidos deve ser tido como condição absoluta, não existindo 
qualquer possibilidade de que o ato ocorra, licitamente, sem a sua existência. No 
que se refere à violência sexual acometida, na esfera matrimonial, vale ressaltar 
um fator importante, que merece ser elucidado, sendo o mesmo, o sujeito ativo 
delituoso. 
 Todavia, para o doutrinador FERNANDO CAPEZ27 o marido que empreende 
violência ou grave ameaça, obrigando sua própria esposa a manter relação sexual 
contra sua vontade comete crime de estupro. 
 
Portanto, para o mesmo, com intuito de restringir esta violência doméstica 
surgiu a Lei nº. 11.340/2006, trazendo em seu bojo estruturas especiais com 
objetivo de proteger todas as mulheres que estejam passando por esse tipo de 
circunstância tão específica, vejamos: 
 
“Marido com o autor. A questão da violência 
doméstica e familiar contra a mulher (Lei 
n. 11.340, de sete de agosto de 2006): marido 
que, mediante o emprego de violência ou grave 
ameaça, constrange a mulher à prática de 
relações sexuais comete crime de estupro. A 
mulher tem direito à inviolabilidade de seu corpo, 
 
27 CAPEZ, Fernando Capez. Curso de direito penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade sexual a dos 
crimes contra a administração pública (arts. 213 a 359 H) – 10. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012., pag. 297 
 24 
de forma que jamais poderão ser empregados 
meios ilícitos, como a violência ou grave ameaça, 
para constrangê-la à prática de qualquer ato 
sexual. Isso veio a ser reforçado com a edição da 
Lei n. 11.340/2006, que criou mecanismos para 
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher; dispôs sobre a criação dos 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a mulher; estabeleceu medidas de assistência e 
proteção às mulheres em situação de violência 
doméstica e familiar. “ 
 
 Entretanto, TESSMANN E BARBOSA28 entendem que tal delito advém da 
mesma forma que aconteceno crime de estupro comum, a diferença incide na 
questão do sujeito ativo, neste caso configurasse como sendo o próprio marido, 
onde por meios de abusos físicos ou psicológicos, empreende sua esposa a 
realizar conjunção carnal malquista, com intuito apenas de chegar ao seu 
contentamento pessoal. 
 Portanto, inúmeras dessas vítimas, apesar de sofrerem constantemente com 
essa violência, não chegam a delatarem os seus agressores, muitas vezes por 
medo das implicações ou talvez por crerem que a conjunção carnal é uma 
obrigação do matrimônio e por acreditarem nesse fato permanecem inerentes em 
silêncio. 
Conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná, a respeito do 
marido como sujeito ativo: 
“O marido pode ser sujeito ativo do crime de 
estupro contra a mulher, pois o débito 
conjugal não autoriza a posse sexual 
 
28 BARBOSA, Celísia; TESSMANN, Dakiri Fernandes. Violência Sexual nas Relações Conjugais e a Possibilidade de 
Configurar-se Crime de Estupro Marital. 2014. Disponível em: <http://judicare.com.br/index.php/judicare/article/view/65/191> 
Acesso em 12/09/2017 
 25 
mediante violência (TJPR, PJ 48/267).” 
 
2.2: Sujeito Passivo: 
Importante ressaltar que na antiga redação do artigo 213, antes da alteração 
pela Lei nº 12.015/09, somente a mulher poderia ser vítima do crime de estupro, pois 
o delito consistia em submeter alguém, mediante violência ou grave ameaça, à 
cópula vagínica. 
 A partir da nova redação do dispositivo, modificado pela Lei nº 12.015/09, 
com a unificação dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, passou a 
ser possível que o homem também seja vítima de estupro. Ainda que a cópula 
vagínica forçada permaneça de difícil concepção, o homem pode ser submetido a 
outros atos sexuais (introdução de objetos, toques íntimos, sexo anal etc.). 
 Portanto, atualmente, pode ser vítima de estupro o homem ou a mulher. 
 
 Conforme entendimento de DELMANTO29 sujeito passivo é: 
“Igualmente o homem ou a mulher, 
pois a lei fala em constranger alguém. 
” 
2.3: Ação penal: 
 Antes da lei nº 12.015/09, o delito de estupro em regra era concebido 
mediante ação penal privada. Com a admissão da Lei citada, algumas modificações 
ocorreram, assim, entre elas, se enfatiza que o art. 225, “caput”, do Código Penal, 
propõe que os crimes contra a liberdade sexual se processam, por meio de ação 
penal pública condicionada à representação, incluindo o crime de estupro. 
 
29 DELMANTO, Celso. Codigo Penal Comentado. 9º Edição. Saraiva - 2016, p. 1122. 
 26 
 Porém, analisando o Código Penal no que diz respeito ao crime de estupro, 
presente no Artigo 213, poderá ser de ação penal pública incondicionada quando a 
vítima for indivíduo menor de 18 (dezoito) anos, de acordo com os termos expostos 
no Artigo 225, parágrafo único, do Código Penal, vejamos: 
“Art. 225. Nos crimes definidos nos 
Capítulos I e II deste Título, procede-se 
mediante ação penal pública condicionada à 
representação. Parágrafo único: Procede-
se, entretanto, mediante ação penal pública 
incondicionada se a vítima é menor de 18 
(dezoito) anos ou pessoa vulnerável. 
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009). “ 
 Desta forma, fica claro que em relação ao delito de estupro em regra 
fundamentado nos preceitos do Código Penal brasileiro será de ação penal pública 
condicionada à representação, portanto, com uma ressalva importante a ser 
observada, quando a vítima for menor de 18 (dezoito) anos ou quando a vítima for 
vulnerável a ação penal será pública incondicionada. 
 
2.3.1: Alteração da Prescrição: 
 
A Lei n° 12.650/2012 introduziu o Inciso V no artigo 111 do Código Penal, 
passando a ter uma nova regra especifica para o termo inicial da prescrição: 
 
“Art. 111 - A prescrição, antes de transitar 
em julgado a sentença final, começa a 
correr: (...) V - nos crimes contra a dignidade 
sexual de crianças e adolescentes, previstos 
neste Código ou em legislação especial, da 
data em que a vítima completar 18 (dezoito) 
anos, salvo se a esse tempo já houver sido 
proposta a ação penal.” 
 27 
 
Contudo, determina o Inciso V que nos crimes contra a dignidade sexual de 
crianças e adolescentes, o prazo prescricional começa a correr somente “da data em 
que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a 
ação penal. 
 
Conforme entendimento de DAMASIO30: 
 
“Criou-se mais uma exceção ao princípio 
secular de que a prescrição começa a correr 
no dia do momento consumativo do crime 
(da conduta ou do resultado). 
Compreende-se a preocupação do legislador 
com a prática de crimes contra a dignidade 
sexual de crianças e adolescentes, cuja 
punição severa foi determinada pela 
Constituição Federal.” 
 
Ainda seguindo os ensinamentos de DAMÁSIO31, cita-se um exemplo claro: 
 
“Suponha-se que o autor pratique ato de 
libidinagem, hoje estupro de vulnerável, com 
uma menina de 8 anos de idade, sujeitando-
se à pena máxima de 15 anos de reclusão 
(art. 217-A, caput, do CP), com prescrição 
em 20 anos (art. 109, I, do CP). De acordo 
com a lei nova, tendo silenciado a vítima, os 
20 anos somente começarão a ser contados 
quando ela completar 18 anos de idade. 
Quer dizer: quanto menos idade tiver a 
ofendida ao tempo do crime, maior será o 
 
30 DAMASIO, Evangelista De Jesus. Direito Penal: Novo termo de Inic ial do Prazo Prescric ional Penal . 
2012. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/novo-termo-inicial-do-prazo-prescricional-
penal/8849>. Acesso em 19/10/2017 
31 DAMASIO, Evangelista De Jesus. Op. Cit . 2012 
 28 
prazo para início da persecução penal. No 
caso, a notitia criminis poderá ser levada ao 
conhecimento da autoridade pública até a 
ofendida completar 38 anos de idade, 30 
anos depois da prática do ato libidinoso. E, 
tratando-se de crime de ação penal pública 
incondicionada, a autoridade deverá agir. 
Respeitando opiniões contrárias, 
entendemos que a ação penal se considera 
proposta no dia em que é oferecida a 
denúncia pelo Ministério Público. O Promotor 
de Justiça “propõe” a ação penal com o 
oferecimento da denúncia (Min. Celso de 
Mello, RTJ 107/911). Se o texto cuidasse de 
“recebimento”, seria mais inútil ainda, pois 
estaria interrompida a prescrição pelo 
mesmo prazo (art. 117, I).”” 
 
 
Ou seja, na hipótese narrada, o crime de estupro de vulnerável (que 
prescreve em 20 anos, nos termos do art. 109, I, do CP), somente irá prescrever 20 
anos após a vítima ter completado 18 anos. 
 
2.4: causas de aumento de pena: 
 
 Sobre as causas de aumento de pena, FAYET32 aduz: 
 
 “Aumenta-se da quarta parte, 
quando o crime for cometido com o 
concurso de duas ou mais pessoas; e 
de metade, se o agente é 
ascendente, padrasto ou madrasta, 
 
32 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 
 29 
tio, irmão, cônjuge, companheiro, 
tutor, curador, preceptor ou 
empregador da vítima ou por 
qualquer outro título, decorrentes 
conferida nos incisos I e II do 
artigo 226 do CP.” 
 
 De acordo com os incisos III e IV do Artigo 234 – A, que fora inserido pela 
Lei de nº 12.015/2009: 
 
“[...] a pena é aumentada: III - de metade, se do 
crime de estupro resultar gravidez; e IV - de um 
sexto até a metade, se o agente transmite à vítima 
doença sexualmente transmissível de que sabe ou 
deveria saber serportador”. 
 
Entretanto, vale ressaltar a questão das qualificadoras, onde para, FAYET33 
o novo delito de estupro está sujeito as formas qualificadoras, onde somadas as 
penalidades estabelecidas no tipo penal, ocasionam em circunstâncias e resultam 
novas penalidades sendo de penas mínimas ou máximas. Entretanto, segundo o 
mesmo são três tipos circunstâncias que qualificam o crime de estupro, onde todas 
elas estão inseridas no artigo 213, § 1º e § 2º do Código Penal. Vejamos: 
 
“Art. 213. [...] § 1º - Se da conduta resulta lesão 
corporal de natureza grave ou se a vítima é menor 
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º 
- Se da conduta resulta morte: 
Pena- reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. “ 
 
33 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 
 30 
 Assim, FAYET34 elucida que duas dessas importantes circunstâncias, estão 
fundamentadas no: 
“[...] § 1º: a idade da vítima e lesão corporal 
resultante da conduta, e no, § 2º, o resultado 
morte decorrente da conduta”. 
Portanto, no que se refere à lesão corporal grave e a morte resultante da 
conduta, FAYET35 entende que: 
“A norma estabelece como circunstância 
qualificadora a lesão corporal grave decorre da 
conduta, no § 1º, e, da mesma forma, o resultado 
morte, quando decorrente da ação do agente, no § 
2º. Tais figuras estão em parágrafos separados, 
pois qualifica de forma diferente o delito. A 
primeira aumenta as penas mínimas e máximas 
para 08 (oito) a 12 (doze) anos, ao passo que a 
segunda aumenta os patamares para 12 (doze) a 
30 (trinta) anos. ” 
Em relação, à idade da vítima, uma das circunstancia qualificadoras, de 
acordo com FAYET36 o § 1º do Código Penal elucida: 
 
 “Se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 
14 (catorze) anos” a pena passa a ser de 
“reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos”. 
 
Segundo GONÇALVES37 houve o reconhecimento do estupro qualificado 
pela idade da vítima com advento da Lei nº 12.015/2009, vejamos: 
 
34 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 
35 FAYET. Fabio Agne. Op. Cit. 2011, p. 82 
36 FAYET. Fabio Agne. Op. Cit. 2011, p. 82 
 31 
 
“O reconhecimento da qualificadora 
pressupõe que tenha havido emprego de 
violência ou grave ameaça contra a vítima 
em tal faixa etária. Se a vítima for menor de 
quatorze anos, configura-se crime de 
estupro de vulnerável (art. 217-A) 
independentemente do emprego de 
violência ou grave ameaça. Se o crime for 
cometido no dia do aniversário de quatorze 
anos aplica-se a qualificadora, já que o 
estupro de vulnerável exige que a vítima 
tenha menos de quatorze anos. O fato de a 
figura qualificada do § 1º mencionar vítima 
maior de quatorze anos não pode gerar 
interpretação de que o crime é simples em 
tal data.” 
 Desse modo, ao que se refere ao crime de estupro o mesmo já foi 
ponderado neste tópico, agora será abordado sobre uma qualidade de estupro 
diferenciada, sendo o estupro marital. 
 
 
 
 
 
 
37 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Dos crimes contra a dignidade sexual aos crimes contra a administração: 16 ed. São 
Paulo – (coleção sinopses jurídicas; V. 10) Saraiva 2012. 24 
 32 
PPAARRTTEE IIII:: OO CCAASSAAMMEENNTTOO EE AA VVIIOOLLÊÊNNCCIIAA 
CCOONNJJUUGGAALL 
Capitulo 1 – Finalidade do casamento e os deveres dos cônjuges: 
 
1.1: Conceito de casamento: 
 O casamento é a união do homem e da mulher, implicando igualdade de vida 
e comunhão de direitos divinos e humanos. 
 Nos dizeres de SILVIO RODRIGUES38, vale ressaltar o conceito de 
casamento: 
“Um contrato de direito de família que tem 
por finalidade promover a união do homem e 
da mulher de conformidade com a lei, a fim 
de seguirem suas relações sexuais, 
cuidarem da prole comum e se prestarem 
mutua assistência. “ 
1.2: Finalidade do casamento: 
MARIA HELENA DINIZ39 dispõem de sete itens os fins do matrimonio: 
a) Legitimidade da família; b) A procriação dos filhos; c) A legalização das 
relações sexuais; d) A prestação do auxílio mútuo; e) O estabelecimento 
de deveres; f) A educação da prole; g) A atribuição do nome à esposa e 
aos filhos. 
 
38 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil.: Direito de família, v.6 21º edição são Paulo: saraiva. 1995. Pag. 17 
39 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. V 5. São Paulo: saraiva. 1999. Pag. 34-36 
 33 
Com base no Artigo 231, do Código Civil Brasileiro de 1916, os deveres dos 
cônjuges são: 
a) fidelidade reciproca; 
b) vida em comum no domicilio 
conjugal; 
c) a mutua assistência e o sustento; 
d) guarda e educação dos filhos; 
e) respeito e consideração mútuos. 
Já o Artigo 1573 do novo diploma legal, caracteriza-se como impossibilidade 
de comunhão de vida a ocorrência de: 
a) adultério; 
b) tentativa de morte; 
c) sevícia ou injúria grave; 
d) abandono do lar conjugal durante um ano 
contínuo. 
1.3: Relações sexuais e o casamento: 
 Segundo PONTES DE MIRANDA40: 
 “O matrimonio regula as relações sexuais, e a sua 
finalidade é assegurar a procriação. Importante 
destacar que as relações sexuais não são 
essenciais.” 
 
 
40 MIRANDA, Pontes de Miranda. Tratado de Direito Privado. 60v. tomo VIII. Campinas. Bookseller. 2000. Pag. 65 
 
 34 
 Para a Professora MARIA HELENA DINIZ41: 
 “O matrimônio não é apenas a formalização 
ou legalização da união sexual, mas a 
conjunção de matéria e espírito de dois 
seres de sexos diferentes para atingirem a 
plenitude do desenvolvimento de sua 
personalidade, através do companheirismo e 
o amor. ” 
 Contudo, há diversos fatores que devem ser analisados no matrimonio. A 
relação sexual, não deve ser fator vital no casamento, neste sentido, o Código Civil 
dispõe entre os deveres dos cônjuges, o respeito e a consideração mútua. 
1.3.1: Violência sexual confundida com obrigação conjugal: 
 A violência sexual é um tipo de violência que envolve relações sexuais não 
consentidas, podendo ser praticas por conhecido, familiar ou por um estranho. 
Conforme pesquisas atuais, o número de casos de violência sexual, só aumenta, 
principalmente entre mulheres. 
 O mais assustador, é que uma parcela significante dessa violência, ocorre 
pelo próprio cônjuge. 
 Cabe salientar, que ao longo da história, este crime vem sendo praticado por 
força dos deveres conjugais, ou seja, as mulheres eram forçadas a ter relações 
sexuais com seus maridos contra a sua própria vontade, não sendo respeitado além 
de sua liberdade sexual, o seu direito de escolha. 
 Conforme histórico já contado em tópicos acima42, no sistema patriarcal era 
possível encontrar uma sociedade machista, na qual mulheres eram consideradas 
 
41 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. V 5. São Paulo: saraiva. 1999. Pag. 34-36 
 35 
como propriedade e objeto de seus maridos, ficando assim, sujeiras a seus 
caprichos e violências, principalmente na esfera sexual, e tinham um papel restrito 
de procriar e obedecer. Nesta época, a mulher se submetia a diversas situações 
como essas, mesmo contra sua própria vontade, pois dependiam financeiramente de 
seus maridos, alémde temer a sociedade, a perda de seus filhos e por medo do seu 
cônjuge. 
 O estupro marital, é a violência sexual contra a mulher em uma relação 
conjugal, no matrimonio, em que ela na qualidade de esposa é forçada pelo cônjuge 
a manter relação sexual sem a sua vontade. É uma modalidade dentre várias do 
estupro, difere-se, pois, o cônjuge passa a ser o sujeito ativo do crime e a mulher 
sujeito passivo obrigatoriamente. 
Segundo NORONHA43: 
“É um direito seu que não desaparece, 
mesmo quando se dá a uma vida licenciosa, 
pois, nesse caso, ainda que mercadejando 
com o corpo, ela conserva a faculdade de 
aceitar ou recusar o homem que a solicita. ” 
 A maioria das mulheres não denunciam o estupro marital, pois entendem que 
sexo no casamento é uma obrigação, temendo, contudo, consequências piores, não 
usando assim, de sua liberdade sexual e seu direito de escolha. Esta situação 
caracteriza o chamado Débito Conjugal, que se caracteriza em uma relação sexual 
em que o marido tem o direito de exigir “a prestação” do dever sexual e a mulher a 
“obrigação” de cumprir e vice-versa. 
 
 
42 Tópico: 1.2 – breve apanhamento sobre o histórico de estupro – pág. 03-08 
43 NORONHA, E. Magalhães de. Direito Penal. v. 3. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995. Pag. 102 
 
 36 
Segundo a desembargadora MARIA BERENICE DIAS44: 
“Ainda que forçoso seja reconhecer como indevida 
a intromissão na intimidade da vida do par, pela via 
legislativa - como ao impor, por exemplo, o dever 
de fidelidade e de vida em comum - não há como 
afirmar que tenha o Estado imposto a obrigação de 
manter relações sexuais. Na expressão vida em 
comum, constante do inc. II do art. 231 do Código 
Civil, não se pode ver a imposição do debito 
conjugal, infeliz locução que não pode ser 
identificada como a previsão do dever de sujeitar-
se a contatos sexuais. O débito conjugal é uma 
terminologia advinda do Código Canônico, e foi 
criado de certo modo para que se evitasse o 
adultério, como forma de a mulher cessar com o 
seu desejo sexual apenas com o marido. ” 
1.4: Sevicia: 
Segundo os ensinamentos do professor SILVIO RODRIGUES45 a sevicia é: 
“O fato de um cônjuge forçar o outro a um 
comportamento não querido, através da força 
material.” 
As sevicias são maus tratos físicos infligidos por um cônjuge ao outro. Sua 
valoração deve ser feita em função do meio social do casal, do seu grau de 
educação, dos costumes predominantes na faixa em que vive. 
 
44Dias, Maria Berenice. “Casamento ou terrorismo Sexual”. In: www.mariaberenicedias.com.br. Acesso em: 11/09/2017 
45Rodrigues, silvio. Direito Civil: Direito de família. v. 6. 21 ed. são Paulo: saraiva. 1995. Pág. 102 
 37 
PPAARRTTEE IIIIII:: DDOO EESSTTUUPPRROO MMAARRIITTAALL 
 Conforme já visto anteriormente, o crime de estupro está presente no art. 213 
do Código Penal, com pena de reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos para o agente 
que constranger alguém a conjunção carnal ou praticar ou permitir que pratique 
outro ato libidinoso, mediante violência ou grave ameaça. 
Um dos elementos mais importantes que integram a caracterização do crime 
é o constrangimento decorrente da violência física ou da grave ameaça que é 
dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino. 
 Com a tipificação da conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça 
como estupro, está se buscando proteger a liberdade sexual, que é um direito 
inviolável, ou seja, o objetivo é tutelar o direito de dispor de seu corpo da maneira 
que achar melhor e não somente a sua integridade física. Com base nisso, podemos 
dizer que o referido diploma legal chama de estupro a relação sexual à qual a 
mulher tenha sido violentamente forçada a praticar, inclusive no casamento, 
tratando-se de um crime hediondo, por força da Lei nº 8.072/90, de natureza 
gravíssima. 
Dentro deste contexto pode-se determinar que configura no polo passivo do 
delito a mulher, não importando seu estado civil (solteira, casada ou viúva) e nem a 
idade. 
Uma questão bastante discutida diz a respeito de o marido praticar o crime de 
estupro contra sua esposa, o que gera uma polêmica doutrinária. Seria, esse crime, 
o chamado Estupro Marital, que é a violência sexual empregada contra a mulher na 
constância da união conjugal, mediante violência, seja ela física ou moral, praticada 
pelo seu cônjuge. 
 38 
Sendo assim, de acordo com TEIXEIRA46 o crime de estupro marital: 
“o estupro marital é compreendido como uma 
modalidade do crime previsto no 
artigo 213 do Código Penal. Ocorre diferenciação 
apenas quanto ao sujeito ativo do crime, que neste 
caso, será o próprio marido que prática violência 
sexual em relação à sua esposa ou companheira. 
“ 
 Ainda a respeito do estupro marital, CAPEZ47 explica que: 
 “Marido que, mediante o emprego de violência ou 
grave ameaça, constrange à mulher a pratica de 
relações sexuais comete crime de estupro”. 
Já, DELMANTO48 por sua vez, entende que: 
“Embora a relação sexual voluntária seja lícita ao 
cônjuge, o constrangimento ilegal empregado para 
realizar a conjunção carnal à força não constitui 
exercício regular de direito, mas, sim, abuso de 
poder, porquanto a lei civil não autoriza o uso de 
violência física ou coação moral nas relações 
sexuais entre os cônjuges. “ 
Essa discussão se iniciou há muitos anos, sob a ideia de que a relação sexual 
é obrigação do matrimônio, não se levando em conta, então, o bem jurídico tutelado 
pela norma. Atualmente, embora que, com o casamento surja para os cônjuges o 
 
46 TEIXEIRA, Ivânia dos Santos. (Im) possibilidade jurídica de configuração do crime de estupro na relação conjugal. 2015. 
Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,im-possibilidade-juridica-de-configuracao-do-crime-de-estupro-na-
relacao-conjugal,53329.html> Acesso em 28/08/2017. 
47 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Brasileiro. Brasília: Editora Inesc, 2008. pag. 420 
48 DELMANTO, Celso. Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pag.413 
 39 
direito de manterem relações sexuais um com o outro, verifica-se que esse direito 
não pode ser exercido mediante o constrangimento com o emprego de violência ou 
grave ameaça, sendo esse o entendimento da doutrina e jurisprudência. 
Sendo assim, segundo TEIXEIRA49 explana sobre este tema da seguinte 
forma: 
“O casamento é uma espécie de contrato civil 
realizado entre pessoas, e após este, os cônjuges 
passam a serem sujeitos de direitos e deveres o 
artigo 1.566 do Código Civil Brasileiro estabelece 
alguns deveres atribuídos aos cônjuges aos 
contraído o casamento: São deveres de ambos os 
cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em 
comum, no domicílio conjugal; III – mútua 
assistência; IV – sustento, guarda e educação dos 
filhos; V – respeito e consideração mútuos. O não 
cumprimento de qualquer um desses deveres 
pode conduzir à separação do casal, 
independentemente da vontade do outro cônjuge.” 
 
Entretanto, mesmo com esse entendimento, inexiste tipificação específica 
para o estupro marital, fazendo, portando, o uso da hermenêutica jurídica, podendo 
se encaixa-lo na tipificação de crime comum, por apresentar os elementos 
necessários para alcançar a relação sexual. 
Importante e necessário destacar que não há nenhum dispositivo legal que 
obrigue a mulher casada a ceder aos anseios sexuais do marido sem a sua vontade. 
 Há na doutrina criminal, muitasdiscussões a respeito da possibilidade ou não 
de o marido ser condenado pela prática de estupro contra a sua mulher. A 
jurisprudência evidencia já vários casos, em sua maioria, favoráveis à possibilidade 
 
49 TEIXEIRA, Ivânia dos Santos. (Im) possibilidade jurídica de configuração do crime de estupro na relação conjugal. 2015. 
Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,im-possibilidade-juridica-de-configuracao-do-crime-de-estupro-na-
relacao-conjugal,53329.html> Acesso em 28/08/2017. 
 40 
de cominação de culpa do consorte. Nesse sentido, transcreve-se a seguinte 
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), que aduz, sobre 
o feito: 
EMENTA: APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA 
OS COSTUMES. RÉU DENUNCIADO POR 
ESTUPRO. ATOS QUE SE ENQUADRARIAM NO 
DELITO DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. 
MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO. Constou da 
denúncia que o acusado, mediante o uso de 
violência e graves ameaças, constrangeu a vítima, 
sua esposa, à conjunção carnal contra a vontade 
dessa, causando-lhe lesões corporais. Número: 
70021263470 Inteiro Teor: doc html. Tipo de 
Processo: (Apelação Crime. Relator: Naele Ochoa 
Piazzeta. Tribunal: Tribunal de Justiça do RS. 
Órgão Julgador: Sétima Câmara Criminal. Comarca 
de Origem: Comarca de Santa Maria. Seção: 
CRIME. Decisão: Acórdão. Data de Julgamento: 
03/04/2008. Publicação: Diário da Justiça do dia 
26/05/2008). 
Contudo, no art. 213 do Código Penal, menciona a palavra “alguém” na sua 
redação, logo, entende-se que ao tipificar o crime de estupro não excluiu o marido 
do polo ativo, podendo então, o agente ser qualquer pessoa, inclusive, o marido. 
Importante destacar, que havendo constrangimento mediante violência, física 
ou moral, ou grave ameaça, ter-se-á configurado o crime de estupro, e o agente 
causador deverá ser punido, pois não é pelo simples fato de serem casados que o 
marido será isento de responsabilidade. A exclusão dessa possibilidade surge 
somente por parte da doutrina que entende não poder o marido ser o agente do 
estupro contra a mulher, pois o sexo é um dos deveres do casamento. 
 41 
Desta forma, vale mencionar a questão sobre a união estável, presente no 
art. 1.723, do Código Civil, onde a mesma é reconhecida do mesmo modo que o 
casamento como uma entidade familiar pelo nosso ordenamento jurídico brasileiro. 
De acordo com BARBOSA E TESSMANN50 : 
“Do mesmo modo que o marido pode ser configurado 
como estuprador de sua esposa na constância da união, 
entende que o companheiro poderá se enquadrar em tal 
modalidade delituosa. Haja vista que a união estável, 
atualmente reconhecida pelo Código Civil de 2002 como 
entidades familiar, vislumbra então ser possível a 
configuração do marido e do companheiro como sujeito 
ativo do crime de estupro, denominado de estupro 
marital.” 
Porém, é notório que se esse crime em questão for empreendido pelo 
marido ou companheiro contra sua esposa mediante violência ou grave ameaça, 
forçando a mesma a praticar conjunção carnal sem o seu consentimento, sofrerá 
penalidades cabíveis. 
1.1: Divergência Doutrinária acerca do estupro marital: 
 Existem duas correntes doutrinarias que dizem a respeito do marido cometer 
ou não o chamado estupro marital. 
 A primeira corrente, uma concepção altamente machista, que tem por sua 
base doutrinadores mais antigos, como por exemplo, Nelson Hungria e Magalhães 
Noronha, que entendem que o marido não pode ser acusado do estupro de sua 
própria esposa, uma vez que o sexo é uma das obrigações do casamento, presente 
 
50 BARBOSA, Celísia; TESSMANN, Dakiri Fernandes. Violência Sexual nas Relações Conjugais e a Possibilidade de 
Configurar-se Crime de Estupro Marital. 2014. Disponível em: <http://judicare.com.br/index.php/judicare/article/view/65/191> 
Acesso 12/09/2017. 
 42 
no Código Civil, o que significa dizer que os cônjuges, por razão do casamento, 
devem manter relações sexuais; assim, se houver uma recusa injustificada da 
mulher, o marido poderá forçá-la ao ato sexual sem que responda pelo crime de 
estupro, estando acobertado pela excludente de ilicitude do exercício regular de 
direito. 
 Vale ressaltar, que essa primeira corrente vem perdendo espaço devido as 
mudanças ocorridas na sociedade e as mudanças constitucionais. Essa posição 
entende que o sexo é visto como um débito conjugal e não como um consenso 
bilateral para os cônjuges ao satisfazerem sua vontade, o que não condiz com a 
realidade atual, pois desta maneira, volta no tempo, passando a viver de acordo com 
o sistema patriarcal. 
NORONHA51 entende que as relações sexuais são um dever do casamento, 
não podendo ser recusado por motivos fúteis ou por falta de vontade. Ele só aceita 
para fins penais se pautada numa justificativa de relevante valor, no caso, se o 
marido exceder em seus atos ou na presença de contaminação de doença, vejamos: 
“As relações conjugais são pertinentes à 
vida conjugal, constituindo direito e dever 
recíproco dos que casaram. O marido tem 
direito à posse sexual da mulher, ao qual ela 
não se pode opor. Casando-se, dormindo 
sob o mesmo teto, aceitando a vida comum, 
a mulher não se pode furtar ao congresso 
sexual, cujo fim mais nobre é o da 
perpetuação da espécie. A violência por 
parte do marido não constituirá, em princípio, 
crime de estupro, desde que a razão da 
esposa para não ceder à união sexual seja 
mero capricho ou fútil motivo, podendo, 
todavia, ele responder pelo excesso 
 43 
cometido. [...] mulher que se opõe às 
relações sexuais com o marido atacado de 
moléstia venérea, se for obrigada por meio 
de violências ou ameaças, será vítima de 
estupro. Sua resistência legítima torna a 
cópula ilícita. ” 
 Todavia, HUNGRIA52 justifica-se da seguinte forma: 
“O estupro pressupõe cópula ilícita (fora do casamento), a 
cópula intra matrimônio é recíproco dever dos cônjuges” 
“[...] O marido violentador, salvo excesso inescusável, 
ficará isento até mesmo da pena correspondente à 
violência física em si mesma (excluído o crime de 
exercício arbitrário das próprias razões, porque a 
prestação corpórea não é exigível judicialmente), pois é 
lícita a violência necessária para o exercício regular de 
um direito (art. 19, n.º III). É bem de ver que solução 
diversa tem de ser dada no caso em que a mulher se 
recuse à cópula por achar-se o marido afetado de 
moléstia venérea. [...]” 
 
Entretanto, MASSON53 destaca o pensamento de um dos defensores dessa 
corrente, que defendia que tais violências sexuais eram apenas abusos 
considerados pervertidos, mas jamais atos criminosos. Sendo assim, de acordo 
com CHRYSOLITO GUSMÃO: 
“A mulher casada não pode ser sujeito 
passivo do crime de estupro. A conjunção 
 
51 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. 26ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2002..v.3. Pag.70 
52 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: 1959, p. 125. 
53 Chrysolito Gusmão 1981, apud MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, vol. 3: parte especial, arts. 213 a 359-H – 4. 
Ed. Rev. E atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: M ÉTODO, 2014. p. 95. 
 44 
carnal é um dos deveres que, juridicamente, 
assistem à esposa. (…) O marido que 
prefere a violência a outros meios para 
obter a satisfação deste e de outros 
deveres, falta aos mais comezinhos 
princípios de cavalheirismo, constata e 
revela um temperamento animal não 
refreado pela educação, pelo sentimento epela moral, mas o ato, na hipótese, é da 
esfera moral e não do Direito Penal e 
fazemos a restrição porque tal fato, pelas 
circunstâncias que possa assumir, pela sua 
reiteração, brutalidade estulta e 
injustificável, poderá, quiçá, bem é dever, 
assumir aspectos atinentes do Direito Civil. 
“ 
A segunda corrente doutrinaria é, de fato, mais moderna, sendo composta 
por alguns doutrinadores como Damásio E. de Jesus, Celso Delmanto e Julio 
Fabrini Mirabete, os quais entendem que sempre haverá estupro se houver 
constrangimento, pois a lei não autoriza o emprego de violência ou grave ameaça 
para se fazer valer o direito de coabitação. 
Ainda, entende-se, que o desrespeito a esse dever poderia gerar, na esfera 
civil, o divórcio, e por haver o emprego de violência ou grave ameaça por parte do 
marido para que se consume a conjunção carnal, não se pode falar em exercício 
regular do direito, e sim abuso de direito, portanto há crime. 
 45 
Sendo assim, de acordo com os dizeres de CELSO DELAMANTO54 onde o 
mesmo descreve que o marido pode ser considerado agente do crime de estupro 
contra sua esposa: 
“Todavia, entendemos que o marido pode 
ser autor de estupro contra a própria 
esposa. O crime de estupro nada mais é do 
que o delito de constrangimento ilegal (CP, 
art. 146), mas visando à conjunção carnal, 
sendo que esta, por si mesma, não é crime 
autônomo. 
Assim, embora a relação sexual voluntária 
seja lícita ao cônjuge, o constrangimento 
ilegal empregado para realizar a conjunção 
carnal à força não constitui exercício regular 
de direito (CP, art. 23, III, 2aparte), mas, 
sim, abuso de direito, porquanto a lei civil 
não autoriza o uso de violência física ou 
coação moral nas relações sexuais entre os 
cônjuges. (CELSO DELMANTO, "Exercício 
e abuso de direito no crime de estupro", in 
RT 536/257, RDP 28/106 e RDAB 13/105; 
com posição semelhante, a doutrina mais 
recente, tanto nacional — João MESTIERI, 
Do Delito de Estupro, 1982, p. 57; NILO 
BATISTA, Decisões Criminais Comentadas, 
1976, p. 68; DAMÁSIO DE JESUS, Direito 
Penal — Parte Especial, 1996, v. III, p. 90” 
 
 
54 DELMANTO, Celso. Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pag. 503. 
 46 
MIRABETE55 complementa esse posicionamento afirmando que: 
“Embora a relação carnal voluntária seja lícita ao 
cônjuge, é ilícita e criminosa a coação para a 
prática do ato por ser incompatível com a dignidade 
da mulher e a respeitabilidade do lar. A evolução 
dos costumes, que determinou a igualdade de 
direitos entre o homem e a mulher, justifica essa 
posição. Como remédio ao cônjuge rejeitado 
injustificadamente caberá apenas a separação 
judicial. “ 
Nesse sentido, NUCCI56 afirma que: 
"Tal situação não cria o direito de estuprar a 
esposa, mas sim o de exigir, se for o caso, o 
término da sociedade conjugal na esfera civil, por 
infração a um dos deveres do casamento". 
GRECO57 esclarece da seguinte forma: 
“Modernamente, perdeu o sentido tal discussão, 
pois, embora alguns possam querer alegar o seu 
“credito conjugal‟, o marido somente poderá 
relacionar-se sexualmente com sua esposa com o 
consentimento dela”. 
 Com o mesmo entendimento, esclarece SILVIO VENOSA58 que: 
 
55 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 2: Parte Especial, Arts 121 a 
234-B do CP – 27 ed. rev. – São Paulo: Atlas 2010. Pag. 1245-1246 
56 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 655 
57 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. Vol. I. Niterói: Impetus, 12ª. ed., 2010, pag. 466 
58 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil, vol. 6, 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 149. 
 47 
“Na convivência sob o mesmo teto está a 
compreensão do débito conjugal, a satisfação 
recíproca das necessidades sexuais. Embora não 
constitua elemento fundamental do casamento, sua 
ausência, não tolerada ou não aceita pelo outro 
cônjuge, é motivo de separação. O princípio não é 
absoluto, e sua falta não implica necessariamente o 
desfazimento da affectio maritalis. Afora, porém, as 
hipóteses de recusa legítima ou justa, o dever de 
coabitação é indeclinável. Nesse sentido, é 
absolutamente ineficaz qualquer pacto entre os 
cônjuges a fim de dispensar o débito conjugal ou a 
coabitação. Não pode, porém, o cônjuge obrigar o 
outro a cumprir o dever, sob pena de violação da 
liberdade individual. 
Veementemente nos tribunais vem se admitindo a 
configuração do marido como sujeito ativo do crime 
de estupro, denominado estupro marital, praticado 
contra sua esposa. “ 
Há autores que externam que não mais deve existir a expressão débito 
conjugal. É o caso de DIAS59: 
“Não se consegue detectar a origem do quem vem 
sendo alardeado, até por charges via Internet: que 
existe no casamento o "débito conjugal", que um 
cônjuge deve ceder à vontade do outro e atender 
ao seu desejo sexual. Tal obrigação não está na 
lei. A previsão de "vida em comum" entre os 
 
59 DIAS, Maria Berenice. Falando em estupro. Disponível em: <http://www.mariaberenicedias.com.br> Acesso em: 29 de 
Setembro de 2017 
 
 48 
deveres do casamento (Código Civil de 1916, art. 
230, II e Novo Código Civil, art. 1.566, II) não 
significa imposição de "vida sexual ativa" nem 
impõe a obrigação de manter "relacionamento 
sexual". Essa interpretação infringe até o princípio 
constitucional do respeito da dignidade da pessoa, 
além de violar a liberdade e o direito à privacidade, 
afrontando a inviolabilidade ao próprio corpo. Não 
existe sequer a obrigação de se submeter a um 
beijo, afago ou carícia, quanto mais de se sujeitar a 
práticas sexuais pelo simples fato de estar casado 
(grifos nossos). Conclui-se, que acima de tudo, 
devem ser considerados os princípios 
constitucionais de respeito e consideração mútuos, 
além dos da dignidade da pessoa humana e da 
intimidade. ” 
FERRAS60 em ímpar comentário, explicita que: 
O estupro da mulher casada, praticado pelo 
marido, não se confunde com a exigência do 
cumprimento do débito conjugal; este é previsto 
inclusive no rol dos deveres matrimoniais, se 
encontra inserido no conteúdo da coabitação, e 
significa a possibilidade do casal que se encontra 
sob o mesmo teto praticar relações sexuais, porém 
não autoriza o marido ao uso da força para obter 
relações sexuais com sua esposa. (...) A violência 
sexual na vida conjugal resulta na violação da 
integridade física e psíquica e ao direito ao próprio 
corpo. A possibilidade de reparação constitui para o 
 
60 FERRAZ, Carolina Valença. A responsabilidade civil por dano moral e patrimonial na separação judicial. São Paulo: PUC, 
2001. p.194-195. 
 
 49 
cônjuge virago uma compensação pelo sofrimento 
que lhe foi causado.” 
Assim, se verifica que a maioria dos doutrinadores é do entendimento da 
existência do estupro marital, ou seja, do estupro praticado pelo marido contra sua 
esposa e o uso da violência não pode ser levado em conta, uma vez que há 
constrangimento ilegal. Tendo em vista a equiparação entre homem e mulher, o 
marido não pode obrigar sua esposa a realizar seus desejos sexuais contra sua 
vontade, podendo somente relacionar-se sexualmente com sua esposa com o 
consentimento dela. 
 Vislumbra-se, então, ao cônjuge insatisfeito, caso a esposa não cumpra com 
suas obrigações conjugais, tal fato poderá dar ensejo, por exemplo, à separação do 
casal, cabendo

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