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1 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO O presente Trabalho de Conclusão de Curso, sob o tema “ESTUPRO MARITAL: DORMINDO COM O INIMIGO” possui como objetivo principal abordar o assunto referente ao crime de estupro, presente no Artigo 213 do Código Penal, perpetrado na constância de um matrimônio. O chamado estupro marital, onde o marido empreende violência sexual contra a sua própria esposa, fazendo-se assim, que a mesma se torne a vítima do crime de estupro e com isso violando a liberdade sexual do ser humano. Nesse contexto, verifica-se que o direito da mulher (ora, esposa) é infringindo, ainda que garantido constitucionalmente. Mesmo com as inúmeras transformações sociais já vivenciadas ao longo de toda a história da humanidade, o crime de estupro ainda continua fixado no seio da sociedade moderna, não fazendo distinção de cor, raça, idade, religião e nem de classes sociais. O atual trabalho possui o objetivo de elucidar que o cônjuge pode ser classificado dentro do Direito Penal como sujeito ativo desse crime hediondo, quando para satisfazer seus desejos carnais obriga ou coage a sua esposa a copular contra a sua vontade, onde para realizar uma abordagem mais esclarecedora de modo a contribuir para o meio social, bem como à comunidade acadêmica, utilizar-se-á argumentos respaldados pelo Direito Penal Brasileiro, divergências doutrinárias e jurisprudenciais. É importante salientar que o crime de estupro marital é empreendido mediante constrangimento ou grave ameaça, sendo que o cônjuge submete sua esposa contra a sua vontade a copular, com intuito apenas de satisfazer o seu desejo, aproveitando o matrimônio para justificar o ato cometido. Nesse sentido, em relação à liberdade e dignidade que é um direito garantido por lei a todo ser humano. A mulher não poderá ser obrigada a fazer ou deixar de fazer qualquer ato que esteja contra sua vontade. Entretanto, se por 2 algum pretexto esse crime vier a ocorrer o cônjuge poderá ser considerado sujeito ativo do delito de estupro na constância da relação conjugal, de acordo com o Código Penal Brasileiro. Portanto, na maioria das vezes que tal crime é cometido, o medo, insegurança e a ausência de informações de que o homem casado pode ser sujeito ativo do crime de estupro tendo como vítima sua esposa, faz com que inúmeras mulheres permaneçam inertes e submetidas à violência sexual constantes. 3 PPAARRTTEE II:: DDOO CCRRIIMMEE DDEE EESSTTUUPPRROO Capitulo 1 – Sobre o Estupro 1.1: Conceito de Estupro: Conforme aduz o Código Penal, em seu Artigo 213, o estupro consiste em: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Conforme os ensinamentos do professor MIRABETE1, se diz respeito a um tipo de constrangimento ilegal imposto a alguém, homem ou mulher, visando à satisfação de um desejo sexual (libido). É crime definido como hediondo em quaisquer de suas formas. 1.2: Breve apanhamento sobre o Histórico de Estupro: Após inúmeras leituras em livros aqui mencionados, ficou explicito que o crime de estupro institui um delito grave e considerado absurdo desde os tempos mais antigos, mesmo com as diferenças de cultura, origem, religião, costumes e etnia de cada povo, vem sendo repudiado e reprimido por todas as civilizações. Dos crimes contra a dignidade sexual, presentes no art. 213 ao 234 no código penal, o estupro é a infração de natureza mais grave. E na criminalidade comum, o estupro se coloca como uma das condutas penais onde se pode ver a maior periculosidade do agente, nesse sentido, salienta NORONHA2: 1 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: atlas. 1991. Pag. 417. 2 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. v.3. 26.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Pág. 72. 4 “Que o indivíduo que acomete uma mulher para manter relações carnais, violando, assim, o seu direito de escolha, postergando a liberdade que ela tem de dispor do corpo, demonstra instintos brutais dignos de severa repressão. ” Por ser um crime de delito grave, tipificado pelas relações carnais empregado de violência física ou moral, o estupro está previsto em todos os ordenamentos jurídicos, por exemplo: se encontra no Código Penal Espanhol, presente nos Artigos 178 e 179, no capitulo I dos “DELITOS CONTRA LA LIBERTAD E INDEMNIDAD SEXUALES”: “Artículo 178: El que atentare contra la libertad sexual de otra persona, con violencia o intimidación, será castigado como responsable de agresión sexual con la pena de prisión de uno a cinco años. Artículo 179: Cuando la agresión sexual consista en acceso carnal por vía vaginal, anal o bucal, o introducción de miembros corporales u objetos por alguna de las dos primeras vías, el responsable será castigado como reo de violación con la pena de prisión de seis a 12 años. ” Porém, mesmo tão presente desde as épocas antigas e em diversos ordenamentos jurídicos, quando aprofundamos no estudo da evolução, seja ela jurídica, seja ela cultural, é possível perceber um processo de lentidão e inúmeras justificações ao crime de estupro, como veremos a seguir: Na legislação Hebraica: aplicava-se a pena de morte ao homem que violasse a mulher desposada, isto é, prometida em casamento. 5 Se a vítima fosse mulher virgem, não desposada, deveria o autor indenizar ao pai da vítima, como também deveria casar-se com sua filha. Tais regulamentos encontram-se também expressos na Bíblia Sagrada, no Livro de Deuteronômio 23 a 28, que diz o seguinte: “23: Se houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade e se deitar com ela, 24: Então trareis ambos à porta daquela cidade e os apedrejareis até que morram; a moça, porque não gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a mulher do seu próximo; assim, eliminarás o mal do meio de ti. 25: Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela; 26: a moça não farás nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim também é este caso. 27: Pois a achou no campo; a moça desposada gritou, e não houve quem a livrasse. 28: Então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta ciclo de prata; e uma vez que a humilhou, lhe será por mulher, não poderá mandá-la embora durante sua vida. “ Já, na sociedade Egípcia, a quem cometesse estupro, a pena era de mutilação. Na Grécia, primeiramente fora imposta a simples pena de multa e posteriormente a pena de morte veio a ser imputada, excluindo a multa da pena. Como enfatizam HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO3: 3 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pág. 103 6 “Entre os egípcios, infligia-se ao violentador a pena de mutilação. Na antiga Grécia, a princípio, a pena era de simples multa; mas, posteriormente, para conjurar os abusos, foi cominada a pena de morte, que veio a tornar-se invariável, abolindo-se a alternativa (anteriormente consentida) entre ela e o casamento sem dote.” No Direito Romano, não era aplicada a denominação estupro. A violência carnal era punida com a pena de mortepela lex julia de vi pública. Considerava-se crimen vis, por que se tinha mais em vista a violência empregada do que o fim do agente, portanto, de acordo com os autores HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO 4: “[...] tendo-se mais em vista o emprego da força do que a finalidade do agente, a posse sexual violenta (equiparada ao rapto violento) constituía modalidade do crimen vis, incidindo sob a Lex Julia de vi pública. [...] e a pena era a de morte”. Segundo a linha de pensamento do doutrinador NORONHA5, no direito germânico, o delito era severamente punido. No canônico, além de ser exigido o emprego de violência para consumar o ato, era necessário que a ofendida fosse virgem para ocorrer o estupro, em mulher que não era virgem não podia ocorrer esse crime. Pelas leis espanholas a punição era a morte do réu a do Fiiero Viejo castigava com a pena capital o crime, ou com a deckiraciov de enemisiad, que outorgava aos parentes da vítima o direito de dar morte ao ofensor; as do Fuero real e das Partidas também cominavam em pena máxima, conforme NORONHA6. 4 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pág. 103 5 NORONHA, E. Magalhaes. Direito penal, v. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. Pag. 66-67 6 NORONHA, E. Magalhaes. Op. Cit. 2002. Pag. 66-67 7 Ainda conforme NORONHA7, nas leis inglesas, o crime de estupro era punido com a morte, ao passar do tempo, a pena de morte fora substituída pela castração e pelo vazamento dos olhos. Deste modo, ficou evidente o repudio que os povos antigos lidavam com o estupro, reprimindo o mesmo com uma imensa rigidez, conforme aduz BITENCOURT8 em relação aos povos romanos, realizando a distinção entre adultério e estupro, vejamos: “Os povos antigos já puniam com grande severidade os crimes sexuais, principalmente os violentos, dentre os quais se destacava o de estupro. Após a Lex Julia de adultério (18 d. C.), no antigo direito romano, procurou-se distinguir adultério de stuprum, significando o primeiro a união sexual com mulher casada, e o segundo, a união sexual ilícita com viúva. Em sentido estrito, no entanto, considerava-se estupro todo ato sexual ilícito com mulher não casada. Contudo, a conjunção carnal violenta, que ora se denomina estupro, os romanos incluíam no conceito amplo do crimen vis, com a pena de morte. “ Na Idade Média, chamada de “idade das trevas”, pois foi uma época impregnada pelo domínio da Igreja e os pensamentos contrários a elas estipulados eram punidos severamente, logo, é notório que essa fase foi caracterizada e marcada pela grande influência de preceitos religiosos. Contudo, na vigência do sistema feudal, que levou a criação de feudos, fazia com que cada um desses feudos tivesse seu próprio regimento, criado pelo senhor Feudal. Assim, nessa 7 NORONHA, E. Magalhaes. Direito penal, v. 3. São Paulo: Saraiva. 2002. Pag. 66-67 8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. Pag. 2326 8 fase da história, eram punidos os delitos sexuais contra criança e no que se referiam as mulheres, em virtude de inúmeros motivos, como por exemplo, a violência que sofriam, fisicamente e mentalmente, elas acabavam guardando em segredo o estupro, até por que a virgindade significava inocência, algo puro, uma santidade e para não sofrer repudio, se mantinham caladas. No século XVII, através da inserção das máquinas, ocorreu as inovações para a humanidade, trazendo consigo além de atualidades, como também um crime de estupro mais aprofundado em seu meio social, no que se refere as mulheres, devido a questão de inúmeros assédios e estupros de operárias, que ocorriam muitas vezes pelos seus empregadores e contramestres, segundo os dizeres de SILVA9. Com a chegada do século XX, ainda de acordo com SILVA10, o mesmo foi marcado por grandes guerras e com elas, o crime de estupro permaneceu a época, sendo cometidos pelas tropas que participavam desse conflito. Na segunda guerra, tal delito continuou a existir, sendo cometido por soldados e pelos aliados. É notório, que em nosso país o crime de estupro foi enfatizado no período Colonial e regido pelas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e as Filipinas. Entretanto, a nossa Legislação Pátria trilhou um longo caminho em busca da melhor forma de proteger aqueles que necessitam. Entretanto, mesmo com as evoluções vivenciadas pela humanidade, desde os antigos até os tempos atuais, mesmo com a igualdade entre homens e mulheres, o que foi um importante marco para as mulheres, ainda existem mulheres sendo vítimas de violências sexuais diariamente. SILVA11 descreve que: “[...] no século XXI muitas atrocidades continuaram sendo praticadas, e mulheres 9 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Possibilidade Jurídica do Estupro na Relação Conjugal. 2011. pag. 12 f/Monografia (Bacharel em Direito) – Universidade do Vale do Rio Doce. Disponível em: <http://srvwebbib.univale.br/pergamum/tcc/Possibilidadejuridicadoestupronarelacaoconjugal.pdf> Acesso em 08/09/2017 10 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Op. Cit. 2011. Pag. 13 11 SILVA. Suellen Aparecida de Lima. Op. Cit. 2011. Pag. 13 9 continuaram a serem violentadas, até mesmo por seus maridos.” 1.3: Evolução de estupro na legislação Penal: Por ser o estupro um delito de extrema relevância, altamente repudiado e considerado um delito grave no Brasil, com o intuito de prover de meios para punir e prevenir o mesmo, a legislação pátria percorreu um longo caminho para conquistar essa evolução que temos nos dias atuais. 1.3.1: Ordenações Filipinas: Presente no Livro V, da antiga legislação penal do Brasil, as Ordenações Filipinas, nas quais pregavam que no crime de conjunção carnal adquirida mediante força, o criminoso seria sentenciado com a morte, mesmo se o autor do crime viesse a se casar com a vítima. Sobre o assunto FAYET12, descreve: “Nas Ordenações Filipinas, no Título XVIII, p. 1168 – Do que dorme per força com qualquer mulher, ou trava dela, ou a leva per sua vontade. Todo homem, de qualquer estado e condição que seja que forçosamente dormir com qualquer mulher, será punido com a pena de morte. “ Nos dizeres de HUNGRIA, LACERDA E FRAGOSO13, enfatizam que as Ordenações Filipinas é a nossa legislação prima, onde a pena no crime de estupro era a morte: 12 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. Pag. 25 13 HUNGRIA, Nélson; LACERDA, Romão Côrtes de e FRAGOSO, Heleno Cláudio. Comentários ao Código Penal. Decreto-Lei n. 2.848 de 7 de setembro de 1940. 5º Ed. Rio de Janeiro, forense, 1981. Pag. 103 10 “Ordenações Filipinas, nossa primitiva legislação penal: pena de morte contra “o homem, de qualquer estado e condição que seja forçosamente dormir com qualquer mulher”, não se eximirá do casamento com a vítima”. 1.3.2: Código Criminal do Império 1830: Foi divulgado o primeiro Código Criminal no Império do Brasil, em 1830, a caracterização do crime de estupro, presente na Secção I, “Estupro” do capítulo II, “dos crimes contra a segurança da honra”, nos art. 219 a 225, nesses abordava-se todas as relações carnais ilícitas. “Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de dezessete anos. Penas - de desterro para fora da comarca, em que residir a deflorada, por um a três anos, e de dotar a esta.Seguindo-se o casamento, não terão lugar as penas. Art. 220. Se o que cometer o estupro, tiver em seu poder ou guarda a deflorada. Penas - de desterro para fora da província, em que residir a deflorada, por dois a seis anos, e de dotar esta. Art. 221. Se o estupro for cometido por parente da deflorada em grão, que não admita dispensa para casamento. Penas - de degredo por dois a seis anos para a província mais remota da em que residir a deflorada, e de dotar a esta. Art. 222. Ter copula carnal por meio de violência, ou ameaças, com qualquer mulher honesta. Penas - de prisão por três a doze anos, e 11 de dotar a ofendida. Se a violentada for prostituta. Penas - de prisão por um mês a dois anos. Art. 223. Quando houver simples ofensa pessoal para fim libidinoso, causando dor, ou algum mal corpóreo a alguma mulher, sem que se verifique a copula carnal. Penas - de prisão por um a seis meses, e de multa correspondente á metade do tempo, além das em que incorrer o réu pela ofensa. Art. 224. Seduzir mulher honesta, menor dezessete anos, e ter com ela copulam carnais. Penas: de desterro para fora da comarca, em que residir a seduzida, por um a três anos, e de dotar a esta. Art. 225. Não haverá as penas dos três artigos antecedentes os réus, que casarem com as ofendidas. “ 1.3.3: Código Criminal da República 1890: A denominação estupro foi acolhida pelo Código Criminal da Republica, que fora decretado em 11 de Outubro de 1890. Neste Código, era passível de se enxergar os crimes de atentado violento ao pudor, como um meio de satisfazer as paixões lascivas e o estupro, abrangido como um anseio de copula vagínica, ambos expressos no Título VIII, “Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje público ao pudor”, Capitulo I, “Da violência Carnal”, encontrados nos Artigos 266 a 269 do Decreto nº 847/1890: “Art. 266. Atentar contra o pudor de pessoa de um, ou de outro sexo, por meio de violência ou ameaças, com o fim de saciar paixões lascivas ou depravação moral: Pena: de prisão celular por um a seis anos. Parágrafo único. Na mesma pena 12 incorrerá aquele que corromper pessoa de menor idade, praticando com ela ou contra ela atos de libidinagem. Art. 267. Deflorar mulher de menor idade, empregando sedução, engano ou fraude: Pena: de prisão celular por um a quatro anos. Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: Pena de prisão celular por um a seis anos. § 1º. Si a estuprada for mulher pública ou prostituta: Pena: de prisão celular por seis meses a dois anos. § 2º. Si o crime for praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será aumentada da quarta parte. Art. 269. Chama-se estupro o ato pelo qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não. Por violência entende- se não só o emprego da força física, como o de meios que privarem a mulher de suas faculdades físicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se, hipnotismo, o clorofórmio, o ether, e em geral os anestésicos e narcóticos. “ 1.3.4: Código Penal Brasileiro de 1940: O Código Republicano ou contemporâneo entra em vigor em 1940, em vigor do Decreto-lei nº 2848, mostrando, nesse contexto histórico, um dos maiores avanços por destacar dois crimes sexuais: o crime de estupro, sendo empreendido com o emprego de violência ou grave ameaça, no qual o dolo deduz na pretensão livre de constranger a vítima a conjunção carnal. E o atentado violento ao pudor, sendo que a intenção do agente é a pratica de ato libidinoso. 13 FAYET14 explica o seu entendimento ao que venha ser o ato libidinoso: “Qualquer ato que extravase o apetite desenfreado de luxúria do agente, excetuada a relação vagínica. Poderá tratar-se do coito anal ou do oral, masturbação, da apalpação de órgãos genitais, da cópula entre os seios ou axilas etc.” Os crimes acima mencionados estavam presentes nos art. 213 e 214 do Decreto-lei nº 2.848: “Art. 213. Constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de três a oito anos. Art. 214. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de dois a sete ano. “ Possível perceber a divergência de penas entre o crime de estupro e o atentado violento ao puder, diferença essa que perdurou até a chegada da Lei Dos Crimes Hediondos, Lei nº 8.072/1990, como veremos a seguir. 1.3.5: Crimes Hediondos: Como comentamos anteriormente, a diferença de penas do crime de estupro e o do atentado violento ao pudor durou até a chegada dessa Lei nº 8.072/1990, onde, através dela, passou a se considerar como crime hediondo ambos os crimes, impondo-se a combinação dos mesmos com o artigo 223 “caput” e parágrafo único do Código Penal. 14 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. p. 36 14 Aos artigos que tratavam dos crimes mencionados, (art. 213 e 214, do Código Penal), foram impostos por uma nova escrita imposta pela lei de crime Hediondos, sendo posteriormente confirmada pela Lei nº 8.930/94, conferindo-lhe uma nova redação ao artigo I: “Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. Art. 214. Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. “ É, então, possível perceber que com a criação da Lei de Crimes Hediondos, os crimes de estupro e atentado violento ao pudor foram elevados ao nível mais alto de delitos que causam repulsa na sociedade contemporânea. Conforme entendimento de DAYANE SILVA15 e com a possível visualização dos progressos da humanidade no andar do tempo, o século XXI, se torna o principal século para a proteção da mulher. Ocorre, que mesmo com as diversas leis que ampara os mais fracos, nota-se que ainda existem mulheres vivendo de forma “contemporânea”, sendo violentadas, espancadas e sofrendo diversos tipos de agressões, se perfazendo assim, o surgimento da Lei nº 11.340/2006. 15 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017. 15 1.3.6: Lei Maria da Penha: Entrou em vigor a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, no dia 22 de Setembro de 2006, para atender milhares de mulheres que sofrem algum tipo de violência. A Lei Maria da Penha foi fundamentada em cima do Artigo 226, § 8º, da Constituição Federal de 1988, onde enfatiza o § 8º do referido artigo que: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.” O Estado, portanto, deverá assegurar à assistência a família na pessoa de cada um que a integram, logo, criando-se mecanismos para coibir à violência no âmbito de suas relações. Portanto, marcou uma imensa conquista jurídica, principalmente as mulheres. Portanto, segundoDAYANE SILVA16 elucida a origem da Lei nº 11.340/2006, vejamos: “A lei nº. 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, foi resultado de tratados internacionais, firmados pelo Brasil, com o propósito de não apenas proteger à mulher, vítima de violência doméstica e familiar, mas também prevenir contra futuras agressões e punir os devidos agressores. 16 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017. 16 Foram duas as convenções firmadas pelo Brasil: Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW), conhecida como a Lei internacional dos Direitos da mulher e a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, conhecida como “Convenção de Belém do Pará”. É possível perceber o objetivo da Lei Maria da Penha foi de conceder proteção/resguarda para aquelas que necessitam, que sofrem violência doméstica. CARVALHO, FERREIRA E SANTOS17, enfatizam que, a Lei Maria da Penha destaca em seu bojo, definições de alguns tipos de violência doméstica, e familiar praticado contra a mulher, sendo as mesmas, violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, vejamos: “Violência física: qualquer ato que agride a integridade física da mulher, como socos, tapas, pontapés, empurrões, entre outros, e também a utilização de armas brancas ou de fogo. Violência psicológica: qualquer ato que cause dano emocional, que diminua a auto-estima, limite a liberdade e não deixa marcas visíveis prejudicando a saúde psicológica. Violência sexual: qualquer ato que obrigue a mulher a participar, presenciar ou manter relações sexuais não desejadas. Violência patrimonial: qualquer ato que cause dano, retenção ou destruição dos 17 CARVALHO, Carina Suelen; FERREIRA, Débora Nayara; SANTOS, Karla Rodrigues. Analisando a Lei Maria da Penha: a violência sexual contra a mulher cometida por seu companheiro. 2010. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/6. MoaraCia.pdf>. Acesso em 12/09/2017. 17 objetos e documentos pessoais. Violência moral: qualquer ato que ofenda, insulte ou que acuse falsamente sua integridade moral.” Sendo assim, vale ressaltar que a maior ênfase será concedida ao tema da violência sexual, ou seja, uma forma de violência doméstica. Entretanto, de acordo com DAYANE SILVA18, o artigo 7º, inciso III, Lei nº 11.340/2006, esclarece a questão da violência sexual: “Art. 7º - São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação, ou uso da força; que a induza a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que force ao matrimônio, a gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; “ Neste contexto, se percebe que a violência sexual na maioria das vezes acontece no silêncio dos lares. É evidente que existe o intuito da Lei Maria da Penha direcionado em proteger as vítimas do crime de estupro, onde as leis seguem o progresso da sociedade que procuram elementos de precaver e conter qualquer tipo de violência ou delito. Sendo assim, com o objetivo de consagrar a luta para proteger os mais indefesos surge também a Lei nº 12.015/2009. 18 1.3.7: Lei n. 12.015/2009: A Lei nº 12.015/09, que fora introduzida em 07 de Agosto de 2009, trouxe importantíssimas modificações ao Código Penal, alterou o Título VI para “Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual”, que anteriormente era chamado de “Dos Crimes Contra os Costumes”, expressão atual que está mais conforme com a Constituição Federal, buscando garantir, acima de tudo, a dignidade da pessoa humana, unificando então, os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, dessa forma, revogando o Artigo 214 do Código Penal. Conforme afirma ANDRE ESTEFAM19: “A expressão escolhida, em nosso sentir, foi oportuna e se encontra em sintonia com o Texto Maior. Deveras, o Direito Penal não se volta à proteção de regras puramente morais ou éticas, mas notadamente à defesa de bens jurídicos (concepção dominante).” Com as afirmações de André Estefam, pode-se notar que o interesse principal era que o intérprete conseguisse identificar o bem juridicamente protegido, não tendo que se utilizar de uma interpretação que acabasse por desvirtuá-lo do que estabelece a Constituição Federal, pois a exegese de acordo com a Lei Maior é uma exigência da nova hermenêutica. Sendo assim, o novo título foca-se na dignidade da pessoa humana, no sentido da liberdade sexual. É possível perceber que há considerável tempo os doutrinadores já afirmavam pela necessidade desta alteração no direito positivo brasileiro. Conforme se depreende das lições de ROGERIO GRECO20, anteriormente à reforma: 18 SILVA, Dayane de Oliveira Ramos. Aplicabilidade da Lei Maria da Penha: Um olhar na vertente do gênero feminino. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 84, jan 2011. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8892>. Acesso em 21/09/2017 19 ESTEFAM, André. Crimes Sexuais. Editora: Saraiva, São Paulo, 2009. Pág. 19 19 “Hoje em dia, tal designação – crimes contra os costumes – vem recebendo críticas por parte de nossos doutrinadores, haja vista que analisando-se as infrações penais constantes do título VI do Código Penal, verifica-se, com clareza, que o que se pretende proteger não são os costumes, [...]. Na verdade, a liberdade ao próprio corpo está intimamente vinculada à dignidade da pessoa humana.”. A cerca da unificação dos crimes, NUCCI21 descreve que o legislador: “[...] foi além, unificando os crimes similares estupro e atentado violento ao pudor sob uma única denominação e com descrição da conduta típica em único artigo. Denomina-se estupro toda forma de violência sexual para qualquer fim libidinoso, incluindo, por óbvio, a conjunção carnal. “ Capez, aduz que antes da Lei nº 12.015/09, o artigo 213 abordava apenas como conjunção carnal a cópula vagínica e os outros atos lascivos encontravam-se no artigo 214. Vale ressaltar os dizeres de CAPEZ22, referente a tal questão, vejamos: “Conjunção carnal: é a cópula vagínica, ou seja, a penetração efetivada membro viril na vagina. A antiga redação do art. 213 do CP somente abarcava esse ato sexual, sendo as demais práticas lascivas abrangidas pelo art. 214 do CP, atualmente revogado pela Lei n. 12.015, de sete 20 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal volume III.Editora: Impetus, Rio de Janeiro, 2010. Pág. 273 21 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. Pag. 15 22 CAPEZ, Fernando Capez. Curso de direito penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade sexual a dos crimes contra a administração pública (arts. 213 a 359 H) – 10. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012. Pag. 126 20 de agosto de 2009. Ato libidinoso: compreende outras formas de realização do ato sexual, que não a conjunção carnal. São os coitos anormais (por exemplo, a cópula oral e anal), os quais constituíam o crime autônomo de atentado violento ao pudor (CP, antigo art. 214). Pode-se afirmar que ato libidinoso é aquele destinado a satisfazer a lascívia, o apetite. “ Merece destaque que a antiga legislação conferia particularmente proteção jurídica à liberdade sexual da mulher. No entanto, com as alterações introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, apoiadas no princípio da isonomia consagrado na Constituição Federal de 1988, abriu-se espaço para proteção de qualquer indivíduo seja homem ou mulher, solidificando assim, a liberdade de escolha sexual. Segundo MASSON23 em relação à questão da liberdade de escolha sexual enfatiza que: “[...] liberdade sexual é o direito de dispor do próprio corpo. Cada pessoa tem o direito de escolher seu parceiro sexual, e com ele praticar o ato desejado no momento que reputar adequado.” Neste prisma vale ressaltar os dizeres BITENCOURT24: “ [...] homem e mulher têm o direito de negarem- se a submeter-se à prática de atos lascivos ou voluptuosos, sexuais ou eróticos, que não queiram 23 MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, vol. 3: parte especial, arts. 213 a 359-H – 4. Ed. rev.e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: M ÉTODO, 2014. Pag. 82 24 BITENCOURT, Cezar Roberto Código penal comentado — 7. ed. — São Paul o: Saraiva, 2012. Pag. 2328 21 realizar, opondo-se a qualquer possível constrangimento contra quem quer que seja, inclusive contra o próprio cônjuge, namorado (a) ou companheiro (a) (união estável); no exercício dessa liberdade podem, inclusive, escolher o momento, a parceria, o lugar, ou seja, onde, quando, como e com quem lhes interesse compartilhar seus desejos e necessidades sexuais. Em síntese, protege-se, acima de tudo, a dignidade sexual individual, de homem e mulher, indistintamente, consubstanciada na liberdade sexual e direito de escolha. ” Nesse sentido, com a nova redação inserida pela Lei nº 12.015/09, o Artigo 213 do Código Penal, conceitua o crime de estupro como ato de: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. Deste modo, para o doutrinador CAPEZ25 o crime de estupro: “Passou a abranger a prática de qualquer ato libidinoso, conjunção carnal ou não, ampliando a sua tutela legal para abarcar não só a liberdade sexual da mulher, mas também a do homem”. Com isso, percebe-se que se vivencia um ciclo de constantes transformações, muitas delas benéficas e eficazes, porém tais mudanças sofridas alteraram as concepções e deixaram os seus reflexos no contexto do Direito. 25 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial, Vol. III. 8ª. Ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2010.Pag. 34 22 Assim, evidencia-se importante a mudança decorrente da Lei nº 12.015 de 2009, haja vista que se ampliou e ajustou o objeto de tutela ao real fim do Direito Penal, protegendo desse modo explicitamente a dignidade sexual e não meros costumes, conforme se depreendia da antiga redação. No entanto, apesar de todas as transformações já vivenciadas e com a ampliação do espaço adquirido pela mulher na sociedade e direitos consolidados constitucionalmente, com a igualdade de gênero, ainda é possível averiguar alguns resquícios da ideologia patriarcal, sistema esse já vivenciado no País, no qual as mulheres eram criadas e educadas desde crianças com desígnio de se dedicarem unicamente aos seus futuros maridos, a cuidarem do lar, possuindo como sua principal incumbência a procriação e a instrução dos filhos, ou seja, estavam em um ângulo de submissão total aos desejos do varão. Tal prerrogativa pode ser verificada nos dizeres de GARCIA26: “Historicamente, a mulher ficou subordinada ao poder masculino, tendo basicamente a função de procriação, de manutenção do lar e de educação dos filhos, numa época em que o valor era a força física. Com o passar do tempo, porém, foram sendo criados e produzidos instrumentos que dispensaram a necessidade da força física, mas ainda assim a mulher içou numa posição de inferioridade, sempre destinada a ser um apêndice do homem, jamais seu semelhante. “ 26 GARCIA. Gilberto. O casamento e o novo Código Civil II. São Paulo. Capitulo 2 – Sobre o Crime de Estupro 2.1: Marido como Sujeito Ativo no crime de Estupro: De suma importância destacar que em momento algum alguém poderá ser submetido a ter relação sexual contra a sua vontade. Ainda que casada, a pessoa não poderá ser obrigada a ter relações sexuais com seu cônjuge. Portanto, o marido que obriga a esposa, mediante violência ou grave ameaça, a fazer sexo, pratica o crime de estupro. Nas relações sexuais, o consentimento dos envolvidos deve ser tido como condição absoluta, não existindo qualquer possibilidade de que o ato ocorra, licitamente, sem a sua existência. No que se refere à violência sexual acometida, na esfera matrimonial, vale ressaltar um fator importante, que merece ser elucidado, sendo o mesmo, o sujeito ativo delituoso. Todavia, para o doutrinador FERNANDO CAPEZ27 o marido que empreende violência ou grave ameaça, obrigando sua própria esposa a manter relação sexual contra sua vontade comete crime de estupro. Portanto, para o mesmo, com intuito de restringir esta violência doméstica surgiu a Lei nº. 11.340/2006, trazendo em seu bojo estruturas especiais com objetivo de proteger todas as mulheres que estejam passando por esse tipo de circunstância tão específica, vejamos: “Marido com o autor. A questão da violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n. 11.340, de sete de agosto de 2006): marido que, mediante o emprego de violência ou grave ameaça, constrange a mulher à prática de relações sexuais comete crime de estupro. A mulher tem direito à inviolabilidade de seu corpo, 27 CAPEZ, Fernando Capez. Curso de direito penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade sexual a dos crimes contra a administração pública (arts. 213 a 359 H) – 10. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012., pag. 297 24 de forma que jamais poderão ser empregados meios ilícitos, como a violência ou grave ameaça, para constrangê-la à prática de qualquer ato sexual. Isso veio a ser reforçado com a edição da Lei n. 11.340/2006, que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher; dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher; estabeleceu medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. “ Entretanto, TESSMANN E BARBOSA28 entendem que tal delito advém da mesma forma que aconteceno crime de estupro comum, a diferença incide na questão do sujeito ativo, neste caso configurasse como sendo o próprio marido, onde por meios de abusos físicos ou psicológicos, empreende sua esposa a realizar conjunção carnal malquista, com intuito apenas de chegar ao seu contentamento pessoal. Portanto, inúmeras dessas vítimas, apesar de sofrerem constantemente com essa violência, não chegam a delatarem os seus agressores, muitas vezes por medo das implicações ou talvez por crerem que a conjunção carnal é uma obrigação do matrimônio e por acreditarem nesse fato permanecem inerentes em silêncio. Conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná, a respeito do marido como sujeito ativo: “O marido pode ser sujeito ativo do crime de estupro contra a mulher, pois o débito conjugal não autoriza a posse sexual 28 BARBOSA, Celísia; TESSMANN, Dakiri Fernandes. Violência Sexual nas Relações Conjugais e a Possibilidade de Configurar-se Crime de Estupro Marital. 2014. Disponível em: <http://judicare.com.br/index.php/judicare/article/view/65/191> Acesso em 12/09/2017 25 mediante violência (TJPR, PJ 48/267).” 2.2: Sujeito Passivo: Importante ressaltar que na antiga redação do artigo 213, antes da alteração pela Lei nº 12.015/09, somente a mulher poderia ser vítima do crime de estupro, pois o delito consistia em submeter alguém, mediante violência ou grave ameaça, à cópula vagínica. A partir da nova redação do dispositivo, modificado pela Lei nº 12.015/09, com a unificação dos crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, passou a ser possível que o homem também seja vítima de estupro. Ainda que a cópula vagínica forçada permaneça de difícil concepção, o homem pode ser submetido a outros atos sexuais (introdução de objetos, toques íntimos, sexo anal etc.). Portanto, atualmente, pode ser vítima de estupro o homem ou a mulher. Conforme entendimento de DELMANTO29 sujeito passivo é: “Igualmente o homem ou a mulher, pois a lei fala em constranger alguém. ” 2.3: Ação penal: Antes da lei nº 12.015/09, o delito de estupro em regra era concebido mediante ação penal privada. Com a admissão da Lei citada, algumas modificações ocorreram, assim, entre elas, se enfatiza que o art. 225, “caput”, do Código Penal, propõe que os crimes contra a liberdade sexual se processam, por meio de ação penal pública condicionada à representação, incluindo o crime de estupro. 29 DELMANTO, Celso. Codigo Penal Comentado. 9º Edição. Saraiva - 2016, p. 1122. 26 Porém, analisando o Código Penal no que diz respeito ao crime de estupro, presente no Artigo 213, poderá ser de ação penal pública incondicionada quando a vítima for indivíduo menor de 18 (dezoito) anos, de acordo com os termos expostos no Artigo 225, parágrafo único, do Código Penal, vejamos: “Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Parágrafo único: Procede- se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009). “ Desta forma, fica claro que em relação ao delito de estupro em regra fundamentado nos preceitos do Código Penal brasileiro será de ação penal pública condicionada à representação, portanto, com uma ressalva importante a ser observada, quando a vítima for menor de 18 (dezoito) anos ou quando a vítima for vulnerável a ação penal será pública incondicionada. 2.3.1: Alteração da Prescrição: A Lei n° 12.650/2012 introduziu o Inciso V no artigo 111 do Código Penal, passando a ter uma nova regra especifica para o termo inicial da prescrição: “Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (...) V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.” 27 Contudo, determina o Inciso V que nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, o prazo prescricional começa a correr somente “da data em que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. Conforme entendimento de DAMASIO30: “Criou-se mais uma exceção ao princípio secular de que a prescrição começa a correr no dia do momento consumativo do crime (da conduta ou do resultado). Compreende-se a preocupação do legislador com a prática de crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, cuja punição severa foi determinada pela Constituição Federal.” Ainda seguindo os ensinamentos de DAMÁSIO31, cita-se um exemplo claro: “Suponha-se que o autor pratique ato de libidinagem, hoje estupro de vulnerável, com uma menina de 8 anos de idade, sujeitando- se à pena máxima de 15 anos de reclusão (art. 217-A, caput, do CP), com prescrição em 20 anos (art. 109, I, do CP). De acordo com a lei nova, tendo silenciado a vítima, os 20 anos somente começarão a ser contados quando ela completar 18 anos de idade. Quer dizer: quanto menos idade tiver a ofendida ao tempo do crime, maior será o 30 DAMASIO, Evangelista De Jesus. Direito Penal: Novo termo de Inic ial do Prazo Prescric ional Penal . 2012. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/novo-termo-inicial-do-prazo-prescricional- penal/8849>. Acesso em 19/10/2017 31 DAMASIO, Evangelista De Jesus. Op. Cit . 2012 28 prazo para início da persecução penal. No caso, a notitia criminis poderá ser levada ao conhecimento da autoridade pública até a ofendida completar 38 anos de idade, 30 anos depois da prática do ato libidinoso. E, tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade deverá agir. Respeitando opiniões contrárias, entendemos que a ação penal se considera proposta no dia em que é oferecida a denúncia pelo Ministério Público. O Promotor de Justiça “propõe” a ação penal com o oferecimento da denúncia (Min. Celso de Mello, RTJ 107/911). Se o texto cuidasse de “recebimento”, seria mais inútil ainda, pois estaria interrompida a prescrição pelo mesmo prazo (art. 117, I).”” Ou seja, na hipótese narrada, o crime de estupro de vulnerável (que prescreve em 20 anos, nos termos do art. 109, I, do CP), somente irá prescrever 20 anos após a vítima ter completado 18 anos. 2.4: causas de aumento de pena: Sobre as causas de aumento de pena, FAYET32 aduz: “Aumenta-se da quarta parte, quando o crime for cometido com o concurso de duas ou mais pessoas; e de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, 32 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 29 tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título, decorrentes conferida nos incisos I e II do artigo 226 do CP.” De acordo com os incisos III e IV do Artigo 234 – A, que fora inserido pela Lei de nº 12.015/2009: “[...] a pena é aumentada: III - de metade, se do crime de estupro resultar gravidez; e IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber serportador”. Entretanto, vale ressaltar a questão das qualificadoras, onde para, FAYET33 o novo delito de estupro está sujeito as formas qualificadoras, onde somadas as penalidades estabelecidas no tipo penal, ocasionam em circunstâncias e resultam novas penalidades sendo de penas mínimas ou máximas. Entretanto, segundo o mesmo são três tipos circunstâncias que qualificam o crime de estupro, onde todas elas estão inseridas no artigo 213, § 1º e § 2º do Código Penal. Vejamos: “Art. 213. [...] § 1º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º - Se da conduta resulta morte: Pena- reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. “ 33 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 30 Assim, FAYET34 elucida que duas dessas importantes circunstâncias, estão fundamentadas no: “[...] § 1º: a idade da vítima e lesão corporal resultante da conduta, e no, § 2º, o resultado morte decorrente da conduta”. Portanto, no que se refere à lesão corporal grave e a morte resultante da conduta, FAYET35 entende que: “A norma estabelece como circunstância qualificadora a lesão corporal grave decorre da conduta, no § 1º, e, da mesma forma, o resultado morte, quando decorrente da ação do agente, no § 2º. Tais figuras estão em parágrafos separados, pois qualifica de forma diferente o delito. A primeira aumenta as penas mínimas e máximas para 08 (oito) a 12 (doze) anos, ao passo que a segunda aumenta os patamares para 12 (doze) a 30 (trinta) anos. ” Em relação, à idade da vítima, uma das circunstancia qualificadoras, de acordo com FAYET36 o § 1º do Código Penal elucida: “Se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos” a pena passa a ser de “reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos”. Segundo GONÇALVES37 houve o reconhecimento do estupro qualificado pela idade da vítima com advento da Lei nº 12.015/2009, vejamos: 34 FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, pag. 81 35 FAYET. Fabio Agne. Op. Cit. 2011, p. 82 36 FAYET. Fabio Agne. Op. Cit. 2011, p. 82 31 “O reconhecimento da qualificadora pressupõe que tenha havido emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima em tal faixa etária. Se a vítima for menor de quatorze anos, configura-se crime de estupro de vulnerável (art. 217-A) independentemente do emprego de violência ou grave ameaça. Se o crime for cometido no dia do aniversário de quatorze anos aplica-se a qualificadora, já que o estupro de vulnerável exige que a vítima tenha menos de quatorze anos. O fato de a figura qualificada do § 1º mencionar vítima maior de quatorze anos não pode gerar interpretação de que o crime é simples em tal data.” Desse modo, ao que se refere ao crime de estupro o mesmo já foi ponderado neste tópico, agora será abordado sobre uma qualidade de estupro diferenciada, sendo o estupro marital. 37 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Dos crimes contra a dignidade sexual aos crimes contra a administração: 16 ed. São Paulo – (coleção sinopses jurídicas; V. 10) Saraiva 2012. 24 32 PPAARRTTEE IIII:: OO CCAASSAAMMEENNTTOO EE AA VVIIOOLLÊÊNNCCIIAA CCOONNJJUUGGAALL Capitulo 1 – Finalidade do casamento e os deveres dos cônjuges: 1.1: Conceito de casamento: O casamento é a união do homem e da mulher, implicando igualdade de vida e comunhão de direitos divinos e humanos. Nos dizeres de SILVIO RODRIGUES38, vale ressaltar o conceito de casamento: “Um contrato de direito de família que tem por finalidade promover a união do homem e da mulher de conformidade com a lei, a fim de seguirem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mutua assistência. “ 1.2: Finalidade do casamento: MARIA HELENA DINIZ39 dispõem de sete itens os fins do matrimonio: a) Legitimidade da família; b) A procriação dos filhos; c) A legalização das relações sexuais; d) A prestação do auxílio mútuo; e) O estabelecimento de deveres; f) A educação da prole; g) A atribuição do nome à esposa e aos filhos. 38 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil.: Direito de família, v.6 21º edição são Paulo: saraiva. 1995. Pag. 17 39 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. V 5. São Paulo: saraiva. 1999. Pag. 34-36 33 Com base no Artigo 231, do Código Civil Brasileiro de 1916, os deveres dos cônjuges são: a) fidelidade reciproca; b) vida em comum no domicilio conjugal; c) a mutua assistência e o sustento; d) guarda e educação dos filhos; e) respeito e consideração mútuos. Já o Artigo 1573 do novo diploma legal, caracteriza-se como impossibilidade de comunhão de vida a ocorrência de: a) adultério; b) tentativa de morte; c) sevícia ou injúria grave; d) abandono do lar conjugal durante um ano contínuo. 1.3: Relações sexuais e o casamento: Segundo PONTES DE MIRANDA40: “O matrimonio regula as relações sexuais, e a sua finalidade é assegurar a procriação. Importante destacar que as relações sexuais não são essenciais.” 40 MIRANDA, Pontes de Miranda. Tratado de Direito Privado. 60v. tomo VIII. Campinas. Bookseller. 2000. Pag. 65 34 Para a Professora MARIA HELENA DINIZ41: “O matrimônio não é apenas a formalização ou legalização da união sexual, mas a conjunção de matéria e espírito de dois seres de sexos diferentes para atingirem a plenitude do desenvolvimento de sua personalidade, através do companheirismo e o amor. ” Contudo, há diversos fatores que devem ser analisados no matrimonio. A relação sexual, não deve ser fator vital no casamento, neste sentido, o Código Civil dispõe entre os deveres dos cônjuges, o respeito e a consideração mútua. 1.3.1: Violência sexual confundida com obrigação conjugal: A violência sexual é um tipo de violência que envolve relações sexuais não consentidas, podendo ser praticas por conhecido, familiar ou por um estranho. Conforme pesquisas atuais, o número de casos de violência sexual, só aumenta, principalmente entre mulheres. O mais assustador, é que uma parcela significante dessa violência, ocorre pelo próprio cônjuge. Cabe salientar, que ao longo da história, este crime vem sendo praticado por força dos deveres conjugais, ou seja, as mulheres eram forçadas a ter relações sexuais com seus maridos contra a sua própria vontade, não sendo respeitado além de sua liberdade sexual, o seu direito de escolha. Conforme histórico já contado em tópicos acima42, no sistema patriarcal era possível encontrar uma sociedade machista, na qual mulheres eram consideradas 41 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. V 5. São Paulo: saraiva. 1999. Pag. 34-36 35 como propriedade e objeto de seus maridos, ficando assim, sujeiras a seus caprichos e violências, principalmente na esfera sexual, e tinham um papel restrito de procriar e obedecer. Nesta época, a mulher se submetia a diversas situações como essas, mesmo contra sua própria vontade, pois dependiam financeiramente de seus maridos, alémde temer a sociedade, a perda de seus filhos e por medo do seu cônjuge. O estupro marital, é a violência sexual contra a mulher em uma relação conjugal, no matrimonio, em que ela na qualidade de esposa é forçada pelo cônjuge a manter relação sexual sem a sua vontade. É uma modalidade dentre várias do estupro, difere-se, pois, o cônjuge passa a ser o sujeito ativo do crime e a mulher sujeito passivo obrigatoriamente. Segundo NORONHA43: “É um direito seu que não desaparece, mesmo quando se dá a uma vida licenciosa, pois, nesse caso, ainda que mercadejando com o corpo, ela conserva a faculdade de aceitar ou recusar o homem que a solicita. ” A maioria das mulheres não denunciam o estupro marital, pois entendem que sexo no casamento é uma obrigação, temendo, contudo, consequências piores, não usando assim, de sua liberdade sexual e seu direito de escolha. Esta situação caracteriza o chamado Débito Conjugal, que se caracteriza em uma relação sexual em que o marido tem o direito de exigir “a prestação” do dever sexual e a mulher a “obrigação” de cumprir e vice-versa. 42 Tópico: 1.2 – breve apanhamento sobre o histórico de estupro – pág. 03-08 43 NORONHA, E. Magalhães de. Direito Penal. v. 3. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995. Pag. 102 36 Segundo a desembargadora MARIA BERENICE DIAS44: “Ainda que forçoso seja reconhecer como indevida a intromissão na intimidade da vida do par, pela via legislativa - como ao impor, por exemplo, o dever de fidelidade e de vida em comum - não há como afirmar que tenha o Estado imposto a obrigação de manter relações sexuais. Na expressão vida em comum, constante do inc. II do art. 231 do Código Civil, não se pode ver a imposição do debito conjugal, infeliz locução que não pode ser identificada como a previsão do dever de sujeitar- se a contatos sexuais. O débito conjugal é uma terminologia advinda do Código Canônico, e foi criado de certo modo para que se evitasse o adultério, como forma de a mulher cessar com o seu desejo sexual apenas com o marido. ” 1.4: Sevicia: Segundo os ensinamentos do professor SILVIO RODRIGUES45 a sevicia é: “O fato de um cônjuge forçar o outro a um comportamento não querido, através da força material.” As sevicias são maus tratos físicos infligidos por um cônjuge ao outro. Sua valoração deve ser feita em função do meio social do casal, do seu grau de educação, dos costumes predominantes na faixa em que vive. 44Dias, Maria Berenice. “Casamento ou terrorismo Sexual”. In: www.mariaberenicedias.com.br. Acesso em: 11/09/2017 45Rodrigues, silvio. Direito Civil: Direito de família. v. 6. 21 ed. são Paulo: saraiva. 1995. Pág. 102 37 PPAARRTTEE IIIIII:: DDOO EESSTTUUPPRROO MMAARRIITTAALL Conforme já visto anteriormente, o crime de estupro está presente no art. 213 do Código Penal, com pena de reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos para o agente que constranger alguém a conjunção carnal ou praticar ou permitir que pratique outro ato libidinoso, mediante violência ou grave ameaça. Um dos elementos mais importantes que integram a caracterização do crime é o constrangimento decorrente da violência física ou da grave ameaça que é dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino. Com a tipificação da conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça como estupro, está se buscando proteger a liberdade sexual, que é um direito inviolável, ou seja, o objetivo é tutelar o direito de dispor de seu corpo da maneira que achar melhor e não somente a sua integridade física. Com base nisso, podemos dizer que o referido diploma legal chama de estupro a relação sexual à qual a mulher tenha sido violentamente forçada a praticar, inclusive no casamento, tratando-se de um crime hediondo, por força da Lei nº 8.072/90, de natureza gravíssima. Dentro deste contexto pode-se determinar que configura no polo passivo do delito a mulher, não importando seu estado civil (solteira, casada ou viúva) e nem a idade. Uma questão bastante discutida diz a respeito de o marido praticar o crime de estupro contra sua esposa, o que gera uma polêmica doutrinária. Seria, esse crime, o chamado Estupro Marital, que é a violência sexual empregada contra a mulher na constância da união conjugal, mediante violência, seja ela física ou moral, praticada pelo seu cônjuge. 38 Sendo assim, de acordo com TEIXEIRA46 o crime de estupro marital: “o estupro marital é compreendido como uma modalidade do crime previsto no artigo 213 do Código Penal. Ocorre diferenciação apenas quanto ao sujeito ativo do crime, que neste caso, será o próprio marido que prática violência sexual em relação à sua esposa ou companheira. “ Ainda a respeito do estupro marital, CAPEZ47 explica que: “Marido que, mediante o emprego de violência ou grave ameaça, constrange à mulher a pratica de relações sexuais comete crime de estupro”. Já, DELMANTO48 por sua vez, entende que: “Embora a relação sexual voluntária seja lícita ao cônjuge, o constrangimento ilegal empregado para realizar a conjunção carnal à força não constitui exercício regular de direito, mas, sim, abuso de poder, porquanto a lei civil não autoriza o uso de violência física ou coação moral nas relações sexuais entre os cônjuges. “ Essa discussão se iniciou há muitos anos, sob a ideia de que a relação sexual é obrigação do matrimônio, não se levando em conta, então, o bem jurídico tutelado pela norma. Atualmente, embora que, com o casamento surja para os cônjuges o 46 TEIXEIRA, Ivânia dos Santos. (Im) possibilidade jurídica de configuração do crime de estupro na relação conjugal. 2015. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,im-possibilidade-juridica-de-configuracao-do-crime-de-estupro-na- relacao-conjugal,53329.html> Acesso em 28/08/2017. 47 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Brasileiro. Brasília: Editora Inesc, 2008. pag. 420 48 DELMANTO, Celso. Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pag.413 39 direito de manterem relações sexuais um com o outro, verifica-se que esse direito não pode ser exercido mediante o constrangimento com o emprego de violência ou grave ameaça, sendo esse o entendimento da doutrina e jurisprudência. Sendo assim, segundo TEIXEIRA49 explana sobre este tema da seguinte forma: “O casamento é uma espécie de contrato civil realizado entre pessoas, e após este, os cônjuges passam a serem sujeitos de direitos e deveres o artigo 1.566 do Código Civil Brasileiro estabelece alguns deveres atribuídos aos cônjuges aos contraído o casamento: São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V – respeito e consideração mútuos. O não cumprimento de qualquer um desses deveres pode conduzir à separação do casal, independentemente da vontade do outro cônjuge.” Entretanto, mesmo com esse entendimento, inexiste tipificação específica para o estupro marital, fazendo, portando, o uso da hermenêutica jurídica, podendo se encaixa-lo na tipificação de crime comum, por apresentar os elementos necessários para alcançar a relação sexual. Importante e necessário destacar que não há nenhum dispositivo legal que obrigue a mulher casada a ceder aos anseios sexuais do marido sem a sua vontade. Há na doutrina criminal, muitasdiscussões a respeito da possibilidade ou não de o marido ser condenado pela prática de estupro contra a sua mulher. A jurisprudência evidencia já vários casos, em sua maioria, favoráveis à possibilidade 49 TEIXEIRA, Ivânia dos Santos. (Im) possibilidade jurídica de configuração do crime de estupro na relação conjugal. 2015. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,im-possibilidade-juridica-de-configuracao-do-crime-de-estupro-na- relacao-conjugal,53329.html> Acesso em 28/08/2017. 40 de cominação de culpa do consorte. Nesse sentido, transcreve-se a seguinte jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), que aduz, sobre o feito: EMENTA: APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA OS COSTUMES. RÉU DENUNCIADO POR ESTUPRO. ATOS QUE SE ENQUADRARIAM NO DELITO DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO. Constou da denúncia que o acusado, mediante o uso de violência e graves ameaças, constrangeu a vítima, sua esposa, à conjunção carnal contra a vontade dessa, causando-lhe lesões corporais. Número: 70021263470 Inteiro Teor: doc html. Tipo de Processo: (Apelação Crime. Relator: Naele Ochoa Piazzeta. Tribunal: Tribunal de Justiça do RS. Órgão Julgador: Sétima Câmara Criminal. Comarca de Origem: Comarca de Santa Maria. Seção: CRIME. Decisão: Acórdão. Data de Julgamento: 03/04/2008. Publicação: Diário da Justiça do dia 26/05/2008). Contudo, no art. 213 do Código Penal, menciona a palavra “alguém” na sua redação, logo, entende-se que ao tipificar o crime de estupro não excluiu o marido do polo ativo, podendo então, o agente ser qualquer pessoa, inclusive, o marido. Importante destacar, que havendo constrangimento mediante violência, física ou moral, ou grave ameaça, ter-se-á configurado o crime de estupro, e o agente causador deverá ser punido, pois não é pelo simples fato de serem casados que o marido será isento de responsabilidade. A exclusão dessa possibilidade surge somente por parte da doutrina que entende não poder o marido ser o agente do estupro contra a mulher, pois o sexo é um dos deveres do casamento. 41 Desta forma, vale mencionar a questão sobre a união estável, presente no art. 1.723, do Código Civil, onde a mesma é reconhecida do mesmo modo que o casamento como uma entidade familiar pelo nosso ordenamento jurídico brasileiro. De acordo com BARBOSA E TESSMANN50 : “Do mesmo modo que o marido pode ser configurado como estuprador de sua esposa na constância da união, entende que o companheiro poderá se enquadrar em tal modalidade delituosa. Haja vista que a união estável, atualmente reconhecida pelo Código Civil de 2002 como entidades familiar, vislumbra então ser possível a configuração do marido e do companheiro como sujeito ativo do crime de estupro, denominado de estupro marital.” Porém, é notório que se esse crime em questão for empreendido pelo marido ou companheiro contra sua esposa mediante violência ou grave ameaça, forçando a mesma a praticar conjunção carnal sem o seu consentimento, sofrerá penalidades cabíveis. 1.1: Divergência Doutrinária acerca do estupro marital: Existem duas correntes doutrinarias que dizem a respeito do marido cometer ou não o chamado estupro marital. A primeira corrente, uma concepção altamente machista, que tem por sua base doutrinadores mais antigos, como por exemplo, Nelson Hungria e Magalhães Noronha, que entendem que o marido não pode ser acusado do estupro de sua própria esposa, uma vez que o sexo é uma das obrigações do casamento, presente 50 BARBOSA, Celísia; TESSMANN, Dakiri Fernandes. Violência Sexual nas Relações Conjugais e a Possibilidade de Configurar-se Crime de Estupro Marital. 2014. Disponível em: <http://judicare.com.br/index.php/judicare/article/view/65/191> Acesso 12/09/2017. 42 no Código Civil, o que significa dizer que os cônjuges, por razão do casamento, devem manter relações sexuais; assim, se houver uma recusa injustificada da mulher, o marido poderá forçá-la ao ato sexual sem que responda pelo crime de estupro, estando acobertado pela excludente de ilicitude do exercício regular de direito. Vale ressaltar, que essa primeira corrente vem perdendo espaço devido as mudanças ocorridas na sociedade e as mudanças constitucionais. Essa posição entende que o sexo é visto como um débito conjugal e não como um consenso bilateral para os cônjuges ao satisfazerem sua vontade, o que não condiz com a realidade atual, pois desta maneira, volta no tempo, passando a viver de acordo com o sistema patriarcal. NORONHA51 entende que as relações sexuais são um dever do casamento, não podendo ser recusado por motivos fúteis ou por falta de vontade. Ele só aceita para fins penais se pautada numa justificativa de relevante valor, no caso, se o marido exceder em seus atos ou na presença de contaminação de doença, vejamos: “As relações conjugais são pertinentes à vida conjugal, constituindo direito e dever recíproco dos que casaram. O marido tem direito à posse sexual da mulher, ao qual ela não se pode opor. Casando-se, dormindo sob o mesmo teto, aceitando a vida comum, a mulher não se pode furtar ao congresso sexual, cujo fim mais nobre é o da perpetuação da espécie. A violência por parte do marido não constituirá, em princípio, crime de estupro, desde que a razão da esposa para não ceder à união sexual seja mero capricho ou fútil motivo, podendo, todavia, ele responder pelo excesso 43 cometido. [...] mulher que se opõe às relações sexuais com o marido atacado de moléstia venérea, se for obrigada por meio de violências ou ameaças, será vítima de estupro. Sua resistência legítima torna a cópula ilícita. ” Todavia, HUNGRIA52 justifica-se da seguinte forma: “O estupro pressupõe cópula ilícita (fora do casamento), a cópula intra matrimônio é recíproco dever dos cônjuges” “[...] O marido violentador, salvo excesso inescusável, ficará isento até mesmo da pena correspondente à violência física em si mesma (excluído o crime de exercício arbitrário das próprias razões, porque a prestação corpórea não é exigível judicialmente), pois é lícita a violência necessária para o exercício regular de um direito (art. 19, n.º III). É bem de ver que solução diversa tem de ser dada no caso em que a mulher se recuse à cópula por achar-se o marido afetado de moléstia venérea. [...]” Entretanto, MASSON53 destaca o pensamento de um dos defensores dessa corrente, que defendia que tais violências sexuais eram apenas abusos considerados pervertidos, mas jamais atos criminosos. Sendo assim, de acordo com CHRYSOLITO GUSMÃO: “A mulher casada não pode ser sujeito passivo do crime de estupro. A conjunção 51 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. 26ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2002..v.3. Pag.70 52 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: 1959, p. 125. 53 Chrysolito Gusmão 1981, apud MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, vol. 3: parte especial, arts. 213 a 359-H – 4. Ed. Rev. E atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: M ÉTODO, 2014. p. 95. 44 carnal é um dos deveres que, juridicamente, assistem à esposa. (…) O marido que prefere a violência a outros meios para obter a satisfação deste e de outros deveres, falta aos mais comezinhos princípios de cavalheirismo, constata e revela um temperamento animal não refreado pela educação, pelo sentimento epela moral, mas o ato, na hipótese, é da esfera moral e não do Direito Penal e fazemos a restrição porque tal fato, pelas circunstâncias que possa assumir, pela sua reiteração, brutalidade estulta e injustificável, poderá, quiçá, bem é dever, assumir aspectos atinentes do Direito Civil. “ A segunda corrente doutrinaria é, de fato, mais moderna, sendo composta por alguns doutrinadores como Damásio E. de Jesus, Celso Delmanto e Julio Fabrini Mirabete, os quais entendem que sempre haverá estupro se houver constrangimento, pois a lei não autoriza o emprego de violência ou grave ameaça para se fazer valer o direito de coabitação. Ainda, entende-se, que o desrespeito a esse dever poderia gerar, na esfera civil, o divórcio, e por haver o emprego de violência ou grave ameaça por parte do marido para que se consume a conjunção carnal, não se pode falar em exercício regular do direito, e sim abuso de direito, portanto há crime. 45 Sendo assim, de acordo com os dizeres de CELSO DELAMANTO54 onde o mesmo descreve que o marido pode ser considerado agente do crime de estupro contra sua esposa: “Todavia, entendemos que o marido pode ser autor de estupro contra a própria esposa. O crime de estupro nada mais é do que o delito de constrangimento ilegal (CP, art. 146), mas visando à conjunção carnal, sendo que esta, por si mesma, não é crime autônomo. Assim, embora a relação sexual voluntária seja lícita ao cônjuge, o constrangimento ilegal empregado para realizar a conjunção carnal à força não constitui exercício regular de direito (CP, art. 23, III, 2aparte), mas, sim, abuso de direito, porquanto a lei civil não autoriza o uso de violência física ou coação moral nas relações sexuais entre os cônjuges. (CELSO DELMANTO, "Exercício e abuso de direito no crime de estupro", in RT 536/257, RDP 28/106 e RDAB 13/105; com posição semelhante, a doutrina mais recente, tanto nacional — João MESTIERI, Do Delito de Estupro, 1982, p. 57; NILO BATISTA, Decisões Criminais Comentadas, 1976, p. 68; DAMÁSIO DE JESUS, Direito Penal — Parte Especial, 1996, v. III, p. 90” 54 DELMANTO, Celso. Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pag. 503. 46 MIRABETE55 complementa esse posicionamento afirmando que: “Embora a relação carnal voluntária seja lícita ao cônjuge, é ilícita e criminosa a coação para a prática do ato por ser incompatível com a dignidade da mulher e a respeitabilidade do lar. A evolução dos costumes, que determinou a igualdade de direitos entre o homem e a mulher, justifica essa posição. Como remédio ao cônjuge rejeitado injustificadamente caberá apenas a separação judicial. “ Nesse sentido, NUCCI56 afirma que: "Tal situação não cria o direito de estuprar a esposa, mas sim o de exigir, se for o caso, o término da sociedade conjugal na esfera civil, por infração a um dos deveres do casamento". GRECO57 esclarece da seguinte forma: “Modernamente, perdeu o sentido tal discussão, pois, embora alguns possam querer alegar o seu “credito conjugal‟, o marido somente poderá relacionar-se sexualmente com sua esposa com o consentimento dela”. Com o mesmo entendimento, esclarece SILVIO VENOSA58 que: 55 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 2: Parte Especial, Arts 121 a 234-B do CP – 27 ed. rev. – São Paulo: Atlas 2010. Pag. 1245-1246 56 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 655 57 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. Vol. I. Niterói: Impetus, 12ª. ed., 2010, pag. 466 58 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil, vol. 6, 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 149. 47 “Na convivência sob o mesmo teto está a compreensão do débito conjugal, a satisfação recíproca das necessidades sexuais. Embora não constitua elemento fundamental do casamento, sua ausência, não tolerada ou não aceita pelo outro cônjuge, é motivo de separação. O princípio não é absoluto, e sua falta não implica necessariamente o desfazimento da affectio maritalis. Afora, porém, as hipóteses de recusa legítima ou justa, o dever de coabitação é indeclinável. Nesse sentido, é absolutamente ineficaz qualquer pacto entre os cônjuges a fim de dispensar o débito conjugal ou a coabitação. Não pode, porém, o cônjuge obrigar o outro a cumprir o dever, sob pena de violação da liberdade individual. Veementemente nos tribunais vem se admitindo a configuração do marido como sujeito ativo do crime de estupro, denominado estupro marital, praticado contra sua esposa. “ Há autores que externam que não mais deve existir a expressão débito conjugal. É o caso de DIAS59: “Não se consegue detectar a origem do quem vem sendo alardeado, até por charges via Internet: que existe no casamento o "débito conjugal", que um cônjuge deve ceder à vontade do outro e atender ao seu desejo sexual. Tal obrigação não está na lei. A previsão de "vida em comum" entre os 59 DIAS, Maria Berenice. Falando em estupro. Disponível em: <http://www.mariaberenicedias.com.br> Acesso em: 29 de Setembro de 2017 48 deveres do casamento (Código Civil de 1916, art. 230, II e Novo Código Civil, art. 1.566, II) não significa imposição de "vida sexual ativa" nem impõe a obrigação de manter "relacionamento sexual". Essa interpretação infringe até o princípio constitucional do respeito da dignidade da pessoa, além de violar a liberdade e o direito à privacidade, afrontando a inviolabilidade ao próprio corpo. Não existe sequer a obrigação de se submeter a um beijo, afago ou carícia, quanto mais de se sujeitar a práticas sexuais pelo simples fato de estar casado (grifos nossos). Conclui-se, que acima de tudo, devem ser considerados os princípios constitucionais de respeito e consideração mútuos, além dos da dignidade da pessoa humana e da intimidade. ” FERRAS60 em ímpar comentário, explicita que: O estupro da mulher casada, praticado pelo marido, não se confunde com a exigência do cumprimento do débito conjugal; este é previsto inclusive no rol dos deveres matrimoniais, se encontra inserido no conteúdo da coabitação, e significa a possibilidade do casal que se encontra sob o mesmo teto praticar relações sexuais, porém não autoriza o marido ao uso da força para obter relações sexuais com sua esposa. (...) A violência sexual na vida conjugal resulta na violação da integridade física e psíquica e ao direito ao próprio corpo. A possibilidade de reparação constitui para o 60 FERRAZ, Carolina Valença. A responsabilidade civil por dano moral e patrimonial na separação judicial. São Paulo: PUC, 2001. p.194-195. 49 cônjuge virago uma compensação pelo sofrimento que lhe foi causado.” Assim, se verifica que a maioria dos doutrinadores é do entendimento da existência do estupro marital, ou seja, do estupro praticado pelo marido contra sua esposa e o uso da violência não pode ser levado em conta, uma vez que há constrangimento ilegal. Tendo em vista a equiparação entre homem e mulher, o marido não pode obrigar sua esposa a realizar seus desejos sexuais contra sua vontade, podendo somente relacionar-se sexualmente com sua esposa com o consentimento dela. Vislumbra-se, então, ao cônjuge insatisfeito, caso a esposa não cumpra com suas obrigações conjugais, tal fato poderá dar ensejo, por exemplo, à separação do casal, cabendo
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