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A PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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A PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 
 RESUMO
A Privatização do Sistema Penitenciário Brasileiro. O presente estudo abordou o tema a privatização do sistema penitenciário brasileiro, objetivando apresentar as suas principais vantagens e desvantagens, com enfoque específico nas questões referentes à administração, gerenciamento, fiscalização, constitucionalidade e legalidade desse processo. Para desenvolver o estudo, utilizou-se como método de pesquisa o estudo bibliográfico, fazendo um levantamento de estudos já realizados sobre o tema para se verificar a posição dos pesquisadores sobre a viabilidade de se implementar a privatização das prisões no Brasil. Constatou-se que a privatização do sistema penal brasileiro, apesar de ser uma proposta que apresenta alguns pontos positivos, não é adequada à realidade sócio-econômica e cultural do país, servindo apenas para isentar o Estado do seu papel de assistir aos apenados. 
Palavras-Chaves: Privatização, sistema carcerário, prisões, serviços, apenado. 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6 CAPÍTULO 1. A EXECUÇÃO PENAL E A ADMINISTRAÇÃO DE PRESÍDIOS ....... 9 1.1. Modelos de sistemas ........................................................................................... 9 
1.2. Da pena de prisão ............................................................................................... 11
1.3. Da pena de prisão no sistema brasileiro ............................................................ 14
CAPÍTULO 2 O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO .................................18 2.1. A insuficiência de investimentos .........................................................................19 
2.2. A superlotação carcerária .................................................................................. 21 
2.3. O desrespeito aos direitos dos presos .............................................................. 22 
2.4. A ausência de ressocialização ............................................................ 24 CAPÍTULO 3. A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS ............................................... 27 3.1. Privatização dos presídios: aspectos conceituais .............................................. 28 
3.2. O modelo de privatização dos estados unidos .................................................. 30 
3.3. O modelo de privatização da frança .................................................................. 31 
3.4. A privatização de presídios no brasil.................................................................. 32 
3.4.1. A penitenciária Industrial Regional do Cariri-CE ....................................... 35 3.4.2 A Penitenciária Industrial de Guarapuava – PR .......................................... 36 CAPÍTULO 4 ARGUMENTOS ACERCA DA PRIVATIZAÇÃO ............................... 39 4.1 argumentos favoráveis à privatização ................................................................ 39 
4.1.1 ausência de garantia de continuidade da prestação do serviço ................................................................................................................................... 41 
4.1.2. A inconstitucionalidade e a ilegalidade da privatização .................................. 43 
4.2 argumentos contrários à privatização ................................................................. 46 
4.2.1. O estado responsável pela administração, direção e fiscalização nos presídios ................................................................................................................................... 47 
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 56 
INTRODUÇÃO 
A presente monografia trata do tema a privatização do sistema penitenciário brasileiro, mais especificamente sobre as vantagens e desvantagens da privatização desse sistema. Nele enfoca-se a problemática da aplicação do modelo de prisão privada no sistema carcerário brasileiro, com base nas experiências norteamericana, inglesa, francesa e no modelo de prisão privada proposto para o Brasil. 
A partir de meados de 1980, nos Estados Unidos e Inglaterra, teve início uma procura por novas soluções para o sistema carcerário devido a uma série de fatores, entre os quais se destacavam: o aumento da população carcerária; o aumento dos custos das penitenciárias públicas; bem como a pressão da sociedade por punição dos crimes de menor potencial ofensivo e cumprimento de penas mais longas. 
Desta forma, o tema despertou um interesse pela política de privatização das penitenciárias por ser uma possível solução à crise generalizada do sistema penitenciário que, atualmente, não cumpre a função sócio-educativa na sociedade brasileira. Assim, é necessário, e de suma importância, analisar as vantagens e possíveis problemas da privatização parcial ou total do sistema carcerário brasileiro, antes de se examinar a viabilidade das parcerias público-privado como solução à crise do sistema em questão. 
A urgência em se discutir a temática proposta se deve as péssimas condições estruturais, desrespeitam a integridade física e moral dos encarcerados, têm péssimas condições de higiene, a superlotação é evidente, o Estado não investe adequadamente no setor carcerário e as rebeliões de presos têm se tornado habituais, levando ao caos o sistema prisional brasileiro. 
O Estado está perdendo o controle sobre os acontecimentos dentro dos presídios e os presos passam a exercer o comando, inclusive de organizações criminosas de fora dos presídios. O ambiente corrupto e desumano ao qual os presos são submetidos não contribui para a ressocialização do apenado, o que conseqüentemente amplia a possibilidade de·reincidência após o cumprimento da pena. Nas péssimas condições em que o condenado fica dentro de um presídio, dificilmente irá se reeducar e conseguir se reintegrar à sociedade. 
 Desta forma, as prisões privadas se apresentam como solução social aos graves problemas penitenciário. Entretanto, há também opositores que criticam a privatização do nosso sistema. Este estudo irá se pautar na técnica da documentação indireta, por meio da pesquisa bibliográfica e documental. 
Para tanto, a abordagem realizar-se-á a partir de uma coleta de dados diversificados, através da pesquisa de artigos dispostos em sites jurídicos, fontes jornalísticas relacionadas ao tema e da revisão dos livros e documentos produzidos no Brasil sobre o tema, levando-se em consideração a doutrina e as jurisprudências disponíveis para que seja possível detectar as possibilidades de aplicação das prisões privadas na solução da crise do sistema carcerário no Brasil.
 Sendo este um tema bastante atual, necessita de um amplo debate político, social, jurídico e científico, pois quando surgem as propostas de privatização de presídios pouco se pensa nos complexos aspectos legais que surgem. 
O tema, portanto, apresenta um vasto campo de pesquisa em se tratando de um assunto de amplo interesse nacional e que por ter inúmeros defensores e opositores, apresentase como uma excelente oportunidade de atualização dos conhecimentos acadêmicos pelos estudantes, professores e estudiosos das ciências jurídicas, levando a definição dos seguintes problemas: os presídios no Brasil devem ser privatizados? Quais as vantagens e as desvantagens dessa privatização? Nos presídios privados brasileiros, os presos têm melhores condições de ressocialização através de cursos profissionalizantes, trabalho digno e remunerado, a presença de médicos, psicólogos, advogados e assistentes sociais a disposição do recluso, bem como não há superlotação para ocasionar fugas e rebeliões.
 Desta forma, aprivatização do sistema carcerário brasileiro vem se apresentando como uma alternativa para amenizar esse quadro crítico e caótico que se apresenta. No entanto, em alguns aspectos administrativos e gerenciais, a privatização apresenta limitações que tornam complexa sua aplicação no contexto brasileiro. 
O presente estudo baseia-se em uma linha de pesquisa jurídico-dogmática que se destina a obter uma resposta que satisfaça a necessidade imediata e prática referente ao assunto, enfatizando a busca de respostas legais ou científico doutrinais a privatização do sistema carcerário brasileiro, o qual é objeto desta monografia. 
 Este trabalho será desenvolvido pelo método de abordagem dedutiva, objetivando a extração discursiva do conhecimento a partir de proposições gerais aplicáveis as hipóteses concretas, partindo, consequentemente, do geral para o particular. 
 Desta forma, a linha de pesquisa também será desenvolvida por meio de procedimentos que se aproximam ao texto legislativo, baseando-se em métodos específicos de interpretação, como os métodos histórico e comparativo para a necessária adequação ao problema jurídico ora apresentado, bem como a necessidade de discussão das diversas contribuições doutrinárias formuladas sobre o tema proposto. 
CAPÍTULO 1. A EXECUÇÃO PENAL E A ADMINISTRAÇÃO DE PRESÍDIOS
 As instituições penais surgiram em razão da necessidade do homem de uma força coercitiva para que fossem asseguradas a paz e a tranqüilidade dentro da sociedade. Com o surgimento das primeiras prisões a pena era destinada para manter o delinqüente à disposição da justiça até que fosse executado, ou seja, a pena era aplicada como detenção perpétua e solitária, sendo as celas todas muradas, onde os delinqüentes aguardavam a execução da pena de morte.
 Era simplesmente uma maneira de se evitar sua fuga. Nesse tempo, a prisão não tinha nenhum respeito pela pessoa do criminoso e era cumprida em masmorras e poços. Mais adiante, a partir do século XVIII, a pena de morte foi sendo substituída pela pena privativa de liberdade, em razão do hábito da igreja de punir seus infiéis com a penitência.
A partir da constatação de que o delinquente representava uma força de trabalho e que esta força estava sendo desperdiçada, nasceu a ideia de criação das casas de detenção. A instituição-prisão era usada para disciplinar os indivíduos por meio de uma atividade sobre seu corpo. À medida que esses estabelecimentos foram ganhando força e se desenvolvendo e com o objetivo de que fossem implementados os objetivos da pena de prisão, foram criados vários sistemas prisionais, cada um com suas particularidades, dentre eles os principais são os descritos a seguir.
2 1.1. MODELOS DE SISTEMAS 
J. Bentham apresentou uma concepção nova de penitenciária, chamada de panóptico, a qual tinha “na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”.
 A colocação de um vigia na torre central e um condenado em cada cela permitiria que os primeiros vissem os segundos sem parar, induzindo no condenado a consciência de visibilidade permanente, assegurando assim o funcionamento automático do poder. Os principais sistemas prisionais clássicos, de acordo com Maria Odete de Oliveira, compreendem o da Filadélfia ou pensilvaniano, o de Auburn e os progressivos. O Sistema da Filadélfia ou pensilvaniano sofreu forte influência dos monges da Idade Média e tinha como principais características o isolamento em célula individual, somente sendo possível a saída desta raras vezes e sempre sozinho, para passeio em pátio fechado, objetivando o impedimento da promiscuidade.
 Era permitida a leitura somente da Bíblia e o trabalho na própria célula. O isolamento do condenado era absoluto e constante e este sofria um trabalho psicológico com o objetivo de que temesse a punição. Um pouco mais suave que o modelo da Filadélfia, no Sistema de Auburn os condenados mantinham entre si contado pessoal somente durante o dia, sendo os mesmos recolhidos às celas durante a noite, em total e completo isolamento. 
As regras do silêncio, inclusive durante o trabalho em comum, eram aplicadas com severidade. O trabalho e a disciplina tinham como objetivo a ressocialização do condenado e sua consequente reinserção ao meio social. Ainda mais brandos que os anteriores, os Sistemas Progressivos tendiam a tornar cada vez menos rigorosa a vida prisional à medida que se aproximava o término do encarceramento. 
O preso ficava isolado dentro de sua cela, sem prazo determinado; em um segundo momento, o encarceramento se dava somente no período noturno e, durante o dia, trabalho coletivo; no terceiro momento, trabalho em semi liberdade e, finalmente, liberdade condicional fiscalizada. 
No sistema progressivo de Montesinos, era aplicado tratamento penal humanitário, com o objetivo de regeneração do recluso. Nesse sistema, adotado na Espanha, foram deixados de lado os castigos corporais. Foi o primeiro sistema progressivo que apareceu, sendo pioneiro também em proporcionar o trabalho remunerado aos presos. 
No Sistema Progressivo Inglês, a duração da pena não era fixada pelo juiz na sentença condenatória, restando estabelecido aos condenados um sistema de vales. Tinha como características o trabalho durante o dia e o isolamento do condenado à noite, cada qual em sua cela. Eram também isolados da comunidade e se submetiam a provas a fim de que fosse permitida a progressão.
 Já o Sistema Progressivo Irlandês visava a preparação do condenado para a vida em liberdade. Ainda havia o sistema de vales e o preso era deslocado a prisões intermediárias, método este semelhante ao atual método progressivo de regime. Foram admitidos também o trabalho no campo e a conversação, objetivando o retorno à sociedade.
1.2. DA PENA DE PRISÃO
 
A implantação da pena de prisão ocorrida no início do século XIX, marca o começo da formação de um sistema de justiça penal autônomo e igualitário, que tomaria o lugar de uma legislação na qual o direito de punir era confiado a toda uma sociedade. A igreja deu início à pena privativa de liberdade, em razão de seu hábito de punir os fiéis com a pena de penitência. 
Esta era cumprida em celas, onde era proporcionado ao preso, o qual não teria qualquer contato com outro ser humano, por meio do sofrimento e da meditação, se depurar, se penitenciar e se regenerar. Nessa mesma oportunidade, houve uma tomada de consciência de que a força de trabalho do delinquente estava sendo desperdiçada com a aplicação de pena corporal. Assim, necessário se mostrava que deveria ser arranjada uma maneira de o delinquente abandonar o ócio e passar a produzir. Com isso começaram a surgir as prisões. 
A pena de prisão atuou na conduta dos indivíduos por meio da privação de sua liberdade, dando início a um movimento de isolamento do condenado do mundo exterior, no intuito de impedir a formação de populações de delinquentes como também de propiciar momentos de reflexão a respeito de sua conduta por parte do apenado. O trabalho carcerário surge, no início do século XIX, como um agente de transformação. 
Não há, contudo, uma uniformização acerca da natureza do trabalho carcerário. Um século depois de ter-se iniciado o trabalho carcerário, surgem inúmeras inovações neste setor, dando ensejo ao surgimento do Direito Penitenciário, à positivação de leis, culminando com o surgimento de um juiz para aplicação das penas. O juiz da execução penal é autônomo e com ele é introduzido na sociedade o conceito de justiça criminal. 
As primeiras iniciativas com prisões privatizadas, segundo Edmundo Oliveira, ocorreram nos Estados Unidos, sendo a princípio levadasa cabo nas “prisões de Xerifes”, que são as prisões municipais que acolhem presos provisórios ou por períodos curtos, após o cometimento de pequenas infrações. A partir daí, segundo Edmundo Oliveira, a implementação das prisões administradas pela iniciativa privada foi ampliada por meio do estabelecimento de regras contratuais onde as empresas particulares administram os estabelecimentos penais de presos condenados a penas mínimas ou médias e os dois últimos anos de cumprimento de pena dos condenados a penas altas. 
Nesse caso, grupos particulares dirigem e administram as prisões, incluindo a segurança, o lazer, educação e a alimentação, oferecendo aos mesmos trabalho, assistência social, jurídica, e espiritual. Por meio de relatórios periódicos, a empresa presta contas de suas atividades ao Governo e à Justiça Nos países que começam a ter interesse na privatização das prisões, segundo Edmundo Oliveira, a tendência é a privatização parcial, não fazendo parte da iniciativa confiar ao setor privado a administração e a segurança das prisões, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, onde se confia inteiramente a administração das penitenciárias ao setor privado, com ou sem fins lucrativos. As modificações no sistema prisional vão se implementando dia a dia, fazendo com que as prisões deixem de ser vistas como instituições inertes, mas sim influenciadas por constantes modificações e reformas. 
1.3. DA PENA DE PRISÃO NO SISTEMA BRASILEIRO 
O primeiro código penal brasileiro foi o Código Criminal do Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830 por D. Pedro I. Este diploma legal previu penas de prisão simples e prisão com trabalhos forçados, banimento, degredo, desterro, multa, suspensão de direitos e a morte na forca. Esta última modalidade de pena era reservada somente para os crimes de insurreição de escravos, homicídio agravado e latrocínio.
Com a Proclamação da República em 1889, juntamente com a abolição da escravatura (em 1888), surgiu a necessidade de um novo Código. Assim, já no ano de 1890 entrou em vigência o Novo Código, onde as modalidades de pena previstas são a prisão celular, o banimento, a interdição, e a suspensão e perda de emprego público e multa.
A base do sistema de penas adotado pelo novo Código era a prisão celular, prevista para a grande maioria das condutas criminosas e que deveria ser cumprida em estabelecimento especial. O preso iniciaria o cumprimento da pena com um período de isolamento na cela (sistema de Filadélfia) e em um segundo momento passaria ao regime de trabalho obrigatório em comum com outros presos, segregação noturna e silêncio diurno (sistema de Auburn).
 O condenado a pena superior a seis anos e de bom comportamento, depois de cumprida a metade da sentença, poderia ser transferido para uma penitenciária agrícola. Mantido o bom comportamento, nos dois últimos anos de cumprimento de pena, teria a perspectiva de condicional. No entanto, em razão de diversas críticas recebidas por esse diploma, foram promulgadas várias leis extravagantes, as quais foram posteriormente reunidas em um único documento.
 O resultado foi a Consolidação das Leis Penais, que entrou em vigor em 1932 e foi revogada pelo atual Código Penal. O Novo Código Penal, publicado em 1940 e com início da sua vigência em 1942, simplificou as penas e as dividiu em privativas de liberdade, multa, perda de função, interdição de direitos e publicação de sentenças. Em 1984 a parte que trata dos princípios básicos do Código Penal (parte geral) foi integralmente reformada. 
Foram introduzidos conceitos e consolidado um novo sistema de cumprimento de penas, com progressão e regressão de regimes. Além disso, abriu-se a possibilidade de novas modalidades de penas, as chamadas penas alternativas, que são a prestação de serviços à comunidade e a restrição de direitos. Entretanto, mesmo tendo havido algumas modificações, a principal medida punitiva em defesa da sociedade continua sendo a pena privativa de liberdade.
2.4. Administração penitenciária brasileira
 A Lei de Execução Penal estabelece os tipos de estabelecimentos penais, suas características e a quais presos cada um destes estabelecimentos se destinam. Na teoria, o suspeito ou criminoso, logo após ser preso, deveria ser levado à delegacia de polícia para que seja procedido seu registro e sua detenção inicial. 
Passados alguns dias, não sendo caso de libertá-lo, deveria o suspeito ser transferido para a cadeia pública ou para a casa de detenção, enquanto aguarda seu julgamento e consequente sentença. Somente em caso de condenação deveria ser transferido para uma penitenciária. 
No Brasil, os estabelecimentos prisionais são administrados pelos Governos estaduais, cada um deles com estrutura organizacional própria, seus próprios policiais e até, em alguns casos, lei de execução penal suplementar. Cada estado é independente no estabelecimento de sua política criminal, o que gera ampla variedade de assuntos como níveis de superlotação, custo do preso, salários, entre outros.
 O art. 61 da Lei de Execução Penal (LEP) enumera os órgãos da execução penal: Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), o Juízo da Execução, o Ministério Público, o Conselho Penitenciário, os Departamentos Penitenciários, o Patronato e o Conselho da Comunidade. O fato de os estados gerirem seus presídios não exclui a autoridade do Governo Federal no assunto, pois há duas agências federais dentro do Ministério da Justiça que regulam a política prisional: o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP).26 A organização penitenciária brasileira compreende os órgãos da execução penal, os estabelecimentos penitenciários, o pessoal penitenciário e o estatuto jurídico do preso. 
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) é órgão administrativo, subordinado ao Ministério da Justiça e tem como função precípua a determinação da política criminal e penitenciária que serão adotadas. É órgão consultivo, normativo e fiscalizador de âmbito nacional e que tem suas atribuições fixadas pelo art. 64 da LEP. Em síntese, é “o órgão da política criminal nacional, com a tônica na prevenção da criminalidade”.
Outro importante órgão da organização penitenciária é o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), também subordinado ao Ministério da Justiça, que de acordo com o art. 71 da LEP é “órgão executivo da Política Penitenciária Nacional e de apoio administrativo e financeiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)”. Compete ao Departamento Penitenciário (DEPEN) oferecer assessoria ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e fiscalizar o cumprimento da política criminal e penitenciária adotada por este último. Compete ainda ao DEPEN ajudar os estados a implementar os princípios estabelecidos para a execução penal.
Enquanto o DEPEN é incumbido dos aspectos práticos, o CNPCP orienta as políticas em nível intelectual.30 O art. 86 da LEP confere a administração de estabelecimentos penais federais ao DEPEN, qualquer que seja a localização desses estabelecimentos. O DEPEN executa a política geral, podendo ser criados departamentos penitenciários locais com a finalidade de tratar políticas especiais. Outro órgão citado pela LEP é o Conselho Penitenciário que “é o órgão consultivo e fiscalizador da execução da pena”, segundo o disposto no art. 69 da LEP. Suas atribuições estão previstas no art. 70 deste diploma legal, mas esse rol não é taxativo. 
A própria Lei, em vários outros artigos, lhe confere outras atribuições como propor alteração das condições do sursis, realizar a cerimônia do livramento condicional, entre outros. Em relação aos estabelecimentos penais, a LEP os classificou em razão do regime do preso: a penitenciária destina-se ao condenado no regime fechado; a colônia agrícola ou industrial ao regime semi-aberto e a casa do albergado ao regime aberto.
 Há ainda o hospital de custódia e tratamento psiquiátricodestinado a cumprimento de medida de segurança, as cadeias públicas para acolher os presos provisórios e o centro de observação, o qual acolhe o preso durante um período de observação, antes de ser enviado ao local definitivo. 
CAPÍTULO 2 O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
 A execução da pena no Brasil se dá de acordo com a natureza do delito, não importando para lei se o apenado é primário ou apresenta rol extenso de condenações. É aí que começa o grande problema: durante o cumprimento da pena, deve oferecer ao condenado, elementos que estimulem sua recuperação, como: assistência familiar, religiosa, material, jurídica, educacional, direito ao trabalho e outras circunstâncias que fomentem a ressocialização.
 Ou seja, deve oferecer ao apenado meios que façam com que o indivíduo se encontre em condições de viver em sociedade novamente, conforme diz a Lei de Execuções Penais. Atualmente, milhares de presos cumprem pena de forma subumana, em celas superlotadas e amontoados uns sobre os outros. 
O sistema carcerário se propõe a recuperar e reeducar os presos e prepará-los para retornar à sociedade e se tornarem produtivos para que não reincidam em práticas delituosas. Infelizmente isso não ocorre e cada vez mais se encontram presos reincidentes. Os presos ficam na maior parte do tempo, ociosos na maioria dos presídios. Eles só se movimentam na hora do jogo de futebol. 
O que a sociedade lucra com isso? Nada, apenas mais violência. Atualmente os presos estão sujeitos a condições precárias e deficientes de atendimento dos serviços carcerários, inclusive do serviço médico a eles destinados. Estão envolvidos, em parte, com elevado consumo de drogas, processo esse que se deve a facilitação, na maioria das vezes, pela atuação de funcionários penitenciários corruptos. É comum, também, a falta de higiene e há uma gama de outras situações concretas e perturbadoras que caracterizam o ambiente das prisões brasileiras. A situação dos estabelecimentos prisionais no Brasil é caótica.
 A prisão não tem conseguido cumprir a finalidade a que se destina. Não vem combatendo de modo eficaz o processo de criminalidade e, ao contrário, tem perpetuado tal processo, transformando-se em verdadeiras universidades para formar criminosos e os indivíduos que nelas são internados dificilmente são ressocializados e poucos conseguem reintegrar-se na sociedade.
 Em síntese, verifica-se que o sistema carcerário brasileiro tem passado por uma grave crise caracterizada pela insuficiência de investimentos, pela superlotação das prisões, pelo desrespeito aos direitos dos presos e pela ausência de políticas de ressocialização. Este quadro torna urgente a revisão desse sistema para que se busquem alternativas mais eficazes de controle da criminalidade. 
2.1. A INSUFICIÊNCIA DE INVESTIMENTOS
 De acordo com Antônio Batista Gonçalves, ao contrário do que muitos pensam, o direito penal não é um mero aplicador desordenado de sanções, mas sim um garantidor de liberdades. Pois o homem médio comum tem o conhecimento de quais atos pode praticar e de quais não são permissivos, sendo, também, consciente de que seus atos delituosos e criminosos são punidos, em muitos casos, com a perda de sua liberdade.
 A introdução do atual sistema carcerário teve origem na igreja, pois o condenado era encaminhado a uma cela para expiação da falta cometida, como uma penitência, ou seja, a origem do presídio, também denominado penitenciária, e seu arranjo interior, refletem as celas monásticas que os mosteiros destinavam as penitências. 
Por sua vez, em sua obra Vigiar e Punir, Michael Foucault argumenta que ao final do século XVIII e início do século XIX, a punição vai se tornando a parte mais velada do processo penal, provocando consequências como: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade e não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro que caracterizava a prática dos suplícios e torturas realizados em praça pública; e a mecânica exemplar da punição muda às engrenagens. 
O desaparecimento dos suplícios é, pois o espetáculo que se elimina; mas é também o domínio sobre o corpo que se extingue. O sofrimento físico e a dor do corpo não são mais os elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos. Atualmente, a condenação serve como uma compensação à sociedade pelos danos causados pelo condenado, sendo considerada uma justificação moral da aplicação da pena. 
 Como ressalta Michael Foucault “a duração da pena só tem sentido em relação a uma possível correção e a uma utilização econômica dos criminosos corrigidos”. Surgem então, a idéia de se construir duas penitenciárias: uma para os homens e outra para mulheres, nas quais os detentos isolados seriam obrigados aos trabalhos servis e mais compatíveis com a ignorância, a negligência e a obstinação dos criminosos, sendo suas atividades restritas a: andar numa roda para movimentar uma máquina, fixar um cabrestante, polir mármore, bater cânhamo, raspar pau-campeche, retalhar trapos, fazer cordas e sacos.
 A vida nas prisões era então repartida de acordo com um horário absolutamente estrito, sob uma vigilância ininterrupta: cada instante do dia é destinado a alguma coisa. Assim, a vida nos presídios se organizava pela prescrição de um tipo de atividade para cada grupo de presos e implicava obrigações e proibições. 
No contexto social brasileiro, a prisão teve introdução tardia. Até o aparecimento do Código Criminal do Império, de 1830, ao dizer de Henny Goudart, a "prisão vigorou no Brasil praticamente com o sentido de cárcere”. A Constituição Federal de 1988, porém, estabelece que as funções de ordem jurisdicional e relacionada à segurança pública são atribuições do Estado, definindose que o governo é responsável pelos investimentos no setor prisional, seja para manter os presídios já existentes ou para construir novas instalações. 
Ressalta-se, porém, que há poucos investimentos nessa área, principalmente por insuficiência de verbas e pelo fato do setor prisional não ser priorizado. Com isso, não tem havido condições para minimizar a caótica situação dos presídios brasileiros, que caracterizam um amplo quadro de abandono e carência, principalmente na infraestrutura e suporte sócio-educativo para atender a crescente população carcerária. De acordo com Romeu Falconi, é comum encontrar presídios onde há apenas um agente penitenciário para tomar conta de cerca de 100 a 200 detentos. 
Esses profissionais, mal remunerados, acabam encontrando na corrupção e no favorecimento a certos detentos, um rendimento que chega a ser superior a seus proventos. Os investimentos no setor prisional, ensejando a melhoria das condições de vida dos presos, ao menos para garantir a dignidade do individuo é uma forma de contribuir para a segurança da sociedade, pois estando os apenados em um ambiente de condições extremamente precárias, aumenta-se à possibilidade de reincidência após o indivíduo haver cumprido sua pena. Ou, em muitas circunstâncias, motiva a realização de motins e fugas. 
Para evitar que o sistema penal alcance a impraticabilidade, até mesmo a inutilidade, o legislador deve criar uma alternativa para contornar a grave crise que tem caracterizado o sistema penal brasileiro. Não havendo, por parte do governo, a adoção de políticas públicas que determinem um investimento compulsório em educação, emprego e dignidade humana, há uma maior tendência à marginalização e à criminalidade em alguns segmentos sociais. Com isso, ocorre o caos da superlotação dos presídios e, consequentemente, o desrespeito aos direitos dos presos continuaram sendo uma constante na história do direito penal brasileiro. 
2.2. A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA 
A superlotação é evidente nos presídios e mesmo em delegacias existentes no país. A estrutura dos estabelecimentos prisionais esta deteriorada porque o Estadonão investe no setor prisional e as rebeliões de presos são cada vez mais freqüentes. Nas condições precárias em que as penas são cumpridas, dificilmente haverá reeducação e condução do apenado para a ressocialização. O estabelecimento para cumprimento da pena tem se apresentado como o ponto mais problemático do sistema penitenciário. 
Os inúmeros problemas incorrem sobre a estrutura, as condições de vida, os direitos dos presos, a legalidade na aplicação da sanção. De acordo com o inciso XLIV do art. 5° da Constituição Federal, o preso, mesmo após a condenação, continua titular de todos os direitos que não foram atingidos pela privação de sua liberdade. Assim neste sentido, o artigo 38 do Código Penal impõe às autoridades o respeito à integridade física e moral do preso. Porém, o sistema prisional esta afetado gravemente em sua estrutura e finalidade, dadas as precárias condições as quais os presos são submetidos. 
Por este motivo, grande parte das críticas feitas ao sistema carcerário, dizem respeito não só a superlotação dos presídios, mas também a quase inexistência do efeito positivo da pena. A prisão, ao mesmo tempo em que produz um efeito de intimidação sobre o recluso, criando um estímulo de adaptação às regras de vida em sociedade, também segrega o indivíduo do seu estatuto jurídico e, com isso, atinge a personalidade, favorece a aprendizagem de novas técnicas criminosas e propõe valores e normas contrárias aos oficiais. 
2.3. O DESRESPEITO AOS DIREITOS DOS PRESOS 
O primeiro estabelecimento prisional de São Paulo, a casa de correção de São Paulo, deu início a seu funcionamento em 1851, dezessete anos após haver sido instituída. Caso semelhante ocorreu no Estado do Rio de Janeiro, onde seu início, em 1834, a construção de uma prisão que teve seu projeto inicial abandonado, ocorrendo o funcionamento deste estabelecimento prisional somente no ano de 1850. 
Apesar de haver disposto de uma série de regulamentos, esses presídios sempre vivenciaram o constante descumprimento das normas. Assim, parte dos atuais problemas do sistema prisional brasileiro encontra aí o cerne de sua derrocada e falência. Se em 1924 a situação era caótica, neste momento já não se distinguia mais o preso correcional do processual e do condenado, vez que todos ficam amontoados num mesmo espaço físico, gritantemente inferior ao necessário para que o recluso mantenha o mínimo de dignidade humana.
 Agride-se a individualidade do cidadão delinquente de tal forma que se toma difícil impor-lhe qualquer "forma de respeito às normas sociais vigentes. Quem recebe do poder a desconsideração, reserva-se a si o direito de retribuir com a mesma moeda”. As prisões e penitenciárias brasileiras, onde homens e mulheres são deixados aos montes sem o mínimo de dignidade, são verdadeiros depósitos humanos. 
É indiscutível que a realidade brasileira é preocupante, considerando o crescimento crítico que se vivencia, em termos de tratamento cruel e desumano ao contingente recolhido nos cárceres brasileiros, cujo número se aproxima de 300 mil pessoas encarceradas. As drogas e as armas são outros fatores determinantes no problema do sistema penitenciário brasileiro. Temos visto e ouvido nos noticiários, o grande número de armas e a grande quantidade de drogas que são apreendidos diariamente nos presídios. Impera dentro das prisões a lei do mais forte, ou seja, quem tem força ou poder subordina os mais fracos. 
Vemos, também como o crime organizado está controlando a criminalidade dentro dos presídios através de aparelhos telefônicos, de mensagens levadas pelos próprios parentes e ou visitas aos presos. A desumanidade e crueldade na execução da pena envergonham nosso país, tanto quanto a violência praticada pelos criminosos. 
Com tamanha violência nas ruas, nos presídios, nas escolas, etc. ser complexo de construir um país decente, onde viver não implique em um risco permanente. A Lei 7.210/84, que cuida sobre a execução penal, se fosse severamente cumprida, acabaria com os problemas nos presídios, pois é de boa técnica legislativa, dispondo sobre direitos e deveres dos presos de forma clara e coerente com a situação de cada um. Entretanto, quase nada do que se apresenta no seu texto é efetivamente cumprido, tendo em vista que o Estado não dispõe de elementos materiais suficientes para execução da pena. 
2.4. A AUSÊNCIA DE RESSOCIALIZAÇÃO
 O apoio psicológico ao condenado deve ser intermitente, apto a causar mudanças na mentalidade do criminoso, preparando-o para a reintegração na ordem social. Outra saída para que todos os detentos preencham as horas com alguma atividade profissionalizante, e que ajudaria a recuperar sua auto-estima seria transferir estas atividades para a iniciativa privada. 
Destarte teria-se a ganhar: a iniciativa privada com mão-de-obra barata; o preso com o tratamento humano; e, conseqüentemente, a sociedade com o resultado desta iniciativa. Contudo, o Estado não se afastaria totalmente, pois seria criada uma agência para fiscalizar a atuação nos presídios e penitenciárias e também para punir as irregularidades56. Com isso desentravaria o Estado e conseguiria ressocializar os detentos. Porém, o sistema carcerário brasileiro é uma instituição falha que não apresenta, por sucessivas décadas, reforma estrutural capaz de atenuar o problema deflagrado nas penitenciárias, como: fugas, mortes de agentes públicos em seu interior, rebeliões sanguinárias, proliferação de doenças, entre outros. É importante citar, também, a ociosidade que o sistema carcerário brasileiro possui, haja vista ser outro critério que alimenta a criminalidade, pois, ao cumprir pena em regime integralmente fechado, o condenado, mesmo assim, tem direito ao trabalho.
 Todavia, se a penitenciária não tiver condições de acolher todos os criminosos que pretendem desenvolver atividade laborativa para, assim, converter em algo útil o tempo disponível, essa lei em questão impede taxativamente o trabalho do preso em outro estabelecimento que possua vagas disponíveis. 
Dessa forma, o mau comportamento, acompanhado do ócio do sistema carcerário e uma legislação mal aplicada, incentivam à criminalidade e aguçam o pensamento do indivíduo que se encontra em uma estrutura social que não satisfaz, estimulando planos de fuga ou rebeliões para chamar atenção das autoridades para a situação desumana que alguns encarcerados enfrentam nas penitenciárias. 
 Nestes termos, César Roberto Bittencourt defende a prática da laboraterapia nos presídios brasileiros. A laboraterapia trata-se de ocupar o tempo fazendo uma atividade profissional. Assim, poderão os detentos desenvolver atividades que variam da manutenção do presídio, panificação, cozinha e faxina, até atividades como a confecção de bolas, caixões e outras tantas atividades mais que possam ser desenvolvidas dentro dos presídios. 
 Para isso, as prisões devem ser reformuladas com a criação de oficinas de trabalho e a laboraterapia possa ser aplicada de fato, dando oportunidade para que o condenado possa efetivamente ser recuperado para a vida em sociedade. 
 Nesse contexto, a ressocialização do preso, que é um dos objetivos da pena, nada mais é que uma farsa, que não gera efeitos. Ou seja, o condenado, ao sair da cadeia tem uma personalidade mais perversa do que possuía quando lá ingressou.
 A lei de crimes hediondos dá continuidade a essa mazela social, tendo em vista vedar a progressão de regime da liberdade provisória, deixando assim o outrora cidadão eternamente atrás das grandes e, se esquecendo, o legislador, que um dia ele voltará ao convívio com a sociedade, sem estar preparado para ser reintegrado ao estado de cidadania. 
 O maior problema é manter um cidadão que ingressou em uma penitenciária sem possuir folha de antecedentes criminais junto com bandidos perigosos, que não possuem nenhuma expectativa de um dia de lá saírem com a proposta de emprego, ou mesmo, terem aprendido uma profissão para, pelo menos,serem incentivados a não mais delinqüir. A não separação dos encarcerados pelas circunstâncias que os levaram até lá é fomento preponderante a prática de novas infrações. 
 Portanto, não deve se conferir tratamento igualitário a todos, torna-se imprescindível que seja feito toda uma avaliação em torno daquele ou desse criminoso para, aí então, direcioná-los para determinado tipo de cumprimento de pena ou determinada posição na penitenciária. 
 Criminosos ocasionais e bandidos com extenso currículo criminal não podem, jamais, ocupar o mesmo espaço no interior de estabelecimento prisional. A proliferação do crime organizado dentro dos presídios se deve à execução falha, corroborada por essas leis radicais que buscam solução imediata e não atingem o interesse da sociedade como um todo. 
 Assim, é necessário buscar vias para que as penas privativas de liberdade se façam eficazes em relação ao seu objetivo ressocializador e re-educador, priorizando nos presídios o entretenimento dos presos com atividades educacionais e profissionalizantes, bem como o esporte e o lazer.
 Desta forma, uma das alternativas à situação caótica do sistema prisional brasileiro seria incentivar as parcerias público-privado, objetivando humanizar as condições existentes nas prisões e aperfeiçoar os meios para que a sentença judicial seja cumprida integralmente, bem como possa proporcionar a reintegração do apenado ao convívio social após haver cumprido sua pena, a exemplo da privatização que tem ocorrido nas prisões norte-americanas e francesas, cujos modelos são analisados a seguir.
CAPÍTULO 3. A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS 
A atual situação do sistema carcerário brasileiro é dramática e não é nova ou apenas conjuntural. A grave crise que aflige o sistema penitenciário brasileiro é estrutural e deve ser assim enfrentada sob pena de serem criadas vãs expectativas, pois estando o sistema carcerário brasileiro em uma situação caótica, várias alternativas vêm sendo propostas. Umas das mais recentes e controvertidas e a idéia de privatização. A privatização é a entrega ao particular de encargos públicos, que o explorará economicamente, ou seja: a entrega da direção da prisão à companhia privada, a utilização do trabalho dos presos nas prisões industriais pelos particulares e a entrega de determinados serviços para o setor privado.
 O termo “privatização”, porém, não deve ser confundido com o termo “terceirização”, pois privatizar abrange tanto as formas total quanto parcial de funcionamento de uma dada instituição, enquanto a terceirização ocorre apenas de forma parcial. Ou seja, O termo privatização – sentido lato – engloba as diversas formas pelas quais o Estado busca a colaboração do setor privado, quais sejam: a desregulação, a desmonopolização, a privatização de serviços públicos, a concessão de serviços públicos e as contratações de terceiros (contracting out).
 Existe, também, um conceito mais restrito de privatização, adotado no Direito Brasileiro, pela Lei n° 8.301/90, na qual ações de empresas estatais são transferidas para o setor privado. Por sua vez, o termo terceirização é aplicado para descrever uma das formas de privatização, definida como a contratação, por determinada empresa, de serviços de terceiros para o desempenho de atividade-meio, realizado com finalidade de deixar a administração geral despreocupada dessas funções para poder concentrarse em atividades consideradas essenciais.
Nestes termos, João Marcello de Araújo Júnior, argumenta que há várias formas de participação das empresas privadas no setor penitenciário, a saber: 1) uma companhia privada edifica, gerencia e comanda a prisão, recebendo os presos diretamente do Estado (das Cortes de Justiça) ou indiretamente de algum outro lugar do sistema penal (privatização total); 2) A companhia privada edifica a prisão e a aluga ao Estado que a gerirá com o seu próprio pessoal; 3) Certos serviços numa prisão são contratados com companhias privadas, tais como fornecimento de alimentação, educação e assistência médica; 4) Prisões-indústria em que o trabalho do preso passa a ser objeto de lucro das empresas particulares. Tais estabelecimentos são construídos por empresários, ou os presos podem ser contratados para trabalhar em companhias vizinhas. 
3.1. PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS: ASPECTOS CONCEITUAIS 
Partindo da concepção de Rita Andréa Rehem Almeida Tourinho, compreende-se que, no Brasil, a privatização consiste num processo de gestão empresarial pelo qual ocorre a transferência para terceiros, representados por pessoas físicas ou jurídicas, de serviços que originalmente seriam executados dentro da própria empresa. Ao aplicar este conceito ao sistema carcerário brasileiro, Maurício Kuehne explica que o processo de privatização dos presídios envolve quatro enfoques doutrinários diferentes: 1. privatização total da administração dos presídios; 2. privatização da construção dos presídios para alocação e gerenciamento estatal; 3. exploração da mão-de-obra dos encarcerados por empresas privadas visando custear as despesas do preso e reduzir sua pena; 4. privatização de alguns setores ou serviços (alimentação, rouparia, segurança) para reduzir custos governamentais com os presídios. Porém, o próprio autor argumenta que essas possibilidades de privatização apresentam aspectos polêmicos, como bem expõe: Em primeiro momento, teríamos a administração total pela empresa privada que construiria o seu presídio e lá seriam alocados os seres privados de liberdade.
 Mas, contrariamente ao que muitos pensam, o Estado não poderia “lavar as suas mãos” em relação à sustentação do particular no aspecto econômico, porque teria de subvencionar – como o faz – a entidade encarregada naturalmente de estar ali a albergar esses cidadãos privados de liberdade, o que representa um custo.
 Outro enfoque seria a construção de presídios pela empresa privada e a posterior locação pelo Estado. Trata-se de uma situação que não ouso dizer que seja pacífica, mas existem Estados no Brasil que irão conciliar empresas à construção desses presídios para que, no amanhã, aloquem-se aqueles presídios que, certamente, irão se acautelar, efetuando um contrato de locação, ao menos, por dez, quinze ou vinte anos,de tal sorte a lhe assegurar o retorno respectivo do numerário que ali veio a empregar, e a construção feita pela empresa particular será sensivelmente mais barata do que aquela efetivada pelos segmentos públicos.
Outro aspecto, no que concerne à questão da privatização, seria o da utilização do trabalho dos presos pela empresa. Hoje podemos dizer, tranqüilamente que, frente aos comandos insertos do Código penal, na Lei de Execução Penal, o trabalho, tanto interno quanto externo, é perfeitamente possível e viável, e nenhuma alteração legislativa seria necessária para viabilizar tal modalidade de serviços.
 Com enfoque no problema da terceirização, quer por imperativo constitucional, quer por imperativo legal, não podemos compactuar. Ousaria afirmar que, em termos de elenco dos direitos e das garantias individuais contidos na Constituição, os eventuais projetos, como o Projeto de Emenda Constitucional, que visa possibilitar que o Brasil possa trabalhar com a privatização dos presídios, na sua modalidade básica e fundamental – citamos como exemplo os Estados Unidos – eu afasto, porque existem cláusulas pétreas a fazer com que o respeito à dignidade do ser humano deva existir. 
Mas na terceirização, no enfoque de que em determinados setores aqueles aspectos relacionados à administração da pena, materialmente falando, não o aspectos de segurança, de jurisdição, mas, por exemplo, o serviço da alimentação poderia ser terceirizado? Poderia, perfeitamente. 
Em síntese, a privatização dos presídios pode ocorrer tanto nos aspectos administrativo e gerencial dos presídios, quanto pode restringir-se à terceirização de alguns setores ou serviços específicos. No entanto, de maneira geral, privatizar os presídios significa tirar doEstado a responsabilidade de construir, gerenciar e manter os presídios, passando para empresas privadas essa responsabilidade. 
De acordo com Edmundo Oliveira, a história das prisões privadas tem seus primórdios ainda nas tribos primitivas que utilizavam árvores, fossas, cavernas, torres, túmulos e troncos para aprisionar seus inimigos e, assim, fazer justiça por alguma lesão ou perda sofrida.
 Durante o período da Idade Média, a prisão privada consistia em recintos utilizados por congregações religiosas com a finalidade de castigar condenados para que estes pudessem ser absolvidos de seus pecados. 
No contexto da sociedade moderna, as prisões privadas ganharam forças com a aprovação da Lei de 5 de agosto de 1850, pela Assembléia Nacional da França, objetivando: a) autorizou a criação de Colônias Penitenciárias Correcionais Públicas ou Privadas para receber menores ou jovens delinquentes, dos dois sexos, presos em razão de crimes, delitos ou contravenções; b) as Colônias Privadas só deveriam funcionar dirigidas por particulares que tivessem a autorização do Estado. 
No entanto, há certa polêmica gerada pela ideia da privatização dos presídios. Existem opiniões divergentes em relação a sua eficácia e efeitos, quanta à possibilidade jurídica no que se refere aos princípios constitucionais e legais, questionando se há ofensa aos princípios éticos e aos direitos humanos, ao custo de sua implantação e manutenção, dentre outras formas. 
Consequentemente, alguns modelos de privatizações dos presídios têm se formado ao longo desse período, destacando-se entre eles o modelo americano e o francês, que têm sido utilizados como base para sustentar a proposta de um modelo de privatização das prisões brasileiras. 
3.2. O MODELO DE PRIVATIZAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS 
Nos Estados Unidos a iniciativa privada pode ser competente responsável pela direção, gerenciamento e administração da prisão, inclusive pelo serviço de segurança. A partir dessa proposta, o modelo norte-americano de sistema penitenciário apresenta-se sobre três aspectos: o arrendamento das prisões; a administração privada das penitenciárias; e a contratação de serviços específicos com particulares, como explica Rafael Damasceno de Assis ao discorrer sobre os modelos de gestão privatizada de prisões: No modelo de arrendamento, as empresas privadas financiavam e construíam as prisões e depois a arrendavam-na ao governo federal, sendo que depois de um determinado tempo sua propriedade passava ao Estado. 
Já no modelo de administração privada, a iniciativa privada tanto construía como administrava as prisões. O terceiro modelo consistia na contratação de empresas privadas para a execução de determinados serviços. Era essencialmente uma terceirização. O Estado fazia um contrato com o particular que abrigava, alimentava e vestia os presos, tendo como contraprestação o seu trabalho. 
Em todos esses modelos o preso era tido como terceiro beneficiário do contrato realizado entre o poder público e a empresa particular, sendo que ele poderia compelir juridicamente o empresário a cumprir com as obrigações estabelecidas no referido contrato. 
Com esse modelo, os norte-americanos desenvolvem uma gestão de problemas sociais que se dá, na visão de Cláudio Alberto Gabriel Guimarães, através da exploração da miserabilidade dos presos e oferecendo à sociedade a oportunidade de ver afasta de si uma população potencialmente perigosa, que além de ser mantida sob controle, torna-se produtiva e lhes oferece mão-de-obra acessível e de baixo custo. 
3.3. O MODELO DE PRIVATIZAÇÃO DA FRANÇA 
No sistema francês a iniciativa privada gerencia e administra conjuntamente com o Estado o estabelecimento prisional. De acordo com Rafael Damasceno de Assis, o modelo de privatização das prisões francesas, apesar de inspirado no modelo americano, possui algumas peculiaridades, haja vista que Na França, foi implantado o sistema de dupla responsabilidade (ou cogestão), cabendo ao próprio Estado e ao grupo privado o gerenciamento e a administração conjunta do estabelecimento prisional.
 Nesse modelo competia ao Estado à indicação do Diretor-Geral do estabelecimento, a quem competia o relacionamento com o juízo da execução penal e a responsabilidade pela segurança interna e externa da prisão. A empresa privada encarrega-se de promover, no estabelecimento prisional, o trabalho, a educação, o transporte, a alimentação, o lazer, bem como a assistência social, jurídica, espiritual e a saúde física e mental do preso, vindo a receber do Estado uma quantia por preso/dia para a execução desses serviços. 
Tanto no modelo norte-americano, quanto no modelo francês de privatização de prisões, o que predomina é compromisso do governo em pagar por preso, por dia, para empresa privada. Esse modelo, porém, é inviável para países como o Brasil devido ao fato de se buscar justamente um sistema penitenciário que reduza os gastos públicos com presos e que resolva o problema das prisões superlotadas e maus tratos dos apenados. 
3.4. A PRIVATIZAÇÃO DE PRESÍDIOS NO BRASIL 
A legislação brasileira emprega o termo privatização, no contexto do sistema prisional, em sentido amplo que, segundo Toshio Mukai: “significa transferir para a iniciativa privada não só o serviço público, mas também a própria empresa estatal que até então o preste”. 
A Constituição Federal brasileira de 1988, em seu artigo 175: "incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação a prestação de serviços públicos", ou seja, os serviços públicos podem ser delegados a empresas particulares selecionadas pelo poder público por meio de licitação. A lei n° 8987, de 13 de fevereiro de 1995, regulamenta e disciplina as concessões e permissões dos serviços públicos. 
De acordo com Hely Lopes Meirelles, pela concessão, o poder concedente não transfere propriedade alguma ao concessionário, nem se despoja de qualquer direito ou prerrogativa pública. Delega apenas execução do serviço, nos limites e Qual é o remédio para esse problema social?. Assim, a privatização dos presídios deve ser compreendida como sendo uma maneira de concessão de serviço público visando a admitir a participação da iniciativa privada na primordial e arriscada função pública de gerenciar as unidades prisionais. 
Segundo a classificação de Evandro Lins e Silva a privatização no âmbito do sistema carcerário pode apresentar basicamente quatro formas: a entrega da direção da prisão à companhia privada, a entrega da construção à iniciativa privada que posteriormente a aluga ao Estado, a utilização do trabalho dos presos nas prisões industriais pelos particulares e a entrega de determinados serviços para o setor privado, chamado de terceirização. 
No Brasil, já há algum tempo a questão da privatização dos presídios é discutida. Em 1992, Edmundo de Oliveira apresentou proposta de privatização do sistema penitenciário ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, sedimentada em estudos realizados por experiências de privatização colocadas em prática em estabelecimentos prisionais dos Estados Unidos, França, Inglaterra, Bélgica e Austrália. 
De acordo com esta proposta, o processo de privatização seria implementado sob forma de gestão mista, em que a administração pública seria responsável pela direção geral do estabelecimento prisional, pela segurança, pela supervisão das atividades de reinserção social, fiscalização e comprimento das obrigações assumidas pela empresa, podendo aplicar as sanções contratuais. 
Ao grupo particular caberia implementar o fim pedagógico de reinserção moral e social do detento, a construção, manutenção e funcionamento do estabelecimento prisional, fornecimento dos equipamentos, auxiliar a segurança e a vigilância, os serviços de hotelaria, oferecer trabalho remunerado, cursos, assistência social e psicológica, entre outras funções, aos apenados. Dessa forma, a função jurisdicional do Estado de comandar e controlar a execução penal seriam preservados.Na concepção de Roberto da Silva, os modelos de administração penitenciária, adotados no Brasil, têm como pilares básicos a gestão privada, a gestão terceirizada, a gestão estatal e a gestão comunitária, sendo que a gestão terceirizada vem sendo adotada no Estado do Paraná e no município de Cariri, no Ceará; enquanto a gestão estatal é hegemônica no país inteiro. Por sua vez, a gestão comunitária há mais de trinta anos tem sido praticada no Estado de São Paulo, em cidades como Bragança Paulista, Lins, Sumaré, Avaré, Marília, Araçatuba e Limeira.
 O modelo de gestão privada desenvolvido no Brasil tem sido adotado com base em cinco modelos voltados para a subordinação à lógica da geração de bens e de serviços dentro dos presídios por meio do uso da mão de obra dos presos. Esses modelos são assim apresentados: 1. Private Service Model, pelo qual o governo contrata uma entidade, com fins lucrativos ou não, para prestação de serviços específicos; 2. Private Construction Model, em que empresas privadas são proprietárias dos terrenos, constroem prisões próprias e as alugam ao Estado; 3. Private Management Model, em que prisões locais ou estaduais são dirigidas por empresas privadas mediante pagamento feito pelo Estado; 4. Private Takeover Model, quando uma empresa privada assume, mediante contrato ou aluguem, a totalidade de um sistema estadual ou local, desde a construção até a operação das prisões; 5. Private Ownership and Operation Model, mais generalizado nos Estados Unidos, que consiste em empresas privadas terem suas próprias prisões e as operarem completamente. 
Verifica-se que, desde o século XIX, tem sido comum no Brasil à organização das prisões segundo o modelo Arburniano, ou seja, os presos trabalham durante o dia e são recolhidos às suas celas à noite, o que torna produtiva a mão-de-obra muitas vezes ociosa dos presos, bem como favorece a terceirização de recursos humanos, conforme tem sido realizado na Penitenciária Industrial de GuarapuavaPR e do Cariri-CE, que são hoje os mais completos sistemas de prisão privatizada do Brasil. 
O modelo adotado no Brasil está sendo aplicado uma fórmula de gestão mista, envolvendo a administração pública e a iniciativa privada, cabendo ao Estado dirigir o estabelecimento, cuidar da vigilância, da segurança e ainda supervisionar as atividades materiais de reinserção social e moral do preso, levados a efeito pela instituição privada. 
A terceirização de alguns serviços está sendo adotada em algumas instituições penitenciárias no Brasil, mais especificamente no Estado do Paraná, onde existem algumas unidades que contam com a participação da iniciativa privada por intermédio da terceirização de alguns serviços. Podemos citar como exemplo a Penitenciárias de Foz do Iguaçu; Cascavel; Guarapuava; a Estadual de Piraquara, e ainda, as Casas de Custódia de Londrina e Curitiba.
3.4.1. A penitenciária Industrial Regional do Cariri-CE 
A Penitenciária Industrial Regional do Cariri encontra-se em funcionamento desde 2001, quando o governo do Ceará, por meio da Secretaria de Justiça e em parceria com a empresa Companhia Nacional de Administração Prisional – CONAP, realizou a construção de um complexo penitenciário que se caracteriza como um modelo de gestão mista, no qual CONAP torna-se responsável e competente para Selecionar, recrutar, contratar sob sua inteira responsabilidade, observadas as regras de seleção da Superintendência do Sistema Penal – SUSIPE, preferencialmente da Região do Cariri, os recursos humanos necessários para o pleno desenvolvimento da Penitenciária Industrial do Cariri, assumindo os encargos administrativos dos mesmos e cumprindo com todas as obrigações trabalhistas, fiscais, previdenciárias e outras, em decorrência de sua condição de empregadora/contratante89 . 
A Penitenciária Industrial Regional do Cariri possui uma infraestrutura capaz de fornecer todos os subsídios necessários a ressocialização do preso, principalmente no que se refere à realização de trabalhos diversos dentro da própria instituição, devido às parcerias que o presídio firmou com diversas empresas da região no sentido de utilizar a mão-de-obra dos presos para a execução de alguns de seus serviços. Consequentemente, “através do trabalho, os internos ganham dignidade e obtém o benefício da remição, ou seja, para cada três dias trabalhados diminui-se um dia no tempo do cumprimento da pena”9. Além disso, a prisão é gerenciada de forma a evitar, ao máximo, a corrupção e o tráfico de drogas entre os presos, pois “para se evitar a intimidade dos internos com os agentes de disciplina, é realizado um rodízio de funcionários por hora e setor. 
Em qualquer suspeita de intimidade do agente de disciplina com os internos, aquele (o agente) é desligado, para não se deixar nenhuma suspeita". 3.4.2 A Penitenciária Industrial de Guarapuava – PR A penitenciária Industrial de Guarapuava, localizada no Estado do Paraná, foi inaugurada em 12 de novembro de 1999, constituindo-se na primeira penitenciária industrial do país, destinando-se a atender presos condenados do sexo masculino, em regime fechado e no qual os presos têm o compromisso de trabalhar como se tivesse no cotidiano de uma fábrica. 
O principal objetivo deste modelo de penitenciária é promover a ressocialização dos apenados, possibilitando que se mantenha próximo de sua família ao ofertar-lhe condições de trabalho e profissionalização e com isso, dar-lhe tanto a oportunidade de se reintegrar à sociedade quanto de reduzir sua pena. Este presídio possui características específicas e diferenciadas das penitenciárias públicas, pois seu gerenciamento e operacionalização é realizado por uma empresa privada contratada pelo Governo do Estado do Paraná para esse fim. 
Assim sendo, tem-se que: A empresa fornece toda infra-estrutura de pessoal como segurança, técnicos administrativos e serviços gerais. Fornece, ainda, material de expediente e de limpeza, alimentação, medicamentos, uniformes, material de higiene pessoal, roupa de cama, entre outros. 
Ao Estado, por sua vez, compete o controle e a administração da custódia do preso. O uso de uniformes é obrigatório tanto para os agentes penitenciários como para os presos, da mesma forma que a Lei Estadual n.o 8852/88, referente ao tabagismo, é aplicada tanto para presos como para funcionários. Todos os detentos ao chegar passam por um processo de desintoxicação, acompanhados por um médico, uma psicóloga e uma assistente social, todos mantidos pela empresa Humanitas, responsável pela unidade.
Esse acompanhamento perdura durante o tempo que o preso continua na unidade. O projeto arquitetônico da Penitenciária Industrial de Guarapuava se privilegia de uma área para indústria de mais de 1.800m². No barracão da fábrica trabalham 70% dos internos da Unidade, em 3 turnos de 6 horas, recebendo como renumeração 75% do salário-mínimo; os outros 25% são repassados ao Fundo Penitenciário do Paraná, como taxa de administração, revertendo esses recursos para melhoria das condições de vida do encarcerado. 
A empresa fornece toda infra-estrutura de pessoal (segurança, técnicos, administrativos e serviços gerais), material de expediente e de limpeza, alimentação, medicamentos, uniformes, material de higiene pessoal, roupa de cama, etc. A Penitenciária Industrial de Guarapuava dispõe de um sistema de monitoramento dos setores, através de circuito fechado de TV, permitindo a observação da movimentação dos presos no interior da unidade e, externamente, no acesso de veículos e pessoas. Possui, ainda, portões automatizados, quadrantes suspensos, sistema detector de metais fixo e móvel de rádios. 
Os custodiados que não estão locados no canteiro da fábrica trabalham em outros setores, tais como: faxina, cozinha, lavanderia e embalagens de produtos. Todos recebem remuneração (75% do salário-mínimo) e o benefício da remição de pena (1 dia remido a cada 3 dias trabalhados). Os canteiros de trabalho funcionam em 3 turnos de 6 horas, possibilitando que todo o tratamento penal (atendimento jurídico, psicológico,médico, serviço social, odontológico, escola, atividade recreativa) seja executado no horário em que o interno não está trabalhando98. 
O Estado, através de seus funcionários investidos nos cargos de Direção, Vice-Direção e Fiscal de Segurança da Unidade, orienta, acompanha, fiscaliza e legitima o trabalho da empresa, que é executado em estreita observância da Lei de Execução Penal e das normas e rotinas do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná - DEPEN. O funcionamento da Penitenciária Industrial de Guarapuava está assentado no tripé formado pelo Estado (responsável pela custódia do preso), pela empresa contratada (responsável pela operacionalização da Unidade) e pela iniciativa privada (responsável pela disponibilização de trabalho para os sentenciados). No entanto, apesar de todos os aspectos apresentados, muitas questões ainda são levantadas quando se fala em privatização do sistema carcerário brasileiro, fazendo-se necessária uma abordagem mais detalhadas sobre os aspectos favoráveis e desfavoráveis desses modelos, conforme abordagem apresentada nos capítulos que se seguem. 
Na concepção de Edmundo Oliveira, o processo de privatização das prisões envolve vários aspectos negativos, ressaltando-se os seguintes argumentos contrários a essa prática:
 1° O dever constitucional de punir e recuperar delinqüentes é exclusivo do Estado. 
2° A preocupação da iniciativa privada é o lucro e não o interesse na reinserção social do delinqüente e muito menos o bem-estar da comunidade; 
3° Risco de aumentar o número de encarcerados, pois, quanto mais presos, melhor será para a empresa privada obter mais lucros; 
4° Implantação de trabalho forçado, sem a livre adesão do preso; 
5° Perigo de prisão controlada por empresa que tem negócios com o crime organizado;
6° Exploração de indivíduos indefesos e obrigados a aceitar as regras do jogo na prisão; 
7° Dando primazia ao aspecto econômico-financeiro, a empresa privada subestima a pedagogia, não cuidando de contratar pessoal apropriadamente qualificado e bem treinado; 
8° A instituição privada só quer presos bem comportados e não violentos, deixando os perigosos para o Estado cuidar; 
9° A empresa privada não investirá no progresso pessoal do preso, pois prefere ter mão-de-obra limitada intelectualmente e não esclarecida; 
10° Mesmo havendo um Diretor Prisional vinculado ao serviço público, como poderá ele ser responsável por atos de funcionários do estabelecimento, vinculados à empresa privada? 
11° Como pode uma empresa privada impor sanção disciplinar a um preso, se foi com o Estado que ele desenvolveu uma relação jurídica de direitos e deveres quando foi condenado por uma sentença criminal? 
12° Permitindo prisão privada, o Estado passa a ter duas preocupações: com o preso e com o pessoal da empresa, para evitar abusos e violação dos direitos humanos.
 13° Os servidores penitenciários precisam ter formação técnica homogênea para cuidar da recuperação do preso, daí a incoerência de se preparar um grupo de pessoal penitenciário para atuar em prisão pública e outro grupo para atuar em prisão privada. 14° Entre ter despesas com a qualidade da prisão e gastar com publicidade, para preservar a boa imagem, a empresa privada vai investir no marketing. 
Com base em todas as limitações das propostas de privatização das prisões, observa-se que, no Brasil, tais propostas têm causado polêmica por ainda apresentar vários aspectos considerados negativos como: a garantia de continuidade da prestação do serviço, a qualidade real obtida com a privatização, os elevados custos para manutenção desse sistema e, por fim, a inconstitucionalidade e ilegalidade de se privatizar as prisões, tirando do Estado a responsabilidade pela administração e gerenciamento desses estabelecimentos. 
 Os argumentos contrários à privatização são muitos e validos, defendidos por vários juristas e, em algumas circunstâncias, baseados em resultados de análise dos modelos já implementados, a exemplo da Penitenciaria Industrial Regional do Cariri – CE, que segundo Lívia Portes Braga, passou pela análise de uma comitiva oficial composta pela Assembléia Legislativa, a Pastoral Carcerária, o escritório Frei Tito, a OAB-CE, o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado do Ceará e o Fórum Cearense sobre Sistema Penitenciário, demonstrando que, no referido presídio, há Inúmeras irregularidades, entre as quais: as funções internas de segurança pública são realizadas e comandadas pela empresa Humanitas; existência de uma comissão disciplinar, nas dependências do presídio, formada pelo próprio pessoal da empresa, para aplicação de sanções disciplinares aos detentos de mau comportamento; a remuneração de advogados para prestarem assistência jurídica aos presos; a persistência dos problemas estruturais e o custo elevado por preso não se refletia na realidade da penitenciária. 
 Esses dados são apresentados em muitos outros estudos sobre o tema, demonstrando-se que a proposta de trabalhar em parceria público-privado, baixar custos e promover qualidade ao atendimento das necessidades dos presidiários, bem como inseri-los em programas de ressocialização não têm sido alcançados nos modelos de prisão privada adotados no Brasil. Diante desses fatos, questiona-se: até que ponto a prisão privada garante a continuidade e qualidade dos serviços prestados nos presídios e em que aspectos a privatização torna-se inconstitucional e ilegal? 
41 4.1.1 AUSÊNCIA DE GARANTIA DE CONTINUIDADE DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 
A relação entre o Estado e a empresa privada que assume o compromisso de prestar seus serviços a um estabelecimento prisional se dá por meio de um contrato com prazo determinado, o que leva ao questionamento da garantia de continuidade da prestação do serviço, pois para realizar o contrato com o Estado, segundo determinações do art. 175 da Constituição Federal, faz-se necessária à realização de um processo de licitação. Consequentemente, ao perder a licitação, a empresa afasta-se do serviço para que outra o assuma e, com isso, o serviço deixa de ser contínuo, podendo prejudicar o andamento dos trabalhos realizados. 
 Além disso, ressalta-se que “admitindo-se a possibilidade de delegação da competência para execução penal, tanto o Governo quanto o particular podem rescindir o contrato administrativo firmado em decorrência do processo de licitação”. Observa-se que, visando evitar problemas com a quebra da continuidade do serviço privado nos presídios, propõe-se um modelo de privatização prisional federal por meio da qual se realiza uma gestão mista dos presídios que envolve a administração pública e a privada. 
 Como argumenta João Marcello de Araújo Junior Nesse projeto, os servidores do sistema penitenciário continuariam sendo servidores estatais. A empresa privada construiria a prisão dentro dos parâmetros da Administração e gerenciaria o centro penal. Também poderia explorar o trabalho remunerado dos presos. Estes contribuiriam com seu trabalho para a manutenção do estabelecimento. Seria não só para presos condenados mas, também, para os presos provisórios. Os lucros obtidos com o produto dos investimentos seriam auferidos pelo grupo ou empresa privada. Os contratos não seriam superiores ao período de 10 anos. 
 Os terrenos seriam concedidos pelo Governo Federal e as construções e benfeitorias poderiam ser incorporados ao patrimônio da empresa privada. Essas são, em linhas gerais, as características básicas do modelo federal. Analisando-se a proposta apresentada neste modelo, constata-se que os contratos firmados entre o Estado e a empresa privada, não podendo ser superiores ao prazo de 10 anos, por si só já demonstram a descontinuidade dos serviços.
 Ressalta-se, ainda, que mesmo os contratos sendo claramente definidos, nada garante o seu pleno cumprimento, haja vista que ocorrem situações em que uma das partes pode vir a manifestar desinteresse em manter o acordo firmado. Conseqüentemente,Mesmo que sejam estipuladas cláusulas com determinadas exigências para dificultar este rompimento, sempre existe a possibilidade de desfazer o negócio realizado, pois não há amparo legal para obrigar a empresa a cumprir o prazo estipulado contratualmente se esta continuidade não for à vontade das partes contratantes. 
 Entretanto, este rompimento pode gerar complicações para Governo e para a sociedade. Além disso, outro fator pode vir a comprometer a qualidade do serviço a ser prestado nos presídios e conseqüentemente a segurança da sociedade, é a entrega da responsabilidade sobre as atividades de gestão prisional a aventureiros, que podem vir a criar uma empresa sem estrutura e preparo necessários para a execução das atividades a que se propõem, visando somente à questão econômica de participação em um mercado promissor. 
 Outro fator que torna a continuidade do serviço privado questionável é a questão do custo com a privatização. Ao se privatizar um estabelecimento prisional no Brasil, o custo por preso muitas vezes se torna o dobro, ao invés de reduzi-lo, como se propõe inicialmente a privatização prisional. 
 Neste sentido, Fabrício C. Petra de Barros, em seu estudo monográfico sobre a privatização do sistema carcerário brasileiro apresenta dados que demonstram o elevado custo dos serviços privados no contexto penitenciário brasileiro: No Brasil, na penitenciária de Guarapuava, o custo médio por preso para o Estado chega a R$ 1.400,00 por mês, enquanto nas cadeias públicas este valor é em média de R$ 600,00. Para manutenção do presídio do Cariri, são pagos cerca de R$ 420,00 mil mensais do Estado, sendo que para manter os mais de cinco mil internos do Ceará, o governo gasta em média R$ 360 mil por mês.
Estes dados demonstram que os gastos com a privatização das prisões se tornam ainda mais onerosos aos cofres públicos, tornando sua prática pouco vantajosa para os orçamentos do governo e causando prejuízos ao patrimônio público. Ressalta-se, então, que se os mesmos recursos gastos com a privatização fossem corretamente aplicados pelo Estado, promovendo-se reformas, construções e adoção de políticas sócio-educativas eficazes, o sistema prisional poderia tornar-se mais eficiente, sem que houvesse a necessidade de privatização. 
Nestes termos, considera-se que os problemas que envolvem o sistema carcerário brasileiro não podem ser abordados apenas por questões de cunho econômico e a falta de verbas para gerenciar adequadamente as instituições prisionais, conforme argumenta João Marcello de Araújo Junior Não se pode reduzir o problema à questão de falta de verbas, pois o isolamento do ser humano em razão de crime é um assunto muito delicado para ser resolvido com cálculos contábeis.
 A gestão pública é a única possível, o que se tem é que encontrar mecanismos além da solução da segregação para a delinquência humana. Condenar a Administração Pública pelas mazelas do sistema carcerário é, no mínimo, simplista e não condiz com a magnitude da questão. Além das questões referentes à continuidade dos trabalhos por parte das empresas privadas que firma contratos com o Estado para assistir às prisões brasileiras, fatores constitucionais e legais também são abordados quando se discute as desvantagens da privatização do sistema carcerário brasileiro.
4.1.2. A INCONSTITUCIONALIDADE E A ILEGALIDADE DA PRIVATIZAÇÃO 
Um dos aspectos que leva ao questionamento do modelo de prisão privada no Brasil refere-se à segurança, à administração e ao gerenciamento de unidades, assim como a aplicação de métodos disciplinares aos apenados, a avaliação do comportamento do preso e ao cumprimento da pena, pois considera o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, conforme determinações da Resolução que tais serviços não podem ser exercidos por empresas privadas, haja vista que o art. 2° dessa Resolução dispõe: Os serviços técnicos relacionados ao acompanhamento e à avaliação da individualização da execução penal, assim compreendidos os relativos à assistência jurídica, médica, psicológica e social, por se inserirem em atividade administrativas destinadas a instruir decisões judiciais, sob nenhuma hipótese ou pretexto deverão ser realizadas por empresas privadas, de forma direta ou delegada, uma vez que compõem requisitos da avaliação do mérito dos condenados.
Observa-se, então, que a privatização das funções administrativas dentro dos presídios brasileiros caracteriza-se como um ato ilegal que fere as determinações da Resolução supracitada. Considerando-se que a execução penal é uma das tarefas do Estado, observa-se, então, que A proposta de privatização dos sistemas penitenciário é ilegal, pois no que tange ao capítulo dos direitos e garantias fundamentais, vários pontos são conflitantes. 
Em primeiro lugar, a Constituição Brasileira de 1988 estabelece em seu art. 5°, inciso III, que ninguém será submetido a tratamento desumano ou degradante. No inciso XLI do mesmo artigo há imposição de punição a qualquer discriminação, atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. 
Em seu inciso XLVII determina a Carta Magna que não haverá pena de trabalhos forçados, enquanto o inciso XLIX assegura o respeito ao princípio da dignidade pessoal, à integridade física e moral do preso e da sociedade como um todo. Por último, o inciso LII ordena que ninguém seja processado ou sentenciado senão pela autoridade competente. João Marcello de Araújo Júnior argumenta que o princípio da jurisdição atribui somente ao Estado o direito e o dever de impor e executar penas e outras sanções. 
Portanto, Inconcebível seria que o Estado executasse a tutela jurisdicional, representado por autoridade que não se reveste de poderes suficientes para tanto. O Estado, seja do ponto de vista moral, seja do ponto de vista jurídico positivista, não está legitimado para transferir a uma pessoa física ou jurídica, o poder de coação de que está investido e que é exclusivamente seu, por ser, tal poder, violador do direito de liberdade. 
Outro aspecto de inconstitucionalidade da sugestão é que a Lei de Execução Penal, além de proibir que o trabalho carcerário seja gerenciado por empresas privadas, proíbe, também, a delegação da gestão penitenciária aos particulares. A violação da indelegabilidade da atividade jurisdicional importa em inconstitucionalidade. Isso significa, então, que a administração penitenciária, que é responsabilidade exclusiva do Estado, sendo caracterizada como uma atividade jurisdicional indelegável, ao ser passada para uma empresa privada, caracteriza um ato inconstitucional. Neste sentido, Lívia Portes Braga argumenta que competência de prestar a assistência ao preso, caracterizando expressamente 
Os opositores consideram que a privatização dos presídios ofende literalmente a Lei de Execução Penal, que em seu art. 10 atribui ao Estado a esta atribuição, bem como a prevenção da criminalidade e a ressocialização do preso, como um dever público. Na concepção de João Marcello de Araújo Júnior, o simples fato de tentar se tirar lucro em cima do trabalho realizado pelos apenados já caracteriza a ilegalidade do sistema penal privado, pois O objetivo teórico da administração penitenciária é combater a criminalidade, e não obter lucros, objetivo maior das empresas que desejam participar da administração penitenciária. Retirando esse lucro da própria existência da criminalidade, tais empresas não irão lutar contra a criminalidade – e se não têm tal interesse, não devem administrar prisões. 
Outro fator que caracteriza a inconstitucionalidade da privatização do sistema carcerário é a inadequação dos contratos firmados entre o Estado e a empresa privada, haja vista que essa inadequação ocorre No momento em que o preso não poder considerado um usuário como o é, por exemplo, aquele que paga para ter acesso a determinado logradouro público. Tais pessoas gozam da liberdade que lhes permite optar ou não em fazer uso dos bens e serviços que estão à sua disposição. 
O preso, por sua vez,

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