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Eutanásia e Posse Responsável Prof. Carlos Alexandre Rey Ma:as MV, MSc UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA Disciplina de Deontologia e Legislação Médico Veterinária Conceitos • Eutanásia -‐ palavra de origem grega, onde eu = bom e thanatos = morte -‐ a sua tradução seria a boa morte ou morte sem sofrimento. • Foi u:lizado pela 1ª vez pelo historiador romano Suetônio, no séc. II d.C., para descrever a morte tranquila do imperador Augusto. • Émile LiQré (1908), “boa morte, morte suave e sem sofrimento”. • É a antecipação voluntária do passamento, imbuída de uma finalidade humanitária, dirigida à suspensão de um sofrimento insuportável. Dor e Sofrimento • Uma pessoa pode experimentar dor sem sofrer (sadomasoquismo) e pode experimentar sofrimento sem dor (angús:a e medo). • A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada à lesão tecidual potencial ou real. • O sofrimento é qualquer percepção de ameaça à integridade do indivíduo, compreendendo além dos danos asicos, outras emoções nega:vas decorrentes de eventos aversivos como medo e ansiedade. Reconhecimento da dor • O diagnós:co da dor em animais é diacil por não poderem se expressar através da fala e porque buscam escondê-‐la como forma de defesa. • No caso de dúvida, qualquer procedimento que possa causar dor ao homem, também causará no animal. • Saber reconhecer alterações no comportamento e no aspecto asico dos animais ajuda a perceber o sofrimento. Comportamento animal O comportamento é influenciado pelo: • Predisposição gené:ca • Experiência prévia • Ambiente em que o animal se encontra Respostas à dor • Modificações do comportamento. • Respostas automá:cas: correr, morder, ficar quieto. • Alerta: vocalização e postura. • Expressão facial. • Autolimpeza diminuída. • Funções corporais: ganho de peso, diminuição do ape:te. • Respostas fisiológicas: níveis de cor:sol, variáveis cardiorespiratórias. Classificação da eutanásia • Eutanásia a:va: ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, por fins humanitários. • Eutanásia passiva: quando a morte ocorre por omissão proposital em se iniciar uma ação que garan:ria a sobrevida do paciente. • Eutanásia de duplo efeito: casos em que a morte é acelerada como consequência de ações que não visam o êxito letal mas sim o alívio do sofrimento do paciente. Conceitos • Distanásia: é o prolongamento do processo da morte, por meio de tratamentos (extraordinários) que apenas têm o obje:vo de prolongar a vida biológica do paciente. • Ortotanásia: “morte no tempo certo”, a:tude entre a eutanásia e a distanásia, garan:ndo uma morte digna, sem abreviações e sofrimentos adicionais, associada à cuidados palia:vos. Eutanásia • O Código Penal brasileiro penaliza a eutanásia em seres humanos como homicídio (art. 121). • Resolução CFMV nº 1000/2012: Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais. • A eutanásia é um procedimento clínico, e sua responsabilidade compete priva:vamente ao médico veterinário. Declaração Universal dos Direitos dos Animais – UNESCO/ 1978 • Art. 3° 1. Nenhum animal será subme:do nem a maus tratos nem a atos cruéis. 2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-‐lhe angús:a. • Art. 6º 1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural. 2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. • Art. 11º Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio. • Art. 13º 1. O animal morto deve de ser tratado com respeito. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO MÉDICO VETERINÁRIO Resolução CFMV nº 722/2002 • No exercício profissional, usar procedimentos humanitários para evitar sofrimento e dor ao animal. • Realizar a eutanásia nos casos devidamente jus:ficados, observando princípios básicos de saúde pública, legislação de proteção aos animais e normas do CFMV. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Eutanásia é a indução da cessação da vida animal, por meio de método tecnicamente aceitável e cien:ficamente comprovado, observando sempre os princípios é:cos. • Deve ser realizado sem dor, ansiedade ou sofrimento para o animal. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • A eutanásia só pode ser indicada em situações onde: I – o bem-‐estar do animal es:ver comprome:do de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor e o sofrimento dos animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, seda:vos e outros tratamentos. II – o animal cons:tuir ameaça à saúdepública. III – o animal cons:tuir risco a fauna na:va ou ao meio ambiente. IV – o animal for objeto de a:vidade cienqfica devidamente aprovada por uma CEUA. V – o tratamento representar custos incompaqveis a a:vidade produ:va do animal ou com os recursos financeiros do proprietário. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Uniformização dos seus procedimentos. • Observando a diversidade de espécies envolvidas. • Mul:plicidade dos métodos aplicados. • Os animais subme:dos à eutanásia são seres sencientes, portanto, capazes de sen:r, interpretar e responder a esqmulos dolorosos e ao sofrimento. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Princípios de bem-‐estar animal relevantes para a eutanásia: 1-‐ elevado grau de respeito aos animais; 2-‐ ausência ou redução máxima de desconforto e dor; 3-‐ inconsciência imediata seguida de morte; 4-‐ ausência ou redução máxima do medo e da ansiedade; 5-‐ segurança e irreversibilidade; 6-‐ ser apropriado para a espécie, idade e estado fisiológico do animal ou animais em questão; 7-‐ ausência ou mínimo impacto ambiental; 8-‐ ausência ou redução máxima de riscos aos presentes durante o ato; 9-‐ treinamento e habilitação dos responsáveis por executar o procedimento de eutanásia para agir de forma humanitária, sabendo reconhecer o sofrimento, grau de consciência e morte do animal; 10-‐ ausência ou redução máxima de impactos emocional e psicológico nega:vos em operadores e observadores. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • A eutanásia em animais quando não executada pelo médico veterinário, deve ser realizada sob a supervisão deste, por indivíduo treinado e habilitado para o procedimento. Cabe ao médico veterinário: 1-‐ garan:r que os animais sejam subme:dos à eutanásia em ambiente tranquilo e adequado, respeitando os princípios básicos norteadores dos métodos de eutanásia; 2-‐ atestar a morte do animal observando a ausência dos parâmetros vitais; 3-‐ manter os prontuários com os métodos e técnicas empregados sempre disponíveis para fiscalização pelos órgãos competentes; 4-‐ esclarecer ao proprietário ou responsável legal pelo animal, quando for o caso, sobre o ato da eutanásia; 5-‐ solicitar autorização, por escrito, do proprietário ou responsável legal pelo animal, para a realização do procedimento, quando for o caso; 6-‐ permi:r que o proprietário ou responsável legal pelo animal assista ao procedimento, sempre que este assim desejar, desde que não existam riscos inerentes. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Confirmação da morte do animal: -‐ ausência de movimentos torácicos e sinais de respiração; -‐ ausência de ba:mentos cardíacos e pulso, que podem ser constatados com a u:lização de estetoscópio, palpação torácica e compressão digital de artéria superficial; -‐ perda da coloração das membranas mucosas, que ocorre por ausência de fluxo sanguíneo, deixando o tempo de reperfusão capilar muito prolongado; -‐ perda do reflexo corneal, que é avaliado por compressão digital da córnea com retração reflexa do globo ocular; -‐ perda do brilho e umidade das córneas e rigor mor:s. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Os principais esqmulos desencadeantes de sofrimento nos animais são a dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto e injúria ou trauma. • A eutanásia é um potencial causador de sofrimento nos animais. • A reação à dor e ao estresse é individual e difere entre os animais de uma mesma espécie, mas principalmente entre indivíduos de espécies dis:ntas. • Não importa apenas o método u:lizado para a eutanásia, mas sim todo o processo incluindo ambiente, número de animais presentes, :po de contenção, familiaridade dos animais com os operadores e condição asica dos animais. Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Métodos de eutanásia: -‐ Químicos -‐ agentes injetáveis -‐ anestesia inalatória -‐ imersão -‐ Físicos -‐ métodos mecânicos Eutanásia -‐ Resolução CFMV nº 1000/2012 • Métodos aceitáveis são aqueles que, cien:ficamente, produzem uma morte humanitária. • Métodos aceitos sob restrição são aqueles que, por sua natureza técnica, ou por possuirem um maior potencial de erro por parte do executor, por apresentarem problemas de segurança ou por qualquer outro mo:vo, não produzam uma morte humanitária. • Métodos inaceitáveis: embolia gasosa; trauma:smo craniano; incineração; hidrato de cloral em pequenos animais; clorofórmio ou éter sulfúrico; descompressão; afogamento; exsanguinação sem inconsciência; imersão em formol; uso isolado de bloqueadores neuromusculares, cloreto de potássio ou sulfato de magnésio;qualquer :po de substância tóxica; eletrocussão; 23 MAUS-‐TRATOS AOS ANIMAIS Lei de crimes ambientais – nº 9.605/98 • Art 32 -‐ Pra:car ato de abuso, maus-‐tratos, ferir ou mu:lar animais silvestres, domés:cos ou domes:cados, na:vos ou exó:cos. Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º -‐ Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didá:cos ou cienqficos, quando exis:rem recursos alterna:vos. Agravante: § 2º -‐ A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. 24 Decreto nº 6.514/ 08 – Infrações administra:vas ambientais • Art. 29. (lei 9.605 -‐ art. 32) Multa de R$ 500,00 a R$ 3.000,00/ indivíduo Posse responsável • O planejamento e execução de ações de manejo das populações de cães e gatos em áreas urbanas são grandes desafios para os gestores municipais. • A prevenção e controle de zoonoses e agravos que envolvam estas espécies, assim como a garan:a de proteção e aumento do bem-‐estar destas espécies animais devem ser as prioridades das ações propostas. Posse responsável • Animais semidomiciliados: possuem um responsável que os deixa com livre acesso à rua • Animais comunitários: possuem mantenedores com forte vínculo com animais • Animais em abandono Posse responsável • As a:vidades de manejo de populações de cães e gatos realizadas no Brasil obje:vam, em sua maioria, o controle de zoonoses de relevância, como a Raiva e a Leishmaniose Visceral. • Métodos de manejo da população canina para Raiva: -‐ restrição da movimentação -‐ controle do habitat -‐ controle reprodu:vo • Reduzir o fluxo da população canina e o número de cães susceqveis à raiva, através de castração e vacinação. Posse responsável • Conhecer a dimensão da população de animais através da realização de censos ou es:ma:vas populacionais. • Conhecer indicadores que reflitam a dinâmica das populações de cães e gatos, como índice de natalidade, mortalidade, migração e abandono de animais. • Implantar programa de registro e iden:ficação de animais para obtenção de um sistema de informação com dados que relacionem os tutores ou responsáveis aos seus animais. Posse responsável • Realizar educação con:nuada humanitária e sensibilizante em guarda responsável, bem-‐estar animal, manejo ambiental de animais sinantrópicos e promoção da saúde. • Executar programa permanente de controle reprodu:vo de cães e gatos em parceria com universidades, estabelecimentos veterinários, ONGs de proteção animal e com a inicia:va privada. • Realizar ações de recolhimento sele:vo de cães e gatos, tais como atropelados, invasores, agressivos e em estado de saúde comprome:do. Resolução CFMV nº 962/2010 • Norma:za os procedimentos de contracepção de cães e gatos em programas de educação em saúde, guarda responsável e esterilização cirúrgica com a finalidade de controle populacional. • Mobilização cole:va, programada, que envolve a realização de procedimentos de esterilização de cães e gatos, em local e espaço de tempo pré-‐determinados, sempre precedidos ou associados a ações concomitantes de educação em saúde e guarda responsável. • Programas com a finalidade de controle populacional deverão ter por base a Educação em Saúde e Guarda Responsável, e não apenas o fluxo de esterilizações.
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