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REPRODUÇÃO POST MORTEM

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” 
AVM FACULDADE INTEGRADA 
 
 
 
 
A REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E O STATUS DO 
CONCEPTURO NO DIREITO SUCESSÓRIO 
 
 
 
Por: Deborah Farah Sobrinho 
 
Orientador 
Prof. Francis Rajman 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” 
AVM FACULDADE INTEGRADA 
 
 
 
A REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E O STATUS DO 
CONCEPTURO NO DIREITO SUCESSÓRIO 
 
 
 
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada 
como requisito parcial para obtenção do grau de 
especialista em Direito Privado. 
Por: Deborah Farah Sobrinho.
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AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
....aos amigos e parentes pelo apoio e 
pelas opiniões/sugestões e ao professor 
orientador pela atenção e respeito ao 
trabalho ora apresentado...... 
 
 
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DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
.....dedico a minha mãe pelo apoio, tolerância 
e por acreditar em mim 
incondicionalmente...... 
 
 
 
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RESUMO 
 
O presente trabalho monográfico tem como escopo proceder 
a uma análise preliminar dos conceitos inerentes ao Direito Sucessório e 
de seus institutos peculiares. Visa, ainda, clarificar em que consiste a 
reprodução assistida, suas espécies, técnicas utilizadas e como é tratada 
pela legislação nacional. Salientam-se, também, aspectos relacionados 
às concepções éticas no que diz respeito ao tema e a necessidade da 
observação dos direitos fundamentais, os quais não podem e nem 
devem ser afastados seja qual for a circunstância. Entretanto, a questão 
central objeto da presente monografia são os casos de reprodução 
assistida após a morte de seu genitor, como se deslindaria esse eventual 
direito sucessório do concebido. Ambiciona-se, aqui, traçar um panorama 
de como a doutrina e a jurisprudência vem se manifestando, 
posicionando acerca do tema, bem como as concepções do direito 
estrangeiro, do direito comparado nas situações de inseminação post 
mortem e a aplicação dos direitos sucessórios. 
 
Palavras-chave: Direito Sucessório; Reprodução Assistida; Inseminação 
Post Mortem. 
 
 
 
 
 
 
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METODOLOGIA 
 
As questões relacionadas à reprodução assistida, seus 
aspectos médicos, éticos e jurídicos são analisadas na sua ampla 
acepção. 
 
Busca-se para o deslinde das controvérsias, trazer os 
posicionamentos tanto da doutrina quanto da jurisprudência acerca do 
tem em comento. 
 
Para cumprir tal objetivo, utilizou-se o método indutivo de 
abordagem e o método monográfico de procedimento, procurando utilizar 
–se essencialmente da documentação indireta, através de pesquisa 
bibliográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO..............................................................................................................01 
 
CAPÍTULO I 
DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA.......................................................03 
1.1 – Da inseminação artificial.......................................................................................03 
1.2 – Da fecundação “in vitro”.......................................................................................04 
1.3 – Da doação e criopreservação dos gametas e embriões......................................05 
 
CAPÍTULO II 
DIREITOS FUNDAMENTAIS, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E SEUS ASPECTOS 
ÉTICOS.........................................................................................................................08 
 
CAPÍTULO III 
O DIREITO DE HERANÇA E A PROLE EVENTUAL....................................................12 
1.1 – Direito de herança e suas características...... ......................................................12 
1.2 – Princípios norteadores..........................................................................................15 
1.3 – Prole Eventual......................................................................................................17 
 
CAPÍTULO IV 
A REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E O DIREITO SUCESSÓRIO 
.......................................................................................................................................19 
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1.1 – As posições civilista e constitucional acerca da controvérsia..............................19 
 
 
CAPÍTULO V 
A SUCESSÃO NOS CASOS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E O 
DIREITO COMPARADO...............................................................................................24 
 
CAPÍTULO VI 
SUGESTÕES E PROJETOS ACERCA DOS CASOS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
POST MORTEM NO DIREITO SUCESSÓRIO.............................................................25 
 
CONCLUSÃO................................................................................................................27 
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA....................................................................................28 
 
ANEXOS........................................................................................................................30
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INTRODUÇÃO
 
Há muito tempo vem se discutindo os problemas 
relacionados a infertilidade, sua repercussão na vida pessoal, social, o 
medo da insatisfação no âmbito familiar, e juntamente com a narrativa 
desses problemas vem se formulando possíveis soluções, 
procurando-se cada vez mais a melhor alternativa para reverter tal 
impossibilidade. 
 
 Este estudo vem trazer à baila as técnicas de reprodução 
assistida que vem sendo utilizadas e suas respectivas indicações 
médicas, abordando, ainda, aspectos éticos concernentes a esta e a 
devida e necessária proteção aos direitos fundamentais de todos os 
envolvidos, dos genitores e do concepturo. 
 
Mas diante de casos novos de sucesso da técnica e de sua 
aplicação, surgiu outra situação que merecia especial atenção do direito 
na tentativa de dar resposta as pessoas que estavam subsumidas 
naquelas ocorrências, que seria o caso da reprodução assistida realizada 
após a morte do cônjuge ou companheiro da receptora do sêmen, e suas 
conseqüências jurídicas no âmbito do Direito das Sucessões. 
 
Importante a discussão das implicações jurídicas dessa 
celeuma no caso concreto e se o concepturo seria ou não nesta 
circunstância considerado herdeiro. 
 
Optou-se por tal discussão devido a necessidade de 
regulação de tais situações que vem ocorrendo de forma cada vez mais 
freqüente, e os grandes e rápidos avanços da medicina que visam a 
 
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busca na melhoria da qualidade de vida das pessoas, não pode ser 
dificultado ou prejudicado por questões de ordem jurídica, afinal qualquer 
um quando deparado com situação de fato alegaria que o concepturo 
seria e deveria se habilitar como herdeiro. 
 
No que tange ao tema, os doutrinadores e a legislação se 
dividem, o Código Civil dispõe no art. 1798 que o concebido post mortem 
tem direito ao recebimento de herança apenas nos casos em que o 
genitor deixa tal vontade expressa em testamento. Já a Constituição 
Federal, no art. 227, §6º, veda qualquer distinção relativa à filiação, pelo 
principio da igualdade entre os filhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO I 
DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
 
A Reprodução Assistida consiste numa expressão utilizada 
para definirum conjunto de técnicas cientificas que visam solucionar 
problemas relacionados a infertilidade seja esta masculina ou feminina, 
por meio da manipulação em laboratório de gametas que podem ser os 
espermatozóides ou os óvulos. 
Cabe ressaltar que a utilização de técnicas de procriação 
medicamente assistida só pode verificar-se perante uma situação de 
diagnóstico de infertilidade ou ainda, para tratamento de doenças graves 
ou caso exista risco de transmissão de doenças de origem genética, 
infecciosa ou outras. 
 
E no que tange a infertilidade pode constituir-se em uma 
incapacidade temporária ou permanente em conceber um filho ou em 
levar a termo uma gravidez até ao momento do parto. 
Nos procedimentos de fertilização podem ser usados tanto 
os gametas do casal ou espermatozóides ou óvulos doados. Todo esse 
procedimento científico possui regulação e legislação própria que é 
inerente a cada nação. 
Em realidade reprodução assistida é como se fosse o gênero 
circundado de inúmeras espécies, dentre elas a inseminação artificial, a 
fecundação in vitro e a doação e criopreservação dos gametas e 
embriões. 
 
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1.1 DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL 
A inseminação artificial é uma técnica antiga que remonta a 
longo tempo, sendo utilizada pela primeira vez na reprodução de 
eqüinos. Como toda técnica cientifica teve seu auge antes da década de 
80, pois a partir daí surgiu a fertilização “in vitro”, passando aquele ser 
considerada de menor valia para os problemas de infertilidade. Há de se 
convir que cada técnica possui sua precisa indicação médica, o que 
significa que muitas delas ainda se socorrem da técnica ora mencionada, 
principalmente devido aos requisitos necessários para a utilização desta 
que seria a cavidade uterina e trompas normais, o que difere da técnica 
da fertilização “in vitro” que são os casos daquelas mulheres que não 
possuem normalidade em seus órgãos reprodutores. 
Consiste, assim, a Inseminação Artificial, na alocação de 
espermatozóides, previamente selecionados, no interior do útero e esta 
pode ser de duas modalidades, a Inseminação Artificial Intra-Cervical (IC) 
e a Inseminação Artificial Intra-Uterina (IU). 
A Inseminação Artificial Intra-Cervical é utilizada nas 
situações em que há impossibilidade ou dificuldade do ato sexual normal 
e/ou ejaculação; já no caso da Intra-Uterina que consiste em depositar 
espermatozóides móveis capacitados aptos a fertilizar, dizem se esta a 
mais vantajosa. 
Nesse processo de procriação medicamente assistida pode, 
ainda, ser utilizados sémen de um terceiro dador, no caso daquelas 
mtlheres que não possam obter-se gravidez através de inseminação com 
sémen do marido ou daquele que viva em união de facto com a mulher a 
inseminar. 
Importa explicitar que em cada 100 ciclos de inseminação, 
 
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13 resultam em gestação e em cada 100 casais que completam 4 ciclos 
de inseminação, 60 conseguem atingir gestação. 
 
1.2 DA FECUNDAÇÃO IN VITRO 
 
A fertilização in vitro possui indicação médica nos casos em 
que a mulher tem ciclos normais e útero com cavidade íntegra e 
receptiva, porém com doença tubária, decorrentes de DST, 
endometriose, ou infertilidade sem causa aparente. 
A Fecundação Artificial é todo processo em que o gameta 
masculino encontra e perfura o gameta feminino por meios não naturais. 
Se apresenta tal técnica de duas formas principais de Fecundação 
Artificial, que são a Inseminação Artificial (IA) e a Fecundação In Vitro 
com Embrio-Transfer (FIVET). 
Tal técnica consiste numa fecundação extracorpórea na qual 
o óvulo e o espermatozóide são previamente retirados de seus doadores 
e são unidos em um meio de cultura artificial localizado em vidro 
especial. 
Existem dois tipos de Fecundação In Vitro a homóloga, que é 
aquela feita com o óvulo e o esperma provenientes do próprio casal de 
quem o embrião vai ser filho, e a do tipo heteróloga, que é aquela em 
que pelo menos um dos gametas utilizados na criação do embrião 
provém de um doador externo ao casal. 
Antes de iniciar qualquer tratamento para fertilidade 
propriamente dito, o médico passa procede a uma análise se o casal tem 
condições biológicas, reprodutivas e psicológicas. 
O primeiro grande questionamento ético desse procedimento 
 
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médico seria o fato da fecundação ocorrer fora do corpo da mãe, o que, 
para alguns, contraria a lei natural da reprodução. E é por entender todo 
o processo desta forma que a Igreja Católica é ardoroso opositora das 
referidas técnicas de reprodução assistida. 
Para a Igreja, o ato conjugal é formado por dois momentos o 
da união e da procriação, e por isso repudia toda e quaisquer formad e 
reprodução assistida, inclusive a Fecundação In Vitro homologa católica, 
quebra a intimidade inviolável do casal. 
 
1.3 DA DOAÇÃO E CRIOPRESERVAÇÃO DOS GAMETAS E 
EMBRIÕES 
 
 A Criopreservação de embriões se dá quando há produção 
de mais embriões do que o necessário para a transferência, com 
oportunidade de sobrevivência que são colocados numa substância que 
evita que eles sejam danificados, permanecendo por tempo 
indeterminado até eventual utilização. 
Outra técnica utilizada há algumas décadas é a 
criopreservação do esperma em que existe tal indicação quando para a 
preservação da capacidade reprodutiva nos pacientes com neoplastias 
que são submetidos a radioquimioterapias, ou para preservação do 
material genético (casos de vasectomia). 
 
Utiliza-se, também, na atualidade, técnicas para a 
criopreservação de oócitos, os quais poderão ser armazenados e usados 
no futuro, especialmente nos casos com indicação médica em que as 
mulheres que não possuem ovários ou que apresentaram menopausa 
 
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precoce. 
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina autoriza, após 
três anos de congelamento, que os embriões sejam doados com 
autorização dos donos, não podendo a referida doação ter caráter 
lucrativo ou comercial e os doadores não devem conhecer a identidade 
dos receptores e vice-versa. 
 
Segundo disposição do Conselho Federal de Medicina “as 
técnicas de reprodução assistida têm o papel de auxiliar na resolução 
dos problemas de reprodução humana, facilitando o processo de 
procriação quando outras terapêuticas tenham se revelado ineficazes ou 
consideradas inapropriadas.” Entretanto, é sabido que muitas irão optar 
pelas técnicas de reprodução assistida em detrimento a adoção de 
crianças e adolescentes, o que poderá aumentar sensivelmente o 
número de crianças abandonadas nos abrigos, diminuindo suas chances 
de serem adotadas. 
 
 
 
 
CAPITULO II 
 
DIREITOS FUNDAMENTAIS, REPRODUÇÃO ASSISTIDA E SEUS 
ASPECTOS ÉTICOS. 
 
O nascituro não tem personalidade jurídica e também falta-
lhe capacidade de direito, sendo que a lei apenas protegerá os direitos 
que possivelmente ele terá, em caso de nascer com vida. 
 
Entretanto, os direitos da personalidade do nascituro já 
 
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existem antes mesmo do nascimento e consubstanciam-se no direito à 
vida, à honra, à integridade física, à saúde, aos alimentos, ao 
reconhecimento da filiação, à curatela, à adoção. 
Primeiramente, cabe aqui explicitar que as técnicas de 
reprodução assistida sempre vislumbram, além da precisa indicação 
médica, a necessidade, oportunidade e conveniência da medida, só 
realmente usada nos casos em que não se obteve êxito no tratamento 
convencional. 
Então, cabe salientar que as técnicas médicas que trazem 
soluções, alternativas a problemas de não fácil tratamento, ou seja, que 
visam a melhoria da qualidade de vida como as dereprodução assistida 
não violam em nada os princípios éticos, salvo nos casos de utilização 
fora dos preceitos legais previamente estabelecidos. 
Estas técnicas de reprodução assistidas não podem ser 
utilizadas sobre qualquer pretexto ou circunstância, nesse sentido 
estabeleceu o próprio Conselho Federal de Medicina na Resolução nº 
1.358/92 que proíbe a utilização da reprodução assistida com o intuito de 
seleção de características genéticas, salvo se para a prevenção de 
doenças genéticas. 
Além disso, estas só devem ser utilizadas quando existir 
possibilidade de êxito no procedimento, não prosseguindo esta em caso 
de comprometimento. 
No que se refere à postura religiosa acerca do tema, 
considera-se que o embrião já seria um ser humano, mesmo ainda no 
processo de concepção. 
Condena, assim, a igreja os métodos artificiais de 
concepção, por entender que esta alteraria o ritmo da vida, o 
 
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predestinado por Deus, entendem a fecundação feita pelos cientistas 
como moralmente ilícitas. 
Entende a igreja só pela possibilidade da fecundação 
“natural” inerente das relações normais, não existindo outra forma 
moralmente aceita, não podendo haver intromissão externa. 
Respeitado o posicionamento da igreja católica, importa 
assentar que todo cidadão tem direito a fazer seu próprio planejamento 
familiar, tendo este base constitucional e regulamentado pela Lei nº. 
9.263, de 12.01.96. 
Tal direito ao planejamento familiar, a reprodução é tão 
importante que vem a cada dia ganhando maior proteção e medidas para 
o seu desenvolvimento, como a introdução das tecnologias de 
reprodução assistida no Sistema Único de Saúde. 
E diante dessas situações surgidas no caso concreto o 
direito tem a obrigação de regulá-las de preferência na mesma 
velocidade de seu aparecimento no mundo jurídico, desta forma acaba 
se socorrendo dos princípios constitucionais. 
Importante explicitar que os Direitos Reprodutivos não se 
restringem somente ao direito de ter ou não ter filhos, mas controlando 
seu momento, número e ocorrência do nascimento, dentre outros 
aspectos como acesso aos métodos contraceptivos e questões de 
política populacional. 
Interessante notar que o tratamento da infertilidade é um 
importante ponto a ser explicitado dos Direitos Reprodutivos, pois dados 
da Organização Mundial de Saúde – OMS – para que as pessoas 
possam fruir de seus direitos reprodutivos. 
 
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Grande inovação e avanço no aspecto jurídico diz respeito à 
inserção dos direitos reprodutivos no elenco de direitos fundamentais, o 
tratamento para os casos de infertilidade passou a ser também esta uma 
obrigação do Estado de proporcionar a aplicação deste direito concedido, 
como dispõe parágrafo sétimo do art. 226 da Carta Magna, in verbis: 
Art. 226.[...] 
§7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa 
humana e da paternidade responsável, o 
planejamento familiar é de livre decisão do casal, 
competindo ao Estado propiciar recursos 
educacionais e científicos para o exercício desse 
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de 
instituições oficiais ou privadas. 
Com tal dispositivo supra narrado, o Estado se incumbiu de 
auxiliar aqueles que possuíam dificuldades em exercitar seus direitos 
reprodutivos, através de técnicas cientificas. 
Dentro deste contexto, surgiram os conceitos e os institutos 
dos chamados biodireito e a bioética. 
Tal esfera do direito teve seu auge de discussão nos casos 
de reprodução medicamente assistida heteróloga, tendo em vista que na 
outra forma de reprodução tal questionamento não prospera, já que há 
vinculo parental. 
 
 
 
 
 
 
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CAPITULO III 
 
O DIREITO DE HERANÇA E A PROLE EVENTUAL 
 
3.1 Direito de Herança e suas características 
 
A sucessão hereditária só se abre no momento da morte do 
de cujus, devidamente comprovada; com a abertura da sucessão os 
herdeiros, legítimos ou testamentários, adquirem, de imediato, a 
propriedade e a posse dos bens que compõe o acervo hereditário, sem 
necessidade de praticar qualquer ato; só se abre a sucessão se o 
 
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herdeiro sobrevive ao de cujus; requer apuração da capacidade 
sucessória. 
O conceito do Direito de Herança encontra-se irrito dentro do 
conceito de Direito de Sucessão em sentido estrito, é a transferência, 
total ou parcial, de herança, por morte de alguém, a um ou mais 
herdeiros. 
O direito sucessório pode ser adquirido de duas maneiras 
descritas abaixo: Herança e Legado. 
Faz-se mister expor que a herança é composta por vários 
direitos. E tal universalidade será aferida no processo cível de 
arrolamento dos bens deixados, e com o processo de inventário se 
determinará a partilha desses bens arrolados entre os herdeiros. 
Os titulares do direito da herança são chamados de 
herdeiros e quando há uma multiplicidade de herdeiros fala-se em 
coerdeiros da herança. 
O herdeiro dispõe de alguns direitos ou prerrogativas como 
ceder uma parte alíquota do seu quinhão mas nunca um bem do acervo 
sem o consentimento dos demais, pois o conjunto de todos os bens 
deixados pelo de cujus é considerado na sua totalidade como bem 
imóvel para os efeitos legais até que seja feita a partilha, assim, mesmo 
que o acervo patrimonial transmitido pelo de cujus se componha 
totalmente de bens móveis, para a alienação, torna-se necessária a 
outorga marital ou uxória. 
Dispõe o STJ em voto vencido: 
Por tratar-se de obrigação personalíssima, inadmite-
se a transferência da responsabilidade por alimentos 
do falecido pai para o espólio, pois o art. 23 da Lei 
 
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6.515/77 quis permitir, ao remeter a questão ao art. 
1.796 do CC, que a responsabilidade dos herdeiros 
pela dívida do de cujus refere-se apenas aos 
alimentos preexistentes e não a obrigação de prestar 
alimentos futuros, notadamente porque, nos termos 
do art. 396 et seq. do CC, podem os parentes exigir 
uns dos outros os alimentos de que necessitem para 
subsistir, inclusive para irmãos, sejam unilaterais ou 
germanos" (in RT 788/196). 
Então, cabe esclarecer que o patrimônio integrante da 
herança é uma universalidade juris, indivisível até a partilha; 
permanecendo indivisível até que se ultime a partilha, havendo um 
regime de condomínio forçado. 
 
Preleciona o Código Civil acerca da matéria: 
 
Artigo 1791 - A herança defere-se como um todo 
unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. 
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-
herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, 
será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas 
ao condomínio. 
Artigo 1792 - O herdeiro não responde por encargos 
superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, 
a prova do excesso, salvo se houver inventário que a 
escuse, demonstrando o valor dos bens herdados. 
Artigo 1793 - O direito à sucessão aberta, bem como 
o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser 
 
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objeto de cessão por escritura pública. 
§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em 
conseqüência de substituição ou de direito de 
acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão 
feita anteriormente. 
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu 
direito hereditário sobre qualquer bem da herança 
considerado singularmente. 
§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização 
do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem 
componente do acervo hereditário, pendente a 
indivisibilidade. 
Artigo 1794 - O co-herdeiro não poderá ceder a suaquota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se 
outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. 
Artigo 1795 - O co-herdeiro, a quem não se der 
conhecimento da cessão, poderá, depositado o 
preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o 
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão. 
Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a 
exercer a preferência, entre eles se distribuirá o 
quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas 
hereditárias. 
Artigo 1796 - No prazo de trinta dias, a contar da 
abertura da sucessão, instaurar-se-á inventário do 
patrimônio hereditário, perante o juízo competente no 
 
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lugar da sucessão, para fins de liquidação e, quando 
for o caso, de partilha da herança. 
Artigo 1797 - Até o compromisso do inventariante, a 
administração da herança caberá, sucessivamente: 
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro 
convivia ao tempo da abertura da sucessão; 
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração 
dos bens, e, se houver mais de um nessas 
condições, ao mais velho; 
III - ao testamenteiro; 
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa 
das indicadas nos incisos antecedentes, ou quando 
tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao 
conhecimento do juiz. 
No legado há presença necessária de um testamento, já que 
deve existir a manifestação da vontade. 
 
3.2 Princípios Norteadores 
- Princípio da dignidade da pessoa humana 
 A dignidade da pessoa humana é principio mor, fundamento 
da República Federativa do Brasil, conforme versa a Constituição 
Federal em seu art. 1º. É um direito assegurado a todos, tendo como 
escopo a garantia às pessoas do bem estar e do necessário para uma 
qualidade de vida decente. Os embriões gozam dessa mesma proteção 
ainda que não nascido, mas que goza da mesma proteção dos que 
 
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nasceram. 
- Princípio do melhor interesse da criança 
Sempre que estiverem presentes menores em quaisquer 
situações, deve-se observar o interesse de crianças por meio de 
preceitos constitucionais constantes nos arts. 5º e 227 da Constituição 
Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
- Princípio da isonomia e a igualdade entre filhos 
 A igualdade é um princípio fundamental constitucional, 
norteador de todas as relações interpessoais, busca-se sempre a 
isonomia, ou seja, igualar as pessoas na medida de suas desigualdades. 
Um dos principios mais importantes que surgiram com a 
legislação civil em vigor concerne ao tratamento igualitário dispensado 
aos filhos no âmbito do Direito Sucessório. 
“Os filhos havidos ou não da relação de casamento, 
ou por adoção, terão os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação”. 
Ou seja, hoje predomina a plena igualdade de direitos entre 
filhos legítimos ou ilegítimos, sendo tal feita mesma esta equiparação 
pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, § 6º. 
 
Apesar de todo este avanço no sentido da igualdade entre os 
filhos, observa-se que permanece a desigualdade na divisão da herança 
entre irmãos germanos e irmãos unilaterais. 
 
3.3 Prole Eventual 
 
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No direito brasileiro coexistem dois tipos de sucessão, e uma 
não exclui a outra não excluindo o outro. A sucessão testamentária é 
limitada pela legítima no caso do autor da herança ter entre os seus 
herdeiros necessários. 
 
Nestes casos, poderá dispor em testamento de apenas 
cinqüenta por cento do seu patrimônio, sendo os outros destinados à 
legítima 
O instituto da prole eventual, de acordo com o que dispõe o 
artigo 1799 do CC, caracteriza-se pela possibilidade de ter capacidade 
testamentária passiva: “os filhos, ainda não concebidos, de pessoas 
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão”. 
Essa é uma exceção no direito sucessório brasileiro, no 
âmbito da sucessão testamentária, ou seja, que só tem capacidade para 
herdar os nascidos ou concebidos à época da abertura da sucessão 
Entretanto, tal instituto possui prazo para sua concretização, 
sendo este prazo de dois anos e decadencial, não permitindo dilação. 
E hoje uma discussão que vem predominando acerca da 
prole eventual circunda acerca da abrangência do conceito de filiação 
neste aspecto, se esta concepção seria obrigatoriamente a que dá 
origem à filiação natural ou se a palavra concepção poderia ser analisada 
de forma mais abrangente, sendo considerado o momento do 
estabelecimento da parentalidade, por adoção no caso, como o momento 
de concretização da condição suspensiva necessária a efetivar o direito 
resguardado. 
 
 
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CAPITULO IV 
 
A REPRODUÇÃO ASSISTIDA POS MORTEM E O DIREITO 
SUCESSÓRIO 
 
4.1 As posições civilista e constitucional acerca da controvérsia 
 
A questão aqui gira em torno da possibilidade do concebido 
post mortem habilitar-se como sucessor do falecido doador. 
 
E diante desta nova situação, verifica-se que a legislação 
 
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nacional diverge em seus dispositivos. 
 
Com o entendimento trazido pelo Código Civil, em seu art. 
1798, se permitiria o recebimento de herança pelo concebido post 
mortem apenas nos casos em que o genitor deixa tal vontade expressa 
em testamento, mas a Constituição Federal de 1988 veda qualquer 
distinção relativa à filiação. 
 
De acordo com o princípio constitucional da igualdade entre 
os filhos (art. 227, §6º, CF) não pode haver discriminação quanto à 
origem da filiação. 
 Nesse caminhar, o Código Civil de 2002 ressalta: 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância 
do casamento os filhos: 
(...)III - havidos por fecundação artificial homóloga, 
mesmo que falecido o marido; 
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de 
embriões excedentários, decorrentes de concepção 
artificial homóloga; 
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, 
desde que tenha prévia autorização do marido 
 Um relevante receio é do uso indevido do sêmen do falecido 
pela viúva, o problema que se constata é que nosso ordenamento não 
autoriza nem regulamenta a reprodução assistida de forma completa, 
mas a situação de fato existe e permanece a omissão. 
 O Conselho de Justiça Federal utiliza como requisito para o 
 
20
 
 
prosseguimento de tal situação que a mulher que se utilizará do referido 
material genético esteja na condição de viúva, e exige-se, ainda, a 
autorização escrita do marido para uso de seu material após a morte. 
A Constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do 
país e é quem confere validade, não podendo as normas constitucionais 
ser contrariadas, sob pena de serem consideradas inconstitucionais e, 
por isso, inválidas. 
 Além do respeito às normas constitucionais, para a defesa 
do chamamento do concepturo a sucessão, baseiam-se ainda no 
princípio do melhor interesse da criança, através do qual se estabelece 
que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
De acordo com o principio da igualdade, deve-se sempre 
reger situações iguais de forma semelhante e proporcional e para grande 
parte dos autores, o princípio da igualdadeestende-se a todos os seres 
humanos, aos já nascidos, ou aos apenas concebidos, não se 
distinguindo os seres já nascidos e os não nascidos. 
 
A Constituição brasileira, ao consagrar o princípio da 
igualdade dos filhos, através da proibição de designações 
discriminatórias, vem reafirmando de forma tangente que o concepturo 
possui direito de ser chamado a suceder mesmo que seu genitor já se 
encontre falecido. 
 
 
21
 
 
Tais princípios e a referida visão constitucional não 
prosperam quando se observa o que dispõe o Código Civil. Segundo tal 
legislação são legítimos a suceder apenas as pessoas já nascidas ou já 
concebidas no momento da abertura da sucessão (art. 1798). 
 
Então, aprofundando-se na legislação civil a criança 
concebida após a morte de seu pai não tem direto a receber parte da 
legítima que teria direto se tivesse sido concebida em momento anterior 
à morte do autor da herança. 
 
Preleciona o art. 1.799 do Código Civil: 
 
Na sucessão testamentária podem ainda ser 
chamados a suceder: 
 
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas 
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao 
abrir-se a sucessão; 
 
II - as pessoas jurídicas; 
 
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for 
determinada pelo testador sob a forma de fundação. 
(grifou-se) 
 
Para nossa legislação civil, o filho concebido post mortem 
somente poderá herdar caso seja contemplado em testamento, podendo 
ser apenas herdeiro testamentário, não se encaixando dentre os 
herdeiros legítimos. 
 
 
22
 
 
Parte relevante dos doutrinadores, manifestam-se no sentido 
de que os concepturos são legitimados a suceder sim, tendo em vista 
que já são concebidos no momento da abertura da sucessão. 
 
Cabe ratificar ainda que o Código Civil dispõe que os filhos 
havidos mediante inseminação artificial são considerados concebidos na 
constância do casamento, mesmo após a morte do marido, ou 
decorrente de implantação de embrião excedentário a qualquer tempo. 
 
Então, teriam todos os filhos o mesmo tratamento possuindo 
a criança concebida post mortem os mesmos direitos de seus irmãos, 
inclusive aqueles concernentes aos direitos sucessórios. 
 
Nos casos de inseminação artificial homóloga não deveria 
haver quaisquer questionamento acerca do direito de suceder, já que 
nesta situação a paternidade mostra-se certa, isenta de dúvidas, 
possuindo o filho concebido após a morte os mesmos direitos dos já 
nascidos. 
 
E, negar isso seria violar os direitos destes, contrariando 
princípios constitucionais da igualdade e dignidade da pessoa humana, 
o objetivo da segurança jurídica não deve servir como pretexto para 
desrespeito aos direitos inerentes a pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
23
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO V 
A SUCESSÃO NOS CASOS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST 
MORTEM E O DIREITO COMPARADO 
 
Mesmo no âmbito internacional, do Direito Comparado, a 
questão da inseminação post mortem e suas conseqüências jurídicas 
não possuem ainda larga regulamentação. 
 A fertilização artificial post mortem para grande parte dos 
países é vedada, segue neste sentido o direito sueco, alemão bem como 
o direito francês, entendendo estes que o consentimento externado para 
 
24
 
 
os métodos de reprodução assistida quando em vida, é ineficaz em sua 
morte. 
Ainda bebendo nas águas do direito comparado, em face da 
nossa lacuna legislativa nacional cabe ressaltar os seguintes 
peculiaridades do direito estrangeiro, por exemplo, no 
Canadá, para haver a fertilização heteróloga é necessário, antes, o 
consentimento do marido, que não poderá impugnar a filiação. 
No que tange a Espanha, esta garante direitos ao nascituro, 
apesar de vedar a inseminação artificial após a morte porém somente se 
houver a manifestação de vontade expressa em escritura pública ou 
testamento. 
 Um pais que adotou uma posição diversa acerca da 
fecundação post mortem foi a Inglaterra que a consentiu, mas sem efeito 
sucessório, salvo manifestação expressa. 
 No que tange a questão da filiação, a tendência atual é não 
só levar em consideração a filiação biológica, mas dá-se importância 
inclusive a filiação afetiva. 
Faz-se de suma importância para o Brasil que este se sirva 
do direito comparado para desenvolver a legislação brasileira acerca não 
só do tema da reprodução medicamente assistida, como em relação aos 
direitos sucessórios de concepturo gerado com o sêmen de genitor 
falecido. 
Entretanto, ao exercer a atividade comparatista na seara da 
reprodução humana assistida, deve-se atentar ao caráter pátrio do 
Direito de Família, tendo-se em vista que cada país possui uma história e 
uma identidade própria. 
 
25
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO VI 
 
SUGESTÕES E PROJETOS ACERCA DOS CASOS DE REPRODUÇÃO 
ASSISTIDA POST MORTEM NO DIREITO SUCESSÓRIO 
 
No que tange a situação da inseminação post mortem, cabe 
ressaltar a existência do Projeto de Lei nº 2.855/97, de autoria do 
Deputado Confúcio Moura, no qual só haveria o reconhecimento da 
paternidade, nos casos em que houver prévia e expressa manifestação 
do casal, sendo esta negada nos demais casos. 
 
26
 
 
 
Cabe relembrar, ainda, que há o Projeto de Lei nº 90/99, de 
autoria do Senador Lúcio Alcântara, dispõe que, em caso de 
inseminação post mortem, não será reconhecida a paternidade. O 
referido Projeto traz basicamente os mesmos enunciados constantes na 
Resolução do CFM, com algumas restrições, tratando apenas sobre a 
fertilização in vitro, não regulando a fertilização in vivo. 
 
Já o projeto do Senador Roberto Requião prevê o 
reconhecimento da filiação, somente se o depositário do sêmen tivesse 
autorizado em testamento a utilização pela esposa ou companheira. 
 
No Brasil, além da omissão legislativa para o assunto, as 
opiniões doutrinárias ainda estão conflitando. 
 
Uma parte entendendo que não estaria o concepturo 
inserido no rol da vocação hereditária já que não se encontrava sequer 
concebido à época do óbito. 
 
Outros já possuem uma visão mais mitigada que reafirma a 
não inserção naquele rol, porém se indicado como sucessor 
testamentário é incluído na sucessão, mas de forma excepcional. 
 
A posição mais radical nega a sucessão do filho concebido 
post mortem a partir do sêmen preservado do falecido. 
 
 
 
 
 
 
27
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
É evidente que com os avanços da biotecnologia e 
implementação das técnicas de reprodução medicamente assistidas, 
surgem novas situações de fato, concretas que o direito tem que 
acompanhar, regulando-as. E é certo que isso gera inúmeras 
conseqüências nos mais diversos setores de ordem social, ética e 
jurídica. 
 
Inicialmente, nos casos da inseminação homologa, não 
 
28
 
 
haveria problemas concernentes a questão da paternidade, a 
controvérsia se instalaria em relação aos direitos hereditários. 
 
 Deveria ser chamado a suceder ou não o filho concebido 
post mortem? A doutrina diverge e a jurisprudência também não auxilia 
muito neste sentido. 
 
Há posicionamento que pende para a existência do direito 
sucessório, da legitimidade para herdar, e já ara outra corrente, não há 
possibilidade de inseminação post mortem. 
 
A legislação brasileira não traz uma soluçãoclara, para isso 
faz-se mister a análise global do ordenamento jurídico, o Código Civil 
deve ser interpretado civil conjuntamente com a Constituição Federal. 
 
E deve-se primar sempre pelo respeito e obrigatória 
observação de princípios constitucionais, como a igualdade plena entre 
os filhos, a proibição de qualquer forma discriminatória e o melhor 
interesse da criança. 
 
 E verifica-se que a legislação civil condiciona a sucessão, 
ao direito de suceder a situação de “filho já concebido", o que se 
demonstra injusto. 
 
Alguns doutrinadores entendem que a falta de razoabilidade 
encontrada no Código Civil no que concerne aos direitos sucessórios do 
concepturo, poderia ser suprido por meio da disposição testamentária 
entretanto, sabe-se que no nosso pais não há a habitualidade na 
realização de testamentos, devido até mesmo a sua não obrigatoriedade. 
Entao, se não houvesse testamento, a um filho legitimo seria-lhe tolhido 
 
29
 
 
o direito sucessório? 
 
Todos esses questionamentos e eventuais incoerências 
somente poderão ser dirimidos por meio da hermenêutica e discussões e 
elaborações interdisciplinares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
• MONTENEGRO S. FARAH, Leila; SANCHES CORTEZZI, Sylvia; 
BORGES Jr., Edson Reprodução Humana Assistida - Associação 
Instituto Sapientiae. Ed. ATHENEU. 
 
• FERNANDES, Silvia da Cunha. As Técnicas de Reprodução 
Humana Assistida e a Necessidade de Sua Regulamentação 
 
30
 
 
Jurídica. Ed. RENOVAR. 
• MOURA, Marisa Decat de; SOUZA, Maria do Carmo Borges de / 
Vivências em Tempo de Reprodução Assistida - O Dito e o Não-
dito. Ed. REVINTER. 
 
• OLIVEIRA, Euclides Direito de Herança - A Nova Ordem da 
Sucessão - 2ª Ed. SARAIVA. 
 
• DIAS, Rodrigo Bernardes. Privacidade Genética. Ed.SRS. 
 
• PÁDUA, Amélia do Rosário Motta de. Responsabilidade Civil na 
Reprodução Assistida. Ed Lúmen Juris. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO 1 
Reportagens 
 
Novela das seis levanta polêmica sobre reprodução após a morte 
Em Escrito nas Estrelas, da TV Globo, personagem vivido pela atriz 
Nathália Dill vai engravidar com sêmen de jovem que já morreu. Esse 
procedimento pode não ser tão comum nas clínicas brasileiras, mas 
levanta uma discussão ética: afinal, deve-se encorajar a concepção de 
 
31
 
 
crianças depois da morte de um dos pais? 
Simone Tinti 
 
 
Nathalia Dill e Jayme Matarazzo, que interpreta o jovem que morre e 
deixa o sêmen congelado 
 
Escrito nas Estrelas, novela das seis da TV Globo, mal estreou e já 
levanta uma polêmica: a reprodução após a morte. Daniel (personagem 
de Jayme Matarazzo) morre no primeiro capítulo em um acidente de 
carro. Logo, seu pai, o médico Ricardo (interpretado por Humberto 
Martins), especialista em reprodução assistida, descobre que o jovem 
deixou o sêmen congelado antes de morrer e, numa tentativa de 
“eternizar a vida do filho”, como mostra o segundo capítulo, implanta 
esse sêmen em Viviane (vivida pela atriz Nathália Dill). 
 
A situação, que vai ser retratada nos próximos capítulos da novela, está 
longe de ser algo corriqueiro nas clínicas brasileiras. Mas deve levantar 
uma discussão ética: afinal, deve-se encorajar a concepção de crianças 
depois da morte de um dos pais? Como garantir o bem-estar de crianças 
concebidas dessa forma? 
 
O congelamento do sêmen – apenas uma das maneiras de reprodução 
assistida – é geralmente procurado por homens que passam por 
tratamento contra o câncer. No caso das mulheres, o procedimento é 
realizado com o congelamento dos óvulos (ou de fragmentos do ovário). 
O objetivo é que, depois de terminarem as sessões de quimioterapia 
(tratamento que impede o funcionamento adequado dos testículos e 
ovários), esses pacientes possam ter filhos. “Quem opta pelo 
congelamento sempre pensa na cura da doença. Tanto que muitos 
 
32
 
 
assinam um contrato para que o sêmen ou óvulo seja descartado em 
caso de morte”, diz Mariângela Badalotti, ginecologista e professora da 
PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul. 
 
Legislação 
 
No Brasil, não há uma lei específica para tratamentos de reprodução 
assistida. Então, cada caso precisa ser avaliado separadamente. Já nos 
Estados Unidos e Inglaterra, é possível realizar esse tratamento, como o 
que vai ser mostrado na novela, desde que exista um consentimento 
prévio do doador. Na Bélgica e na Grécia, basta ter o sêmen ou o ovário 
congelado para que a fertilização seja aprovada, enquanto em países 
europeus como França, Itália e na Escandinávia, o procedimento é 
proibido. 
 
Reprodução pós - morte é pouco comum no país 
Claudia COLLUCCi 
 
DE SÃO PAULO 
A reprodução póstuma, ainda pouco comum no Brasil, suscita vários 
debates éticos e jurídicos. Afinal, é ético usar o sêmen de um homem 
que já morreu e não deixou autorização para isso? Quais direitos 
sucessórios terá essa criança? 
No país, não há lei que proíba ou permita a reprodução após a morte do 
cônjuge. Na Inglaterra, Austrália e alguns Estados dos EUA permitem a 
reprodução com o uso do sêmen de homem que já morreu quando há 
uma autorização prévia. Na Alemanha, Suécia, França, Itália e Canadá, o 
procedimento é vetado. Já a Bélgica e a Grécia, por exemplo, liberam a 
reprodução póstuma mesmo sem o consentimento anterior. 
Advogados ouvidos pela Folha dizem desconhecer jurisprudência sobre 
assunto no Brasil e afirmam que será importante a Justiça decidir se uma 
prova testemunhal da família, atestando que a paternidade era desejo do 
morto, poderá substituir uma autorização formal. 
Segundo o advogado José Carlos Teixeira Giorgis, desembargador 
aposentado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no caso de 
Elisete, por exemplo, o Código Civil vigente entende que, mesmo após a 
 
33
 
 
morte do marido, há uma presunção de paternidade. "A fertilização se 
deu a partir dos gametas do marido. Ele é o pai e a criança pode ser 
registrada em seu, será seu herdeiro. No caso dos embriões congelados, 
a presunção é mais 
forte e tem apoio na lei." 
Do ponto de vista bioético, as opiniões divergem. Para a médica 
Mariangela Badalotti, chefe do departamento de ginecologia e obstetrícia 
da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, é 
fundamental que o homem ou o casal manifeste em vida o que deseja 
fazer com o esperma ou com o embrião que por ventura permaneçam 
congelados. 
"Sem isso, a questão dificilmente vai em frente. Ninguém deixa de 
reconhecer a dor de quem fica, mas é preciso avaliar o que é melhor 
para a criança, qual o impacto emocional de já ser gerado órfão." 
Susan Dorr Goold, diretora do programa de bioética da Universidade de 
Michigan (EUA), questiona o uso do sêmen à revelia do "dono". "A 
menos que o homem soubesse que ia morrer e tenha dado permissão a 
alguém para usar o esperma de qualquer maneira, não vejo como 
reprodução póstuma possa prosperar." 
Na opinião do ginecologista Jonathas Borges Soares, responsável pelo 
tratamento de Elisete, o desejo de Cláudio em ter um filho era claro. 
"Mesmo após descobrir o câncer, ele quis continuar o tratamento", 
explica. A questão, segundo ele, é que como não existe uma autorização 
para o uso do material genético dele após a morte, a clínica precisa de 
um respaldo legal. 
"Seria até complicado exigir isso em um momento em que a pessoa está 
lutando para continuar viva", diz ele, referindo-se ao período em que 
Cláudio fazia quimioterapia, quando os embriões e o sêmen foram 
congelado. 
A motivação que leva uma mulher a querer engravidar do marido morto 
também é uma questão."Até que ponto essa vinculação é sadia?", 
questiona Badalotti. 
Para a ginecologista Maria Cecília Erthal, da clínica de reprodução Rede 
D'Or, é preciso avaliar caso-a-caso os motivos que levam uma mulher a 
querer um filho do companheiro morto. Erthal acompanha um caso no 
Rio de Janeiro, em que a família de um jovem de 28 anos, vítima de um 
aneurisma cerebral, conseguiu autorização judicial para retirar o sêmen 
quando ele já estava em coma. A noiva do rapaz aguarda uma outra 
permissão da Justiça, agora para usar o sêmen em uma fertilização in 
 
34
 
 
vitro. 
"A motivação não pode ser o desejo de substituir o ente querido que 
morreu ou qualquer outro interesse obscuro." No caso de Bruno, a família 
conseguiu uma autorização judicial para retirar e congelar o sêmen antes 
da morte. Agora, tenta outra permissão da Justiça para usar o esperma 
em inseminação artificial que Nara deseja fazer. "O casal estava junto e 
desejava ter filhos. Mas Bruno não teve tempo de deixar o consentimento 
por escrito", explica a médica. 
EUA 
A Justiça norte-americana tem negado vários pedidos de autorização de 
reprodução póstuma. A corte da Califórnia, por exemplo, negou que a 
viúva do xerife Joseph Kievernagel, 36, morto em acidente de helicóptero 
durante perseguição a um assaltante, usasse seu sêmen armazenado 
em uma clínica de reprodução assistida. 
O casal estava junto havia dez anos e tentava ter um filho por meio de 
fertilização in vitro. 
Mas, ao congelar o sêmen, Joseph assinou um contrato (consentimento 
informado) na clínica optando por descartar o material genético após sua 
morte --em vez de assinar a alternativa que permitia sua mulher usar o 
material genético. A mulher argumentou que o marido não havia lido o 
contrato antes de assinar. Na briga judicial, os pais do xerife se 
opuseram ao uso póstumo do sêmen do filho. 
O tribunal do Texas concedeu uma liminar permitindo que a mãe de um 
jovem de 20 anos, morto em assalto, coletasse seu esperma. A mulher, 
de 42 anos, argumentou que o filho sonhava em três filhos (Hunter, Tod 
e Van) e que seus planos seria contratar uma barriga de aluguel para 
gerar os netos. Os avós do homem se opuseram aos planos da mãe, 
argumentando que ela intencionava a herança da família. 
A Suprema Corte de New Hampshire decidiu recentemente que as 
crianças concebidas, por meio de reprodução assistida, após a morte do 
pai, não têm direito à herança, contrariando uma decisão anterior do 
tribunal de Massachusetts. 
Na Inglaterra, após o caso da viúva Diane Blood (tem foto bacana dessa 
mulher no Google), e de outras mulheres que se tornaram mães usando 
o esperma congelado de seus maridos mortos, a lei mudou e agora 
permite que nomes de homens que morreram antes do filho ser 
concebido apareçam na certidão de nascimento da criança. 
 
35
 
 
 
 
 
	AGRADECIMENTOS
	SUMÁRIO
	MONTENEGRO S. FARAH, Leila; SANCHES CORTEZZI, Sylvia; BORGES Jr., Edson Reprodução Humana Assistida - Associação Instituto Sap
	MOURA, Marisa Decat de; SOUZA, Maria do Carmo Borges de / Vivências em Tempo de Reprodução Assistida - O Dito e o Não-dito. Ed
	OLIVEIRA, Euclides Direito de Herança - A Nova Ordem da Sucessão - 2ª Ed. SARAIVA.
	
	Reportagens

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