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Irrigação e Drenagem Condução da Água para Irrigação 1. Introdução Em qualquer método de irrigação a água tem que ser conduzida da captação até a parcela irrigada. Em geral, os principais problemas na condução da água são falhas estruturais, infiltração excessiva e erro de dimensionamento. São dois os tipos principais de condutos usados em irrigação: canais (ou condutos livres) e encanamentos (ou condutos sob pressão). 2. Canais 2.1 Forma Geométrica dos Canais Quanto à forma geométrica, existem quatro tipos de canais: trapezoidal, retangular, triangular e semicircular. Figura 1 – Seção transversal de um canal trapezoidal. Figura 2 – Canal com paredes com e sem vegetação. 2.2 Perda de Água por Infiltração em Canais Não-Revestidos Irrigação e Drenagem O fator que, em geral, determina se deve ou não revestir um canal é a quantidade de água que será perdida por ele quando não-revestido, ou seja, comparando o custo do revestimento versus o custo da água perdida. Quadro 1 – Perda de água por infiltração em canais não revestidos. Material Perdas m3/m2 por dia Solo argiloso 0,08 a 0,25 Solo areno-argiloso 0,30 a 0,45 Solo arenoso 0,45 a 0,60 Solo com cascalho 0,90 a 1,80 Quadro 2 – Valores máximos recomendáveis da velocidade média no canal. Tipo de canal Velocidade Canal em areia muito fina 0,20 a 0,30 m/s Canal em areia grossa pouco compactada 0,30 a 0,50 m/s Canal em terreno arenoso comum 0,60 a 0,80 m/s Canal em terreno sílico-argiloso 0,70 a 0,80 m/s Canal em terreno argiloso-compacto 0,80 a 1,20 m/s Canal em rocha 2,00 a 4,0 m/s Canal de concreto 4,0 a 10,0 m/s 3. Encanamentos Em encanamentos, geralmente tem-se o escoamento em condutos forçados, ou seja, a água escoa sob pressão. O encanamento funciona totalmente cheio, e os condutos são sempre fechados. Nos projetos de irrigação, a condução da água se processa sob um regime turbulento. Sempre que a água flui de um ponto para outro, há certa perda de energia, comumente denominada perda por atrito ou perda de carga. Quanto mais rugosa a parede da canalização, maior será a turbulência do fluxo e, em conseqüência, maior será a perda de carga. Irrigação e Drenagem 3.1 Perda de Carga ao Longo da Tubulação É a perda de carga atribuída ao movimento da água ao longo das tubulações. É considerada uniforme ao longo de qualquer trecho de uma canalização de diâmetro constante, constituindo a principal perda de carga na maioria dos projetos de condução da água. Há várias equações para o cálculo da perda de carga ao longo das tubulações, dentre elas a equação de Hazen-Williams. 3.1.1 Equação de Hazen-Williams É recomendada apenas para escoamento de água à temperatura ambiente e para diâmetro igual ou maior que 2”. J = 6,806 ___1___ V 1,852 D1,17 C J = 10,641 ___1___ Q 1,852 D4,87 C V = 0,355 C x D0,63 x J0,54 Q = 0,2788 C x D2,63 x J0,54 Tabela 1 – Valores do Coeficiente de Hazen-Williams (C). Sendo: Q = vazão, m3 s-1; V = velocidade média, m s-1; D = diâmetro da tubulação, m; J = perda de carga unitária, mca m-1; C = coeficiente que depende da natureza da parede do tubo (material e estado), valor tabelado. Irrigação e Drenagem 3.2 Perda de Carga Localizada Sempre que ocorrem mudanças de direção do fluxo e, ou, da magnitude da velocidade, haverá uma perda de carga localizada, decorrente da alteração das condições do movimento, a qual se adicionará à perda causada pelo atrito. Essa perda é ocasionada por peças, como curvas, registros, tês, válvulas, mudança de diâmetro, etc., comumente existentes em qualquer encanamento. Pode ser calculada pela seguinte equação: hfl = K _V2_ 2g Quadro 3 – Valores do coeficiente de perda de carga localizada (K). Peça K Em que: hfl = perda de carga localizada, m; K = coeficiente do elemento causador da perda de carga; V = velocidade média na canalização, m s-1; g = aceleração da gravidade: 9,81 m s-1. Irrigação e Drenagem Ampliação gradual 0,30 Bocais 2,75 Comporta aberta 1,00 Controlador de vazão 2,50 Cotovelo de 90º 0,90 Cotovelo de 45º 0,40 Crivo 0,75 Curva de 90º 0,40 Curva de 45º 0,20 Curva de 22½º 0,10 Entrada normal em canalização 0,50 Entrada de borda 1,00 Existência de pequena derivação 0,03 Junção 0,40 Medidor Venturi 2,50 Redução gradual 0,15 Registro de ângulo aberto 5,00 Registro de gaveta aberto 0,20 Registro de globo aberto 10,00 Saída da canalização 1,00 Tê, passagem direta 0,60 Tê, saída de lado 1,30 Tê, saída bilateral 1,80 Válvula de pé 1,75 Válvula de retenção 2,50 Velocidade 1,00 3.3 Velocidade Admissível nas Tubulações Quanto maior a velocidade da água na canalização, menor será o diâmetro necessário para determinada vazão e, em conseqüência, menor será o custo fixo Irrigação e Drenagem da canalização; contudo, velocidades elevadas implicam grandes perdas de carga, aumento do perigo de corrosão das tubulações e maior sensibilidade aos efeitos dos golpes de aríete. Nas linhas de recalque, tendo-se em vista o dimensionamento econômico, a velocidade pode variar de 0,6 a 2,4 m s-1, e os valores mais usados estão entre 1 e 2 m s-1. Golpe de Aríete: Por golpe de aríete se denominam as variações de pressão decorrentes de variações da vazão, causadas por alguma perturbação, voluntária ou involuntária, que se imponha ao fluxo de líquidos em condutos, tais como operações de abertura ou fechamento de válvulas, falhas mecânicas de dispositivos de proteção e controle, parada de turbinas hidráulicas e ainda de bombas causadas por queda de energia no motor, havendo, no entanto, outros tipos de causas. É o caso típico de condutos de recalque providos de válvulas de retenção logo após a bomba, e sem dispositivos de proteção. Neste caso a situação de ocorrência do golpe de forma mais desfavorável e com mais frequência, é aquela decorrente da interrupção brusca da energia elétrica fornecida ao motor da bomba que alimenta o conduto. É nesta situação onde corriqueiramente se verificam valores extremos para o golpe de aríete. Durante o fenômeno do golpe de aríete, a pressão poderá atingir níveis indesejáveis, que poderão causar sérios danos ao conduto ou avarias nos dispositivos nele instalados. Danos como ruptura de tubulações por sobrepressão, avarias em bombas e válvulas, colapso de tubos devido a vácuo, etc. 4. Motobomba Como a maioria das bombas usadas em irrigação pertence ao tipo centrífuga de eixo horizontal, serão discutidas suas principais características. Elas requerem válvula de pé e é necessário observar o limite máximo de altura estática de sucção. Podem ser portáteis ou fixas e são acionadas por Irrigação e Drenagem motores elétricos, diesel ou gasolina. As portáteis são montadas em blocos sobre rodas, o que facilita sua movimentação. Como em irrigação trabalha-se com água limpa, usam-se normalmente rotores fechados.As bombas com um só rotor são denominadas bombas de simples estágio. Quando a altura manométrica requerida na bomba for muita grande, serão usadas bombas com dois ou mais rotores, denominadas bombas de dois, três ou mais estágios. Figura 3 – Bomba de eixo horizontal Figura 4 – Esquemas de rotores aberto, semi-aberto e fechado. A Figura 5 mostra as peças especiais utilizadas numa instalação de bombeamento. Na linha de sucção 1) Válvula de pé com crivo Instalada na extremidade inferior da tubulação de sucção. É uma válvula unidirecional, isto é, só permite a passagem do líquido no sentido ascendente. Irrigação e Drenagem Com o desligamento do motor de acionamento da bomba, esta válvula mantém a carcaça ou corpo da bomba e a tubulação de sucção cheia do líquido recalcado, impedindo o seu retorno ao reservatório de sucção ou captação. Nestas circunstâncias, diz-se que a válvula de pé com crivo mantém a bomba escorvada (carcaça e tubulação desta válvula é a de impedir a entrada de partículas sólidas ou corpos estranhos como: folhas, galhos, etc., A válvula deve estar mergulhada a uma altura mínima de: h = 2,5Ds + 0,1 (h e Ds em metros) para evitar a entrada de ar e formação de vórtices. 2) curva de 90o Imposta pelo traçado da linha de sucção. 3) Redução Excêntrica Liga o final da tubulação à entrada da bomba, de diâmetro geralmente menor. Essa excentricidade visa evitar a formação de bolsas de ar à entrada da bomba. São aconselháveis sempre que a tubulação de sucção tiver um diâmetro superior a 4” (100 mm). Na linha de recalque 1) Ampliação concêntrica Liga a saída da bomba de diâmetro geralmente menor à tubulação de recalque. 2) Válvula de retenção É unidirecional e instalada à saída da bomba, antes da válvula de gaveta. Suas funções são: - impedir que o peso da coluna de água do recalque seja sustentado pela bomba o que poderia desalinhá-la ou provocar vazamentos na mesma; - impedir que, com o defeito da válvula de pé e estando a saída da tubulação de recalque afogada (no fundo do reservatório superior), haja um refluxo do líquido, fazendo a bomba funcionar como turbina, o que viria a provocar danos à mesma; 3) válvula de gaveta Irrigação e Drenagem Instalada após a válvula de retenção. Suas funções são de regular a vazão e permitir reparos na válvula de retenção. Observação: a bomba centrífuga deve ser sempre ligada e desligada com a válvula de gaveta fechada, devendo-se proceder de modo contrário nas bombas axiais. Figura 5 – Peças especiais numa instalação típica de bombeamento. Irrigação e Drenagem Nos projetos de irrigação, em geral, as bombas não trabalham afogadas, ou seja, são sempre instaladas em posição acima do nível da água do ponto de sucção (Figura 5a), no entanto, também podem ser instaladas abaixo do nível da água do ponto de sucção (Figura 5b). . Figura 6 – Instalação com bomba de sucção positiva (a) e afogada (b). 5. Altura Manométrica da Instalação A altura manométrica pode ser calculada pela seguinte equação: Hm = HG + ht Onde: HG = Altura geométrica e ht = perda de carga total. Irrigação e Drenagem Figura 7 – Altura manométrica de uma instalação com reservatório aberto. 6. Associação de Bombas Razões de naturezas diversas levam à necessidade de se associar bombas: a) inexistência no mercado de bombas que possam, isoladamente, atender a vazão de demanda; b) inexistência no mercado de bombas que possam, isoladamente, atender a altura manométrica de projeto; c) Aumento da demanda da vazão com o decorrer do tempo. Figura 8 – Exemplos de associação de bombas em paralelo. Irrigação e Drenagem Figura 9 – Exemplos de associação de bombas em série. 7. Potência do Conjunto Motobomba A potência da bomba necessária para o projeto de irrigação pode ser determinada pelas seguintes fórmulas: P = Q x Hman (cv) ou P = 0,736 Q x Hman (kw) 75 Emb 75 Emb Em que: P = potência necessária ao sistema; Q = vazão bombeada, em L s-1; Hman = altura manométrica total, em mca; Emb = eficiência da motobomba, em decimais (geralmente, Emb < 70); (Emb = eficiência da bomba x eficiência do motor). A altura manométrica total (Hman) representa o aumento de pressão que a bomba deve transmitir ao líquido, a qual, na irrigação por aspersão, pode ser assim representada: Hman = Hs + Hr + Hf + Hp + Ha Irrigação e Drenagem Sendo: Hman = altura manométrica, mca; Hs= altura geométrica de sucção, m; Hr = altura geométrica de recalque, m; Hf = perda de carga ao longo de toda a tubulação, mca; Hp = pressão necessária no aspersor, mca; Ha = altura de elevação no aspersor, m. O motor que aciona a bomba deverá trabalhar sempre com uma folga ou margem de segurança a qual evitará que o mesmo venha, por uma razão qualquer, operar com sobrecarga. Portanto, recomenda-se que a potência necessária ao funcionamento da bomba (P) seja acrescida de uma folga, conforme especificação a seguir para motores elétricos: Quadro 4 – Potência exigida pela bomba e sua respectiva margem de segurança recomendada. Potência necessária Acréscimo < 2 cv 30% 2 a 5 cv 25% 5 a 10 cv 20% 10 a 20 cv 15% > 20 cv 10% Para motores a óleo diesel recomenda-se uma margem de segurança de 25% e a gasolina, de 50% independente da potência calculada.
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