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PSIQUE DISTURBIO ALIMENTAR PRECOCE

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editorial
Comportamento alimentar 
e seus transtornos
Gláucia Viola, editora
“O maior pensar da criatura humana é 
comer; desde que o homem nasce até que 
morre anda a procurar o pão para a boca.”
António Vieira
A alimentação moderna é a principal razão pela qual as pessoas de todo o mundo estão cada vez mais doentes. Recente matéria publicada na revista Super Interessante mostrou que 80% das doenças de co-ração, 90% dos casos de diabetes e 70% dos casos de alguns tipos de câncer podem ter uma ligação estreita com hábitos de vida e alimentares. Pesquisas mundiais atestam que o comer inadequada-
mente é uma das maiores causas de morte, junto com o tabaco.
0ARA�A�0SICOLOGIA��A�ALIMENTA¥ÎO�SE�DElNE�COMO�RESPOSTA�COMPORTAMENTAL�INmUENCIADA�POR�CONDI¥ÜES�SOCIAIS�
e culturais. Sendo assim, o impacto sociocultural no padrão alimentar e no desenvolvimento de transtornos 
alimentares tem sido estudado mais frequentemente, avaliando-se os costumes e re-
LA¥ÜES�FAMILIARES�E�AS�INFORMA¥ÜES�VEICULADAS�PELOS�MEIOS�DE�COMUNICA¥ÎO�EM�MASSA���
 Nota-se, portanto, que o “comer desordenado” tem afetado crianças e adolescen-
TES�EM�MAIOR�NÞMERO�E�INTENSIDADE�E�GANHA�ATEN¥ÎO�DE�PESQUISADORES�E�PROlSSIONAIS�
da clínica. Tanto que na versão corrente do DSM-5, o Manual Diagnóstico e Estatístico 
de Transtornos Mentais, editado no Brasil em 2014, os transtornos da alimentação (in-
fância) passaram a ser descritos como parte dos transtornos alimentares – anterior-
mente essa nomenclatura era exclusiva para adultos. Antes disso os transtornos da 
ALIMENTA¥ÎO�EM�CRIAN¥AS�ERAM�CONSIDERADOS�UM�TIPO�NÎO�ESPECIlCADO�DE�TRANSTORNO��
em separado ao dos adultos.
 Esta edição da Psique se debruça sobre os problemas alimentares no artigo de 
capa produzido pela psicóloga Flávia Machado Seidinger Leibovitz. Segundo ela 
escreve no texto, apesar da complexidade em aferir o aumento da incidência desses 
transtornos na infância, é certo que há uma procura maior por tratamento do transtorno de alimentação em 
CRIAN¥AS�E�ADOLESCENTES��E�Ï�BEM�POSSÓVEL�QUE�HAJA�SIM�UM�AUMENTO�EM�CURSO��E�QUE�IRÉ�SE�COMPLEXIlCAR�EN-
QUANTO�PERDURAREM�AS�DIlCULDADES�COM�A�OBESIDADE�EM�NOSSA�CULTURA�
 Flávia ainda explica que há que se ter cuidado ao falar sobre transtornos alimentares, pois “paradoxal-
mente, quem recusa o alimento o mantém no comando de sua vida, habitando seu pensamento 24 horas por 
dia – inclusive como principal motivo de abandono do tratamento”, principalmente em crianças, para quem a 
chancela de um diagnóstico psiquiátrico pode gerar consequências psicossociais, muitas vezes negativas. Por 
ESSA�RAZÎO��ALERTA�QUE�CABE�AOS�PROlSSIONAIS�DA�CLÓNICA�CUIDAR�DOS�EQUÓVOCOS�GERADOS�ACERCA�DO�ASSUNTO�E�SEUS�
efeitos muitas vezes danosos, zelando por não replicá-los e perpetuá-los.
�/�FATO�Ï�QUE�AINDA�HÉ�MUITOS�IMPASSES�E�DESAlOS�PARA�TRATAR�TRANSTORNOS�ALIMENTARES�E�DE�ALIMENTA¥ÎO��PRIN-
cipalmente no universo infantil, e esperamos que este artigo traga luz a esse debate. 
Boa leitura! 
Gláucia Viola
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida
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UT
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RS
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CAPA
sumário
56
21/12/2016 01:15:5
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MATÉRIAS
ENTREVISTA
Especialista em Psicologia 
Financeira, Patrícia Rezende 
Chedid Simão alerta para a 
necessidade de um consumo 
mais consciente
SEÇÕES
05 EM CAMPO
14 IN FOCO 
16 SUPERVISÃO 
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 SEXUALIDADE 
32 COACHING
34 LIVROS
50 CIBERPSICOLOGIA 
52 NEUROCIÊNCIA
54 RECURSOS HUMANOS
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
74 PERFIL 
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
O analista 
desceu do salto
Nova realidade social exige 
que a razão na prática 
clínica seja exercida 
COM�MAIS�mEXIBILIDADE�
70
08
Doença não é mania
!mI¥ÎO�COM�SIMETRIA�OU� 
simplesmente refazer várias vezes a 
MESMA�A¥ÎO�PODEM�SER�A�PRESEN¥A�DO�
4/#��QUE�ATINGE�TAMBÏM�AS�CRIAN¥AS�
24
Volta por cima 
#ASO�REAL�CONlRMA�QUE�UMA�DAS�
formas de enfrentar adversidades 
Ï�A�RESILIÐNCIA��RESSIGNIlCANDO� 
um momento difícil
76
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Transtornos 
que preocupam
Bulimia, anorexia nervosa, 
transtornos alimentares e 
DA�ALIMENTA¥ÎO�GANHAM�
CADA�VEZ�MAIS�ESPA¥O�EM�
PESQUISAS�CIENTÓlCAS
DOSSIÊ: Distúrbios genéticos 
Algumas síndromes raras 
apresentam características 
SEMELHANTES��MAS�AINDA� 
DESPERTAM�ESTRANHAMENTO� 
E�DESCONHECIMENTO�EM�
PROlSSIONAIS�DE�SAÞDE�E�EDUCA¥ÎO
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 O debate 
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presentes 
no ambien
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escolar, 
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21/12/2016 01:17:41
35
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
em campo 
BIOFEEDBACK CARDÍACO
O treino da coerência cardíaca, 
estado que demonstra o equilíbrio do 
sistema nervoso autônomo, é uma das 
ferramentas cada vez mais usadas no 
tratamento coadjuvante de quadros de 
ansiedade e depressão. Por meio de um 
sensor corporal ligado a um computador, 
o indivíduo pode saber, em tempo real, 
como está a sua coerência, monitorando 
seu comportamento para alcançá-la – 
o chamado biofeedback cardíaco. “Por 
meio de exercícios de concentração 
mental, respiração controlada e uso de 
imaginação positiva, podemos atingir 
esse estado de equilíbrio, que tem 
repercussões imediatas em nossa saúde”, 
explica Marco Fabio Coghi, responsável 
por tecnologia brasileira de biofeedback. 
(Fonte: www.makeitpositivemag.com)
GAMES PARA PERFORMANCE
O mercado mundial de serious games deve 
ultrapassar os US$ 5 bilhões até 2020, 
segundo a consultoria norte-americana 
Markets and Markets. Trata-se dos 
JOGOS�ELETRÙNICOS�UTILIZADOS�PARA�lNS�
educacionais ou para treinamentos 
corporativos, favorecendo entre seus 
USUÉRIOS�A�lXA¥ÎO��DE�CONTEÞDOS�E�
a aquisição de habilidades técnicas 
e comportamentais. Hora vilões, 
hora mocinhos, os videogames já se 
encontram sob o guarda-chuva das 
chamadas “tecnologia positivas”, 
apresentando muito mais benefícios do 
que prejuízos em seu uso, tais como o 
favorecimento de maior conexão social 
entre os jogadores e ganhos cognitivos 
e motores, em detrimento de potencial 
adiccção, estímulo à violência e ao 
isolamento social entre jogadores.
(Fonte: www.makeitpositivemag.com)
por Jussara Goyano
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MEMÓRIA E FUTURO
HIPOCAMPO TAMBÉM NOS AJUDA A FAZER PLANOS 
E MENTALIZAR RESULTADOS
Estudo publicado na revista Cerebral Cortex lança luz sobre como o nosso cérebro 
IMAGINA�O�FUTURO��IDENTIlCANDO�AS�REGIÜES�CEREBRAIS�RELACIONADAS�COM�ESSA�ATIVIDADE��
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston descobriram que 
o hipocampo, estrutura fortemente associada a memória e orientação espacial, é 
também uma área-chave nesse processo.
Ainda não se sabe de que maneira ele participa nessa imaginação. Por meio 
de ressonância magnética funcional, os pesquisadores compararam a atividade ce-
rebral no hipocampo entre participantes do estudo enquanto estes respondiam a 
perguntas relacionadas ao presente ou ao futuro. Depois disso, eles compararam sua 
atividade cerebral enquanto respondiam a perguntas incluindo ou não a projeção de 
CENAS�DE�FUTURO��#OMO�RESULTADO��VERIlCARAM�INTENSA�ATIVIDADE�NESSA�ÉREA�DO�CÏREBRO�
quando as projeções eram necessárias. 
O hipocampo é afetado por muitas condições neurológicas e doenças e também 
pode ser comprometidodurante o envelhecimento. Por outro lado, sabe-se que exer-
cícios físicos aumentam o nosso hipocampo, ao mesmo tempo que têm implicações 
sobre quadros de depressão e ansiedade. Sabe-se, ainda, que pessoas deprimidas têm 
DIlCULDADE�DE�IMAGINAR�O�FUTURO��!�NOVA�DESCOBERTA�PODE�DIRECIONAR�ESTUDOS�RELACIO-
nando exercícios, capacidade projetiva e transtornos de humor, colocando, talvez, o 
hipocampo no centro de novas terapêuticas no tratamento da depressão. 
PARA SABER MAIS:
D. J. Palombo, S. M. Hayes, K. M. Peterson, M. M. Keane, and M. Verfaellie. Medial 
temporal lobe contributions to episodic future thinking: scene construction or futu-
re projection? Cerebral Cortex, December 2016.
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
FUNÇÃO SOCIAL
ESTUDO RELACIONA OCITOCINA 
E CAPACIDADE HUMANA 
DE SINCRONIA RÍTMICA E 
INTEGRAÇÃO COM O OUTRO
Durante um concerto, ao bater palmas junto com a me-
lodia, as pessoas com níveis mais elevados de ocitocina po-
dem aparentar maior sincronia umas com as outras do que 
aquelas com níveis mais baixos do hormônio. A descoberta 
foi publicada no periódico 3CIENTIlC�2EPORTS��após a observa-
ção do comportamento de voluntários sob uma relação líder-
-seguidor e o comando de batidas ao som de alguma música. 
Sabe-se que a capacidade de sincronizar movimentos e 
sons corporais com uma batida musical é uma habilidade 
humana. Sabe-se, ainda, que quando as pessoas sincronizam 
seus movimentos, caminhando, batendo palmas ou fazendo 
música, elas relatam gostar mais umas das outras. Outra in-
formação é que a ocitocina tem demonstrado promover in-
TERA¥ÎO�SOCIAL��COMO�COOPERA¥ÎO�E�AlLIA¥ÎO��.ESSE�SENTIDO��A�
pesquisa realizada contribui para a compreensão de como o 
comportamento de sincronia musical humana é afetado por 
fatores sociobiológicos, como a ocitocina e as relações líder-
-seguidor. Ele também destaca como a música cria e mantém 
a coesão social numa perspectiva evolutiva.
.O�ENTANTO��NESSE�ESTUDO��NÎO�lCOU�CLARO�SE�O�EFEITO�SOCIAL�
da ocitocina é direto, ou se ela afeta a sincronização ou ape-
nas comportamentos sociais secundários.
PARA SABER MAIS:
L. Gebauer, M. A. G. Witek, N. C. Hansen, J. Thomas, I. 
Konvalinka, P. Vuust. Oxytocin improves synchronisation in leader-
follower interaction. 3CIENTIlC� 2EPORTS�� N�� ��� ART�� ������� �����
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Jussara Goyano é jornalista. Estuda Medicina 
Comportamental com foco em resiliência, bem-estar 
e performance. É coach certificada pelo Instituto de 
Psicologia Positiva e Comportamento.
CORPO E MENTE
CORRER MELHORA A 
CONECTIVIDADE CEREBRAL
A conexão entre regiões cerebrais distintas é importante 
para funções cognitivas como planejamento, tomada de decisão 
e capacidade de mudar o foco de atenção entre tarefas. Achados 
CIENTÓlCOS�PUBLICADOS�NA�REVISTA�Frontiers in Human Neuroscience 
demonstram que essa conectividade é maior no cérebro de cor-
redores em comparação à de indivíduos mais sedentários.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universi-
dade do Arizona compararam exames cerebrais de corredores 
adultos jovens com os de adultos jovens que não praticavam ati-
vidade física regular. Os participantes do estudo tinham apro-
ximadamente a mesma idade – de 18 a 25 anos – com índice de 
massa corporal e níveis educacionais comparáveis. Os exames 
mediram a conectividade funcional do estado de repouso des-
ses jovens, ou o que se passava no cérebro enquanto os partici-
pantes estão acordados.
Embora pesquisas adicionais sejam necessárias para deter-
minar se essas diferenças físicas na conectividade cerebral re-
sultam em diferenças no funcionamento cognitivo, os achados 
atuais ajudam a estabelecer as bases para que os pesquisadores 
possam entender melhor como o exercício afeta o cérebro, par-
ticularmente em adultos jovens.
PARA SABER MAIS:
David A. Raichlen, Pradyumna K. Bharadwaj, Megan C. Fitzhugh, 
Kari A. Haws, Gabrielle-Ann Torre, Theodore P. Trouard, Gene 
E. Alexander. Differences in resting state functional connectivity 
between young adult endurance athletes and healthy controls. 
&RONTIERS�IN�(UMAN�.EUROSCIENCE, n. 10, 2016.
em campo 
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www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
A QUESTÃO DO DISCURSO
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 123
giro escala
PENSAMENTO 
SISTÊMICO
uma nova forma de 
entender o mundo
FORMAÇÃO 
DA RALÉ
O crescimento dos 
discursos de ódio, em 
HANNAH ARENDT
ANO IX No 123 – www.portalcienciaevida.com.br
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RENATO JANINE RIBEIRO
Se o Brasil está no fundo do poço, 
como tirá-lo de lá?
ENTREVISTA
Sidnei de Oliveira fala sobre a simbiose 
entre Filosofi a e Música em sua pesquisa
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Como can
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Cinema e 
educação: 
a experiên
cia de um 
regime
ditatorial e
m sala de 
aula
Imagens n
o texto 
filosófico
Mitologia
 grega, Pla
tão e a ver
dade como
 
não esquec
imento
REFLEXÃO E PRÁTICA: Imagens como mediadoras do discurso
Como o papel das mulheres 
é subjugado na construção 
do conhecimento
 OPRESSÃO PELO 
 MASCULINO
ROSANE BORGES ANALISA TRAJETÓRIA DE ANGELA DAVIS NA LUTA CONTRA O RACISMO
Em Sala de Aula: Qualidade da educação rural na pauta do MST
www.portalcienciaevida.com.br
O OUTRO
COMO 
INIMIGO
Qual a sua 
desculpa? 
O ato de 
desculpar-se 
na mira 
de estudos 
sociológicos
Primavera 
das Mulheres
Temas como 
assédio e 
aborto 
reacendem 
o ativismo 
feminino
Os contornos 
da direita
Como PFL 
e DEM 
delinearam o 
atual cenário 
da política 
conservadora 
brasileira
A verdadeira 
identidade 
da “piriguete” 
Feminilidade e 
comportamento 
sexual 
exagerados 
reforçam 
hegemonia 
masculina
O medo transformou 
as relações sociais
e as confi gurações 
urbanas, confi nando a 
população entre muros
O medo transformou 
as relações sociais
e as confi gurações 
urbanas, confi nando a 
população entre muros
A proposta do trabalho publicada 
na edição 123 da revista Filosof ia , 
pautada em três etapas distintas, é a 
de apresentar ao leitor algumas no-
ções básicas e conceitos da Filosof ia. 
Apesar de abordar no ensaio assun-
tos e contextos tão diversos entre si 
– a poesia na Antiguidade, o empi-
rismo moderno e a discussão sobre 
política nos dias de hoje –, o autor 
buscou uma consonância entre es-
sas três abordagens no que se refere 
principalmente à questão do discurso 
e da defesa de argumentos. Na etapa 
I, há a retomada dos gregos antigos 
no que se refere à noção de Alétheia 
e a credibilidade do discurso poético 
– palavra sagrada e acreditada. Na-
quela sociedade, fundamentalmente 
oral, os discursos e 
as técnicas de de-
clamação poética 
constituíam formas 
de exercício de po-
der, sendo essa uma 
de suas principais 
características.
Na etapa II, veri-
f ica-se facilmente o 
conceito de ideia em 
John Locke (1632-
1704) – enquanto 
objetoda mente, originado a partir 
da experiência sensível. A palavra é 
um componente fundamental para 
a manifestação das ideias – simples 
e complexas. Na etapa III, a propos-
ta do texto é de uma apreciação do 
f ilme alemão 
A Onda (Die 
Welle), lançado 
no Brasil em 
2009, com di-
reção de Den-
nis Gansel. A 
produção atua 
como recurso 
artístico para 
problemat izar 
os conceitos 
de autocracia e 
retórica. Nesse f ilme, o discurso retó-
rico é tomado como um veículo para 
difundir e defender ideias e posições 
políticas (no caso, a autocracia) e, da 
mesma forma que o exemplo grego, 
também promove um encantamento.
UMA PERSONALIDADE LIBERTÁRIA
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 67
A norte-americana Angela 
Davis é considerada uma das perso-
nalidades mais libertárias do século 
XX, também com atuação marcan-
te neste século. Pós-doutoranda 
em Ciências da Comunicação pela 
ECA-USP, professora do Centro de 
Estudos Latino-Americanos sobre 
Cultura e Comunicação da USP, in-
tegrante da Cojira-SP (Comissão de 
Jornalistas pela Igualdade Racial), 
autora e organizadora de diversos 
livros, entre eles Espelho Infiel: o 
Negro no Jornalismo Brasileiro, Mídia 
e Racismo, Rosane Borges escreveu 
a orelha do livro Mulheres, Raça e 
Classe, da ativista norte-americana, 
lançado no Brasil.
Angela Davis é mulher, negra, 
comunista e feminista, um conjun-
to de características que sinaliza 
para um ativismo considerado pe-
rigoso para o establishment . Rosane 
ressalta que Angela Davis pertence 
a uma geração em que a luta políti-
ca foi uma arena fundamental para 
a mudança do mundo. E isso nos 
anos 60, um cenário que se consti-
tuiu numa década importante para 
a transformação social. Rosane re-
lembra que a carreira política de 
Angela ganha visibilidade mun-
dial na década de 1970, quando ela 
foi presa pela acusação grave de 
conspiração, sequestro e homicí-
dio. Tornou-se, por isso, a terceira 
mulher a integrar a Lista dos Dez 
Fugitivos Mais Procurados do FBI. 
Uma personagem fascinante que a 
faz absolutamente comprometida 
com a mudança social, a partir de 
ref lexão e da prática. A entrevis-
ta completa concedida por Rosane 
Borges pode ser conferida na edi-
ção 67 da revista Sociologia .
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
Segundo Patrícia Simão, o comprador compulsivo se classifica 
dentro do quadro de transtornos do impulso e adota um 
comportamento repetitivo, no caso o ato de comprar; sempre 
levado por um impulso, decidido pela emoção
E
quilibrar o orçamento e manter uma 
VIDA� lNANCEIRA� CONTROLADA� SÎO� DESAlOS�
difíceis de enfrentar, principalmente em 
momentos de crise econômica, como a 
atual fase do Brasil. Há indivíduos perdulários, mas 
que conseguem, aos poucos, alterar seus hábitos e 
adequar seu padrão de vida à própria realidade. 
Entretanto, existem situações em que a pessoa é 
tomada por um sentimento incontrolável de gastar 
mais do que o bolso comporta. Nesses casos, a Psi-
cologia Financeira pode ser uma importante aliada 
para auxiliar quem sofre de alguns transtornos re-
lacionados ao problema.
Especialista na área, a psicóloga Patrícia de Re-
zende Chedid Simão destaca que, apesar de ser um 
campo de estudo relativamente novo, vem ganhan-
do espaço e importância no amplo espectro da Psi-
COLOGIA�� %LA� RESSALTA� QUE� O� DESCONTROLE� lNANCEIRO�
pode ser originário de um problema emocional, que 
deve ser tratado. Mas faz uma ressalva: “Para ser 
considerado um problema de ordem emocional é 
necessário que seja tomado por um impulso, tenha 
certa frequência na vida do indivíduo e causado 
PREJUÓZOS�NÎO�APENAS�DE�ORDEM�lNANCEIRA��-AS�SE�Ï�
UM�FATO�ISOLADO��UMA�ESCOLHA���DELICADO�AlRMAR�SER�
um problema emocional”.
Patrícia é graduada em Psicologia, pós-graduada 
em Psicopedagogia, tem formação em Terapia Com-
portamental e Cognitiva, com extensão em Psico-
logia Econômica, Educação Financeira, Mercado 
Financeiro e Mercado de Ações, além de ser capa-
citada como mediadora e conciliadora judicial. Atua 
na área clínica desde 1996 como psicóloga e profes-
sora em Orientação do Comportamento Financeiro.
NEM TODOS TÊM 
FACILIDADE DE 
AUTOCONTROLE 
FINANCEIRO
PATRÍCIA DE REZENDE CHEDID SIMÃO
Por Lucas Vasques
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
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Para Patrícia Simão, o 
papel da Psicologia 
é importante, pois 
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�IG��‚�G�I���G������
é uma aprendizagem, 
como qualquer outra, 
e envolve aspectos 
objetivos e subjetivos
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10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ordem emocional é necessário que seja 
tomado por um impulso, tenha certa 
frequência na vida dele e tenha causado 
PREJUÓZOS�NÎO�APENAS�DE�ORDEM�lNANCEI-
ra. Mas se é um fato isolado, uma esco-
LHA���DELICADO�AlRMAR�SER�UM�PROBLEMA�
emocional. Pelo contrário, às vezes se 
faz até necessário. Por exemplo: quando 
A�DOR�OU�O� CONmITO� SÎO�MUITO� GRANDES��
necessitamos da famosa “válvula de 
escape”. Melhor que seja no cartão de 
CRÏDITO�DO�QUE�lCAR�DOENTE��BATER�O�CAR-
ro, fumar ou beber. Foi um descontrole, 
sem dúvida, mas é importante entender 
todo o contexto da história que levou o 
indivíduo a esse comportamento. Nesse 
caso isolado entendo mais como uma 
forma de compensação. 
COMO A PSICOLOGIA FINANCEIRA IDENTI-
FICA UMA PESSOA QUE TEM DIFICULDADES 
NO ORÇAMENTO DAQUELA QUE POSSUI UM 
TRANSTORNO?
PATRÍCIA: !�DIlCULDADE�Ï�ESPERADA�QUAN-
do não se tem conhecimento do assun-
to, familiaridade, falta experiência. O 
transtorno tem dois aspectos: já se tem 
conhecimento. Em alguns casos se inicia 
a prática, mas não existe sustentação da 
mesma; e quase sempre vem associado a 
algum tipo de prejuízo. 
QUANDO E POR QUE A PESSOA PRECISA DE 
UM TRATAMENTO PSICOLÓGICO?
PATRÍCIA: E importante avaliar o contexto 
em que a queixa se apresenta. Alguns pon-
tos devem ser observados: a queixa trazida 
é uma constante na vida do indivíduo; já 
fez tentativas de mudar e não conseguiu; 
as pessoas o alertam para isso; sempre 
BUSCA�JUSTIlCATIVAS�OU�EVITA�FALAR�SOBRE�SUAS�
CONDUTAS� lNANCEIRAS�� O� COMPORTAMENTO�
em questão já lhe causou problemas, não 
APENAS� NO� CAMPO� lNANCEIRO� COMO� TAM-
BÏM�PESSOAL��PROlSSIONAL�E�AFETIVO�SEXUAL��
avaliar a saúde. Em determinadas situ-
A¥ÜES� ESSAS� CONDUTAS� lNANCEIRAS� GERAM�
problemas de saúde física e emocional.
IM
AG
EM
: 1
23
RF
EXISTEM DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA 
FINANCEIRA E PSICOLOGIA ECONÔMICA? 
QUAIS SÃO? 
PATRÍCIA: Se formos fazer essa compa-
ração levando em conta a nomenclatu-
RA��EM�UM�PRIMEIRO�MOMENTO�lCA�CLARA�
uma diferença. Enquanto a Psicologia 
Financeira diz respeito à administração 
de recursos, desde individuais a peque-
nos grupos e de uma sociedade como 
um todo, já a Econômica, por sua vez, é 
a ciência que estuda a atividade econômi-
ca no âmbito social. O comum entre elas 
é que as duas se utilizam da Psicologia, 
que, por sua vez, é a ciência que estuda o 
comportamento. Já em termos de como 
CADA� UMA� TRABALHA�� NÎO� TERIA� DElNI¥ÎO��
até porque Psicologia Financeira é um 
termo que vem sendo utilizado pela mí-
dia e a cada dia surgem novos nomes e 
trabalhos propostos por diferentes linhas 
da Psicologia. Como disse, isso é um pro-
cesso que vem crescendo. Já a Psicologia 
Econômica tem na Vera Rita de Melo 
Ferreira, psicanalista de formação, seu 
maior nome para essa proposta. Fui alu-
na de sua primeira turma e, sem sombra 
de dúvida, muitosestudos e informações 
que temos hoje no Brasil, nesse campo, 
devemos a ela. Psicologia Econômica é 
um estudo que surgiu na Europa. Tam-
bém se falou muito de economistas com-
portamentais e sua proposta está em 
trazer a Psicanálise como contribuição à 
%CONOMIA�� *�OUTROS�PROlSSIONAIS� SEGUI-
ram a linha da terapia comportamental 
cognitiva, na qual eu me enquadro, ape-
sar de nunca descartar ideias de autores 
DAS�DEMAIS� LINHAS��!lNAL�� � TUDO�MUITO�
novo e acredito que qualquer informação 
que possa ajudar deve ser compartilhada. 
Devemos ter o cuidado em não dividir a 
0SICOLOGIA� COMO� lZERAM� NA� POLÓTICA�� /�
que está em jogo aqui é a salubridade de 
uma nação. 
DESCONTROLE FINANCEIRO É UM PROBLE-
MA EMOCIONAL?
PATRÍCIA: Depende. Precisamos entender 
o que levou o indivíduo a esse descontro-
le. Para ser considerado um problema de 
A Psicologia Financeira 
diz respeito à 
administração de recursos, 
desde individuais a 
pequenos grupos e de 
uma sociedade como um 
todo, já a Econômica, 
por sua vez, é a 
ciência que estuda a 
atividade econômica no 
âmbito social
A matemática da educação 
‚�G�I���G�\��`��IGd��G��G��
e gastar menos do que 
����G��G:�$�������I���G��G�
�������������
���
desprendidos de emoções
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11
sensação de inutilidade; perda do prazer 
SEXUAL��DIlCULDADE�EM�EXECUTAR�AT�MES-
mo tarefas cotidianas. A apresentação 
de três ou mais desses sintomas merece 
tratamento em psicoterapia, associado ou 
não de medicação, dependendo do grau.
EM TEMPOS DE CRISE, COMO A QUE O PAÍS 
ESTÁ VIVENDO, É CORRETO AFIRMAR QUE 
HÁ UM AUMENTO CONSIDERÁVEL NOS CASOS 
DE DEPRESSÃO E ESTRESSE RELACIONADOS 
AO ASSUNTO DINHEIRO?
PATRÍCIA: Foram desenvolvidos vários tra-
balhos e pesquisas sobre isso. O Serviço 
de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em 
2015, publicou um artigo sobre essa ques-
tão, apontando, inclusive, a porcentagem 
para cada alteração de humor observa-
da. Recomendo a leitura, disponível em 
https://www.spcbrasil.org.br/uploads/st_im-
prensa/release_sentimentos.pdf
PODEMOS CLASSIFICAR A CORRUPÇÃO COMO 
UMA ESPÉCIE DE TRANSTORNO, JÁ QUE ELA SE 
CARACTERIZA PELA BUSCA EXACERBADA DE 
PODER E DINHEIRO? 
PATRÍCIA: Primeiro é importante enten-
der o que é corrupção, ou seja, o ato de 
subornar alguém, dando dinheiro ou até 
mesmo presentes, na tentativa de atingir 
benefícios por interesse próprio, desrespei-
tando regras e leis. Nesse sentido, a prática 
desse ato é até comum. Agora, indivíduos 
que usam desse método como um meio de 
vida, compulsivamente, pode sugerir que 
estamos diante de algum tipo de trans-
torno de personalidade. Alguns autores 
DEFENDEM�QUE� O� CORRUPTO� ESTARIA� CLASSIl-
cado em alguns deles. Fácil entender essa 
conclusão se você ler um pouco sobre as 
características deles. Vou apresentar a des-
crição de dois tipos de transtorno, que, de-
vido às suas características, levariam a essa 
conduta mais facilmente, sem nenhuma 
culpa. Para isso, cito Bernard Rangé, da 
terapia comportamental cognitiva. Um é o 
transtorno narcísico, cuja crença principal 
é o indivíduo acreditar que está acima das 
regras e merece atenção especial, e, assim, 
ele transcende regras, é extremamen-
te competitivo, usando dos outros para 
EXISTE UM PERFIL PSICOLÓGICO PADRÃO EN-
TRE OS COMPRADORES COMPULSIVOS?
PATRÍCIA: Segundo alguns estudos den-
tro da terapia comportamental cognitiva, 
citando Range (1995), o comprador com-
PULSIVO� SE� CLASSIlCA�DENTRO�DO�QUADRO�DE�
transtornos do impulso, e isso nos leva à 
observação de algumas condutas comuns, 
entre elas comportamento repetitivo, nesse 
caso o ato de comprar; sempre levado por 
um impulso, sem planejamento; a compra 
é decidida pela emoção, ausência da razão.
COMO DEFINE O COMPORTAMENTO ECONÔ-
MICO DO BRASILEIRO?
PATRÍCIA: Sendo bem objetiva, vejo que 
estamos caminhando para uma socieda-
de neurótica. Falo mais precisamente da 
neurose do fracasso, pois foi engolida por 
um poder representado, em sua maior par-
te, por indivíduos perversos. Citando La 
Planche e Pontails, entende-se neurose do 
fracasso, segundo estudos de René Laufor-
gue, como sendo “um grupo de todas as 
ESPÏCIES�DE�SÓNDROMES�DO�FRACASSO�IDENTIl-
cáveis na vida afetiva e social, no indivíduo 
ou num grupo social....”. Já Freud refere-se 
a certos tipos de fracasso neurótico à com-
pulsão, à repetição, o que ele chama de 
compulsões de destino (1920). Já o conceito 
de perversão, trago não apenas no concei-
to da Psicanálise, mas, sim, mais amplo. É 
perverso o indivíduo que trapaceia, rouba, 
manipula, visando usar o dinheiro de ter-
ceiros para seu próprio benefício. Desres-
peita regras e leis sem o menor sentimento 
de culpa. Enriquecimentos nesses casos 
são ilícitos. Suas relações são basicamente 
sadomasoquistas, em que atingem o pra-
zer com o sofrimento de outros. Necessita-
mos urgentemente tratar dessas neuroses, 
porque somente uma sociedade sã é capaz 
de controlar a perversão. 
EM MOMENTOS DE CRISE NO PAÍS, COMO 
ADOTAR UM COMPORTAMENTO ECONÔ-
MICO ADEQUADO PRA EVITAR PROBLEMAS 
FUTUROS?
PATRÍCIA: Nesse caso a lição de casa é bem 
objetiva, concreta, direto no orçamento. 
Rever o orçamento, os gastos possíveis de 
serem cortados, diminuídos. Não há mui-
to como fugir dessa regra. Isso, no entan-
to, se torna difícil para muitos, porque o 
simples fato de olhar o orçamento nos faz 
deparar com uma realidade de momento 
angustiante, no que se diz respeito à ques-
TÎO� lNANCEIRA
ECONÙMICA�� $E� REPENTE�� O�
dinheiro acabou, e agora? Minha resposta 
para isso é: ótimo! Quem sabe não seja o 
momento de pensar em outras condutas, 
valores, para que se tome conhecimento de 
nossas aptidões, trabalhar internamente.
QUAIS OS IMPACTOS EMOCIONAIS PROVOCA-
DOS PELA CRISE FINANCEIRA?
PATRÍCIA: Certa preocupação e medo 
DIANTE�DE�UMA�CRISE�lNANCEIRA�SÎO�ATITU-
des normais e esperadas. O contrário não 
SERIA��AlNAL�O�CENÉRIO�ECONÙMICO�MUDOU�
e existe a necessidade de readequar o or-
çamento e, em determinadas situações, 
até mesmo buscar uma terceira fonte de 
renda para cobrir os gastos. No entanto, 
Ï� PRECISO� lCAR� ATENTO�� POIS� DEPRESSÎO� E�
transtornos de ansiedade podem apare-
cer, no caso de indivíduos que já possuam 
essa predisposição. Alguns sintomas da 
depressão: tristeza, acompanhada de sen-
timentos de culpa e vergonha; crises de 
CHORO��SENSA¥ÎO�DE�FRACASSO��DIlCULDADES�
de concentração; irritabilidade; insônia; 
0ARA�MELHOR�ElCÉCIA�� 
a Psicologia Financeira 
tem muitas maneiras 
de comparecer, desde 
palestras informativas, 
grupos de apoio 
emocional e orientação 
lNANCEIRA�E��EM�ALGUNS�
casos, os tratamentos 
em consultório com as 
sessões de psicoterapia
12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
benefício próprio e se autoengrandecer. 
A visão que faz dos outros é que são infe-
riores e devem ser seus admiradores, e ele, 
sim, é especial, único e superior. O segun-
do é o transtorno antissocial, cuja crença 
principal é a de que regras não são para ele 
e o negócio é levar vantagem em tudo e, 
assim, ele engana, manipula, ataca e rouba, 
enxergando os outros como otários, vul-
neráveis e exploráveis. Ele é forte, esperto, 
autônomo, não precisa de ninguém. Den-
TRO�DESSE�QUADRO�lCA�FÉCIL�ENTENDER�POR�QUE�
alguns autores de saúde levam a esse diag-
nóstico. No entanto, eu já iria por outro 
viés. Vejo a corrupção, antes de mais nada, 
como uma falha de educação, e o indiví-
duo corrupto é resultado de um somatório 
de atos que poderiam ter sido corrigidos e 
não foram, levando-o, digamosassim, ao 
vício da corrupção. Uma vez instalado só 
existe uma maneira de controlar: a reedu-
cação. E, aí, nós temos de recorrer a uma 
linha da Psicologia que, a meu ver, nesse 
caso a mais recomendada seria a Experi-
mental, que propõe a extinção de compor-
tamentos prejudiciais por meio da punição 
e a aprendizagem de novas condutas, atra-
VÏS�DE�ESTÓMULOS�E�REFOR¥OS�POSITIVOS��%��l-
nalizando no caso da corrupção sistêmica, 
eu entendo que a prisão, por si só, não leva-
rá a resultado nenhum. E esses indivíduos, 
mais cedo ou mais tarde, vão comprar a 
sua liberdade. A punição deve ser feita no 
ponto mais vulnerável, nesse caso o bolso. 
Corrupto tem que pagar com dinheiro e 
com trabalho que exija muita disciplina. 
Como eu disse, esses indivíduos devem ser 
reeducados. E é claro que uma avaliação 
de ordem neurológica também, no caso de 
transtornos mais severos. 
NAS DATAS COMEMORATIVAS, COMO NATAL, 
DIA DAS CRIANÇAS E DAS MÃES, HÁ CER-
TA EUFORIA EM RELAÇÃO ÀS COMPRAS DE 
PRESENTES. QUAIS OS PRINCIPAIS CUIDADOS 
PRECONIZADOS PELA PSICOLOGIA FINANCEI-
RA QUE O CONSUMIDOR DEVE TER PARA NÃO 
DAR O PASSO MAIOR QUE A PERNA?
PATRÍCIA: Você usou o termo correto: eu-
FORIA��6OU�DElNIR�TRAZENDO�O�MAIS�ANTIGO�
dos livros, o dicionário: “A euforia é um 
estado patológico, uma vez que ele se ca-
racteriza pelo aparecimento de alegria, 
otimismo e ânimo, mas que não corres-
ponde à realidade da vida da pessoa que 
diz experimentá-los”. Portanto, voltamos 
aí outra vez à questão do princípio do 
prazer como fuga da realidade. A lição 
de casa nessas situações é muito simples. 
Primeiro, quando estiver eufórico evi-
te as compras. Fale, converse, caminhe, 
movimente-se, como uma forma de ca-
nalizar essa energia por outro caminho 
QUE�NÎO�VÉ�LESÉ
LO�lNANCEIRAMENTE��
DENTRO DESSE CENÁRIO, O BRASILEIRO 
NÃO TEM O HÁBITO DO PLANEJAMENTO. 
QUAIS ELEMENTOS A PSICOLOGIA FINAN-
CEIRA TRAZ PARA PROPORCIONAR UMA POS-
SÍVEL MUDANÇA DESSE HÁBITO?
PATRÍCIA: Então, vamos entender essa 
mudança de hábitos como uma aprendi-
zagem, e nesse caso é mais fácil adqui-
rir novos hábitos que tenham reforços 
POSITIVOS��!� PRIMEIRA� COISA� A� IDENTIlCAR�
é se ocorre motivação interna para essa 
mudança e quais seriam elas. Depois, re-
gistrar os ganhos que a pessoa possa ter 
COM�NOVOS�HÉBITOS��%��lNALMENTE��TRA¥AR�
estratégias e caminhos que levem a isso. 
.ESSE� CASO� S� SABEREMOS� COMO� DElNI-
-las com o paciente em sessão. Mesmo 
porque temos de observar as respostas e 
irmos adaptando às ferramentas. 
AS CRIANÇAS SÃO BEM VULNERÁVEIS ÀS 
OFERTAS DO CONSUMO. COMO OS PAIS PO-
DEM CONDUZIR UMA EDUCAÇÃO FINANCEI-
RA SAUDÁVEL PARA SEUS FILHOS?
PATRÍCIA: Com crianças, o trabalho é pre-
ventivo, uma vez que, segundo alguns au-
tores, a personalidade já está formada aos 
4-5 anos, e, de fato, nessa fase você conse-
gue observar comportamentos no brincar 
da criança, que sugerem suas tendências 
lNANCEIRAS��%U�COSTUMO�DIZER�QUE�O�BRIN-
quedo é o dinheiro da criança, enquanto 
que para o adulto, dinheiro é brinquedo. 
Os pais precisam se dar conta do quanto 
é poderosa essa ferramenta na educação. 
Cabe aqui uma citação de Winnicott: 
“A criança joga (brinca) para expressar 
agressão, adquirir experiência, controlar 
ansiedades, estabelecer contatos sociais 
como integração da personalidade e por 
prazer”. O que eu teria a dizer para os pais 
�� BRINQUEM� COM� SEUS� lLHOS�� ENQUANTO�
ainda é tempo. Se ele for um pré-adoles-
cente, jogue, não espere o dinheiro entrar 
no mundo dele, o que hoje acontece cedo, 
a partir do momento que ele já entende a 
existência do mesmo e sabe fazer contas. 
Mas não abandonem a brincadeira, que é, 
no meu ponto de vista, a melhor maneira 
de ensinar e educar. O jogo permite ensi-
nar a criança que regras existem e devem 
ser respeitadas, saber ganhar e perder e 
ter a merecida punição se houver tenta-
tiva de trapaça. No jogo, na brincadeira, 
VOC�EDUCA�SEU�lLHO�A�SER�UM�HOMEM�ME-
lhor. Por isso, se ele ganhar vibre com ele, 
mas se ele perder deixe que chore, deixe 
que sofra, não lhe tire essa oportunidade 
de aprender com a dor, porque a vida é 
assim e dessa forma você estará preparan-
DO�SEU�lLHO�PARA�UM�MUNDO�DE�VERDADE��
onde temos de ganhar, sem dúvida, mas 
não vamos morrer se perdermos. 
POR QUE AS PESSOAS SE DEIXAM LEVAR PE-
LAS EMOÇÕES NA HORA DE COMPRAR OU 
INVESTIR SEU DINHEIRO?
PATRÍCIA: Importante essa sua pergunta. 
E eu, entendendo isso e vendo o quan-
to o trabalho em clínica pode ser longo 
e para algumas situações não podemos 
Primeiro é importante 
entender o que é 
corrupção. Indivíduos 
que usam desse método 
como um meio de vida, 
compulsivamente, pode 
sugerir que estamos 
diante de algum 
tipo de transtorno de 
personalidade
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13
esperar tanto tempo, fui buscar ferra-
mentas para ajudar nessa questão. Isso 
foi em 2009, quando outro campo do 
saber também vinha ganhando terre-
no, a Educação Financeira. Observei, 
então, dois pontos nesses cursos: a pre-
ocupação com questões relacionadas a 
endividamento, consumismo, e o sonho 
da aposentadoria, passíveis de serem 
entendidos em nível racional, uma vez 
que são objetivos, e não estão errados. Já 
para o entendimento da Psicologia, isso 
é somente a ponta do iceberg, o sintoma. 
/�CONmITO� �QUE�NOS� INTERESSA��1UANDO�
FALAMOS�EM�lNAN¥AS��A�QUESTÎO�EM�JOGO�
é mais subjetiva do que parece. Para isso, 
busquei também a psicopedagogia, dis-
ciplina que visa justamente trabalhar as 
DIlCULDADES�DE�APRENDIZAGEM��!�MELHOR�
resposta que encontrei para isso está 
em Alicia Fernandez, 1991, em seu livro 
Inteligência Aprisionada�� %LA� AlRMA� QUE�
aprendizagem é sempre singular, especí-
lCA��$IZ�O�QUANTO��IMPORTANTE�ENTENDER�
a forma que cada um tem e ainda reforça 
que a modalidade de aprendizagem asse-
melha-se à modalidade sexual, e até com 
a forma de relação que o sujeito estabe-
lece com o dinheiro. Esse meu estudo foi 
o trabalho de conclusão de curso, publi-
cado com o tema “A aprendizagem em 
Educação Financeira: diagnóstico, pre-
venção e intervenção psicopedagógica”. 
Quem se interessar, encontra-se disponí-
vel no endereço HTTP���WWW�PSICOLOGIAl-
NANCEIRA�COM�BR�PSI�DOWNLOADS�MONOGRAlA?
APRENDIZAGEM?EM?EDUCACAO?lNANCEIRA�PDF
QUAIS OS PRINCIPAIS ERROS QUE OS INVES-
TIDORES COMETEM EM RELAÇÃO ÀS QUES-
TÕES EMOCIONAIS?
PATRÍCIA: São as famosas atitudes im-
pulsivas. Investidores que cometem esse 
tipo de erro se enquadram no mesmo 
PERlL�QUE�COMPRADORES�COMPULSIVOS��S�
que nesse caso o objeto dele é o merca-
DO� lNANCEIRO��/S� ESQUEMAS� COGNITIVOS�
são os mesmos. A decisão pelos investi-
mentos, às vezes, é tomada pela oferta, 
pelo modismo e é imediata, sem plane-
jamento algum.
Vejo que estamos 
caminhando para uma 
sociedade neurótica. 
Falo mais precisamente 
da neurose do fracasso, 
pois foi engolida por um 
poder representado, em 
sua maior parte, por 
indivíduos perversos
UM TRATAMENTO COM BASE NA PSICOLO-
GIA FINANCEIRA PODE SER UMA ALTERNA-
TIVA PARA CASAIS EM CRISE NO RELACIO-
NAMENTO POR RAZÕES FINANCEIRAS? DE 
QUE MANEIRA?
PATRÍCIA: Sim, mas temos de levar em 
conta os valores, conceitos e pré-concei-
tos de cada um dos parceiros. Ainda vive-
mos numa cultura em que a cobrança de 
papéis é muito grande, principalmente no 
QUE�DIZ� RESPEITO� �lGURA�MASCULINA�� QUE�
tem de ser o provedor. Além disso, ainda 
pecamos muito em cima de uma ideia er-
rônea que associa dinheiro ao sucesso, le-
vando um dos parceiros, ou até mesmo os 
dois, à sensação de fracasso no casamento 
QUANDO�HÉ�UMA�CRISE�lNANCEIRA��.O�EN-tanto, pelo contrário, muito dinheiro tam-
BÏM�PODE� SER� UMA� FORMA�DE� CAMUmAR� A�
falência do casal. Nesse momento, os dois 
devem sentar e conversar muito. A con-
versa sempre foi e será o melhor caminho, 
ajudar um ao outro, dividir suas ideias, 
MEDOS�E�CONmITOS��/�SEU�PARCEIRO�A	�TEM�
que saber o que se passa na sua cabeça 
para ambos poderem juntos desvendar o 
que, de fato, é real, o que é fantasia e que 
medidas devem ser tomadas.
QUAIS SERIAM OS CONSELHOS QUE DARIA 
AO LEITOR EM RELAÇÃO A COMO LIDAR 
COM O DINHEIRO?
PATRÍCIA: %STÉ�EM�CRISE�lNANCEIRA��%N-
tão, primeiro, comece revendo seus 
valores. Segundo, veja suas aptidões e 
o que, de fato, o faz feliz, e, terceiro, 
levante seus recursos internos e trans-
forme o que você tem de melhor em 
algum produto ou serviço que possa 
vir, de alguma maneira, a ser compar-
TILHADO��%��lNALIZANDO��DESENVOLVA�SUA�
capacidade de amar. 
As crianças são mais vulneráveis aos apelos do consumismo e, por isso, os pais devem ter uma 
����I��Gh��������G���H����
�IGhÔ��‚�G�I���G
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14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Müller
MENTE presente
ESTAR NO MOMENTO DE AGORA PERMITE DESLIGAR 
A CAPACIDADE CEREBRAL DE ALERTAR PARA 
AS POSSIBILIDADES QUE PODEM ESTAR NOS AGUARDANDO 
QUEBRAR A 
MOLDURA DO 
ABSOLUTISMO 
E ACEITAR O 
INCERTO REQUEREM 
RECONHECER O QUE 
DE FATO ESTÁ SOB 
NOSSO CONTROLE E 
DEIXAR FLUIR SEM 
RESISTÊNCIA AQUILO 
QUE NÃO ESTÁ
“A iluminação parte de processos mui-
TOS�SIMPLESv��ENSINA�O�lLØSOFO�AUSTRÓACO�
Rudolf Steiner em A Iniciação, em que 
apresenta formas de desenvolver a ha-
bilidade de se conectar ao que chama 
de “mistérios superiores da existência” 
n�O�QUE� SØ� Ï� POSSÓVEL� POR�MEIO�DE� UM�
processo meditativo, um conceito que 
na época ainda era considerado parte 
de um campo do ocultismo, restrito 
a poucos. Steiner derruba essa ideia, 
mostrando que o treino da atenção ple-
na – ou “iluminação”, como aborda – é 
ACESSÓVEL�A�TODOS�E�hPROCEDE�DA�MESMA�
forma que com todo o restante saber 
ou capacidade do ser humano”: basta 
estar disposto e ter a paciência para 
desenvolver e despertar sentimentos 
E� PENSAMENTOS� LATENTES�� h/� INÓCIO� SE�
fará com a contemplação, de uma de-
terminada maneira, de diversos seres 
da Natureza – por exemplo, uma trans-
parente e bem-formada pedra (cristal), 
uma planta e um animal. Procure-se 
inicialmente dirigir toda a atenção à 
comparação da pedra com o animal, 
da seguinte forma: os pensamentos que 
PARA�AÓ�SÎO�DIRIGIDOS�TERÎO�DE�ATRAVESSAR�
a alma acompanhados de sentimentos 
vivos. E nenhum outro pensamento, ne-
nhum outro sentimento poderão intro-
meter-se e perturbar a contemplação 
intensiva e compenetrada”, instrui. Essa 
contemplação profunda pode ser dire-
cionada a outros sentidos: para alguns, 
forma. Persegui-lo é como perseguir um 
fantasma, um que constantemente nos 
escapa e quanto mais corremos para 
alcançá-lo, mais rapidamente ele foge. É 
por isso que a civilização corre apressa-
da, raramente valoriza aquilo que tem 
e está sempre querendo mais e mais. A 
felicidade, então, consiste não em rea-
LIDADES�SØLIDAS��MAS�EM�ALGO�ABSTRATO�E�
SUPERlCIAL��COMO�PROMESSAS�E�EXPECTA-
tivas”, conclui Watts.
Sem conseguirmos nos livrar, ao 
menos de vez em quando, da angústia 
DE� SERMOS� COMANDADOS� PELO� RELØGIO� E�
da pressão que representam os ideais 
QUE� NOSSA� CULTURA� CONSTRØI� �E� PROPA-
GA� TÎO�BEM	��ACABAMOS�lCANDO�EM�UM�
constante estado de alerta. Percebemos 
sinais de que atrás de alguma árvore 
pode haver um predador: o coração 
ACELERA��APETITE��SONO�E�RESPIRA¥ÎO�lCAM�
alterados, causando uma sensação para-
lisadora de ameaça.
Muito antes do termo mindfulness ga-
nhar popularidade no Ocidente, a psi-
CØLOGA�E�PESQUISADORA�%LLEN�,ANGER��DO�
Departamento de Psicologia da Univer-
sidade de Harvard, estudava o fenôme-
no da atenção plena. Quando a mente 
está presente, ela defende, nos tornamos 
SENSÓVEIS�AO�CONTEXTO��-AS�NÎO�BASTA�DE-
CIDIR�ESTAR�PRESENTE��O�DOMÓNIO�DA�ATEN-
ção é uma habilidade que, como qual-
quer outra, precisa ser exercitada.
Começa com a prática de perceber. 
A 
observação atenta pode ser 
entendida como a capaci-
dade de estar presente. A 
presença, em sua aparente 
simplicidade, guarda algo impalpável 
e abstrato que perseguimos com fre-
quência nos lugares errados: “felicida-
DE� � ESTAR� NO� PRESENTEv�� COMO� DElNIU�
O�lLØSOFO�!LAN�7ATTS��UM�DOS�GRANDES�
difusores do pensamento asiático no 
mundo ocidental. Estar presente é o 
requisito para perceber a vida de forma 
plena e deixar-se maravilhar por ela.
“Como o que sabemos do futuro é 
FEITO�APENAS�DE�ELEMENTOS�ABSTRATOS�E�LØ-
gicos – inferências, palpites e deduções 
– ele não pode ser degustado, sentido, 
visto, ouvido ou desfrutado de alguma 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 15
12
3R
F 
E 
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
dirigir a atenção às informações sono-
RAS�DO�AMBIENTE��O�MEIO�MAIS�ElCAZ�DE�
alcançar o estado meditativo.
Trazer a mente para o presente en-
VOLVE�TAMBÏM�O�EXERCÓCIO�DA�ACEITA¥ÎO��
OUTRO� CONCEITO� ENRAIZADO� NA� lLOSOlA�
oriental. Deixar de se apavorar com 
as possibilidades imaginárias depende 
de aceitarmos – e até apreciarmos – o 
incerto. “Tudo muda e tudo se torna 
diferente a partir de outra perspectiva. 
Portanto, o estado inteligente de cons-
ciência seria de incerteza. Mas somos 
ensinados a procurar pelo absoluto. Te-
mos a noção equivocada de que abso-
lutos existem e que devemos conhecê-
-los. Mas o que acontece é que, uma vez 
que você tem certeza de alguma coisa, 
você não presta atenção nela, não está 
presente para perceber as mudanças e 
perde oportunidades – seja no trabalho 
ou nos relacionamentos”, disse em en-
trevista ao programa OnBeing (http://
bit.ly/TZAnRs).
Devemos lembrar que qualquer per-
gunta que nos fazemos mentalmente 
vem com todos os tipos de possibili-
dades – tanto negativas quanto positi-
vas. Criadas e alimentadas pela mente 
ausente, essas presunções estão quase 
sempre erradas. Errar nas positivas 
pode trazer uma enorme frustração. 
Errar nas negativas – sempre as mais 
comuns e acompanhadas de evidências 
que construimos com maestria – nos 
coloca em constante estado de preo-
cupação. Coisas ruins acontecem, mas 
é bom trazer à consciência que nossas 
TEMÓVEIS� PREVISÜES� MUITO� RARAMENTE�
correspondem à realidade e que, mes-
MO� EM� MOMENTOS� DIFÓCEIS�� O� CENÉRIO�
imaginado pode ser muito pior que o 
evento real. 
Quebrar a moldura do absolutismo 
e aceitar o incerto, tanto no campo in-
dividual como universal, requerem re-
conhecer o que de fato está sob nosso 
CONTROLE� E� DEIXAR� mUIR� SEM� RESISTÐNCIA�
AQUILO� QUE� NÎO� ESTÉ�� %SSE� EXERCÓCIO� DE�
CONlAN¥A� NA� VIDA� NOS�MANTÏM� ATENTOS�
às necessidades de mudanças e evolu-
ção, nos ensina que diferentes pontos de 
vista são enriquecedores e nos permite 
UM� CONTATO� MAIS� ÓNTIMO� E� REALIZADOR�
com as belezas que a ansiedade geral-
mente oculta. 
Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da 
Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da 
linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
DIREITOS 
do terapeuta
supervisão Por Ricardo Wainer
É FATO QUE O PSICOTERAPEUTA SE DEFRONTA COM 
O SOFRIMENTO E AS FORMAS DE RELACIONAMENTO 
DESADAPTATIVAS DE SEUS PACIENTES, MAS DEVE 
RESPEITAR SEUS LIMITES NO ATENDIMENTO CLÍNICO
D
esde o século XIX, não fo-
ram poucos os teóricos que 
debateram sobre as habilida-
des, competências pessoais 
e técnicas requeridasdos psicólogos e 
psiquiatras para que viessem a oferecer 
UMA�AJUDA�QUALIlCADA�E�COM�POUCO�RIS-
co de iatrogenias a seus clientes. Pas-
sando pelas ideias de autoconsciência 
pela autoanálise em Freud até a neces-
sidade de medidas objetivas de evolu-
ção do tratamento em Hans Eysenck, o 
fantasma do erro e da imperícia sempre 
assombrou o setting terapêutico.
Mas o que dizer aos clínicos quando 
a refratariedade, a desmotivação e a resis-
tência são intrínsecas à vida e ao contex-
to pessoal do paciente? É exatamente so-
bre essas situações que muito do trabalho 
da supervisão em psicoterapia mira sua 
prática e esforços.
/S� DESAlOS� PARA� QUE� SE� CONCRETIZE�
uma relação terapêutica sólida e, então, 
aconteçam as mudanças comportamen-
tais, emocionais e cognitivas propostas no 
início do tratamento dependem de fato-
RES��$ESDE�O�TIPO�DE�DIlCULDADE��TRANSTOR-
no mental) apresentado pelo paciente e o 
grau de motivação para o processo psico-
terápico até a capacidade de engajamento 
numa relação colaborativa minimamente 
empática com o terapeuta, tudo compac-
tua para uma grande complexidade e di-
lCULDADE�PARA�O�ALCANCE�DE�ÐXITOS�TOTAIS�
Não é raro que supervisores tenham 
que tranquilizar seus supervisionandos 
PARA� QUE� ESTES� NÎO� lQUEM� SOFRENDO� OU�
se acusando por fracassos que, na verda-
de, nada mais são do que trechos de uma 
história maior ainda a ocorrer. O que pa-
RECE�O�lM�DE�UMA�HISTØRIA�TERAPÐUTICA�DO�
indivíduo, na grande maioria das vezes, é 
só um capítulo desse paciente no seu pro-
cesso de mudança. Os problemas que uma 
díade paciente-terapeuta teve no passado 
podem representar material extremamen-
TE�RICO�PARA�O�TRABALHO�DE�OUTRO�PROlSSIO-
nal com aquele mesmo paciente.
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Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, 
com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor 
credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em 
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular 
da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
tico na unicidade da relação terapêutica. 
Mas o terapeuta, como ser humano que 
é e que tem de expressar seus direitos a 
TODOS� �INCLUSIVE� SEUS� PACIENTES	�� PRECISA�
ter claros os limites entre ser um instru-
mento de ajuda e entre se subjugar e ter 
seus direitos desrespeitados pelo cliente.
Quando o respeito mútuo não se 
consolida entre paciente-terapeuta nos 
primeiros meses de relacionamento, a in-
terrupção do tratamento se faz premente. 
3ITUA¥ÜES� TÓPICAS� QUE� EXEMPLIlCAM� ISTO�
são: casos onde não há a diminuição ou 
cessação de comportamentos que interfe-
REM�NA�TERAPIA��FALTAS�CONSTANTES��ATRASOS�
sistemáticos, vir alcoolizado ou drogado 
para as sessões, não cumprir acordos em 
relação a comportamentos suicidas ou 
parassuicidas, etc.). Aqui é função tera-
pêutica do clínico mostrar que a dupla 
não está tendo os progressos básicos ne-
cessários rumo às metas terapêuticas e 
ENCAMINHAR�O�PACIENTE�A�OUTRO�PROlSSIO-
nal que pode ter mais sucesso.
Não é fácil nem agradável tomar tais 
medidas, mas elas representam mais um 
aprendizado importante, através do exem-
plo, de que todos precisamos conhecer e 
estabelecer nossos limites pessoais.
É trabalho da supervisão e da forma-
¥ÎO�EM�PSICOTERAPIA�LEVAR�OS�PROlSSIONAIS�
A� ��	� BUSCAREM� A� NEUTRALIDADE� CIENTÓlCA��
Esta entendida como a capacidade de 
olhar o outro através da lente do entendi-
mento teórico-clínico dos constituintes da 
vida que levaram o indivíduo a ter aque-
la identidade e conduta. Somente assim 
conseguirão ter a empatia necessária para 
com o sofrimento do cliente e não reagir 
GUIADO�POR�SUAS�CREN¥AS�PESSOAIS����	�IDEN-
TIlCAREM� AS� ATIVA¥ÜES� EMOCIONAIS� QUE� O�
paciente lhe causa. Sabe-se que as ativa-
ções e reações afetivo-emocionais que o 
cliente desperta no paciente são ferramen-
tas ricas, tanto para a compreensão do 
que o paciente gera no seu entorno quanto 
para explicitar esse funcionamento auto-
mático que, na maioria das vezes, está fora 
DA�CONSCIÐNCIA�DO� SUJEITO�� ��	� ESTABELECER�
objetivos e limites realistas ao tratamento. 
Sendo o autossacrifício um componente 
quase que universal da personalidade de 
PROlSSIONAIS�DA�ÉREA�DA�SAÞDE��ELE�TEM�DE�
ser olhado com muita atenção. Por um 
lado gera a motivação e persistência para 
o trabalho de catalisar as mudanças nas 
dinâmicas do paciente, enfrentando todos 
OS�TIPOS�DE�RESISTÐNCIA��NORMAIS�E�ESPERA-
das em todos os casos). Por outro lado, 
entretanto, o autossacrifício pode apare-
cer numa postura onipotente e, de certo 
modo, arrogante, de não saber a hora de 
lNALIZAR� UM� ATENDIMENTO� QUE� NÎO� ESTÉ�
chegando a bom termo.
É justamente neste último item que 
ESTE�TEXTO�PROPÜE�UMA�REmEXÎO��3E�O�PSI-
coterapeuta tem que se defrontar com o 
sofrimento e as formas de relacionamen-
to desadaptativas de seus pacientes, isto 
NÎO� SIGNIlCA� QUE� ELE� DEVA� SER�MALTRATA-
do ou agredido por aqueles. Vivenciar e 
validar emoções e desestabilizações do 
paciente, em alguns momentos, são dife-
renciais esperados e de impacto terapêu-
VALIDAR EMOÇÕES 
E DESESTABILIZAÇÕES 
DO PACIENTE, EM 
ALGUNS MOMENTOS, 
SÃO DIFERENCIAIS 
ESPERADOS E 
DE IMPACTO 
TERAPÊUTICO 
NA UNICIDADE 
DA RELAÇÃO 
TERAPÊUTICA
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18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
Finalmente o retorno que eu esperava. 
Volto ao texto com a urgência de uma 
colunista que está com seu prazo de en-
trega estourando. Releio as linhas até 
então produzidas e sou assaltada por 
um pensamento que diz: “Não posso 
me esquecer de dar um retorno àquela 
paciente nova!”. É quando a conclusão 
SURREAL� SE� FAZ� ØBVIA�� .ÎO�� DElNITIVA-
MENTE� NÎO� ESTOU� AQUI��/� QUE� SIGNIlCA�
que estou escrevendo este texto como 
ELA� PORQUE� AGUARDO� UMA� CONlRMA¥ÎO�
de outro paciente sem a qual não consi-
go saber ao certo quais horários dispo-
níveis terei para marcar a nova consul-
ta. Volto a este texto. Releio a primeira 
frase. “Caramba, aquele paciente já de-
via ter me retornado!” Pego o celular, 
entro no WhatsApp�A�lM�DE�CHECAR�AS�
mensagens. Não. Ele ainda não respon-
deu. Volto ao texto. Escrevo mais uma 
frase. O celular treme. Mensagem nova. 
A 
pergunta pode parecer estra-
nha. Mas eu mesma tenho 
que me concentrar para ter 
a certeza de estar aqui, es-
crevendo esta coluna. Pior, me lembro 
de uma tarefa importante, paro e vou 
até ela. No caminho encontro aque-
le papelzinho com o telefone de uma 
paciente nova que aguarda um retor-
no meu para marcarmos uma consulta 
para amanhã. Não consigo retornar a 
VOCÊ está AQUI?
TRAGADOS PELA VELOCIDADE DO MUNDO ATUAL, 
ENCONTRAMOS CADA VEZ MAIS DIFICULDADE DE NOS 
FOCARMOS NO MOMENTO PRESENTE. A SAÍDA PODE ESTAR 
EM TAREFAS SIMPLES, TAIS COMO ESCOVAR OS DENTES
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
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se estivesse em outra dimensão. Ou em 
várias delas, pra ser mais precisa.
É por isso que a pergunta expressano 
título desta coluna se faz tão pertinente. 
Principalmente porque você, caro leitor, 
muito provavelmente ao longo deste pa-
rágrafo esteve tão ausente quanto eu. O 
que torna nosso encontro quase que um 
verdadeiro milagre! Não me lembro de, 
nas deliciosas aulas de Teoria Literária, 
ter lido algum artigo que falasse sobre a 
qualidade do texto que consegue resga-
tar o leitor de outras dimensões. Talvez 
porque, naquela época, tudo se resumis-
se à qualidade de um texto capaz de, 
SIMPLESMENTE�� PRENDER� A� ATEN¥ÎO� DESSE�
leitor que estava ali, no presente à espera 
DE�SER�TOCADO��lSGADO�OU�PURAMENTE�EN-
tretido pelas palavras do autor.
É certo que vivemos em um ritmo 
diferente – discos de vinil que saltaram 
DA�ROTA¥ÎO����PARA�A����n��MAS�TAL�VELO-
CIDADE�TEM�NOS�IMPOSTO�UM�PRE¥O��QUE�Ï�
NOSSA�DIlCULDADE�EM�PARAR��3IM��PORQUE�
a vivência do presente depende da cap-
tura do instante. E na captura do instan-
te velocidade é igual a zero (V = 0).
A ciência já reconhece a importância 
DE�FOCARMOS�NOSSA�ATEN¥ÎO�NO�PRESENTE��
Trata-se do conceito de mindfulness, que 
muitos, erroneamente, acreditam ter 
nascido a partir da Psicologia Positiva. 
Na verdade, embora amplamente discu-
tido por pesquisadores desse movimen-
TO� CIENTÓlCO�� O� CONCEITO� DE�mindfulness 
parece ter sido introduzido na língua 
inglesa já em 1881. Uma outra confu-
A CIÊNCIA JÁ RECONHECE A IMPORTÂNCIA 
DE FOCARMOS NOSSA ATENÇÃO NO PRESENTE. 
TRATA-SE DO CONCEITO DE MINDFULNESS, 
QUE MUITOS, ERRONEAMENTE, ACREDITAM TER 
NASCIDO A PARTIR DA PSICOLOGIA POSITIVA
SÎO�RECORRENTE�Ï�A�CREN¥A�DE�QUE�A�ÞNICA�
maneira de atingirmos o estado mindful 
�PRESEN¥A�NO�AQUI�E�AGORA	�SEJA�POR�MEIO�
DA�MEDITA¥ÎO�mindfulness. De fato, esse 
TIPO� DE� MEDITA¥ÎO� Ï� MUITO� ÞTIL� E� TEM�
sido objeto de diversas pesquisas que a 
RELACIONAM� COMO� ElCAZ� NA� REDU¥ÎO� DE�
estresse, ansiedade, dores crônicas etc.
Contudo, infelizmente, as evidências 
CIENTÓlCAS� NESSE� CASO� PARECEM� NÎO� SER�
SUlCIENTES�PARA�INCUTIR�NA�SOCIEDADE�OCI-
dental, ou pelo menos na maioria dela, 
a disciplina necessária para uma prática 
diária meditativa.
Eu mesma confesso, um tanto en-
vergonhada, ser uma aprendiz rebel-
de e indisciplinada. Talvez por isso me 
COMPADE¥A� DAQUELES� QUE�� A� DESPEITO� DE�
reconhecerem a importância do estado 
mindful, não conseguem aderir à medita-
¥ÎO�mindfulness. Para esses vale salientar, 
entretanto, que existem outras práticas 
de mindfulness que simplesmente não in-
CLUEM� A�MEDITA¥ÎO�� &AZER� UMA� REFEI¥ÎO�
COM� ATEN¥ÎO� FOCADA� EXCLUSIVAMENTE� NA�
experiência presente, obrigar-nos a esco-
var os dentes com a mão não dominante 
A�lM�DE�TIRAR
NOS�DO�hPILOTO�AUTOMÉTICOv�
são pequenas iniciativas que podem nos 
levar ao estado mindful, talvez preparan-
do nosso cérebro para uma futura prática 
MAIS�ESTRUTURADA�TAL�COMO�A�MEDITA¥ÎO��
Mas enquanto isso não ocorre, a 
“briga” para executarmos tarefas sim-
ples, tais como escrever (ou ler) um 
TEXTO�� CONTINUAR� n� AINDA� QUE�� AO� lNAL��
consigamos sair vencedores.
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psicopedagogia por Maria Irene Maluf
A experiência de 
VIAJAR SOZINHO 
INSEGURANÇAS E ANSIEDADES 
EXAGERADAS DE CRIANÇAS (E DOS PAIS) 
ULTRADEPENDENTES PODEM SER VENCIDAS 
NOS ACAMPAMENTOS RECREATIVOS QUE 
ESTIMULAM O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS 
HABILIDADES E O AMADURECIMENTO SOCIAL
ção infantil ou juvenil seja clara em meio 
às atividades recreativas. Em tal sentido, 
além das referências de amigos, da fa-
mília ou da escola, é importante os pais 
VERIlCAREM�A�ATUALIDADE�DAS�INFORMA¥ÜES�
recebidas. Sites e revistas são bons meios 
de pesquisa, mas a experiência e o relato 
DE�QUEM�JÉ�FOI�OU�LEVOU�OS�lLHOS�SÎO�MAIS�
CONlÉVEIS�� !LÏM� ISSO�� VALE� LEMBRAR� AS�
experiências similares anteriormente vi-
venciadas, que envolveram separação da 
FAMÓLIA�E�DIlCULDADES�DE�RELACIONAMENTO�
QUE�AS�CRIAN¥AS�TENHAM�ENFRENTADO�COM�
seus iguais e outros adultos, inclusive se 
passaram por exemplo por experiências 
de bullying, ou se sofreram a separação 
de modo muito acentuado. Esses fatores 
devem ser levados em consideração antes 
DE�OPTAR�POR�MANDAR�O�lLHO�OU�NÎO�
O cuidado deve ser maior ainda 
QUANDO�� ALÏM� DO� PERlL� DE� INSEGURAN-
¥A��DIlCULDADE�DE�AJUSTE� SOCIAL�� TIMIDEZ�
ou mesmo uma introspecção maior, a 
criança estiver em meio a um tratamen-
TO�ESPECIlCO��SEJA�FÓSICO��PSICOLØGICO��FO-
NOAUDIØLOGO��PSICOPEDAGØGICO��/S�PRO-
lSSIONAIS�ENVOLVIDOS�SABERÎO�ORIENTAR�OS�
PAIS�ESPECIlCAMENTE�SOBRE�AS�VANTAGENS�
e desvantagens de tal empreitada nesse 
momento da vida dessa criança.
S
EMPRE�QUE�CHEGAM�AS� FÏRIAS�OU�
feriados prolongados vemos a 
euforia das crianças pela busca 
por diversão. Uma opção que 
virou moda no país foram os acampa-
mentos recreativos. Apesar dos pedidos 
INSISTENTES�DE�ALGUNS�lLHOS�MAIS�AVENTU-
REIROS��MUITOS�PAIS�HESITAM�EM�DEIXÉ
LOS�
VIAJAR� SOZINHOS� PARA� UM� ACAMPAMENTO�
desses. Mas essa pode ser uma ocasião 
DE� APRENDIZADO� PARA� PAIS� E� lLHOS�� PO-
rém, claro, deve ser bem pensada.
-ANDAR� O� lLHO� PARA� UM� ACAMPA-
MENTO�Ï�ØTIMO�PARA�AMPLIAR�SEU�CONTA-
to e relacionamento social, incentivar a 
PARTICIPA¥ÎO�EM�NOVOS�GRUPOS��TRABALHAR�
AS�QUESTÜES�DE�ACEITA¥ÎO�DAS�DIFEREN¥AS�
pessoais, desenvolver sua independência 
e autonomia, ajudar a vencer inseguran-
ças e ansiedades exageradas de crianças 
(e também dos pais) ultradependentes, 
ENSINAR� A� RESOLVER� SOZINHAS� PROBLEMAS�
do dia a dia, a seguir regras, adaptar-se a 
SITUA¥ÜES�DIFERENTES��ENTRE�TANTOS�OUTROS�
fatores. Essa espécie de atividade é mui-
TO�INDICADA�DEVIDO�ÌS�VANTAJOSAS�HABILI-
dades que desenvolve. 
Para que nada dê errado, é decisivo es-
COLHER�UM�ACAMPAMENTO�BEM�ESTRUTURA-
DO��ONDE�A�PROPOSTA�DE�APOIO��SOCIALIZA-
3ALVO� EXCE¥ÜES�� SE� SUlCIENTEMEN-
te amadurecidas e preparadas pela 
família, a partir dos seis ou sete anos 
as crianças poderão aproveitar e mui-
to a experiência de viajar sem os pais 
AT�PARA�DESENVOLVER�NOVAS�HABILIDADES�
sociais, de autoestima e de autonomia, 
POIS��SOZINHAS��TERÎO�DE�RESOLVER�PEQUE-
nos problemas de cuidados pessoais, 
de relacionamento, que via de regra a 
MÎE�DECIDE�PELO�lLHO�� TERÎO�DE�APREN-
der e aceitar viver sob novas regras e 
LIDAR�COM�SITUA¥ÜES�DE�MEDO�DE�DORMIR��
por exemplo, em conjunto com outras 
crianças que estão passando pela mes-
ma situação.
O amadurecimento social é visível, 
H�MELHORIA�NA�AUTONOMIA�E�SENTIDO�DE�
segurança pessoal na maioria dos ca-
sos. Além disso, uma nova rotina gera 
NOVOS� INTERESSES�� APRENDIZAGENS� DIVER-
SIlCADAS��INTERIORIZA�A�DISCIPLINA��MUDA�
o comportamento.
Mais importantes que a idade cro-
NOLØGICA� PARA� ENVIAR� A� CRIAN¥A� SÎO� A�
maturidade emocional e a autonomia já 
adquiridas, tanto por meio da educação 
familiar quanto pelas experiências ante-
riores, como dormir em casa de amigos, 
sair de férias com parentes etc.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da 
ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso 
de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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Outro ponto importante é a postura 
dos pais frente ao afastamento da criança e 
A�MANEIRA�COMO�ELA��CONDUZIDA�AO�ACAM-
pamento. Esses são diferenciais fundamen-
TAIS�PRINCIPALMENTE�PARA�OS�MAIS�NOVINHOS��que precisam sentir que seus pais estão 
tranquilos e seguros para também se senti-
rem assim em um novo ambiente. 
Sempre existem maneiras de ajudar 
OS�lLHOS�A�ADQUIRIREM�ânimo para novas 
EMPREITADAS� COMO� ESSA�� CASO� NA� HORA�
“H” falte coragem: no caso de crianças 
tímidas ou inseguras, o ideal é que uma 
outra criança conhecida vá junto com 
ela, ao menos na primeira experiência 
FORA�DE�CASA��QUE�AMBAS�TENHAM�A�MES-
MA�FAIXA�ETÉRIA�E�POSSAM�lCAR�NO�MES-
mo grupo. A mais segura e extrovertida 
serve de modelo e de apoio enquanto a 
MAIS�TÓMIDA�FAZ�NOVOS�AMIGOS��
Crianças menores de seis ou sete 
anos não têm ainda tantas defesas emo-
cionais, a não ser que os pais acreditem 
QUE�O�lLHO��BEM�AMADURECIDO�PARA�A�
idade e possa experimentar esse tipo de 
PASSEIO�SEM�NENHUM�TRAUMA��
!CHO� IMPORTANTE�REmETIR� TAMBÏM�SO-
bre as mudanças vantajosas que podem 
ser geradas na família a partir da ausência 
TEMPORÉRIA� DO� lLHO��MÎES� E� PAIS� PODEM�
perceber que apesar da idade, compara-
tivamente a outras crianças, ainda não o 
PREPARARAM�O�SUlCIENTE�OU�DE�MODO�ADE-
A POSTURA DOS PAIS FRENTE AO 
AFASTAMENTO DO FILHO É MUITO 
IMPORTANTE, POIS A CRIANÇA PRECISA 
SENTIR QUE ELES ESTÃO TRANQUILOS 
PARA QUE TAMBÉM POSSA TER 
SEGURANÇA EM UM NOVO AMBIENTE
quado para a independência e autonomia. 
Podem assim sentir também os efeitos do 
EXCESSO�DE�SUA�PROTE¥ÎO�PELAS�REA¥ÜES�DOS�
lLHOS�E�DEPENDÐNCIA�EXCESSIVA�A�ELES�E�DE-
les com as crianças, coisa que não é pro-
dutiva nem saudável. E ainda tirar outro 
APRENDIZADO�DISSO�TUDO��OS�lLHOS�UM�DIA�
VÎO�TER�MESMO�A�PRØPRIA�VIDA�E�A�FAMÓLIA�
existe para prepará-los para isso...
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sexualidade Por Giancarlo Spizzirri
IM
AG
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PESQUISAS MOSTRAM QUE AS 
PESSOAS TRANSEXUAIS COM DISFORIA 
DE GÊNERO APRESENTAM MAIORES 
CHANCES DE EXIBIR TRANSTORNOS 
PSIQUIÁTRICOS AO LONGO DE SUAS VIDAS
O desenvolvimento 
da IDENTIDADE
TIlCAM�COM�O� SEU� SEXO�E�OU�GÐNERO�DE�
NASCIMENTO�� �D	� TRANSEXUAL� Ï�QUEM�NÎO�
SE�IDENTIlCA�COM�SEU�SEXO�DE�NASCIMENTO�
E� PROCURA� ADEQUAR�� OU� PASSOU� POR� ADE-
QUA¥ÎO�� PARA� O� GÐNERO� COM� O� QUAL� SE�
IDENTIlCA��O�QUE��EM�VÉRIOS��MAS�NÎO�EM�
TODOS�OS�CASOS��ENVOLVE�TRANSI¥ÎO�SOMÉ-
TICA�POR�TRATAMENTO�HORMONAL�E�CIRURGIA�
de redesignação sexual��ADEQUA¥ÎO�DO�SEXO�
DE�NASCIMENTO�PARA�O�GÐNERO�COM�O�QUAL�
O� INDIVÓDUO�SE� IDENTIlCA	�� �E	�DISFORIA�DE�
GÐNERO� REFERE
SE� Ì� INCONGRUÐNCIA� ACEN-
TUADA�ENTRE�O�SEXO�DE�NASCIMENTO�E COMO�
ELE� � PERCEBIDO� E�MANIFESTADO�NO� COM-
PORTAMENTO� DO� INDIVÓDUO�� COM�DURA¥ÎO�
DE�PELO�MENOS�SEIS�MESES��ALÏM�DO�MAIS��
ESSA� CONDI¥ÎO� DEVERÉ� ESTAR� ASSOCIADA� A�
SOFRIMENTO�CLINICAMENTE�SIGNIlCATIVO�OU�
PREJUÓZO�NO�FUNCIONAMENTO�SOCIAL��PROlS-
SIONAL�OU�EM�OUTRAS�ÉREAS�IMPORTANTES�DA�
VIDA�DO�INDIVÓDUO��%MBORA�NEM�TODOS�OS�
INDIVÓDUOS�VENHAM�A� SENTIR�DESCONFORTO�
COM�O�RESULTADO�DE�TAL�DESARMONIA��MUI-
TOS�SENTIRÎO��SE�AS�INTERVEN¥ÜES�DESEJADAS�
SOBRE�O�FÓSICO��POR�MEIO�DE�HORMÙNIOS�E�
OU�CIRURGIAS��NÎO�ESTIVEREM�DISPONÓVEIS�
0ESSOAS� QUE� SE� IDENTIlCAM� COMO�
TRANSEXUAIS� REPORTAM� NA� SUA� HISTØRIA�
DESCONFORTO�PERSISTENTE�COM�O�SEXO�QUE�
LHE�FOI�DESIGNADO�NO�NASCIMENTO�E�APRE-
SENTAM�FORTE�IDENTIlCA¥ÎO�COM�O�GÐNERO�
OPOSTO�AO�SEU�SEXO�DE�NASCIMENTO��-UI-
A 
PUBLICA¥ÎO� DA� �a� EDI¥ÎO� DO�
-ANUAL� $IAGNØSTICO� E� %STA-
TÓSTICO� DOS� 4RANSTORNOS� -EN-
TAIS� �$3-
�	�� DA� !SSOCIA¥ÎO�
0SIQUIÉTRICA�!MERICANA��!0!	��EXPANDIU�
A�VISÎO�SOBRE�SEXO�E�GÐNERO��SEXO�REFERE-
SE� TANTO� A�MASCULINO� QUANTO� A� FEMINI-
NO�� RELACIONADO� AOS� ASPECTOS� BIOLØGICOS�
COMO�� CROMOSSOMOS� SEXUAIS�� GÙNADAS��
HORMÙNIOS� SEXUAIS� E� GENITÉLIA� INTERNA� E�
EXTERNA�NÎO�AMBÓGUAS�� E�GÐNERO�Ï�UTILI-
ZADO�PARA�DESIGNAR�O�PAPEL�SOCIAL�n�ME-
NINO�OU�MENINA��HOMEM�OU�MULHER��QUE��
NA�MAIORIA�DAS�PESSOAS��EST�RELACIONADO�
AO� SEXO� DE� NASCIMENTO�� %NTRETANTO�� O�
DESENVOLVIMENTO� INDIVIDUAL� DO� GÐNERO�
SOFRE� INmUÐNCIAS� BIOPSICOSSOCIAIS� E� NEM�
TODOS� OS� INDIVÓDUOS� SE� PERCEBEM� COMO�
HOMENS�OU�MULHERES��$AÓ��VÉRIAS�CLASSIl-
CA¥ÜES���A	�DESIGNA¥ÎO�DE�GÐNERO��REFERE-
SE� Ì� DESIGNA¥ÎO� INICIAL� COMO� HOMEM�
OU�MULHER��E�GERALMENTE� ISSO�OCORRE�NO�
NASCIMENTO� E�� POR� CONSEGUINTE�� CRIA
SE�
O� hGÐNERO� DE� NASCIMENTOv�� �B	� IDENTIDA-
DE�DE�GÐNERO� Ï�UMA�CATEGORIA�DA� IDEN-
TIDADE� SOCIAL� E� REFERE
SE� Ì� IDENTIlCA¥ÎO�
DO� INDIVÓDUO� COMO� HOMEM� OU�MULHER��
OU�� OCASIONALMENTE�� COM� ALGUMA� CATE-
GORIA� DIFERENTE� DE� HOMEM� OU� MULHER��
�C	� TRANSGÐNERO�S	� REFERE
SE� AO� AMPLO�
CONJUNTO� DE� INDIVÓDUOS� QUE� TRANSITORIA-
MENTE�OU�PERSISTENTEMENTE�NÎO�SE� IDEN-
TOS� RELATAM� SINTOMAS� SIGNIlCATIVOS� DE�
ESTRESSE�PSICOLØGICO� E�PROCURAM� TOMAR�
MEDIDAS� PARA� ALTERAR� AS� CARACTERÓSTICAS�
DE�SEUS�CORPOS��POR�EXEMPLO��POR�MEIO�
DO�USO�DE�HORMÙNIOS�SEXUAIS�E�CIRURGIA�
PLÉSTICA	�� DE� FORMA� A� SE� ADEQUAREM�� O�
MAIS� PRØXIMO�POSSÓVEL�� AO� GÐNERO� COM�
O�QUAL�SE�IDENTIlCAM��6ALE�LEMBRAR�QUE�
OS�INDIVÓDUOS�TRANSEXUAIS�PODEM�OU�NÎO�
APRESENTAR� DISFORIA� DE� GÐNERO�� SEGUNDO�
O�$3-
��
0ESQUISAS� MOSTRAM� QUE� AS� PESSOAS�
TRANSEXUAIS� COM� DISFORIA� DE� GÐNERO� TÐM�
MAIORES� CHANCES� DE� EXIBIR� TRANSTORNOS�
PSIQUIÉTRICOS�AO�LONGO�DE�SUAS�VIDAS��ENTRE�
ELES�� EPISØDIOS� DEPRESSIVOS�� TENTATIVAS� DE�
E�OU�SUICÓDIO�E�HISTØRIA�DE�TRAUMA��FÓSICO�
E�OU�EMOCIONAL	�DURANTE�A�INFÊNCIA��-AIS�
ESPECIlCAMENTE��PESSOAS�QUE�APRESENTAM�
TRANSTORNO�ANSIOSO�ASSOCIADO��TRANSEXU-
ALIDADE�COM�DISFORIA�DE�GÐNERO�TENDEM�A�
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Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) 
da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em 
Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em 
Sexualidade Humana da USP.
Referências: 
SPIZZIRRI, Giancarlo. Morfometria cerebral 
e imagens de tensores de difusão da 
microestrutura de substância branca em 
homens para mulheres transexuais antes 
e durante o processo transexualizador 
(Tese). Faculdade de Medicina da USP, São 
Paulo, 2016.
MUITOS TRANSGÊNEROS RELATAM 
SINTOMAS SIGNIFICATIVOS DE ESTRESSE 
PSICOLÓGICO E PROCURAM TOMAR MEDIDAS 
PARA ALTERAR AS CARACTERÍSTICAS 
$%�3%53�#/20/3�$%�&/2-!�!�3%�!$%15!2%-��
/�-!)3�02œ8)-/�0/33°6%,��!/�'º.%2/� 
COM O QUAL SE IDENTIFICAM
EVIDÐNCIA�DE�QUE�O�AMBIENTE�SOCIAL�APØS�O�
NASCIMENTO�DESEMPENHE�PAPEL�CRUCIAL�NA�
DETERMINA¥ÎO� DA� IDENTIDADE� DE� GÐNERO��
ENTRETANTO�AS�RELA¥ÜES�ENTRE�AS�DIFEREN¥AS�
SEXUAIS�ESTRUTURAIS�E�FUNCIONAIS�DE�VÉRIAS�
ÉREAS�DO�CÏREBRO�EM�RELA¥ÎO�ÌS�VARIA¥ÜES�
HORMONAIS�DURANTE�O�PERÓODO�GESTACIONAL�
TÐM�SIDO�VERIlCADAS���
!PESAR�DE� A� CONSCIENTIZA¥ÎO�PÞBLICA�
SOBRE� O� AMPLO� ESPECTRO� DE� INDIVÓDUOS�
TRANSGÐNEROS� ESTAR� SE� DESENVOLVENDO�� A�
COMPREENSÎO�CIENTÓlCA�SOBRE�O�FENÙMENO�
DO�DESENVOLVIMENTO�DA�IDENTIDADE�DE�GÐ-
NERO�AINDA�Ï� LIMITADA��.ÎO�HÉ�NENHUMA�
APRESENTAR� MAIS� PROBLEMAS� PSIQUIÉTRICOS�
QUE�A�POPULA¥ÎO�EM�GERAL��ALÏM�DE�SEREM��
JUNTO�COM�OS�TRANSTORNOS�AFETIVOS��COMO�
A� DEPRESSÎO�� POR� EXEMPLO	�� OS� DISTÞRBIOS�
MAIS� FREQUENTES� NESSA� POPULA¥ÎO��/�USO�
ABUSIVO�DE�SUBSTÊNCIAS�PSICOATIVAS�ILÓCITAS�
OU�SEM�PRESCRI¥ÎO�MÏDICA�Ï�OUTRO�ASPECTO�
RELEVANTE�� ����DOS� TRANSGÐNEROS� COMEN-
TAM�QUE�PROCURARAM�TRATAMENTO�PARA�USO�
ABUSIVO�DE�SUBSTÊNCIAS�EM�PESQUISA�REALI-
ZADA�NA�POPULA¥ÎO�AMERICANA��
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PSICANÁLISE
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TOC em 
crianças
Comportamentos repetitivos 
fazem parte também do 
universo infantil e adolescente, 
trazendo limitações que 
prejudicam as relações sociais 
desde muito cedo
Por Cristiane Flôres Bortoncello 
e Juliana Braga Gomes 
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Psiquiatria (UFRGS) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental 
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(WP), treinamento intensivo em Terapia Comportamental Dialética. É membro 
do tecDbt – time de estudos e consultoria em DBT, professora do curso 
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Adolescência (InTCC). Psicóloga dos grupos de tratamento para o TOC do 
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Juliana Braga Gomes é psicóloga e pedagoga formada pela PUCRS, 
especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (Infapa), 
mestre em Ciências Médicas, Psiquiatria, doutora em Psiquiatria e 
Ciências do Comportamento-UFRGS; pesquisadora do Transtorno 
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Cognitivas do Rio Grande do Sul (ATC-RS).
PSICANÁLISE
CCCCCCCCoooooooommmmmmmmmmmpppppppppppoooooooooorrrrrrrrrrrtttttttttttaaaaaaaaaammmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttttooooooooosssssssss rrrrrrrrrreeeeeeeeeeeppppppppppeeeeeeeeeeetttttttttttiiiiiiittttttttttttiiiiiiiivvvvvvvvvvvooooooooosssssssss 
ffffffffffffaaaaaaaaaazzzzzzzzzzzeeeeeeeeeeemmmmmmmmmmm ppppppppppaaaaaaaaaarrrrrrrrrrttttttttttteeeeeeeeeee ttttttttttttaaaaaaaaaaammmmmmmmmmmbbbbbbbbbbééééééééééémmmmmmmmmm ddddddddddooooooooo 
uuuuuuuuuunnnnnnnnnniiiiiiiivvvvvvvvvvveeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrsssssssssoooooooooo iiiiiinnnnnnnnnnfffffffffffaaaaaaaaaaannnnnnnnnntttttttttttiiiiiiillllllll eeeeeeeeeee aaaaaaaaaaaddddddddddoooooooooollllllllleeeeeeeeeeeessssssssscccccccccceeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttteeeeeeeeeee,,,,,, 
tttttttttttrrrrrrrrrrraaaaaaaaaazzzzzzzzzzeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnddddddddddoooooooooo lllllliiiiiiiimmmmmmmmmmmiiiiiiiittttttttttttaaaaaaaaaaçççççççççççõõõõõõõõõõeeeeeeeeeeeesssssssss qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee 
ppppppppppprrrrrrrrrrreeeeeeeeeeejjjjjjjjjjuuuuuuuuuuddddddddddiiiiiiiiicccccccccaaaaaaaaaammmmmmmmmmm aaaaaaaaaasssssssss rrrrrrrrrrreeeeeeeeeeelllllllllaaaaaaaaaaçççççççççççõõõõõõõõõõõeeeeeeeeeeeesssssssss sssssssssoooooooooccccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaaiiiiiiiiisssssssss 
ddddddddddeeeeeeeeeeessssssssssddddddddddeeeeeeeeeee mmmmmmmmmmuuuuuuuuuuiiiiiiiittttttttttttoooooooooo cccccccceeeeeeeeeeeddddddddddoooooooooo
Comportamentos repetitivos 
fazem parte também do 
universo infantil e adolescente, 
trazendo limitações que 
prejudicam as relações sociais 
desde muito cedo
PPPPPPPPPPPPPPooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrr CCCCCCCCCCCCCrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiisssssssssssstttttttttttttttiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeee FFFFFFFFFFFFFFlllllllllôôôôôôôôôôôôôôrrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeeeessssssssssss BBBBBBBBBBBBBBoooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrtttttttttttttttoooooooooooonnnnnnnnnnnnnnncccccccccccceeeeeeeeeeeeeelllllllllllllllloooooooooooo 
eeeeeeeeeeeeee JJJJJJJJJJJJJuuuuuuuuuuuuuuulllllllllliiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaa BBBBBBBBBBBBBBBrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaggggggggggggggaaaaaaaaaaaaa GGGGGGGGGGGGGoooooooooooommmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeesssssssssssss 
Por Cristiane Flôres Bortoncello 
e Juliana Braga Gomes 
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PSICANÁLISE
São comuns preocupações com 
simetria, alinhamento ou exatidão (precisar 
organizar os brinquedos por tamanho ou 
categoria, sensação de que as coisas não 
estão no devido lugar) ou simplesmente 
refazer várias vezes para que fique perfeito
fazer lavagens excessivas e rituali-
zadas das mãos para ter certeza de 
que estão limpas); dúvidas seguidas 
de verificações ou de perguntas re-
petidas, ou necessidade de confir-
mações (checagens para confirmar 
se os materiais estão na mochila, li-
gar seguidas vezes para se certificar 
de que nada de horrível aconteceu 
com um familiar; verificar a porta 
da casa ou do carro para garantir 
que esteja trancada), sendo segui-
dos, muitas vezes, por evitações 
(não usar o banheiro da escola ou 
não chegar perto dos colegas). Tam-
bém são comuns preocupações com 
simetria, alinhamento ou exatidão 
(precisar organizar por tamanho ou 
categoria os brinquedos, sensação 
de que as coisas não estão no devido 
lugar/ordem) ou simplesmente refa-
zer várias vezes para que fique per-
feito ou completo (refazer os temas 
de casa, passar a limpo várias vezes 
as anotações de aula ou os cadernos, 
reler inúmeras vezes uma página ou 
um parágrafo para ter certeza de que 
entendeu tudo ou de que a letra está 
perfeita) (Bortoncello et al., 2014). 
Podem estar presentes pensamentos 
de conteúdo indesejado e repugnan-
te (medo de xingar outras pessoas 
ou de dizer involuntariamente algo 
obsceno, medo de ser responsável 
por desgraças, como provocar um 
desastre de carro ou queda de avião 
por ter pensado ou sonhado). Ou-
tro sintoma com comorbidade com 
o TOC é a acumulação compulsiva 
(grande dificuldade em descartar 
brinquedos quebrados ou estraga-
Medos e fobias eventuais 
são normais, fazem parte 
da evolução de crianças e 
adolescentes e não devem ser 
confundidos com os sintomas 
Em crianças e adolescen-tes, rituais, medos, com-portamentos repetitivos e eventuais fobias fazem parte do desenvolvi-
mento normal e devem ser diferen-
ciados dos sintomas do TOC, como 
é o caso das crianças pequenas, que 
apresentam rituais nos horários de 
dormir (uma determinada maneira 
para adormecer), comer (dificuldade 
em misturar as comidas) e demorar 
no banho. Esses comportamentos 
tendem a ser mais frequentes entre 
os 2 e 4 anos de idade (Evans et al., 
1997). As crianças de 3 a 5 anos cos-
tumam brincar de imitar comporta-
mentos de outras pessoas (mímica), 
repetir as mesmas brincadeiras, mú-
sicas e até assistir aos mesmos filmes 
diversas vezes. Na idade escolar, os 
jogos passam a ter regras rígidas, que 
são discutidas e negociadas entre os 
participantes, e há muito interesse 
por coleções (figurinhas, modelos de 
carros, aviões, bonecos, filmes, etc.). 
Na adolescência, é muito co-
mum ter grande interesse por artis-
tas, celebridades, estilos musicais/
banda de música, bem como cole-
ção de objetos e lembranças de um 
ídolo. Todos estes comportamentos 
permanecem durante uma determi-
nada fase do desenvolvimento e 
não interferem nas atividades 
diárias nem prejudicam o de-
sempenho escolar.
Já o transtorno obsessivo-
-compulsivo (TOC) é uma 
doença mental grave, que aco-
mete principalmente indiví-
duos jovens no final da adoles-
cência, embora muitas vezes os 
primeiros sintomas se ma-
nifestem na infância. Seu 
curso geralmente é crônico e, caso 
não seja tratado, se mantém por toda 
a vida, raramente desaparecendo por 
completo (American Psychiatric As-
sociation, 2014). Caracteriza-se pela 
presença de pensamentos, impulsos 
ou imagens recorrentes e persisten-
tes (obsessões) e comportamentos ou 
atos mentais repetitivos (compulsões) 
realizados, na maior parte das vezes, 
com o intuito de diminuir o descon-
forto que acompanha as obsessões.
Nas crianças e adolescentes, os 
sintomas mais comuns são: medo 
de contaminação seguido de com-
pulsão por limpeza e lavagem (evi-
tar utilizar o banheiro da escola ou 
da casa de um amigo, não dividir o 
lanche por considerar nojento/sujo, 
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dos, objetos sem valor como eti-
quetas, roupas que não servem, ca-
dernos e folhas velhas, assim como 
embalagens vazias).
Também são comuns nas crian-
ças e adolescentes as compulsões 
mentais: “atos” mentais como

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