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DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 1 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR AULA 0 Direito Constitucional Teoria Geral do Direito Constitucional e do Estado Professores Vítor Cruz e Rodrigo Duarte www.pontodosconcursos.com.br DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 2 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Direito Constitucional nas 5 Fontes: Constituição, Doutrina, Jurisprudência, Macetes e Questões Comentadas. Aula 00 – Aula Demonstrativa DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 3 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Sumário Apresentação ______________________________________________________________ 4 Sobre o curso "5 Fontes" __________________________________________________ 5 Metodologia _____________________________________________________________ 5 Sobre as aulas __________________________________________________________ 7 Explicação Inicial __________________________________________________________ 8 Constituição: conceito, origens (constitucionalismo) e objeto. Noções de Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado. ____________________________ 8 Constituição - Conceito: _________________________________________________ 9 Mas você sabe o que é a Constituição? __________________________________ 9 Pirâmide de Kelsen X Ordenamento brasileiro atual _____________________ 13 Supremacia Formal, Material e o Bloco de Constitucionalidade. _________ 16 Direito Constitucional _____________________________________________________ 18 As Fontes do Direito Constitucional _____________________________________ 20 Teoria Geral do Estado ___________________________________________________ 26 Teoria Geral do Estado - Noção, Objeto e Método _______________________ 26 Origem da Sociedade - Sociedade Natural x Contratualismo ____________ 28 Elementos da Sociedade ________________________________________________ 31 Sociedades particulares x Sociedades Políticas __________________________ 32 Sociedade X Comunidade _______________________________________________ 32 O Estado - Origem _____________________________________________________ 33 Estado X Nação_________________________________________________________ 34 O Estado - Evolução do Estado Antigo ao Estado Moderno ______________ 35 Elementos do Estado a partir do Estado Moderno _______________________ 37 Povo X Nação __________________________________________________________ 38 O Poder Político e a Soberania __________________________________________ 39 Estado-comunidade X Estado-poder ____________________________________ 42 Estado, Governo e Administração Pública _______________________________ 43 Constitucionalismo _______________________________________________________ 44 Antecedentes Históricos do Constitucionalismo Moderno: _______________ 52 Aula 00 – Aula Demonstrativa DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 4 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Evolução das Constituições e as fases após o Estado Moderno: _________ 53 O Neoconstitucionalismo__________________________________________________ 59 Jusnaturalismo x Positivismo x Pós-Positivismo x Teoria Crítica do Direito: ________________________________________________________________________ 59 Pontos importantes a serem fixados: _____________________________________ 70 Lista das questões da aula ________________________________________________ 71 GABARITO _________________________________________ Erro! Indicador não definido. Apresentação Olá futuro aprovado! Tudo certo? É um imenso prazer estar aqui para ministrar mais este curso pelo Ponto. É realmente uma honra poder ajudar nos seus estudos e contribuir para a aprovação que certamente virá em breve, caso você se mantenha firme aqui com a gente. Se você ainda não me conhece: eu sou o Prof. Vítor Cruz, também conhecido no mundo dos concursos como Vampiro. Então, se você ouvir falar por aí em “Resumão do Vampiro”, “Constituição do Vampiro”... Já sabe, né? ;) Já são mais de 10 anos que eu trabalho ensinando (e é claro, também aprendendo muito) a disciplina mais legal dos concursos públicos: o Direito Constitucional. Se você não acha isso, tentarei mudar sua opinião ao longo do curso! Afinal, eu tenho 3 missões bem claras nesse mundo dos concursos: 1- A primeira é lhe mostrar que o direito constitucional, mesmo os seus temas mais complexos, é um melzinho na chupeta de tão fácil. Para isso, vou lhe ajudar a quebrar qualquer barreira no aprendizado; 2- A minha segunda missão é fazer com que você tire a nota 10 em Constitucional na prova, e por esse motivo vou lhe capacitar para buscar o 11; 3- A terceira missão é lhe convencer que você não só pode, como certamente será aprovado em qualquer concurso que deseje, basta ficar firme aqui comigo, sem fazer corpo mole. Estamos juntos? DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 5 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Primeiro, deixa eu te contar um pouquinho de mim, para estreitar a amizade... Eu me casei com o Direito Constitucional há mais de 10 anos. Já são 12 anos “respirando concursos públicos”, sendo que sou servidor público federal há 18 anos. Já trabalhei como Militar e nos Poderes Executivo e Judiciário. Sou ex-Oficial da Marinha do Brasil, graduado em Ciências Navais pela Escola Naval e Pós-graduado em Direito Constitucional. Sou também criador e diretor do Nota11 Concursos, fundado em 2012 e também atuo ainda como coordenador editorial, escritor e palestrante nas áreas de concursos públicos, negócios, aprendizagem, comunicação e desenvolvimento pessoal. Entre os 10 livros que eu escrevi, destaca-se a "Constituição Federal Anotada para Concursos" publicada pela Editora Ferreira, que persistiu firme pela crise editorial e já está em sua 10ª Edição, além também da coordenação de dezenas de livros pela Editora Método, em especial a coleção 1001 questões comentadas, onde fui autor de 5 obras. Neste curso tenho o prazer de ter a companhia do meu amigo Rodrigo Duarte, que há 5 anos me ajuda a melhorar a qualidade do material. O Rodrigo é bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia e também Pós-graduado em Direito Constitucional. É servidor do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, desde 2005 e já aprovado como Defensor Público do Mato Grosso do Sul. Sobre o curso "5 Fontes" Este curso "5 fontes", para mim, é como aquele filho que nos enche de orgulho. É um trabalho sério e completo, iniciado em 2010, que já deu muitos frutos, ajudando (pelo menos, segundo relato dos alunos) na aprovação de muita gente. Saiba que será uma honra ter você também estudando com a gente. Estamos disponíveis para turbinar de vez esse seu estudo e, tenho certeza, após esse curso - se estudado com seriedade - o DireitoConstitucional será o menor dos seus problemas em qualquer concurso. Metodologia O curso propõe estudar o Direito Constitucional de forma completa para concursos públicos, assim, usaremos as "5 fontes" para concursos, ou seja: DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 6 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 1- Constituição – Trabalharemos, sempre que possível e sempre que seja pertinente, em cima de cada disposição constitucional, mostrando cada uma das suas armadilhas, fixando e esquematizando a literalidade, que é muito cobrada em concursos. 2- Doutrina – Faremos um apanhado das principais doutrinas usadas pelas bancas de concurso (Alexandre de Moraes, José Afonso da Silva, Canotilho, entre outros) para que o aluno possa resolver as questões doutrinárias sem que sejam necessárias o estudo de cada uma daquelas pesadas obras acadêmicas. 3- Jurisprudência – Iremos apontar o pensamento dos tribunais, notadamente do STF, que sejam relevantes para uma cobrança em concurso público ou que já foram abordados em concurso público. 4- Macetes – Aqui começa o grande diferencial do curso... O famoso “Pulo do Gato”... É o momento de facilitar a vida do aluno, impedindo que ele se descabele desnecessariamente com assuntos que são assustadores em uma primeira vista, mas que, lá no fundo, são bem fáceis para entender/fixar/decorar (ou qualquer outra coisa...). São as dicas de um professor que foi concurseiro por mais de 5 anos e que comentou mais de 5000 questões cobradas em concursos em suas obras publicadas. 5- Questões– Nós não iremos resolver uma ou duas questões, nem 10 ou 20... Serão centenas... Chegaremos às milhares ao final do curso! E todas elas SEMPRE serão comentadas! A metodologia será a seguinte, abordaremos a teoria (Constituição, Doutrina e/ou Jurisprudência) e, em seguida, demonstremos como essa teoria é cobrada em concursos através de questões. As questões serão, sempre que possível, dispostas da seguinte forma: primeiro FCC, depois CESPE, depois ESAF e depois outras bancas (FGV, Cesgranrio, Funiversa, Vunesp e etc.). OBS - O curso será um curso regular, que poderá servir para qualquer concurso, notadamente os de nível superior, e abrangerá qualquer edital da área fiscal e gestão e, por sua completude, poderá também ser usado para concursos jurídicos como Analistas Processuais e Judiciários, e etc. OBS 2 - Não se assustem com o tamanho das aulas ao longo do curso! Embora algumas aulas sejam "gigantes", a teoria será passada da forma mais agradável possível e, quando chegar às questões, você poderá escolher qual banca dará prioridade de acordo com o concurso que irá prestar DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 7 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR (Por ex. AFRFB - foco na ESAF, Fiscos estaduais - foco FCC e ESAF, Tribunais e Área Jurídica - FCC e CESPE... Qualquer dúvida, ou pedido de ajuda/orientação, pode me perguntar pelo fórum). Sobre as aulas Baseando-se nos editais recentes de concursos púbicos, propomos ministrar do seguinte modo: Aula Demonstrativa: Teoria Geral do Direito Constitucional e do Estado: Noções, Constituição e Estado. Aula 1: Teoria da Constituição – parte 1: Sentidos (concepções) da Constituição e Poder Constituinte. Aula 2: Teoria da Constituição – parte 2: Classificação das Constituições, estrutura e normas constitucionais (regras, princípios e classificações). Aula 3: Interpretação Constitucional (Hermenêutica); Aula 4: Princípios Fundamentais Aula 5: Direitos e deveres fundamentais – parte 1: Teoria Geral dos Direitos Fundamentais e Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; Aula 6: Direitos e deveres fundamentais – parte 2: direitos e deveres individuais e coletivos. Aula 7: Direitos Sociais. Aula 8: Dos direitos e deveres fundamentais – parte 3: nacionalidade; cidadania e direitos políticos; partidos políticos. Aula 9: Organização do Estado: Organização político-administrativa, bens públicos, competências materiais e legislativas (competência exclusiva, privativa, comum e concorrente). Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios Federais. Das Regiões Aula 10: Administração Pública na Constituição de 1988; Aula 11: Poder Legislativo. Aula 12: Processo Legislativo. Aula 13: Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária. E Poder Executivo. Aula 14: Poder Judiciário – Parte Geral: disposições gerais; Supremo Tribunal Federal; o Superior Tribunal de Justiça. Aula 15: Poder Judiciário – Parte específica. Aula 16: Controle de constitucionalidade. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 8 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Aula 17: Funções essenciais à Justiça (Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia e Advocacia Pública); Aula 18: Sistema Constitucional de Crises - Intervenção Federal e Estadual, Estado de Sítio e Estado de Defesa; Aula 19: Forças Armadas e Segurança Pública; Aula 20: Sistema Tributário Nacional. Aula 21: Finanças Públicas; Aula 22: Ordem econômico e Financeira; Aula 23: Ordem Social - Seguridade Social; Explicação Inicial Nós sabemos que o Ponto dos Concursos dá oportunidade de qualquer pessoa que tenha acesso à internet estudar em alto nível. Porém, essa facilidade pode acabar gerando certo desnivelamento da turma. Percebo que, enquanto alguns alunos ingressam no curso apenas para "aparar arestas", outros ainda possuem certa dificuldade em assuntos básicos do Direito Constitucional, pois muitos tiveram pouco ou nenhum contato com matérias jurídicas. Nosso curso terá o objetivo de suprir os anseios de ambos. Pretendo construir junto com vocês um conhecimento sólido que será usado para alcançar o seu 10 no dia da prova. Aprofundarei nos temas propostos, mas tentarei não deixar de lado aqueles que ainda necessitam de uma "forcinha" pra engrenar. E aí vai uma dica para você que já está em "ponto de bala": não despreze essas informações básicas não... elas podem servir de uma boa revisão, ou então para preencher alguma lacuna que tenha sido deixada no seu estudo. Podem confiar! Constituição: conceito, origens (constitucionalismo) e objeto. Noções de Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 9 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Constituição - Conceito: Vamos fazer uma definição do Direito Constitucional... mas daqui a pouco, agora vamos bater um papo sobre ele: O Direito Constitucional é a "ciência" que estuda a Constituição (Óbvio, não?!). Mas você sabe o que é a Constituição? Dizer "o que é uma Constituição" não é fácil não... Atualmente não há consenso entre os estudiosos sobre o que efetivamente seria uma Constituição. Já teve inclusive muita “briga” com isso. Quando formos estudar a teoria da Constituição veremos que cada um fala uma coisa diferente. Não nos preocupando com isso agora, podemos dizer o seguinte (guarde bem isso): A Constituição, que trataremos aqui, é a norma máxima de um Estado, que nasce com o objetivo de organizar o seu poder político e limitar os poderesautoritários dos governantes em face dos particulares. É uma norma que está lá em cima da cadeia hierárquica, devendo ser observada por todos os integrantes de um Estado e ela também serve de base para todos os demais tipos de normas, daí vem a ideia de SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO. Um jurista austríaco chamado Hans Kelsen elaborou a seguinte pirâmide hierárquica: Esta pirâmide revela várias coisas, a primeira delas é que a Constituição é mais "enxuta", tem poucos detalhes e é dela que irradiam todas as outras normas, que vão cada vez encorpando mais o chamado "ordenamento jurídico" (conjunto das normas em vigor). Vejamos um exemplo hipotético: . . . Constituição (normas originárias + emendas constitucionais) Normas infraconstitucionais (leis em sentido amplo) Normas infralegais DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 10 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Dizeres da uma Constituição do País A Dizeres de uma lei infraconstitucional Dizeres de uma norma infralegal É assegurado o direito à aposentadoria. A aposentadoria poderá ser requerida por aqueles que trabalharam por 35 anos, recolhendo a efetiva contribuição. O recolhimento da contribuição deverá ser feito até o dia 10 de cada mês, através de guia especial, usando-se os índices percentuais que encontram-se no ANEXO II a este regulamento. Atualmente, estamos passando por um processo em que a Constituição Federal acaba por “constitucionalizar” diversos direitos que antes ficavam somente no campo das leis, assim, as bases do direito penal, direito civil, direito do trabalho, previdenciário e etc. estão todas na Constituição. Devido a este fato, o estudo do Direito Constitucional acaba se tornando a melhor ferramenta para se ter uma base sólida no estudo do direito como um todo. Não se consegue ser um especialista em algum ramo do direito sem que se saiba, ao menos de forma razoável, o Direito Constitucional. Assim, estamos vivendo um momento em que a Constituição passa a assumir o papel central do ordenamento jurídico, impondo regras e princípios que serão usados por todos os aplicadores do direito. Outro ponto que extraímos da pirâmide de Kelsen, é que a Constituição é hierarquicamente superior às leis, e estas são hierarquicamente superior às normas infralegais. Assim, é importante que digamos que as leis só podem ser elaboradas observando os limites da Constituição, e as normas infralegais só poderão ser elaboradas observando os limites da lei a qual regulamentam, e assim, indiretamente também deverão estar nos limites da Constituição. ATENÇÂO!!! Não existem hierarquias dentro de cada patamar, ou seja, não existe qualquer hierarquia entre quaisquer das normas constitucionais nem qualquer hierarquia de uma lei perante outra lei, ainda que de outra espécie. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 11 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 1. (FCC/Defensor-DPE-ES/2016) Em que pese parte da doutrina atribuir força normativa à Constituição, ainda predomina, sobretudo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o entendimento de que a norma constitucional possui natureza apenas programática. Comentários: Programáticas são as normas que estabelecem um “programa de governo”, ou seja, indicam as diretrizes que devem ser buscadas pelos governantes, sem conter mandamentos claros e diretos para serem aplicados. A Constituição possui sim muitas normas programáticas, como a que diz que é um objetivo da República Federativa do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização. Porém, o entendimento atual é que a Constituição é uma norma jurídica impositiva e, até mesmo, essas normas programáticas contidas em seu texto não podem ser ignoradas e tratadas como letra morta, mas devem se revestir de caráter mandamental. Gabarito: Errado. 2. (CESPE/Técnico-STJ/2015) A Constituição é instituto multifuncional que engloba entre seus objetivos a limitação do poder e a conformação e legitimação da ordem política. Comentários: Isso mesmo. O conceito de constituição moderna, que nasceu com a Revolução Francesa e Independência dos EUA, é o de que uma Constituição deve prever no seu texto pelo menos duas coisas: limitar o poder dos governantes em face do povo e dispor sobre a forma de organização do Estado e seu poder político.. Gabarito: Correto. 3. (CESPE/Analista- Câmara dos Deputados/2014) Sendo a constituição, em essência, uma lei, os conflitos entre normas constitucionais e infraconstitucionais devem ser resolvidos a partir de uma ponderação de valores no caso concreto, em atenção ao princípio da proporcionalidade. Comentários: Errado, pois a Constituição é hierarquicamente superior às leis, de forma que se houver conflito deve prevalecer a Constituição, pois é esta quem ocupa o topo do ordenamento jurídico. A técnica de ponderação de valores (que é estudada no tema “Interpretação Constitucional”) resolve conflito entre princípios constitucionais, os DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 12 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR quais possuem mesmo patamar hierárquico e não entre regras normas que estão em patamares diferentes. Gabarito: Errado. 4. (CESPE/Técnico Científico - Banco da Amazônia/2012) A Constituição é autêntica sobrenorma, por veicular preceitos de produção de outras normas, limitando a ação dos órgãos competentes para elaborá-las, o que é fundamental à consolidação do estado democrático de direito. Comentários: Temos aí pessoal uma conceituação de Constituição considerada correta pela própria banca CESPE, memorize que é comum que apareça na sua prova novamente. Gabarito: Correto. 5. (CESPE/Agente Administrativo-MPS/2010) A norma constitucional é uma sobrenorma, porque trata do conteúdo ou das formas que as demais normas devem conter, apresentando princípios que servem de guias supremos ao exercício das competências dos órgãos. Comentários: Perfeito... Já da para esquentar. A Constituição é isso aí. O ponto de partida para as demais normas, é a norma suprema, ou como a questão diz uma: "sobrenorma" delineando o conteúdo e as formalidades das demais normas que estão abaixo dela. Gabarito: Correto. 6. (CESPE/Agente Administrativo-MPS/2010) Segundo a estrutura escalonada ou piramidal das normas de um mesmo sistema jurídico, no qual cada norma busca sua validade em outra, situada em plano mais elevado, a norma constitucional situa-se no ápice da pirâmide, caracterizando-se como norma-origem, porque não existe outra que lhe seja superior. Comentários: Olha só: a questão trouxe em palavras tudo aquilo que vimos na pirâmide de Kelsen: a Constituição no ápice, servindo de origem, e cada patamar devendo buscar a validade no patamar superior. Gabarito: Correto. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 13 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 7. (CESPE/Auditor-TCU/2009) Pelo princípio da supremacia da Constituição, constata-se que as normas constitucionais estão no vértice do sistemajurídico nacional, e que a elas compete, entre outras matérias, disciplinar a estrutura e a organização dos órgãos do Estado. Comentários: O Princípio da Supremacia da Constituição, é justamente o fato de a Constituição se sobrepor sobre todo o resto do ordenamento jurídico, ocupando o mais alto patamar. É correto também dizer que a Constituição é um instrumento de organização política do Estado e de limitação do poder estatal face aos particulares. Desta forma, está perfeito se falar que cabe à constituição, entre outras coisas, disciplinar a estrutura e a organização dos órgãos do Estado. Gabarito: Correto. Pirâmide de Kelsen X Ordenamento brasileiro atual Na ordem jurídica nacional, esta pirâmide de Kelsen possui algumas adaptações e peculiaridade. Pelos seguintes motivos: 1- Em 2004, a Emenda Constitucional 45 passou a admitir que os tratados internacionais, caso versassem sobre “direitos humanos” e fossem aprovados no Congresso Nacional com o mesmo procedimento das emendas constitucionais, viessem a ter a mesma força de emendas constitucionais (status hierárquico de Constituição). 2- Em 2008, o STF passou a entender que os tratados internacionais sobre direitos humanos, caso não fossem aprovados rito de votação de uma emenda constitucional, não iriam adquirir o status constitucional (emenda constitucional). Porém, por si só, já possuem um status de “supralegalidade” (estágio acima das leis e abaixo da Constituição), podendo revogar leis anteriores e devendo ser observados pelas leis futuras. Os demais tratados, que não falassem sobre direitos humanos, possuem status de uma lei infraconstitucional (equivalente a uma lei ordinária, comum). Assim temos a nova pirâmide no ordenamento brasileiro: DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 14 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR É importante notar que a Constituição, popularmente conhecida como “Constituição Federal”, na verdade é uma “Constituição da República Federativa do Brasil”, ou seja, uma Constituição “nacional” e não meramente “federal”, o que isso quer dizer? Quando usamos o termo “federal”, estamos falando de algo que está no âmbito da União Federal (o poder central da nossa federação). A Constituição não é norma “federal”, mas sim “nacional”, de toda a República Federativa do Brasil, impondo deveres e prevendo direitos em todas as esferas da federação (federal, estadual e municipal). Desta forma, o mais correto seria sempre empregarmos o termo “Constituição da República Federativa do Brasil”, mas por comodidade e por estar amplamente difundido, não há problemas em usarmos “Constituição Federal”. Até porque, desta forma, também a diferenciamos das Constituições Estaduais. Isso mesmo, cada estado tem a sua própria Constituição. E os Municípios? Quase, município não possui constituição (formal), mas sim lei orgânica, que funciona como a “Constituição” do município. . . . . Constituição (normas originárias + emendas constitucionais + tratados de direitos humanos aprovados como emendas constitucionais). Normas infraconstitucionais: (leis em sentido amplo) Normas da CF, art. 59: leis ordinárias e complementares, leis delegadas, decretos legislativos, medidas provisórias e resoluções + demais tratados internacionais + outras normas como decreto autônomo do presidente e Regimento dos Tribunais. Normas supralegais (tratados de direitos humanos não aprovados como emendas constitucionais). Normas infralegais: Decretos (não autônomos), Regulamentos, Portarias e etc. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 15 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR A Constituição Federal, por ser norma de imposição nacional, deve ser respeitada por todas as Constituições Estaduais, que não podem prever nada em desacordo com ela, bem como as leis orgânicas dos municípios, que devem observar os preceitos da Constituição daqueles estados onde se localizam, bem como da Constituição Federal. Cabe uma observação, não poderá a Constituição Estadual trazer imposições à autonomia municipal maiores do que aquelas já feitas pela Constituição Federal, esta sim (CF) é a lei maior, autônoma, soberana. Mas atenção: Isso só se aplica quando falamos da Constituição! É totalmente errado falarmos que existe qualquer hierarquia entre uma lei federal, uma lei estadual e uma lei municipal. Cada ente de nossa federação (União, estado, distrito federal e município) possui uma autonomia conferida pela Constituição Federal, para que possa, dentro dos limites traçados pela própria CF, se autoorganizar, autolegislar, autogovernar e autoadministrar. Ou seja, os ordenamentos jurídicos infraconstitucionais (leis em sentido amplo e normas infralegais) são completamente independentes: 8. (ESAF/Analista-Min. Integração Nacional/2012) A Constituição Federal é a norma fundamental de nosso ordenamento jurídico desde que não revele incompatibilidade com os tratados internacionais de direitos humanos pactuados pelo País. Comentários: A Constituição é sempre norma máxima e fundamental do país, fruto de um poder soberano, que não reconhece qualquer limitação formal. Assim, erra ao dizer “desde que não revele incompatibilidade com os tratados internacionais”. Gabarito: Errado. 9. (ESAF/ANA/2009) Relativo ao tratamento dado pela jurisprudência que atualmente prevalece no STF, ao interpretar a Constituição Federal, relativa aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos ratificados pelo Brasil: A legislação infraconstitucional anterior ou posterior ao ato de ratificação que com eles seja conflitante é inaplicável, tendo em vista Leis federais Leis estaduais Leis municipais Leis do distrito federal Autonomia Autonomia Autonomia DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 16 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR o status normativo supralegal dos tratados internacionais sobre direitos humanos subscritos pelo Brasil. Comentários: Na jurisprudência do STF, o tratado sobre direitos humanos que não foi votado pelo rito de emenda constitucional possui status supralegal (superior às leis e inferior à Constituição), revogando as leis anteriores e devendo ser observado pelas leis futuras. Gabarito: Correto. Supremacia Formal, Material e o Bloco de Constitucionalidade. Primeiramente temos que entender os dois conceitos: o de Supremacia Formal e o de Material. A supremacia formal é decorrência direta da “rigidez constitucional”, ou seja, a norma é escrita dentro do texto constitucional com a proteção de não poder ser alterada pelas leis comuns, somente por um procedimento mais dificultoso (emendas constitucionais) o que torna a sua alteração um processo trabalhoso e, assim, ela é capaz de se sobrepor e exigir observância de todo o ordenamento jurídico. Por outro lado, as constituições flexíveis não gozam de rigidez, podendo ser alteradas por leis comuns do Estado. Sendo assim, elas não são “superiores formalmente” em relação ao resto do ordenamento. Não se pode, no entanto, dizer que não existe constituição quando estamos diante de Constituições Flexíveis, pois estas gozam de outro tipo de supremacia:a supremacia material. A Supremacia Material reflete o sentimento de relevância de alguns temas em determinada sociedade. Os temais de maior importância para tal Estado acabam por adquirir um status mais nobre, capaz de serem chamados de Constituição, ainda que sem rigidez. É o que acontece na Inglaterra, por exemplo, onde mesmo que não haja um Constituição Rígida - Supremacia da Constituição sobre o ordenamento - patamares hierárquicos das normas, simplesmente pela forma atribuída, pouco importando o conteúdo tratado - aspecto formal CF DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 17 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR único texto escrito e denominado de Constituição, existe um sentimento constitucional para certos temas e diplomas normativos. Não é pacífico na doutrina, mas entende-se que as normas “materialmente constitucionais” são aquelas que protegem o cidadão do arbítrio do Estado e organizam o poder político. Mas, cada sociedade poderá ampliar esse leque de acordo com sua cultura, seus costumes. Atualmente, está ocorrendo no Brasil uma superação da visão clássica, positivista, na qual a Constituição Federal goza de Supremacia apenas formal, se colocando como norma máxima, no vértice superior do ordenamento jurídico. Tem-se entendido, em uma visão pós- positivista, que existem certos princípios e valores que, embora não estejam escritos na Constituição, gozam de status constitucional. A todo este conjunto formado pela Constituição escrita, normas de direitos fundamentais não escritas na Constituição, mas assumidas pelo país em tratados internacionais e princípios e valores substantivos, dá-se o nome de bloco de constitucionalidade. O Bloco de Constitucionalidade não pode existir se não houver no país a adoção de uma “supremacia material”. É importante ressaltar que este conceito de bloco de constitucionalidade iniciou no Direito Francês. Ele foi desenvolvido por Louis Favoreu, em referência às normas com status constitucional que integravam o ordenamento jurídico francês, com o intuito de abranger a Constituição de 1958, o preâmbulo da Constituição de 1946, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, além de outras normas de valor constitucional. Assim, o bloco de constitucionalidade ocorreria quando em um país houvesse documentos esparsos de status constitucional, o que não ocorreria em países que teriam a chamada “Constituição Codificada”, ou seja, aquela composta por um único documento com status formal de Constituição. Esse conceito inicial, no entanto, evoluiu e essa nomenclatura de “Bloco de Constitucionalidade” tem sido empregada, inclusive no Brasil, para falar de todo o arcabouço de princípios e valores que rodeia a nossa Constituição Escrita, mas que também possuem status constitucional, embora não estejam positivados, como por exemplo, o princípio da CF Constituição Flexível - Não há supremacia hierárquica da Constituição sobre o ordenamento - o que importa é somente o conteúdo tratado - aspecto material. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 18 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR razoabilidade e proporcionalidade, implícitos na Constituição com status constitucional. 10. (CESPE/Defensor-DPU/2017) A respeito da evolução histórica do constitucionalismo no Brasil, das concepções e teorias sobre a Constituição e do sistema constitucional brasileiro, julgue o item a seguir: a CF goza de supremacia tanto do ponto de vista material quanto do formal. Comentários: Atualmente, no Brasil, está superada a visão de que a CF goza de supremacia apenas formal, há o que se falar também da supremacia material, e isso cria um ambiente que permite a criação de um “bloco de constitucionalidade”, onde temos princípios e valores que, embora não estejam positivados no texto escrito, possuem status constitucional; Gabarito: Correto. 11. (FCC/Defensor-MA/2015) As Constituições que se apresentam em textos esparsos, fragmentadas em vários instrumentos normativos, são incompatíveis com o modelo de bloco de constitucionalidade. Comentários: Pelo contrário. O conceito de Bloco de Constitucionalidade surgiu no Direito Francês justamente pelo fato da existência de diversos documentos esparsos de valor constitucional. Gabarito: Errado. Direito Constitucional Definição de direito Constitucional: O Direito Constitucional é definido como sendo: o ramo de direito público que estuda os conceitos relacionados à ordem constitucional, ou seja, estuda a lei máxima de um país e o que estiver atrelado a ela. É um direito amplo, pois, acaba albergando as noções gerais de diversos outros direitos1. (OBS.: Direito público é aquele que regulamenta a política do Estado e as relações entre os seus órgãos, ou entre estes e os particulares. O direito público se diferencia do direito privado que é aquele que 1 CRUZ, Vítor. Vou ter que estudar Direito Constitucional. E Agora? São Paulo: Método. 2011. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 19 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR regulamenta as relações entre particulares (pessoas) como Direito Civil, Direito Comercial e Direito Internacional Privado). Para fins de estudo, o Direito Constitucional divide-se, quanto ao foco de investigação, em basicamente 3 espécies: Direito Constitucional Comparado - Tem como objeto de estudo a comparação entre ordenamento constitucional, não necessariamente em vigor, de vários países (critério espacial), ou de um mesmo país em diferentes épocas de sua história (critério temporal), com o objetivo de aprimorar o ordenamento atual. Direito Constitucional Geral (ou comum) - É uma ciência, um estudo teórico dos conceitos e princípios constitucionais de forma geral, ou seja, sem se preocupar com um ordenamento constitucional específico, mas direcionando diversos ordenamentos distintos. Direito Constitucional Positivo (ou especial, ou particular) - É o direito constitucional propriamente dito, que vai estudar um ordenamento específico que esteja vigorando em um país, diz- se "positivo" pois está em vigor, capaz de impor a sua força. 12. (ESAF/AFC-CGU/2004) Um dos objetos do Direito Constitucional Comparado é o estudo das normas jurídicas positivadas nos textos das Constituições de um mesmo Estado, em diferentes momentos históricotemporais. Comentários: O Direito Constitucional Comparado é um estudo comparativo de ordenamentos constitucionais, no tempo ou no espaço. A questão, corretamente, assinalou o aspecto temporal como um dos objetivos do DC comparado. Gabarito: Correto. 13. (FUNIVERSA/APEX-Brasil/2006) O Direito Constitucional é um ramo do Direito Privado, destacado por ser fundamental à organização do Estado e ao estabelecimento das bases da estrutura política. Comentários: O direito cosntitucional é ramo do direito público e não do direito privado. Gabarito: Errado. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 20 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BRAs Fontes do Direito Constitucional Para estudar Direito Constitucional teremos que nos basear, principalmente, em três pilares: 1- A Constituição Federal: No Brasil tivermos 8 Constituições (na verdade foram 7, pois a de 1969 não foi "exatamente" uma Constituição mas uma emenda à Constituição de 67, que mudou tanta coisa que a consideram como sendo uma constituição separada - mas deixemos isso para depois). A atual Constituição do Brasil foi elaborada em 1988. Tivemos anteriormente as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1969. A literalidade das normas escritas na Constituição será a principal fonte de estudo; 2- A doutrina: Consiste em um estudo teórico, são os pensamentos dos juristas e estudiosos que, através de seus livros, artigos, palestras... expõem seus pensamentos e teses que muitas vezes direcionam os julgamentos proferidos pelo Poder Judiciário e auxiliam inclusive na elaboração de leis e outras normas; 3- A jurisprudência: Grosso modo, é o entendimento que os tribunais, em especial o Supremo Tribunal Federal (no caso do Direito Constitucional), fixam sobre determinados assuntos. Assim, quando o tribunal decide uma causa baseada na Constituição, ele interpreta as normas desta e, com isto, direciona o modo de aplicação desta norma no futuro, notadamente quando esta interpretação permanece uniforme ao longo do tempo, através de reiteradas decisões no mesmo sentido. Geralmente, quando um tribunal quer manifestar que ele "pensa" de tal modo, após reiteradas decisões, ele divulga a chamada "súmula de jurisprudência", que nada mais é do que um verbete publicado oficialmente expondo seu entendimento. Esses três pontos citados, como dito, são os principais objetos do nosso estudo, mas não os únicos. Eles se irão se juntar a outros, tais como os usos e costumes, as diversas leis ordinárias e complementares (que veremos à frente) e até mesmo outras normas como os regimentos dos tribunais e das Casas Legislativas (Senado Federal, Câmara dos Deputados) e atos do Poder Executivo (regulamentos, decretos...) para, formarem as fontes do Direito Constitucional, ou seja, o lugar de onde nasce o Direito Constitucional, de onde provém tal direito. Isto tudo que foi citado irá ser usado para de alguma forma dar eficácia às disposições que o texto constitucional nos trouxe. Percebe-se, então, que o Direito Constitucional é uma matriz, um direito amplo que irá alcançar tudo aquilo que de certa forma veicula ou permite a aplicação da norma-mãe de um Estado: sua Constituição. Aqui neste curso nós iremos estudar nas 5 fontes: Constituição, Doutrina, Jurisprudência... ...MACETES E QUESTÕES!!! Obviamente DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 21 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR isso é só uma brincadeira, né pessoal?! Macetes e questões estão ali porque seriam, na verdade, as nossas principais "fontes para as provas de concurso público". 14. (CESPE/AJAJ-TRE-PI/2016) De acordo com a doutrina dominante, a CF, ao se materializar em um só código básico, afasta os usos e costumes como fonte do direito constitucional. Comentários: Os usos e costumes são fontes do direito constitucional e, fatalmente, refletem o “sentimento constitucional” que resultou nas normas escritas no texto da Constituição e são observados, ainda, para fins da interpretação constitucional. Gabarito: Errado. Noções básicas sobre os principais atos normativos2 Vamos ver agora algumas noções básicas sobre as principais normas que teremos contato ao longo do curso. O art. 59 da Constituição nos mostra a existência de 7 espécies normativas sujeitas ao "processo legislativo". São elas: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Todas as normas acima são atos primários, são primários pois decorrem diretamente da Constituição, não vemos ali os decretos, portarias e etc. que seriam os "atos secundários", já que decorrem dos atos primários. Todos os atos ali presentes são também infraconstitucionais, com exceção das emendas, que após serem promulgadas se incorporam ao texto constitucional com mesmo status deste. 2 Baseado em CRUZ, Vítor. Vou ter que estudar Direito Constitucional. E Agora? São Paulo: Método. 2011. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 22 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR É importante que, neste momento, vejamos pelo menos 4 desses atos: as emendas constitucionais, as leis ordinárias, as leis complementares e as medidas provisórias. 1- Emendas Constitucionais: Como visto, a emenda à Constituição é a única dessas 7 leis que não é infraconstitucional. Isso porque as emendas constitucionais, como o próprio nome diz, poderão "emendar" a Constituição, ou seja, têm o poder de modificar, reduzir ou ampliar o texto que está disposto na própria Constituição. Assim, as emendas constitucionais possuem a mesma hierarquia da Constituição, devendo por isso passar por um processo bem dificultoso de elaboração. As emendas constitucionais só podem ser aprovadas se cumpridos todos os requisitos do art. 60 da CF, devendo ser aprovadas pelo voto de 3/5 dos membros de cada Casa legislativa (Câmara e Senado) em 2 turnos de votação. 2- Leis Ordinárias: É a lei "genérica", ou propriamente dita. Aliás fica a dica: tudo que leva o nome de "ordinário (a)" significa "comum", "normal". Por contrario sensu aquilo que for "extraordinário" será algo "especial", "excepcional". Sempre que se falar somente na palavra "lei", mais nada, ou sem qualquer outro contexto, em regra estará se falando na lei ordinária. Para uma lei ordinária ser aprovada precisa que ocorra o seguinte: Iniciativa: Deve ser proposto um projeto de lei na Câmara ou no Senado (a regra é que a propositura ocorrerá sempre na Câmara, só se propõe no Senado quando forem senadores ou comissão de senadores que estiverem tomando a iniciativa) Deliberação na casa iniciadora: A Casa iniciadora recebe a proposta e faz a votação, podendo rejeitar algumas partes ou até mesmo adicionar outras partes ao projeto. Estas partes modificadas são as chamadas emendas ao projeto. Caso um projeto tenha muitas emendas, descaracterizando-se assim o projeto inicial, elabora-se o chamado substitutivo do projeto. Deliberação na casa revisora: A Casa que não foi a iniciadora deverá votar também o projeto, fazer a revisão do que foi votado na iniciadora. Ela poderá também rejeitar ou emendar o mesmo. Caso emende, esta emenda deverá voltar à casa iniciadora, pois para que um projeto seja aprovado, o seu teor deve ser discutido pelas duas casas. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 23 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Sanção ou veto: Depois de votado o teor do projeto nas duas Casas, ele é enviado para o Presidente da República que poderá sancionar o projeto, ou seja, concordar com ele, ou então poderá vetar o projeto caso julgue-o como contrário ao interesse público ou como um projeto inconstitucional. A Constituição diz que se o Presidente resolver vetar o projeto, o Congresso nacional poderá decidir se manteráou se derrubará o veto do Presidente. Promulgação: Se sancionado, a lei nasce e deverá ser promulgada. A partir daqui não se fala mais em projeto de lei. Agora já se fala em lei. A promulgação é o ato que atesta que todas as etapas do processo legislativo foram perfeitamente concluídas. Publicação: O povo tem que tomar ciência da lei, e isso se faz com a publicação, ou seja, divulga-se ao povo que existe uma nova lei. Uma lei só poderá entrar em vigor, produzir seus efeitos, após ser publicada, e geralmente existe um prazo para que isso ocorra. Quando uma lei é muito simples, coloca-se no final dela: "essa lei entra em vigor na data da sua publicação". Quando não disser nada, ela só entrará em vigor 45 dias após a publicação, é o que chamamos de vacatio legis, ou seja, o prazo em que a lei embora já exista, não está em vigor. Este vacatio legis pode ser diferente de 45 dias, mas para isso deverá tal fato vir expressamente mencionado na lei, por exemplo: "essa lei entra em vigor 30 dias após a publicação". 3- Leis Complementares: Leis complementares são leis com um processo de elaboração ligeiramente mais difícil que o da lei ordinária. O trâmite é o mesmo, porém, elas só podem ser aprovadas se conseguirem o voto da maioria absoluta dos membros da Casa, enquanto para as leis ordinárias bastam a maioria simples. Maioria absoluta: é quando mais da metade do número total de membros da Casa aprova o projeto. Maioria simples: é quando mais da metade do número de deputados ou senadores que estão presentes na sessão aprovam o projeto. Para que se alcance a maioria simples, deve-se pelo menos estar presente o quantitativo referente à maioria absoluta. As matérias que devem ser regulamentadas por lei complementar geralmente são mais complexas, e esta ordem já está expressamente disposta na Constituição. Assim a Constituição diz: "Caberá à lei complementar...", "nos termos de lei complementar". Diferentemente do que ocorre na lei ordinária, a qual pode tratar de qualquer assunto DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 24 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR que não seja reservado a outro tipo de lei ou que não possa ser regulamentado por lei. Desta forma, temos atualmente no Brasil pouco mais de 100 leis complementares enquanto temos bem mais de 10.000 leis ordinárias. Segundo o art. 61 da Constituição, quem pode tomar a iniciativa de propor uma lei ordinária e uma lei complementar são as mesmas pessoas: Qualquer parlamentar ou comissão de parlamentares; Presidente da República Supremo Tribunal Federal; Tribunal Superior (STJ, TSE, TST, STM); Procurador-Geral da República; Cidadãos. (Através da iniciativa popular apresentada à Câmara) A iniciativa popular será feita do seguinte modo: será enviada proposta à Câmara dos Deputados subscrita por, no mínimo: - 1% do eleitorado nacional; - de pelo menos 5 estados; e - com ao menos 0,3% dos eleitores de cada um deles; Leis federais x Leis nacionais: As leis complementares e leis ordinárias podem ser publicadas por municípios, para regular matérias de sua competência dentro do seu território, pelos Estados, de igual forma, e pela União. As leis que são criadas pela União, independentemente de serem ordinárias ou complementares, podem ser de dois tipos de acordo com a matéria que estão tratando: uma lei federal ou uma lei nacional. Exemplo de lei federal é a lei 8112/90 que regula a atuação dos servidores da União, como é apenas “federal” essa lei não pode ser aplicada nem aos servidores estaduais nem aos municipais. Somente àqueles servidores que têm vínculo com a União. Exemplo de lei nacional é o Código Penal ou Código Civil. É editado pela União, mas regula as relações em todo o país, independentemente de esfera federativa. Essas leis nacionais poderão ter a forma tanto de lei ordinária quanto complementar, isso vai depender apenas da decisão que o Constituinte resolver dispor no texto da Constituição Federal. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 25 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 4- Medidas Provisórias: As medidas provisórias não são leis no sentido estrito da palavra, são atos emanados pelo Presidente da República (ou Governador, ou ainda os Prefeitos), mas que tem a mesma força de uma lei. A diferença é que embora com força de lei, esta medida é provisória, ou seja, só fica em vigor por 60 dias prorrogáveis por mais 60 dias. Após expirado esse prazo ela perde a sua eficácia, não produzindo mais efeito algum. Para que os efeitos desta medida continuem valendo no tempo ao invés de acabarem, deve-se, neste período de 60+60 dias, elaborar uma "lei de conversão" que nada mais é do que usar o teor da medida provisória para elaborar um projeto de lei ordinária, esta lei ordinária de conversão é que se aprovada no Congresso, irá manter perene os efeitos instituídos pela medida provisória. Importante destacar que ao expirar o prazo de 60+60 dias a MP perderá os seus efeitos, mas o que acontece com as coisas que a medida veio modificar durante o período em que esteve em vigor? Serão automaticamente reestabelecidas como se a MP nunca tivesse existido? A resposta é não. Caberá ao Congresso editar um decreto legislativo no qual decidirá o que acontecerá com estas coisas alteradas enquanto a MP esteve em vigor, se o Congresso não editar o decreto, será considerado que os efeitos deste período continuarão sendo regidos pela medida provisória. 15. (FCC/Procurador-TCM-GO/2015) Lei ordinária e lei complementar a) guardam relação de hierarquia entre si, porque a primeira subordina-se à segunda. b) distinguem-se pela maioria requerida para aprovação parlamentar (maioria absoluta e maioria simples, respectivamente) e pela repartição constitucional de matérias confiadas a uma e a outra. c) são igualmente atos normativos primários, mas a segunda tem prazo diferenciado para sanção ou veto presidencial. d) excluem a possibilidade de a segunda dispor sobre a matéria da primeira. e) podem veicular, ambas as espécies, normas nacionais, isto é, que repercutem para todos os entes federados. Comentários: Letra A. Pergunta tradicional... errado, não há qualquer hierarquia entre as leis ordinárias e complementares, a diferenciação reside no âmbito de incidência de casa espécie legal. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 26 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Letra B. Errado. o erro está na palavra “respectivamente” haja vista que a lei complementar que requer maioria absoluta para aprovação. Letra C. Errado. Todos os tipos normativos do art. 59 são atos normativos primários, confira: Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição;II - leis complementares;III - leis ordinárias; IV - leis delegadas;V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Eles são dito “primários” pois retiram o seu fundamento diretamente da Constituição, sendo os “primeiros atos” a dispor sobre determinada matéria. Um decreto presidencial que vem regulamentar uma lei, é dito “ato secundário”, pois não regulamenta a Constituição diretamente, mas sim a lei. Letra D. Errado. A doutrina entende que leiscomplementares podem dispor de matérias afetas às leis ordinárias, ao argumento de que como o quórum de aprovação das primeiras é maior que a da segunda, não haveria qualquer ilegalidade, mas em hipótese alguma lei ordinária pode tratar de questões que devam ser reguladas por lei complementar. Letra E. Correto. Ambas as leis podem veicular normas com caráter nacional. Gabarito: Letra E. Teoria Geral do Estado Antes de entrarmos no movimento do Constitucionalismo, é interessante que tenhamos contato com os conceitos da Teoria Geral do Estado, pois serve de alicerce que possibilita uma melhor compreensão de diversas situações, termos e conceitos que veremos à frente. Mesmo que você ache a leitura chata e pesada, não deixe de passar o olho neste tema, pois, com certeza, no futuro será muito útil ter estudado isso. Ok?! Vamos lá: Teoria Geral do Estado - Noção, Objeto e Método A Teoria Geral do Estado (TGE) é a disciplina que tem por objeto a análise da formação, organização, evolução no tempo e DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 27 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR finalidade dos Estados, sob os mais variados prismas, de forma que possa buscar o aperfeiçoamento do Estado. Assim, percebemos3 que embora seja uma disciplina jurídica, ela não se limita aos aspectos jurídicos, mas estuda o Estado através de uma análise jurídica, sociológica, política, e etc. A TGE está intimamente relacionada com a ciência política. A Ciência Política surgiu meados do século XIX, principalmente na Alemanha, Itália e França, para estudar racionalmente e mediante fundamentações empíricas, provas e fatos o fenômeno de formação e evolução das estruturas políticas. Não se trata aqui, então, de uma análise de conteúdo meramente opinativo, mas de verdadeira ciência, racionalmente construída. Já a TGE se diferencia desta por levar em conta os aspectos jurídicos, enquanto esta analisa o Estado sob o prisma da Teoria Política. 16. (CESPE/Defensor-DPU/2017) De forma geral, define-se ciência política como toda interpretação de fenômenos políticos fundada na observação dos fatos e na argumentação racional, em oposição às afirmações derivadas do senso comum. Comentários: Exatamente. Trata a ciência política de um estudo racional pautado em experiências e análise de fatos. Gabarito: Certo. 17. (ESAF/MRE/2004) O objeto da teoria geral do Estado é o estudo da construção jurídica do Estado, podendo abranger, ainda, o estudo do Estado em sua perspectiva de realidade jurídica e de realidade social. Comentários: A questão corretamente expôs o conceito da TGE, que tem como objeto de estudo o Estado, sua formação e evolução, tudo isso analisado pelos mais variados prismas Gabarito: Correto. 3 Como nos ensina o Prof. Dalmo de Abreu Dallari. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 28 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Origem da Sociedade - Sociedade Natural x Contratualismo Foram muitos os teóricos que, ao longo do tempo, tentaram explicar a formação da sociedade. Duas correntes se destacam, a sociedade natural e o contratualismo. Dessas correntes, surgiram muitas derivações, mas a essência que as distinguem é sempre a mesma, a resposta a seguinte pergunta: a sociedade é fruto de um agrupamento voluntário ou involuntário? Os adeptos à idéia de sociedade natural argumentam que o homem é naturalmente um animal social e político, e somente o homem que fosse muito superior ou muito vil, ou então por algum acidente (naufrágio ou perdido em um floresta) é que poderiam viver isolado. Desta forma, haveria uma agregação involuntária das pessoas, como fruto da própria natureza humana. Esta corrente tem origem em Aristóteles e foi defendida também por Cícero, São Tomás de Aquino e muitos outros. Já os contratualistas se opõem à idéia da sociedade natural, defendem que a sociedade é formada por uma associação voluntária dos homens, através de um contrato hipotético. A origem do contratualismo não é bem definida pela doutrina, alguns afirmam que aparece com Platão, na obra "A República", mas, de forma clara e precisa, o contratualismo é proposto na obra "Leviatã" (1651) de Thomas Hobbes. Para Hobbes o homem vive inicialmente, ou quando não é reprimido, em um "estado de natureza", totalmente livres, sendo eles egoístas, agressivos, luxuriosos, enfim, "animalescos" o que ocasiona uma "guerra de todos contra todos", uma constante tensão que leva as pessoas a agredirem antes de virem a ser agedidos. Apesar dessa essência "má", para Hobbes o homem é sobretudo um ser racional e usa a sua razão para celebrar um contrato social, superando o estado de natureza e criando um "estado social" e, uma vez estabelecido, deve ser preservado a qualquer custo pela segurança que dá ao homem, sendo assim, ainda um mau governo deve ser defendido, pois é melhor que o estado de natureza. Assim, Hobbes pregava como essencial a existência de um poder "visível" (Estado, um homem artificial criado pelo homem natural para sua proteção e defesa) que obrigasse a todos a observância das leis, sob pena de serem castigados.Hobbes era essencialmente absolutista em suas idéias. Posteriormente, outros autores vieram a se opor ao absolutismo, mas sem negar o contratualismo, foi o caso de John Locke e, DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 29 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR principalmente o caso de Monstesquieu, que na sua obra "Espirito das Leis" também também se refere a um estado natural do homem, mas este não seria um estado hostil e animalesco, mas sim de constante medo e fraqueza, onde a paz reinaria pelo temor de atacar. O que levaria o homem a viver em sociedade seriam as necessidades (alimentícia, sexual, fortalecimento recíproco...) e a própria consciência de sua condição e do seu estado. Tanto Locke quanto Montesquieu são apontados como contratualistas, pela essência de suas obras, mas não se referiram expressamente ao "contrato social" como fez Hobbes, isso só vem a ocorrer com Rousseau que concordava com Montesquieu no estado inicial da bondade humana, mas que preservar este estado natural, sozinho, acabou sendo muito difícil devido aos diversos obstáculos que foram surgindo. Desta forma, os homens se associaram voluntariamente, celebrando um contrato social, em busca de unir forças, e assim abdicando de parcela de suas vontades em prol de uma vontade geral, criando um Estado, que é um corpo moral e coletivo, cuja soberania tem fundamento no conjunto das pessoas associadas, sendo assim inalienável e indivisível. É importante destacar que esta vontade geral não se confunde com o simples somatório de todas as vontades individuais, mas sim é a vontade que atende ao bem comum daqueles cidadãos. Rousseau exerceu influência imediata na Revolução Francesa, e para ele os maiores bens a serem preservados em qualquer legislação seria a liberdade e a igualdade, esta era inerente a condição de cidadão, já que uma vez convencionado o contrato social, todos seriam iguais, não havendo mais diferenças em termos de força física ou qualquer outro aspecto. Embora issonão seja pacífico, a maioria dos contratualistas percebem a distinção de dois pactos diferentes e sucessivos: 1º Pacto de associação, quando os indivíduos efetivamente formam a sociedade, agrupando-se entre si. 2º Pacto de subordinação, os indivíduos decidem obedecer a um poder comum em troca de benefícios. O contratualismo foi essencial à formação teórica do Estado como é concebido atualmente, devendo sempre buscar o bem comum, predominando a vontade popular e buscando uma liberdade e igualdade, criando assim as bases da democracia. No entanto, salienta o Prof. Dallari, que a idéia contratualista não possui muitos adeptos nos dias atuais, servindo mais como caráter filosófico DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 30 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR do que como justificativa aceitável para a formação da sociedade. Atualmente, então, predomina o modelo misto de que a sociedade é produto de uma necessidade natural de associação humana, de essência naturalista, mas sem excluir, porém, que a razão humana tem grande papel no estabelecimento de duas bases e características. 18. (CESPE/Analista de Infraestrutura- MPOG/2012) Conforme a teoria normativa do Estado, a constituição do Estado decorre de um contrato voluntário entre os indivíduos e o monarca, que, em troca do exercício do poder, lhes provê segurança. Comentários: A Constituição do Estado é um documento que limita os poderes do Governante para dar mais autonomia aos cidadãos. O que o enunciado tratou é do chamado “pacto de subordinação” que está ligado ao absolutismo monárquico e não da “Teoria normativa do Estado”, regulado por uma Constituição de valor jurídico. Gabarito: Errado. 19. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008). Um dos objetos de grande atenção do pensamento e da teoria política moderna é a constituição da ordem política. Sobre essa temática, uma das tradições de reflexão mais destacadas sustenta que a ordem tem origem contratual. Todos os elementos abaixo são comuns a todos os pensadores da matriz contratualista da ordem política, exceto: a) o estado de natureza. b) a existência de direitos previamente à ordem política. c) a presença de sujeitos capazes de fazer escolhas racionais. d) um pacto de associação. e) um pacto de subordinação. Comentários: Letra A – Correto. O Estado de natureza era previsto por todos os contratualistas e trata da situação em que o indivíduo vivia antes de celebrar o pacto de associação e passar a viver em sociedade. A única divergência é que para alguns como Hobbes, no Estado de natureza o homem era essencialmente mau e animalesco, enquanto para outros como Rousseu, o homem seria bom e temeroso. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 31 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Letra B – Correto. Esse também é um pensamento essencial aos naturalistas. Inclusive é inerente à teoria do contrato social de que os indivíduos, possuidores de direitos inatos, abdicam de parcela desses direitos em prol das vantagens da convivência de sociedade. Letra C – Correto. A razão é justamente o que faz o homem a abrir mão de seus direitos e celebrar o contrato. Letra D – Correta e Letra E errada! O Pacto de associação é o próprio cerne da teoria contratualista. Porém, a fase sucessiva ao pacto de associação que seria o pacto de subordinação não é um consenso, embora prevista por muitos doutrinadores. Gabarito: Letra E. Elementos da Sociedade O Prof. Dallari comenta que verificamos com frequência um agrupamento muito numeroso de pessoas em algum lugar, em função de algum objetivo comum, porém, isso não é suficiente para dizermos que tais indivíduos constituem uma sociedade, já que para assim ser considerada, precisa reunir 3 elementos característicos: 1- Finalidade ou valor social; 2- Manifestação ordenada; 3- Poder Social. 1- Finalidade ou Valor Social: O Bem comum. Duas correntes diferentes: a) Os deterministas - negam possibilidade de escolha, o homem se submete às leis naturais, sob o princípio da casualidade. O homem tem a sua vida condicionada a fatores econômicos ou geográficos e não adianta lutar contra eles. É aquele dizer: filho de pescador vai ser pescador. b) Os finalistas - o homem é livre para escolher sua finalidade, mesmo que "forças" criem uma tendência, ele possui inteligência e vontade de fixar um objetivo próprio para dirigir a sua vida. É esta corrente finalista que faz surgir o conceito de finalidade social, que seria então, aquela que harmonizasse todas as finalidade individuais. Ou seja, o bem comum, entendido como o conjunto de todas as condições que possibilitem o desenvolvimento integral da personalidade humana4. 2- Manifestação ordenada: reiteração + ordem + adequação. É necessário que o agrupamento de indivíduos, além de possuir uma finalidade comum, possuma uma ordenação, que deve ser reiterada, 4 Conceito baseado na formulação do Papa João XXIII. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 32 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR ou seja com objetivos permanentes. Assim, pressupõe-se a prática de diversos atos, de forma contínua, por um longo período. É preciso ainda que haja uma ordem (normas), a fim de que seja possível que pessoas com diversos interesses distintos sejam conduzidas em prol de um mesmo objetivo. Por fim, as manifestações e ações devem estar adequadas à busca do bem comum, crescimento e desenvolvimento da sociedade. 3- Poder Social: Para fins da organização e funcionamento de uma sociedade é necessário a existência do poder social, que é fator inerente a existência da sociedade e que pressupõe uma bilateralidade, ou seja, uma vontade que predomina em prol de outra ou de outras. Os teóricos que negam a necessidade de um Poder Social são genéricamente designados como anarquistas. Sociedades particulares x Sociedades Políticas As sociedades, quanto à sua finalidade, podem ser basicamente de dois tipos: a) Sociedade de fins particulares - quando possuem uma finalidade definida, voluntariamente escolhida por seus membros. b) Sociedade de fins gerais - quando seu objetivo é criar condições para que cada um dos seus membros (ainda que estes sejam outras sociedades) consigam atingir os seus objetivos. Estas são as "sociedades políticas". As sociedades políticas podem ser bem pequenas e restritas como a familia, os clãs e as tribos, mas podem ser também grandes e importantes como os Estados. Sociedade X Comunidade É necessário que façamos a distinção entre os conceitos de sociedade e comunidade, pois isso será necessário para que entendamos as diferenças entre outros conceitos como Estado e Nação. Tanto as sociedades quanto as comunidades são agrupamentos, com vocação permanente, de pessoas. No entanto, possuem diferenças bem definidas. A formação de uma sociedade ocorre para que seus membros busquem um fim determinado, as comunidades surgem por si próprias sem a DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 33 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR consciênciade seus membros na busca de um objetivo comum, sendo objetivo das comunidades a sua própria preservação. Diferentemente das comunidades onde existe um elo formado pela afinindade sentimental, psicológica ou espiritual de seus membros, na sociedade há vínculos jurídicos para reger as relação entre seus membros e são as normas jurídicas regulamentam a suas manifestações. Encontramos ainda na sociedade a existência de um poder, que é estabelecido e reconhecido juridicamente, capaz de alinhar os membros em prol dos objetivos comuns, algo que não existe nas comunidades, onde não há lideranças jurídicas, no máximo o exercício de influências de membros sobre outros. Há de se destacar também que nada impede que uma comunidade venha a se transformar em uma sociedade, caso seus membros decidam voluntáriamente se organizar e passar a ordenamente perseguir objetivos comuns. O Estado - Origem Os autores indicam que o termo "Estado" no sentido que se mostra hoje (sociedade política de vocação permanente dotada de poder) aparece pela primeira vez na obra "O Príncipe" de Maquiavel (1513). O termo foi gradativamente ganhando espaço ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Há autores que não admitem a existência do estado antes do século XVII, para eles não bastaria haver uma sociedade política, mas também haver características bem definidas como uma soberania una, o que não era presente em épocas medievais, onde existiam os feudos e corporações dissolvendo o poder. Outros autores dizem que o Estado sempre existiu, tendo o homem sempre se organizado em sociedade e sob uma autoridade. Aqui retomamos a idéia da formação natural do Estado, assim como a sociedade, e da formação contratual do Estado. Os não contratualistas pregam ora que a formação do Estado tem origem familiar (que foi se ampliando até gerar grandes aglomerados), ora por atos de força (conquistas) ou ainda por causas econômicas ou patrimoniais (o homem agrupou-se naturalmente para otimizar os meios de produção e suprir necessidades). Há ainda quem defenda que o Estado está sempre em potencial formação pelo simples fato de haver a sociedade, que vai se tornando naturalmente complexa, até que necessita formar o Estado para geri-la. Aqui vimos teorias sobre a formação originária (inicial) dos Estados. O Estado, no entanto, também pode se formar de forma derivada, ou DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 34 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR seja, através da união ou fracionamento de outros Estados que já existiam. 20. (ESAF/AFC-CGU/2012) O conceito de Estado é central na teoria política. Os enunciados a seguir referem-se à sua formulação. Indique qual a assertiva correta. a) O conceito de Estado surge com o de Pólis, na Grécia. b) Sua formulação original integra o Direito Romano. c) A definição passou a ser utilizada na Revolução Francesa. d) A primeira referência ao termo é de Maquiavel. e) A origem não pode ser identificada. Comentários: Os autores indicam que o termo "Estado" no sentido que se mostra hoje (sociedade política de vocação permanente dotada de poder) aparece pela primeira vez na obra "O Príncipe" de Maquiavel (1513). Letra D. Estado X Nação Comumente empregados como sinônimos, tais institutos doutrinariamente são tidos como distintos. A Nação é um conceito sociológico, refere-se a uma ideia de união em comunidade, um vínculo que o povo adquire por diversos fatores como etnia, religião, costumes... O Estado é conceito jurídico, sendo uma sociedade política. Comumente (e até mesmo sendo cobrado em diversos concursos) diz-se que o Estado é a nação política e juridicamente organizada. Esse ditado é importante para que didaticamente entendamos a ideia de formalização do Estado, porém, o Prof. Dallari, afirma que é um erro o emprego dessa frase, já que o conceito de nação não tem qualquer utilidade para fins jurídicos, mas somente sociológicos, não podendo ser usado para definir o Estado que é algo essencialmente jurídico. É de se notar ainda que, sendo termos totalmente autônomos, dentro de um Estado pode haver várias nações (vários grupos vinculados), ou mesmo, esta nação pode estar espalhada por vários Estados, mas que continua mantendo este sentimento histórico de união, exemplo clássico disso é a nação judaica. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 35 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR 21. (CESPE/SEJUS-ES/2009) O Estado constitui a nação politicamente organizada, enquanto a administração pública corresponde à atividade que estabelece objetivos do Estado, conduzindo politicamente os negócios públicos. Comentários: Os autores mais modernos subdividem a função de chefe de Governo (uma das funções do Poder Executivo), como sendo a de chefe de Governo (exercendo atribuições políticas) e a função de chefe da Administração Pública (chefiar a máquina administrativa). Assim, é um erro falar que a administração pública corresponde à atividade que estabelece objetivos do Estado, conduzindo politicamente os negócios públicos, já que este seria o conceito de "governo". Gabarito: Errado. O Estado - Evolução do Estado Antigo ao Estado Moderno Podemos, se considerarmos o Estado em um termo amplo (lato sensu), traçar uma certa linha de evolução, em uma sequência cronológica, que vai do Estado Antigo ao Estado Moderno, passando pelo Grego, o Romano e o Medieval. Em cada época os Estados possuíam grandes diferenças entre si, porém, também existem linhas comuns que podem ser coligidas, veremos a seguir. Estado Antigo (Oriental ou Teocrático): - Hebreus, Egípcios, Sírios... - Marcados pela natureza unitária e religiosidade; - A sua natureza era unitária, pois inexiste divisões, sejam territoriais, políticas, jurídicas ou administrativas, no interior do Estado. - A sua natureza era religiosa, pois não há como dissociar a religião do governo, das leis e da moral. - Monarquia absolutista de fundamento divino. Alguns autores dispõem que tal governo seria em alguns casos ilimitado, enquanto em outros casos seria limitado pelos sacerdotes. - Instabilidade territorial. DIREITO CONSTITUCIONAL nas 5 Fontes Aula 0- Conceitos e Teoria Geral do Estado Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte 36 Prof. Vítor Cruz e Rodrigo Duarte WWW.PONTODOSCONCURSOS.COM.BR Estado Grego: Embora a Grécia não tenha se organizado em uma única sociedade política, mas em diversas polis (cidade-estado), podemos identificar certas características comuns a elas: - Busca pela autossuficiência (autarquia) da polis. - Uma elite ("cidadãos") dominava os assuntos políticos, excluindo a massa de indivíduos das decisões, ainda quando o governo fosse tido por democrático. Estado Romano (754 a.C. até 565 d.C): - Base familiar; - Inicialmente possuía organização no modelo das cidades-Estado, posteriormente abandonada pelas guerras de conquista e integração dos povos conquistados. - Restrita parcela de indivíduos participando do Governo. - Famílias patrícias (fundadoras do Estado) com privilégios, inclusive ocupando durante muito tempo as principais magistraturas (cargos supremos do governo). - Ao longo do tempo, as demais camadas sociais foram apliando seus direitos. Estado medieval (período da queda do Império Romano
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