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Regulação Governamental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcelo Bernardino Araújo Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Origem e fundamentos da regulação 5 • Modelos de Estado • O Estado Regulador • Origens do Estado Regulador • O modelo de Estado Regulatório no Brasil · Entender os aspectos históricos e conceituais do processo regulatório no Brasil, bem como os modelos de Estado e a origem das Agências Reguladoras Caro(a) aluno(a) Nesta Unidade, os temas trabalhados serão a origem e os fundamentos da regulação. O texto está dividido em: 1. Modelos de Estado; 2. O Estado Regulador; 3. Origens do Estado Regulador; 4. O Modelo do Estado Regulatório no Brasil. Este conteúdo é essencial para sua formação e atuação como futuro gestor público. Bons estudos! Origem e fundamentos da regulação 6 Unidade: Origem e fundamentos da regulação Contextualização Vivemos cercados de leis, regulamentos e normas que disciplinam nossas vidas. Ora, talvez pudéssemos questionar: será que são necessárias todas essas regras? A resposta é muito simples. Se não houvesse regras, não haveria um convívio harmônico entre as pessoas. Portanto, elas são necessárias para que não haja conflito em diversos interesses individuais, pois devem prevalecer os interesses coletivos que visem ao bem comum. Assim, as regras existem e devem ser obedecidas. Caso elas não representem mais os interesses comuns da coletividade, devem ser alteradas ou revogadas. Para tanto, elegem-se os representantes aos quais delegamos a competência de colocá-las em discussão e votação. Nesse sentido, as atividades econômicas também seguem regras, que respeitam as particularidades dos diferentes ramos, mas que disciplinam medidas para a garantia de um tratamento justo na medida da igualdade entre os participantes, conhecido como princípio da isonomia, princípio este que pode ser encontrado em diversos pontos da Constituição Federal de 19881: • Artigo 4º, inciso VIII, que trata da igualdade racial; • Artigo 5º, caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”; • Artigo 5º, inciso I, que trata da igualdade entre os sexos; • Artigo 5º, inciso VIII, que trata da igualdade de credo religioso; • Artigo 5º, inciso XXXVIII, que trata da igualdade jurisdicional; • Artigo 7º, inciso XXXII, que trata da igualdade trabalhista; • Artigo 14, caput, que trata da igualdade política; • Artigo 150, inciso III, que trata da igualdade tributária. Pelo exposto, pode-se perceber a importância das regras no cotidiano das sociedades para um convívio harmônico e civilizado. Portanto, é necessário o conhecimento e aplicação adequados para sua atuação profissional. 1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. 7 Modelos de Estado Caro aluno, antes de tratarmos de Regulação precisamos entender o funcionamento do Estado. Existe quatro modelos de Estado: o absolutista, o liberal, o intervencionista e o regulador. O Estado Absolutista é caracterizado pela concentração de todos os poderes (legislar, executar e julgar), inclusive econômicos e de guerra estão nas mãos de um único governante. É organizado sob moldes monárquicos com caráter centralizador e concentrador. Percebe-se que não é o caso do Brasil, pois os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são independentes e harmônicos entre si, como previsto na Constituição Federal de 1988. Conforme Thomas Hobbes (1651) em seu livro “Leviatã”, ele manifesta seu pensamento em que o Estado serve para proteger os homens, os quais, em seu estado de natureza, não seriam necessariamente dotados de bondade. O acordo entre os homens que faz surgir o Estado mostra, portanto, o caráter antinatural deste pacto social. E quanto mais forte fosse a presença do Estado, mais protegido estaria o indivíduo. O Estado Liberal surgiu do rompimento com o Absolutismo que prevalecia até o século XVIII, em razão, também, das ideias disseminadas à época pela Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade. É caracterizado pela abstenção de intervenção na economia, na qual prevalece o livre mercado. Nesse modelo, era garantida à sociedade apenas as liberdades individuais tais como a livre iniciativa econômica, a liberdade religiosa, a livre manifestação do pensamento etc. Por outro lado, o Estado não fornecia serviços públicos e os bens consumidos eram produzidos única e exclusivamente pela iniciativa privada. Também não é o modelo adotado no Brasil, pois todas as atividades econômicas são de certa forma, algumas mais ou outras menos, regulamentadas. Segundo Adam Smith (1776) em sua principal obra, “A Riqueza das Nações” definiu os deveres do Estado liberal, que seriam: • Proteger a sociedade da violência e da invasão; • Proteger cada membro da sociedade da injustiça e da opressão de qualquer outro membro; e • Construir e manter certas obras públicas, e certas instituições públicas quando não fossem do interesse de qualquer indivíduo ou de um pequeno número deles. Já o Estado Intervencionista, também denominado Estado do bem-estar ou Welfare State é caracterizado pela intervenção total na economia onde se propõe que tudo seja produzido e administrado pelo Estado proporcionando a sociedade padrões mínimos de vida. Este modelo, de certa forma, está presente por exemplo, em Cuba, na Coréia do Norte, na China e no Vietnã. Ou seja, em países que adotam o regime socialista. O modelo intervencionista foi idealizado por Karl Marx e Friedrich Engels em sua obra “O Manifesto Comunista”, publicada em 1848. O Estado Regulador é um modelo que não segue nenhum dos dois extremos visto nos modelos liberais e intervencionista. Mas um meio termo, pois cria políticas de regulação para 8 Unidade: Origem e fundamentos da regulação privatizar e conceder ao particular explorar a atividade econômica, com finalidade lucrativa, porém sob a fiscalização e controle do Estado. A maioria dos países, atualmente, adotam o modelo de Estado regulador, alguns com políticas mais liberais, outros com políticas intervencionistas. Até o momento você concluiu que é o modelo adotado no Brasil, certo? Sim, vivemos em um país que adota o modelo regulador. O Estado Regulador O exercício regulatório por parte do Estado faz parte do cotidiano de sociedades organizadas desde “O Contrato Social” proposto por Jean-Jacques Rousseau. Isso permitiu a vida em sociedade. Começou então o respeito a regras mínimas de convivência, onde prevalece a soberania política da vontade coletiva. Para tanto, pessoas são eleitas ou indicadas para representá-las. O Estado então passou a prover serviços públicos em diversas áreas, como saúde, educação, segurança, saneamento básico, entre outros. Serviços esses que em alguns casos podem ser exercidos também pela iniciativa privada, com entidades com ou sem finalidade lucrativa. Importante! Atualmente, o Estado é definido como agente político encarregado de desempenhar 4 (quatro) funções básicas: 1. Criação das condições estruturais e logísticas de produção (infraestrutura); 2. Elaboração de leis e a defesa de sua interpretação e cumprimento; 3. Regulamentação das relações do capital e do trabalho; e 4. Segurança pública e garantia da soberania nacional. O Estado pode através de uma autorização específica, a pedido de uma pessoa física ou jurídica, autorizar a prestação de serviços, denominados autorizados, para atender interesses coletivos instáveis ou emergências transitórias. Por exemplo, serviços de táxis, despachantes,guarda particular etc. A transferência de prestação de serviços públicos pode ocorrer de duas formas2: concessão e permissão, nos termos da Lei nº 8.987/1995. A concessão é uma espécie de contrato administrativo através da qual transfere-se a execução de serviço público para particulares, por prazo certo e determinado. Os prazos das concessões são maiores que os dos contratos administrativos em geral. Por exemplo: fornecimento de energia elétrica, comunicação telefônica, radiodifusão etc. A permissão é o ato administrativo precário através do qual o Poder Público transfere a execução de serviços públicos a particulares. Por exemplo, transporte coletivo, colocação de bancas de jornal etc. Já a transferência de propriedade e controle de empresas estatais ocorre através das privatizações onde empresas que pertencem ao Estado são vendidas à um particular. 2 Aprovado pela Lei nº 8.987 de 13 de fevereiro de 2005. 9 Por exemplo, alienação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do Banco do Estado de São Paulo (BANESPA), da Telecomunicações de São Paulo (TELESP) etc. Você lembra de alguma outra empresa que foi privatizada? Origens do Estado ReguladoOrigens do Estado Regulador A origem do estado regulador, com instituições e características próprias através de agências especializadas e autônomas ocorreu primeiro nos Estados Unidos da América em 18873 a Interstate Commerce Commission (ICC). Em 1913, foi instituída a Federal Reserve Board, que tem atuação na regulação dos bancos e instituições financeiras. Em 1914, surgiu a Federal Trade Commission (FTC), responsável em coibir as práticas antitrustes e regular a concorrência nos mercados. Em 1927, a Federal Radio Commission. Posteriormente, outras foram instituídas de acordo com a necessidade de o Estado intervir em outros setores. Figura 1 - Símbolo o� cial do primeiro Órgão regulador americano Fonte: U.S. Government - 1975 ICC Annual Report Mas por que há a necessidade de um ente regulador? O modelo regulatório ganhou força no início do século XX, pois havia muita insatisfação com a ordem privada do sistema commom law (direito baseado em costumes) e a distribuição dos poderes institucionais (Executivo, Legislativo e Judiciário). Figura 2 – Equilíbrio entre os Poderes Figura que representa os três poderes, que corresponde ao sistema de freios e contrapesos, ou seja, deve existir harmonia entre os poderes no qual um não deve interferir na atuação do outro, respeitados seus limites e competências. Fonte: Thinkstock/Getty Images 3 A primeira agência reguladora independente nos Estados Unidos foi a Interstate Commerce Commission (ICC) em 1887, que tinha por objeto a regulamentação, inicialmente, dos serviços interestaduais de transporte ferroviário. Ela acabou em 1995 quando foi substituída pela Surface Transportation Board (STB), criada pelo Interstate Commerce Commission Termination Act. 10 Unidade: Origem e fundamentos da regulação Primeiro, os julgamentos centrados no caráter antidemocrático de criação do direito pelos juízes (ao invés do Poder Legislativo), questão especialmente importante no direito baseado em costumes, em que existe a força do precedente judicial, ganham força durante a chamada Lochner era, período da história legal americana (1890 a 1937) em que a Suprema Corte, em nome dos ideais liberais do Laissez-faire4, invalidou diversas tentativas de regulação estatal da economia. Segundo, a Grande Depressão americana, em 1929 e que tem com uma das causas a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que causou uma profunda crise na economia americana e coloca em questão os ideais liberais do não intervencionismo estatal. Naquele momento ficou evidente a incapacidade do mercado se reerguer e a necessidade de uma regulação estatal. Nesse cenário, o então presidente americano Franklin Delano Roosevelt implementou uma série de programas estatais intervencionistas que ficou conhecido como New Deal (novo acordo). Inspirado nas ideias de John Maynards Keynes escritas em seu livro “Os Meios para a Prosperidade”, com medidas para garantia de empregos. O New Deal abrangeu três áreas: agricultura, indústria e a área social. Entre as principais medidas, segundo Sitkoff (2009) estão: • Concessão de empréstimos aos fazendeiros falidos para que quitassem as suas dívidas e reordenassem a produção; • Controle da produção visando à manutenção dos preços dos produtos; • Fixação dos preços de produtos básicos, como carvão, petróleo e cereais. • Realização de diversas obras públicas, para a criação de novos empregos, visando os milhões de desempregados. • Aumento do salário dos funcionários; • Criação de um salário-desemprego para aliviar a situação da miséria dos desempregados; • Jornada de trabalho de 8 horas; • Legalização dos sindicatos; • Erradicação do trabalho infantil; e • Adequação da previdência social. Para Bernard e Colli (1998) o Estado governado no modelo regulador deve: • Dispor de despesas orçamentárias com objetivo de investimento em obras públicas; • Reger-se por políticas de orientação macroeconômica, com vista à regulação do mercado (instrumentos de política fiscal, instrumentos de política monetária e crédito, etc.); • Criar políticas sociais de gastos públicos (como sistema de seguridade social, sistema de assistência aos desempregados, entre outras ações sociais), redistribuindo assim o rendimento nacional e compensando os efeitos colaterais do mercado (desemprego, aumento de preços, etc.). 4 Tradução livre: deixar fazer. 11 Com essas medidas o Estado se torna o agente do desenvolvimento econômico e social. Criará, portanto, as condições mínimas para criação de emprego e renda, consequentemente diminuirá a miséria e a pobreza. Nessa época as agências reguladoras ganham destaque e se multiplicam nos Estados Unidos. O Estado americano utilizou-se do modelo das agências reguladoras para que houvesse uma intervenção na ordem econômica e social, ajustando as falhas do mercado. Buscava-se, com este modelo, especializar a atuação estatal e amenizar a influência política na regulação de alguns setores. O modelo de Estado Regulatório no Brasil A função tipicamente regulatória do Estado brasileiro pode ser encontrada em nosso ordenamento jurídico há muito tempo, como nos seguintes documentos5: • Regimento de 17 de dezembro de 1548 (Governo-Geral de Tomé de Souza) que traçava normas julgadas necessárias à regulação das relações entre industriais, donos de fábricas e plantadores de cana; • Alvará de 13 de abril de 1809, para se regular a fabricação e o consumo da pólvora; • Decreto de 3 de fevereiro de 1863, que aprova as tarifas e instruções que devem regular o transporte de passageiros, bagagens e mercadorias na Estrada de Ferro de D. Pedro II”; • Decreto de 29 de dezembro de 1880, que aprova as cláusulas que devem regular as concessões de Estradas de Ferro Gerais no Império; • Decreto nº 5.378, de 14 de dezembro de 1927, que autoriza a regular o comércio de café entre os portos do Brasil. Já no Brasil o surgimento de entidades com funções regulatórias e fiscalizatórias de setores econômicos ocorreu desde o início do século XX, mas que não eram elas não eram denominadas agências reguladoras. Por exemplo: • Comissariado de Alimentação Pública (1918) • Instituto de Defesa Permanente do Café (1923) • Instituo do Açúcar e do Álcool (1933) • Instituto Nacional do Mate (1938) • Instituto Nacional do Pinho (1941) • Instituto Nacional do Sal (1940) • Conselho Monetário Nacional (1964) • Banco Central (1964) • Comissão de Valores Mobiliários (1976) 5 Legislação histórica disponível em http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-historica 12 Unidade: Origem e fundamentos da regulação A criação das atuais agências reguladoras ocorreu no início dadécada de 1990 após a implantação da política econômica neoliberal adotada pelo Brasil; como a abertura ao capital externo, a diminuição do monopólio das entidades estatais e a instituição de privatizações6. O Congresso Nacional brasileiro adotou o termo “agência reguladora” baseando-se na nomenclatura norte-americana, porém com as características essenciais das agências europeias. Na época ocorreram diversas privatizações decorrentes do Plano Nacional de Desestatização (PND), criado pela Lei nº 8.031 de 1990. A característica principal do neoliberalismo, em que o Brasil, deixando de explorar diretamente as atividades econômicas, confiou à iniciativa privada, mas sob sua supervisão, fez surgir esses órgãos reguladores, denominadas Agências Reguladoras. Esse período ficou conhecido como “Reforma do Estado”, pois ocasionou a elaboração de diversas Emendas Constitucionais que permitiram ao setor público confiar ao setor privado a prestação de serviços públicos de natureza estratégica que eram até o momento explorado exclusivamente por aquele. As Emendas Constitucionais nº 08 e 09 de 1995 permitiram ao Estado a delegação das respectivas atividades bem como criaram os órgãos reguladores. Essa época ficou marcada pela privatização das estatais, por terceirizações das funções administrativas do Estado e ainda pela criação de agências reguladoras independentes, com a finalidade de defesa da concorrência e a correção de falhas de mercado que contribuíam indiretamente para a inflação. Em 1997, a Lei nº 9.491 em 1997 alterou o Programa Nacional de Desestatização. Nos incisos do art. 1º a lei definiu os objetivos do PND: I - reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo setor público; II - contribuir para a reestruturação econômica do setor público, especialmente através da melhoria do perfil e da redução da dívida pública líquida; II I - permitir a retomada de investimentos nas empresas e atividades que vierem a ser transferidas à iniciativa privada; IV - contribuir para a reestruturação econômica do setor privado, especialmente para a modernização da infra-estrutura e do parque industrial do País, ampliando sua competitividade e reforçando a capacidade empresarial nos diversos setores da economia, inclusive através da concessão de crédito; V - permitir que a Administração Pública concentre seus esforços nas atividades em que a presença do Estado seja fundamental para a consecução das prioridades nacionais; VI - contribuir para o fortalecimento do mercado de capitais, através do acréscimo da oferta de valores mobiliários e da democratização da propriedade do capital das empresas que integrarem o Programa. 6 O processo iniciou nos anos 1970 com o governo de Margaret Hilda Thatcher na Grã Bretanha e rapidamente se espalhou pelo mundo. 13 P ela leitura dos incisos você pode perceber a intenção intervencionista do Estado na Economia. Para saber mais sobre o assunto, leia o artigo abaixo: GELIS FILHO, Antonio. Análise comparativa do desenho normativo de instituições reguladoras do presente e do passado. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 40, n. 4, p. 589-613, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n4/31597.pdf As primeiras agências criadas foram as dos setores de energia elétrica, de telecomunicações e do petróleo. • A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), através da Lei nº 9.427 de 26 de dezembro de 1996. Foi regulamentada pelo Decreto Presidencial nº 2.335 de 6 de outubro de 1997. • A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), através da Lei nº 9.472 de 16 de julho de 1997. Foi regulamentada pelo Decreto Presidencial nº 2.338 de 7 de outubro de 1997. • A Agência Nacional do Petróleo (ANP), pela Lei nº 9.478 de 6 de agosto de 1997. Foi implantada pelo Decreto Presidencial nº 2.455 de 14 de janeiro de 1998. Entretanto, nem toda “Agência” brasileira tem caráter de regulação, como por exemplo, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Trata-se de um Órgão de assessoramento da Presidência da República assegurando-lhe o conhecimento de fatos e situações relacionados ao bem-estar da sociedade e ao desenvolvimento e segurança do país. O fator que motivou os países da América Latina a adotarem este modelo regulatório foram as propostas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2003), divididas em 3 (três) partes: 1. Regulação Econômica: caracteriza-se pela intervenção direta nas decisões de mercado, tais como definição de preços, competição, entrada e saída de novos agentes nos mercados. Na regulação econômica, a reforma deve se propor a aumentar a eficiência econômica por meio da redução de barreiras à competição e à inovação, utilizando a desregulamentação, a privatização e fornecendo estrutura para o funcionamento e a supervisão das atividades do mercado. 2. Regulação Social: destina-se a proteger o interesse público nas áreas de saúde, segurança, meio ambiente e em questões nacionais. Em muitos casos, a regulação deve atuar sobre recursos sociais que não estão sujeitos a transações de mercado, mas que, no entanto, são importantes ou mesmo imprescindíveis à produção de um bem ou serviço regulado. Já na regulação social, cabe nesse plano da reforma aferir a necessidade de intervir em decisões relativas à provisão de bens públicos e à proteção social, reduzindo os efeitos das externalidades geradas por outros agentes sobre a sociedade. 14 Unidade: Origem e fundamentos da regulação 3. Regulação Administrativa: destina-se a estabelecer os procedimentos administrativos por meio dos quais o governo intervém nas decisões econômicas, os chamados red- tapes. Esses instrumentos burocráticos podem gerar impactos substanciais sobre o desempenho do setor privado. Por fim, na regulação administrativa, os governos devem buscar em suas reformas regulatórias eliminar as formalidades desnecessárias, simplificar aquelas que são necessárias e melhorar sua transparência e aplicação. Para Verônica Cruz (2009) se a delegação de poderes às agências reguladoras autônomas ao mesmo tempo em que soluciona o problema do comprometimento com a credibilidade cria outro desafio. O princípio básico da teoria democrática é que as políticas públicas devem ser objetos de controle exclusivo daqueles que estão sujeitos ao eleitoral. O desenho institucional das agências reguladoras viola esse princípio, permitindo que tecnocratas que conduzem tais agências concentrem todo o poder. Glossário Accountability é a responsabilidade do gestor de prestar contas de seus atos e atividades. São pilares do accountability: 1. Responsabilidade: um dever que se liga à ação claro. 2. Capacidade de resposta: ser convocado a prestar contas. 3. Confiabilidade: a característica de ser digno de confiança. 4. Sujeição: um dever legal de honrar com uma dívida ou uma obrigação. Pode-se considerar como características das agências reguladoras brasileiras: • Independência administrativa; • Autonomia financeira; • Ausência de vinculação hierárquica; e • Estabilidade e mandato fixo dos dirigentes. Preste atenção na última característica, que é a de estabilidade e mandato fixo dos dirigentes, pois a diferencia das demais autarquias. No Brasil, as agências reguladoras são constituídas sob a forma de Autarquias de Natureza em regime especial. As autarquias são pessoas jurídicas de Direito Público, possuem natureza meramente administrativa, são criadas por lei específica, têm por objetivo a realização de atividades, obras ou serviços descentralizados da entidade estatal responsável por sua criação. O seu funcionamento e a sua operação são de acordo com a lei que as criou e nos termos de seu regulamento. Podem realizar atividades econômicas,educacionais, de previdência ou qualquer outra outorgada pelo ente estatal que as criou, não sendo, entretanto, subordinadas hierarquicamente. São sujeitas, isto sim, ao controle finalístico de sua administração e da conduta de seus dirigentes (MEIRELLES, 2006). 15 Há ainda as fundações públicas, entidades de direito público, que também fazem parte da Administração Indireta ou Descentralizada, assim como as autarquias, mas diferentemente destas, as fundações as leis autorizam a criação, enquanto nas autarquias a própria lei as institui. Entretanto, as fundações públicas não têm caráter regulatório, como tem a autarquias de natureza especial. Existe também as empresas públicas e as sociedades de economia mista, entidades de direito privado, portanto são empresas com finalidade lucrativa e concorrem sem privilégios com outras empresas do mesmo setor. Assim sendo, também não fazem diretamente o papel de agente regulador. Podem até colaborar com os preços de seus produtos e serviços, mas não devem ser consideração como agentes de regulação. Importante! As agências reguladoras foram instituídas para disciplinar e controlar certas atividades na economia do país. Elas são responsáveis pela regulamentação, controle e fiscalização de serviços públicos, atividades e bens transferidos ao setor privado. Como você deve ter percebido há normas e regras para quase tudo. Sim, quase tudo é normatizado e/ou regulado. Espera-se com isso que não haja privilégios para determinados alguém, ou seja, todos são iguais perante as leis (princípio constitucional da isonomia). 16 Unidade: Origem e fundamentos da regulação Material Complementar Para aprofundar seus estudos, consulte: Livros: SAMPAIO, P. R. P. Reg ulação e concorrência: A atuação do CADE em setores de infraestrutura. São Paulo: Saraiva, 2013. ISBN 978-85-02-20015-9. Capítulo 1. Direito e Economia, Regulação e Concorrência. GABAN, E. M. Regulação do setor postal. São Paulo: Saraiva, 2012. ISBN 978-85- 02-15876-4. Capítulo 1. Antitruste e Bem-Estar Social. PALUDO, A. V.; PROCOPIUCK, M. Planejamento Governamental: Referencial Teórico, Conceitual e Prático. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2014. ISBN 978-85-224-8866-7. Capítulo 3.4.4 Planejamento nacional anual. Sites: Portal Exame.com. Tecnologia. Artigo Falta de regulação compromete Marco Civil da Internet, de Ian Chicharo Gastim. . Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/falta-de-regulacao-compromete-marco-civil-da-internet Acesso em: 27 jan. 2015 17 Referências BERNARD, Y.; COLLI, J. C. Dicionário Internacional de Economia e Finanças. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. BOYLE, David. O manifesto comunista de Marx e Engels. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. BRASIL. Lei nº 8.031 de 12 de abril de 1990. Cria o Programa Nacional de Desestatização, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 13 abr. 1990. ______. Lei nº 8.987 de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 14 fev. 1995. ______. Lei nº 9.427 de 26 de dezembro de 1996. Institui a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 27 out. 1996. ______. Decreto nº 2.335 de 6 de outubro de 1997. Constitui a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, autarquia sob regime especial, aprova sua Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções de Confiança e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 7 out. 1997. ______. Lei nº 9.472 de 16 de julho de 1997. Dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº 8, de 1995. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 17 out. 1997. ______. Lei nº 9.478 de 6 de agosto de 1997. Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 7 ago. 1997. ______. Lei nº 9.491 de 9 de setembro de 1997. Altera procedimentos relativos ao Programa Nacional de Desestatização, revoga a Lei n° 8.031, de 12 de abril de 1990, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 10 set. 1997. ______. Decreto nº 2.338 de 7 de outubro de 1997. Aprova o Regulamento da Agência Nacional de Telecomunicações e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 9 out. 1997. ______. Decreto nº 2.455 de 14 de janeiro de 1998. Implanta a Agência Nacional do Petróleo - ANP, autarquia sob regime especial, aprova sua Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções de Confiança e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil de 15 jan. 1998. 18 Unidade: Origem e fundamentos da regulação HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2006. KEYNES, John Maynard. The means to prosperity. MACMILLAN AND CO., LTD., LONDON, 1933. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32.ed. São Paulo: Malheiros, 2006. OECD. Proceedings from the OECD Expert Meeting on Regulatory Performance: Ex Post evaluation of regulatory policies. Paris: OECD, 2003. RAMALHO, Pedro Ivo Sebba (Org.). Regulação e Agências Reguladoras: governança e análise de impacto regulatório. Brasília: ANVISA, 2009. ROUSSEAU, Jean-Jacques. 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